"Os Comandos na Guiné", artigo da autoria do nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando, publicado na Revista MAMA SUME, da Associação de Comandos, e enviado ao Blog no dia 22 de Março de 2024:
Resumo sobre a História dos Cmds do CTIG[4]
I. Cronologia
˗ Partida, em 29 de Outubro de 1963, para Angola dos Oficiais, Sargento e Praças, do CTIG, a fim de frequentarem um curso de Comandos, no C.l.16 na Quibala - Norte:
˗ Maj. Inf.ª Correia Diniz
˗ Alf. Mil. Maurício Saraiva
˗ Alf. Mil. Justino Godinho
˗ 2º Sarg. Inf.ª Gil Roseira Dias
˗ Fur. Inf.ª Mário Roseira Dias
˗ Fur. Milf. Cav. Artur Pereira Pires
˗ Fur. Milf. Cav. António Vassalo Miranda
˗ 1º Cb. At. Inf.ª Abdulai Queta Jamanca
˗ Sold. At. Inf.ª Adulai Jaló
Em 3 de Agosto de 1964, início das actividades do CIC/Brá, com a Escola de Quadros para dar instrução ao 1.°Curso de Comandos da Guiné, que decorreu entre 24 de Agosto e 17 de Outubro de 1964.
Deste curso saíram os três primeiros grupos de Comandos, que desenvolveram actividade operacional na Guiné até Julho de 1965:
˗ "Camaleões": Alf. Mil. Cmd Justino Godinho (Cmdt)
˗ "Fantasmas": Alf. Mil. Cmd Maurício Saraiva (Cmdt)
˗ "Panteras": Alf. Mil. Cmd Pombo dos Santos (Cmdt)
Militares seleccionados para o GrCmds na op. Tridente:
˗ Alf Mil Pombo dos Santos, do PelAA 943 (juntou-se ao GrCmds no Como, já depois do início da op "Tridente")
˗ 1º Cabo Marcelino da Mata, da 1ª CCaç (idem)
˗ Soldado 1/63 António Paulista Solda
˗ Soldado 75/63 J. Ramalho Godinho, da CCav 487
˗ Soldado 235/63 S. Conceição Veiga, da CCav 488
˗ Soldado 749/83 J. Firmino Martins Correia, da CCav 487
˗ Soldado 674/63 António Gomes, da CCaç 510
˗ Soldado 338/63 Francisco da S. Duarte, da CCaç 510
˗ Soldado 194/63 Joel António Pereira, da CCaç 487 (regressou à Cª, após o final da op. “Tridente”)
˗ Soldado 225/63 Maurício Romão Conceição, da CCav 488 (idem)
˗ Soldado 221/63 J. Trindade Cavaco, da CCav 487
˗ Soldado 598/63 Manuel Martins da Cunha, da CArt 494
˗ 1º Cabo foto-cine Celestino Raimundo, da CCS/QG/CTIG (evacuado Mai64 devido a acidente em serviço, para o H.Militar de Belém. Foto-cine ao serviço da 3ª Rep/QG, encarregado da cobertura da operação, juntou-se ao GrCmds e a ele se devem as poucas imagens da referida operação).
II. Comandos do C.T.I.Guiné: efemérides
˗ 23/7/64: início das actividades do Centro de Instrução Comandos em Brá.
˗ O CIC/Brá, sob o comando do Maj. Inf.ª Cmd Correia Diniz, recebeu do CIC de Angola, para a formação de quadros, os seguintes militares:
Ten. Mil. Cmd Abreu Cardoso
Alf. Mil. Cmd Luís Câmara Pina
2.º Sarg. Infª. Cmd Ferreira Gaspar
Fur. Mil. Cmd Pompílio Gato
1.º Cb. Cmd Pires Júnior (Pegacho)
1.º Gr. Cmds "GATOS" / BART 400, comandado pelo Alf. Mil. Cmd Martins Valente
Estes elementos participaram nas primeiras acções conjuntas com os grupos acima referidos.
˗ 3/8/64: início da Escola Preparatória de Quadros.
˗ 24/8 a 17/10/64: Iº Curso de formação dos GrsCmds (Camaleões, Fantasmas e Panteras
˗ 20/10/64 a Junho de 1965: actividade operacional dos GrsCmds.
˗ 1/7/65: extinção do CIC de Brá.
˗ Para dar continuidade à formação de Grupos de Comandos, foi criada a Companhia de Comandos do CTIG (CCmds/CTIG), tendo sido nomeado seu comandante o Cap. Art.ª Nuno Rubim, substituído em 20 de Fevereiro de 1966 pelo Cap. Art. Garcia Leandro.
˗ 24/05/65 a 22/06/65 : IIº Curso da Escola de Quadros do C. I. Comandos.
˗ O 2º.Curso de Comandos teve início em 07 de Julho de 1965, terminando em 04 de Setembro, com a formação de 4 Grupos de Comandos, que tomaram os nomes:
"Apaches": Alf. Mil. Cmd Neves da Silva (Cmdt)[5]
"Centuriões": Alf. Mil. Cmd Almeida Rainha (Cmdt)
"Diabólicos": Alf. Mil. Cmd Silva Briote (Cmdt)
"Vampiros": Alf. Mil. Cmd Pereira Vilaça (Cmdt)[6]~
˗ Set. 65 a 30/6/66 : actividade operacional dos grupos.
˗ 20/2/66: nomeado o capitão Artª Garcia Leandro para Comandante da CCmds.
˗ Com a chegada à Guiné da 3.ª Companhia de Comandos, vinda do CIOE - Lamego, a CCmds/CTIG foi extinta em 30 de Junho de 1966, mantendo-se em actividade o Grupo de Comandos "Diabólicos", até finais de Setembro de 1966, data em que a maioria dos militares que o integravam terminaram a sua comissão de serviço.
III. Militares naturais da Guiné que fizeram parte dos Grupos de Comandos iniciais (1964/1966)
1.º Cabo Braima Seidi, da BAC
1.º Cabo Tomaz Camará, da CCS/QG
1.º Cabo Marcelino da Mata, da CCS/QG
Sold. Momo Camará
Sold. Lifna Cumba
Sold. Bacar Jassi
Sold. Gouveia Yalá
Sold. Mamadu Jaló
Sold. Justo Orlando Nascimento
Sold. Pedro Costa Malan Sani
Sold. Raul Manuel Gomes
Sold. Bacar Mané
Sold. Mamadu Bari
Sold. António Mamadu Saboli Camará
Sold. Augusto Alfredo de Sá
Sold. Braima Bá
Sold. Adriano Sisseco
IV. Resultados da Cª Cmds da Guiné (23/08/64 a 31/08/66)
˗ Efectivos envolvidos: 211
˗ Mortos em combate: 12
˗ Feridos em combate: 19
˗ Acções realizadas: 113[7]
Gr. “Fantasmas”: 21 operações
Gr. “Camaleões”: 9
Gr. “Panteras”: 11
Gr. “Apaches”: 14
Gr. "Centuriões": 12
Gr. “Diabólicos”: 24
Gr. “Vampiros”: 14
˗ Armas apreendidas: 71
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Notas de VB:
[4] - In Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961/1974); 14º Vol. “COMANDOS”
[5] - Razões familiares obrigaram o alf. Neves da Silva a deixar o comando do grupo, sendo substituído pelo Sarg. Mil. Mário Dias
[6] - Inoperacional por motivos de saúde após 7Set1965, sendo substituído pelo Furriel Mil. Moura dos Santos e mais tarde pelo alf. Mil. Vítor Caldeira
[7] - Total de operações, incluindo acções executadas apenas por oficiais e sargentos.
O comando militar da Guiné lançou a operação Tridente. Uma operação com o objectivo de limpar as ilhas de Caiar, Como e Catunco, que ficavam no sul, entre os rios Cumbijã e Tombali. A acção durou setenta e um dias entre Janeiro e Marco de 1964 e nela foram utilizados praticamente todos os recursos militares, na altura, disponíveis na Guiné.
A força de “Comandos”, ainda a nascer não foi poupada, e um grupo foi formado com oito dos nove que tinham sido treinados em Angola a que se juntaram mais treze militares que ainda não tinham recebido instrução de “Comandos”. O grupo de “Comandos” foi integrado na força terrestre para a operação, que incluiu três destacamentos de fuzileiros, um pelotão de para- quedistas, um pelotão de artilharia, três companhias de cavalaria e um pelotão de infantaria africana, sob o comando de um oficial de cavalaria, o tenente- coronel Fernando Cavaleiro. Durante a operação, o grupo de “comandos” teve um desempenho que mereceu destaque, sem sofrerem baixas.
Depois da op. Tridente, o comando militar autorizou a abertura de um Centro de Instrução de Comandos, num aquartelamento em Brá, , uma aldeia localizada a meio caminho entre Bissau e o aeródromo principal em Bissalanca ao norte, que foi oficialmente inaugurado em Julho de 1964 sob o comando do major Correia Dinis, um dos militares que tinham recebido instrução em Angola. O CIC da Guiné teve muitas dificuldades para obter o apoio necessário e não pôde dar a formação requerida. Em Dezembro desse ano, um frustrado Correia Dinis levantou a questão ao Comandante-em-Chefe, pois não havia livros, maquetes de instrução, ou qualquer outro material de apoio. Não havia veículos, nem armas para praticar pontaria, não havia munições, granadas de mão nem explosivos, e assim por diante. Também era importante ter armas capturadas para instrução. Eventualmente, alguns desses problemas foram sendo resolvidos, mas tudo à custa de um tempo precioso e de enorme esforço.
A instrução e a administração no CICmdss acompanharam o CIC em Angola e seguiram o que agora se tornou uma rotina padronizada. A preparação dos instrutores do CIC levou treze semanas e começou em Junho de 1964, após a conclusão da Tridente. No final do curso de instrutores em Agosto, participaram na operação Alfinete em que o grupo executou um ataque a um acampamento PAIGC de oito barracas no mato da floresta Oio da aldeia de Santambato. Isso completou a formação e o primeiro curso de comandos formal teve início rapidamente no mesmo mês. Sairam deste curso três grupos de “Comandos” depois de oito semanas de instrução, e como era agora tradição cada grupo adoptou um nome: Fantasmas, Camaleões e Panteras.
Após o primeiro curso, o número de instrutores do CIC foi aumentado em cinco, dois da metrópole e três de Angola, em preparação para o segundo curso. O aumento adicional foi solicitado e recebido de Angola sob a forma de um grupo, os Gatos, que tinha sido treinado um ano antes e tinha já uma considerável experiência de combate. Este grupo realizou uma série de operações com instrutores para os orientar em operações de “comandos”.
O segundo curso começou em Junho de 1965 e durou oito semanas e dele saíram quatro grupos: Apaches Centuriões, Diabólicos e Vampiros.
Na conclusão deste segundo curso, houve uma reavaliação da organização dos “comandos” na Guiné, e o comando militar decidiu criar uma Companhia de “comandos” autónoma. Devido aos requisitos específicos para os “comandos”, pensou-se que seriam mais eficazes em vez de fazerem parte de uma estrutura regular de tropas. A instrução avançada, o ethos (hábitos ou crenças que definem um grupo), o trabalho em equipa e a moral eram muito diferentes do “mainstream”, e a separação era indispensável para preservar a diferença que os “comandos” tinham.
Assim, a partir de Novembro de 1965, Brá passou a ser o aquartelamento da Companhia de Comandos, que foi formada pelos grupos existentes. Houve resistência a este movimento por parte dos comandantes de batalhão que anteriormente tinham fornecido os militares e agora se viam obrigados a renunciar à valiosa capacidade dos grupos. No entanto, no início de 1966 começaram os preparativos para o terceiro curso em Brá e deu-se início ao recrutamento. O curso começou em Março e, como os anteriores, durou o período de oito semanas.
Alguns dos grupos estavam então fortemente engajados e sofreram baixas significativas. O preço do combate foi reduzindo o seu número, uns por doença e outros por baixas em combate, e enquanto o terceiro curso iria aliviar um pouco a situação, a integridade dos grupos foi ameaçada. Os Apaches, Centuriões e Vampiros acabaram por ser dissolvidos, e os seus sobreviventes juntaram-se num grupo, os Diabólicos. Estes estiveram fortemente envolvidos em torno de Mansoa e Jugudul e acabaram por sofrer o mesmo destino em finais de Agosto.
Os vários grupos estiveram na vanguarda da acção de combate desde a sua organização, sempre sob as circunstâncias mais desafiadoras e perigosas, e demonstraram grande coragem. Com a sua dissolução, terminou a primeira fase da história dos Comandos na Guiné. Em fins de Junho de 1966, a 3.ª CCmds, formada em Lamego, desembarcou em Bissau. Esse desdobramento de “Comandos” iria abrir uma nova fase da guerra e, como se quisesse assinalar isso, os seus homens usavam uma boina camuflada. Os Comandos na Guiné acabariam por se estender a doze companhias, três das quais africanas.
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Nota do editor
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