1. Mensagem do Torcato Mendonça, de 14 do corrente: Meus Caros Camaradas e Editores:
Anexo um pensamento feito pela manhã e relido agora. Podia ficar cá, talvez lugar mais conveniente mas, ao guardá-lo enviei-o para o Pensar em Voz Alta. Ficava só, melhor, junto ao A, B, e C já enviados, pois que se vá.
Amanhã ou depois confirmo se vou ou não a Ortigosa. Tenho aqui ao lado os contactos, notas, telemóvel do Mexia Alves, mapa etc. M, arcar, na hora, no meio de tantos não se nota. Desmarcar uma vez admite-se, duas não. Mas meu caro Carlos, mando-te um e-mail. Não tenho telemóvel. Espero um tri-abraço pessoalmente.
Até lá um netabraço, Torcato Mendonça,
Fundão
2. Pensar em Voz Alta – D
Tarde de Maio, morna, baça, cinzenta. Depois da hora da bica, três homens permanecem no café, em conversa animada. A soma das suas idades rondará os duzentos e vinte anos. Não são velhos, entraram, isso sim, pela vida há alguns anos. Hoje reformados, nome esquisito para todos, são antes, homens com profissões interrompidas. Leis, medicina, obras e afins. Mantêm-se vivos, despertos, reflexivos e críticos.
Nesta conversa abordaram a crise no País, o 25 de Abril, as políticas de certos políticos e a solidariedade ou fraternidade como o mais novo prefere. Posições completamente diferentes na maneira como se posicionam. Há talvez uma direita, centro e esquerda. Há, acima de tudo, a experiência de vida e o saber respeitar a opinião divergente. Assim se demonstra (sem eles nada terem a demonstrar) que o diálogo é possível, se praticado por pessoas intelectualmente honestas. Teríamos tanto a ganhar com isso como povo. E aqui nesta Tertúlia se necessário.
Curiosamente dois foram antigos militares que passaram pela Guerra Colonial. O mais novo foi em idade normal. O outro, aos 38 anos, “despacharam-no” até ás Terras do Fim do Mundo exercer medicina nas N.T. Malhas que o Império teceu!
A necessidade, neste mundo ou sociedade global, em sermos mais solidários. Globalizar a solidariedade: África e o Darfur, China, Birmânia. Muito a falar e a reflectir sobre isto e uma interrogação, que não invalida a solidariedade globalizada – e para dentro do nosso País? Cada vez mais pobre e vulnerável aos interesses de minorias internas ou dos apetites de vizinhos. Cada vez mais cheio de maioria de pobreza envergonhada ou já bem visível? Cada vez menos.
Hoje de manhã abro o blogue e corro-o com o rato. Paro um pouco e hesito entre ler e sair. Chove lá fora. Não faço uma coisa nem outra. Prefiro tomar um café de plástico e ver o noticiário da Televisão. Pouco depois dizem vir comentar a imprensa diária o Presidente da ADFA.
Parabéns pelos 34 anos da ADFA, na defesa de tanta gente humilhada e ofendida. Tantos que ao serviço de uma Pátria, não perdendo a vida, ficaram contudo para sempre, fortemente marcados. Continuam à espera de justiça. Nada querem de privilégio. Não. Querem ser tratados com o respeito que merecem.
Ouvi o Presidente da ADFA dizer das necessidades que tantos antigos militares têm hoje, quase quarenta anos depois. Aos poucos deixam de ser problema pois da vida se vão libertando. Se tiverem Posto Militar, mesmo na reforma terão o RDM!? Não acredito, não quero acreditar e certamente é engano meu. Falar, dialogar….é preciso.
Resolvi voltar a ler o blog e passar á tecla, pensando e teclando. Assim:
1 – A Guerra estava militarmente perdida?
Responde Beja Santos a António G. Abreu. Uma guerra como aquela nunca se ganha militarmente. No aspecto teórico, todos, ou a maioria dos que para lá foram, o sabiam. Exemplos antigos na Indochina, Argélia e conhecimentos adquiridos. Devemos analisar de forma diferente a guerra em Angola, Moçambique e Guiné. A última é a que nos diz mais aqui. Sabemos como era difícil aguentar e esperar a solução politica. A solução politica…que politica? Que solução?
É assunto a ser longamente debatido. Certamente com opiniões diferentes. Pois ainda bem. Só assim proporcionarão uma visão mais próxima doa realidade.
Mas o debate, aqui ou noutro lado, tem que ser feito a bem da verdade histórica.
Sabemos ser assunto polémico. Só fazendo esse e outros lutos, essa e outras discussões encontraremos a verdade. Plagiando – de quantas mentiras é feita a verdade!!?? Aqui não pode ser assim. Temos que enfrentar, mais os historiadores, a verdade assente nos factos reais.
2 - Comandos Africanos Fuzilados – (Carlos B. Silva/ Virgínio Briote)
Um tema, para mim, demasiado doloroso. É uma página negra na guerra da Guiné. Outras haverão. Mas esta repugna-me. Aqueles homens, não só os Comandos Africanos, não podiam ter sido abandonados pelas Forças Armadas Portuguesas. Viviam-se tempos conturbados. Não aceitemos isso como justificação. Menos ainda aceitemos as desculpas de quem mandou disparar. Nem desculpas, nem coragem de assumir.
Outro assunto polémico. Um assunto dos dois Países e a ser tratado por ambos. Esperar pelo esquecimento é um erro.
3 – Morrer em Guidaje
Mama Sume (grito de guerra Comando), diz o Amílcar Mendes. Lembra, em homenagem, a morte de um Camarada - José Raimundo.
Que não entrem no esquecimento. Depois da morte há um silêncio que se entranha, não é Camarada. Mas a recordação, por isso mesmo fica e não esquece…
4 – Estórias Cabralianas – Ida a Belel do Jorge Cabral.
Se te quiseram tramar, é injusto. Foste mais longe que eu, nem sei se fui a Belel, a Madina, se fiz a Operação Gavião. Dizem que a águia do Benfica é um Gavião. Se calhar fiz a Op Águia.
Mas continuo a ser um teu fã, e leitor atento. Caro amigo escreve mais.
Vou continuar a pensar. Talvez prefira desenvolver alguns temas aqui levemente focados. Depois ficam por aí.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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