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domingo, 16 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27431: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-Fur Mil API, 2.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (25): A despedida do meu afilhado e o aluno que comeu a borracha de safar

Vista aérea de Tite

1. Mensagem, enviada ao Blogue em 13 de Novembro de 2025 através do Formulário de Contacto do Blogger, pelo nosso camarada Carlos Barros, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da 2.ª CART/BART 6520/72 (Tite, Gampará e Nova Sintra, 1972/74):

O Barros, ex-Furriel Miliciano (Armas Pesadas) da 2.ª CART/BART 6520, permaneceu, com o seu pelotão, em Tite, Gampará e Nova Sintra e, no total, foram 24 meses e 48 dias no inferno da Guiné.

O momento mais marcante, em termos históricos, foi a entrega do destacamento de Nova Sintra, ao PAIGC, rumo à liberdade.
Quando deixamos o destacamento, com partida em Enxudé, de LGD em direção a Bissau e mais, tarde, de Bissalanca, de regresso à Metrópole -Lisboa- em despedida, veio uma criança guineense despedir-se de mim, era o afilhado de batismo, batizado na Capela de Tite sendo eu seu padrinho.
Nadou uns 50 metros atrás da LDG acenando-me e as lágrimas invadiram o meu rosto e os soldados perguntavam-me:
Furriel o que é que tem? - Respondi-lhes:
Deixem-me em paz porque o silêncio, neste momento, é de que preciso.
Chamava-se Carlos, precisamente, o meu nome e foi um ADEUS para sempre...


********************
Vista aérea de Nova Sintra

2.ª CART/BART 6520 - "Os Mais de Nova Sintra"- Guiné, 1972/74

No quartel de Tite, onde me encontrava com o meu 3.º Pelotão, com o destino traçado para o inferno de Gampará, fui requisitado para as chamadas "aulas Regimentais" e também lecionar uma turma de alunos africanos - 1ª à 4ª classe- na companhia do furriel José S. Gonçalves.
Um dia, dei uma borracha -safa- a um aluno de 7 aninhos e que nunca tinha visto uma "safa" e passados uns minutos, iria explicar para que servia o material escolar que fornecemos.
Mamadu, onde está a borracha que te dei?
Ó "furiel" comi "barracha" era boa...

Fiquei atónito e nesse dia, não dei outra borracha e ainda bem que os outros alunos não tinham fome...
Foi apenas, uma cena real e que ficou na minha memória e ainda possuo a lista desses alunos, sendo as aulas dadas ao ar livre ou debaixo de uma árvore, uma ESCOLA DA NATUREZA...
Adorei a experiência e foi por isso, que mais tarde me tornei professor do 1º Ciclo do Ensino Básico para além de adorar ENSINAR e APRENDER no mundo da "aprendizagem infantil".
Toda a criança, é um "Mealheiro" onde guardamos as surpresas e pequenas histórias infantis.

Carlos Barros
Esposende, 13 de novembro de 2025
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Nota do editor

Último post da série de 19 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22118: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (24): "O papagaio embriagado"...

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27388: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (113): Nunca desistir é a mensagem que pretendo transmitir aos camaradas que tenham em curso, ou venham a iniciar algum processo, para atribuição de incapacidade resultante de ferimentos sofridos em combate ou acidente, ocorridos durante a guerra colonial (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 1 de Novembro de 2025, o nosso camarada Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), descreve-nos a sua odisseia para conseguir provar que o incidente de que foi vítima no dia 4 de Agosto de 1969 lhe provocou lesões oculares irreversíveis com consequências para toda a vida.


NUNCA DESISTIR

Nunca desistir é a mensagem que pretendo transmitir aos camaradas que tenham em curso, ou venham a iniciar um processo, relativamente à atribuição de incapacidade resultante de ferimentos sofridos em combate ou acidente, ocorridos durante a guerra colonial.

Volto a dizer “nunca desistir”, porque o processo que iniciei naquele sentido, foi uma autêntica odisseia.

Resultante das lesões oculares sofridas no incidente de 04 de Agosto de 1969 (ver Poste 26820), que originou um processo por ferimentos em combate, restaram sequelas. Porque anos mais tarde sentia desconforto e diminuição da visão, no dia 2 de Abril de 1991 entreguei na Secção de Justiça do DRM – Porto, um requerimento ao qual juntei um relatório médico, solicitando ser obervado no Hospital Militar do Porto, para verificação das sequelas e eventual atribuição de uma incapacidade.

Em 17 de Dezembro de 1992 fui presente à consulta de Oftalmologia no HMR1, tendo o especialista declarado “Não se encontra abrangido pela Tabela Nacional de Incapacidades pelo que não se justifica qualquer taxa de incapacidade. Deve ser enviado à Exma. JHI para os devidos efeitos”.

Em 12 de Janeiro de 1993 fui presente à JHI que me julgou “Pronto para todo o Serviço Militar” e portanto sem atribuição de qualquer incapacidade. Uma Junta Médica (JHI) é sempre constituída por três médicos, mas aqui só estive perante um Capitão, eventualmente médico, que não me observou, não dialogou comigo, limitamdo-se a comunicar o atrás referido.

Porque os problemas oculares continuavam, no dia 12 de Outubro de 2005 fiz novo “REQUERIMENTO PARA PEDIDO DE REVISÃO DE PROCESSO POR ACIDENTE/DOENÇA EM SERVIÇO” ao qual juntei novo relatório médico. Daqui resultou que passados 18 meses, no dia 30 de Maio de 2007, fui presente a uma JHI (Oftalmologia) e desta vez sim, na presença de três médicos, que após observação emitiram a seguinte decisão “H.M.R 1 – incapaz de todo o serviço militar, apto, parcialmente para o trabalho com 23,5 de desvalorização”, baseando-se nas seguintes lesões: epíforas e conjuntivites crónicas e bilaterais.

Julgava eu que passados mais alguns meses passaria a receber uma indemnização, cujo valor monetário desconhecia totalmente. Puro engano, o processo andou a saltar durante SETE ANOS E MEIO, de organismo em organismo, tais como: Ministério da Defesa; Direção de Justiça e Disciplina; Arquivo Geral do Exército; Direção de Saúde, Comissão Permanente Para Informações e Pareceres e finalmente a Repartição de Reserva Reforma e Disponibilidade.

É aqui que nunca devem desistir, pois, apesar da atribuição da incapacidade em Junta Médica, não é certo que venhas a receber qualquer pensão, ou então, não na totalidade da incapacidade atribuída.

Os vários organismos vão tentar tudo para não te darem a merecida desvalorização e é preciso estar atento e contestar os pareceres que vão emitindo, tais como: a inexistência de nexo causalidade entre as lesões diagnosticadas e o acidente sofrido; alterando a profissão de modo a que incapacidade seja reduzida para metade (1) e referindo que as sequelas das lesões sofridas não podem ser resultantes do acidente (2), mas sim de causa orgânica (doença).

• (1) - na vida civil fui empregado de escritório, mas classificado como carpintero neste processo. Como o empregado de escritório necessita mais da visão que o carpinteiro, logo aqui e segundo a Tabela Nacional de Incapacidades, que eu conhecia bem por motivos profissionais, a desvalorizção baixava para metade. Tive de contestar, o que logo originou atrasos de meses na resolução do caso.
• (2) – A Direção de Saúde disse que as sequelas das lesões tinham origem em doença bacteriológia e não traumática (acidente), o que tive também de contestar e daí mais uns meses de espera.

Foram sete anos e meio de muita luta, muita paciência, mas consegui ganhar o processo e a desvalorização na totalidade. Ver anexo NOTAS, onde tudo registava, tal como: telefonemas; contactos pessoais, cartas e emails, etc, num total de 11 páginas.

Para concluir o processo e começar a receber a pensão, faltava uma última etapa, uma Junta Médica na Caixa Geral de Aposentações, a entidade pagadora, que foi feita e posterior publicação no Diário da Républica.

A Pensão é paga a partir da data da realização da Junta Medica que determinou a incapacidade, pelo que tive direito a receber os retroativos dos sete anos e meio e depois passei a receber mensalmente, por débito em conta, através da CGA.

Uma última questão, só quem tem uma incapacidade igual ou superior a 30% é que é considerado Deficiente das Forças Armadas, que para além da pensão, tem outras regalias.

Arcozelo/Gaia
01 de Novembro de 2025
Aníbal Silva

_____________

Notas do editor:

1 - Citando Aníbal José da Silva no seu Poste 26820 de 29 de Maio de 2025:

[...]
Chegado à base de Bissalanca segui de ambulância para o Hospital Militar. Fui colocado não sei onde deitado na maca. Não sabia se estava no chão ou em cima de qualquer coisa. Com a mão direita de fora da maca, tocava no que me rodeava e conclui que estaria no chão pois sentia uma superfície fria e lisa.

As pessoas passavam por mim mas não ligavam nenhuma. As dores nos olhos e o rubor na cara era escaldante. Comecei por insultar quem por mim passava, chamando-lhes filhos desta e daquela, até que alguém, creio que era um sargento pois chamaram-lhe assim, veio ter comigo e perguntou a outros o que é que aquele homem estava ali a fazer. Responderam que estava à espera do oftalmologista. Era uma segunda-feira e o médico devia ter ido passar o fim de semana à ilha dos Bijagós. Mas o sargento ordenou que eu fosse de imediato ao RX para a eventualidade de ter algum estilhaço no corpo, o que felizmente não se veio a confirmar. O médico chegou e mandou-me para a sala de observações, onde permaneci três dias.

Foi iniciado o tratamento prescrito, que consistia na lavagem dos olhos várias vezes ao dia e mesmo durante a noite, mais umas injeções não sei para quê. Ao fim da tarde desse dia, ouvi passos que vinham na minha direção. Abeiraram-se da cama e uma voz perguntou: “Rapaz de onde és e o que te aconteceu?”. Reconheci logo a voz do General Spínola e resumidamente respondi. O acompanhante habitual do general era o Capitão Almeida Bruno, que me perguntou se eu sabia com quem estava a falar. Respondi que era o General Spínola e ele o Capitão Almeida Bruno. No dia seguinte voltaram a visitar a sala de observações, tomando conhecimento dos que chegaram nesse dia. Era do conhecimento geral, que desde sempre, os dois ao fim da tarde iam ao hospital quase todos os dias. De madrugada entrou alguém na sala a gemer e a berrar. Era uma parturiente que horas mais tarde deu à luz uma bebé.

O barbeiro do hospital, de dois em dois dias, ia-me fazer a barba e eventualmente aparar o cabelo. Para ir ao refeitório, nos primeiros dias, era acompanhado pelo cabo enfermeiro, que me ensinou a fazer o percurso sozinho. Saía da porta da enfermaria, dava quatro passos em frente atravessando o corredor e tocava na parede, virava à esquerda e caminhava uns tantos passos ao longo da parede até ao início da escada, depois à direita, descia seis degraus, contornava o patamar e descia mais seis degraus até à entrada do refeitório. Quando entrava diziam, lá vem o ceguinho, quem é que lhe vai dar a sopa na boca e cortar o bife? Obviamente que meter a sopa na boca era exagero, era uma brincadeira, mas o restante sim, precisava de ajuda. No trajeto inverso contava os mesmos degraus e dava os mesmos passos. Na cama não podia estar de barriga para cima, porque a deslocação de ar provocado pelas enormes pás das ventoinhas colocadas no teto, ao bater nas pálpebras agravava as dores.

[...]

2 - Último post da série de 27 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27358: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (112): Através do nosso blogue, na pessoa do camarada Manuel Domingos Ribeiro, soubemos do falecimento do Fur Mil Art Silva da CART 6552/72 (João Ferreira / Manuel Domingos Ribeiro / Carlos Vinhal)

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27356: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (17): Anexo I: Do cais do Pidjiguiti, em Bissau, ao... 'magnífico porto de Lala', a 6 km de Nova Sintra, em LDM: a 'pequena epopeia' dos reabastecimentios mensais



Foto nº 1 > Deve ser mesmo de 100 litros a capacidade de cada barril de 'água de Lisboa'. Estes estão prontos a embarcar no cais de Pidjiguiti, talvez rumando ao porto de Lala. São à volta de uma dúzia de barris, perfazendo no total 1200 litros, 12 hectolitros. Com a ração diária de vinho a 0,5 litros, uma companhia, com cerca de 160 homens, estafada estes barris em... 15 dias (!).


Foto nº 2  > A bordo de uma LDM (Lancha de Desembraque Média). 
Assinalado com um círculo vermelho sou eu, de mãos na ancas, atento à descarga e que o fiel de armazém ia registando. Este é um braço do rio Grande de Buba.






Fotos nº 3 e 4 > LDM 311. 
Pormenores das descargas. Tudo passava de mãos em mãos e aos ombros até às viaturas, para evitar o contacto com a água, salvo os bidões e os barris que eram empurrados para o rio e ficavam a boiar.


Foto nº 5 > 
Ver canto inferior direito da foto com os bidões a boiar de: combustíveis, azeite e óleo de fritar. O mesmo acontecia com os barris do vinho.



Foto nº 6 > Depois da canseira da descarga 
o banho retemperador para a viagem  de regresso ao quartel (que ficava a 6 km de Lala).



Foto nº 7 > Ao meio na foto, de t-shirt branca por causa dos mosquitos e assinalado com um retàngulo a amarelo, sou eu,acabado de saltar da LDM para a àgua com os braços bem levantados, para não molhar e danificar as guias de transporte. Foi-me dito, "ou saltas, ou vais passear até Bolama". È que a maré começou a baixar rapidamente e a tripulação não podia deixar a LDM pousar no solo.



Foto nº 8 > Regresso ao quartel. Na picada com o capim alto, era o local indicado para se lançar para o meio 
do capim, duas ou três caixas de cerveja e uma a duas caixas de batata, que o pessoal, dias mais tarde, com o propósito de ir à caça, iam recuperar os artigos desviados.



Foto nº 9 > 
Os meus domínios em Nova Sintra: Depósito   de Géneros e Cantina. Atrás do Unimog era,  é claro,  o Depósito de Material.


Foto nº 10 > Os barris de vinho da foto ao lado,vazios,  para, depois de desmanchados, se fazer cadeirões para o “descanso dos guerreiros”.



Foto nº 11 > 
Este era o galinheiro que serviu de adega (depósito dos barris), que o pessoal,  mais expedito, com um berbequim furava os barris e com uma pequena 
mangueira sugava a 'água de Lisboa'. Foi aqui que encontrei os tais três barris de aguardente (300 litros), que, supostamente, deviam ser de vinho. 


Foto nº 12 >  A madeira dos barris, as aduelas, serviam depois para fazer cadeiras para o "descansodos guerreiros". Nada se desperdiçava.

Guiné > Zona Sul > Região de Químara > Noa Sintra > CCAV 2483 (1969/70)

Fotos (e legendas): © Aníbal Silva (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Texto enviado pelo Aníbal Silva,  ex-fur mil SAM, CCAV 2483 / BCAV 2867, Nova Sintra e Tite, 1969/70). Tem informação complementar, originada pelo Poste P27347 (*). Decidimos, todavia, publicá-lo como "anexo" à sua notável série "Vivências em Nova Sintra" (**). O tema dos reabastecimentos a Nova Sintra já foi tratado, mas as fotos e legendas que publicamos acabam oro ser um valioso complemento sobre essa "pequena epopeia" que era levar a casa, todos os meses, a "nossa bianda de cada dia".


Data - sexta, 24/10/2025, 21:33 

Assunto - A nossa guerra em números

Bom dia, caríssimo Luís

Hoje de manhã cedo, bem cedinho, depois de abrir o computador e ler o correio eletrónico, dei a habitual saltada ao nosso Blogue, o que faço diária e religiosamente e então dei de caras com o teu Poste 27347, no qual me identificas como o melhor assistemte de IA. Agradeço a nomeação mas devo dizer-te que estás a ser bondoso e benevolente para comigo. .

Ao ler o texto do Poste, verifico que fazes e ainda bem que o fazes, a transcrição da nossa conversa telefónica recente, relacionada com a nossa guerra em números, nomeadamente sobre o vinho e o “per diem”, que só agora fiquei a saber que se trata do valor da ração diária em géneros atribuída aos soldados.

Porque tinha dúvidas sobre dois assuntos, capacidade dos barris de vinho e o per diem,
telefonei a dois camaradas vagomestres do meu tempo (69 – 70), o camarada Fausto, de Fulacunda e do meu Batalhão e o camarada Carlos Alberto que esteve em Moçambique. 

Tanto um como o outro confirmam que os barris de vinho tinham a capacidade de 100 litros, acrescentando o Carlos Alberto que em Mueda, recebiam os barris, normalmente, com menos 20 litros, que o obrigava ir buscar água limpida ao rio Zambeze, para fazer o batizado e até o casamento. 

Relativamente ao per diem, se não tinha certezas, talvez os 24,50 escudos por ti referidos, agora tenho menos certezas e maior confusão. Diz o Carlos Alberto que em Moçambique nas zonas de risco de 100% o valor era de 20,50 escudos e nas zonas de risco de 50% era de 18,50 escudos. 

O Fausto diz que o valor era de 33 escudos, já em 69/70, o valor referido no relatório anual do Comando-Chefe / CTIG  referente a 1971, como atualização do valor em causa. Perante estas divergências está instalada a confusão e desde já te peço desculpa por te ter metido nela. É muito importante que outros vagomestres dêem a sua opinião sobre o assunto, na perspetiva de encontrar o valor exato.


As fotografias do teu Poste referem-se a Fulacunda (72-74) do camarada Armando Oliveira. As que se seguem dizem respeito a Nova Sintra (69-70), mais própriamente ao “Magnífico Porto de Lala”, sobre o qual o meu Comandante de Companhia escreveu: 

“Havíamos saído de Bolama às primeiras horas da manhã do dia 5 de Março (1969) e a lancha que transportava a Companhia já navegava pelo Rio Grande de Buba há umas boas horas, quando virou o rumo a bombordo e entrou por um canal mais estreito que viemos depois a saber que era conhecido por Lala. Ìamos na direção de Nova Sintra. A marcha da LDM era lenta e podíamos observar com pormenor as margens de ambos os lados cuja vegetação parecia impenetrável e onde não se vislumbrava qualquer indício de vida, nem sequer da possibilidade de qualquer abertura para o desembarque, quanto mais um porto... 

De repente, quando o rio já se tornava preocupantemente mais estreito e o arvoredo das margens parecia querer vir dar-nos as boas-vindas, surge uma abertura na vegetação que mal dava para a monobra de um Unimog e lá estava.... o magnífico porto de lala. E se não
estivessem lá os militares da Companhia que íamos render, meio escondidos pelo capim e meia dúzia de viaturas, teria passado, certamente, despercebido.”.


Preferencialmente era ao porto de Lala que íamos receber os reabastecimentos mensais. A distância era de 6 Km e nunca foi detetada qualquer mina. O mesmo não se pode dizer do porto/cais de S. João, fronteiro a Bolama, que distava 18 Km de Nova Sintra, numa estrada quase sempre minada e onde por duas vezes, devido ao rebentamento de minas anti-carro sofremos quatro mortos (2+2) e uma dezena de feridos graves.

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Vd. poste de 15 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26692: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (7): Coluna de Reabastecimento a S. João - Coluna a S. João em 08/12/69 e Colunas de reabastecimento a Lala

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27337: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (4): Nova Sintra (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 19 de Outubro de 2025, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos a quarta reportagem das "Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade", levadas a efeito pelos nossos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.


VIAGENS À GUINÉ BISSAU: AMIZADE E SOLIDARIEDADE

NOVA SINTRA

Instalações do quartel de Nova Sintra em 72/74 bem melhores que as de 69/70 da minha época

O quartel de Nova Sintra estava situado na parte sul do Setor de Tite, na Península de Gatangó, região do Quinara. Era uma localidade abundante em cajueiros e mangueiros e onde se fazia o cruzamento da estrada “internacional“ que tinha início no Enxudé, porto no rio Geba e ligava Tite a Bolama por São João e Fulacunda até Buba e Catió.

O quartel foi construído entre os dias 6 e 31 de Maio de 1968, pelos sacrificados e abnegados militares da CCAÇ 2314 e CART 1802, com o propósito de obstar ou dificultar o movimento de homens do PAIGC e de material, na direção de Bissássema, localidade junto ao rio Geba, fronteira à cidade de Bissau, de onde poderiam fazer ataques a esta cidade.



VIAGEM DE 15 DE ABRIL DE 2017

Para concluir o périplo do triângulo da região do Quinara, Tite, Fulacunda e Nova Sintra, a crónica de hoje é relativa à visita a esta ultima localidade da Guiné-Bissau, pelos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.

O transporte dos “repórteres” desde Tite, via Fulacunda e até Nova Sintra foi assegurado por uma viatura da Missão Católica de Tite e conduzido por uma freira. Segundo eles, no espaço que fora ocupado pelo quartel nada resta, salvo meia dúzia de edifícios em ruínas (ver fotos) e está totalmente coberto por árvores e densa vegetação, não permitindo identificar o que quer que seja.

No meu tempo, Março de 69 a Setembro de 70, nas imediações do quartel não havia qualquer tabanca que albergasse população, pelo que foi com surpresa e agrado que os “repórteres” me deram a conhecer a existência da Tabanca de Nova Sintra, situada a meio caminho entre o antigo quartel e o “famigerado” cruzamento de Nova Sintra (acesso a S. João, Tite e Fulacunda).

O propósito da visita foi o mesmo que as efetuadas a Tite e Fulacunda, a “amizade e solidariedade” com a entrega de dádivas, tais como: livros, cadernos e material escolar; bolas e equipamentos desportivos, bonés e t-shirts; biberões e comida para bébés; soros e material de aplicação e principalmente medicamentos.

Ruínas de edifícios do antigo quartel de Nova Sintra
Vegetação densa no espaço outrora ocupado pelo quartel
Ricardo entre dois homens que foram do PAIGC, sendo o que tem a espingarda, o que colocava minas na zona de Nova Sintra.
Estrada Tite - Nova Sintra que o Ricardo percorreu de motorizada dois dias depois da visita. Estrada que ele ajudou a desminar, até ao “pontão”, após o 25 de Abrilde 1974.
Tabanca de Nova Sintra
Ricardo Abreu na entrega de sacos com dádivas
Juventude da Tabanca de Nova Sintra
Jovens no centro do famigerado, pela sua perigosidade de outrora, cruzamento de Nova Sintra

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 14 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27316: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (3): Vila de Fulacunda (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27316: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (3): Vila de Fulacunda (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Em mensagem de 13 de Outubro de 2025, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos a terceira reportagem das "Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade", levadas a efeito pelos nossos camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu.


VIAGENS À GUINÉ BISSAU: AMIZADE E SOLIDARIEADE

Na viagem à Guiné Bissau de 2017, depois da visita à Missão Católica de Tite, os camaradas Armando Oliveira e Ricardo Abreu rumaram a Fulacunda, onde entregaram medicamentos no Centro de Saúde Victoriano Costa e outras dádivas à população, com quem confraternizaram longamente.


III - VILA DE FULACUNDA

Fulacunda é um sector da região administrativa do Quinara, na área sul da Guiné-Bissau, com 917,3 Km2 e uma população aproximada de 1300 habitantes.
A área circundante de Fulacunda abriga o Parque Natural das Lagoas de Cufada, constituído pelas lagoas de Biorna, Bedasse e a própria Cufada, sendo um importante santuário da vida selvagem da Guiné-Bissau.

Situa-se entre os dois grandes rios da região, o Rio Grande de Buba e o Rio Corubal e representa a maior reserva de água doce da Guiné-Bissau. Na zona do Parque existem 36 tabancas onde vivem cerca de 3500 pessoas, pertencentes a diversas etnias, designadamente Beafadas, Balantas, Fulas e Mandingas.

Lagoa de Cufada

RUMO A FULACUNDA
Partida de Tite em veículo da Missão conduzido por uma freira e com o Armando pronto a fazer a reportagem
Entrada em Fulacunda
Centro de Saúde Victoriano Costa
Freira da Missão de Tite em visita à enfermaria
Ricardo e Armando na entrega de medicamentos, conteúdo de duas malas
Outras dádivas para além dos medicamentos
O Ricardo cumprimenta o Malan, ex-militar e deficiente das Forças Armadas
Com o ex-guia de Fulacunda (62 a 74) Francisco Mamadu Mané
Juventude Fulacundense

EDIFICADO MILITAR AO ABANDONO
Secretaria
Messe de Oficiais
Cantina e refeitório
Messe de Sargentos
Sala de: convívio, aulas e ténis de mesa

EDIFICADO DA POPULAÇÃO
Fontanário
Edifício onde o administrador (civil) recebia os Fulacundenses que lhe iam apresentar problemas e o pedido de resolução dos mesmos.
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Nota do editor

Último post da série de 7 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27292: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (2): As hortas do Ricardo Abreu (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)