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quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25863: Manuel de Pinho Brandão: entre o mito e a realidade - Parte II (J. L. Mendes Gomes / Victor Condeço, 1943-2010)







Em 1935, o Manuel de Pinho Brandão já estava na Guiné, como se infere desta reclamação que ele apresentou ao Chefe da Repartição Central dos Serviços de Administração Civil, sediados em Bolama.  

O reclamante apresenta-se nestes termos: 

(i) "Manuel de Pinho Brandão, maior, solteiro, proprietário e comerciante, residente em Bolama";

(ii) "o expoente é dono e senhor de uma propriedade rústica   denominado "Belém", [na] área da Circunscrição Civil de Fulacunda, exercendo legítima e legalmente o comércio com os indígenas da propriedade, a quem concede regalias na agricultura e exploração dentro dela";

(iii) o reclamente  insurge-se contra a cobrança de imposto de extração de vinho de palma ("licença de fiuração") a indígenas  manjacos  que, com a sua autorização, praticavam esta atividade na sua propriedade para consumo exclusivamente próprio;

(iv) o administrador de Fulacunda  mandou-lhes cobrar, indevidamente, o imposto na importância de 760$00 (talvez mais de 500 euros, a preços de hoje):

(v) além disso, terá  usado e abusado da sua autoridade, mandando prender e conduzir ao posto de Empada aqueles indígenas;

(vi) pede. por fim, que sejam "restituídos aos indígenas interessados os escudos 760$00  para o bom nome das autoridades administrativas e para o bem geral da colónia".


A reclamação, em papel selado e devidamente estampilhada,  é datada de Bolama, 16 de julho de 1935.  A assinatura do reclamante é reconhecida pelo notário de Bolama.  O Manuel de Pinho Brandão tinha carimbo comnercial com indicação da caixa postal, Bolama, nº [ilegível, 26 ? ]. 


Fonte: Casa Comum | Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Bissu | Pasta: 10429.230 | 
 
Conjunto de documentação [10 folhas]  relativa a reclamação, apresentada pelo comerciante Manuel de Pinho Brandão, proprietário do terreno denominado "Belém", na área da Circunscrição Civil de Fulacunda, que se insurge contra a cobrança de imposto de extracção de vinho de palma a indígenas que, com a sua autorização, praticam esta actividade na sua propriedade para consumo exclusivamente próprio. | Data: Julho de 1935 - Setembro de 1935 | Fundo: C1.6 - Secretaria dos Negócios Indígenas | Tipo Documental: Documento (...)

Citação:
(1935-1935), Sem Título, Fundação Mário Soares / C1.6 - Secretaria dos Negócios Indígenas, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=10429.230 (2024-8-20)


 
 1.  Sabemos que em 1935 o Manuel de Pinho Brandão já estava na Guiné, como se comprova pelo  documento, de 10 pp., acima reproduzido, e  que está no arquivo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), de Bissau, disponibilizado em formato digital, na  Net, pelo portal Casa Comum / Fundação Mário Soares.

Também sabemos que em 1946 tinha diversas propriedades, incluindo em Ganjola (Catió), Cachanga (Catió), Cangalaia,  Iassé e Cauane (Ilha do Como):


Fonte: In: Estácio, António J.E. (2002) – O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense, in: Actas, V. Semana Cultural da China, Centro de Estudos Orientais, ISCSP/UTL: 431‑66


2. Mas também consta o seu nome (ou de um  homónimo) num processo de "expulsão" do território, por "atividades subversivas"


Seria interessante slguém do nosso blogue poder consultar este documento do Arquivo Histórico Diplomático... 

Será que o Francisco seria o tal Chiquinho que, segundo o o Mário Dias, ser filho do velho Brandão da Ilha do Como, e se yornou "turra" e que já teria morrido em 1964 ? (*) 

 O Manuel de Pinho Brandão seria o pai, o velho Brandão, ou algum "júnior" ? Sabemos que o velho Brandão espalhou os seus genes pela Guiné...

Inventário dos arquivos do Ministério do Ultramar

Código de Referência: PT/AHD/MU/GM/GNP/RNP/0559/08865

Título: Expulsões de Manuel de Pinho Brandão e Francisco Pinho Brandão

Data(s): 1964

Nível de descrição: Unidade de Instalação

Dimensão e suporte: 1 U.I.; papel

Idioma: Português

Notas: Classificador do Arquivo do Gabinete dos Negócios Políticos: P17: Segurança Nacional: Sanções Penais aos colaboracionistas com os inimigos.

Entidade detentora: Arquivo Histórico Diplomático


3.  Vejamos, entretanto, o que  mais se diz, no nosso blogue, sobre este homem, em cuja história de vida  se mistura a lenda e a realidade...  Terá conhecido a "época de ouro" da Guiné, com o governador Sarment0 Rodrigues, no pós-guerra, em que era um dos grandes colonos do sul da Guiné, até à decadència (física, económica e social) com o início da "subversão"... Náo sabemos quando nem onde morreu.. O J. L. Mendes Gomes faz um retrato humaníssimo da sua companheira, de alcunha "Sexta-feira" (tal como o companheiro de infortúnio  do Robinson Crusoé).


(ii) Joaquim Luís Mendes Gomes [ex-alf mil at inf, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]

(...) Era-nos fácil imaginar, com sadia cobiça, a deliciosa época da vida colonial, de antes da guerra, para os felizardos, a quem a sorte, em boa hora, escorraçara, com a pena de desterro, por feitos heterodoxos à moral reinante das gentes da metrópole.

Era o caso do Sr. Brandão, de Ganjola (...) , a quinze km de Catió, um injustiçado lavrador das terras de Arouca. Ali vivia há dezenas de anos, por assassínio, cometido numa das romarias da Senhora da Mó. No meio dos folguedos e romarias, por vezes, acertavam-se contas atrasadas, duma qualquer hora de desavença, mesmo no fim da missa domingueira.

O Sr. Brandão, agora, era um velhote, rodeado de filhos e netos que foi gerando, ao sabor das madrugadas de batuque e da liberdade de escolha, sem custos, entre as mais viçosas bajudas da tabanca…

Uma negra, velha, mas de rosto e olhar, ainda iluminados por olhos meigos, como a sua voz, doce, era a predileta, de sempre. Seu nome, Sexta-Feira. Soava bem aos ouvidos dos falares balantas, fulas ou mandingas. Era ela quem lhe tratava das tarefas caseiras. Dedicada. Sem nada cobrar, para além do breve e malicioso sorriso do velho Brandão, quando lhe despontava o desejo do seu corpo, negro, sem idade. Podia despontar a qualquer hora. Sexta-Feira ali estava, sempre dócil e submissa.

Uma loja farta de tudo o que chegava na carreira regular das barcaças de Bissau. Os lindos panos de cor garrida e os gordos cordões reluzentes, de fantasia, com que as negras tanto gostavam de se enfeitar.

O vinho tinto da metrópole era o regalo dos ociosos negros, de rostos engelhados e curtidos pelo álcool, pela tarde fora, a par da cachaça de coco.O saboroso bacalhau, curado nas míticas secas da Figueira da Foz e Aveiro, tão apreciado e toda a sorte de ferragens eram tudo o que aguçava o desejo daquelas gentes, para a troca do arroz, milho, mandioca, galinhas e demais produtos que, em cortejo lento e constante, pelas picadas entre as frondosas matas, traziam em açafates, à cabeça.O preço era feito, à medida da vontade gulosa do velho, matreiro e bem afortunado, Brandão.

Dizia-se que tinha metade das terras de Arouca… não fosse o diabo tecê-las. Ali, vivia, pacatamente, como se não houvesse guerra, numa típica mansão colonial, de um piso sobreelevado, com um varandim a toda a volta, com as dependências necessárias à farta panóplia de utensílios, alfaias e mercadoria. (...)



A senhora Sexta-Feira


por J. L. Mendes Gomes  (*)


Vivia em Ganjola,
arredores de Catió.
Era a doce companheira
do senhor Brandão. 

Um desterrado de Arouca
a cumprir pena na Guiné.

Fez-se comerciante,
vendia de tudo aos nativos,
por todo o sul desde Bedanda a Cufar.

Faziam bicha em corropio
as mulheres negras,
açafates à cabeça,
e filhinhos atrás das costas.

Traziam ovos,
traziam galinhas,
de cristas rubras,
e levavam arroz e sal
para suas tabancas.

Sua casa era um palacete,
à beira-rio,
onde abundavam os crocodilos,
mas havia peixe a dar com pau.

Ali fui parar um mês com meu pelotão.
Como num quartel.
Ali dei com o célebre Brandão,
sempre rodeado de muitas crianças,
que lhe ventilavam o ar,
na sua esteira suspensa.

E havia uma senhora negra,
cabelo grisalho
um rosto belo,
cheio de rugas,
e uns olhos brilhantes,
um sorriso divino e puro.

Era a Sexta-Feira.
Cozinhava tão bem!...
Que será feito dela?


Berlim, 19 de Junho de 2015, 8h47m
Joaquim Luís Mendes Gomes

[ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]



Foto nº 1



Foto nº 1A


Foto nº 2

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola > Meninos, filhos de habitantes locais, dois deles irmãos, os mestiços . Dizia-se que eram filhos (ou netos?) do velho Brandão (que não sabemos quando e onde morreu). 

O que foi feito destes meninos e desta menina, pretos e mestiços de Ganjola ? Estarão vivos ? Casaram ? Tiveram filhos ? Vivem na sua terra ? São felizes e livres ? Ficamos sempre fascinados pelas fotos de gente da nossa Guiné, de ontem e de hoje... Quantas histórias não ficarão por contar se não inquirirmos estas fotos ?

Fotos do nosso saudoso grão-tabanqueiro  Victor Condeço (1943-2010) [ex- fur mil mec armamento, CCS / BCAÇ 1913, Catió , 1967/69 ], com quem ainda falei, ao telefone, pouco tempo antes de morrer. Uma conversa dramática; ele sabia o que o esperava... Oxalá tenha morrido em paz...


Foto nº 3


Foto nº 3A



Foto nº 3B

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) >    Foto 31  do Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel >> "Cerimónia militar em fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART 1689 da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967. Edifício do comando. Presença de militares, civis da administração, correios e comerciantes locais. Vista parcial do quartel com as tropas em parada".




Foto nº 4

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Foto 32A do álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel >   "Cerimónia militar em fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART 1689 da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967. Edifício do comando. Presença de militares, civis da administração, correios e comerciantes locais." > Pormenor; quatro funcionários dos correios (à esquerda), seguidos de quatro comerciantes, o libanês José Saad (e filha), o Mota, o Dantas (e filha) e o Barros.



Foto nº 5



Foto nº 5A

Guiné > Região de Tombali > Catió > Foto 26 do álbum fotográfico de Vitor Condeço (ex-Furriel Mil, CCS do BART 1913, Catió 1967/69) > Catió, Vila > 1968> A praça do mercado, vista de quem vinha da pista [tirada à porta da casa do sr. Barros Correia]. À direita o Mercado, ao fundo à esquerda a casa do Sr. Brandão e à direita debaixo da mangueira o Bar Catió e bem ao fundo o quartel.



 Fotos (e legendas) do nosso saudoso Victor Condeço (1943/2010) / Edição e legendagem complementar:  © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados.

(iv) Victor Condeço (1943-2010) [ex- fur mil mec armamento, CCS / BCAÇ 1913, Catió , 1967/69 ]

(...) Na verdade falta ali,  naquela foto [nº 4] , o Pinho Brandão, decerto terá sido convidado tal como outros comerciantes que também não aparecem na foto, caso dos Srs. Coelho, Adib e João,  da casa Gouveia.

Poderão estar na foto Catió_Quartel-31 junto do edifício da direita, junto de outra população mas não dá para reconhecer quem é quem. De memória também não sei se estiveram ou não. [Foto nº 4] 

Contudo pela lembrança que tenho do Sr. Manuel Pinho Brandão, é muito provável que não tenha estado presente. Era pessoa bastante reservada, nunca o vi no quartel nem sequer na rua.

As falas dele com militares ou civis resumiam-se ao Bom dia ou boa tarde, entre dentes, quando ao passarmos à sua casa o cumprimentávamos.

A maioria dos seus dias passava-os na sala de sua casa de esquina frente ao mercado [foto Catió_Vila-26], de portas abertas, na sua cadeira de repouso, fumando.

A lembrança que tenho da família que com ele vivia em Catió é muito vaga, mas lembro-me perfeitamente de duas bonitas, mestiças, suas filhas, das quais não me lembro o nome, jovens na casa dos 20 anos, que confeccionavam bolos de aniversário por encomenda. (...) (***)
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domingo, 13 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22995: Blogpoesia (764): "O perfume das cores"; "Remate" e "As flores do rio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


O perfume das cores

Cheiravam a camélias as alamedas floridas da entrada no palácio da fidalga que era viúva.
Vinham de longe os carros para os banquetes, noite adentro.
Enquanto batiam a fome as horas famintas do povo escravo.
Eram um mar de cores os campos lavrados dos rendeiros.
Se ouvia o zumbido doce das abelhas esfaimadas.
Caíam lentas as horas em saudosas badaladas.
Da torre ao alto, às horas certas, caíam as trindades, convidando à oração ao Criador.
Enquanto a manta do negrume recolhia as gentes em quentes madrugadas.
Era assim que se vivia nos meus tempos saudosos de criança.
Era escassa a abundância mas se respirava de abundante felicidade.


Berlim, 26 de Janeiro de 2022
16h38m
Jlmg


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Remate

Tudo no campo flui para o remate.
Dribles. Corridas esquadrinhadas sobre o relvado.
Por tudo se esforçam os jogadores.
Fintam. Fazem que vão mas ficam.
Avançam por trás e pela frente.
Fazem sempre o contrário.
A surpresa é o seu forte.
A rapidez estonteante traz sempre o sucesso.
Quem quer ganhar tem de rematar.
Seu inimigo atento é o guarda-redes.
Só perde quando deixa cair as chaves.
À volta rugem os apupos estridentes da populaça, dando saída aos maus instintos.
No final aquele relvado verde fica um deserto de silêncio

Onde só vagueiam os fantasmas.


Berlim, 1 de Fevereiro de 2022
16h48m
Jlmg


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As flores do rio

Orquídeas, acácias e camélias, tingem às cores as margens verdes do rio.
Tecem enseadas. As praias do sonho para quem o mar está longe.
Se enchem as praias de tendas às cores.
Se regalam nas cadeiras as gentes sedentas de iodo do mar.
De tempos a tempo, passam os vendedores de guloseimas.
Engodo das crianças e regalo dos pais.
- "línguas de sogra"! gritam os vendedores que palmilham a praia.
O sustento da casa que o espera à ceia.


Berlim, "bar dos motocas" arredores de Berlim
8 de Fevereiro de 2022
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22933: Blogpoesia (763): "Quando o nome é maior que a pessoa"; "Os botões caem" e "De nariz arrebitado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 23 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22933: Blogpoesia (763): "Quando o nome é maior que a pessoa"; "Os botões caem" e "De nariz arrebitado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Quando o nome é maior que a pessoa

O talento que põe certas pessoas acima da normalidade apouca a pessoa que o tem.
Beethoven. Einstein e tantos mais se apagam perante a celebridade da sua obra.
Talvez seja o preço que a natureza cobra pela admiração que toda a gente lhes rende.
Pelo privilégio do pedestal.
Prefiro ser mais rasteiro.
Ficar na sombra.
Quanto mais alto se sobe, normalmente, maior a queda.
Abençoados os simples porque deles é o reino dos céus...


Berlim, 16 de Dezembro de 2021
11h
Jlmg


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Os botões caem

Mesmo bem pregados, à máquina ou à mão.
Não ficam para sempre.
Como a gente. Ninguém cá fica.
Nem para a semente.
Para nós há um campo santo.
Que tudo aproveita.
A terra é insaciável.
Não destrói.
Vêm os vermes. Chama-lhes um figo.
Só os ossos. Nada os quer.
Para quê tanta vaidade?...


Berlim, 17 de Dezembro de 2021
9h27m
Jlmg


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De nariz arrebitado

Andar de nariz arrebitado oculta um medo.
E é perigoso.
Olhar para o ar se cai num buraco ou pisa uma silva.
Faz sangrar.
Mais vale andar atento.
Ser normal. Comedido.
Tudo se vê a tempo.
Tudo é lucro.


Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22802: Blogpoesia (763): "Rosto alegre"; "Verdes anos" e "A vida não é um concurso", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 12 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22802: Blogpoesia (763): "Rosto alegre"; "Verdes anos" e "A vida não é um concurso", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Rosto alegre

Não é feliz o rosto cavado de rugas e sofrimento.
A vida agreste as rasgou impunemente.
Afogam o coração de amargura e dor.
Trazem as saudades da saúde que se foi.
É o risco de viver, sem regra e juízo.
Mais vale viver no equilíbrio e sobriedade.
Cá se fazem. Às vezes tudo se perde.
Sem remissão.


Berlim, 9 de Dezembro de 2021
9h57m
Jlmg


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Verdes anos

Eram verdes os anos da minha infância.
Havia braços paternais que me guardavam.
Tratavam as minhas feridas quando caía ao chão.
Dormia tranquilamente as noites.
Sonhava sonhos cor da esperança.
Ainda me sobrava tempo para minhas traquinices.
Sem qualquer maldade.
Que pena não ter ficado lá atrás.
Meu futuro foi garantido.


Bar "motocas" arredores de Berlim, 8 de Dezembro de 2021
11h50m
Jlmg


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A vida não é um concurso

Não somos todos iguais.
Cada um é como é e nasceu.
Ninguém melhor que ninguém.
A vida não é um concurso.
Não há vencedores nem vencidos.
Cada um dá o que tem e que sabe.
O progresso vem do concurso de todos.
Que nunca sejam melhores uns que outros.
Cada um rema com os braços que tem.
Só assim o barco avança.


Berlim, 7 de Dezembro de 2021
14h17m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22782: Blogpoesia (762): "Pelas ruas de Berlim"; "As nuvens da horta" e "A vida é uma lição", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 5 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22782: Blogpoesia (762): "Pelas ruas de Berlim"; "As nuvens da horta" e "A vida é uma lição", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Pelas ruas de Berlim

Correm rios de frio pelas ruas de Berlim.
Não tarda vira gelo.
Caiando de branco o chão negro.
Onde dormita o húmus da fertilidade.
Se acocoram ali os vermes
Fugindo à voragem devastadora dos corvos famintos.
Cá de cima, os olhos se deliciam com a brancura alvinitente que veste a natureza.
Consolação para a tristeza imobilizadora do covid 21.


Berlim, 26 de Novembro de 2021
16h57m
Jlmg


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As nuvens da horta

As nuvens cansadas voltam ao mar.
Secaram ao sol ao fogo de Agosto.
Morrendo de sede encheram a pança.
Voltaram à terra emprenhando as hortas de couve e flor.
Grelaram-lhe os olhos.
Encheram as mesas de sal e azeite.
Quem me dera comê-las faminto
Como foi em criança.


Berlim, 2 de Dezembro de 2021
20h00m
Jlmg


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A vida é uma lição

Nossos erros são a aprendizagem.
Quem os desperdiça despreza a vida
E as lições que ela nos dá.
Eles são nosso caminho
Que os pés aprendem bem.
Não importa voltar para trás.
É maior o bem que o que custa.
Para é perder tempo.
Para ganhar há que perder.
Não haveria grandes obras
Se seus autores tivessem desistido.
Não importa o tempo que falta.
Enquanto há vida há que viver.


Ouvindo "Liebestraum" de Liszt

Berlim, 3 de Novembro de 2020
18h27m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22736: Blogpoesia (761): "Não deixes arrefecer"; "Semeio palavras"; "Ramagens de letras" e "Nem só massa com feijão", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 21 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22736: Blogpoesia (761): "Não deixes arrefecer"; "Semeio palavras"; "Ramagens de letras" e "Nem só massa com feijão", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):

Não deixes arrefecer

Depois do frio, acaba por vir a morte,
Se não alimentares a tua chama.
Só no calor a vida medra.
Sem ele o mundo seria um polo norte.
Sem desvios a terra gira ronda, apesar da inclinação do eixo.
O equilíbrio só vem com esforço de cada momento.
Ele só vinga com boas acções.
Quem quiser ser grande, tem de despir seu corpo da vaidade inútil...


Berlim, 13 de Novembro de 2021
11h20m
Jlmg


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Semeio palavras

Semeio palavras. Sementes da alma.
As mando aos ares.
Caiam como chuva e germinem.
Abro comportas. Que reguem os campos lavrados.
Cresçam e aloirem. Farinha de pão.
Alimento do corpo e sobretudo da alma.
Espero que gostem.
Me brotam em fogo.
Suave milagre à vista dos olhos.
Um privilégio gratuito caído dos céus...


Berlim, 13 de Novembro de 2021
1425m
Jlmg


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Ramagens de letras

Bordo ramagens de letras pintadas nas árvores.
Os ramos dançantes sacodem o pó seco ao sol.
Ufanas, as árvores sorriem cantando ao silvo do vento.
Se abrigam os pássaros tecendo seus ninhos.
Alegres os pais trazem bicadas que poisam nos bicos.
Contentes ficam cantando as famílias dos filhos.
É a primavera que vem no comboio do tempo.
Assim passa depressa demais avida tão breve.


Berlim, 17 de Novembro de 2021
18h5m
Jlmg


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Nem só massa com feijão

Para ser feliz não chega só massa com feijão.
É preciso variar à mesa.
Puxar pela imaginação e buscar ementas e vestir o corpo com roupas novas.
Andar na moda para não ficar para trás.
Os olhos são insaciáveis.
Procuram beleza e não se cansam.
Quem quiser viver feliz tem de suar e fazer por isso.
Não basta só massa com feijão.
Muito menos a pão e água.
É preciso ir à adega por um bom vinho.


Berlim, 18 de Novembro de 2021
10h21m
Jlmg

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Notas do editor

Último poste de J.L. Mnendes Gomes de 14 de Novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22718: Blogpoesia (759): "Ilusão da eternidade"; "Ideias embrulhadas"; "Insolência" e "Nem só as vacas mugem", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Último poste da série de 14 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22719: Blogpoesia (760): Operações e Missões, e dos nomes que lhes davam (7) (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845)

domingo, 14 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22718: Blogpoesia (759): "Ilusão da eternidade"; "Ideias embrulhadas"; "Insolência" e "Nem só as vacas mugem", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Ilusão da eternidade

Caminhamos nesta vida na ilusão de que é eterna.
Temos a sensação que a criança tem na sua infância.
Nunca mais passam as aulas da primária e da catequese.
Pelo contrário, o recreio passa vertiginoso.
Quando se podia colher a melhor fruta na horta fechada da vizinhança sem problemas.
E que sabor!...
Toda a gente o fazia na sua infância.
Aquelas uvas gordas.
Que doçura a dos morangos e das cerejas.
As amoras bravias dos silvados.
Eram de toda a gente.
Cresciam livres ao sol aberto.
Nunca mais as coisas foram assim docinhas!...

Berlim, 2 de Novembro de 2021
11h15m
Jlmg


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Ideias embrulhadas

Embrulho minhas ideias em palavras.
As remeto depois pelo correio.
Registadas com aviso de recepção.
Quero que cheguem bem ao seu destino.
As mando para meus amigos com saudade.
Das horas mais alegres da nossa infância.
Na escola e na catequese dos dos velhos tempos.
As mais felizes que nós temos.
Fico à espera das respostas.
Oxalá boas como sempre.
Quero lê-las nas horas mais tristes
Que a todos surpreendem.


Berlim, 3 de Novembro de 2021.
17h10m
Jlmg


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Insolência

Não é preciso insolência para viver em paz.
A vida tece-se de boas acções.
Cada um dá as suas.
O meu contributo hoje é dar as boas vindas aos que hoje vieram ao mundo.
Saborear o privilégio de viver.
Viver tem seus problemas, mas se tudo calhasse bem, seria insípida.
Perderia todo o sentido.
Ela é breve. Aproveita-a bem...


Berlim, 9 de Novembro de 2021
11h53m
Jlmg


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Nem só as vacas mugem

Nem só as vacas mugem. Também os bois.
Quem teve a dita de ir a África e calcorrear as florestas
Ouviu rugidos de estontear e meter medo.
As aves gigantescas. Os leões da selva.
O matraquear dos tambores nas cubatas, para afugentar as feras,
na noite negra e transmitir mensagens.
Não havia celulares.
Perdurarão para sempre na minha memória de oficial militar
Que teve a dita de regressar à metrópole, vivo e em bom estado.
Que será feito dos soldados do meu pelotão?...


Berlim, 10 de Novembro de 2021
20h5m
Jlmg

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Notas do editor

Último poste de Joaquim Luís Mendes Gomes de 31 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22673: Blogpoesia (752): "A força da rotina"; "Piano dos sabores"; "De novo nos motocas" e "Janela da alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Último poste da série de 13 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22716: Blogpoesia (758): Operações e Missões, e dos nomes que lhes davam (6) (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845)

domingo, 31 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22673: Blogpoesia (752): "A força da rotina"; "Piano dos sabores"; "De novo nos motocas" e "Janela da alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


A força da rotina

Nossa vida assenta nas rotinas.
Umas boas. Outras menos.
Dão firmeza à vida.
Tornam difíceis as surpresas maléficas.
Alisam o caminhar na vida.
Quando se quebram, abre-se um fosso donde convém sair depressa.
Outras terão de surgir para que o barco da vida navegue certo e chegue a bom porto.


Berlim, 29 de Outubro de 2021
15h18m
Jlmg


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Piano dos sabores

Na bancada breve da cozinha, toco alegre e consolado a sinfonia dos sabores.
Nela escrevo lindas letras com sabor a satisfação.
Me banho no mar de sonho das boas ementas.
Me deito consolado, à noite, em cada dia.
Me levanto cada manhã, desperto, pelo cheirinho do café.
Quem me dera ter meus pais e irmãos de sangue como os tive por pouco tempo.
Os recordo agora com saudade no meio dos netos e filhos que a Ana me deu...


Berlim, 24 de Outubro de 2021
14h23m
Jlmg


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De novo, no "motocas"

Com sol ou com chuva, o encanto é sempre certo.
As mesmas caras sorridentes descansando dos rigores da vida.
Se espraiam pelas mesas descansados.
O balcão está recheados de petiscos e guloseimas.
É vê-los a devorá-los com satisfação.
Tornou-se obrigatório vir aqui ao menos uma vez por semana.
Fica-se recobrado das forças e com força de viver.
Hoje, está chuvoso.
Havia "bichas" no trânsito mas valeu.


Berlim, arredores de Berlim,
10h48m
Jlmg


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Com curvas e letras

Com curvas e letras soletro palavras,
Pinto ideias. Mando mensagens.
Espero sorrisos.
Alimento esperanças e sonhos.
Incendeio quimeras.
Descrevo caminhos.
Avanço promessas.
Planto afagos.
Afogo maleitas.
Quem dera encontre amigos
Desfaça intrigas.
Aguardo a paz.


Berlim, 10 de Outubro,
17h49m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22616: Blogpoesia (751): "Bons hábitos"; "Louvor a Deus"; "Vá e desapareça..." e "Janela da alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 10 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22616: Blogpoesia (751): "Bons hábitos"; "Louvor a Deus"; "Vá e desapareça..." e "Janela da alma", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Bons hábitos

Bons hábitos na vida são aqueles que nos fazem viver.
Se cresce vivendo.
A letargia cria micróbios mortais.
Voltar ao "motocas" é um nosso hábito velho.
Saímos daqui difrentes. Melhores.
Por isso aqui estamos mais uma vez.
É preciso sair de casa.
O mofo é inimigo do bem-estar.
Lá fora do "motocas" há um mar de motas, espampanantes.
Os alemães são espalhafatosos nos seus fatos a rigor.


Bar dos "motocas", 26 de Setembro de 2021
16h8m
Jlmg


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Louvor a Deus

Louvar a Deus por cada momento de nossa vida é tarefa que não pode parar.
Erguer ao céu nossos olhos em cada dia que nasce e se põe.
Atravessá-la como uma viagem que não tem paragem nem retorno.
Sentir seu peito a arder em fogo de oração.
Vela a arder que nunca apaga...


Berlim, 2 de Outubro de 2021
17h25m
Jlmg


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Vá e desapareça...

Vá e desapareça esta névoa negra de dor e constrangimento
Que nos humilhou e reduziu a zero.
Pró inferno e lá fique soterrada eternamente.
Alcançou sòzinha como guerra atroz o que uma guerra faz sem matar as gentes.
Dizimou penachos e vaidades ocas de poder e glória.
Cobriu os rostos que são espelho da alma e fonte de alegria e de tristeza.
Secou a fonte benfazeja da sã convivência.
Reinou despótica enquanto quis.
Só desertou quando lhe deu na real gana, sem dizer adeus...


Berlim, 3 de Outubro de 2021
17h20m
Jlmg


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Janela da alma

A voz é nossa janela da alma.
Por ela espreitamos prá-frente e prós lados.
Não há canto ou recanto onde ela não vá.
Traduz em palavras os vãos das escadas.
Perscruta escaninhos ocultos sem conta.
Revela segredos.
Pinta quadros de cor com letras doiradas.
Exala os sonhos, poemas que dormem profundos.
Enquanto houver vida nunca se cala.
Um dom e uma prenda a janela da alma.


Berlim, 9 de Outubro de 2021
17h25m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de7 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22608: Blogpoesia (750): "Guiné-Bissau - Canchungo", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)

domingo, 26 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22573: Blogpoesia (749): "Na proximidade do espaço e do tempo"; "A aproximação dos rios"; "Palavras doces" e "Armadilhas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Na proximidade do espaço e do tempo

É na proximidade do espaço e do tempo
Que se notam as nódoas e as impingens no rosto.
A aparência é enganadora.
Só no voo rasante dos olhos se vêem as manchas e erupções da pele e faltas de barba.
De longe tudo parece sereno e quase morto.
Não é no momento que se avalia a pessoa.
É preciso segui-la de perto.
Por onde anda e o que faz para viver.
A honestidade só se prova perante o abismo da corrupção.


Berlim, 19 de 2021
16h7m
Jlmg


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A aproximação dos rios

Cobrem de verde as hortas e vinhedos das aldeias.
Regam os campos com regos que ensopam os pés do milho
Que só aloira no verão.
Como é belo vê-los bailando ao vento como velas pandas de moinhos.
Suas margens aninham ninhos do passaredo
Que não tem onde cair de pé.
Sinuosos, enfadonhos, entumecidos,
Fazem curvas e enseadas onde apetece tomar banho.
Como riem às gargalhadas como os putos nus depois da escola.


Berlim, 20 de Setembro de 2021
19h45m
Jlmg


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Palavras doces

Com palavrinhas doces e festinhas mansas se criam amigos para toda a vida.
É impossível viver sem amigos.
Vem uma dor de barriga de ranger os dentes e zás...aí vamos a correr para o médico.
Se calha cumprir pena de prisão- ninguém está livre de pecar,
Corremos todos os amigos de fio a pavio, à espera duma visitinha.
O mundo seria um inferno sem as amizades entre os irmãos.


Berlim, 21 de Setembro de 2021
22h2m
Jlmg


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Armadilhas

A vida está cheia de armadilhas.
A cada passo tropeçamos nelas,
Por mais cuidados que tenhamos.
Para não falar já dos burlões.
Aparecem em qualquer esquina.
E, zás, ficamos sem a carteira.
Todo o cuidado é pouco.
Orelhas arrebitadas e olhos vivos.
É a receita apropriada.


Berlim, 24 de Setembro de 2021
17h20m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22555: Blogpoesia (748): "Palavras coloridas"; "De novo, no bar motocas" e "O meu voo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 19 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22555: Blogpoesia (748): "Palavras coloridas"; "De novo, no bar motocas" e "O meu voo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Palavras coloridas

Minhas palavras sejam balões coloridos a voar por esses ares acima.
Voem longe, brilhem ao sol.
Derramem encanto e esperança
Aos olhos que as contemplem
Ou sonhos de alegria aos mais tristes que houvera.
Me devolvam consolação
Para minha ânsia a soluçar.
Sosseguem meu coração
Nas horas negras de acordar.
Que suas cores garridas amortalhem minha vida
Até minha hora de morrer.


Berlim, 12 de Setembro de 2021
16h9m
Jlmg


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De novo, no bar "motocas"

Mesmo com chuva seu encanto é total.
Aqui continuam as mesmas pessoas do costume.
Os "motocas" todos empoeirados aqui estão.
Cavaqueando descontraidamente suas agruras e tristezas.
A natureza tem o mesmo encanto de sempre.
As árvores revestidas de chuva transmitem bem-estar.
Tantas recordações por aqui esvoaçam.
Somos clientes há uns bons aninhos...


Bar dos "motocas"15 de Setembro de 2021
14h45m
Jlmg


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O meu voo

Agora é tão baixinho o meu voo.
Parece que perdi o fôlego de voar.
Se foram aqueles rasgos que me levavam às alturas.
É fraco o meu élan.
Voo raso ao chão frio e seco.
Mas sinto em mim a esperança da chuva
Que me inspire neste inverno
Já que não é a primeira vez...


Berlim, 16 de Setembro de 2021
17h14m
Jmendes Gomes

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22537: Blogpoesia (747): "Sou um chorão..."; "Meu lar" e "Sei dum rio - Camané", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 12 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22537: Blogpoesia (747): "Sou um chorão..."; "Meu lar" e "Sei dum rio - Camané", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Sou um chorão...

Choro com muita facilidade.
Me comovo fácilmente.
Um violino que toca.
O timbre duma voz vibrante.
A pose dum actor brilhante.
O cantar do pintassilgo
Que vem cada manhã,
Cantar à minha janela,
Até me acordar.
A despedida dumas férias grandes
Em que fomos mesmo felizes
Com todos os filhos...


Ericeira, 29 de Agosto de 2021
15h38m
Jlmg


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Meu lar

É bom chegar.
Aquele cantinho, com tudo ao pé.
As nossas coisas,
Que a vida deu
Se juntaram todas.
A companhia de cada hora.
As nossas escolhas.
Que o sonho modela.
Um espaço único.
À nossa medida e gosto.
Parecido a nós...


Berlim, 10 De Setembro,
8h46m
Jlmg


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Sei dum rio - Camané

Rua seca com pedras presas,
Sobe e desce neste bairro.
Rua negra em noite escura.
Rua branca no dealbar de cada dia.
Alinhadas tantas casas,
Tantos destinos vivos,
Bons vizinhos,
Testemunhando as vidas.
Com alegrias e tristezas certas.
Cada um as suas.
É fatal.
Ligações eternas.
Ficam para sempre...


Berlim, 11 de Setembro de 2021
ouvindo Camané
8h46m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22496: Blogpoesia (746): "Larachas..."; "Dar a volta ao texto" e "As virtudes do silêncio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 29 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22496: Blogpoesia (746): "Larachas..."; "Dar a volta ao texto" e "As virtudes do silêncio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Larachas...

Há gente que passa a vida na laracha.
Carência de afirmação.
Precisam de ver a reacção para satisfação própria.
Carecem dela.
Se sentem secos, inferiores, se o não conseguem.
São os habituês dos cafés que entram a vozear banalidades incomodando toda a gente
E os que se cruzam no caminho.
O mundo está cheio deles.


Bar Castelão, 24 de Agosto de 2021
1036m
Jlmg


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Dar a volta ao texto

Por vezes é preciso dar a volta ao texto para encontrar o que ele esconde.
As palavras não são unívocas.
Seu sentido depende sempre do contexto.
O que parece um insulto pode ser um elogio.
Tão frequentes são os equívocos.
Ninguém acorda sempre com o mesmo humor.
Há noites de pesadelo. De esquecer.
Há outras que custam a acordar...


Bar Castelão em Mafra, 26 de Agosto de 2021
11h4m
Jlmg


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As virtudes do silêncio

Brotam do chão as virtudes do silêncio.
Reverdecem do húmus da terra virgem.
Florescem coloridas nas flores das borboletas.
Exalam cheiros que enchem o peito de sonhos.
Ficam secas na secura do deserto da consciência.
Mirram mortas quando a esperança morre.
Só o sol da vida as faz renascer.


Bar Castelão em Mafra, 27 de Agosto de 2021
1015m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22381: Blogpoesia (745): "Vagueio em liberdade"; "As três condições" e "Meu rumo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 22 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22475: Blogpoesia (746): "Agendamento"; "A nossa intimidade" e "Passar despercebido", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Agendamento

A vida é feita de compartimentos.
Cuidar da previsão dos factos é tarefa indispensável.
Para não haver surpresas desagradáveis.
Caminhar sem saber onde se dão os passos traz percalços.
Quem quer atingir o fim tem rumar no caminho certo.
De contrário arrisca-se a seguir pelo inverso.
Nunca mais lá chega...


Bar Castelão, 17 de Agosto de 2021
11h30m
Jlmg


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A nossa intimidade

Há coisas só nossas.
Secretas.
São a nossa intimidade.
O reino do nosso ser.
Onde plantamos nossos sonhos
E curtimos as tristezas.
Ali reina nossa vontade.
Crescem nossas flores.
Um jardim fechado com rosas e jasmim.
Labirinto da nossa alma.
É o orvalho da esperança que o rega
Para que o fruto seja são e abundante...


Bar Castelão em Mafra , 19 de Agosto de 2021
1056m
Jlmg


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Passar despercebido

Na vida o melhor é não dar nas vistas.
Passar despercebido é o melhor para nós.
Na tropa dava sempre certo.
Quem desse nas vistas estava a ser sempre chamado pelo comandante de pelotão.
Para tudo. Até ao fim da guerra.
Depressa me apercebi. Nunca me arrependi.
E ficou para a vida...


Mafra, 20 de Agosto de 2021
10h25m
Jlmg

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Último poste da série de 18 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22381: Blogpoesia (745): "Vagueio em liberdade"; "As três condições" e "Meu rumo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 18 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22381: Blogpoesia (745): "Vagueio em liberdade"; "As três condições" e "Meu rumo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Vagueio em liberdade...

Vagueio em liberdade pelo infinito do céu como um anjo libertado.
Não me canso de voar.
Buscando sonhos. Reminiscências.
Dão gosto ao meu viver.
Como seria a minha vida sem esse rasgo de liberdade?...
Vou e venho da minha infância quando a vida era só sonhar.
Quem me dera voltar a andar descalço sobre as pedras e o cascalho, naquelas terras verdes da minha infância
Quando o sol e a lua brilhavam mais!...


Mafra, bar "Castelão" 18 de Julho de 2021,
10h16m
Jlmg


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As três condições

Se utilizo bem
Quem sou e o que tenho,
Em meu favor,
Igual a quem,
Por bem,
Me bate à porta,
Acabarei bem os meus dias.
Fui quem devia ser.
O mundo cresceu
E ficou mais feliz
E eu também.
Se oiço, atento
E sigo direito,
O que me vem de dentro,
Para bem meu,
Antes de fazer
O que quero fazer,
Dará sempre certo,
Porque a lei está escrita...
Se apanhei o barco certo,
Com rumo seguro,
Porque o pensei bem,
Antes de me fazer ao mar,
Basta esperar...
E o porto vem.
Porque sei quem sou.
Quem vai comigo.
Vou atento.
No barco certo.
Em boas mãos.
Assim, foi escrito.


Berlim, 16 de Julho de 2013
10h6m
Joaquim Luís Mendes Gomes


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Meu rumo

Cada dia armo e desarmo
a tenda onde durmo
e me abrigo.
Avanço ao ritmo surdo
das minhas marés.
Levo bem presas
minhas amarras
com asas,
que me fazem voar.
Não tenho fronteiras.
Meu destino é o infinito,
Sem amarras nem tendas
Para ter de armar.


Berlim, 15 de Julho de 2013
5h35m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22362: Blogpoesia (744): "De novo, Mafra"; "Azul é o mar da Ericeira"; "O sorriso das flores" e "Notas do piano", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728