sábado, 17 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > Foto 1 > Uma mina A/C e três A/P. Das dezenas que o Vilas Boas e o Fernandes levantaram. Ainda hoje me interrogo como só tivemos uma baixa em minas, além dos seis trabalhadores que foram vitimas de uma mina A/C ao beber água de um carro cisterna que molhava a terra da estrada acabada de terraplanar para lhe dar consistência. A picagem era mesmo um trabalho bem planeado e bem feito,onde o método, o rigor, a paciência eram fundamentais. A pica era mesmo o sexto sentido dos soldados da CART 6250, Os Unidos.


Foto 2 > A LDG carregada com o material da companhia, a CART 6250 (Mampatá, 1972/74), a sair de Bula.

Guiné > Bissau > 1974 > Foto 3 > Cinco Furriéis dos Unidos num bar em Bissau, a matar o tempo esperando um avião que demorou dois meses a chegar (29 Agosto de 1974)... Da esquerda para a direita: José Manuel, Martins o Alentejano vagomestre (que só nos dava arroz com arroz) ,o Jose Manuel Vieira, Madeirense (que jogou futebol no Porto, Sporting e Benfica dos 15 aos 19 anos), o Camilo de Portalegre e o dono da ferrugem, o Nina da Covilha (que namorou a mais linda Mampatense do nosso tempo).

Fotos e legendas: © José Manuel (2008). Direitos reservados

1. (In)confidência do nosso poeta duriense,há tempos, em mensagem enviada a 28 de Abril:

Camarada Luis

Enviei até agora 62 poemas que tinha guardados. Algures em casa de minha avó na
Régua, onde vivi até me casar em 83, devo ter mais alguns junto às coisas que
trouxe da Guiné. Me lembro que numa altura perturbado sem saber o que fazia
destrui parte do que trouxe.

Tudo que conseguir recuperar enviarei para o nosso Blogue, por agora pouco mais
tenho para enviar, pois algumas coisas são muito pessoais e outras podem ferir
a sensibilidade de terceiros.

Um abraço
jose manuel

2. Um poema do dia, do Josema, que achei apropriado para o dia de hoje, o III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia, em Ortigosa, Monte Real, Leiria, e em que ele vai estar, com a esposa, Maria Luísa. É um poema de 1974 em que se celebra o regresso a casa, à sua quinta, às suas vinhas, ao seu Douro... Não sei se o José Manuel cumpriu a sua promessa de voltar a Mampatá. Creio que não. Mas, de certo modo, reencontrou através dos seus camaradas da CART 6250, que se reunem todos os anos, de uma maneira original (na casa de um, ou na terra de cada um, à vez, levando todos os outros os produtos da sua região: o pão, o vinho, os salpicões, os queijos...). Reencontrou-se também com a Guiné e com a sua Mampatá, de que guarda saudades, através do nosso blogue...

José, mais logo vou comhecer-te pessoalmente, dar-te uma grande abraço de parabéns por te conhecer, por ti, pela tua poesia, pela tua Mampatá, pelo teu vinho, pelo teu Douro, pela tua amizade e camaradagem...

José, vamos lá então provar esse teu néctar que ganhou uma medalha de prata, num concurso internacional, numa prova cega, com muitas centenas de vinhos de diversos países e regiões (4 mil, foi isso ?)... Vamos provar esse teu Pedro Milanos, Tinto, 2005, Doc Douro, feito com as castas nacionais Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca... Pelas tuas mãos, e da tua família. Com muita inspiração e transpiração... Ficamos orgulhosos do produto e do prémio, por ti, pelo Douro e pela nossa produção nacional. (LG)

É tempo de regressaràs minhas parras coloridas
e ver a água a gelar
esquecer mágoas e feridas
e a todos abraçar
olho por cima dos ombros
vejo a mata, lembro Amadú
e nem tudo são escombros
há a ilha de Bolama
há Susana, há Varela
as ilhas de Bijagós
e a vida pode ser bela
se nunca estivermos sós
houve prazer e amor
em terras de Mampatá
senti a raiva e a dor
saudades do lado de lá
a distância e tanto mar
mas não há ódio ou rancor
e um dia... vou voltar.

Bissau 1974
josema
___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2851: Pensar em voz alta (Torcato Mendonça) (11): De quantas mentiras é feita a verdade?

1. Mensagem do Torcato Mendonça, de 14 do corrente: Meus Caros Camaradas e Editores:

Anexo um pensamento feito pela manhã e relido agora. Podia ficar cá, talvez lugar mais conveniente mas, ao guardá-lo enviei-o para o Pensar em Voz Alta. Ficava só, melhor, junto ao A, B, e C já enviados, pois que se vá.

Amanhã ou depois confirmo se vou ou não a Ortigosa. Tenho aqui ao lado os contactos, notas, telemóvel do Mexia Alves, mapa etc. M, arcar, na hora, no meio de tantos não se nota. Desmarcar uma vez admite-se, duas não. Mas meu caro Carlos, mando-te um e-mail. Não tenho telemóvel. Espero um tri-abraço pessoalmente.

Até lá um netabraço, Torcato Mendonça,
Fundão

2. Pensar em Voz Alta – D

Tarde de Maio, morna, baça, cinzenta. Depois da hora da bica, três homens permanecem no café, em conversa animada. A soma das suas idades rondará os duzentos e vinte anos. Não são velhos, entraram, isso sim, pela vida há alguns anos. Hoje reformados, nome esquisito para todos, são antes, homens com profissões interrompidas. Leis, medicina, obras e afins. Mantêm-se vivos, despertos, reflexivos e críticos.

Nesta conversa abordaram a crise no País, o 25 de Abril, as políticas de certos políticos e a solidariedade ou fraternidade como o mais novo prefere. Posições completamente diferentes na maneira como se posicionam. Há talvez uma direita, centro e esquerda. Há, acima de tudo, a experiência de vida e o saber respeitar a opinião divergente. Assim se demonstra (sem eles nada terem a demonstrar) que o diálogo é possível, se praticado por pessoas intelectualmente honestas. Teríamos tanto a ganhar com isso como povo. E aqui nesta Tertúlia se necessário.

Curiosamente dois foram antigos militares que passaram pela Guerra Colonial. O mais novo foi em idade normal. O outro, aos 38 anos, “despacharam-no” até ás Terras do Fim do Mundo exercer medicina nas N.T. Malhas que o Império teceu!

A necessidade, neste mundo ou sociedade global, em sermos mais solidários. Globalizar a solidariedade: África e o Darfur, China, Birmânia. Muito a falar e a reflectir sobre isto e uma interrogação, que não invalida a solidariedade globalizada – e para dentro do nosso País? Cada vez mais pobre e vulnerável aos interesses de minorias internas ou dos apetites de vizinhos. Cada vez mais cheio de maioria de pobreza envergonhada ou já bem visível? Cada vez menos.

Hoje de manhã abro o blogue e corro-o com o rato. Paro um pouco e hesito entre ler e sair. Chove lá fora. Não faço uma coisa nem outra. Prefiro tomar um café de plástico e ver o noticiário da Televisão. Pouco depois dizem vir comentar a imprensa diária o Presidente da ADFA.

Parabéns pelos 34 anos da ADFA, na defesa de tanta gente humilhada e ofendida. Tantos que ao serviço de uma Pátria, não perdendo a vida, ficaram contudo para sempre, fortemente marcados. Continuam à espera de justiça. Nada querem de privilégio. Não. Querem ser tratados com o respeito que merecem.

Ouvi o Presidente da ADFA dizer das necessidades que tantos antigos militares têm hoje, quase quarenta anos depois. Aos poucos deixam de ser problema pois da vida se vão libertando. Se tiverem Posto Militar, mesmo na reforma terão o RDM!? Não acredito, não quero acreditar e certamente é engano meu. Falar, dialogar….é preciso.
Resolvi voltar a ler o blog e passar á tecla, pensando e teclando. Assim:

1 – A Guerra estava militarmente perdida?

Responde Beja Santos a António G. Abreu. Uma guerra como aquela nunca se ganha militarmente. No aspecto teórico, todos, ou a maioria dos que para lá foram, o sabiam. Exemplos antigos na Indochina, Argélia e conhecimentos adquiridos. Devemos analisar de forma diferente a guerra em Angola, Moçambique e Guiné. A última é a que nos diz mais aqui. Sabemos como era difícil aguentar e esperar a solução politica. A solução politica…que politica? Que solução?

É assunto a ser longamente debatido. Certamente com opiniões diferentes. Pois ainda bem. Só assim proporcionarão uma visão mais próxima doa realidade.

Mas o debate, aqui ou noutro lado, tem que ser feito a bem da verdade histórica.
Sabemos ser assunto polémico. Só fazendo esse e outros lutos, essa e outras discussões encontraremos a verdade. Plagiando – de quantas mentiras é feita a verdade!!?? Aqui não pode ser assim. Temos que enfrentar, mais os historiadores, a verdade assente nos factos reais.

2 - Comandos Africanos Fuzilados – (Carlos B. Silva/ Virgínio Briote)

Um tema, para mim, demasiado doloroso. É uma página negra na guerra da Guiné. Outras haverão. Mas esta repugna-me. Aqueles homens, não só os Comandos Africanos, não podiam ter sido abandonados pelas Forças Armadas Portuguesas. Viviam-se tempos conturbados. Não aceitemos isso como justificação. Menos ainda aceitemos as desculpas de quem mandou disparar. Nem desculpas, nem coragem de assumir.

Outro assunto polémico. Um assunto dos dois Países e a ser tratado por ambos. Esperar pelo esquecimento é um erro.

3 – Morrer em Guidaje

Mama Sume (grito de guerra Comando), diz o Amílcar Mendes. Lembra, em homenagem, a morte de um Camarada - José Raimundo.

Que não entrem no esquecimento. Depois da morte há um silêncio que se entranha, não é Camarada. Mas a recordação, por isso mesmo fica e não esquece…

4 – Estórias Cabralianas – Ida a Belel do Jorge Cabral.


Se te quiseram tramar, é injusto. Foste mais longe que eu, nem sei se fui a Belel, a Madina, se fiz a Operação Gavião. Dizem que a águia do Benfica é um Gavião. Se calhar fiz a Op Águia.

Mas continuo a ser um teu fã, e leitor atento. Caro amigo escreve mais.

Vou continuar a pensar. Talvez prefira desenvolver alguns temas aqui levemente focados. Depois ficam por aí.

Guiné 63/74 - P2850: III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia (7): Não podia perder este convívio (Antero Santos, CCAÇ 3566, Empada, e CCAÇ 18, Quebo)

Guiné > Região de Tombali >
Aldeia Formosa >
CCAÇ 2381 (1968/70) >
O Maioral Zé Teixeira,
1º cabo enfermeiro,
junto ao obus 14
que batia a zona fronteiriça...

Quem lá esteve, no último ano de guerra (Junho de 1973/Junho de 1974) foi o Antero Santos.


Foto: © José Teixeira (2006). Direitos eservados.


1. Mensagem do Antero Santos, residente em Avintes, com data de hoje:

Caro Luis Graça

No passada semana, a convite do José Teixeira que eu não conhecia, participei pela primeira vez no almoço que todas as semanas o grupo do Norte faz em Matosinhos (1) e fiquei admirado com o espírito de camaradagem deste pequeno grupo; naturalmente falou-se do encontro de Monte Real e senti que não podia perder este convívio.

Como tal no próximo Sábado também quero estar neste encontro e aqui estou a fazer a minha inscrição e da minha mulher Maria Fernanda.

Peça desculpa por só agora estar a fazer esta inscrição.

Vamos ultrapassar a meta dos 100. Dos inscritos conheço o Xico Allen e a Zélia (CCaç 3566) e ainda o Rui Alexandrino Ferreira que foi Cmdt da CCaç 18 antes de eu lá ter estado e de quem os meus soldados diziam maravilhas (conheci-o pessoalmente num jantar da CCaç 18 realizado há cerca de 4 anos).

Um abraço e até Sábado.

Antero Santos
Ex-Fur Mil

CCaç 3566 - Empada (Mar 72/Dez 72)
CCaç 18 - Aldeia Formosa (Jan 73/Jun 74)

___________

Nota de L.G.:

(1) 18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)

Guiné 63/74 - P2849: Ser solidário (10): Campanha Sementes para as Mulheres Grandes de Cabedu (José Teixeira)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Iemberém > 2 de Março de 2008 > O Zé Teixeira, o Esquilo Sorridente, um homem solidário mas também bendito, entre as mulheres nalus...
Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem de 15 do corrente, do Zé Teixeira:

Assunto - Sementes para a Guiné


Caro amigo Zé Carioca (1):

É com muita alegria, que te vejo aparecer na Tabanca Grande, blogue de todos nós - Os antigos combatentes da Guiné, de ambas as partes da contenda e seus amigos.

Como antigo combatente e como membro da Companhia Os Gringos de Guileje, fazias cá falta. As tuas estórias são necessárias para cultivar a memórias das gentes futuras deste País para que a História verdadeira da guerra colonial não se perca.

Com muita satisfação e emoção partilhei contigo e outros camaradas a invasão pacífica às gentes simpatiquíssimas de Cabedu, comandados pelo grande Pepito, querido amigo e companheiro de jornada, a alma do Simpósio sobre Guileje, a que tivemos o prazer de assistir e participar. (2)

Em Cabedu, fomos testemunhas da alegria dos seus habitantes, por nos receber e simultaneamente, surpreendendo o próprio Pepito, dar-nos a oportunidade de com eles e sobretudo elas, mudjeres garandi, inaugurarmos a sua fonte de vida, um simples fontenário.

A água extraída das entranhas profundas da generosa mãe natureza, através de um motor alimentado por um gerador de energia solar, faz a partir dessa data, a preciosa diferença, num período de 35 anos, ou seja, desde que os soldados portugueses, terminada a guerra, abandonaram a povoação. Desapareceram os motores e o combustível, seguiu-se a falta do precioso líquido, para matar a sede das gentes e da terra mãe.

Naquele dia memorável, as mulheres de Cabedú, vestidas com as melhores e mais lindas vestimentas, aguardaram-nos em festa. Que festa !

Que belo panorama paisagístico! A floreste verdejante, o azul garrido das suas roupas, a sua alegria efusiante estampada no rosto, o gingar dos corpos nas suas danças e cantares, expressando um estado de alma tão elevado quanto é possível imaginar. O sentirem e viveram com grato prazer o contacto com os Barancos portugueses que em tempos ainda recentes foram companheiros de jornadas e sonhos legitimamente alimentados, para alguns dos presentes, os que ao nosso lado se bateram e a água que de novo ia jorrar graças a um esforço comum da comunidade, alimentado pela acção da AD-Acção para o Desenvolvimento.

Havia ainda os antigos combatentes da libertação, outrora inimigos e que agora sentem como nós o prazer de um abraço quente e fraternal:
-A Guerra na passa há manga di tempo. Dá um abraço - dizia-me um antigo gurrilheiro do PAIGC em 2005, em Sare Tato, antiga povoação inimiga, muito perto de Buba.

Emocionantes discuros das mudjeres garandis a agradecer à AD e sobretudo ao Pepito as ajudas, nas mais diversas áreas, desde o pô-las a sonhar, à dinamica montada para que o milagre pudesse acontecer. Água pura.

Mas muito mais há para fazer dizia uma, a líder do grupo:
- Precisamos de semente: tomato, nabo cibola - E e outras...

Tu, caro amigo e creio que todos nós, ficaste muito emocionado, face a este apelo gritante:
- Agora já temos água, faltam-nos as sementes, para produzir riqueza que mate a fome das crianças e velhos, de toda a gente.

Estou contigo. Vamos organizar uma campanha de recolha de sementes.


CAMPANHA DE RECOLHA DE SEMENTES PARA A GUINÉ

Vamos servir-nos da Tabanca Grande. Aqui e agora um apelo a todos os bloguistas e leitores. Um maço de tabaco que não se fuma, ou um copo a menos no estômago de cada um (A ideia foi tua, no regresso de Cabedu para Iemberém) já dará uns cobres para cada um comprar um pouco de sementes, que faremos chegar à Guiné.

Algumas questões se põm, às quais é preciso dar resposta:

a) Saber o tipo de sementes que se adequem àquele tipo de terra.
b) O período do ano em que são lançadas à terra, creio que na época das chuvas.
c) Quantidades necessárias, para evitar desperdícios.
d) Forma de as angariar e armazenar.
e) Forma de as fazer chegar lá em tempo útil.

As três primeiras questões remeto-as para o Pepito. Ele, mais que ninguém nos pode ajudar.Para as duas últimas, temos de ser nós a encontrar soluções.


FORMA DE ANGARIAR SEMENTES

- Como afirmo atrás, creio que a Tabanca Grande pode e deve ser a grande alavanca,não a única se possível, para dinamizar a campanha de recolha de sementes.

Sugiro que tu, sendo a alma do projecto, centralizes a campanha. Eu, e outros camaradas voluntários que espero apareçam, colaboraremos.


FORMA DE FAZER CHEGAR AS SEMENTES EM TEMPO ÚTIL.

- Como deves ter conhecimento, foi criada recentemente em Coimbra, por um grupo de ex-combatentes, liderados pelo grande amigo Zé Moreira, aos quais se aliarem um grupo de gente mais jovem - grupo fantástico, a quem os veteranos meteram o bichinho da guiné.Chama-se:







"O sorriso enriquece os recebedores
sem empobrecer os doadores"

Rua do Brasil, nº 239 - 3.º
3030-175 COIMBRA

Contacto: E-mail j.moreira@sapo.pt / Telem.: 96 402 80 40 (Paulo Quintana)

Associação sem fins lucrativos / Matriculada na C.R.C. de Coimbra / NIPC 508 343 461

Parceiro especializado da LIGA DOS COMBATENTES para acções humanitárias.


Creio que desde há quatro anos se deslocam anulamente à Guiné, por via terrestre, carregados de bens alimentares, escolares, hospitalares e outros, para distribuição directa às populações e ONG - Organizações Não-Governamentais.Este ano concederam-me o prazer de os poder acompanhar na viagem e assim partilhar da sua amizade.

Já é o segundo ano que fazem chegar à Guiné, um contentor, cheios de bens de utilidade para a comunidade guineeese, sobretudo a mais necessitada do interior. Alguns partilharam connosco algumas Sessões do Simpósio, enquanto outros se batiam ardorosamente para conseguir desalfandegar o contentos sem custos. E lá ficaram mais uma semana a fazer a distribuição.

Aqui deixo também o meu apelo ao Zé Moreira, ao Quim, ao Gustavo, ao Fernando e tantos outros, para entrarem no desafio - Sementes para Guiné e em força.

Ees com a sua máquina já montada e bem oleada, vão concerteza (só se de todo em todo não puderam) dar-nos a ajuda necessária - estratégias, meios, conhecimentos, etc, para que as sementes conseguidas cheguem à Guiné em tempo útil.

Mãos à obra, caro amigo.

Um abraço fraternal do
Zé Teixeira
_________________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 11 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2834: Ser solidário (9): Sementes para a população de Cabedu, Cantanhez, Região de Tombali (Zé Carioca)

(2) Vd. poste de 7 de Maio de 2008 de Guiné 63/74 - P2816: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (5): Água, fonte de vida para as gentes de Cabedu

Guiné 63/74 - P2848: III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia (6): As razões e as saudações dos que não poderão vir...

Os nossos (des)encontros...

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.


1. Amigos e camaradas da nossa Tertúlia, que se vai reunir amanhã, na Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, concelho de Leiria (1):



Nem todos poderão lá estar, por razões pessoais, familiares, profissionais, de saúde, etc. Alguns disseram-nos logo que a data proposta (17 de Maio) era inconveniente. Foi o caso do nosso cartógrafo-mor, Humberto Reis (que tem muita pena, mas ele e a Teresa já tinham um outro compromisso, inadiável). Outros camaradas e amigos faram dando conta da impossibilidade de estarem juntos connosco, amanhã. Aqui vão as suas mensagens, com as suas razões e saudações. Rápidas melhoras para aqueles que alegaram problemas de saúde. É possível, entretanto, que a presente listagem esteja incompleta. As nossas desculpas por alguma gafe de última hora. Os vossos nomes serão lembrados amanhã. E para o ano haverá mais... Aos que vão ao encontro, os nossos votos de que façam boa viagem. Até amanhã. (Os Editores: LG/CV/VB)


(i) Do Luís R. Moreira, 6 de Abril:


Amigos,

Infelizmente vão ter de anular a minha inscrição para este 3.º encontro em Monte Real. A minha filha relembrou-me que nesse dia decorre a Benção das Fitas do curso dela (e não só) e, logicamente, não posso faltar a um evento tão importante para ela.

Lembrei-me que foi por isso que na votação das datas disse que a 17 de Maio não podia. Peço desculpa pois nem me devia ter inscrito.

Um abraço, Luís R. Moreira


(ii) Do Afonso M.F. Sousa, de 12 de Abril:

Caro Luís:

No dia 17 de Maio temos o convívio anual da CART 2412... Este ano em Paços de Ferreira, almoço no Restaurante da Quinta das Palmeiras.. Ficará para a próxima.

Um abraço A. Sousa

(iii) Do A. Marques Lopes, Matosinhos, com data de 6 de Maio:

Caros camaradas

Afinal, com muita pena minha, não poderei estar presente no dia 17 no encontro da tertúlia em Monte Real. É que: no dia 18 de Abril, o meu filho mais velho, o Vasco (nascido em 1975), foi pai da menina Sara. E eu fui avô! Sucede que as famílias dos dois lados (a mãe do Vasco e os pais da Marta) decidiram encontrar-se e comemorar um mês de vida da pequenina. É no fim-de-semana de 17/18 de Maio.

Obviamente, não posso de deixar de estar presente. Tentei alterar a data, mas não deu (um mês é um mês...). E estarei em Alfornelos, Amadora, com a minha mulher Gena e o tio da pequena, o nosso filho Francisco (que fez 14 anos ontem, 5 de Maio). No próximo encontro estarei, certamente (parece que o Vasco e a Marta não vão ter produção tão cedo...).

Envio também esta explicação para os camaradas que já estão inscritos (àqueles e quem tenho contacto).

Abraços

A. Marques Lopes

(iv) Do Sousa de Castro, Viana do Castelo, 6 de Maio:

Meus amigos. Não vou especificar razões, de, por isto ou aquilo, para me desculpar de estar ou não presente no 3ª convívio. Mas o que é certo, porém... este ano não vou estar presente, Gostaria muito! Poderá ser, que se continuar a realização deste grande evento eu possa estar no próximo. Desejo que tudo corra pelo melhor.

Grande abraço, Sousa de Castro

(v) Do António Pinto, Vila do Conde, 8 de Maio

Caros Amigos,

Após alguns meses de silêncio, por motivos óbvios (mudança de residência, computador avariado e umas pequenas mazelas), volto a enviar uma mensagem, unicamente para lamentar a minha forçada ausência no próximo encontro em Monte Real e desejar que tudo decorra na mais sã camaradagem e boa disposição de todos o que tenho a certeza irá acontecer.

Aproveito (se é que isso possa interessar a alguém) para enviar o meu novo endereço e novo e-mail, continuando a lamentar não encontrar na Tertúlia alguém do meu tempo e nos sítios por onde passei.

Um abraço do
António Pinto

(vi) Do João Carvalho , 8 de Maio:

Olá

Como pedido pelo nosso camarada Luís Graça, e com toda a razão, venho informar que não poderei ir a Monte Real no dia 17. Neste momento há grandes alterações na minha vida e não posso marcar compromissos que provavelmente não poderei cumprir. Ficará para uma próxima vez.

Abraços

(vii) Do Manuel Gonçaves, 11 de Abril e 8 de Maio

Luis

Sou o Manuel Gonçalves, guerrilheiro das Viaturas em Aldeia Formosa, de 71-73 (...) De facto o dia 17 de Maio não vai ser o mais indicado para nos conhecermos (....) Acontece que também temos que antecipar a partida para Bragança e nessa altura estamos um pouco longe. Ficará para uma próxima oportunidade que vamos fazer por tornar breve.

Um abraço meu e beijos da Fátima (Tucha)
Manuel (do BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73)

(viii) Do Gabriel Gonçalves, Lisboa, 14 de Maio:

Meus caros amigos, faço votos para que dia 17 de Maio seja um dia extraordinário. Infelizmente não poderei estar presente.

Um grande abraço


(ix) Do Leopoldo Amado, Porto, 14 de Maio


Estimado Vinhal, estive até agora a contemporizar a ver se ainda conseguia ir, como foi o meu desejo desde o princípio. Infelizmente, por razões profissionais, não poderei estar aí, prometendo madar um pequeno à intenção dos participantes, com uma ou outra ideia relativamente a nossa Tabanca Grande.

Recebe, caro Vinhal, um grande abraço do amigo Leopoldo Amado

PS - Não te esqueças que na caserna tratamo-nos todos por tu, pelo que dispenso perfeitamento o Doutor. Abraço´, Leopoldo Amado


(x) Do Victor Barata,15 de Maio:

Bom dia, Luís.

Na impossibilidade de poder estar convosco no próximo dia 17 em Monte Real,quero desejar-vos um óptimo convívio e sã camaradagem.O agradável dia que me foi proporcionado o ano passado,no 2º Convívio,no Manjar do Marquês,da responsabilidade do Victor Junqueiro,foi maravilhoso, mas certamente que o Mexia Alves não vai deixar os seus créditos por mãos alheias e vai-vos proporcionar um óptimo dia de convívio e recordações que jamais podemos esquecer.

Nesse mesmo dia já estava calendarizado pelo Núcleo de Coimbra dos Especialistas da Força Aérea, uma descida, em canoa,do Rio Ceira, Penacova/Coimbra.

Redobro os meus sinceros votos de um fraterno dia de camaradagem.

Saudações ESPECIAIS:
Victor Barata

(xi) Do José Martins, 16 de Maio

Caro amigo

Por razões de ordem pessoal não poderei estar presente. É com muita tristeza que escrevo estas linhas, mas as causas assim o exigem, e terei de faltar.

No entanto envio um abraço, um abraço forte, a todos os presentes, sejam bloguistas ou acompanhantes.

Tudo farei para estar no próximo.
Ab.

José Martins

(xii) Do Artur Conceição, Damaia, Amadora, 16 de Maio

Caríssimos

Gostaria muito de estar convosco em presença, mas uma avaria mecânica na roda esquerda, que também já me impediu de estar no convívio do BART 733 que teve lugar no dia 3 de Maio em Santiago do Cacém, tal não me permite.

Como já percebi que isto já só vai ao lugar com uma ida à oficina, espero estar presente numa próxima.

Que tudo corra como o desejo de todos… e divirtam-se que bem merecem.

Um abraço

Artur António da Conceição

(xiii) Do Albano Costa, Guifões, Matosinhos, 16 de Maio:

Assunto - Desejo um dia bem passado

Caro Vinhal

É já amanhã, o tempo voa, como sempre, desejo que tudo corra bem que façam boa viagem, dá um abraço a malta, principalmente ao Luís, eu vou estar ocupado e feliz com o trabalho vou também vou me lembrar como gostaria de estar junto de vocês todos.

Um abraço, Albano Costa

(xiv) Do Hernâni Acácio:

Caro amigo

Provavelmente já saberás que o António Pimentel não vai ao encontro, por lhe ter falecido um amigo cujo funeral é amanhã. Eu iria com ele, acontece que sozinho também não irei, porque, também, e espero que excepcionalmente, ando a atravessar um período menos bom da vida em termos psicologicos. Não é normal, mas está a acontecer. Assim, agradecia-te que tomasses a nota da minha desistência. Ficará para a próxima, assim o espero.

Já agora aproveito a oportunidade para te pedir um favor: tromar nota do meu novo endereço (...).

Um abraço e mais uma vez os meus agradecimentos,

Hernani

________

Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 10 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2832: III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia (5): Novidades (J. Mexia Alves/C.Vinhal)

Guiné 63/74 - P2847: Convívios (57): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72): Viseu, 26 de Abril (Jorge Cabral)


Encontro da CCS/BArt 2917


Mensagem do Jorge Cabral, de 12 Maio

Só agora me é possível dar notícia do Encontro da CCS/BArt 2917, realizado no dia 26 de Abril, em Viseu. Gostei, até porque consegui levar o Branquinho, e assim o Pel Caç Nat 63 esteve bem representado.

Abração,

Jorge



O Grupo




Afinal preocupo-me com a saúde. Aqui estou eu entre um Psiquiatra (Marques Vilar) e um Cardiologista (Mário Gonçalves Ferreira, autor do Romance Tempestade em Bissau) (1). Ambos me visitaram em Missirá, quando eu comandava o Pel Caç Nat 63, tendo o Mário, passado lá o Natal de 70, com o Padre Puim. O nosso David Guimarães, claro, sempre presente (à direita do Mário Gonçalves Ferreira).




Não sei que estória estou a contar... Mas todos, David, Dr. Drácula e Machado, ouvem com atenção.

__________

Adaptação do texto: vb.

(1) Vd. poste de 10 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2092: Antologia (61): Tempestade em Bissau (Mário G. Ferreira)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2846: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (16): Salvemos o Cantanhez (II)


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Rio Cacine > Cananima > 2 de Março de 2008 > Concentração dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje na praia e porto fluvial de Cananima, frente a Cacine, na margem direita do Rio Cacine (1).

O Cantanhez é delimitado pelos dois rios principais, o Cumbijã e o Cacine. As margens destes rios são constituídas por uma vasto e rico mangal. A bacia do Cumbijã é conhecida por ser (ainda) um dos celeiros de arroz do país (cerca de 13 mil hectares de bolanhas cultivadas em finais da décad de 1990). A actual crise alimentar no mundo está também a afectar a Guiné-Bissau, cujos dirigentes políticos e agentes económicos têm apostado na monocultura do caju, para exportação (seguindo, desgraçadamente, o mau exemplo colonial, da o da monocultura do amendoím), e na importação de arroz estrangeiro que, devido aos preços mais baixos particados pelos grandes produtores mundiais, acaba por ter uma vantagem decisiva em relação ao arroz nacional. É preciso que os guineenses aprendam as sábias lições do Cantanhez. Hoje, mais do que nunca... É preciso salvar as bolanhas. É preciso lutar contra a erosão e a salinização das melhores terras de cultura do arroz... É preciso evitar a sangria dos jovens, atraídos pela miragem da grande cidade... É preciso dar sentido ao futuro, é perciso dar esperança aos guineenses...

O Rio Cacine, por sua vez, é rico em peixe e moluscos. É muito procurado por pescadores da vizinha Guiné-Conacri, concentrados sobretudo na Ilha de Melo, na foz do Rio Cumbijã. As espécies piscícolas mais procuradas são o Djafal, o Bagre e o Tubarão (este apanhado sobretudo como juvenil, o que vem compromter o equilíbrio da fauna marinha, já que é uma espécie que está no topo da cadeia alimentar). Há uma crescente consciente ecológica entre as gentes do Cantanhez, que representa, pela sua biodiversidade, um património riquíssimo que é preciso preservar, proteger e utilizar, numa óptica de custo-benefício, de maneira a tirar partido de todas as suas potencialidades, hoje e sobretudo amanhã.

Segundo a ONG Tiniguena - Esta Terra É Nossa que lançou um belíssimo calendário para 2008 - Matas de Cantanhez: Biodiversidade ao serviço da soberania, com magníficas fotos de Augusta Henriques (sua secretária-geral), Emanuel Ramos, Pierre Campedron, André Barata e Cristina Silva - , um estudo feito junto dos Nalus mostrou que mais de 200 espécies vegetais selvagens são utilizadas regularmente pelas famílias, mais de metade das quais na farmacopeia (produtos medicinais tradicionais) e cerca de 20% na alimentação. "Estes recursos e saberes da biodiversaidade são um valioso património a proteger contra a biopirataria e a preservar para o futuro", diz a Tiniguena.

A floresta também satisfaz a quase totalidade das necessidades da população local, em matéria de energia. A recolha de lenha não é vista como um perigo. Duas das ameaças que pairam sobre o Cantanhez, levando à degradação das suas florestas (que os Nalus consideram sagradas), são a produção de carvão com fins comerciais e as queimadas para fins agrícolas. Por razões históricas e culturais, mas também económicas e sociais, logo, de sobrevivência das gerações futuras, é fundamental salvar o Cantanhez, verdadeiro ex-libris da Guiné-Bissau.


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A simpatiquíssima Cadidjatu Candé, da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guileje e colaborada da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, servindo um fabuloso arroz com filetes de peixe do Cacine e óleo de palma local, que tem fama de ser o mais saboroso do país, devido à qualidade da matéria-prima e às técnicas e condições de produção (artesanal). Na imagem, um diplomata português, o nº 2 da Embaixada Portuguesa, que integrou a nossa caravana (e cujo nome, por lapso, não registei, lapso de que peço desculpa).



Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um dos pratos que foi servido no almoço de domingo, aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje, foi peixe de chabéu, do Rio Cacine, do melhor que comi em África... Durante a guerra colonial, na zona leste, em Bambadinca, só conheci conhecíamos o desgraçado peixe da bolanha....


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O nosso camarada Cor Art Nuno Rubim passando revista à logística do Comes & Bebes, da comissão organizadora do Simpósio, e que nos acompanhou desde Iemberém... É obra, isso dar de comer e beber a tanta gente, esfomeada e sedenta...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um outro aspecto da improvisada cozinha que foi montada em Canamima, logo de manhã, e onde se fez o almoço (um prato de carne e outro de peixe) para as dezenas de participantes do Simpósio.



Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A Francisca Quessangue, uma das mulheres que fez a guerrilha e esteve no ataque a Guileje, como enfermeira.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O Luís Graça entre a Francisca , enfermeira, e a senhora Ministra dos Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria, Isabel Buscardini.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A Catarina Silva, filha do Pepito e da Isabel, que é portuguesa. É formada em psicologia social, pelo ISCTE - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa. Integrou a nossa caravana e foi sempre uma simpatiquíssima companhia durante este fabuloso fim-de-semana. É também, como o pai e a mãe, uma entusiástica defensora do Cantanhez, da sua fauna, da sua flora, das suas gentes.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A Catarina Santos que, juntamente com o Vitor Ramos e o Alfredo Caldeira, representaram (e muito bem!) a Fundação Mário Soares no Simpósio Internacional de Guileje.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O famoso óleo de palma do Cantanhez. A sua cor vermelha intensa deve-se às características da variedade do chabéu (termo científico, Elaeis guineenses), que é rico em caroteno.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um médico cubano, ortopedista, cooperante em Bissau, o Dr. Mário. Pelo pouco que conversei com ele, soube que trabalha no Hospital Nacional Simão Mendes é também professor da Faculdade de Medicina de Bissau, criada em 1977 e desactivada no início dos anos 90, tendo o projecto sido relançado mais recentemente com o apoio da cooperação cubana. Cuba é dos países mais activos na cooperação com da Guiné-Bissau, no campo da saúde e da educação.


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Em primeiro plano, da direita para a esquerda, a Isabel, a Alice e o Álvaro. De perfil o Pepito, em segundo plano, mais o Sérgio Sousa, um Gringo de Guileje.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A Diana Andringa, que registou em vídeo todas ou quase todas as actividdades destes oito dias, com destaque para as comnunicações ao Simpósio. Em segundo plano, a Júlia.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A Diana Andringa e o marido, Alfredo Caldeira; em segundo plano, a Júlia e o marido, Nuno Rubim.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O Dr. Alfredo Caldeira, chefe da delegação da Fundação Mário Soares...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O nosso amigo catalão, Josep Sánchez Cervelló, professor universitário em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa... Esteve encantado estes dias todos com os tugas...
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Uma jovem, da região, que estava grávida, e que tinha o marido em Bissau (se não me engano). Caíu nas boas graças das nossas senhoras, sempre muito maternais: a Júlia, a Alice, a Isabel... Seu nome: Cadi, filha de um antigo guerrilheiro, nalu, da região...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um amostra de conchas do Rio Cacine, reveladoras da riqueza, em moluscos, marisco peixe, deste belíssimo rio do sul da Guiné...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.



II. O Turismo na região de Tombali (2) (Continuação)
por Brígida Rocha Brito


(...) 1.2. Os elementos culturais

A população residente na região de Tombali estava estimada em 91.930 habitantes, por referência a 2004 (…), representando 7,1% do total. Do ponto de vista étnico, os grupos principais são Nalu, Fula, Balanta, Tanda e Sosso, encontrando-se grupos secundários como Manjaco, Djakanka, Papel, Bijagó e Mandinga.

Tradicionalmente esta era uma área identificada com os Nalu, etnia caracteristicamente animista, com hábitos enraizados, desenvolvendo práticas culturais ancestrais perpetuadas ao longo do tempo através do costume e da tradição oral, entre as quais os ritos de iniciação e de passagem. Uma parte do território, identificada como as Florestas de Cantanhez, é tradicionalmente conhecida como o Tchon di Nalu (…) ou Terra dos Nalu, apesar de actualmente, e depois de se terem efectuado deslocações internas, se encontrar uma multiplicidade de comunidades com origens étnicas diversas.

Cada grupo étnico apresenta particularidades próprias no que respeita à forma e ao tipo de produção principal, à organização do espaço e materiais utilizados na construção, às práticas rituais e às formas de culto. Apesar da paisagem florestal ser dominante, a influência da diversidade étnica na forma de produzir a terra e de relacionamento com o meio confere à região uma imagem de mosaico marcado pela heterogeneidade.

Dadas as características de toda a zona costeira e fluvial, e tendo presente a importância e a dimensão dos rios e cursos de água, as áreas de mangrove, mangal ou tarrafes, adquirem grande importância, principalmente para os Balanta que aproveitam o solo salinizado para a produção de arroz M'pampam.

A fertilidade do solo, natural ou provocada através da prática de queimadas, tem permitido incrementar a produção frutícola, com destaque para os citrinos e o caju, que tem vindo a ser fortemente explorado pelas potencialidades (*) que o caracterizam. Este tipo de produção, conseguido a partir da desflorestação e das queimadas, é fortemente desenvolvido pelas comunidades de origem Fula, que eram tradicionalmente pastores.

Em maioria, os Nalu são pescadores, agrupando-se muitas vezes em acampamentos temporários e itinerantes, e dedicando-se também à extracção de óleo e vinho de palma ou à produção de culturas agrícolas para consumo directo.

Além da produção para subsistência, as comunidades locais produzem peças de artesanato e utensílios vários, que utilizam no dia-a-dia ou que vendem em mercados locais e lumus (**) . São objectos típicos e fáceis de encontrar para observação aquando das visitas às tabancas, se bem que ainda não se verifique a disponibilidade para aquisição: esculturas e máscaras de madeira produzidas pelos homens Nalu; esteiras e cestos trabalhados pelas mulheres Nalu; potes e recipientes de barro produzidos pelas mulheres Balanta; panos confeccionados pelos homens Manjaco.

Uma grande parte do artesanato produzido, nomeadamente pelos animistas Nalu, tem significado simbólico representando as forças sobrenaturais, havendo a crença de que conferem poderes a quem os usa ou detém. Estes são os caso do Banda, uma máscara que reproduz uma imagem de associação entre o Homem e os animais, como a ave, a cobra, o peixe e o crocodilo, utilizada em momentos festivos; ou do Ninte-Kamatchol [ou Nhinte-Camatchol] (3), uma cabeça de ave com rosto humano, utilizada em ritos de iniciação.

Todas as peças artesanais são susceptíveis de adquirirem interesse turístico, sendo necessária a disponibilização de originais para mostra, exposição e comercialização.

No que respeita às comunidades animistas, é possível encontrar junto de áreas residenciais elementos e locais de culto, nomeadamente pequenos recipientes contendo água para o irã, onde são realizadas práticas de veneração. Além da importância das crenças animistas, na região sul da Guiné-Bissau, o islamismo tem adquirido importância sendo hoje predominante, de tal forma que existem escolas islâmicas com professor próprio, organização e funcionamento autónomo do ensino formal.

A religião e as crenças influenciam ainda os modos de vida das comunidades, no que respeita por exemplo a horários, gastronomia e vestuário: nas tabancas muçulmanas, é habitual o dia iniciar com as orações cantadas pelos homens, que se levantam de madrugada, sendo cuscus marroquino a primeira refeição.

Qualquer uma das práticas exemplificadas reveste interesse turístico no sentido da divulgação e do aprofundamento dos conhecimentos sobre os modos de vida e de organização social das populações autóctones, por serem elementos diferenciadores e conotados com exotismo.


1.3. Os Factores Históricos e Nacionalistas

A região de Tombali, em particular os sectores de Bedanda e de Cacine, fortemente envolvidos pelas Floresta de Cantanhez, é entendida para a maioria do povo guineense como o berço da independência. Esta foi a zona de excelência da luta armada contra a colonização portuguesae o ícone da libertação, tendo albergado alguns dos principais aquartelamentos de tropas portuguesas, como Guiledje, Bedanda, Cacine e Cameconde, mas também os acampamentos da guerrilha, protegidos e apoiados pelas comunidades animistas Balanta e Nalu.

Os Matos de Cantanhez reúnem dois traços que são entendidos como fundamentais para o sucesso das tropas do PAIGC: por um lado, a riqueza dos recursos florestais e as difíceis condições físicas impostas pelo meio denso e fechado, que favoreceram as comunidades locais que detinham conhecimentos únicos propiciados pela vivência directa, adquiridos atravésda experiência ancestral. Por outro lado, a crença no apoio espiritual e na protecção das forças superiores da floresta, o irã, reforçaram a auto-estima e a identidade comunitária, resultando em catalisadores para a concretização da luta.

Os momentos chave da longa guerra colonial foram assim enquadrados pela densidade florestal, desde a fase de organização até às disputas armadas propriamente ditas. Ao longo dos sectores de Bedanda e de Cacine são vários os locais de valor histórico e que representam marcos na História nacional, onde ainda existem partes de aquartelamentos, antigos abrigos, material de guerra, como obuses que se encontram ora espalhados pelo parque florestal, ora amontoados após ter sido efectuada uma primeira recolha, e objectos vários, como pratos e materialde cozinha. Da mesma forma, nas proximidades da tabanca Cassacá, existe um marco de importância extrema para a História da República da Guiné-Bissau: o local onde foi realizado, em 1964, o 1º Congresso do PAIGC, local que Luís Cabral tinha intenção de transformar em cidade pelo simbolismo que representa.

Paralelamente, vivem na região testemunhas vivas da guerra colonial, ex-combatentes que, em maioria, demonstram receptividade para contar e descrever vivências pessoais relacionadas com os momentos mais marcantes, sejam dificuldades ou sucessos, experiências que se transformaram em histórias de vida de uma época que é definida como um dos períodos mais importantes para a Guiné-Bissau e para Portugal.

pp. 35/37
___________

Notas da autora:

(*) O caju é aproveitado como fruta fresca, secando-se a castanha para comercialização, produzido sumo, vinho e aguardente.

(**) O lumu é um mercado local de dimensão alargada e sujeito a uma determinada organização que funciona com uma periodicidade semanal, reunindo comerciantes que se deslocam a partir das diferentes localidades da região.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. último poste desta série: 24 de Abril de 2008 >
Guiné 63/4 - P2793: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (15): Salvemos o Cantanhez (I)

(2) Vd. publicação disponível, em formato pdf, no sítio do Instituto Marquês de Valle Flôr :Estudo das Potencialidades e dos Constrangimentos do Ecoturismo na Região de Tombali

(3) Vd. poste de 31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2704: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (12): Que o Nhinte-Camatchol te proteja, Guiné-Bissau

Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > Destacamento da Ponte dos Fulas > O Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 passou por três unidades no TO da Guiné: pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa ). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, com data de 14 do corrente, em resposta ao Beja Santos (1)

Meu caro Mário Beja Santos

Li atentamente o teu texto, que constituiu o post 2838 e não concordo com as conclusões que do mesmo retiras, ou seja, "que a guerra na Guiné estava militarmente perdida" (1).

Partes, julgo eu, de um pressuposto que os Mig iriam entrar na guerra da Guiné e então pode perguntar-se porque o não tinham feito até então.

Não tinham pilotos para eles, como dizes, mas repara que a entrada de pilotos russos na guerra poderia "internacionalizar" e abrir portas ao Estado Português, que até então estavam fechadas.

Uma coisa eram os cubanos, outra bem diferente eram pilotos russos a pilotarem aviões russos, por isso, e por muito mais razões, tenho sérias dúvidas que isso alguma vez fosse acontecer.

Mas se consideramos esse pressuposto como real, então temos de considerar também a possibilidade então muito falada e dada quase como certa de que o esforço de guerra em Angola, começaria a ser desviado para a Guiné, com a possível chegada também dos F 84, que são do mesmo tempo dos Mig.

Realmente, sei-o por experiência própria, a guerra em Angola praticamente já não existia, a não ser algumas acções esporádicas que se destinavam a tentar manter "vivos" os movimentos de libertação.

Sabemos bem que, à data do 25 de Abril, o MPLA era muito mais um partido político do que um movimento de guerrilheiros. Ao que se sabe, e agora se vai tornando cada vez mais claro, foram as Forças Armadas Portuguesas saídas do 25 de Abril que armaram este movimento na sua chegada a Luanda.

Falas em diversos documentos, reuniões, avisos, etc. mas nós sabemos por experiência própria que a informação que chegava a Lisboa, e até a Bissau, estava carregada de informações erradas, umas propositadas e outras não, apenas por incompetência.

Sabemos bem, e já foi dito no blogue, que havia informações "aumentadas" sobre o esforço de guerra tendo em vista a obtenção de mais meios militares para a Guiné.

Dizes também:

«Estuda os livros dos diplomatas que de 1972 a 1974 procuraram comprar armamento em Washington, Londres, Bona e Paris.»

Meu caro Mário, sabemos que a compra de armamento nestas condições não se faz "governo a governo", mas sim por intermediários que a tudo têm acesso, e não constam obviamente das actas de qualquer reunião.

Aliás é do conhecimento geral que, na "voz do povo", poderia estar iminente a compra de Mirages para a Guiné, claro está, não ao Governo Francês.

Mas mais do que tudo isto fala a guerra no terreno!

Já o disse e repito, que "tiro o chapéu" ao PAIGC que soube unir esforços à volta de, essencialmente três quartéis das nossas Forças [, Guileje, Guidaje, Gadamael], criando nesses três espaços situações de terrível pressão e com isso transmitir uma sensação de que era o que se passava no resto do território.

Nada mais falso!

Com efeito na zona Leste circulava-se com relativa facilidade entre Xime e Nova Lamego, Bambadinca, Xitole, Saltinho, Galomaro, abria-se a estrada Jugudul/Potogole/Bambadinca, fiz não sei quantas seguranças a colunas de Mansoa para Mansabá sem uma única intervenção de guerra e por aí fora, numa situação que poderíamos dizer de guerra mas sem constrangimentos sérios.

A guerra estava perdida sim, mas não militarmente, e com isto não quero dizer que gostava ou quereria que ela continuasse.

Quero apenas fazer jus ao esforço extraordinário dos portugueses anónimos, que mais de vontade própria, ou mais obrigados, se empenharam em defender uma Pátria, (discutível na sua extensão), e que hoje são tão mal tratados pelos poderes públicos.

Não lhes retiremos ao menos a dignidade de saberem que não foi por não terem lutado, que a guerra se perdeu, mas sim pela politica errada de a mesma ter sido travada.

E não me apetece escrever mais nada agora, porque isto ainda mexe muito comigo.

Tomo a liberdade, que sei não levas mal, de dar conhecimento deste mail aos editores da nossa Tertúlia.

Um abraço amigo até Monte Real

Joaquim Mexia Alves


PS. Não revejo o texto que escrevi, não estou para isso, por isso mesmo desculpa o "atabalhoamento" que o mesmo possa conter!


2. Resposta do Beja Santos, na mesma data:

Assunto - Perguntas a um amigo querido, que vou rever em breve

Joaquim, meu querido penúltimo Comandante [do Pel Caç Nat 52]:

Desculpa ser breve,os funcionários públicos trabalham, tenho que seguir para Sintra, quando voltar vou para o computador escrever sobre a Operação Macaréu à Vista, é a minha sina.

Primeiro, peço-te que refutes Caetano, Spínola, Costa Gomes. Abandonar quase dois terços da Guiné, segundo Caetano, para quê? Costa Gomes propôs a retirada dos aquartelamentos limítrofes, Spínola recusou,tinha assumido compromissos com as populações, passou a batata quente ao seu sucessor.

Segundo, desenhava-se uma guerra convencional «à carta», as tropas do PAIGC despejavam os «órgãos de Estaline" quando queriam, sem resposta das nossas tropas, era uma nova inferioridade.

Terceiro, Marcello Caetano queria agir com legitimidade, em cooperação com os Aliados. Os Aliados abandonaram-no, não há qualquer referência na literatura disponível à compra no mercado negro de armamento, aliás fomos pesadamente afectados pela inflação, a partir de Setembro de 1973. No 1º trimestre de 1974 a taxa de inflação já estava elevadíssima, o dinheiro tornou-se caro e escasso.

Quarto, não entendo como vens invocar o heroísmo das nossas tropas quando o problema era tecnológico, tinha a ver com equipamento para o qual não havia resposta. Sim, fazíamos as estradas que referes,mas havia bolanhas cultivadas a 4 km do Xime ou Missirá. O IN nunca desarmou, nunca perdeu posições. O IN era uma república reconhecida por mais de 80 países, em finais de 1973. A nossa diplomacia tinha perdido tudo, na Guiné.Vamos conversar mais, em Monte Real.

Um abraço do Mário

3. Contra-resposta, rapidinha, do JMA:

Mário, meu comandante:

Resposta rápida também.

Quanto a Caetano, Spinola e Costa Gomes, não faço ideia que informações deram a Caetano que o levassem a propor tal coisa.

«Segundo,desenhava-se uma guerra convencional «à carta», as tropas do PAIGC despejavam os«órgãos de Estaline quando queriam, sem resposta das nossas tropas,era uma nova inferioridade.»

Porque é que não havia de haver resposta das nossas tropas? E onde é que estavam os órgãos de estaline?

Com certeza que não há referência a compras de armamento o que não quer dizer que não existissem.

As bolanhas seria no teu tempo, porque no meu nem pensar.

O IN nunca perdeu posições?

Falaremos então em Monte Real.

Abraço amigo do
Joaquim
_________

Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Depois da caçada há que preparar o bicho, tal qual uma matança de porco numa das nossas aldeias".

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "É hora de levantar cada um a sua parte e comer em família, cada um em sua tabanca [morança]".


Fotos e legendas: © José Manuel (2008). Direitos reservados

1. Mais um poema do dia (e duas fotos) do nosso José Manuel (ou José Manuel Lopes), ex-Fur Mil Op Esp, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74 (1), que espero vir a conhecer pessoalmente no nosso III Encontro Nacional, no próximo sábado, dia 17...


Não consigo dormir
recordo
os companheiros de escola
que a guerra separou
o Tá está em Angola
o Miguel em Moçambique
o Guto esse não sei
nem do Pinto ou do Miranda
nem sequer do Manuel
relembro
as nossas venturas
tão diferentes destas aventuras
os jogos da bola
no largo da Igreja
no campo da Legião
das corridas por Medreiros
das surtidas pelas quintas
em operações
pela fruta madura
e o sono chega
nessa altura.

Mampatá 1973
Josema
________

Notas de L.G.

(1) Vd. postes anteriores:

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

Pior
que o inimigo
é a rotina
quando os olhos já não veem
quando o corpo já não sente (...)

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

Uma vida quanto vale?
na mira da minha arma
só há vultos
sem sentido
corpos sem alma
consciências amordaçadas
na outra mira
estou eu? (...)

O nascer de um bruto

Já não sei rezar
já não acredito
já não sei amar
só sei que grito (...)

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

Estradas amarelas
corpos cobertos de pó
pica na mão à procura delas
o polegar ferrado no pau
tac, tac, tac, tac, tac, tac (...)

Tenho saudades
do amor que não se compra
daquele que se sente
o tal
que vem de dentro (...)

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

A escuridão
pode não ser o fim
se após a noite
vier o dia (...)

Pensar que amar é dor
é não amaramar
é dominar
a violência
que há em nós (...)

-Sabes?
Sonhei
que as coisas boas
não acabaram (...)

Seria bom pronunciar
numa doce ilusão
um até sempre (...)

Quero sonhar
e não consigo
viver um mundo
que não tenho
nem encontro (...)

Gostava de vos falar
dos esquecidos
dos heróis que a história
não narra (...)

Olhos semi cerrados
querendo ver
para além das árvores (...)

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...(...)

Calor, cansaço, suor
saudades de tudo
e de um rio... (...)

Ouve-se um violão
numa noite de luar
tocado pelo Gastão
p'ra algo comemorar
cantigas de Zeca Afonso

(...)

As brincadeiras loucas
acabam por ter sentido
se as alegrias são poucas
neste cantinho perdido (...)

Guernica!
pintura
visão, mensagem, recado?
para quem e porquê? (...)

Quantas batalhas e
pela ambição? (...)

O calor húmido nos envolve
abraça-nos a escuridão
e a noite se faz dia
c’o ribombar do trovão (...)

Neste imenso sofrer
pensar Nele ajuda
mas Ele parece não ouvir (...)

Um ruído vem do céu
e há cabeças no ar
hoje é dia de correio
há novas para chegar (...)

Quero ir
mas não sei onde
tudo me parece um delírio
sem sentido nem razão
neste mundo desumano (...)

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

(...)Recuso dizer uma oração
ao Deus que te abandonou
não sei se é do nó
que me aperta a garganta
ou da revolta que brota do meu peito
só sei que não consigo
desculpa... (...)

Escuta mãe
espero como nunca um conselho
mas não consigo ouvir a tua voz
aguardo um aviso
um sussurro de alguém
e só me responde o silêncio
como é duro estar só (...)

Este pó que nos seca a garganta
este calor húmido que sufoca
esta terra vermelha
que se cola ao corpo
estes estranhos odores (...)

Não quero os dias todos iguais
nem águas da mesma cor
pois a vida não é sóalegrias e beleza
e ainda muito menos
só a dor e a tristeza (...)

Como eram belas
as miúdas que conheci
as amigas as amantesas
de amores realizados (...)
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27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra

24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Guiné 73/74 - P2843: Ainda os Comandos fuzilados após a independência (III): Alguns dados de 1965/66: Abdulai Queta Jamanca (Virgínio Briote)

Abdulai Queta Jamanca, Príncipe Fula



o 1º Cabo Abdulai Jamanca a ser condecorado com a Cruz de Guerra pelo Coronel Kruz Abecasis (Cmdt da BA 12) em 10 de Junho de 1967 (?).

Abdulai Queta Jamanca, Príncipe Fula, nasceu em Farim, em 5 de Janeiro de 1937.
Foi incorporado em 12 de Janeiro de 1956.

Foi um dos militares que em Outubro de 1963 se deslocaram a Angola para receber instrução "comando". Fez parte do grupo que actuou na Ilha do Como na op. Tridente.

Em Brá colaborou na instrução do 1º curso e, em data não determinada, foi evacuado, por acidente em serviço, para o HMP  Lisboa onde foi tratado durante alguns meses e regressou à Guiné já o curso tinha terminado, ficando a pertencer ao grupo "Panteras".

Em Setembro de 1965, ingressou nos Comandos do CTIG, tendo feito parte dos Grs Vampiros e Diabólicos.

Mais tarde, fez parte da 1ª CC/BCmds, tendo participado no ataque a Conakry, a operação Mar Verde, que levou à libertação dos nossos prisioneiros de Guerra.

Em Junho de 1973 foi nomeado para a CCaç 21, extinta em Agosto de 1974, e regressou à CC a que pertencia (documento em arquivo no ex-Regimento de Comandos) (1). Foi fuzilado em Bambadinca, em dia não apurado de Março de 1975.

Texto do louvor que lhe foi atribuído pelo Brigadeiro Reymão Nogueira, então Comandante Militar do CTIG, publicado na O.S. nº 27 de 07Jul66.

“O 1º Cabo nº 143/Rd, Abdulai Queta Jamanca, do Gr Cmds 'Vampiros' e posteriormente do Gr 'Diabólicos', pelo alto rendimento operacional dado em todas as operações em que tomou parte.

Tendo sido ferido em combate, depois de curado salientam-se as suas actuações nas operações Martingil, Narceja e Naja.

Na primeira abateu frente a frente um elemento IN armado de pistola-metralhadora, tendo pelo seu esforço permitido a captura desse material.

Na segunda, quando da batida feita pelo seu grupo na periferia da zona onde fora atingido um helicóptero e em que se encontrava instalado o IN, voltou a abater outro elemento IN.

Na terceira operação foi destacado com mais dois elementos do seu grupo para o interior da mata a fim de tentar localizar o acampamento IN. Missão de extrema dificuldade já que detectados perder-se-iam todas as hipóteses de êxito da operação. Mais uma vez se houve com êxito e tendo estado perto de um elemento IN, este não o conseguiu detectar.

(…).

Elemento muito disciplinado, com apurada técnica de progressão no mato, conhecedor de algumas línguas nativas, foi em grande parte das operações, o 1º homem do seu grupo, a ele se devendo, portanto, muitos êxitos conseguidos.


Militar muito dedicado ao Exército que serve há nove anos, já anteriormente condecorado com a Cruz de Guerra, com uma vida familiar irrepreensível, é em todos os aspectos do seu procedimento um exemplo de bem servir a Pátria pelo que merece o reconhecimento do Exército.”

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Notas de vb:


(1) Dados obtidos pelo Coronel Manuel Amaro Bernardo e publicados em Guerra, Paz e Fuzilamentos. Ed. Prefácio, 2007.

Artigos relacionados publicados em:




(...) "Eu (com os meus quase 11 anos) e muitos outros, em 1974, vimos os militares do PAIGC em dois camiões de fabrico russo, um deles completamente tapado de toldo. Passaram por Xime, de manhã, para Madina Cudjido (Colhido, como vocês dizem).

"Passados uns 30 minutos ouvimos muitos tiros. Só que por volta da hora do almoço ouvimos [dizer] que foram lá fuzilados 8 pessoas. E das pessoas que nós ouvimos que tinham sido fuzilados - não sei se corresponde a verdade ou não - um deles era o tal Abibo Jau (2) que esteve na CCAÇ 12 em Xime. A outra pessoa seria o Tenente Jamanca, da CCAÇ 21 que estava em Bambadinca.

"Mas tudo isso não me espanta porque os meus irmãos e primos que cumpriram o serviço militar no exército português, em Farim e depois em Bissau e Bambanbadinca, também foram presos, mas felizmente não lhes aconteceu o pior" (...).

Guiné 73/74 - P2842: Ainda os Comandos fuzilados depois da independência (II): Alguns dados de 1965/66: Justo Nascimento (Virgínio Briote)


Justo Orlando Nascimento, nascido no Cacheu em 12 de Dezembro de 1942, foi incorporado em 5 de Janeiro de 1963.

Em Setembro de 1965 acabou o 2º Curso de Formação de Comandos no CTIG, passando a integrar como 1º Cabo o Gr Cmds Vampiros/CCmds CTIG que se manteve em actividade até 30 de Junho de 1966.

O 1º Cabo Justo Nascimento que eu conheci, muito estimado por todos os Camaradas da CCmds, era um elemento em quem o grupo depositava grande confiança. Foi, durante a maior parte das operações realizadas pelo grupo, o 1º homem da 1ª equipa.

Transcrevo a seguir aquele que deve ter sido o primeiro louvor que o Justo Nascimento recebeu e que lhe foi atribuído pelo Comandante Militar de então, o Brigadeiro Reymão Nogueira e publicado no artº 6º da O.S. /CTIG, nº 26 de 30Jun66.
vb.
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Justo (o primeiro da esquerda), Jamanca (o 4º) e o Sisseco (o 6º), junto de alguns elementos do Gr Cmds Vampiros, na BA 12, momentos antes de entrarem para os helis. Finais de 1965.
"Louvo o 1º cabo nº 112/65/A, Justo Orlando Lopes dos Reis Nascimento, da CCmds e do Grupo de Cmds Vampiros, pelo modo como sempre se houve nas operações em que tomou parte com realce para as operações "Narceja", Virgínia" e "Naja".
Na primeira acompanhando o seu Cmdt de Grupo e tendo sido permanentemente o primeiro homem nas progressões, quando no final da operação se seguia para uma tabanca-porto e o IN flagelou da orla da bolanha, correu sobre o mesmo rompendo caminho à custa de fogo, o que lhe foi impedido por não se integrar na missão, já depois de ter corrido cerca de duzentos metros.
Na segunda, durante uma prolongada emboscada e quando já tinham passado 32 horas, passou um reduzido grupo IN, do qual um elemento pretendeu fugir, o 1º Cabo Justo largou a arma e de sabre em punho correu cerca de 100 metros até que o capturou.
Na terceira, recebeu com outros camaradas, a missão difícil de tentar, já de dia e depois do grupo instalado nas proximidades do acampamento, localizar as sentinelas e capturá-las. Foi depois, durante o ataque ao objectivo, o primeiro homem a entrar na base IN.
(....)
Por todas estas qualidades amplamente demonstradas, em todas as situações rapidamente se elevou no conceito de todos os camaradas perfazendo um conjunto de serviços que é de toda a justiça realçar".
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(*) Para mais informações sobre o caso dos militares fuzilados após a Independência, consultar o livro (se ainda houver no mercado) Ordem para Matar, de Queba Sambú, Lisboa, Ed. Referendo, 1989.