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domingo, 13 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22995: Blogpoesia (764): "O perfume das cores"; "Remate" e "As flores do rio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


O perfume das cores

Cheiravam a camélias as alamedas floridas da entrada no palácio da fidalga que era viúva.
Vinham de longe os carros para os banquetes, noite adentro.
Enquanto batiam a fome as horas famintas do povo escravo.
Eram um mar de cores os campos lavrados dos rendeiros.
Se ouvia o zumbido doce das abelhas esfaimadas.
Caíam lentas as horas em saudosas badaladas.
Da torre ao alto, às horas certas, caíam as trindades, convidando à oração ao Criador.
Enquanto a manta do negrume recolhia as gentes em quentes madrugadas.
Era assim que se vivia nos meus tempos saudosos de criança.
Era escassa a abundância mas se respirava de abundante felicidade.


Berlim, 26 de Janeiro de 2022
16h38m
Jlmg


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Remate

Tudo no campo flui para o remate.
Dribles. Corridas esquadrinhadas sobre o relvado.
Por tudo se esforçam os jogadores.
Fintam. Fazem que vão mas ficam.
Avançam por trás e pela frente.
Fazem sempre o contrário.
A surpresa é o seu forte.
A rapidez estonteante traz sempre o sucesso.
Quem quer ganhar tem de rematar.
Seu inimigo atento é o guarda-redes.
Só perde quando deixa cair as chaves.
À volta rugem os apupos estridentes da populaça, dando saída aos maus instintos.
No final aquele relvado verde fica um deserto de silêncio

Onde só vagueiam os fantasmas.


Berlim, 1 de Fevereiro de 2022
16h48m
Jlmg


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As flores do rio

Orquídeas, acácias e camélias, tingem às cores as margens verdes do rio.
Tecem enseadas. As praias do sonho para quem o mar está longe.
Se enchem as praias de tendas às cores.
Se regalam nas cadeiras as gentes sedentas de iodo do mar.
De tempos a tempo, passam os vendedores de guloseimas.
Engodo das crianças e regalo dos pais.
- "línguas de sogra"! gritam os vendedores que palmilham a praia.
O sustento da casa que o espera à ceia.


Berlim, "bar dos motocas" arredores de Berlim
8 de Fevereiro de 2022
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22933: Blogpoesia (763): "Quando o nome é maior que a pessoa"; "Os botões caem" e "De nariz arrebitado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 23 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22933: Blogpoesia (763): "Quando o nome é maior que a pessoa"; "Os botões caem" e "De nariz arrebitado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Quando o nome é maior que a pessoa

O talento que põe certas pessoas acima da normalidade apouca a pessoa que o tem.
Beethoven. Einstein e tantos mais se apagam perante a celebridade da sua obra.
Talvez seja o preço que a natureza cobra pela admiração que toda a gente lhes rende.
Pelo privilégio do pedestal.
Prefiro ser mais rasteiro.
Ficar na sombra.
Quanto mais alto se sobe, normalmente, maior a queda.
Abençoados os simples porque deles é o reino dos céus...


Berlim, 16 de Dezembro de 2021
11h
Jlmg


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Os botões caem

Mesmo bem pregados, à máquina ou à mão.
Não ficam para sempre.
Como a gente. Ninguém cá fica.
Nem para a semente.
Para nós há um campo santo.
Que tudo aproveita.
A terra é insaciável.
Não destrói.
Vêm os vermes. Chama-lhes um figo.
Só os ossos. Nada os quer.
Para quê tanta vaidade?...


Berlim, 17 de Dezembro de 2021
9h27m
Jlmg


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De nariz arrebitado

Andar de nariz arrebitado oculta um medo.
E é perigoso.
Olhar para o ar se cai num buraco ou pisa uma silva.
Faz sangrar.
Mais vale andar atento.
Ser normal. Comedido.
Tudo se vê a tempo.
Tudo é lucro.


Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22802: Blogpoesia (763): "Rosto alegre"; "Verdes anos" e "A vida não é um concurso", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 12 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22802: Blogpoesia (763): "Rosto alegre"; "Verdes anos" e "A vida não é um concurso", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Rosto alegre

Não é feliz o rosto cavado de rugas e sofrimento.
A vida agreste as rasgou impunemente.
Afogam o coração de amargura e dor.
Trazem as saudades da saúde que se foi.
É o risco de viver, sem regra e juízo.
Mais vale viver no equilíbrio e sobriedade.
Cá se fazem. Às vezes tudo se perde.
Sem remissão.


Berlim, 9 de Dezembro de 2021
9h57m
Jlmg


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Verdes anos

Eram verdes os anos da minha infância.
Havia braços paternais que me guardavam.
Tratavam as minhas feridas quando caía ao chão.
Dormia tranquilamente as noites.
Sonhava sonhos cor da esperança.
Ainda me sobrava tempo para minhas traquinices.
Sem qualquer maldade.
Que pena não ter ficado lá atrás.
Meu futuro foi garantido.


Bar "motocas" arredores de Berlim, 8 de Dezembro de 2021
11h50m
Jlmg


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A vida não é um concurso

Não somos todos iguais.
Cada um é como é e nasceu.
Ninguém melhor que ninguém.
A vida não é um concurso.
Não há vencedores nem vencidos.
Cada um dá o que tem e que sabe.
O progresso vem do concurso de todos.
Que nunca sejam melhores uns que outros.
Cada um rema com os braços que tem.
Só assim o barco avança.


Berlim, 7 de Dezembro de 2021
14h17m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22782: Blogpoesia (762): "Pelas ruas de Berlim"; "As nuvens da horta" e "A vida é uma lição", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 5 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22782: Blogpoesia (762): "Pelas ruas de Berlim"; "As nuvens da horta" e "A vida é uma lição", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Pelas ruas de Berlim

Correm rios de frio pelas ruas de Berlim.
Não tarda vira gelo.
Caiando de branco o chão negro.
Onde dormita o húmus da fertilidade.
Se acocoram ali os vermes
Fugindo à voragem devastadora dos corvos famintos.
Cá de cima, os olhos se deliciam com a brancura alvinitente que veste a natureza.
Consolação para a tristeza imobilizadora do covid 21.


Berlim, 26 de Novembro de 2021
16h57m
Jlmg


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As nuvens da horta

As nuvens cansadas voltam ao mar.
Secaram ao sol ao fogo de Agosto.
Morrendo de sede encheram a pança.
Voltaram à terra emprenhando as hortas de couve e flor.
Grelaram-lhe os olhos.
Encheram as mesas de sal e azeite.
Quem me dera comê-las faminto
Como foi em criança.


Berlim, 2 de Dezembro de 2021
20h00m
Jlmg


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A vida é uma lição

Nossos erros são a aprendizagem.
Quem os desperdiça despreza a vida
E as lições que ela nos dá.
Eles são nosso caminho
Que os pés aprendem bem.
Não importa voltar para trás.
É maior o bem que o que custa.
Para é perder tempo.
Para ganhar há que perder.
Não haveria grandes obras
Se seus autores tivessem desistido.
Não importa o tempo que falta.
Enquanto há vida há que viver.


Ouvindo "Liebestraum" de Liszt

Berlim, 3 de Novembro de 2020
18h27m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22736: Blogpoesia (761): "Não deixes arrefecer"; "Semeio palavras"; "Ramagens de letras" e "Nem só massa com feijão", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 21 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22736: Blogpoesia (761): "Não deixes arrefecer"; "Semeio palavras"; "Ramagens de letras" e "Nem só massa com feijão", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):

Não deixes arrefecer

Depois do frio, acaba por vir a morte,
Se não alimentares a tua chama.
Só no calor a vida medra.
Sem ele o mundo seria um polo norte.
Sem desvios a terra gira ronda, apesar da inclinação do eixo.
O equilíbrio só vem com esforço de cada momento.
Ele só vinga com boas acções.
Quem quiser ser grande, tem de despir seu corpo da vaidade inútil...


Berlim, 13 de Novembro de 2021
11h20m
Jlmg


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Semeio palavras

Semeio palavras. Sementes da alma.
As mando aos ares.
Caiam como chuva e germinem.
Abro comportas. Que reguem os campos lavrados.
Cresçam e aloirem. Farinha de pão.
Alimento do corpo e sobretudo da alma.
Espero que gostem.
Me brotam em fogo.
Suave milagre à vista dos olhos.
Um privilégio gratuito caído dos céus...


Berlim, 13 de Novembro de 2021
1425m
Jlmg


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Ramagens de letras

Bordo ramagens de letras pintadas nas árvores.
Os ramos dançantes sacodem o pó seco ao sol.
Ufanas, as árvores sorriem cantando ao silvo do vento.
Se abrigam os pássaros tecendo seus ninhos.
Alegres os pais trazem bicadas que poisam nos bicos.
Contentes ficam cantando as famílias dos filhos.
É a primavera que vem no comboio do tempo.
Assim passa depressa demais avida tão breve.


Berlim, 17 de Novembro de 2021
18h5m
Jlmg


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Nem só massa com feijão

Para ser feliz não chega só massa com feijão.
É preciso variar à mesa.
Puxar pela imaginação e buscar ementas e vestir o corpo com roupas novas.
Andar na moda para não ficar para trás.
Os olhos são insaciáveis.
Procuram beleza e não se cansam.
Quem quiser viver feliz tem de suar e fazer por isso.
Não basta só massa com feijão.
Muito menos a pão e água.
É preciso ir à adega por um bom vinho.


Berlim, 18 de Novembro de 2021
10h21m
Jlmg

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Notas do editor

Último poste de J.L. Mnendes Gomes de 14 de Novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22718: Blogpoesia (759): "Ilusão da eternidade"; "Ideias embrulhadas"; "Insolência" e "Nem só as vacas mugem", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Último poste da série de 14 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22719: Blogpoesia (760): Operações e Missões, e dos nomes que lhes davam (7) (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845)

domingo, 14 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22718: Blogpoesia (759): "Ilusão da eternidade"; "Ideias embrulhadas"; "Insolência" e "Nem só as vacas mugem", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Ilusão da eternidade

Caminhamos nesta vida na ilusão de que é eterna.
Temos a sensação que a criança tem na sua infância.
Nunca mais passam as aulas da primária e da catequese.
Pelo contrário, o recreio passa vertiginoso.
Quando se podia colher a melhor fruta na horta fechada da vizinhança sem problemas.
E que sabor!...
Toda a gente o fazia na sua infância.
Aquelas uvas gordas.
Que doçura a dos morangos e das cerejas.
As amoras bravias dos silvados.
Eram de toda a gente.
Cresciam livres ao sol aberto.
Nunca mais as coisas foram assim docinhas!...

Berlim, 2 de Novembro de 2021
11h15m
Jlmg


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Ideias embrulhadas

Embrulho minhas ideias em palavras.
As remeto depois pelo correio.
Registadas com aviso de recepção.
Quero que cheguem bem ao seu destino.
As mando para meus amigos com saudade.
Das horas mais alegres da nossa infância.
Na escola e na catequese dos dos velhos tempos.
As mais felizes que nós temos.
Fico à espera das respostas.
Oxalá boas como sempre.
Quero lê-las nas horas mais tristes
Que a todos surpreendem.


Berlim, 3 de Novembro de 2021.
17h10m
Jlmg


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Insolência

Não é preciso insolência para viver em paz.
A vida tece-se de boas acções.
Cada um dá as suas.
O meu contributo hoje é dar as boas vindas aos que hoje vieram ao mundo.
Saborear o privilégio de viver.
Viver tem seus problemas, mas se tudo calhasse bem, seria insípida.
Perderia todo o sentido.
Ela é breve. Aproveita-a bem...


Berlim, 9 de Novembro de 2021
11h53m
Jlmg


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Nem só as vacas mugem

Nem só as vacas mugem. Também os bois.
Quem teve a dita de ir a África e calcorrear as florestas
Ouviu rugidos de estontear e meter medo.
As aves gigantescas. Os leões da selva.
O matraquear dos tambores nas cubatas, para afugentar as feras,
na noite negra e transmitir mensagens.
Não havia celulares.
Perdurarão para sempre na minha memória de oficial militar
Que teve a dita de regressar à metrópole, vivo e em bom estado.
Que será feito dos soldados do meu pelotão?...


Berlim, 10 de Novembro de 2021
20h5m
Jlmg

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Notas do editor

Último poste de Joaquim Luís Mendes Gomes de 31 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22673: Blogpoesia (752): "A força da rotina"; "Piano dos sabores"; "De novo nos motocas" e "Janela da alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Último poste da série de 13 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22716: Blogpoesia (758): Operações e Missões, e dos nomes que lhes davam (6) (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845)

domingo, 31 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22673: Blogpoesia (752): "A força da rotina"; "Piano dos sabores"; "De novo nos motocas" e "Janela da alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


A força da rotina

Nossa vida assenta nas rotinas.
Umas boas. Outras menos.
Dão firmeza à vida.
Tornam difíceis as surpresas maléficas.
Alisam o caminhar na vida.
Quando se quebram, abre-se um fosso donde convém sair depressa.
Outras terão de surgir para que o barco da vida navegue certo e chegue a bom porto.


Berlim, 29 de Outubro de 2021
15h18m
Jlmg


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Piano dos sabores

Na bancada breve da cozinha, toco alegre e consolado a sinfonia dos sabores.
Nela escrevo lindas letras com sabor a satisfação.
Me banho no mar de sonho das boas ementas.
Me deito consolado, à noite, em cada dia.
Me levanto cada manhã, desperto, pelo cheirinho do café.
Quem me dera ter meus pais e irmãos de sangue como os tive por pouco tempo.
Os recordo agora com saudade no meio dos netos e filhos que a Ana me deu...


Berlim, 24 de Outubro de 2021
14h23m
Jlmg


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De novo, no "motocas"

Com sol ou com chuva, o encanto é sempre certo.
As mesmas caras sorridentes descansando dos rigores da vida.
Se espraiam pelas mesas descansados.
O balcão está recheados de petiscos e guloseimas.
É vê-los a devorá-los com satisfação.
Tornou-se obrigatório vir aqui ao menos uma vez por semana.
Fica-se recobrado das forças e com força de viver.
Hoje, está chuvoso.
Havia "bichas" no trânsito mas valeu.


Berlim, arredores de Berlim,
10h48m
Jlmg


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Com curvas e letras

Com curvas e letras soletro palavras,
Pinto ideias. Mando mensagens.
Espero sorrisos.
Alimento esperanças e sonhos.
Incendeio quimeras.
Descrevo caminhos.
Avanço promessas.
Planto afagos.
Afogo maleitas.
Quem dera encontre amigos
Desfaça intrigas.
Aguardo a paz.


Berlim, 10 de Outubro,
17h49m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22616: Blogpoesia (751): "Bons hábitos"; "Louvor a Deus"; "Vá e desapareça..." e "Janela da alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 10 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22616: Blogpoesia (751): "Bons hábitos"; "Louvor a Deus"; "Vá e desapareça..." e "Janela da alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Bons hábitos

Bons hábitos na vida são aqueles que nos fazem viver.
Se cresce vivendo.
A letargia cria micróbios mortais.
Voltar ao "motocas" é um nosso hábito velho.
Saímos daqui difrentes. Melhores.
Por isso aqui estamos mais uma vez.
É preciso sair de casa.
O mofo é inimigo do bem-estar.
Lá fora do "motocas" há um mar de motas, espampanantes.
Os alemães são espalhafatosos nos seus fatos a rigor.


Bar dos "motocas", 26 de Setembro de 2021
16h8m
Jlmg


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Louvor a Deus

Louvar a Deus por cada momento de nossa vida é tarefa que não pode parar.
Erguer ao céu nossos olhos em cada dia que nasce e se põe.
Atravessá-la como uma viagem que não tem paragem nem retorno.
Sentir seu peito a arder em fogo de oração.
Vela a arder que nunca apaga...


Berlim, 2 de Outubro de 2021
17h25m
Jlmg


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Vá e desapareça...

Vá e desapareça esta névoa negra de dor e constrangimento
Que nos humilhou e reduziu a zero.
Pró inferno e lá fique soterrada eternamente.
Alcançou sòzinha como guerra atroz o que uma guerra faz sem matar as gentes.
Dizimou penachos e vaidades ocas de poder e glória.
Cobriu os rostos que são espelho da alma e fonte de alegria e de tristeza.
Secou a fonte benfazeja da sã convivência.
Reinou despótica enquanto quis.
Só desertou quando lhe deu na real gana, sem dizer adeus...


Berlim, 3 de Outubro de 2021
17h20m
Jlmg


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Janela da alma

A voz é nossa janela da alma.
Por ela espreitamos prá-frente e prós lados.
Não há canto ou recanto onde ela não vá.
Traduz em palavras os vãos das escadas.
Perscruta escaninhos ocultos sem conta.
Revela segredos.
Pinta quadros de cor com letras doiradas.
Exala os sonhos, poemas que dormem profundos.
Enquanto houver vida nunca se cala.
Um dom e uma prenda a janela da alma.


Berlim, 9 de Outubro de 2021
17h25m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de7 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22608: Blogpoesia (750): "Guiné-Bissau - Canchungo", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)

domingo, 26 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22573: Blogpoesia (749): "Na proximidade do espaço e do tempo"; "A aproximação dos rios"; "Palavras doces" e "Armadilhas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Na proximidade do espaço e do tempo

É na proximidade do espaço e do tempo
Que se notam as nódoas e as impingens no rosto.
A aparência é enganadora.
Só no voo rasante dos olhos se vêem as manchas e erupções da pele e faltas de barba.
De longe tudo parece sereno e quase morto.
Não é no momento que se avalia a pessoa.
É preciso segui-la de perto.
Por onde anda e o que faz para viver.
A honestidade só se prova perante o abismo da corrupção.


Berlim, 19 de 2021
16h7m
Jlmg


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A aproximação dos rios

Cobrem de verde as hortas e vinhedos das aldeias.
Regam os campos com regos que ensopam os pés do milho
Que só aloira no verão.
Como é belo vê-los bailando ao vento como velas pandas de moinhos.
Suas margens aninham ninhos do passaredo
Que não tem onde cair de pé.
Sinuosos, enfadonhos, entumecidos,
Fazem curvas e enseadas onde apetece tomar banho.
Como riem às gargalhadas como os putos nus depois da escola.


Berlim, 20 de Setembro de 2021
19h45m
Jlmg


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Palavras doces

Com palavrinhas doces e festinhas mansas se criam amigos para toda a vida.
É impossível viver sem amigos.
Vem uma dor de barriga de ranger os dentes e zás...aí vamos a correr para o médico.
Se calha cumprir pena de prisão- ninguém está livre de pecar,
Corremos todos os amigos de fio a pavio, à espera duma visitinha.
O mundo seria um inferno sem as amizades entre os irmãos.


Berlim, 21 de Setembro de 2021
22h2m
Jlmg


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Armadilhas

A vida está cheia de armadilhas.
A cada passo tropeçamos nelas,
Por mais cuidados que tenhamos.
Para não falar já dos burlões.
Aparecem em qualquer esquina.
E, zás, ficamos sem a carteira.
Todo o cuidado é pouco.
Orelhas arrebitadas e olhos vivos.
É a receita apropriada.


Berlim, 24 de Setembro de 2021
17h20m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22555: Blogpoesia (748): "Palavras coloridas"; "De novo, no bar motocas" e "O meu voo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 19 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22555: Blogpoesia (748): "Palavras coloridas"; "De novo, no bar motocas" e "O meu voo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Palavras coloridas

Minhas palavras sejam balões coloridos a voar por esses ares acima.
Voem longe, brilhem ao sol.
Derramem encanto e esperança
Aos olhos que as contemplem
Ou sonhos de alegria aos mais tristes que houvera.
Me devolvam consolação
Para minha ânsia a soluçar.
Sosseguem meu coração
Nas horas negras de acordar.
Que suas cores garridas amortalhem minha vida
Até minha hora de morrer.


Berlim, 12 de Setembro de 2021
16h9m
Jlmg


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De novo, no bar "motocas"

Mesmo com chuva seu encanto é total.
Aqui continuam as mesmas pessoas do costume.
Os "motocas" todos empoeirados aqui estão.
Cavaqueando descontraidamente suas agruras e tristezas.
A natureza tem o mesmo encanto de sempre.
As árvores revestidas de chuva transmitem bem-estar.
Tantas recordações por aqui esvoaçam.
Somos clientes há uns bons aninhos...


Bar dos "motocas"15 de Setembro de 2021
14h45m
Jlmg


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O meu voo

Agora é tão baixinho o meu voo.
Parece que perdi o fôlego de voar.
Se foram aqueles rasgos que me levavam às alturas.
É fraco o meu élan.
Voo raso ao chão frio e seco.
Mas sinto em mim a esperança da chuva
Que me inspire neste inverno
Já que não é a primeira vez...


Berlim, 16 de Setembro de 2021
17h14m
Jmendes Gomes

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22537: Blogpoesia (747): "Sou um chorão..."; "Meu lar" e "Sei dum rio - Camané", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 12 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22537: Blogpoesia (747): "Sou um chorão..."; "Meu lar" e "Sei dum rio - Camané", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Sou um chorão...

Choro com muita facilidade.
Me comovo fácilmente.
Um violino que toca.
O timbre duma voz vibrante.
A pose dum actor brilhante.
O cantar do pintassilgo
Que vem cada manhã,
Cantar à minha janela,
Até me acordar.
A despedida dumas férias grandes
Em que fomos mesmo felizes
Com todos os filhos...


Ericeira, 29 de Agosto de 2021
15h38m
Jlmg


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Meu lar

É bom chegar.
Aquele cantinho, com tudo ao pé.
As nossas coisas,
Que a vida deu
Se juntaram todas.
A companhia de cada hora.
As nossas escolhas.
Que o sonho modela.
Um espaço único.
À nossa medida e gosto.
Parecido a nós...


Berlim, 10 De Setembro,
8h46m
Jlmg


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Sei dum rio - Camané

Rua seca com pedras presas,
Sobe e desce neste bairro.
Rua negra em noite escura.
Rua branca no dealbar de cada dia.
Alinhadas tantas casas,
Tantos destinos vivos,
Bons vizinhos,
Testemunhando as vidas.
Com alegrias e tristezas certas.
Cada um as suas.
É fatal.
Ligações eternas.
Ficam para sempre...


Berlim, 11 de Setembro de 2021
ouvindo Camané
8h46m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22496: Blogpoesia (746): "Larachas..."; "Dar a volta ao texto" e "As virtudes do silêncio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 29 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22496: Blogpoesia (746): "Larachas..."; "Dar a volta ao texto" e "As virtudes do silêncio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Larachas...

Há gente que passa a vida na laracha.
Carência de afirmação.
Precisam de ver a reacção para satisfação própria.
Carecem dela.
Se sentem secos, inferiores, se o não conseguem.
São os habituês dos cafés que entram a vozear banalidades incomodando toda a gente
E os que se cruzam no caminho.
O mundo está cheio deles.


Bar Castelão, 24 de Agosto de 2021
1036m
Jlmg


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Dar a volta ao texto

Por vezes é preciso dar a volta ao texto para encontrar o que ele esconde.
As palavras não são unívocas.
Seu sentido depende sempre do contexto.
O que parece um insulto pode ser um elogio.
Tão frequentes são os equívocos.
Ninguém acorda sempre com o mesmo humor.
Há noites de pesadelo. De esquecer.
Há outras que custam a acordar...


Bar Castelão em Mafra, 26 de Agosto de 2021
11h4m
Jlmg


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As virtudes do silêncio

Brotam do chão as virtudes do silêncio.
Reverdecem do húmus da terra virgem.
Florescem coloridas nas flores das borboletas.
Exalam cheiros que enchem o peito de sonhos.
Ficam secas na secura do deserto da consciência.
Mirram mortas quando a esperança morre.
Só o sol da vida as faz renascer.


Bar Castelão em Mafra, 27 de Agosto de 2021
1015m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22381: Blogpoesia (745): "Vagueio em liberdade"; "As três condições" e "Meu rumo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 22 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22475: Blogpoesia (746): "Agendamento"; "A nossa intimidade" e "Passar despercebido", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Agendamento

A vida é feita de compartimentos.
Cuidar da previsão dos factos é tarefa indispensável.
Para não haver surpresas desagradáveis.
Caminhar sem saber onde se dão os passos traz percalços.
Quem quer atingir o fim tem rumar no caminho certo.
De contrário arrisca-se a seguir pelo inverso.
Nunca mais lá chega...


Bar Castelão, 17 de Agosto de 2021
11h30m
Jlmg


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A nossa intimidade

Há coisas só nossas.
Secretas.
São a nossa intimidade.
O reino do nosso ser.
Onde plantamos nossos sonhos
E curtimos as tristezas.
Ali reina nossa vontade.
Crescem nossas flores.
Um jardim fechado com rosas e jasmim.
Labirinto da nossa alma.
É o orvalho da esperança que o rega
Para que o fruto seja são e abundante...


Bar Castelão em Mafra , 19 de Agosto de 2021
1056m
Jlmg


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Passar despercebido

Na vida o melhor é não dar nas vistas.
Passar despercebido é o melhor para nós.
Na tropa dava sempre certo.
Quem desse nas vistas estava a ser sempre chamado pelo comandante de pelotão.
Para tudo. Até ao fim da guerra.
Depressa me apercebi. Nunca me arrependi.
E ficou para a vida...


Mafra, 20 de Agosto de 2021
10h25m
Jlmg

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Último poste da série de 18 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22381: Blogpoesia (745): "Vagueio em liberdade"; "As três condições" e "Meu rumo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 18 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22381: Blogpoesia (745): "Vagueio em liberdade"; "As três condições" e "Meu rumo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Vagueio em liberdade...

Vagueio em liberdade pelo infinito do céu como um anjo libertado.
Não me canso de voar.
Buscando sonhos. Reminiscências.
Dão gosto ao meu viver.
Como seria a minha vida sem esse rasgo de liberdade?...
Vou e venho da minha infância quando a vida era só sonhar.
Quem me dera voltar a andar descalço sobre as pedras e o cascalho, naquelas terras verdes da minha infância
Quando o sol e a lua brilhavam mais!...


Mafra, bar "Castelão" 18 de Julho de 2021,
10h16m
Jlmg


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As três condições

Se utilizo bem
Quem sou e o que tenho,
Em meu favor,
Igual a quem,
Por bem,
Me bate à porta,
Acabarei bem os meus dias.
Fui quem devia ser.
O mundo cresceu
E ficou mais feliz
E eu também.
Se oiço, atento
E sigo direito,
O que me vem de dentro,
Para bem meu,
Antes de fazer
O que quero fazer,
Dará sempre certo,
Porque a lei está escrita...
Se apanhei o barco certo,
Com rumo seguro,
Porque o pensei bem,
Antes de me fazer ao mar,
Basta esperar...
E o porto vem.
Porque sei quem sou.
Quem vai comigo.
Vou atento.
No barco certo.
Em boas mãos.
Assim, foi escrito.


Berlim, 16 de Julho de 2013
10h6m
Joaquim Luís Mendes Gomes


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Meu rumo

Cada dia armo e desarmo
a tenda onde durmo
e me abrigo.
Avanço ao ritmo surdo
das minhas marés.
Levo bem presas
minhas amarras
com asas,
que me fazem voar.
Não tenho fronteiras.
Meu destino é o infinito,
Sem amarras nem tendas
Para ter de armar.


Berlim, 15 de Julho de 2013
5h35m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22362: Blogpoesia (744): "De novo, Mafra"; "Azul é o mar da Ericeira"; "O sorriso das flores" e "Notas do piano", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 11 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22362: Blogpoesia (744): "De novo, Mafra"; "Azul é o mar da Ericeira"; "O sorriso das flores" e "Notas do piano", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


De novo, Mafra

Uma cavalgada longa de 3 mil km.
Felizes. Tanta gente diferente passou a nosso lado.
Autoestradas infindas.O sorriso no olhar das famílias.
Na festa das férias.
A pequenada exuberante e irrequieta à volta de seus pais.
Sucederam-se espaços e ambientes diversos.
Verdes. Áridos.
O sol sempre sobre nós iluminando o caminho.
Finalmente a chegada.
Nada mudou.
Agora é a nossa vez.
Amanhã iremos ver o nosso mar...


Mafra, 4 de Julho de 2021
7h12m
Jlmg


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Azul é o mar da Ericeira

Como o azul do céu brilha, assim brilha o mar e o céu ao sol.
Infinito se estende até aos confins o mar azul.
Incessantes chegam até à areia ao sol as ondas.
Num vai e vem constante.
Trazem algas misturadas com a espuma branca.
Grasnam as gaivotas sem cessar.
Retiram do mar o seu sustento.
Fazem bandos alapados sobre a areia mastigando a pescaria que as mantem vivas.
Tímidas se banham as gentes no mar porque o calor não aqueceu ainda o mar.
Só Agosto as porá no ponto certo para um banho sem frio....


Ericeira, 4 de Julho de 2021
17h56m
Jlmg


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O sorriso das flores

Como ri às gargalhadas aquele jardim às cores!...
Rosas e malmequeres. Gladíolos e açucenas.
Fazem raiva a quem passa.
Tecem hinos e louvores.
Confinadas à sua cerca.
Bendito seja o Criador.
Tudo é grátis.
Seu preço é nosso amor.

Mafra, 5 de Julho de 2021
10h21m
Jlmg


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Notas do piano

Escorrem lentas, suaves, as notas do piano.
Tocam Schubert.
As atiça a inspiração.
Um talento que só alguns têm.
Em ondas breves, se evolam.
E, sobre as almas fustigadas de problemas, chove a chuva da ternura e da consolação.
Mesmo fechados, sorriem os olhos da assembleia inebriada.
Lenitivo para as asperezas do dia-a-dia.
Em estado quase divino, sossegam as consciências.


Ouvindo Schubert por Horowitz

Mafra, café Castelão, 7 de Julho de 2021
9he9m
Jlmg

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Último poste da série de 4 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22342: Blogpoesia (743): "Olá! Tudo bueno?..."; "As nuvens em bico dos pés"; "Planaltos e montanhas" e "Despedida", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 4 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22342: Blogpoesia (743): "Olá! Tudo bueno?..."; "As nuvens em bico dos pés"; "Planaltos e montanhas" e "Despedida", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Olá! Tudo bueno?...

Esta é a saudação dos catalães de Roses quando nos encontramos.
A mesma empregada da recepção.


Há uns vinte anos que para aqui vimos.
Somos clientes velhos.
Descobrimos Roses por um acaso.
Quando viemos em trabalho um ano em Perpignan.
Assombrados nunca mais a largamos.
Nunca mais falhamos um ano só.
O hotel Riseck é o nosso hotel.
O ano de espera é de cortar à faca.
Estava a ver que o covid 19 nos ia impedir...
Aqui estamos já com um banho de mar no papo.
Durante uns dias.


Roses, 21 de de Junho de 2021
15h37m
Jlmg


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As nuvens em bico dos pés

As nuvens puseram-se em bico dos pés,
batendo à porta do céu.
Pedem para entrar.
Afinal, vagueiam há séculos infinitos,
ninguém lhes liga nenhum.
Só servem para fertilizar a terra
Para que dê frutos para alimento da humanidade.
Onde está festa que anualmente, lhe deviam fazer?
Por isso, não se admirem por, de vez em quando, ela vos pregar uma partida.
Uma inundação a brincar ou, mesmo, um dilúvio.
Cuidadinho com ela!...


Roses, 27 de Junho de 2021
17h 29m
Jlmg


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Planaltos e montanhas

Planaltos e montanhas movem esta terra imensa e ronda.
Se vestem de verdura e fruto para o sustento da humanidade.
Se aloira colorida.
Com flores e videiras.
São de fogo suas folhas.
E de açúcar os seus cachos gordos.
De vinho rubro se enchem os lagares.
E de espigas se enchem as eiras no estio.
Tanta broa enche nossas cozinhas,
Penduradas desde os caibros.
Um bocado de presunto, fresco e bem curado,
Com uma fatia de pão de milho com uma caneca de vinho tinto.
É um belo lanche que consola e sacia.


Ouvindo Tanauser de Wagner

Berlim, 28 de Junho de 2021
17h45m
Jlmg


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Despedida

Quem chegou, um dia, há-de partir.
Como saltimbancos, aqui vamos, de terra em terra, rumo ao indefinido.
Só há um que sabe nosso destino.
Como borboletas, saltitamos daqui para ali.
Ao sabor de nossos desejos.
Vamos pintando nossos dias com as cores do arco-íris.
Carregando os tons, ora os diluindo ora os carregando.
Nossas sendas são os trilhos que vamos traçando.
Onde fica o termo da nossa carreira, ainda bem que nos foi ocultada.
Só assim poderíamos andar descontraídos.
O dia e hora chegará.
Mas só quando Deus quiser.
Mas não é o fim. Para crentes e não crentes...


Roses, 1 de Julho de 2021
18h00m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22299: Blogpoesia (742): "Corre apressado o tempo..."; Curiosidade" e "A sirene", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 20 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22299: Blogpoesia (742): "Corre apressado o tempo..."; Curiosidade" e "A sirene", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Corre apressado o tempo...

Corre apressado o tempo.
Seus passos são os dias e os anos.
Não vale a pena fugir ou desistir.
Umas vezes benfazejo outras mais agreste.
Há que lhe fazer frente com todas nossas forças.
Evitar os precipícios.
A doença e a melancolia espreitam a cada hora.
Festejar bem nossos sucessos estimulantes.
Um dia, sem cada um de nós ele vai continuar indiferente sua marcha.
Ninguém escapará.
Para todos, crentes ou não, virá depois a eternidade...


Berlim, 15 de Junho de 2021
16h57m
Jlmg


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Curiosidade

Curiosidade, o motor da inspiração.
Sem inspiração e as modulações das formas
Não chegamos à obra prima.
A vida é um caminhar constante para a perfeição.
Seus passos são condição sine qua non para o culminar pretendido.
Enjeitá-lo é por em causa o objectivo...


Berlim, 18 de Junho de 2021
21he 50m
Jlmg


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A sirene

Há coisas da infância que ficam gravadas para sempre na nossa memória.
Uma delas é a sirene.
Lá na vila havia o quartel dos bombeiros
Quando havia um incêndio ou um desastre, a sirene lançava um silvo lancinante a chamar cada bombeiro de suas casas.
Num instante chegavam todos.
O telefone localizava onde era o incidente.
De seguida era o silvo da ambulância rubra que apitava.
A criançada do lugar e outra vinha de longe para assistir.
Lembro o fogo que alastrou na casa de lavoira do Codeçal em Varziela.
Um criança estava dentro da casa a arder...
Foi aí que eu vi, era miúdo, o Sr. Pereira da Elisinha da Forca, pegar numa manta encharcada e avançar pelas chamas dentro.
Pouco depois, aparecia com a criança nos braços entre um mar de palmas da gente a aplaudi-lo.
Nunca mais esqueci....


Berlim, 29 de Junho de 2021
16h46m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22278: Blogpoesia (741): "As alegrias da vida"; A fantasia"; "Tradições" e "Sementeira", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 13 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22278: Blogpoesia (741): "As alegrias da vida"; A fantasia"; "Tradições" e "Sementeira, da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


As alegrias da vida

Nenhuma maior que a alegria de viver.
Mesmo que, de vez em quando, haja um sofrimento.
Acordar de manhã e ver o sol raiar,
espalhando a vida sobre a terra.
Adormecer à noite com a consciência tranquila do dever cumprido.
Não dever nada a ninguém.
Às vezes também é preciso.
É bom sinal.
Emprestar ou pedir emprestado estreita os laços da solidariedade.
E isso é bom para a convivência.
É destas alegrias que nasce a nossa felicidade...


Berlim, 13 de Junho de 2021
18h6m
Jlmg


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A fantasia

A configuração duma realidade que não existe.
Fruto duma inspiração momentânea.
Baila dentro da nossa mente como uma nuvem nos céus ao vento.
Suas formas são variáveis.
São capricho de cada momento.
Por vezes são granizo.
Outras neve cristalizada,
Cobrindo em manta a terra negra.
Quem me dera voltar à minha infância
para construir duendes caiados de fantasia...


Berlim, 10 de Junho de 2021
11h39m
Jlmg


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Tradições

São a história duma aldeia.
Seu passado de glórias ou de infortúnios.
As lembram todas com saudade ou com tristeza.
Os bons anos de colhritas.
Se encheram os lagares e os celeiros.
Boas espigas e de bom vinho.
Aquele verão cego de granizo
Que dizimou numa tarde todo o vinho bem promissor.
Aquela festa do São Pedro que, num repente, esventrou as tendas cheias de vinho à caneca e de bons petiscos.
Regos de água escorriam furibundo pelas valetas,
Pela Santa abaixo.
Já se clamava clemência aos céus pelo fim da tempestade...


Berlim, 8 de Junho de 2021
17h10m
Jlmg


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Sementeira

Só com uma sementeira à hora apropriada
é que a terra negra reverdece e frutifica.
É preciso lavrar a terra
para depois colher do que semeou.
Se assim não for virá a secura dos celeiros e lagares
E se morrerá de fome e de sede.
A vida tem de se viver atentamente.
Quem o não faz perderá todos recursos
e cairá no parasitismo impróprio e desumano.
Depressa o caminho se abrirá ao roubo
e a todas as suas necessárias consequências...


Ouvindo Schubert

Berlim, 12 de Junho de 2021m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22272: Blogpoesia (740): "Guiné-Bissau - Canchungo", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)

domingo, 6 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22259: Blogpoesia (739): "Orgulho e Preconceito"; Encruzilhadas da vida" e "Fiz-me ao largo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Orgulho e Preconceito

Grande parte do que reveste os nossos actos
é crosta espessa de preconceitos.
Inúteis. Deformantes.
Desviantes.
Fátuos e falaciosos.
Antinaturais,
contrários à transparência
e à verdade
que é lei geral da natureza.
Somos um misto
se usa chamar
de "corpo e alma".
Um ser minúsculo.
Que nos faz diferentes
e superiores no mundo.
Insatisfeito, querendo ser grande.
Todos diferentes.
Todos iguais.
Nem mais nem menos.
Sentimos a fome e a sede.
Sentimos a dor
que nos faz sofrer.
Parece um mal.
Na realidade não é.
É só a força
que nos faz lutar
e nos faz viver.
Tudo que temos e somos
é para ser melhor.
Com hierarquia.
Com equilíbrio.
O essencial primeiro.
Depois o resto.
Com peso e medida,
para não deformar.
Fazendo crer
o que não somos
e que o que temos
só a nós devemos.
Nada mais falso.
Tudo se aprende.
Desde o andar de pé
até o falar.
Desde o mais simples
ao mais complexo.
E nunca é demais,
Se for para melhor.

Berlin, 5 de Junho de 2015
6h45m
já reina o sol
Joaquim Luís Mendes Gomes


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Encruzilhadas da vida

Um dia, lá atrás, troquei de senda numa encruzilhada da vida.
Era um jovem, na esperança da aurora.
Seguia um sonho nascido na infância.
Influência do Abade velhinho que mais me marcou.
O Abade João.
Vivia como um pobre.
Desde miúdo, ajudava-o à Missa.
Sabia de cor aquela latinada toda,
Do Intróito ao Credo.
Ouvia-lhe as práticas, em palavras tão simples.
Falavam de Deus, num tom cordial.
Senti-me chamado.
Por ali era o caminho.
Mas, como, se tudo era caro e não havia tostão?
Não sei como, o seminário se me abriu e comecei a subir.
Mais de cem ao meu lado.
Diversas origens e maneiras de ser.
O céu se alargou de saber.
Língua latina, a mãe do português.
Ciências e história.
A história de Cristo.
Um exemplo a seguir.
Cada vez mais apertado.
Cheguei à teologia, um mar de valor.
Senti-me um homem.
Numa encruzilhada tremenda.
Dois rumos possíveis.
Medi minhas forças.
Supondo. Tudo dependia de mim.
Errei.
Um dia, peguei minha mala.
Aquele sonho de infância apagou.
Hoje, com honra, sou pai e avô,
Abençoado por Deus.


Berlim, 1 de Junho de 2019
7h39m - dia de sol titubeante
Jlmg


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Fiz-me ao largo

Alheio às vagas,
Fiz-me ao mar.
Fui para o largo.
Sem artes,
Sem redes.
Desarmado.
Uma vontade louca
De me ver solto.
Olhar de longe a terra,
E sua costa extrema,
No silêncio.
Pacata e submissa.
Ignorar as suas guerras.
Suas arruaças.
Como das estrelas
Eu estou alheio.
Ver nela o nascer do sol.
E se erguer para um céu azul.
Quero afastar-me,
A perder de vista.
Ficar só eu
E a vastidão do mar,
Uma parcela do infinito.
Vou começar de novo,
Do lado de lá.
Ganhar raízes,
Noutro chão puro.
Onde não haja ruas,
Mortas,
A fervilhar de carros,
Nem torres ao alto,
Só com janelas.
Colmeias vazias,
Estéreis,
Sem favos e sem abelhas.
Onde a rainha seja só
A natureza virgem,
Prenha de paz.
Quero viver na terra,
De pé e nu,
Como vim ao mundo
E começar do nada.
Ser pai Adão com nova Eva.


Berlim, 1 de Junho de 2014
6h52m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22237: Blogpoesia (738): "Apoteose"; Desafinar"; "Este segredo é meu" e "Há gemidos nas ruelas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 30 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22237: Blogpoesia (738): "Apoteose"; Desafinar"; "Este segredo é meu" e "Há gemidos nas ruelas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Apoteose

Uma sala iluminada que se apaga.
Uma orquestra em banda larga que se espraia.
Um maestro esbelto que aguarda sua hora.
Ao toque seco da batuta, uma doce e inebriante melodia que enche a sala.
A assembleia atenta e calada, aguarda seu lenitivo.
A vida, cá fora, é dura.
Convém esquecê-la, ainda que por momentos.
É a forma de amenizar suas agruras.
Só o amor de Deus no coração
A suplanta em magnitude...


Berlim, 29 de Maio de 2021
18h36m
Jlmg


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Desafinar

É preciso ter voz e ouvido para não desafinar.
Uma sem outra é uma desgraça para quem os ouvir cantar.
Conversas sem sentido são conversas desafinadas.
Não trazem nada de interessante.
Só as mentes sadias podem dar bons pensamentos.
Para isso é preciso cultivá-los.
Boas leituras e sérias meditações.
São muito perigosas as que o não são.
Principalmente para as crianças e jovens em formação.
Podem comprometer seu futuro...


Berlim, 24 de Maio de 2021
17h15m
Jlmg


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Este segredo é meu

Este segredo é meu.
Não dou nem o vendo.
Irá comigo até ao fim.
Ele me alumia.
Se se apagar ficarei só.
Pobre e triste.
Com ele vivo na penumbra dos sentimentos.
Não me esmaga o sonho.
Pelo contrário.
Faz-me viver em pleno.
Sem ele seria mais um fantasma.
E já há demais...


Berlim, 25 de Maio de 2021
12h54m
Jlmg


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Há gemidos nas ruelas

Vaguear à toa pelas ruelas dos bairros de Lisboa,
Altas horas das madrugadas,
Ouve gemidos aqui e ali.
São de dor ou de prazer.
Um remédio sempre à mão.
A vida é dura e cruel.
Por vezes, só por ali se obtém o refrigério.
A solidão é a pior dor.
Só passa com um simples aconchego.
As mais das vezes de quem tem o mesmo sofrimento.


Berlim, 26 de Maio de 2021
21h35m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22220: Blogpoesia (737): "Semelhanças e diferenças"; Quem espera..."; "Revolução" e "Definições", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728