Mostrar mensagens com a etiqueta Memórias cruzadas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Memórias cruzadas. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25222: Memórias cruzadas: A Op Safira Solitária (em que o PAIGC sofre um dos maiores reveses da guerra, no Morés) e o delirante comunicado, em francês, do Amílcar Cabral em que fala de uma derrota amarga dos colonialistas portugueses, incluindo a morte de 102 militares e o suicidio do... comandante da operação, que foi o major comando Almeida Bruno



Amílcar Cabral (1924-1973) > c. 1970 >  Foto  do líder histórico do PAIGC, incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe, editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC  (1970)... O "culto da personalidade" com a ajuda dos amigos suecos (mas também italianos, franceses, etc.)...

O homem que assina o comunicado de 4 de janeiro de 1972 não podia ser um tipo "inteletualmente honesto"...  Aceitava "acriticamente" todas atoardas que os seus comandantes no mato lhe faziam chegar a Conacri, incluindo a notícia (manifestamente exagerada...) do suicídio do major comando Bruno de Almeida, futuro cmdt do Batalhão de Comandos da Guiné, de 2 de novembro de 1972 a 27 de julho de 1973... 

Neste comunicado (vd. abaixo), o Amílcar Cabral, em desespero de causa, transforma um dos maiores desaires militares do PAIGC, no coração das "áreas libertadas" (o mitico Mores) numa heróica vitória do seu povo em armas... Mas era assim que se construíam os mitos revolucionários naquele tempo....

O então capitão Almeida Bruno, ajudante de campo do gen Spínola, fotografado no decorrrer da Op Ostra Amarga, na mata da Caboiana, em 18 de outubro de 1969. (Foto do arquivo do Virgínio Briote, reproduzida, a preto e branco, na pág. 223, do livro de memórias do Amadu Djaló).


1. Comunicado original, em francês, datilografado, a 2 folhas, datado de 4 de janeiro de 1972, e assinado pelo Secretário Geral, Amílcar Cabral (tradução, revisão e fixação de texto: LG)



PAIGC - Comunicado

O governo português, por intermédio do Estado Maior das tropas colonialistas no nosso país,  tornou público, no dia 29 de dezembro último, um "comunicado especial", relativamente aos resultados de uma operação designada "Safira Solitária" ("Saphir Solitaire", em francês), lançada contra a zona libertada do Morés, no centro-norte, a cerca de 50 km de Bissau.


Este comunicado especial, ao mesmo tempo que reconhece que as tropas colonialistas tiveram 61 baixas no decurso da operação, vêm fazer elogios à ação e à "técnica avançada" dos nossos combatentes, ao mesmo tempo que pretende fazer crer que se trata de grupos infiltrados do Senegal, enquadrados por cubanos e "mercenários estrangeiros africanos".

 Estamos perante uma tentativa desesperada, da parte do Estado Maior colonial e particularmente do governador militar, de esconder a amarga derrota, infligida às tropas colonialistas pelas nossas forças armadas e pelo povo em armas.


Convém esclarecer, em primeiro lugar, que o Sector do Morés, onde a luta armada foi desencadeada em julho de 1963, é uma zona libertada desde 1964, em que a organização do Partido e do nosso Estado em desenvolvimento é uma das mais sólidas.

É neste  sector que o escritor francês Gérard Chaliant assim como os cineastas e jornalistas Mario Marret e Isidro Romero (franceses), Piero Nelli e Eugenio Bentivoglio (italianos), Justin Vyera, Justin Mendy e Mamlesa Dia (africanos), Oleg Ignatiev (soviético), Nicolai Bozev (búlgaro) e tantos outros, rodaram os seus filmes e fizeram reportagens bem conhecidas da opinião mundial, nomeadamente europeia.

Lembremos, além disso, que o dito "Comunicado Especial" afirma que, durante os combates, as forças armadas regulares do nosso Partido estavam reforçadas por mais de 300 elementos da milícia popular, a qual, no quadro da nossa organização, é uma força armada local integrada pelos camponeses e camponesas do sector.


Com base nos relatórios recebidos do Comando da Frente Norte e do sector do Morés, assim como em informações provenientes de Bissau e Mansoa, estamos em condições, neste momento, de esclarecer a opinião pública sobre o que se passou no sector do Morés, entre 20 e 26 de dezembro último.

Face à intensificação da acção dos nossos combatentes que, em dezembro, tinham atacado por por diversas vezes todos os campos fortificados do centro-norte do país, nomeadamente


as cidades de Farim e Mansoa, e as importantes guarnições de Bissorã e Olossato, o Estado Maior colonialista convenceu-se que nós estávamos a preparar uma ação mais ampla por altura do fim do ano, nomeadamente um novo ataque contra a capital.

Foi tomada então a decisão de desencadear uma operação de grande envergadura contra as nossas forças na região, em particular no sector do Morés, conhecida como uma base importante,


Assim, na manhã de 20 de dezembro, vários contingentes de tropa colonialista, estimados em cerca de 800 homens, saídos dos quartéis da região, e dos comandos especiais helitransportados de Bissau, penetraram no sector do Morés, vindos de várias direcções, depois de um bombardeamento aéreo intensivo.

No decurso de vários reencontros e emboscadas realizadas tanto pelos combatentes das nossas forças armadas regulares como pelas forças armadas locais e o povo armado, a tropa colonial foi posta em debandada, tendo vindo em seu socorro os aviões a jacto, e helicópteros para evacuar os mortos e os feridos.

Os nossos combatentes mataram 102 militares inimigos, tendo ferido


várias dezenas. Os hospistais de Bissau transbordaram com a chegada de feridos, de tal modo que não havia lugar para todos. O comandante português que dirigiu a operação dita "Safira Solitária", suicidou-se.

Os colonialistas portugueses  sabem muit0 bem (e estes resultados mostraram-no mais uma vez) que, se é fácil dar às suas operações uma designação de estilo nazi, o nosso povo não tem necessidade de recorrer a combatentes ou a quadros não nacionais,  para transformar estas operações em amargas derrotas.


Noite de 4 de janeiro de 1972, 
Amílcar Cabral, Secretário Geral


Comunicado PAIGC, datilografado, a duas págimas, redigido em francês, datado da noite de 4 de jneiro de 1972, e assinado pelo Secretário geral Amílcar Cabral

Fonte: Casa Comum |  Instituição: Fundação Mário Soares |  Pasta: 07197.160.006 | Título: Comunicado do PAIGC analisando os resultados da operação "Safira Solitária" | Assunto: Comunicado assinado por Amílcar Cabral, Secretário Geral do PAIGC, analisando os resultados da operação "Safira Solitária" lançada contra o sector de Morés, cujos dados foram divulgados pelo Estado Maior do Exército Português num comunicado especial. | Data: Terça, 4 de Janeiro de 1972 | Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Documentos. | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral | Tipo Documental: Documentos. Citação (1972), "Comunicado do PAIGC analisando os resultados da operação "Safira Solitária"", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42402 (2024-2-28)


2. Despacho da Agência Lusitânia, datada de Bissau, 29 Dez 1971 (não nos foi possível encontrar este comunicado das Forças Armadas na imprensa de Lisboa, e em especial no "Diário de Lisboa", neste dia e dias imediatos)

 
BISSAU, 29 Dez 1971  - Comunicado especial do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné: 

"Numa das mais importantes operações militares realizadas no Teatro de Operações da Guiné, as forças guerrilheiras acabam de sofrer um expressivo revés.

"Desde Outubro, final da 'época da chuvas',  que o Comando, através dos seus orgãos de pesquisa,  vinha acompanhando os movimentos de infiltração do inimigo nas florestas da área do Morés, situada no norte da Província, tendo lançado algumas operações de diversão com vista a criar no inimigo uma falsa sensação de segurança que o levasse a continuar a concentrar meios na referida área,  o que efectivanente se verificou. 

"A crescente adesão das populações à causa nacional permitiu que,  através de informações seguras e detalhadas, colhidas no seio do próprio dispositivo inimigo, se localizassem exactamente as posições inimigas e se completasse o conhecimento do esquema da sua denominada 'Ofensiva do Natal' e definida nos seguintes termos constantes em documentos apreendidos: Oposição a todo o custo ao asfaltamento das estradas Mansoa - Bissorâ e Bula- Bissorâ - Olossato; desencadeamento dum conjunto de acções ofensivas na quadra do Fim de Ano sobre as povoações mais importantes da área, nomeadamente Bissorã, Mansoa, Olossato, Mansabá e sobre todos os novos aldeamentos. 

" De posse de todos os elementos foi planeado, no maior sigilo, uma grande operação visando envolver, cercar e aniquilar as forças de guerrilha concentradas na referida área fulcral do Morés.  Montada a operação, denominada 'Safira Solitária', foi esta levada a efeito por unidades da força africana e teve início ao alvorecer do dia 20,  prolongando-se até à tarde do dia 26,  tendo as nossas forças sido guiadas na floresta por elementos das populações da área pertencentes à nossa rede de informações que conhecia a localização precisa das posições inimigas. 

"Apesar de colhido de surpresa,  o inimigo estimado em 6 bigrupos, 2 grupos armados de armas pesadas instalados em posições fortificadas e cerca de 333 elementos armados da milícia popular, opôs durante os três primeiros dias tenaz resistência,  acabando todavia por ser desarticulado e aniquilado, tendo sofrido 215 mortos confirmados, entre os quais três cubanos, e alguns mercenários estrangeiros africanos, 28 capturados, além de apreciável número de feridos. Segundo declarações dos capturados, encontravam-se na área pelo menos mais 4 elementos cubanos. 

"Verificou-se que o inimigo estava implantando no Morés um sistema de fortificação de campanha do qual se destacavam espaldões para armas pesadas e abrigos subterrâneos para pessoal. Os grupos de guerrilha, pela resistência que ofereceram,  revelaram uma sensível melhoria de enquadramento e uma técnica mais avançada de guerra de posição. 

"No decurso da operação foi capturado o seguinte material: 1 canhão sem recúo B-10, 2 morteiros de 82 mm, 2 morteiros de 60mm, 3 metralhadoras pesadas Goryonov, 7 lança-granadas RPG-7, 14 espingardas automáticas Kalashnikov, 38 espingardas semi-automáticas Simonov, 8 espingardas Mosin Nagant, 14 pistolas metralhadoras PPSH, além de avultado número de armas de repetição, de cunhetes de munições, fitas e carregadores, destruídos no local por desnecessárias. 

"As nossas forças sofreram 8 mortos, 12 feridos graves e 41 feridos ligeiros." 

_____________

Nota do editor:

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25111: Memórias cruzadas: pistolas Walther P38 alegamente capturadas ao nosso exército, e distribuídas ao pessoal do PAIGC, ainda antes do início oficial da guerra... (José Macedo, ex-2º ten fuzileiro especial, RN, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74, a viver agora nos EUA)



A pistola Walther, P38, de 9 mm, de origem alemã, foi adoptada pelas nossas Forças Armadas, em 1961, como pistola 9 mm Walther m/961, vindo substituir a Parabellum.
Foi desde logo utilizada na guerra colonial em África (nova versão P1).  




Declaração: 
"Nós, abaixo assinados, declaramos que da mão do nosso camarada Pascoal recebemos duas pistolas marca Walther, números 770809 e 241113, com quatro carregadores 100 balas (sic) 
com cinquenta cada um.

Koundara, 3 de novembro de 1961
aa) Braima Solô (?) | Adbul Djaló


Declaração: 
"Nós, abaixo assinados, declaramos que da mão do nosso camarada Pascoal recebemos duas pistolas marca Walther, números 220868K e 214492K, com quatro carregadores 100 balas (sic) 
com cinquenta cada um.

Koundiara, 3 de novembro de 1961
aa) Pedro Gomes Ramos | Hilário Gapar Rodrigues



Fonte: Casa Comum | Fundação Mário Soares | Pasta: 07068.099.028 | Título: Declaração de recepção de pistolas | Assunto: Declaração assinada por Pedro Ramos, Hilário Gaspar Rodrigues, Braima Sôlô e Abdul Djalo, acusando a recepção de pistolas Walther. | Data: Sexta, 3 de Novembro de 1961 | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral |Tipo Documental: Documentos | Página(s): 1

Citação:
(1961), "Declaração de recepção de pistolas", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41059 (2024-1-25)



Pistolas Walther, e respetivos números, alegadamente capturadas ao exército português pelo PAIGC. S/d, s/l.

Fonte: Casa Comum | Fundação Mário Soares |  Pasta: 07056.009.011 | Título: Pistolas Walther nas Zonas 4, 7 e 8 | Assunto: Números de série de pistolas Walther [capturadas ao exército português] nas Zonas 4, 7 e 8. | Data: s.d.Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Material militar (com manuscritos de Amílcar Cabral).Fundo: DAC - Documentos Amílcar CabralTipo Documental: Documentos-

Citação:
(s.d.), "Pistolas Walther nas Zonas 4, 7 e 8", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40992 (2024-1-25)




Pistolas Walther, para a Zona 11: "P38 9mm | 346 k ac 44 | 3375 d c/ 160 b(alas) | Data: 6/10/1962.


Fonte: Casa Comum | Fundação Mário Soares ! Pasta: 07056.009.021 | Título: Pistolas Walther para a Zona 11 | Assunto: Pistolas Walther para a Zona 11.| Data: Sábado, 6 de Outubro de 1962 | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabrall | Tipo Documental: DocumentosPágina(s): 2


Citação:
(1962), "Pistolas Walther para a Zona 11", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41002 (2024-1-25)


(Com a devida cénia...)


  
1. Mensagem do nosso amigo e  camarada José Macedo  (ex-2º tenente fuzileiro especial, RN, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74; nasceu na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951; vive nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008):

Data - quinta, 23/03/2023, 21:31
Assunto - Pistolas Walther


Boas noites, camarada. Espero que lá em casa estejam todos de saúde (parece as cartas do 'Nino' ao Aristides Pereira).

Tenho passado algum tempo a ler,  na Casa Comum, o Arquivo Amilcar Cabral,  e tenho encontrado alguma correspondência em que eram enviadas pistolas Walther para as diferentes Frentes. E como cada pistolas tinha o seu número de série, fico curioso em saber se seria possível identificar as  unidades a que  pertenciam as pistolas que foram capturadas.

Um abraço,

Zeca Macedo

2. Comentário de LG:

Vai ser muito difícil, se não impossível,  a alguém (incluindo o nosso especialista em armamento, o Luís Dias) (*) dar-te uma ajuda no esclarecimento desta questão... 

Tendo em conta o ano (1961 e 1962), mas também a quantidade (nos documentos acima repriduzidos são duas dezenas), é de todo imprável que estas pistolas Walher tenham sido capturadas pelo PAIGC ao exército português... 

De facto, não consta que tenha sido assaltado por forças do PAIGC (ainda PAI)  algum depósito de armamento em Bissau ou  esquadra de polícia e, muito menos, algum aquartelamento no mato (ainda havia poucos), no início dos anos 60...

E mesmo que fossem pistolas do exército português, só eventualmente no Arquivo Histórico-Militar, e com muita sorte, se poderia encontrar uma lista dessas armas "capturadas pelo IN", com os respetivos números de série... Enfim, seria como encontrar uma agulha num palheiro...  

O mais provável é estas pistolas Walther P38 (a nossa era já a P1) terem entrado clandestinamente na Guiné-Conacri, oriundas de Marrocos ou terem sido  compradas no "mercado negro" (lembro-me de Luís Cabral ter falado nisso, nas suas memórias)... Terão equipado os primeiros comandantes e comissários politicos como nosso conhecido Pedro Ramos, irmão do Domingos Ramos, que andavam a fazer trabalho essencialmente político (propaganda, recrutanento e organização) no interior do território) e ações de sabotagem ... 

O PAIGC oficialmente começou a guerra (dos tiros)  em 23 de janeiro de 1963, com um ataque a Tite.  No meu tempo (1969/71), eles já usavam a pistola russa Tokarev (a CCAÇ 12 apanhou uma a um guerrilheiro: vd foto a seguir)...

De qualquer modo, obrigado pela tua questão. Pode ser que algum camarada tenha mais alguma informação adicional. (**)



Uma pistola de origem soviética, Tokarev, de 7,62, igual ou parecida à que que foi apreendida ao guerrilheiro Festa Na Lona, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única ... Pelo que me recordo, esta pistola ficou à guarda do Alf Mil Abel Maria Rodrigues, comandante do 3º Grupo de Combate, que a tomou como "ronco"... Não sei se a conseguiu trazer para o Continente e legalizá-la... Ao que parece, esta arma teve a sua estreia na Guerra Civil de Espanha, em 1936, nas fileiras do exército republicano, estando distribuída a pilotos e tripulações de tanques, entre outros... (LG).

Fonte: © Kentaur, República Checa (2006)(com a devida vénia...)
 (link descontinuado:
 http://www.kentaurzbrane.cz/shop/images/sklady/tokarev.jpg )

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

(...) A pistola Walther P-38 é uma arma semi-automática, com origem na Alemanha (fábrica Carl Walther), datada originalmente de 1938 e foi a substituta da Luger, como a principal pistola alemã da IIª Guerra Mundial, com provas dadas em diversos teatros de guerra. Em meados dos anos 50, foi seleccionada para equipar o novo Exército da RFA e, com ligeiras alterações, passou a denominar-se P1 e é este modelo que veio para Portugal, passando a ser a pistola das guerras de África. (...)

(**) Último poste da série >  16 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25076: Memórias cruzadas: o que o PAIGC sabia sobre Bubaque, em 1969... "O antigo governador Schulz ia lá de vez em quando, com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá esteve morado. Foi só visitar."...

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25076: Memórias cruzadas: o que o PAIGC sabia sobre Bubaque, em 1969... "O antigo governador Schulz ia lá de vez em quando, com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá esteve morado. Foi só visitar."...


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > 1978  >  O "Palácio do Estado" (hoje, 2024, em completa ruína)... Edifício da época colonial, de arquitetura alemã,conhecido também como "Palácio do Governador"... Do lado esquerdo,  uma outra casa que terá sido construida, para efeito de lazer,  para os oficiais superiores portugueses...  ("Foto tirada pelo médico cirurgião Dr. Luís Tierno Bagulho em 1978, como cooperante, já falecido"). Cortesia de Patrício Ribeiro (*)


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > O "Palácio do Estado" "ou "Palácio do Governador", hoje uma total ruina...


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


ORGANIZAÇÃO, FORNAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA
2-12-69
Audição de camaradas vindos de Bijagós
(A láspis,no alto da folha,está escrito: "Informações recolhidas pelo camarada Vasco Cabral")


(...) BUBAQUE não tem quartel. Tem lá padres italianos (2) e co-
merciantes cabo-verdianos, que são 4. Um deles, sabe-se de certeza
que é contra o Partido e está como empregado encarregado da
Casa Gouveia em Bubaque. A loja da Gouveia vende tecido, compra
coconote, compra óleo de palma. Vende também arroz.
 

Há 3 tugas que trabalham na fábrica de extração de óleo de 
palma. Esta fábrica pertenceu em tempos aos alemães. Esses
tugas estão armados com armas de defesa pessoal - pistolas.
Estão em Bubaque uns 10 cipaios que se enontram armados 
de carabinas Mauser, mas só usasm as armas em momentos
de serviço. O serviço de vigilância é montado poe 2 cipaios : um que circula 
na ilha eoutro que monta a guarda à Administração. Drante o
dia não usam armas no seu serviço. De noite usam as armas.
Por volta das 10h da noite o cipaio da guarda à Administração
custuma ir dormir. Mss o cipaio que vigia a iha faz  ua roda
até de manhã.

De uma maneira eral as pessoas da ilha são favoráveis ao Partido.







ORGANIZAÇÃO, FORNAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA
3-12-69
Audição de camaradas vindos de Bijagós

(...) 2. BUBAQUE - Está contra o Partido um comerciante cabo-verdiano de     
[nome 
Juca Ferraz que pertence à Pide. Também pertence  à
à Pide um outro empregado cabo-verdiano de nome Alberto
dos Santos.

Cada cipaio trabalha 24 h seguidas: das 7h da manhã de um 
dia às 7h da manhã do dia seguinte.

As tabancas grandes têm um nº de pessoas que oscila



entre 600 e 1 000.

Há um outro elemento favorável ao Partido e que ouvia frequente-
mete as nossas emissões. Trata-se de Luís de Barros, empregado da Casa
Espinheiro [? ] .

Há carreiras turística de avião e de barco que vêm de Bissau para
gente visitar as praias ao fim de semana. Em geral, trata-se de oficiais do Exér-
cito português que aí vão com as suas famílias. Às vezes, alguns, aproveitando
o tempo de férias ou gozando um certo tempo de licença, permanecem 15 dias e
até um mês. Existe em construção ainda uma casa destinada a albergar esses
oficiais. Trata-se de um edifício em  3 blocos, cada um com uns 4 quartos,
o que perfaz um total de 12 quartos. Situa-se à beira-mar.

Há também cerca deste edifício a casa do Governador da Guiné que já
está pronta. Trata-se de uma casa grande com 4 grandes quartos, também


está na praia. O antigo governador Schultz  [sic, Schulz ]   ia lá 
de vez  em quando,
com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá
esteve morado. Foi só visitar. (*)

Uns aspirantes [cadetes ] da Marinha, um grupo vindo 
de  Portugal,  comeram  lá perto por altu- 
ras do mês de março e abril. Comeram numa pensão à beira-mar que é des-
tinada aos turistas e que foi construída pelos alemães. Esta casa pertence
ao Estado, mas é explorada comercialmente por um tal Teodoro Romano Pe-
reira.  Há ainda mais 2 casas semelhantes a esta, que pertencem ao
Estado e onde moram os empregados portugueses da Fábrica de Extração de
Óleo de Palma, em nº de 3, havendo um outro ainda de nome Lourenço de Pina.

  [ Seleção, edição,  transcrição, revsão / fxação de texto, parênteses retos: LG ]

Citação:
(1969), "Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41391 (2024-1-16) (Com a devida vénia...)

Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07073.128.006 | 
Título: Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós. | Assunto: Informações de carácter militar, extraídas da audição com os "camaradas" vindos dos Bijagós, sobre Soga, Bubaque, Formosa, Uno, Caravela, Orango, Orangozinho, Canhabaque, Galinhas e Uracane. Organização e formação política e ideológica dos Bijagós, manuscritos por Vasco Cabral. | Data: Terça, 2 de Dezembro de 1969 | Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1965-1969. | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral | Tipo Documental: Documentos.

____________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 15 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25073: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (32): Os encantos e os mistérios da ilha deBubaque (incluindo o "Palácio do Governador", hoje em total ruína, onde o PAIGC quis matar Spínola)

sábado, 11 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24137: Memórias cruzadas: Heremakono ou Hermancono, topónimo de origem mandinga, que quer dizer "à espera da felicidade" (Here=felicidade + makono=esperando) (ler Herêmakonó) (Cherno Baldé)


Senegal > Fronteira com a Guiné-Bissau > PAIGC > Base de Hermancono (antiga Sinchã Djassi, Roel Coutinho chama-lhe "Hermangono") > 1974 >  Mulher 



Senegal > Fronteira com a Guiné-Bissau > PAIGC > Base de Hermancono   > 1974 >  Três jovens estudantes, do sexo feminino.

Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 33 - Hermangono, Guinea-Bissau - Pupils at the northern front - 1974.tif


Senegal > Fronteira com a Guiné-Bissau > PAIGC > Base de Hermancono   > 1974 >  Milícia(s) (assim, de repente, o da esquerda parece levar ao ombro  uma G3). 


Fonte: Wikimedia Commons > Guinea-Bissau and Senegal_1973-1974 (Coutinho Collection) (Com a devida vénia...) . Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. Comentários ao poste P24124 (*) 

Cherno Baldé,
Bissau
(i) Cherno Baldé:

Caros amigos,

Enquanto a gente tenta encontrar o local preciso onde estaria situada a base logística de Hermancono, navegando na Net encontrei um facto muito interessante sobre a origem e significado do termo.

Heremakono, termo ou nome original que vem do grande 
grupo etnolinguístico mandinga, um dos maiores da região ocidental do continente, designa uma localidade ou área habitacional e, pasme-se, significa "esperando a felicidade" - Here = felicidade + makono = esperando (ler Herêmakonó)  ~topónimo muito frequente e que se pode encontrar em vários países da região que contam com 
a presença deste grupo: Mali, Guiné-Conacri, Costa do 
Marfim, Serra-Leoa, Senegal,  entre outros. 

Mas, no nosso caso, tudo indica que teria sido adoptado pelos elementos da guerrilha filiados no PAIGC que, na verdade, eram das mais diversas origens e credos.

Assim, Heremakono ou Hermancono (a corruptela guineense) seria uma espécie de estação de passagem simbolicamente bem pensada e geograficamente bem situada, enquanto esperavam a felicidade suprema da libertação da sua Guiné-Bissau, onde jorraria leite e mel para a eternidade.

Afinal, os homens do Paigc, para além de bons guerrilheiros, também eram poetas e grandes sonhadores.


(ii) Cherno Baldé:

Em 2002 um cineasta mauritano, Adheramane Sissako, realizou um filme centrado no irrestível sonho e vontade dos jovens africanos para a emigração e deu-lhe o sugestivo nome de Heremakono. E qualquer pesquisa na Net será a primeira informação a aparecer.

7 de março de 2023 às 23:55 

(iii) Tabanca Grande Luís Graça

Eureca!... Cherno, a tua intuição, a tua cultura, a tua santa paciência e sobretudo os teus conhecimentos etno-linguísticos são um "valor acrescentado" para o nosso blogue...

Estou inclinado também a seguir o teu raciocínio... Numa pesquisa na Net também encontrei o topónimo Heremakono, em vários países cujos territórios fizeram parte do antigo Império do Mali... Mas o melhor é citar-te, porque tu é que és o nosso mestre:

(...) Heremakono, termo ou nome original que vem do grande grupo etnolinguístico mandinga, um dos maiores da região ocidental do continente, designa uma localidade ou área habitacional e, pasmem-se, significa "esperando a felicidade" -Here = felicidade  +  makono=esperando- (ler Herêmakonó)...

...topónimo muito frequente e que se pode encontrar em vários países da região que contam com a presença deste grupo: Mali, Guiné-Conacri, Costa do Marfim, Serra-Leoa entre outros .
...Mas, no nosso caso, tudo indica que teria sido adoptado pelos elementos da guerrilha filiados no PAIGC que, na verdade, eram das mais diversas origens e credos.

Assim, Heremakono ou Hermancono (a corruptela guineense) seria uma espécie de estação de passagem simbolicamente bem pensada e geograficamente bem situada, enquanto esperavam a felicidade suprema da libertação da sua Guiné-Bissau, onde jorraria leite e mel para a eternidade.


Teria sido algum "djidiu" que se lembrou de "rebatizar" Sinchã Jassi" (leia-se Sintchã Djassi) com o nome Hermancono ou Hermacono ?

Não há dúvida, Cherno, a guerra também se faz com o "simbólico", a força (imaterial) das ideias, das crenças, da poesia, das palavras, da ideologia, e não só com a força (material) das armas... 

Nisso, o Amílcar Cabral foi mestre... num terreno onde os seus rivais (a FLING) e os seus adversários (os Governos de Salazar e Caetano) falharam...

(iv) Tabanca Grande Luís Graça:

O filme passou em Portugal. 

Sinopse: O filme acompanha o dia-a-dia de Nouhadhibou (Mauritânia), cidade portuária, marcado pelo trânsito de emigrantes para a Europa, onde todos espera encontrar "a sua felicidade". Vencedor do FESPACO 2003

"Heremakono / À espera da felicidade"

Realizador: Abderrahmane Sissako  | Ano: 2002 | Documentário | Duração  95 m  | M/12 | França


Aqui está também uma entrada na Wikipedia (em inglês) sobre o filme do realizador mauritano, Adheramane Sissako, "Waiting for Happiness" (título original: Heremakono) (em francês: "Em attendant le bonheur"; em português: "À espera da felicidade") (*)
 

Tradução rápida, para os nossos leitores:

(...) "Waiting for Happiness" (título original: Heremakono; árabe: في انتظار السعادة, romanizado: fīl-intiẓār as-saʿāda) é um filme de drama mauritano de 2002,  escrito e dirigido por Abderrahmane Sissako. 

Os personagens principais são um estudante que voltou para sua casa em Nouadhibou, um eletricista e seu filho aprendiz e as mulheres locais. O filme é caracterizado por uma sucessão de cenas da vida quotidiana dos personagens que são específicas das suas culturas africanas e árabes, figuras que parecem arrancadas às páginas do livro Temporada de Migração para o Norte,  do romancista Tayeb Saleh (موسم الهجرة إلى الشمال). 

O espectador deve interpretar as cenas sem muita ajuda do narrador ou do enredo, enquanto a estrutura do filme se baseia nuuma série de momentos mundanos, mas visualmente atraentes, muitos dos quais se repetem em outras obras da obra de Abderrahmane Sissako, incluindo cenas numa barbearia. e numa cabine de fotos, também presente no seu anterior filme La Vie Sur Terre e posteriormente em Timbuktu. 

O filme apresenta momentos típicos mauritanos de beleza, luta, alienação e humor, vividos por grupos socialmente divididos entre si, como as mulheres Bidhan bebendo chá e fofocando, migrantes da África Ocidental passando pela Mauritânia para chegar à Europa (e encontrando uma camarada mal sucedido que deu à costa). 

O jovem protagonista que voltou, interage com todos esses grupos como um estranho, enquanto luta para se lembrar até mesmo de seu próprio dialeto árabe Hassaniya, mas prefere o francês. Muitos dos temas e personagens pressagiam o filme de Sissako de 2014, Timbuktu, e ambos exploram identidades liminares do Sahel autenticamente situadas na vida quotidiana. Esperando a Felicidade estreou-se no Festival de Cannes 2002 na seção Un Certain Regard.(...)

Sobre o realizador, ver também aqui uma entrada na Wikipedia (em português):

https://pt.wikipedia.org/wiki/Abderrahmane_Sissako

8 de março de 2023 às 15:45 
 
(v) Cherno Baldé:

De salientar que o apelido do realizador mauritano "Sissako" é o mesmo que em outros países, nomeadamente Mali (o grande centro difusor da cultura e de expansão populacional), a República da  Guiné e a nossa Guiné- 
Bissau é Sissoco ou Sissokó.

Ainda, na época colonial havia quem respondesse por Sisseco ou Sisseko, como o caso do ex-alf 'comand0' do Batalhão de Comandos (primeira companhia?). Família de "Djidius" e artistas de longa tradição africana que se espalharam por toda a região Oeste do Oeste e hoje na diáspora.

O vocábulo "makonó", muito utilizado no folclore local, não era muito estranho aos meus ouvidos, grande consumidor, desde a infância, da chamada hoje música Afro-mandinga, mas a corruptela guineense "Hermancono" fazia muito ruído sensorial que impedia a sua compreensão imediata.
___________

Nota do editor:

(*) Vd. poste e 7 de março de 2023 > Guiné 61/74 - 24124: Memórias cruzadas: A base (logística) de Sinchã Djassi / Hermancono, na fronteira com o Senegal (contributos de Carlos Silva, Leopoldo Amado e A. Marques Lopes)

terça-feira, 7 de março de 2023

Guiné 61/74 - 24124: Memórias cruzadas: A base (logística) de Sinchã Djassi / Hermancono, na fronteira com o Senegal (contributos de Carlos Silva, Leopoldo Amado e A. Marques Lopes)


Guiné > Região do Oio > Carta de Jumbembem (1953) / Escala 1/50 mil >  Posição relativa de Jumbembem e do "corredor de Lamel" (que partindo da estrada Farim-Jumbembem, acompanhava o curso do rio Lamel, afluente do rio Jumbembem, passando por Fantambã e Farincó até à fronteira)... Já em território senegalês havia a base (logística) de  Sintchã Djassi (assim chamada talvez em homenagem a Abel Djassi, nome de guerra de Amílcar Cabral ?!...) ou Hermancono  (também grafada como Hermacono ou até Hermangono). Na fronteira com o Senegal, estão sinalizados os números dos marcos, de 105 a 112. Era por aqui que se localizava a base.

Infogravuras: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


Excerto de manuscrito do Carlos Silva, ex-fur mil Carlos Silva, ex-Fur Mil Arm Pes Inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71). (Trata-se de um livro, inédito, sobre a sua experiência de vida na Guiné, aonde, de resto, foi por diversas vezes, a seguir à independência, em trabalho e em turismo de saudade). O nosso camarada é advogado de profissão; tem um valioso espólio documental (fotográfico e literário sobre a Guiné); é um histórico da nossa Tabanca Grande, para a qual entrou em 20/7/2007.

O manuscrito do IN, encontrado no corredorde  Lamel, em 3/3/1970, vem reproduzido também na História da Unidade, BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71), Cap II, pág. 20. Escrito em muito mau português, diz o seguinte (revisão / fixação de texto: LG):

Hermancono, 3-3-70

Oficiais, soldados e fantoches do exército colonial, estão a fazer muito ronco na estrada. Devem saber, e preparem-se,   [a base de] Canjambari já recebeu novo dirigente militar para vos 'tirar no abuso'.   Já estão muito atrevidos no caminho tanto de Bricama como de Sulucó. Temos que vos mostrar qual é o vosso lugar.

Ao nosso primeiro encontro todo o vosso comando tem de vir.

Assinado: FARP. Aviso ao Exército Colonial.




Excertos da História da Unidade - BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71), HU-Cap II -Pág. 20: 

(i) No dia 14 de março de 1970, pelas 8h30, forças da CCAÇ 2548 (Jumbembem, 1969/71) detetaram um acampamento IN a Oeste do marco fronteiriço nº 107. Lançado um golpe de mão, foram feridos 2 elementos IN, e capturado 1 LGFog e 2 granadas de RPG 2, entre outro material. O IN reagiu com armas automáticas e morteiro ligeiro, batendo a área do acampamento a partir da Repúbica do Senegal.

(ii) No dia seguinte, 15, forças da milícia de Cuntima, comandadas pelo cmdt da CCAÇ 2549, executaram uma patrulha de reconhecimento ao longo da fronteira até ao marco nº 105. Detetaram dois elementos IN, que perseguiram.

(iii) A 20 do mês, às 13h30, e durante a interdição do corredor de Lamel, forças da CCAÇ 2548 (Jumbembem) detetaram e perseguiram um grupo IN estimado em 80 elementos. que se deslocavam de Sul para Norte, a 400 metros da sudoeste da ponte. O IN não reagiu ao fogo das NT, e retirou para Norte. De Jumbembem form feitos 13 tiros de obus para a zona de retirada do IN. E, a seguir, a FAP, chamada a intervir, fez um ataque ao solo entre o rio Lamel e Fantambã. Feita uma  batida imediata, foram encontradas 10 granadas de RPG 2, entre outro material.

Infografias: Carlos Silva  / Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné (2023) 


1. O Carlos Silva teve a gentileza, no domingo passado, de me mandar cópia dos dois documentos que acima reproduzimos. Afinal, ele lembrava-se desta base (ou barraca), ou pelo menos do seu nome,Hermancono ou Hermacono. Ficaria no limite do subsetor de Jumbembem, mas já em território senegalês. Nos mails que trocámos, ele esclareceu:

(...) Luís, este nome   [Hermancono]  ficou-me na orelha, Consultei o meu livro e  História do Bat Caç 2879 e cá está ele.

Como referi participei na operação que fizemos à zona, mas não encontramos qualquer vestigio. Segue o panfleto que apanhamos em Lamel. (...)

(...) Eu andei por lá em fins de 1969, Mas quando fizemos a operação, não ouvi falar na base de Hermancono. Não está muito longe de Cumbamori. No meu livro dos Roncos de Farim  eu falo na 1° operação a Cumbamori em dezembro de 1967. (...)

(...) Durante toda a comissão nunca ouvi falar em tal base, apesar de ter ido lá. (...)

(...) As fotos do poste P24110 são de 1973, de certo os gajos deambulavam entre Cumbamori e Hermancono, esta designação não é guineense. (...)

Ao telefone, disse-me que já tinha andado  naquela estrada Ziguinchor-Dacar, duas vezes, quando foi à Guiné. Numa delas entrou por Cuntima, se não erro.

2. Pesquisando no nosso blogue, descobri que o toponónimo, Hermancono (*),  já sido citado mais do que uma vez: pelo historiador guineense, e nosso amigo, Leopoldo Amado (1960-2019), e pelo A. Marques Lopes, que reproduz   o Subintrep nº 32, de junho de 1971. Aqui vão alguns excertos:

(i) Leopoldo Amado, poste P 1566 (**)

(...) Com efeito, Cabral procurou a partir de 1971, estabelecer estruturas sociais de partido-Estado em Tigili/Iador/Sara/Zona Oeste (Biambi), Catió e Quintafine, enquanto que, por outro, se preocupava com as ameaças às áreas libertadas, traduzindo-se tal situação na polarização da sua actividade em torno da estrada Mansabá-Farim, na sua reacção ao reordenamento de Bissássema e na intenção de instalar forças no Unal, visando libertar corredores de infiltração que favorecessem os ataques aos centros urbanos. 

Assim, o PAIGC inicia, a partir desta altura, as acções contra Bissau e Bafatá, há muito anunciadas, num momento em que procede à desconcentração das unidades dos CE 199/A e 199/B, que se haviam deslocado para as áreas de Sano e Cumbamori (Senegal), dando por findo o esforço realizado na área de Barro-Bigene-Guidaje.

Nesta desconcentração, o CE 199/A regressou à área de Campada, enquanto o 199/B foi ocupar e reactivar a base de Hermancono, que voltou a constituir área fulcral na fronteira norte, praticamente abandona­da desde Fevereiro de 1971, aquando da sua transferência para Canjeno. 

Como consequência desta nova ocupação de Sinchã-Djassi, aumentou de forma considerável o trânsito pelo “corredor” do Lamel, que passou a ser o mais usado, seguindo-se-lhe, em menor grau de utilização, o de Canja. (...) (**)

(ii) A. Marques Lopes, poste P3258 (Subintrep nº 32, junho de 1971 - Itinerários de abastecimento do PAICG) (***)

(...) 

- Para a Frente de Morés/Nhacra

Para o Sector do Morés são utilizados os “corredores” de Lamel e Sitató, podendo também com menos frequência utilizar o de Sambuiá, segundo os itinerárioa que se referem:

“Corredor” de Lamel

Morés – estrada Mansabá/Farim sensivelmente em direcção a Biribão – Biribão – cambança do rio Canjambari nas proximidades da tabanca de Béssia – Bricama – cambança do rio Jumbembem – cambança do rio Lamel – estrada Jumbembem/Farim – Fambantã, seguindo depois um carreiro até um local nas proximidades da fronteira onde a coluna aguarda a chegada do material. 

Este vem da arrecadação existente na base de Sinchã Djassi e é transportado até ao referido local em viaturas, sendo ali entregue às colunas que o esperam. 

O regresso é feito pelo itinerário inverso, tendo o percurso (ida e volta) uma duração de cerca de seis dias. Os locais de pernoita pensa-se que serão em Biribão  [a sudeste do Olossato] e Fambantã.

O IN utiliza para movimentar as suas viaturas de reabastecimento às bases desta Frente a chamada “Estrada Grande”, isto é, a estrada que, a partir de Koundara, segue por Linnkiring – Velingará – Dabo – Kolda – Bantankoutou – Sonco – Sare Tening – Tanaf – Ierã – Samine – Ziguinchor. É pois a partir deste itinerário principal que saem ramificações que conduzem às diferentes bases. Assim,

- Para Faquina: Kolda – Bantankoutou – Sonco – Lenquerim – Faquina

As viaturas vão apenas até Bantankoutou. Os reabastecimentos a partir daqui são transportados por carregadores que em Lenquerim cambam a bolanha de canoa para passarem à base de Faquina.

- Para Sinchã Djassi (Hermancono): Kolda – Sare Tening – Hermacono

- Para a base de Cumbamori: 
Kolda – Tanaf – Ierã – Mankolecunda – Cumbamori

- Para Dungal: 
Kolda – Tanaf – Dungal

- Para Sano: Kolda – Samine – Sano

- Para Sikoum Bafatá: Kolda – Tanaf – Samine – Goudomp – Sekoum

O material e víveres vindos da República da. Guiné (Koundara) passa, como vimos,  em Dinnkiring e Kolda, locais onde é feito pelas autoridades da República do Senegal controle das viaturas e material transportado; a partir de Kolda o material é usualmente acompanhado por pessoal do Exército Senegalês, embora em escolta à distância.

No terminal da “Estrada Grande” encontra-se Zinguinchor, sede do comando da Inter-Região Norte, mas que no quadro da logística do PAIGC não parece desempanhar papel relevante dado que, segundo os elementos disponiveis, apenas apoiará os grupos sediados em M’Pack e Kassou.

O reabastecimento das Frentes do interior da Inter-Região Norte é feito por colunas de carregadores através dos “corredores” tradicionais de infiltração e suas variantes, sendo sempre feitos em movimentos vindos do interior, razão pela qual se descrevem estes “corredores” no sentido inverso àquele em que, até aqui, se tem descrito p fluxo dos reabastecimentos.

Estão detectados os seguintes:
  • “Corredor” de Sitató, com início em Faquina
  • “Corredor” de Sambuiá, com início em Cumbamori
  • “Corredor” de Lamel, com início em Sinchã Djassi [ / Hermancono]
  • “Corredor” de Sano, com início em Sano [pelo lado Este, entre Barro e Bigene - A.Marques Lopes]
  • “Corredor” de Canja, com início em Pirgui [pelo lado Oeste, entre Barro e Sedengal - A. Marques Lopes]
_______________

Notas do editor:

(*) Vd.  poste de 1 de março de  2023 > Guiné 61/74 - P24110: Memórias cruzadas: onde ficava a base (logística e operacional), do PAIGC, de Hermacono? Segundo informação recolhida por Cherno Baldé, junto de um antigo guerrilheiro, ficava na linha de fronteira com o Senegal, no vértice de um triângulo que tinha como base as tabancas (abandonadas) de Farincó e Fambantã, a oeste da estrada Farim-Jumbembem

(...) Comentários de Carlos Silva:

Conheci bem o nosso Sector de Farim e principalmente o nosso subsector de Jumbembem onde estivemos de 2/01/1970 a 16/6/1971.

Quando estivemos em Farim chegámos a fazer uma operação ao Dungal que fica na fronteira na qual eu não participei.

Fomos a Lambã duas  vezes, onde se dizia haver por lá uma base, andamos para diabo e nada.

Estivemos destacados no K3 / Saliqunhedim, e fizemos operações para esse lado para a bem conhecida Fátima onde tivemos contacto com IN e todas as Companhias por lá andaram.

Picagens para Lamel ponto de encontro de Farim/Jumbembem. Patrulhas e operações nessa área até ao rio Jumbembem/Farim/Cacheu.

Em Novembro de 1969, estava o meu 4º Pelotão destacado no K3 e a minha CCaç 2548 foi fazer nomadização para a fronteira norte Sitató/Cuntima onde tivemos o 1º morto a 28 de Novembro.

Palmilhamos todo o subsector de Farim enquanto ali permanecemos. A partir de Janeiro/69 até ao nosso regresso palmilhamos todo o nosso subsctor de Jumbembem que ia da picada Farim - Jumbembem - Cuntima até ao Senegal.

Fui diversas vezes emboscar para Farincó Mandiga, Fanbamtã,  Sare Soriã que fica a oeste de Jumbembem.

Muitas vezes para Sare Mancamã, Saman que fica a norte e fomos fazer operações para a fronteira para os Marcos 109 e 110,  Sare Sofi,  onde tivemos contactos com IN, bem como
fomos lá 2 ou 3 vezes buscar população.

Palmilhamos em picagens, patrulhas Jumbembem/Lamel; Jumbembem/Sare Tenem / Canjambari; Jumbembem/Norobanta, e em todos estes percursos levantámos muitas minas e tivémos azar com 2 camaradas, um ficou sem o pé no percurso Jumbembem/Sare Tenem / Canjambari e outro já a chegar ao termo da picagem Jumbembem/Norobanta.

Das operações à fronteira aos marcos, saímos de Jumbembem via Sare Mancamã, Samã e regressávamos via Galgega e apanhávamos as viaturas em Norabanta de regreeso a Jumbembem.

Tivémos contactos Fanbamtâ e Sare Soriâ bem como ao longo das picadas, principalmente Jumbembem/Lamel.

Nunca ouvi falar em Hermacono / Hermangono, mas perguntei aos meus amigos de Jumbembem que me disseram que existe no Senegal próximo da fronteira uma tabanca com esse nome, que não aparece nos mapas.

Como disse fomos a Lambã duas  vezes e não ouvi falar dessa tabanca. Para mim, Lambã ficou-me na memória porque da 2ª vez que lá fomos o meu camarada Furriel Enfermeiro já falecido, quando da retirada perdeu a pistola na bolanha e andamos a pisar o terreno até encontrá-la. (...)

(...) Cumbamori fica a uma dúzia de quilómetros a noroeste de Guidaje. Sambuiá (corredor de Sambuiá) fica a oeste de Bigene e a sul de Talicó, na picada de Farim - Bigene - Barro - Ingoré. Já fiz esta picada 2 vezes em férias, a primeira em 1997 ainda não havia a ponte de S Vicente,  e a 2ª vez já atravessei a ponte. (...)

(...) No nosso Sector de Farim enfrentávamos os Corredores de Lamel e Sitató. Em Lamel no meu tempo ficava lá emboscado e patrulhava a zona diariamente e alternadamente um pelotão de Farim; Nema ou Jumbembem.

Colunas e picagens desde 1970 até regressarmos, fazia-se colunas diárias para abastecimentos alimentares, transporte de cibes e materiais para a construção das tabancas.

De Jumbembem saíam 3 pelotões para picagens para sul, Lamel/Farim; para norte Norobanta/Cuntima e para este Sare Tenem / Canjambari.

Para além desta actividade das picagens, patrulhas, operações etc, ainda tivemos a tarefa de construir um aldeamento completo, demolição das tabancas velhas e construção de tabancas novas. (...)