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domingo, 16 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27431: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-Fur Mil API, 2.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (25): A despedida do meu afilhado e o aluno que comeu a borracha de safar

Vista aérea de Tite

1. Mensagem, enviada ao Blogue em 13 de Novembro de 2025 através do Formulário de Contacto do Blogger, pelo nosso camarada Carlos Barros, ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf da 2.ª CART/BART 6520/72 (Tite, Gampará e Nova Sintra, 1972/74):

O Barros, ex-Furriel Miliciano (Armas Pesadas) da 2.ª CART/BART 6520, permaneceu, com o seu pelotão, em Tite, Gampará e Nova Sintra e, no total, foram 24 meses e 48 dias no inferno da Guiné.

O momento mais marcante, em termos históricos, foi a entrega do destacamento de Nova Sintra, ao PAIGC, rumo à liberdade.
Quando deixamos o destacamento, com partida em Enxudé, de LGD em direção a Bissau e mais, tarde, de Bissalanca, de regresso à Metrópole -Lisboa- em despedida, veio uma criança guineense despedir-se de mim, era o afilhado de batismo, batizado na Capela de Tite sendo eu seu padrinho.
Nadou uns 50 metros atrás da LDG acenando-me e as lágrimas invadiram o meu rosto e os soldados perguntavam-me:
Furriel o que é que tem? - Respondi-lhes:
Deixem-me em paz porque o silêncio, neste momento, é de que preciso.
Chamava-se Carlos, precisamente, o meu nome e foi um ADEUS para sempre...


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Vista aérea de Nova Sintra

2.ª CART/BART 6520 - "Os Mais de Nova Sintra"- Guiné, 1972/74

No quartel de Tite, onde me encontrava com o meu 3.º Pelotão, com o destino traçado para o inferno de Gampará, fui requisitado para as chamadas "aulas Regimentais" e também lecionar uma turma de alunos africanos - 1ª à 4ª classe- na companhia do furriel José S. Gonçalves.
Um dia, dei uma borracha -safa- a um aluno de 7 aninhos e que nunca tinha visto uma "safa" e passados uns minutos, iria explicar para que servia o material escolar que fornecemos.
Mamadu, onde está a borracha que te dei?
Ó "furiel" comi "barracha" era boa...

Fiquei atónito e nesse dia, não dei outra borracha e ainda bem que os outros alunos não tinham fome...
Foi apenas, uma cena real e que ficou na minha memória e ainda possuo a lista desses alunos, sendo as aulas dadas ao ar livre ou debaixo de uma árvore, uma ESCOLA DA NATUREZA...
Adorei a experiência e foi por isso, que mais tarde me tornei professor do 1º Ciclo do Ensino Básico para além de adorar ENSINAR e APRENDER no mundo da "aprendizagem infantil".
Toda a criança, é um "Mealheiro" onde guardamos as surpresas e pequenas histórias infantis.

Carlos Barros
Esposende, 13 de novembro de 2025
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Nota do editor

Último post da série de 19 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22118: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (24): "O papagaio embriagado"...

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro camarada Carlos Barros
Que estória ! Chamar-lhe bonita não será apropriado. Talvez deva chamar-lhe uma rica estória, na sua força pedagógica, no seu potencial de reflexão sobre a humanidade e do nosso posicionamento face às injustiças do mundo e o absurdo da guerra. Sou teu contemporâneo na Guiné, pois a minha companhia até fez o IAO com o teu batalhão, em Bolama, no sítio da tragédia do dia 10 de Julho de 1972, quando morreram dois camaradas nossos. Em Mampatá tive também a felicidade de ajudar o nosso "professor " nas suas tarefas de ensinar crianças a ler e a escrever.
Um grande abraço.
Carvalho de Mampatá