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terça-feira, 21 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27337: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (4): Nova Sintra (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 19 de Outubro de 2025, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos a quarta reportagem das "Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade", levadas a efeito pelos nossos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.


VIAGENS À GUINÉ BISSAU: AMIZADE E SOLIDARIEDADE

NOVA SINTRA

Instalações do quartel de Nova Sintra em 72/74 bem melhores que as de 69/70 da minha época

O quartel de Nova Sintra estava situado na parte sul do Setor de Tite, na Península de Gatangó, região do Quinara. Era uma localidade abundante em cajueiros e mangueiros e onde se fazia o cruzamento da estrada “internacional“ que tinha início no Enxudé, porto no rio Geba e ligava Tite a Bolama por São João e Fulacunda até Buba e Catió.

O quartel foi construído entre os dias 6 e 31 de Maio de 1968, pelos sacrificados e abnegados militares da CCAÇ 2314 e CART 1802, com o propósito de obstar ou dificultar o movimento de homens do PAIGC e de material, na direção de Bissássema, localidade junto ao rio Geba, fronteira à cidade de Bissau, de onde poderiam fazer ataques a esta cidade.



VIAGEM DE 15 DE ABRIL DE 2017

Para concluir o périplo do triângulo da região do Quinara, Tite, Fulacunda e Nova Sintra, a crónica de hoje é relativa à visita a esta ultima localidade da Guiné-Bissau, pelos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.

O transporte dos “repórteres” desde Tite, via Fulacunda e até Nova Sintra foi assegurado por uma viatura da Missão Católica de Tite e conduzido por uma freira. Segundo eles, no espaço que fora ocupado pelo quartel nada resta, salvo meia dúzia de edifícios em ruínas (ver fotos) e está totalmente coberto por árvores e densa vegetação, não permitindo identificar o que quer que seja.

No meu tempo, Março de 69 a Setembro de 70, nas imediações do quartel não havia qualquer tabanca que albergasse população, pelo que foi com surpresa e agrado que os “repórteres” me deram a conhecer a existência da Tabanca de Nova Sintra, situada a meio caminho entre o antigo quartel e o “famigerado” cruzamento de Nova Sintra (acesso a S. João, Tite e Fulacunda).

O propósito da visita foi o mesmo que as efetuadas a Tite e Fulacunda, a “amizade e solidariedade” com a entrega de dádivas, tais como: livros, cadernos e material escolar; bolas e equipamentos desportivos, bonés e t-shirts; biberões e comida para bébés; soros e material de aplicação e principalmente medicamentos.

Ruínas de edifícios do antigo quartel de Nova Sintra
Vegetação densa no espaço outrora ocupado pelo quartel
Ricardo entre dois homens que foram do PAIGC, sendo o que tem a espingarda, o que colocava minas na zona de Nova Sintra.
Estrada Tite - Nova Sintra que o Ricardo percorreu de motorizada dois dias depois da visita. Estrada que ele ajudou a desminar, até ao “pontão”, após o 25 de Abrilde 1974.
Tabanca de Nova Sintra
Ricardo Abreu na entrega de sacos com dádivas
Juventude da Tabanca de Nova Sintra
Jovens no centro do famigerado, pela sua perigosidade de outrora, cruzamento de Nova Sintra

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 14 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27316: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (3): Vila de Fulacunda (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27316: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (3): Vila de Fulacunda (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 13 de Outubro de 2025, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos a terceira reportagem das "Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade", levadas a efeito pelos nossos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.


VIAGENS À GUINÉ BISSAU: AMIZADE E SOLIDARIEADE

Na viagem à Guiné Bissau de 2017, depois da visita à Missão Católica de Tite, os camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu rumaram a Fulacunda, onde entregaram medicamentos no Centro de Saúde Victoriano Costa e outras dádivas à população, com quem confraternizaram longamente.


III - VILA DE FULACUNDA

Fulacunda é um sector da região administrativa do Quinara, na área sul da Guiné-Bissau, com 917,3 Km2 e uma população aproximada de 1300 habitantes.
A área circundante de Fulacunda abriga o Parque Natural das Lagoas de Cufada, constituído pelas lagoas de Biorna, Bedasse e a própria Cufada, sendo um importante santuário da vida selvagem da Guiné-Bissau.

Situa-se entre os dois grandes rios da região, o Rio Grande de Buba e o Rio Corubal e representa a maior reserva de água doce da Guiné-Bissau. Na zona do Parque existem 36 tabancas onde vivem cerca de 3500 pessoas, pertencentes a diversas etnias, designadamente Beafadas, Balantas, Fulas e Mandingas.

Lagoa de Cufada

RUMO A FULACUNDA
Partida de Tite em veículo da Missão conduzido por uma freira e com o Armando pronto a fazer a reportagem
Entrada em Fulacunda
Centro de Saúde Victoriano Costa
Freira da Missão de Tite em visita à enfermaria
Ricardo e Armando na entrega de medicamentos, conteúdo de duas malas
Outras dádivas para além dos medicamentos
O Ricardo cumprimenta o Malan, ex-militar e deficiente das Forças Armadas
Com o ex-guia de Fulacunda (62 a 74) Francisco Mamadu Mané
Juventude Fulacundense

EDIFICADO MILITAR AO ABANDONO
Secretaria
Messe de Oficiais
Cantina e refeitório
Messe de Sargentos
Sala de: convívio, aulas e ténis de mesa

EDIFICADO DA POPULAÇÃO
Fontanário
Edifício onde o administrador (civil) recebia os Fulacundenses que lhe iam apresentar problemas e o pedido de resolução dos mesmos.
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Nota do editor

Último post da série de 7 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27292: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (2): As hortas do Ricardo Abreu (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27224: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (11): O Soldado Castro

1. Mensagem do nosso camarada do Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (,Tite e Fulacunda, 1968/69), com data de 5 de Setembro de 2025:

Desta vez, relato uma das implicações para que, durante 22 meses, não pude gozar férias por ter sido punido com detenção cumprida no mato.

Um abraço.
J.Caldeira


O SOLDADO CASTRO

Nunca percebi porque, sendo eu apenas um simples furriel, menos que sargento, tivesse que assumir funções que pertenceriam a oficiais ou, na sua ausência, a sargentos.

 Em mais um regresso de Nova Sintra, comandando uma força de cerca de 30 homens, na qual se incluía o soldado Castro que até era da secção do sargento Faria, também integrante da força, sofremos uma emboscada. Mas antes o Faria tinha oferecido o cantil de aguardente ao Castro e, este, não se fazendo rogado, bebeu talvez em quantidade razoável. Ficou grogue e, durante o tiroteio, resguardou-se debaixo de umas raízes de embondeiro e por lá adormeceu. Tropa fandanga.

No final da emboscada, reunido o pessoal, certifiquei-me de que não tinha havido danos pessoais e, após comunicar com a sede do batalhão, certifiquei-me de estávamos todos e mandei prosseguir. 

Passadas duas horas fui informado de que faltava o Castro. Pensei logo o pior. Que talvez estivesse morto ou ferido e que, por eu nem sequer o conhecer - estávamos há muito pouco tempo na Guiné e ele nem pertencia à minha unidade - não tinha dado pela sua falta. O Faria também não. Nova comunicação para o batalhão a informar da falta de um elemento.

 Recebo ordens para prosseguir e informaram que pessoal da companhia de Nova Sintra, por estar mais perto do local da emboscada, iria procurá-lo. Mas não o encontrou. 

Quando acordou, ainda sob o efeito da cachaça, dando pela nossa falta, caminhou errante para Nova Sintra. Chegou lá no dia seguinte. Foi um heli buscá-lo para Tite. E eu tive um processo disciplinar que resultou em castigo de dois dias de detenção que vim a cumprir fora do quartel, a caminho de Bissássema.

Como não podia deixar de ser, estes processos são demorados e só vim a saber da minha punição uns meses depois. Precisamente no dia 2 de Maio, data do meu aniversário. 

Até foi giro. O capitão presenteou-me com uma lembrança, um álbum para fotografias e a nota de culpa.

Quanto ao Castro, por remorso tentou dar um tiro na boca e eu fui chamado para o impedir. Não me foi difícil convencer do seu erro, mas sei que ficou marcado para sempre.

 Uns anos mais tarde, fui chamado para ser sua testemunha num processo em que pedia uma pensão de reforma, que lhe foi concedida por incapacidade motivada por stress de guerra. Perdi-lhe o rasto, mas gostava de reencontrá-lo.
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Nota do editor

Último post da série de 8 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27195: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (10): Ataque à Tabanca de Feninquê

domingo, 31 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27170: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (9): O perfume da Enfermeira Paraquedista

1. Mensagem do nosso camarada do Joaquim Caldeira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69), com data de 28 de Agosto de 2025:


O PERFUME DA ENFERMEIRA PARAQUEDISTA

Após uma longa e difícil caminhada chegámos perto de Nova Sintra ao local onde devíamos encontrar-nos com um pelotão de nativos, vindos não sei de onde para, em conjunto, fazermos um golpe de mão e destruir um acampamento IN.

 Como estávamos cansados e com fome, aproveitámos estar à beira de um rio para refrescar os pés e comer a ração de combate. Via rádio, fomos informados de que o pelotão de nativos estava perto e que o encontro estava iminente. O senhor coronel Hélio Felgas tinha ideias geniais. Assim chegou a brigadeiro. Por acaso, alguém olhou para oeste e deparou com um grupo de soldados pretos que caminhavam na nossa direção sem que, ao que parece, ainda não nos terem visto. Finalmente, pensámos. Alguém lhes chamou a atenção para a nossa localização que não distava mais de vinte metros. Recordo que estávamos escondidos nas margens do rio e em pose de descanso. Até as armas estavam a descansar.

E eu vi que um dos soldados nativos nos apontava uma arma. Um canhão sem recuo. E disparou na nossa direção, seguindo-se um tiroteio feio, feito com toda a espécie de armas. 

Quando me apercebi de que afinal eram "turras", corri para a bazuca do Melo, que nem teve tempo de a pegar, até porque estava descalço, e apontei aquela arma terrivelmente mortífera. Como já estava carregada, estava sempre, foi só apontar e disparar.

Quem conhece a bazuca sabe que o cano nunca aponta para onde deve ser dirigido o tiro. Por vezes a sua direção fica deslocada do local para onde se aponta pelo diópter. Disparei. E vi cair o meu guia, um soldado de segunda linha, por ser preto, seguido de mais quatro soldados. 

Só percebi que o meu tiro tinha rebentado à saída do cano quando vi que um ramo de mangueira estava cortado, caído no chão. Afinal a granada de bazuca rebentou à saída do cano. Quem te manda utilizar uma arma para a qual não tinhas prática suficiente? 

E, ingloriamente, matei o meu guia que ficou decepado, feri os restantes, sendo o mais grave o soldado Palricas. Lembro-me de ele me ter dito: "Ai, Caldeira, que me mataste". 

Mas não. Ficou gravemente ferido, mas recuperou no hospital e acabou a comissão. Faleceu há dias, devido a problemas cardíacos.

Após a confusão, chamados os helis para evacuações, havia que proceder à segurança para poiso das aeronaves e encaminhar aqueles feridos. Um deles, não me lembro de quem, ainda não estava devidamente tratado e pensado, o que levou a enfermeira perguntar-me qual o seu estado. O barulho das hélices era enorme, porque, por precaução, não pararam. Eu não entendia. Então ela rodeou o meu pescoço com o seu braço. Aproximou a cara da minha e perguntou de novo. O seu perfume era tão agradável que eu desejei que ela voltasse. Mas não voltou. E eu que trazia barba de vários dias, sarro que chegava em cima da pele e exalaria um odor pestilento!
Localização de Nova Sintra
Infogravura: © Luís Graça & Camaradas da Guiné - Carta da Província da Guiné: Escala 1/500.000


Afinal, o que era Nova Sintra? Vou tentar esclarecer: Era o cruzamento de três caminhos, no meio do nada, rodeado de mata e longe de tudo. Sem água potável e longe das fontes de reabastecimento. Feudo dos nacionalistas. Mas seria um lugar estratégico por dali irradiarem os caminhos para Tite, Fulacunda e São João-Bolama. 

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27138: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (8): A deliciosa laranja de casca verde ("Citrus sinensis var. dulcis" ou "laranja-lima" no Brasil)




Laranja verde da Guiné-Bissau (Citrus sinensis, var. dulcis). Imagens fornecidas pela IA / ChatGPT. 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



Joaquim Caldeira, hoje e ontem...


1. Mais um  pequeno texto, este "deliciosos", do Joaquim Caldeira, grão-tabanqueiro nº 905, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69); vive em Coimbra; é autor do livro "Guiné - Memórias da Guerra Colonial", publicado pela Amazona espanhola (2021)


A laranjeira de frutos verdes

por Joaquim Caldeira (*)

Já aqui referi (no meu livro) a emboscada de abelhas africanas que deixaram o alferes Pio em coma e, para sua recuperação, teve que ser evacuado para o hospital de Bissau. Isto passou-se ao largo de Fulacunda, na direcção de Nova Sintra - Tite.

Certa vez, numa operação que efectuei para esses lados, dei com uma laranjeira carregada de frutos verdes e segui adiante. Era uma árvore de porte médio e estava cercada por mato. Era mesmo muito difícil a nossa aproximação. Segui adiante e não pensei mais no assunto.

Meses mais tarde fiz o mesmo percurso para repetir nova operação de qualquer coisa. De novo a laranjeira carregada de frutos de cor verde. Não me contive. Então, passados meses, ainda não tinham amadurecido? 

Quis ir ver. Mandei fazer o cerco de segurança e à catanada cortei o mato que me separava do tronco. Depois foi só puxar um ramo e colher uma laranja. Estava maduríssima e era de uma doçura sem igual. 

Só havia uma forma de colher todos os frutos. Era subir à árvore. E assim foi feito. Desde ramos partidos para ser mais rápido e fácil a abanar os troncos para fazer cair laranjas, tudo valeu. Tivemos que tirar os blusões, puxar os cordões das mangas e enchê-las. Depois o mesmo para o cordão da cintura e toca a encher o blusão até ao pescoço, depois de abotoado. No final, carregar com aquilo, somado às munições e às armas. Não foi fácil mas valeu a pena. 

Não ficou uma peça de laranja na pobre laranjeira e decerto que, se não tivéssemos feito a colheita, ainda agora lá estavam. Barrigada geral.

(Revisão / fixação de texto, título do poste: LG)



Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > "Mercado de Gamamudo: Frutas e  legumes da época" (é sempre um regalo para a vista...). Do lado direito, parecem-nos ser laranjas limas verdes...

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário do editor LG:

De acordo com o "Sabe-Tudo", o assistente de IA do ChatGPT, trata-se de  uma árvore de fruto tropical que dá laranjas... de casca verde. Nome científico, Citrus sinensis, var. dulcis.  

A sua origem deve ser China e nordeste da Índia.  Deve ter sido levada para o Brasil e para a Guiné pelos "tugas".

Muito interessante o teu testemunho, Joaquim Caldeira! Pelo que tu descreves, não se trata de uma laranjeira comum (Citrus sinensis), mas sim de uma laranja de maturação “permanentemente verde”, muito típica das variedades cultivadas (e espontâneas) na Guiné-Bissau. E que encontravámos facilmente nos mercados locais no nosso tempo. Quem tinha preconceitos (etnocêntricos...) e pouca ou nenhuma curiosidade, nunca a provou...e não sabe o que perdeu. 

Digam-me lá quem é que tinha a curiosidade e a pachorra do Joaquim Caldeira ? No meio de um patrulhamento ofensivo, quis ir ver que raio de árvore era aquela: "Mandei fazer o cerco de segurança e à catanada cortei o mato que me separava do tronco. Depois foi só puxar um ramo e colher uma laranja. Estava maduríssima e era de uma doçura sem igual".

Eis alguns pontos a ter em conta para uma melhor descrição  deste citrino tropical:

(i) Frutos verdes mesmo quando maduros:

Nas regiões tropicais húmidas, como a Guiné-Bissau (a região de Quínara incluída), o citrino pode não adquirir a coloração alaranjada típica do nosso Algarve e do Mediterrâneo em geral.

Isso acontece porque  nos trópicos, as noites não arrefecem o suficiente para quebrar a clorofila da casca; a mudança de cor exige noites abaixo de ~13–15 °C, coisa rara na região de Quínara. As noites são, portanto,  quentes: não há o contraste de temperaturas (calor de dia / frio de noite) que desencadeia a degradação da clorofila e o aparecimento da cor laranja. Logo, a casca mantém-se verde ou verde-amarelada, mesmo estando o fruto já doce e pronto a comer. 

(ii) Doçura excecional:

Muitos relatos coloniais (como este do nosso camarada Joaquim Caldeira)  falam da “laranja da Guiné” ou “laranja de casca verde”, extremamente doce, sumarenta, e que amadurece sem mudar de cor. É um tipo de Citrus sinensis var. dulcis (ou var. tropical),  muitas vezes chamado simplesmente sweet orange tropical ("laranja doce", em português do Brasil).

(iii) Ciclo de frutificação:

Nas condições tropicais, algumas laranjeiras dão fruto quase todo o ano, com várias florações. Isso explica o espanto do narrador: meses depois quando lá voltou a passar, mpo subsetor de Fulacunda na zona de Nova Sintra -Tite,  a árvore parecia sempre “carregada de frutos de cor verde", quando na verdade já havia frutos maduros, apenas sem coloração visível. A laranja "estava maduríssima" e tinha "uma doçura sem igual".

Portanto, o que foi encontrado na zona de  Nova Sintra-Tite em 1968/69. pelo narrador era muito provavelmente a “laranja verde da Guiné” (Citrus sinensis, var. tropical), um citrino comum no país, de porte médio, muito doce, e cuja maturação não se denuncia pela cor da casca.

Esta laranja doce, de baixa acidez, adaptada e cultivada em climas tropicais,  é também conhecida no Brasil  como laranja lima verde. Quem não conhece o livro do José Mauro de Vasconcelos, "O Meu Pé de Laranja Lima", uma verdadeira obra-prima da literatura infanto-juvenil, em língua portuguesa ?

O assistennte de IA / Perplexity também confirma que a Citrus sinensis var. dulcis corresponde à laranja lima verde encontrada e consumida no Brasil (o maior ptrodutor do mundo de laranjas...). É também conhecida popularmente como laranja-doce.

É uma fruta bastante apreciada por seu sabor suave, pouco ácido e adocicado, indicada especialmente para crianças e pessoas com sensibilidade gastrointestinal. De polpa doce, poucas sementes, casca fina e geralmente esverdeada ou levemente amarela quando madura.

A laranja lima verde é considerada uma variedade de maturação tardia, comum em algumas regiões do Brasil, e faz parte da ampla diversidade de laranjas doces cultivadas no país. Além dela, existem outras variações regionais, como a "laranja lima do céu". Todas pertencem à espécie Citrus sinensis, grupo das laranjas doces, e não devem ser confundidas com limas ácidas ou outros citros.

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Nota do editor LG: