terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9193: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (4): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - IV Parte - Movimento de cargas e descargas em Gadamael Porto

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), com data de 10 de Dezembro de 2011:

Camarada Vinhal
Junto envio a IV parte da comunicação para a integrares no blog.
Cumprimentos
Manuel Vaz



MEMÓRIAS DA CCAÇ 798 (4)

De 63 a 73, uma década de Guerra na Fronteira Sul da Guiné

Uma Perspectiva a Partir de Gadamael Porto - 65/67 (IV Parte)

Uma das missões da Companhia era o apoio logístico de Guiledge e Sangonhá, o que implicava a descarga e o transporte dos reabastecimentos a partir de Gadamael Porto. O que se entendia por “Porto”, na altura, eram as condições naturais para pequenos barcos e LDM´s descarregarem. Um simples “degrau” de 50/70 centímetros entre a margem plana em rocha e o início do lodaçal, permitia a operação, numa zona mais larga e desprovida de tarrafo. (8)

A caixa de carga de uma viatura permite a aproximação do Unimog ao barco encalhado, sem entrar no lodo que mais parecia cimento amassado

Cais de acostagem era coisa de que se falava e até por lá apareceu um furriel da Engenharia Militar, mas nunca se iniciou, durante a permanência da Companhia (9). Havia que improvisar soluções, conforme as circunstâncias.
Quando o reabastecimento era feito por um barco, a solução para a descarga era pacífica por parte da tripulação: encalhavam os barcos, ficando ali de um dia para o outro.

A fotografia ilustra bem uma espécie de “cais submerso” sobre o qual as LDM´s tombavam a porta. Quando a água baixava as LDM´s recuavam e então começavam os problemas.

Para as LDM`s a solução era mais complicada, visto que a Marinha não encalhava as lanchas e se isso acontecesse era sinal de avaria ou “azelhisse” da tripulação. As lanchas chegavam com a praia-mar e baixavam a porta sobre o degrau natural que referi anteriormente. A partir daí iniciava-se o trabalho de estiva, carregando a mercadoria para as viaturas que ficavam a 20/50 metros, conforme o nível da água, que variava durante a descarga. (10)

As descargas ocorriam com os militares metidos na água, utilizando o pequeno barco de patrulhamento no rio e as canoas dos nativos, ali acostadas.

Por vezes a Marinha trazia duas lanchas e então a estiva complicava-se para ultimar o trabalho durante a praia-mar. As fotografias mostram a dureza dos trabalhos mas não revelam as situações verdadeiramente críticas:
- quando a água começava a baixar, as Lanchas iam-se afastando, ampliando a distância até às viaturas e obrigando os “estivadores” a caminharem no lodo do rio. Houve mesmo situações dramáticas, dada a força da corrente na baixa-mar. Eu próprio protagonizei uma situação dessas, quando o pequeno barco onde estava começou a ganhar velocidade. Valeu-me estar relativamente perto do tarrafo a onde me consegui agarrar.

A fotografia mostra duas Lanchas a descarregar. O Unimog do lado direito, em primeiro plano, está já a uma distância considerável, para efeitos de descarga.

Se a toda a dificuldade, facilmente imaginável, juntarmos o desespero do furriel vagomestre quando algo caía à água, temos o quadro completo de uma descarga no “Porto” de Gadamael. (11)

Resta acrescentar que o reabastecimento feito através de Gadamael era extensivo a tudo o que a “tropa” precisava, ou seja, mantimentos, combustível, cimento, arame farpado, chapas de zinco, munições, geradores, frigoríficos e sei lá mais o quê!... e tudo com esforço braçal.

O transporte para cada uma das Companhias a reabastecer, era uma operação coordenada que implicava deteção de minas e segurança em pontos considerados críticos, de maneira que a coluna de viaturas percorresse o trajecto sem grandes riscos, o mais depressa possível.

Uma vista mais ampla do “porto” com um batelão encalhado

Aqui surge o papel importante da Secção Auto e particularmente dos Mecânicos da Companhia na manutenção e recuperação de viaturas.

O dito “Porto” de Gadamael também servia para evacuar viaturas, a pedido do BSM, (12) o que raramente acontecia, por incapacidade de dar resposta a tantas solicitações. As viaturas começaram a acumular-se, até a Secção Auto decidir ultrapassar o protocolo de reparações a nível de Companhia, o que o BSM acabou por detectar e tacitamente autorizar. A partir daí algumas das viaturas “encostadas” voltaram a andar.

Esta nova valência da Companhia implicava a criação de condições mínimas de trabalho para a Secção Auto, com a organização e ampliação da Oficina e do próprio Parque Auto. Mas isto vai ser tema para a próxima intervenção.

(Continua)

(8) - O Tarrafo era uma vegetação própria da margem do rio em que as raízes, autênticas lianas, mergulhavam no lodo, dificultado a entrada ou a saída da água.
(9) - Suponho que o Cais foi construído no tempo da CART 1659. Sugiro que os Camaradas desta Comp.ª ou quem saiba do acontecimento indique o ano da sua construção.
(10) - As viaturas não entravam na água, mesmo quando o piso o permitia, para evitar os danos provocados pelo sal nos sistemas mecânicos.
(11) - Para quem não saiba, o reabastecimento tinha o lado burocrático, obrigando à conferência de Guias de Remessa, Autos de Receção, de Extravio, de Incapacidade, etc.
(12) - BSM – Batalhão de Serviço de Material
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9108: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (3): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - III Parte - A emboscada na estrada para Gandembel

1 comentário:

Luis Guerreiro disse...

Camarada Manuel Vaz
O cais de Gadamaael foi de certeza construido no tempo da Cart.1659, pois quando a Cart.2410 chegou a 2 de Outubro de 68, o cais já existia.
Cumprimentos
Luis Guerreiro