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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11477: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (1): Ofensiva do PAIGC na ZA de Gadamael até 22MAI73 (Manuel Vaz)

1. Começamos hoje a publicar mais um trabalho de pesquisa, que sabemos vai merecer a melhor atenção da tertúlia, principalmente de quem passou por Gadamael em 1973, elaborado pelo nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67). 

Diz o nosso camarada na sua mensagem de apresentação:
Este trabalho que vai ser publicado em 6 Postes, correspondentes a outros tantos subtítulos, foi concebido como "peça única". Posteriormente foi seccionado e ilustrado, sem perder as caraterísticas iniciais.
Para facilitar uma visão global do que se passou em Gadamael, era bom que se fizesse uma leitura sequencial dos subtítulos.
Um abraço.
Manuel Vaz  

Não podemos deixar de lembrar o seu anterior trabalho aqui publicado, integrado na série Memórias da CCAÇ 798



UMA VISÃO ALARGADA DO ATAQUE A GADAMAEL

DOS ANTECEDENTES ÀS CONSEQUÊNCIAS

1- OFENSIVA DO PAIGC NA ZA DE GADAMAEL ATÉ 23MAI73

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terça-feira, 22 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9936: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (9): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VII Parte - Evolução da situação militar - Anexo IV



1. Em mensagem do dia 19 de Maio de 2012, o nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), enviou-nos o anexo IV referente à VII Parte das Memórias da sua Companhia.







MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (9)
De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné
Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (VII Parte) > Anexo IV

Gadamael Porto fica situado na Fronteira Sul da Guiné-Bissau, num território que, na era colonial, pertenceu à França e que, através da Convenção Franco-Portuguesa de 1886 a “França cedia a Portugal a Zona de Cacine por troca com Casamança . . . “ (P3070),  dividindo o Reino Nalu sediado em Boké [, no território da Guiné-Conacri) . Assim, o território entre o Rio Cacine e a fronteira passou (na altura) a ser português, enquanto Casamança encravado entre a Gâmbia e Guiné-Bissau, continua a reclamar a independência.




Mais precisamente, Gadamael Porto, como se pode ver no recorte da carta anterior, situa-se na margem direita de um dos braços do Rio Cacine, onde desagua o Rio Queruene. Ao contrário do que se poderia pensar, Gadamael não era inicialmente um aglomerado populacional. A Carta Militar de 1954 [, de Cacoca,] dá ideia quanto à concentração da população. O maior aglomerado populacional, da etnia Biafada, situava-se na Tabanca de Ganturé, sede do Regulado, a cerca de 3 Km de Gadamael Porto. A tabanca mais próxima, digna desse nome, era a de Viana. Em toda a faixa compreendida entre os diversos braços do Rio Cacine e a fronteira, a zona mais povoada era para Sul, na estrada para Sangonhá.

Foi a sua localização, junto do braço do rio, associado à existência de um desembarcadouro que lhe deu a importância que tinha. Numa região com poucas e fracas estradas que na época das chuvas se tornam intransitáveis, a navegabilidade dos rios e a possibilidade do transporte fluvial para pessoas e mercadorias ganha uma importância vital. 

Foram estas condições naturais que determinaram o interesse das grandes Companhias que controlavam o Comércio, para instalarem ali um entreposto comercial. É disso prova a existência de duas casas de construção europeia, uma delas bem próxima do rio, exibindo a sigla ASCO que já fez correr muita tinta a propósito do seu significado, mas que, qual “ovo de colombo”, pode significar apenas, Associação Comercial [AsCo].

Foram estas casas abandonadas que a CART 494 encontrou, quando em 17DEZ63 ocupou Gadamael Porto, incorporando-as no Aquartelamento. Mas as NT já tinham estado anteriormente em Gadamael Porto. 

O Cap Blasco Gonçalves que foi o OInfOp do BCAÇ 1861, sediado em Buba (1965/67) dizia que já tinha comandado uma Companhia dispersa pelas localidades de Aldeia Formosa, Cacine e entre outras também Gadamael, onde teria estado uma Secção. Ora esta Secção deve ter estado instalada em Gadamael Porto, por volta dos anos 1961/62, tendo-se posteriormente deslocado para Buba, onde se fez o reagrupamento da Companhia.

Quando a CART 494 chegou a Gadamael, teve desde início de resistir às flagelações e emboscadas do PAIGC, ao mesmo tempo que construía as primeiras defesas do Aquartelamento e instalava um Destacamento em Ganturé (02FEV64) com apoio do Pel Rec Fox 42 que aí permaneceu até 20MAI64 (P7877). 

Seguiu-se o início das primeiras construções de apoio que se continuaram com a Companhia seguinte. Nesta fase, a margem direita do braço do Rio Queruane, a montante do desembarcadouro, com um piso plano constituído de uma pedra “esponjosa” de aparência vulcânica, serviu de pista de emergência, até ser construída a pista representada de amarelo, no recorte da Carta Militar, isto ainda no tempo da CART 494.

Aquartelamento de Gadamael Porto em Meados de 1969, no tempo da CART 2410.
O croquis faz a síntese do acolhimento das Populações: do lado direito, ao longo da Paliçada, as casas da Tabanca de Gadamael; do lado esquerdo as casas de colmo construídas para albergar a população vinda de Sangonhá/Cacoca (1ª fase do reordenamento da população); as casas com cobertura de zinco construídas pela CART 2410 para albergar a população de Ganturé. (2ª fase do reordenamento)

Foi com estes meios que a CCAÇ 798 encontrou o Aquartelamento de Gadamael Porto a 08MAI65. Durante a sua permanência continuaram as construções de apoio, incluindo a oficina auto, acolheram-se as primeiras populações no interior do perímetro defensivo, o que determinou o seu alargamento e a reorganização defensiva com a construção de novos abrigos e paliçadas. (P9329). 

A pista de aviação,  que na época das chuvas fora interdita, sofreu obras de ampliação e manutenção. A Engenharia Militar procedeu à eletrificação do Aquartelamento, o que permitiu a substituição do “velho petromax” e iniciou o projeto do Cais que viria a ser construído durante a Companhia seguinte, a CART 1659

Foi durante esta Companhia que se iniciaram as primeiras construções (reordenamento da população - P3013) ainda com cobertura de colmo, ao lado do Aquartelamento, para albergar as populações vindas de Sangonhá/Cacoca, entretanto extintos (29JUL68).



Fotografia aérea de finais de 1971 (CCAÇ 2796) gentilmente cedida pelo ©  Cor Morais da Silva
Desapareceram todas as casas de colmo, bem como os últimos troços de Paliçada. O perímetro do Aquartelamento alargou-se, incluindo mais construções militares sobretudo do lado oposto à Tabanca. 


Mas o Aquartelamento de Gadamael, com o perímetro deixado pela CCAÇ 798, deve-se ter mantido, sem grandes alterações, até à instalação dos primeiros Obuses, no tempo da CART 2410 (1968/69).



Fotografia aérea de 1972/73 (CCAÇ 3518), gentilmente cedida pelo ©  ex-Alf Mil L. Monteiro
Há mais construções militares do lado esquerdo. O Reordenamento da População está concluído e pode ver-se o braço do Rio Cacine, onde desagua o Rio Queruane, com o Cais de Acostagem.
 

A partir de agora, o Aquartelamento passa a ser uma base de Apoio de Fogos e de Reabastecimentos, através de um Pel Art e de um Pel AM para o qual houve necessidade de construir instalações. Esta Companhia continuou a construção da Tabanca (36 casas com telhado de zinco,  destinadas aos nativos de Ganturé=, alterou o Aquartelamento do lado da população pela eliminação da paliçada e procedeu à revisão do sistema defensivo daquele. O croquis anterior dá uma ideia do Aquartelamento nesses tempos, onde se pode ver ainda, a Tabanca inicial e os dois tipos de casas correspondendo às duas fases do ordenamento da população. 

A CART 2410 foi rendida a 21JUN69, por troca com a CCAÇ 2316, vinda de Guileje,  que apenas permaneceu em Gadamael, cerca de 4 meses. 

Seguiu-se a CART 2478 que começou por se instalar em Ganturé a 11OUT69, onde manteve dois Pelotões até à sua extinção, a 13MAI70. Foi no tempo desta Companhia que se iniciou a construção de Valas, como sistema defensivo.



Aquartelamento de Gadamael Porto nos primeiros meses de 1973, no tempo da CCAÇ 3518.
O Aquartelamento, tal como se representa no croquis, deve ter-se mantido sem grandes alterações, até ao ataque do PAIGC de MAI/JUN/73, apenas reforçado com um Pel CAN S/R com 5 armas, chegado a Gadamael na primeira quinzena de Maio, no tempo da CCAÇ 4743.


A 29DEZ70 a Companhia anterior era rendida pela CCAÇ 2796 que, nos primeiros tempos em Gadamael, foi severamente atacada pelo PAIGC, tendo sofrido várias baixas, entre os quais, o próprio Comandante da Companhia. O esforço operacional não a impediu de se dedicar à população, construindo 80 casas no Setor Norte do Aldeamento, uma Escola e um Posto Sanitário, na zona de ligação entre os dois setores do Ordenamento, para além de um Heliporto, Casernas e uma nova Reorganização do Terreno. A 1ª foto aérea dá uma ideia do Aquartelamento e das zonas limítrofes, no tempo desta Companhia.

A 24JAN72 a CCAÇ 3518 rende a Companhia anterior. Apesar dos constantes patrulhamentos numa extensa ZA, com uma fronteira de muitos quilómetros, nunca teve qualquer contacto com o IN. O PAIGC utilizava as frequentes flagelações sobre o Aquartelamento como forma de manifestar a sua presença e pressionar as NT, normalmente à noite, retirando durante esta todo o Armamento Pesado. 

Durante a presença desta Companhia foram feitas novas construções, entre elas um novo Paiol, e recuperadas as Casas de construção europeia. Foi anda concluído definitivamente o Aldeamento. É ainda de salientar a atividade do Posto Escolar nº 23, frequentado por 40 crianças e uma dúzia de adultos nativos. Desta ação beneficiaram ainda 30 praças que obtiveram o exame de 4ª classe em Bissau. (P6283)

A 04MAR73 abandonam Gadamael os últimos efetivos da CCAÇ 3518, dando lugar à CCAÇ 4743 que estava em sobreposição desde 08FEV73. Foi efémera a presença desta Companhia, interrompida pelo ataque a Gadamael de consequências dramáticas para toda a guarnição e população, ocorrido a partir da retirada de Guileje a 22MAI73. O que se passou a seguir, não é objeto deste anexo.

E agora um simples “clique” sobre a fotografia seguinte, permite-nos uma visita, em ecrã inteiro, a Gadamael Porto, nos finais do ano de 1971. Podemos ver a Escola e o Posto Médico ligando os dois Setores do Reordenamento da População, a Pista, o Heliporto, o Aquartelamento, bem como o envolvimento da floresta e do braço do rio Cacine.

Gadamael Porto nos finais do ano de 1971.  Fotografia gentilmente cedida pelo © Cor Morais da Silva.


Finalmente, aproveito para agradecer a possibilidade de divulgação das fotografias, ao Cor Morais da Silva (foto 1 e 3) e ao ex-Alf Mil L Monteiro (foto 2), bem como a intensa colaboração na elaboração dos Croquis, ao ex-Fur Mil L Guerreiro da CART 2410 e ao ex-Alf Mil L Monteiro da CCAÇ 3518, sem a qual não seria possível a sua apresentação.






Fontes:
Principal – Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, através das Apresentações, correções e Comentários.

Fontes Adicionais:
A necessidade de elementos concretos, obrigou ao contacto direto de vários camaradas que fazem parte da Tertúlia - Cor. Morais da Silva; ex-Alf Mil Vasco Pires; ex-Fur Mil Luís Guerreiro - e ainda do ex-Alf Mil Lopes Monteiro que não faz parte de mesma.

Manuel Vaz
Ex-Alf Mil
CCAÇ 798
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Nota de CV:  

Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9740: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (8): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VII Parte - Evolução da situação militar - Anexos I, II e III

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9740: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (8): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VII Parte - Evolução da situação militar - Anexos I, II e III



1. Em mensagem do dia 7 de Abril de 2012, o nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), enviou-nos os anexos I, II e III referentes à VII Parte das Memórias da sua Companhia.






MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (8)

De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné

Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (VII Parte) Anexos I, II e III



O Diagrama anterior evidencia a sequência da ocupação de toda a Fronteira Sul pelas NT, onde Guileje aparece em último lugar. Se esta sequência manifesta o grau de prioridade, teremos de concluir que, nessa altura, a zona de Guileje não era prioritária. Só muito mais tarde a CCAÇ 726 (28/10/64) se instalou em Guileje, 17 meses depois da CCAÇ 273 ter chegado a Cacine. (15/MAI/63).

Mas mudam-se os tempos e alteram-se as situações e as estratégias, o que levou o Gen. Spínola a extinguir Sangonhá/Cacoca (29/JUL/68), Gandembel/Balana e Mejo (28/JAN/69) e mais tarde Ganturé (13/MAI/70). Guileje retirou (22/MAI/73) para Gadamael.

É oportuno referir que o Pelotão que ocupou Guileje (04/FEV/64) era da CART 495, sediada em Aldeia Formosa, o que reforça a ideia de que, inicialmente, a zona não era nem perigosa nem prioritária. Mas o “Corredor da Morte” começou nesta altura e aqui.

FONTES: Vários, in Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



O Cronograma anterior apresenta todas a Companhias que fizeram parte da guarnição de Gadamael de 63 a 74, respeitando a sequência e a titularidade da sua presença no Setor.

Critérios:
1 – Dada a existência de sobreposição, a data que consta no Cronograma, refere-se à chegada da Companhia que rende, a menos que esta não seja conhecida. Neste caso, indicou-se a data da partida da Companhia rendida.
2 – Havendo discordância de datas, optou-se por aquela que parecia mais provável, quanto à origem da fonte e/ou quanto ao contexto da informação.

Fontes:
Principal – Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, particularmente através dos contributos de Luís Graça e Daniel Matos em P 7186 e Luís Graça em P7156.
Secundária - Batalha de Gadamael, ULTIMA MISSÃO de José Moura Calheiros De Recurso – E. M. E.- RESENHA HISTORICO-MILITAR DAS CAMPANHAS DE ÁFRICA – Fichas das Unidades, 7º Vol. Tomo II (61 – 74)

Nota a) - Refere-se à CCAÇ 8350, após a retirada de Guileje.


Notas: 
1 – A representação do Armamento apresenta algumas descontinuidades resultantes da falta de elementos, o que não condiciona a perceção da tendência da situação. Lembro que, das Companhias que constituíram a Guarnição de Gadamael Porto, de DEZ/73 a JUL/74, ¼ não estão representadas no Blogue, o que dificulta ou mesmo impede, a recolha de elementos e os contactos para a sua obtenção. 
2 – A deslocação de subunidades em reforço, não foi tida em conta na elaboração do Diagrama, a não ser, quando a sua presença assumiu um caráter permanente. 
3 – Note-se que até 13/MAI/70, data o abandono de Ganturé, o Armamento do Setor estava distribuído por dois Aquartelamentos.

O Diagrama dá uma visão geral do que foi o reforço em Pessoal e Armamento, em Gadamael Porto de 63 a 74, mas admite outras leituras importantes: - Sublinho, em primeiro lugar, os anos charneira de 68/70 a que corresponde a concentração da população vinda de Sangonhá, Cacoca e Ganturé e consequente dilatação do Setor operacional para Sul. A esta alteração, por si só considerável, acresce um aumento da atividade do PAIGC, em certos períodos, o que determina um aumento do apoio de fogos. Finalmente, a necessidade de defender, a “todo o custo” Gadamael Porto em 73/74, também está bem documentada no Diagrama, através do reforço do Pessoal e Armamento.

Claro que não se pode comparar o que não é comparável, mas a tentação é grande, de comparar os efetivos e o apoio de fogos concentrados em Gadamael Porto em 73/74, com a possibilidade de dispersão dos mesmos, distribuídos por vários Aquartelamentos ao longo da Fronteira Sul. Por outro lado, pode ainda colocar-se a questão de saber se a concentração de efetivos, em Gadamael Porto, cerca de 600, não pode reeditar uma situação de risco, perante um novo ataque de Artilharia do PAIGC, à semelhança do que aconteceu em MAI/JUN/73. Questão complementar da anterior, é saber até que ponto a impreparação das defesas do Aquartelamento foi resolvida de maneira a resistir à artilharia do PAIGC.

A resposta a estas questões, embora pertinente, implica um outro tipo de análise que vai muito para além do âmbito deste anexo, mas haverá com certeza, na tertúlia, quem tenha respostas esclarecidas sobre estes assuntos.

Fontes:
Principal – Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, através das Apresentações, Comentários e Correções.
Secundária - Batalha de Gadamael, ULTIMA MISSÃO de José Moura Calheiros.
Outras Fontes:
1 – A necessidade de elementos concretos para a elaboração deste Diagrama obrigou ao contacto direto de vários camaradas que fazem parte da Tertúlia, constituindo assim fontes adicionais que passo a identificar: Ex. Fur. Mil. Luis Guerreiro; Ex. Alf. Mil. Vasco Pires; Cor. na reserva Morais e Silva; Ex. Alf. Mil. José Gonçalves.
2 – A recolha de elementos excedeu mesmo os contatos existentes no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, pelo que houve necessidade de recorrer a outras fontes que passo a identificar: Ex Militar Manuel Teixeira da CCAÇ 3518; Ex 1º Cabo Mecan. Artur Machado do Pel. FOX 3515; Ex. Alf. Mil. Lopes Monteiro da CCAÇ 3518.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9577: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (7): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VII Parte - Evolução da situação militar

quarta-feira, 7 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9577: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (7): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VII Parte - Evolução da situação militar

 


1. Em mensagem do dia 3 de Março de 2012, o nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), enviou-nos a VII Parte das Memórias da sua Companhia.






MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (7)

De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné

Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (VII Parte)

A Evolução da Situação Militar

O título da minha intervenção “De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné . . .” foi escolhido por considerar a “Batalha de Gadamael” como o corolário natural da evolução militar na Fronteira Sul, ou mesmo na Guiné. Retomo por isso, a análise feita nas Partes I e II, sem pôr de lado o princípio, que uma luta de guerrilhas não se resolve pela via militar.

Depois de um período em que reagiu à instalação das NT, ao longo da fronteira, o PAIGC considerou prioritário o reforço, noutras zonas, nomeadamente no Cantanhez e no Quitafine. Mas para intensificar a sua presença no interior, tinha de manter abertas as vias de reabastecimento com a República da Guiné, país amigo por onde passava a maior parte do apoio. Ora, na Fronteira Sul, a solução natural era o “Corredor de Guileje”, já que o Quitafine estava encostado à fronteira e era abastecido diretamente através dos rios Caraxe e Camexibo.

Apesar das evidências, a primeira força militar colocada no corredor, foi um pelotão da CART 495 de Aaldeia Formosa, (4/FEV/64) sem capacidade operacional para contrariar a actividade do PAIGC na zona. A primeira Companhia instalada no “Corredor” foi a CCAÇ 726, em 28/OUT/64, praticamente um ano depois de estabelecida a malha operacional em Gadamael/Sangonhá. A reação não se fez esperar e surgem confrontos violentos com o PAIGC, visto que “ . . .o IN estava habituado a utilizar o corredor sem ser incomodado, uma vez que os efetivos de Guileje até então, não tinham passado de um pelotão”. (16)

Em 30/MAR/65 a CCAÇ 726, instala o respectivo destacamento no Mejo e completa-se assim, nesta fase, a Quadrícula das NT, na Fronteira Sul.

Os elementos apresentados explicam, até certo ponto, a relativa acalmia que, a partir da ocupação do “corredor”, se começou a sentir nos setores mais a Sul (Gadamael e Sangonhá), enquanto a Norte, Guileje se vai transformando num “inferno”, apesar da intervenção das “forças especiais”. A situação vai manter-se até o PAIGC consolidar a presença no “Corredor de Guileje” e respectivos apoios, dentro e fora da fronteira.

Entretanto o ano de 1968, vai ser o ano de grandes mudanças. O Comando-Chefe, apercebe-se que a estratégia de Quadrícula se encontra esgotada, remetendo as forças no terreno, a uma atitude defensiva. Em JAN/68 resolve utilizar o Batalhão de Paraquedistas “numa operação arrojada, a fim de recuperar a iniciativa da guerra no Cantanhez. . . . Os Para-quedistas sofreram três feridos graves e dois ligeiros . . . capturaram todo o material de guerra . . . quarenta guerrilheiros foram mortos e 19 foram feitos prisioneiros”. (17)

Aspeto do interior de Ganturé que viria a ser abandonado em 13/MAI/70

Entretanto, em 08/ABR/68, três anos depois da ocupação do Mejo e demasiado tarde face à evolução militar da zona, a CCAÇ 2317 é colocada na zona de Gadembel, no coração do “Corredor da Morte” e instala um Destacamento a defender a ponte do rio Balana, de maneira a garantir a ligação com A. Formosa. O PAIGC reage, deslocando mais efetivos para a zona. O Aquartelamento é continuamente bombardeado e a situação sofre um agravamento a Norte e a Sul do rio Balana, com tendência a estender-se mais para Sul.

Em MAI/68 o general Arnaldo Schulz é substituído pelo brigadeiro António de Spínola que altera a política e a estratégia, tentando ganhar as populações e a iniciativa militar.

Em JUN/68 põe em marcha um plano de retração do dispositivo militar, de maneira a recuperar efetivos sem comprometer a defesa das populações. Em Cacine, fala com o Cap. Veiga da Fonseca e questiona-o quanto à possibilidade de abandonar posições na zona, para recuperar mais unidades de intervenção. A resposta foi: “ . . . para não perder o controle da estrada para Guileje, não deveria abandonar nenhuma posição, mas se a ideia era essa, então abandonasse Sangonhá e Cacoca”. (18) Estes aquartelamentos foram extintos nos finais de 1968. As populações deslocam-se, à sua escolha, para Ganturé Gadamael e surge neste, com o apoio das NT, “ . . .o primeiro reordenamento da população da Guiné . . .” (18) uma das bandeiras do General Spínola.

Em 28/JAN/69, são ainda abandonados os aquartelamentos de Mejo, Gadembel e Ponte Balana, entre outros.

O regresso de uma patrulha no rio Queruane com o médico Batalhão, em primeiro plano

Entretanto a situação continua a degradar-se. Em Gadamael, com um setor alargado para além de Sangonhá, os contactos com o IN são mais frequentes, bem como as flagelações dos aquartelamentos. O destacamento de Ganturé, a 6 Km da fronteira é agora o mais exposto e a 06/JAN/69 (um ano depois de Spínola ter informado a população do seu abandono e quase um ano ates deste se ter concretizado – 13/MAI/70), sofre um ataque com Mort/82 e Canhão S/R, a partir da pista de Sangonhá. O apoio aéreo pedido surpreende o IN, destruindo o armamento pesado e causando uma autêntica “chacina”.

A pressão do PAIGC estende-se a toda a Fronteira Sul. O Aquartelamento de Guileje, fortificado com abrigos de betão para resistir à artilharia inimiga, está isolado no “corredor da morte” e entregue aos apetites do PAIGC. (19)

Para causar instabilidade ao IN, nas “zonas problemáticas”, Spínola utiliza as “forças especiais”, fortemente apoiadas por meios aéreos, capazes de incursões rápidas e violentas. Foi assim em Cassebeche, no Quitafine, a 07/MAR/69, mas as NT são rechaçadas. Os intensos bombardeamentos, não conseguem eliminar a bateria de antiaéreas e assim não é possível apoiar a progressão dos Páras.

Todo o Sul da Guiné, cujo comandante da Guerrilha é Nino Vieira, é um quebra-cabeças para Spínola e a sua captura seria um golpe importante contra a guerrilha. A oportunidade chega com as informações que dão como certa a sua passagem, no “Corredor de Guileje” a 18/NOV69. Os PÁRAS montam uma emboscada e capturam um elemento importante, mas não é o Nino, é um Cap. Cubano de nome Peralta.

Na Fronteira Sul, as notícias não são Boas. “ A CCAÇ 2796 foi fustigada de forma brutal nos seus primeiros passos em Gadamael, numa primeira tentativa do PAIGC de, indirectamente, eliminar a posição de Guilege. Sofreu baixas, incluindo o Comandante de Companhia ( 24/JAN/71 ) . . .” (20) O Médico do Batatalhão diz mesmo que “no tempos da CCAÇ 2796, Gadamael era o pior buraco do sul .“ (21) As citações deixam perceber que o PAIGC pressiona mais a sul na tentativa de isolar Guiledje, o que vai continuar a fazer, dada a sua capacidade crescente.

A situação que, no cômputo geral, melhorou com a chegada de Spínola, começou entretanto a regredir e a principal preocupação é o Sul. O Comando-Chefe planeia uma grande ofensiva no “Corredor de Guileje”, em que os efectivos são deslocados de avião para A. Formosa e Gadamael Porto. A operação que durou 10 dias, teve início a 28/MAR/72, com fortes bombardeamentos, a norte e a sul do R. Balana. Foi considerada um êxito pelo material apreendido, as destruições e as baixas provocadas, num zona em que o PAIGC lançava estruturas de apoio.

Mas o Comandante-Chefe tem planos mais ambiciosos para o Sul: ”. . . fazer do rio Cacine a principal linha de defesa do Sul da Província. Para a concretização deste plano, era absolutamente necessário que as tropas portuguesas ocupassem a Península do Cantanhez ....” como “... apoio aos aquartelamentos de Cacine, Guilege e Gadamael . . .” (22)

A 12/DEZ/72 o plano é posto em marcha com o ataque à base de apoio à guerrilha no Cantanhez. Depois de violentos confrontos, os Páras conseguem entrar na base, enquanto Caboxanque, Cadique e Cafine são ocupados. A par desta acção militar, toda a fronteira, desde Aldeia Formosa a Cacine, é objecto da intervenção conjugada de forças especiais e outras, de maneira a desarticular e criar instabilidade ao IN. O conjunto de Acções que decorreu de DEZ/72 a JUN/73 permitiu a captura de diverso material do qual se destacam 2 rampas de foguetões. Foi ainda capturado o comandante do bi-grupo de Simbeli.

Aspeto do rio, na zona de descargas, onde posteriormente foi construído o cais

O PAIGC decide responder à ofensiva das NT. Desde o assassinato de A. Cabral a 20/JAN/73) que a cúpula dirigente prepara uma grande ofensiva a que dará o nome do seu fundador.

Na primeira semana de MAI/73, o IN cerca Guidage a poucos metros da fronteira com o Senegal e corta todos os acessos a sul do aquartelamento com um vasto campo de minas. Os PÁRAS não conseguem romper o cerco. Os Comandos Africanos atacam a norte a base de apoio do IN que enfrentam em luta corpo-a-corpo. Uma força de Fuzileiros consegue fazer chegar ao aquartelamento uma coluna de reabastecimentos, mas a artilharia IN não dá tréguas. A FA limitada na sua ação pelos mísseis terra-ar, não consegue apoiar as NT. Feridos e mortos não são evacuados.

Guidage resistiu, mas “ . . . a operação de cerco ... terminou quando já não tínhamos necessidade de desviar as Forças de Intervenção do nosso objetivo principal, que não era ali, mas no Sul da Guiné”. (23).

O Objetivo principal era Guileje e por isso, às 07H00 de 18/MAI/73, uma coluna que se dirige para Gadamael cai numa emboscada e sofre 1 morto, 7 feridos graves e vários ligeiros. O apoio aéreo pedido não é concedido e as evacuações só a partir de Cacine, o que gera mal-estar, agravado com a morte de um dos feridos. Conhecedor da situação, o Comandante do COP5 esforça-se por apresentar, junto do Comandante-Chefe, os seus pontos de vista e pedir reforços.

Apesar dos responsáveis militares considerarem que “ O IN está a preparar as necessárias condições para conquista e destruição de guarnições menos apoiadas. . .“ onde se incluíam Guileje e Gadamael, (24) o Comandante-Chefe não só não atendeu o pedido de reforços do Comandante do COP5, como o nomeia 2º Comandante, entregando o comando ao Coronel Rafael Durão. Regressado a Guileje, depois de três dias de ausência, pela ida a Bissau, Coutinho e Lima encontra o Aquartelamento parcialmente destruído pela Artilharia, sem víveres, sem água, sem comunicações, com escassez de medicamentos e munições alguns abrigos destruídos, um furriel morto e a presença confirmada do IN nas imediações. Perante a situação, depois de uma reunião com os oficiais, decide retirar para Gadamael, na madrugada seguinte com toda a guarnição e a população, depois de destruir ou inutilizar o armamento pesado, viaturas e documentos. A retirada para Gadamael colhe de surpresa o IN que continuou a bombardear Guileje, (atingida até então por mais de 700 impactos ), mas surpreende também o Comandante-Chefe que, através do Cor. Rafael Durão, lhe dá ordem de prisão à chegada.

Aparentemente, para as chefias militares, tudo se resolvia com o afastamento do Comandante do COP 5, esquecendo que “ . . . encontrarmo-nos na entrada de um novo patamar da guerra . . .” e na “ . . . passagem para acções de tipo convencional embora ainda isoladas . . .” (24) esquecendo também a aglomeração de efetivos e de população em Gadamael, bem como a impreparação das defesas do Aquartelamento para resistir a um ataque de Artilharia em que ninguém parecia acreditar.

A 31/MAI/73, o Cor. Rafael Durão é substituído pelo Cap. Comando Ferreira da Silva, que, após a chegada, promove uma reunião com os dois Comandantes de Companhia. Finda esta, começam a cair as primeiras granadas que, gradualmente se vão aproximando, nove dias depois da chegada da coluna vinda de Guileje

Quando em 1966, olhava o Aquartelamento, não imaginava que um dia iria ser arrasado pelo PAIGC

No dia seguinte, estando no exterior do Aquartelamento dois pelotões, em patrulhamento, o IN desencadeia um ataque (cerca de 800 granadas) com vários tipos de armas e granadas. As guarnições dos Obuses, são praticamente dizimadas, ficando a resposta limitada aos Canhões S/R 5,7 e Mort/81 que não tinham alcance para atingir a base de fogos do IN, bem como a tiros esporádicos de um dos Obuses.

No entanto o IN coloca as granadas onde quer, destruindo o Aquartelamento: - Os 2 Comandantes de Companhia, de uma só vez, são atingidos, no Posto de Transmissões que fica inoperacional. Segue-se o médico que é evacuado. O Comandante do COP5, bem como vários graduados multiplicam esforços para socorrer e evacuar mortos e feridos.

Até à chegada dos PÁRAS, na manhã de 03/JUN, a guarnição de Gadamael respondeu ao ataque constante da Artilharia, com os meios disponíveis numa “ . . .aparência de capacidade de reacção que dissuadisse um eventual reconhecimento em força por parte do inimigo . . .” (25), municiando as armas, assistindo os feridos e procedendo às evacuações pelo rio, até Cacine. Entretanto regressaram ao Aquartelamento os militares que se tinham refugiado no exterior, enquanto outros com a população (cerca de 300/400) eram socorridos pela Marinha e levados para Cacine, entre eles muitos feridos, de tal maneira que “ à noite, a coberta das praças estava completamente repleta de feridos . . . “(26)

Mas os guerrilheiros pressionam nas imediações do Aquartelamento, emboscando e atacando as NT. O Comando-Chefe, depois de recusar a proposta de retirada, (27) decide empenhar na defesa de Gadamael todo o Batalhão de Paraquedistas que se transferem do Cantanhez para o COP5. A partir daí, a situação vai progressivamente melhorando com o patrulhamento ofensivo e permanente, de maneira a afastar o IN para lá da fronteira.

A situação permitiu toda a reorganização defensiva do Aquartelamento, até que no dia 23/JUN os PÁRAS descobrem e atacam uma base fortificada, na linha da fronteira, a 2,5 Km a sul de Caur, capturando importante material de Guerra e provocando muitas baixas, trabalho que FA completou. A Batalha de Gadamael custou às NT 18 mortos e 76 feridos, mas a operação “Amilcar Cabral” veio revelar a capacidade do PAIGC e a incomodidade das NT, perante as limitações da FA, resultantes da ameaça dos mísseis terra-ar. Repor a capacidade operacional da Força Aérea estava fora de causa, pelo isolamento internacional do País e pelos custos financeiros do seu reequipamento. (24) Assim, o colapso das NT está a prazo, perante o arsenal anunciado do PAIGC, onde se incluíam aviões MIG, Carros de Combate, mísseis terra-ar de tubos múltiplos, etc. etc.

A situação encaminha-se para um fim que a recusa do Plano Spínola/Senghor deixava adivinhar. O Regime de Lisboa não soube resolver o problema da Guerra, vai ser a Guerra que vai ajudar a resolver o problema do Regime que cai em ABR/74.
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(16) – Virgínio Briote, Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 2360
(17) – Manuel Catarino, AS GRANDES OPERAÇÕES DA GUERRA COlONIAL ( 2º Vol. ) (18) – António Costa (Coronel na reserva ), Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 6614 e 3013
(19) – “Dizia Amílcar Cabral que, se Guileje caísse, tudo o mais se desmoronaria.”- Depoimento de Manuel dos Santos (Comandante do PAIGC), ANEXO de A ÚLTIMA MISSÃO de José M. Calheiros
(20) – Morais da Silva, (Coronel na reserva), Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 7825
(21) – Amaral Bernardo, EX. Alf, Mil. Médico, Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 7796
(22) – Manuel Catarino, AS GRANDES OPERAÇÕES DA GUERRA COlONIAL ( 8º Vol. ) (23) – Manuel dos Santos (Comandante do PAIGC), ANEXO de A ÚLTIMA MISSÃO de José M. Calheiros
(24) – Acta da Reunião de Comandos de 15/MAI/73, Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 5627
(25) – João Seabra, , Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 3801
(26) – Pedro Lauret, Com. Da Fragata ORION, Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, P 6217
(27) - “SITUAÇÃO CADAMAEL PORTO INSUSTENTÁVEL( . . . ) PESSOAL COM MORAL EM BAIXO POUCO TEMPO AGUENTARÁ NESTA SITUAÇÃO VIRTUDE NÃO DORMIR, NÃO COMER VÁRIOS DIAS . . . SOLICITO AUTORIZAÇÃO PARA SE EFECTUAR RETIRADA ORDENADA COM MEIOS NAVAIS EXISRENTES NESTE ( . . . )”, Msg 5/P de 032229JUN73 do COP5 para COMCHEFEOPER, in A ÚLTIMA MISSÃO de José M. Calheiros

ANEXOS:
 I – Presença das NT na Fronteira Sul ( Diagrama );
II – Presença das NT em Gadamael Porto ( Cronograma );
III – Reforço de Pessoal e Armamento em Gadamael Porto ( Diagrama );
IV – As NT em Gadamael Porto ( Representações Várias )

FONTES:
- Vários, Blogue LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA CUINÉ
- Catarino, M, AS GRANDES OPERAÇÕES DA GUERRA COLONIAL, Presselivre, Imprensa Livre SA, 2010
- Calheiros, J. M, A ( Cor. Par. ) ÚLTIMA MISSÃO, Caminhos Romanos, Porto, 2010
- Lima, C, ( Cor. Art. ) A RETIRADA DE GUILEJE, DG Edições, Linda-a-Velha, 2010
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9435: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (6): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VI Parte - Momentos de descompressão

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9435: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (6): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - VI Parte - Momentos de descompressão

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), com data de 30 de Janeiro de 2012:

Camarada Vinhal:
Junto envio a VI Parte da minha Comunicação para incluíres no Blogue.

Com os meus cumprimentos,
Manuel Vaz



MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (6)

De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné

Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (VI Parte)

Momentos de Descompressão

Mas nem só de descargas e colunas de reabastecimento, de operações ou abrigos se vivia em Gadamael Porto. No coração e na mente da rapaziada muito havia para viver ou não fosse aquela a idade dos sonhos, dos projectos . . . e tudo contido no interior da paliçada, entrincheirado nos abrigos, limitado pelo arame farpado !. . .

O DO 27 no momento de aterragem. Do lado esquerdo, quase impercetíveis, os elementos da segurança e o mastro com a manga para a indicação do vento

A chegada do correio era um momento especial . . . como se o saco que o transportava contivesse os desejos de cada um: da família ! . . . da namorada ! . . do emprego ! . . . dos estudos ! . . . dos amigos ! . . . de o tudo que deixamos . . . e que esperava por nós.

O avião imobilizado na pista com o representante do Comando e outros graduados para receberem o correio, encomendas ou até recados.

Percebe-se, por isso, que quando o DO 27 sobrevoava o aquartelamento, a baixa altitude, para verificar as condições de segurança da aterragem, um súbito alvoroço irrompia de todo o sítio, onde viva alma se encontrasse e todo o aquartelamento se agitava até se distribuir o que o saco do correio continha.

A vinda do avião era um acontecimento semanal obrigatório que nada poderia impedir, sob pena de se gerar um mal-estar, mais ou menos generalizado. Compreende-se que assim fosse, visto que ele representava a ligação com o resto do mundo ! . . .

Mas havia sempre quem guardasse um calendário e religiosamente cortasse os dias que passavam. Por isso, dava conta dos domingos, feriados, dias santos e avisava que era dia de jogar à bola ! . . . E se nada fundamental fazia parte da “ordem do dia”, pois porque não ? Praticar desporto também é importante para desanuviar o espírito.

Uma peladinha no fundo da pista dava sempre jeito ao espírito e à pista, para não falar da forma física dos atletas.

O nosso (de Gadamael) principal adversário era Ganturé (Destacamento), principal e único, pois o campeonato era limitado e não eram admitidas inscrições fora do prazo. Por isso, quando não havia derby, treinávamos. Conseguia-se sempre arranjar voluntários para a segunda equipa. . . E para aqueles que não tinham pés para a bola, jogavam com as mãos . . . voleibol claro.

O Campo normalmente utilizado para o Voleibol era em Ganturé

Em qualquer dos casos, é de realçar, não só o empenhamento, mas também o estilo e a técnica. É caso para dizer: Assim se jogava em Gadamael Porto ! . . . E para que fique para a História, aqui vai a equipa principal de futebol.

Que me desculpem os esforçados atletas, mas só me lembram os nomes de alguns: Em baixo, da esquerda para a direita, em segundo lugar o Cap. Anacoreta Soares, seguida do Alf. Mil. Assunção e eu próprio.

Mas quem poderia imaginar que, no meio de tantas vicissitudes, o ser humano ainda dispunha de disposição e criatividade para “fundar” um Grupo Cultural e Recreativo, mais recreativo que cultural, naturalmente . . . Foi assim que nasceu o “LADRÕES DE GADO”. Têm dúvidas?!. . . Pois tentem ler o dístico, junto ao microfone . . .

O Palco improvisado foi montado numa Berliet que, para o efeito, foi estacionada, em frente do refeitório.

O espectáculo exibiu um repertório variado e teve numerosa assistência com direito a plateia e primeiro balcão, ou seja, a bancos do refeitório em primeiro plano, seguidos das respetivas mesas.

A fotografia seguinte retrata um ritual com um significado profundo que a galhofa esconde e em que os participantes, sem se aperceberem, transmitem uma mensagem, compreensível apenas a quem está “por dentro das coisas”.

Um grupo manifestando-se depois da “recuperação” de um amigo, na Clínica, a parada do Aquartelamento

O cortejo, porque é disso que se trata, captado noutra fotografia publicada na Segunda Parte, é uma manifestação festiva e espontânea de um conjunto de amigos que resolvem “recuperar um doente”:
- A CLINICA FEZ A RECUPERAÇÃO DE UM DOENTE, é o que diz o cartaz. O “doente” era um camarada que acabava de cumprir o castigo de trabalhar na parada à hora do descanso.

Moral da história:
- Quando o Grupo assume a disciplina como coisa indispensável à sua própria sobrevivência, o castigo é entendido como um tratamento e o facto tem honras de festa. Tenho de confessar que este ensinamento, transmitido de forma espontânea, me acompanhou para o resto da vida. Obrigado Camaradas.

A macaquinha (da raça “macaco cão” ao colo do Camarada Faria de Transmissões, que até parece que se fardou a preceito para a fotografia

Vou terminar esta comunicação, com uma homenagem à natureza da Guiné, simbolizada na macaquinha que, com o seu ar ternurento, nos deliciava com as suas diabruras, o seu pedido de festas as quais, à falta da mãe, nos solicitava. É impressionante como a natureza é implacável e determinante. É quase impensável que a macaca criada no meio dos humanos, sentisse vertigens quando colocada num ramo, a dois metros do solo !

. . . E que pensar da sua reação, quando saltitando à frente da coluna se aproximava da zona do Bendugo, onde habitava uma colónia da sua raça: eles ameaçavam com latidos ferozes e a macaquinha corria em pânico para nós. Ela coitada, sem querer, talvez pela força do destino, traiu os irmãos de raça ! . . . Nós, os humanos, éramos os amigos ! . . . Era assim com os macacos . . . Não é muito diferente com os humanos. . .
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9329: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (5): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - V Parte - Defesa do aquartelamento

domingo, 8 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9329: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (5): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - V Parte - Defesa do aquartelamento

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), com data de 5 de Janeiro de 2012:

Camarada Carlos Vinhal:
Quero agradecer em meu nome e da minha mulher os votos de Bom Ano Novo que retribuo para ti e família.
Igualmente agradeço a listagem que enviaste dos camaradas tertulianos que, com certeza, me vai ser útil.
Posto isto, vou enviar-te, para publicação no Blogue, a V Parte da minha participação, subordinada ao tema: "Defesa do Aquartelamento".

Com os meus cumprimentos
Manuel Vaz


MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (5)

De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné

Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (V Parte)

Defesa do Aquartelamento

O Aquartelamento de Gadamael Porto nasceu à volta de dois edifícios de construção europeia, colocados diametralmente opostos, relativamente ao último troço da estrada que ligava ao Porto, a uma distância um do outro, da ordem dos 300 metros. (13) O troço referido da estrada tinha um declive que não era acompanhado pelos terrenos que o ladeavam, particularmente do lado direito, quando virados para o rio. Esta situação colocava alguns problemas, na drenagem das águas, na localização e na construção de abrigos, paióis e, em geral, na segurança do aquartelamento. Apesar disso, é perfeitamente compreensível que os responsáveis militares decidissem por aquela localização. A urgência da situação não permitia hesitações, dado que o PAIGC iniciou de imediato as suas investidas, flagelando, emboscando, procurando evitar, ou pelo menos dificultar, a instalação da CART 494 que acabou por sofrer mesmo um ataque em força.
Nestas circunstâncias, as primeiras defesas do aquartelamento surgiram à volta dos edifícios inicialmente existentes, enquanto outros eram construídos.

A CCAÇ 798 substituiu a CART 494 a partir de 08/MAI/65. Desde início que a Companhia assumiu a defesa do Aquartelamento como a terceira grande tarefa em que se iria empenhar. Quando não havia operações, descarga ou colunas de reabastecimento, o pessoal disponível trabalhava nos abrigos e paliçada.

Um dos abrigos em renovação, junto do fundo da Pista de Aviação e que servia também de proteção ao Pessoal das Transmissões

Embora a situação militar de início, fosse de alguma tensão, com o tempo melhorou, o que conduziu à apresentação de nativos que pretendiam viver em Gadamael. Entretanto, no aquartelamento novas construções tinham sido edificadas, e a Seção Auto necessitava de mais espaço para ampliar a oficina e o parque auto, como referi na comunicação anterior.

Colocada a necessidade de aumentar o perímetro do Aquartelamento, havia que equacionar fundamentalmente dois aspetos: localização das “moranças” para os nativos e a segurança do aquartelamento. Analisada a situação, verificou-se que os aspetos referidos convergiam na mesma solução: alargar o aquartelamento do lado esquerdo, quando virados para o rio.

Para o reforço da segurança deviam ser cumpridos três objetivos: eliminar os ângulos mortos; impedir o tiro direto para o interior do aquartelamento; localizar os abrigos de maneira a cruzar o fogo das metralhadoras. Assim, do lado esquerdo criava-se um novo abrigo, protegido por uma árvore e enterrado pelo exterior, onde seria instalada uma Metralhadora Brauning 12,7 mm que batia todo o flanco que o IN tinha utilizado no ataque ao aquartelamento.

Construção do primeiro abrigo enterrado, em Gadamael (vista exterior). Ocupava o vértice do Aquartelamento (agora em forma de pentágono) virado para Sangonhá

Do lado contrário, para anular a elevação do terreno, dava-se um novo alinhamento à paliçada, elevando-se a sua altura e construindo-se um abrigo a condizer. (fig. seguinte)

Fase final da construção do abrigo, no lado direito do Aquartelamento (vista exterior)

Na entrada do aquartelamento, vindo de Ganturé, tinha de se evitar que o IN pudesse repetir o que aconteceu no ataque anterior, em que foi empurrando, até próximo do arame farpado, uma Metralhadora 12,7 mm blindada e com rodas, com a possibilidade de varrer o edifício da Messe de Oficiais, do Comando, das Transmissões e da Enfermaria. Aqui, a defesa do aquartelamento tinha ainda que transmitir uma mensagem dissuasora: - construiu-se um abrigo encimado por uma torre de vigilância e a entrada era feita em curva/contracurva, para evitar o tiro direto.

Croqui da entrada principal do Aquartelamento, virada para a fronteira

Sabíamos que, com a fronteira a poucos quilómetros, o IN poderia saber quase tudo o que queria sobre as nossas defesas. Então procurava-se transmitir a ideia de uma grande fortificação, já que, quanto a armamento, era mais fácil escondê-lo.
A propósito de armamento, para além da Metralhadora Brauning referida, o Aquartelamento apenas dispunha do armamento orgânico dos dois Grupos de Combate, ou seja, o equipamento individual acrescido de uma Metralhadora, um Lança-Granadas e um Morteiro 60 por cada grupo. O Morteiro 81 da Companhia estava instalado em Ganturé, mais próximo da fronteira.

Construção do abrigo da entrada principal do Aquartelamento (vista exterior)

Diga-se de passagem que as noites passadas em Gadamael, quando os dois Grupos de Combate (o terceiro estava em Ganturé) partiam para operações no “corredor de Guiledge” eram de alguma apreensão: defender o Aquartelamento com armamento muito limitado e um grupo reduzido, de cozinheiros, mecânicos e pouco mais... causava alguns calafrios.
No entanto, o empenhamento nos trabalhos de defesa do Aquartelamento era notório para quem entrasse em Gadamael.

Outro aspeto da construção do abrigo anterior (vista interior)

Um dia, uma alta patente militar, Brigadeiro se não me engano, em trânsito pela zona, aterrou na pista sem se fazer anunciar e ao visitar informalmente o Aquartelamento, foi tecendo algumas considerações. Das observações feitas deixou-nos a impressão que achava excessiva a atenção que dávamos ao aquartelamento.
Restava-nos o “conforto” vindo da parte do IN: - quando um grupo do PAIGC, falava com habitantes de uma tabanca da República da Guiné, junto à fronteira, alguém perguntou se não pensavam atacar Gadamael. A resposta foi: “Gadamael ?! ... Manga de chatice !...” (14)

Identificação das camadas sobrepostas, nos tetos dos abrigos, depois de construídos. O cascalho com cimento servia para nivelar a superfície dos troncos de cobertura.

Apesar da construção dos abrigos ser feita com robustez, pode perguntar-se, à luz do que aconteceu, anos mais tarde, se reuniam as condições de segurança necessárias para resistir aos ataques da artilharia do PAIGC. Claro que não. Na altura, o IN ainda não utilizava artilharia e os ataques às posições das NT eram feitas com armas de tiro direto, RPG e Morteiro 60.

O Aquartelamento de Gadamael, com o perímetro deixado pela CCAÇ 798, deve-se ter mantido até ao reordenamento da população e talvez da instalação do primeiro Obus, no tempo da CART 2410. (10)

(continua)

(13) – Ver fotografias da II Parte
(14) – Informações recolhidas pela CCAÇ 798
(15)- Deixo aqui uma sugestão aos camaradas da CART 2410 e Companhias seguintes para, na hipótese de não haver uma fotografia aérea, indicarem a localização, quer do(s) Obus(es), quer do reordenamento da população, face ao “corpo do Aquartelamento primitivo”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9193: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (4): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - IV Parte - Movimento de cargas e descargas em Gadamael Porto

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9193: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (4): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - IV Parte - Movimento de cargas e descargas em Gadamael Porto

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), com data de 10 de Dezembro de 2011:

Camarada Vinhal
Junto envio a IV parte da comunicação para a integrares no blog.
Cumprimentos
Manuel Vaz



MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (4)

De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné

Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (IV Parte)

Uma das missões da Companhia era o apoio logístico de Guiledge e Sangonhá, o que implicava a descarga e o transporte dos reabastecimentos a partir de Gadamael Porto. O que se entendia por “Porto”, na altura, eram as condições naturais para pequenos barcos e LDM´s descarregarem. Um simples “degrau” de 50/70 centímetros entre a margem plana em rocha e o início do lodaçal, permitia a operação, numa zona mais larga e desprovida de tarrafo. (8)

A caixa de carga de uma viatura permite a aproximação do Unimog ao barco encalhado, sem entrar no lodo que mais parecia cimento amassado

Cais de acostagem era coisa de que se falava e até por lá apareceu um furriel da Engenharia Militar, mas nunca se iniciou, durante a permanência da Companhia (9). Havia que improvisar soluções, conforme as circunstâncias.
Quando o reabastecimento era feito por um barco, a solução para a descarga era pacífica por parte da tripulação: encalhavam os barcos, ficando ali de um dia para o outro.

A fotografia ilustra bem uma espécie de “cais submerso” sobre o qual as LDM´s tombavam a porta. Quando a água baixava as LDM´s recuavam e então começavam os problemas.

Para as LDM`s a solução era mais complicada, visto que a Marinha não encalhava as lanchas e se isso acontecesse era sinal de avaria ou “azelhisse” da tripulação. As lanchas chegavam com a praia-mar e baixavam a porta sobre o degrau natural que referi anteriormente. A partir daí iniciava-se o trabalho de estiva, carregando a mercadoria para as viaturas que ficavam a 20/50 metros, conforme o nível da água, que variava durante a descarga. (10)

As descargas ocorriam com os militares metidos na água, utilizando o pequeno barco de patrulhamento no rio e as canoas dos nativos, ali acostadas.

Por vezes a Marinha trazia duas lanchas e então a estiva complicava-se para ultimar o trabalho durante a praia-mar. As fotografias mostram a dureza dos trabalhos mas não revelam as situações verdadeiramente críticas:
- quando a água começava a baixar, as Lanchas iam-se afastando, ampliando a distância até às viaturas e obrigando os “estivadores” a caminharem no lodo do rio. Houve mesmo situações dramáticas, dada a força da corrente na baixa-mar. Eu próprio protagonizei uma situação dessas, quando o pequeno barco onde estava começou a ganhar velocidade. Valeu-me estar relativamente perto do tarrafo a onde me consegui agarrar.

A fotografia mostra duas Lanchas a descarregar. O Unimog do lado direito, em primeiro plano, está já a uma distância considerável, para efeitos de descarga.

Se a toda a dificuldade, facilmente imaginável, juntarmos o desespero do furriel vagomestre quando algo caía à água, temos o quadro completo de uma descarga no “Porto” de Gadamael. (11)

Resta acrescentar que o reabastecimento feito através de Gadamael era extensivo a tudo o que a “tropa” precisava, ou seja, mantimentos, combustível, cimento, arame farpado, chapas de zinco, munições, geradores, frigoríficos e sei lá mais o quê!... e tudo com esforço braçal.

O transporte para cada uma das Companhias a reabastecer, era uma operação coordenada que implicava deteção de minas e segurança em pontos considerados críticos, de maneira que a coluna de viaturas percorresse o trajecto sem grandes riscos, o mais depressa possível.

Uma vista mais ampla do “porto” com um batelão encalhado

Aqui surge o papel importante da Secção Auto e particularmente dos Mecânicos da Companhia na manutenção e recuperação de viaturas.

O dito “Porto” de Gadamael também servia para evacuar viaturas, a pedido do BSM, (12) o que raramente acontecia, por incapacidade de dar resposta a tantas solicitações. As viaturas começaram a acumular-se, até a Secção Auto decidir ultrapassar o protocolo de reparações a nível de Companhia, o que o BSM acabou por detectar e tacitamente autorizar. A partir daí algumas das viaturas “encostadas” voltaram a andar.

Esta nova valência da Companhia implicava a criação de condições mínimas de trabalho para a Secção Auto, com a organização e ampliação da Oficina e do próprio Parque Auto. Mas isto vai ser tema para a próxima intervenção.

(Continua)

(8) - O Tarrafo era uma vegetação própria da margem do rio em que as raízes, autênticas lianas, mergulhavam no lodo, dificultado a entrada ou a saída da água.
(9) - Suponho que o Cais foi construído no tempo da CART 1659. Sugiro que os Camaradas desta Comp.ª ou quem saiba do acontecimento indique o ano da sua construção.
(10) - As viaturas não entravam na água, mesmo quando o piso o permitia, para evitar os danos provocados pelo sal nos sistemas mecânicos.
(11) - Para quem não saiba, o reabastecimento tinha o lado burocrático, obrigando à conferência de Guias de Remessa, Autos de Receção, de Extravio, de Incapacidade, etc.
(12) - BSM – Batalhão de Serviço de Material
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9108: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (3): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - III Parte - A emboscada na estrada para Gandembel