Capas de alguns dos títulos consultados
O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo. Acaba de encerrar, temporariamemte a Tabanca dos Emiratos, até junho próximo. Tem cerca de 311 referências no nosso blogue.
MEMÓRIAS CRUZADAS DA REGIÃO DE GABÚ:
AS ORIGENS DO DESASSOSSEGO EM COPÁ E AS SEQUELAS DA METRALHA ENTRE O NATAL’73 E 07JAN74
1. – INTRODUÇÃO
A estrutura deste projecto de investigação bibliográfica, a incluir na série “Memórias Cruzadas”, foi organizada a partir de vários depoimentos existentes no vasto espólio do Blogue da Tabanca Grande, alguns editados há mais de uma década, mas todos eles relacionados com a temática apresentada no título do trabalho, tendo como contexto geográfico a Região de Gabú.
Ainda que em poste anterior tenha feito referência aos acontecimentos de Janeiro de 1974, em Canquelifá, e da morte, no dia 7, do nosso camarada (e amigo) Luís Filipe Pinto Soares (fur mil operações especiais) da CCAÇ 3545 – P16127, de 23Mai2016 – a sua releitura, enquanto efeméride com quarenta e oito anos, e outros factos sublinhados em novas consultas bibliográficas e da sua respectiva análise historiográfica, nasceu o interesse pelo seu aprofundamento, uma vez que estávamos na posse de elementos novos, por nós classificados de evidências irrefutáveis.
Com estas “evidências”, procura-se dissipar eventuais equívocos ou imprecisões identificadas na literatura, produzida e influenciada por cada um dos lados do conflito, cujas capas, títulos e autores se reproduzem abaixo por ordem de apresentação, sobre alguns dos factos aí narrados (que os há!).
Por outro lado, com este desígnio pretende-se, também, ajudar a reconstruir o puzzle das “memórias” do conflito armado naquela Região do Leste da Guiné, em particular no triângulo: «Bajocunda / Copá / Canquelifá», com maior detalhe para os dois últimos locais, onde a “problemática” e a estratégia operacional, entre vizinhos, era semelhante.
O principal período de tempo desta análise é de quinze dias, com início no Natal de 1973, onde ficou ferido, por ter accionado uma mina em Bajocunda, o Cap Cav Ângelo César Pires Moreira da Cruz, Cmdt da 1.ª CCAV/BCAV 8323, até ao dia 7 de Janeiro de 1974, dia da “Acção Minotauro”, realizada em Canquelifá, durante a qual foram capturados, já cadáveres, dois elementos da guerrilha, sendo um cubano e um cabo-verdiano.
De acordo com o acima exposto, nos pontos seguintes daremos conta do que entendemos ser o mais relevante retirado das fontes consultadas, adicionando-lhes outras informações complementares, com recurso à sua triangulação, de modo a melhorar a percepção de todos esses factos, mesmo sabendo-se que todos eles estão a uma distância temporal de quase meio século.
2. – CONTEXTO GEOGRÁFICO, HISTÓRICO E CRONOLÓGICO
IDENTIFICADO NA BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Conforme se dá conta na introdução, este segundo ponto segue a linha de investigação projectada, fazendo interagir, sempre que possível, o tempo dos factos (ocorrências) com o contexto espacial (local) e a identificação dos respectivos actores, individuais ou colectivos.
Deste modo, a contextualização da narrativa tem o seu início no mês de Dezembro de 1973, a poucos dias da comemoração da data natalícia, e como espaço geográfico o triângulo «Bajocunda / Copá / Canquelifá» onde estavam instaladas, nas duas primeiras localidades, forças do BCAV 8323, do TCor Cav Jorge Eduardo Rodrigues y Tenório Correia Martins (29Set73-10Set74) e, na terceira, a CCAÇ 3545, do Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo, unidade de quadrícula do BCAÇ 3883, do TCor Inf Manuel António Dantas (19Mar72-19Jun74).
Na distribuição das Unidades Operacionais do BCAV 8323, sediado em Pirada, a quem competia a responsabilidade do Sector L6, do qual faziam parte os subsectores de Bajocunda, Paúnca e Pirada, coube à 1.ª CCAV, do Cap Cav Ângelo César Pires Moreira da Cruz, o primeiro daqueles subsectores.
Deste modo, o contexto histórico tem início nos “casos” observados e registados na literatura, com destaque, em primeiro lugar, para a narrativa divulgada no livro «O Princípio do Fim» ( Porto: Campo das Letras), de Benigno Rodrigo, cujo nome está ligado a forte controvérsia relativamente à origem dos conteúdos por si publicados que, segundo se defende em comentários editados neste Blogue (p.e. os do P3871, de 11Fev2009), são da autoria do soldado condutor auto-rodas, António Rodrigues, pertencente à 1.ª CCAV do BCAV 8323/73.
Outras abordagens sobre a mesma problemática podem ser consultadas no P3995, de 07Mar2009, da autoria de Graça de Abreu, e no P4406, de 24Mai2009, de António Rodrigues.
2.1 – “O PRINCÍPIO DO FIM”, de Benigno Fernando
▬ Algumas notas
Convém acrescentar que para a presente análise o que nos interessa são as informações (substância) produzidas, e estas foram extraídas do P1410, editado em 8Jan2007, fez quinze anos recentemente.
(...) Num desses dias o PAIGC atacou a povoação de Amedalai (ver mapa acima), que ficava a 5 km de Bajocunda e a 17 de Copá. A povoação era formada por população civil e pela milícia armada e o ataque aconteceu ao fim da tarde. (…)
De Bajocunda foram em socorro da povoação três pelotões [GrComb] que provocaram algumas baixas ao PAIGC, sendo forçado a retirar” (p.29).
Sobre esta última referência, o fur mil serv mat da 1.ª CCAV, Amílcar Ventura, que se encontrava em Bajocunda, afirma, em comentário, ser falso o relato, pois não seria possível saírem três pelotões, ao fim do dia, em socorro de Amedalai, quando, na mesma altura, Bajocunda também estava a ser atacada. “O que fizeram foi lá ir logo de manhã” e verificar os estragos (P1410).
Em 25 de Dezembro, dia de Natal de 1973, pelas 11:00 horas em Copá, o Alferes Mil Manuel Brás, solicita ao sold cond António Rodrigues que o leve até Bajocunda, pois havia recebido uma mensagem que dava conta que o Cmdt da 1.ª CCAV, Cap Cav Ângelo César Pires Moreira da Cruz ficara ferido, desconhecendo as causas do sucedido (Vd. foto 1).
Chegado a Bajocunda, soube-se que nesse dia 25 de Dezembro (3.ª feira), o capitão Ângelo Moreira da Cruz saiu de Bajocunda, com os efectivos necessários para desminar Amedalai (ver mapa). Quando deu por concluído o levantamento das minas localizadas, e no momento em que se preparavam para abandonar o local, um dos militares presentes afirmou: “meu capitão tenho a impressão de que ao pé do senhor está mais uma mina”, E de facto era verdade. O capitão virou o pé ao lado e sem saber accionou a mina que lhe amputou uma das pernas. Terminava nesse momento a sua comissão, que durou apenas três meses no CTIG. Algum tempo depois, viria a ser substituído pelo Cap Mil Cav Fernando Júlio Campos Loureiro.
Os últimos dias de 1973 e os três primeiros de 1974, em Copá, passaram-se relativamente calmos.
Foto 1 – Quartel de Bajocunda, 25Dez1973. Evacuação do Cap Cav Ângelo César da Cruz, Cmdt da 1.ª CCAV/BCAV 8323 (1973/1974), na sequência de ter accionado uma mina antipessoal, ficando sem uma perna (foto do álbum do fur mil Amílcar Ventura – P5002, de 24Set2009, com a devida vénia).
► Colando com o texto anterior, recuperamos agora o depoimento editado no poste acima, da autoria de António Rodrigues, onde começa por afirmar que “chegados ao dia 3 de Janeiro de 1974 (5.ª feira), o dia foi mais ou menos calmo, embora durante a tarde, enquanto jogávamos futebol na pista de aviação em Copá, se ouvissem fortes rebentamentos na direcção de Canquelifá que, soubemos depois, estrava a ser violentamente flagelada com armas pesadas. (…)
Chegado a Bajocunda, soube-se que nesse dia 25 de Dezembro (3.ª feira), o capitão Ângelo Moreira da Cruz saiu de Bajocunda, com os efectivos necessários para desminar Amedalai (ver mapa). Quando deu por concluído o levantamento das minas localizadas, e no momento em que se preparavam para abandonar o local, um dos militares presentes afirmou: “meu capitão tenho a impressão de que ao pé do senhor está mais uma mina”, E de facto era verdade. O capitão virou o pé ao lado e sem saber accionou a mina que lhe amputou uma das pernas. Terminava nesse momento a sua comissão, que durou apenas três meses no CTIG. Algum tempo depois, viria a ser substituído pelo Cap Mil Cav Fernando Júlio Campos Loureiro.
Os últimos dias de 1973 e os três primeiros de 1974, em Copá, passaram-se relativamente calmos.
Foto 1 – Quartel de Bajocunda, 25Dez1973. Evacuação do Cap Cav Ângelo César da Cruz, Cmdt da 1.ª CCAV/BCAV 8323 (1973/1974), na sequência de ter accionado uma mina antipessoal, ficando sem uma perna (foto do álbum do fur mil Amílcar Ventura – P5002, de 24Set2009, com a devida vénia).
► Colando com o texto anterior, recuperamos agora o depoimento editado no poste acima, da autoria de António Rodrigues, onde começa por afirmar que “chegados ao dia 3 de Janeiro de 1974 (5.ª feira), o dia foi mais ou menos calmo, embora durante a tarde, enquanto jogávamos futebol na pista de aviação em Copá, se ouvissem fortes rebentamentos na direcção de Canquelifá que, soubemos depois, estrava a ser violentamente flagelada com armas pesadas. (…)
Porém, eram 23:30 horas em ponto desse mesmo dia aconteceu “o nosso baptismo de fogo”. Refere que o Manuel Vicente Antunes, que àquela hora fazia reforço no seu abrigo, gritou, ao mesmo tempo que se ouviu um rebentamento. (…)
Continua: “as primeiras granadas passavam por cima de Copá e iam rebentar aí a uns dois kms de distância, entre Copá e Bajocunda. Elas vinham bastante alternadas, atiravam três morteiradas, deixavam passar dez minutos e voltavam a atirar outras três, e assim sucessivamente”.
Continua: “as primeiras granadas passavam por cima de Copá e iam rebentar aí a uns dois kms de distância, entre Copá e Bajocunda. Elas vinham bastante alternadas, atiravam três morteiradas, deixavam passar dez minutos e voltavam a atirar outras três, e assim sucessivamente”.
(…) Entretanto as bombas continuavam a cair. É curioso que a dada altura duas em cada três granadas caíam ali próximas, mas não rebentavam. (…) A dada altura, ainda deste primeiro ataque, as granadas começaram a cair com maior intensidade sobre o abrigo ou posto onde eu me encontrava.
A nossa falta de experiência disse-nos naquele momento que devíamos abandonar o posto e irmos para outro menos apoquentado, porque na verdade o abrigo 7 era, naquela noite, o que estava a ser mais atingido e por isso não hesitámos em nos mudar todos para o abrigo 1, que ficava ali mesmo ao lado. (…)
Com efeito, “o PAIGC continuava a disparar de dez em dez minutos sobre Copá, pelo que só se resolveram a parar eram duas horas da madrugada do dia seguinte (4Jan), precisamente no momento em que o luar desapareceu. Foi aí que o primeiro ataque a Copá, desde que lá chegámos (em 25Nov73), terminou… Os guerrilheiros dispararam nessa noite, sobre Copá, cinquenta granadas, mais de metade das quais caíram fora do aquartelamento”. (…)
Acrescenta que “felizmente naquela noite não houve problemas de maior, nem sequer o mais leve ferimento. (…) Mas o ataque desse dia foi apenas um pequeno aviso (como se veio a provar).
Com efeito, “o PAIGC continuava a disparar de dez em dez minutos sobre Copá, pelo que só se resolveram a parar eram duas horas da madrugada do dia seguinte (4Jan), precisamente no momento em que o luar desapareceu. Foi aí que o primeiro ataque a Copá, desde que lá chegámos (em 25Nov73), terminou… Os guerrilheiros dispararam nessa noite, sobre Copá, cinquenta granadas, mais de metade das quais caíram fora do aquartelamento”. (…)
Acrescenta que “felizmente naquela noite não houve problemas de maior, nem sequer o mais leve ferimento. (…) Mas o ataque desse dia foi apenas um pequeno aviso (como se veio a provar).
Passaram-se os dias 4, 5 e 6Jan74, com relativa calma. No dia 7 marcou-se novamente a coluna que dias antes tinha sido interrompida. Mas nesse dia veio mesmo a realizar-se só que, chegada a meio do percurso (Massacunda Maunde) foi atacada por uma forte emboscada feita nesse local pelo PAIGC”.
Conta o António Rodrigues que “eram cerca das 09:30 horas da manhã, estava ele e os homens que nesse dia estavam de serviço à água junto ao poço onde tirávamos a água em Copá, e, a dado momento, ouvimos um forte rebentamento na direcção de Massacunda, logo seguido de um enorme tiroteio. Lembramo-nos logo que seria a nossa coluna que estava a ser emboscada. Ficámos um pouco suspensos e logo um furriel nos chamou e disse que largássemos a água porque tínhamos que ir em socorro dos nossos camaradas. Nós assim o fizemos. Eu (como condutor) peguei no carro imediatamente e regressámos para dentro do arame farpado. Formou-se o pelotão que arrancou imediatamente para o local, ficando em Copá apenas cinco ou seis homens, um por cada abrigo, pois ainda tínhamos connosco mais alguns soldados africanos”. (…)
Entretanto, do local da emboscada (à coluna que regressava a Copá?) chegava via rádio a notícia mais concreta do que tinha acontecido. Havia a registar alguns feridos e dois mortos, sendo estes últimos, o soldado Rui Silveira Patrício, natural de Santa Margarida-Conceição, Concelho da Covilhã e o 1.º Cabo António Aguiar Ribeiro, natural de Orca, Concelho do Fundão, ambos solteiros, e fazendo parte do 3.º GrComb da 1.ªCCAV/BCAV 8323.
Para além das duas perdas humanas, verificou-se também a destruição de duas viaturas Berliet e, ainda, do dinheiro que seguia nessa coluna para pagamento do anterior mês de Dezembro’73 destinado a todos os militares europeus e africanos que se encontravam em Copá (Vd. foto 2).
Conta o António Rodrigues que “eram cerca das 09:30 horas da manhã, estava ele e os homens que nesse dia estavam de serviço à água junto ao poço onde tirávamos a água em Copá, e, a dado momento, ouvimos um forte rebentamento na direcção de Massacunda, logo seguido de um enorme tiroteio. Lembramo-nos logo que seria a nossa coluna que estava a ser emboscada. Ficámos um pouco suspensos e logo um furriel nos chamou e disse que largássemos a água porque tínhamos que ir em socorro dos nossos camaradas. Nós assim o fizemos. Eu (como condutor) peguei no carro imediatamente e regressámos para dentro do arame farpado. Formou-se o pelotão que arrancou imediatamente para o local, ficando em Copá apenas cinco ou seis homens, um por cada abrigo, pois ainda tínhamos connosco mais alguns soldados africanos”. (…)
Entretanto, do local da emboscada (à coluna que regressava a Copá?) chegava via rádio a notícia mais concreta do que tinha acontecido. Havia a registar alguns feridos e dois mortos, sendo estes últimos, o soldado Rui Silveira Patrício, natural de Santa Margarida-Conceição, Concelho da Covilhã e o 1.º Cabo António Aguiar Ribeiro, natural de Orca, Concelho do Fundão, ambos solteiros, e fazendo parte do 3.º GrComb da 1.ªCCAV/BCAV 8323.
Para além das duas perdas humanas, verificou-se também a destruição de duas viaturas Berliet e, ainda, do dinheiro que seguia nessa coluna para pagamento do anterior mês de Dezembro’73 destinado a todos os militares europeus e africanos que se encontravam em Copá (Vd. foto 2).
Foi ainda destruído todo o correio destinado a Copá, onde se incluía os postais de Boas Festas e lembranças enviadas pelos familiares e que, em função da ocorrência, as não puderam receber.
Foto 2 – Estrada Bajocunda/Copá, 07Jan1974. Viatura (Berliet) da 1.ª CCAV/BCAV 8323, destruída na emboscada de 7 de Janeiro de 1974 (foto do álbum do fur mil Amílcar Ventura – P5002, de 24Set2009, com a devida vénia).
Foto 2 – Estrada Bajocunda/Copá, 07Jan1974. Viatura (Berliet) da 1.ª CCAV/BCAV 8323, destruída na emboscada de 7 de Janeiro de 1974 (foto do álbum do fur mil Amílcar Ventura – P5002, de 24Set2009, com a devida vénia).
Porém, as más notícias desse dia ainda não tinham terminado. Pelas cinco da tarde e com apenas os elementos que haviam ficado no aquartelamento, em cada posto, este voltaria a ser atacado pela artilharia do PAIGC até às 22:20 horas, ou seja, durante mais de cinco horas.
Sobre este episódio, o António Rodrigues relata que os poucos homens que ali se encontravam “meteram-se nas valas de G3 na mão à espera do que desse e viesse, pois mais uma vez não tínhamos armas com capacidade de lhes darmos resposta, e com dois homens em cada posto lá fomos aguentando o fogo de morteiro 120 e 82, que carregavam sobre nós persistentemente”.
Só cerca das 20:00 horas é que entrou o restante pelotão em Copá, debaixo de fogo, quando a maioria da população, aos gritos, se punha em fuga das suas tabancas, que ardiam, em direcção à República do Senegal, cuja fronteira ficava dali a três quilómetros.
“Juntamente com a população fugiram (ou desertaram) praticamente todos os militares africanos que ali se encontravam em reforço da guarnição, ficando apenas em Copá, naquela noite, um Alferes e um Furriel europeus, que comandavam esse Pelotão de Africanos, juntamente connosco o 4.º GrComb da 1.ª CCAV/BCAV 8323, num total de 29 homens”.
Como a artilharia do PAIGC não parava o seu ataque, e as nossas munições eram muito poucas, talvez umas 18 a 20 granadas de morteiro 81, algumas de morteiro 60, e pouco mais de uma dúzia de granadas de mão, vimo-nos forçados a pedir auxílio aéreo a Bissau, que nos mandou um avião Dakota que começou a sobrevoar Copá eram 22:20 horas, altura em que a artilharia do PAIGC parou o fogo. Esta paragem fez supor que, por via do bombardeamento aéreo, o inimigo tinha retirado para o Senegal, que ficava ali muito próximo. Mas o que aconteceu foi exactamente o contrário.
Durante o ataque aéreo, as forças do inimigo no terreno deslocaram-se para junto do aquartelamento, como estratégia, pois ficavam mais seguros e em condições de puderem continuar a perseguir os seus intentos que era a “conquista” de Copá.
António Rodrigues conta que “mal o avião se foi embora, eram cerca das 23:00 horas, começámos a ouvir fortes ruídos de motores a trabalhar, dando-nos a ideia de serem viaturas que se dirigiam a Copá e a sê-lo àquela hora, eram com certeza do inimigo”. (…) “Mas eu, ao ouvir todo aquele estranho ruído, tinha um pressentimento de que as coisas ainda não tinham terminado nesse dia, e decidi ficar a pé e fazer companhia ao sentinela, até ver o que ia acontecer”.
E aconteceu… algumas viaturas encaminhavam-se a toda a força na direcção de Copá, quando, por volta das 23:50 horas, o ruído se deixou de ouvir, mas por pouco tempo. Bastaram mais vinte minutos para se dar início a “mais um momento terrível naquela noite. Era exactamente meia-noite e dez minutos quando se ouviu o já típico rebentamento que dava início aos ataques do inimigo”.
Segundo a narrativa, “o inimigo estava a dez metros à nossa frente e trazia uma táctica que estava muito bem montada. Tinha junto ao arame farpado três secções, separadas alguns metros, o que lhe permitiu fazer fogo de armas ligeiras ininterruptamente durante uma hora e cinco minutos, porque o fazia por secções e quando uma estivesse sem munições a outra estava preparada para disparar (ou a entrar em acção), e assim sucessivamente.
“Juntamente com a população fugiram (ou desertaram) praticamente todos os militares africanos que ali se encontravam em reforço da guarnição, ficando apenas em Copá, naquela noite, um Alferes e um Furriel europeus, que comandavam esse Pelotão de Africanos, juntamente connosco o 4.º GrComb da 1.ª CCAV/BCAV 8323, num total de 29 homens”.
Como a artilharia do PAIGC não parava o seu ataque, e as nossas munições eram muito poucas, talvez umas 18 a 20 granadas de morteiro 81, algumas de morteiro 60, e pouco mais de uma dúzia de granadas de mão, vimo-nos forçados a pedir auxílio aéreo a Bissau, que nos mandou um avião Dakota que começou a sobrevoar Copá eram 22:20 horas, altura em que a artilharia do PAIGC parou o fogo. Esta paragem fez supor que, por via do bombardeamento aéreo, o inimigo tinha retirado para o Senegal, que ficava ali muito próximo. Mas o que aconteceu foi exactamente o contrário.
Durante o ataque aéreo, as forças do inimigo no terreno deslocaram-se para junto do aquartelamento, como estratégia, pois ficavam mais seguros e em condições de puderem continuar a perseguir os seus intentos que era a “conquista” de Copá.
António Rodrigues conta que “mal o avião se foi embora, eram cerca das 23:00 horas, começámos a ouvir fortes ruídos de motores a trabalhar, dando-nos a ideia de serem viaturas que se dirigiam a Copá e a sê-lo àquela hora, eram com certeza do inimigo”. (…) “Mas eu, ao ouvir todo aquele estranho ruído, tinha um pressentimento de que as coisas ainda não tinham terminado nesse dia, e decidi ficar a pé e fazer companhia ao sentinela, até ver o que ia acontecer”.
E aconteceu… algumas viaturas encaminhavam-se a toda a força na direcção de Copá, quando, por volta das 23:50 horas, o ruído se deixou de ouvir, mas por pouco tempo. Bastaram mais vinte minutos para se dar início a “mais um momento terrível naquela noite. Era exactamente meia-noite e dez minutos quando se ouviu o já típico rebentamento que dava início aos ataques do inimigo”.
Segundo a narrativa, “o inimigo estava a dez metros à nossa frente e trazia uma táctica que estava muito bem montada. Tinha junto ao arame farpado três secções, separadas alguns metros, o que lhe permitiu fazer fogo de armas ligeiras ininterruptamente durante uma hora e cinco minutos, porque o fazia por secções e quando uma estivesse sem munições a outra estava preparada para disparar (ou a entrar em acção), e assim sucessivamente.
"Para além destas secções de infantaria, tinham um auto-blindado (tipo ZIG russo) junto a uma das secções a apoiá-la com os disparos do seu canhão e, na rectaguarda destas secções tinham toda a artilharia com que nos tinham atacado anteriormente (de tarde), encontrando-se esta a cerca de um km, também apoiada por outro auto-blindado do mesmo tipo”.
A nossa resposta não tardou, com a utilização da “metralha” disponível, como sejam: dilagramas, granadas de bazuca, de morteiro 81 e 60, além das metralhadoras Breda, HK-21 e G3, disparos dirigidos nas direcções onde se encontravam instaladas as “bocas de fogo In”.
António Rodrigues (foto atual à esquerda) dá o exemplo da “secção que estava do lado norte, apoiada pelo blindado que estava já a abrir uma entrada para penetrar no nosso aquartelamento, onde progrediu cerca de dez metros para dentro do arame farpado".
A nossa resposta não tardou, com a utilização da “metralha” disponível, como sejam: dilagramas, granadas de bazuca, de morteiro 81 e 60, além das metralhadoras Breda, HK-21 e G3, disparos dirigidos nas direcções onde se encontravam instaladas as “bocas de fogo In”.
António Rodrigues (foto atual à esquerda) dá o exemplo da “secção que estava do lado norte, apoiada pelo blindado que estava já a abrir uma entrada para penetrar no nosso aquartelamento, onde progrediu cerca de dez metros para dentro do arame farpado".
É, nesta situação que “o meu camarada Manuel Antunes, acompanhado do 1.º Cabo João Ribeiro, se enchem de coragem, pegam em meia-dúzia de granadas de morteiro 60, saltam para fora da vala debaixo de fogo e atiram-nas todas sobre o blindado, que tentava entrar, e que o terá feito recuar, não sei se por acção dessas granadas, que não teriam grande efeito sobre tal viatura, mas o certo é que quem a comandava resolveu iniciar a retirada naquele momento”.
Era uma hora e quinze minutos, do dia 8 de Janeiro de 1974, quando o tiroteio acabou, ainda com muita coisa a arder, mas com a certeza de que todos os “bravos de Copá” (vd. foto 3) e a sua população local tinham sobrevivido durante aquelas horas “amargas e terríveis vividas nesse dia e noite de 7 de Janeiro de 1974”, não permitindo que o PAIGC conseguisse cumprir com os objectivos a que se tinha proposto.
Foto 3 – Copá, Jan1974. Alguns dos 29 “Bravos de Copá”, do 4.º GrComb da 1.ª CCAV/BCAV 8323, que defenderam estoicamente a instalação militar onde se encontravam aquartelados, durante o forte ataque levado a cabo pelo PAIGC, no dia e noite de 7Jan1974 (foto do álbum do sold cond António Rodrigues – P14214, de 03Fev2015, com a devida vénia).
● Finalmente; o reconhecimento e os resultados da refrega.
O autor do texto, cujo conteúdo acompanhámos com muita atenção e a quem devemos um obrigado e um elogio por este seu valioso contributo historiográfico, que serviu de questão de partida para a elaboração do presente trabalho, conclui a última parte da narrativa (o depois) acrescentando:
“No dia seguinte de manhã, fomos passar reconhecimento fora do arame farpado e verificámos melhor o que na realidade tínhamos provocado ao inimigo. Vimos a entrada que realmente o blindado abriu no arame farpado e numa das secções, junto ao poço de água da pista de aviação, teriam tombado pelo menos dois homens, visto que aí haviam duas postas de sangue separadas por um metro de distância e tinham colados alguns dos muitos invólucros das muitas munições que já tinham disparado”.
“A meio da distância entre os dois e cerca de um metro atrás, rebentou uma granada do nosso morteiro 81, o que com certeza terá ferido os homens daquela secção e eles tombaram sobre os invólucros que tinham à sua volta. Encontrámos ainda um carregador e caixas de munições de Kalashnikov, maços de tabaco e bonés.
Era uma hora e quinze minutos, do dia 8 de Janeiro de 1974, quando o tiroteio acabou, ainda com muita coisa a arder, mas com a certeza de que todos os “bravos de Copá” (vd. foto 3) e a sua população local tinham sobrevivido durante aquelas horas “amargas e terríveis vividas nesse dia e noite de 7 de Janeiro de 1974”, não permitindo que o PAIGC conseguisse cumprir com os objectivos a que se tinha proposto.
Foto 3 – Copá, Jan1974. Alguns dos 29 “Bravos de Copá”, do 4.º GrComb da 1.ª CCAV/BCAV 8323, que defenderam estoicamente a instalação militar onde se encontravam aquartelados, durante o forte ataque levado a cabo pelo PAIGC, no dia e noite de 7Jan1974 (foto do álbum do sold cond António Rodrigues – P14214, de 03Fev2015, com a devida vénia).
● Finalmente; o reconhecimento e os resultados da refrega.
O autor do texto, cujo conteúdo acompanhámos com muita atenção e a quem devemos um obrigado e um elogio por este seu valioso contributo historiográfico, que serviu de questão de partida para a elaboração do presente trabalho, conclui a última parte da narrativa (o depois) acrescentando:
“No dia seguinte de manhã, fomos passar reconhecimento fora do arame farpado e verificámos melhor o que na realidade tínhamos provocado ao inimigo. Vimos a entrada que realmente o blindado abriu no arame farpado e numa das secções, junto ao poço de água da pista de aviação, teriam tombado pelo menos dois homens, visto que aí haviam duas postas de sangue separadas por um metro de distância e tinham colados alguns dos muitos invólucros das muitas munições que já tinham disparado”.
“A meio da distância entre os dois e cerca de um metro atrás, rebentou uma granada do nosso morteiro 81, o que com certeza terá ferido os homens daquela secção e eles tombaram sobre os invólucros que tinham à sua volta. Encontrámos ainda um carregador e caixas de munições de Kalashnikov, maços de tabaco e bonés.
"Havia sinais de que o blindado que apoiava a artilharia lá mais atrás, tinha vindo socorrer os feridos já referidos anteriormente. Mas, como nós insistimos a fazer fogo com as nossas armas, mesmo sabendo que eles estavam em retirada, esse blindado não conseguiu chegar pertos dos feridos, pelo que estes foram levados de rastos até ao carro. Vendo-se atrapalhados, não conseguiram meter os feridos logo no carro, pelo que este começou a retirar de marcha atrás sobre o mesmo rodado, enquanto o carreiro que os corpos de rastos marcavam, continuava a par do rodado, até que conseguiram carregá-los”.
António Rodrigues termina com um sentimento de orgulho, salientando que “durante todo esse fogo, nenhum dos nossos homens ficou ferido”.
António Rodrigues termina com um sentimento de orgulho, salientando que “durante todo esse fogo, nenhum dos nossos homens ficou ferido”.
2.2 – D(O) OUTRO LADO DO COMBATE – CONTROVÉRSIAS:
▬ “DE CAMPO A CAMPO: CONVERSAS COM O CMDT DO PAIGC
BOBO KEITA (1939-2009)”
Neste ponto, e para efeitos de comparação de narrativas, no que pode ser entendido por “convergente versus divergente”, ou erróneo em relação à descrição dos principais factos em análise, não podíamos deixar de consultar as fontes produzidas por elementos de cada um dos lados do conflito.
Na perspectiva “do outro lado do combate” (designação dada a outra série), recorremos à obra de Norberto Tavares de Carvalho, “De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita” (Edição de autor. Porto, 2011), citando algumas das passagens editadas no P16317, de 19Jul2016, conforme se indica abaixo.
◙ Depoimento de Bobo Keita (1939-2009) sobre a morte de Mamadu Cassamá, em Copá, em 7Jan1974
► Partindo dos relatos de António Rodrigues citados no ponto anterior, em particular as dúvidas suscitadas quanto aos motivos (ou factos) que levaram os responsáveis do PAIGC a darem por concluído o ataque ao aquartelamento de Copá, abandonando as suas posições no terreno no início da segunda hora do dia 8 de Janeiro de 1974 (3.ª feira), o depoimento do Cmdt Bobo Keita não é muito esclarecedor nos seus detalhes. Mas confirma que, pelo menos, tiveram uma baixa, a do Cmdt Mamadu Cassamá, o elemento que tentou entrar no interior do quartel. Diz ele:
(...) “Mamadu Cassamá morreu no ataque a Copá. Tomei parte nesse ataque, juntamente com o camarada Paulo Correia. O Mamadu era dos que ainda acreditavam na “força” dos amuletos… Avançou muito e foi até aos arames que circundavam o quartel. Pegou nos arames e fez força para os arrancar. Foi localizado e um tiro certeiro [de que arma?] silenciou-o de vez. O Mamadu Cassamá era o comandante daquela zona”. (...)
Nas conversas com Norberto Tavares de Carvalho, autor do livro, Bobo Keita volta a referir-se ao episódio do ataque a Copá nos seguintes termos:
(...) “Para o assalto a Copá, que fica a uns trinta quilómetros da cidade senegalesa de Wassadou [ver mapa acima], peguei em dois dos meus tanques, constitui um comando e fomos à emboscada [a da coluna Copá/Bajocunda/Copá ou estava-se a referir ao ataque a Copá? Não está claro].
"A operação em Copá contou com Quemo Mané, comandante de infantaria. Copá também não foi fácil para os tugas. Alinhámos um número razoável de combatentes, menor que Guileje e Guidaje, e o objectivo era o de isolar os colonialistas. A tomada do quartel não nos interessava, queríamos somente convencê-los de que não tinham mais nenhuma escapatória e que deviam partir da nossa terra”. (...)
2.3 – D(O) OUTRO LADO DO COMBATE – CONTROVÉRSIAS:
▬ “LA HISTORIA CUBANA EN ÁFRICA: 1963-1991: PILARES DEL SOCIOALISMO EN CUBA”, de Ramón Pérez Cabrera
▬ Alguns excertos
► Em conformidade com os objectivos deste trabalho, a consulta do livro do escritor cubano Ramón Pérez Cabrera não podia deixar de ser efectuada, uma vez que nele constam diversas referências sobre o contexto onde ocorreram alguns dos episódios já identificados nos pontos anteriores.
Por outro lado, os fragmentos que abaixo se reproduzem em bilíngue – espanhol e português – com a tradução da nossa responsabilidade – são considerados, a par dos restantes, como fontes documentais importantes na aproximação aos factos reais.
► As actividades da guerrilha na zona leste a partir de Dezembro de 1973
▬ Caracterização do ambiente operacional
● Tradução
(…) “Os comandantes do PAIGC, a partir de finais de Novembro e ao longo de Dezembro de 1973, aproveitando a alteração das condições climatéricas [final da época das chuvas], deslocaram tropas, munições e mantimentos para as zonas próximas das instalações militares fortificadas, onde os soldados portugueses permaneceram aquartelados, mas mantendo estes as acções de patrulhamento nas áreas externas dos mesmos para evitar serem surpreendidos pelos guerrilheiros. Na segunda etapa da operação «Abel Djassi» [nome de guerra de Amílcar Cabral (1924-1973)], realizada nas três frentes de combate no primeiro semestre de 1973 [os três G’s], participaram catorze internacionalistas cubanos” (op.cit., p.179).
► As acções combativas na Frente Leste iniciam-se em Janeiro de 1974
▬ O ataque ao aquartelamento de Copá e suas consequências
● Tradução
“As acções combativas da operação «Abel Djassi» começaram na Frente Leste, em 3 de Janeiro de 1974 (5.ª feira), com o ataque ao aquartelamento de Copá. A movimentação dos destacamentos guerrilheiros começou nas primeiras horas da manhã e naquela tarde já haviam ocupado as posições de fogo de artilharia e os lugares nas emboscadas de contenção. Às 22:00 horas começou o tiro de ajuste e uma hora depois os disparos com os morteiros de 120 mm, mas, devido à ineficiência dos obuses, já que cerca de quarenta por cento não explodiram, no dia 5Jan (sábado) de madrugada, as FARP suspenderam o assédio da artilharia ao quartel” (op.cit., p.179).
● Tradução
“Após a morte de Mamadu Cassamá, o Comandante Paulo Correia, chefe da Frente Leste, decidiu não realizar novos assaltos de infantaria à instalação [Copá] e manter o cerco e atormentar com artilharia o quartel, que se prolongou durante todo o mês de janeiro” (op.cit., p.179).
2.4 – A FOTO QUE PODE AJUDAR A REVOGAR ALGUNS EQUÍVOCOS…
► É intenção da foto que se encontra abaixo (Fotos 4 e 4A) é servir de prova sobre alguns equívocos identificados nas narrativas analisadas, em particular nos “casos” em que é descrito, com aprofundado detalhe, o modo como ocorreram as mortes de elementos da guerrilha, a sua captura e posterior inumação.
Importa sublinhar que, neste “caso”, os dois corpos da foto, desnudos, mereceram o maior respeito e consideração humana, por parte do colectivo da CCAÇ 3545, tendo os mesmos sido lavados antes de serem inumados na região (de acordo com fonte oral).
Fotos 4 e 4A – Quartel de Canquelifá, 7Jan1974. Dois corpos, já cadáveres, de elementos da guerrilha capturados durante a “Acção Minotauro”, levada a cabo por um bigrupo da CCAÇ 21.
Por ausência de identificação, supõe-se que o primeiro elemento seja o Tenente Ramón Maestre Infante (cubano) e, o outro, Jaime Mota (cabo-verdiano). Foto do álbum do camarada Pereira, fur mil da CCAÇ 3545, com a devida vénia. A foto, tipo passe, colocada no canto superior direito (Foto 4), é de Jaime Mota, retirada do P14150, de 23Mai2016, aqui apensada para efeitos de comparação.
2.5 – “NO OCASO DA GUERRA DO ULTRAMAR”, uma derrota
pressentida”, de Fernando de Sousa Henriques (1949-2011)
▬ Algumas notas de leitura, por Beja Santos
► Por imperativo de investigação, onde se colocava a necessidade de alargar as fontes documentais, por razões espaciais (ou de vizinhança) existentes entre Copá e Canquelifá, separadas apenas por doze kms (ver mapa acima), e onde muitas das acções eram levadas à prática em parceria, pois os interesses eram comuns, recorremos às memórias do malogrado camarada Fernando de Sousa Henriques (1949-2011), ex-alf mil operações especiais da CCAÇ 3545, aproveitando algumas notas de leitura do seu livro, editado em 2007, e escritas pelo camarada Beja Santos no P12074, de 23Set2013.
► Contexto em Canquelifá (vd. foto 5):
● (…) “A partir de Novembro’73, não houve descanso em Canquelifá, repetiram-se as flagelações, os misseis deram entrada nas flagelações frequentes, era nítido que os guerrilheiros queriam comprometer os reabastecimentos e acantonar as tropas aos seus quartéis. As emboscadas às obras da estrada Piche-Nova Lamego também se acentuaram. Em Dezembro’73 houve um relativo descanso mas os assaltos às tabancas deram frutos, as populações, ainda lentamente, começaram a fugir para os grandes centros.
No início de Janeiro’74, os ataques com foguetões a Canquelifá marcaram presença. O autor explica a natureza das destruições que as imagens, pela sua eloquência, desfazem todas as dúvidas. Mas não só Canquelifá, Piche e Buruntuma também foram contempladas. Nessa altura os efectivos do Batalhão levam quase vinte e quatro meses de Guiné. Foi necessário pedir apoio à CCAÇ 21, uma companhia só de guineenses, comandada pelo tenente Jamanca.
Em 7 de Janeiro’74 a CCAÇ 21 surpreende uma força inimiga e traz dois corpos [foto 4], um cubano e um cabo-verdiano. As flagelações recrudesceram. Ia começar o martírio de Copá, um destacamento que irá ser abandono por impossibilidade de defesa” [em 14 de Fevereiro de 1974].
Foto 5 – Canquelifá, Jan1974. Explosão de uma bomba durante um ataque do PAIGC ao aquartelamento de Canquelifá (foto do álbum do camarada Pereira, fur mil da CCAÇ 3545, com a devida vénia).
2.6 – “GUINEENSE, COMANDO, PORTUGÊS”, de Amadú Bailo Djaló
▬ Alguns excertos
► Em complemento do ponto anterior, e tendo por base o livro de memórias de Amadú Djaló, ex-alferes comando graduado (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), citamos alguns “desassossegos” por ele vividos, em conjunto com os restantes elementos da CCAÇ 21, entre Copá e Canquelifá no período em análise.
(…) No final de 1973 e início de 1974 “Canquelifá estava muito diferente. As tabancas que havia à volta, junto às fronteiras com o Senegal e com a Guiné-Conacri estavam todas arrasadas, a população tinha desaparecido. A zona estava nas mãos do PAIGC e Canquelifá agora era um local muito perigoso, sempre à espera de ataques, do lado do Senegal ou da Guiné-Conacri. As estradas estavam semeadas de minas, se Canquelifá precisasse de apoio à noite, não podia ser socorrida por estrada, de noite não se podia picar estradas. Foi nesta situação que encontrámos Canquelifá.
Estavam ali duas companhias, uma de europeus (CCAÇ 3545) e a nossa (CCAÇ 21), oito pelotões ao todo. Fizemos um programa de saídas, todos os dias de manhã saía um bigrupo nosso até a uma distância de cinco a sete kms e regressava por volta das duas da madrugada. Julgávamos que, a partir dessa hora, era mais difícil haver ataques do PAIGC. Num dia saía um bigrupo de africanos, no dia seguinte um de europeus. Desta forma, cada bigrupo descansava três dias.
Em algumas dessas saídas, deixávamos o quartel, de manhã muito cedo, na direcção de Nhunanca. Depois de andarmos um bom bocado, entrávamos numa lala (clareira), quase sem árvores, com o capim muito alto, que as populações geralmente queimavam na primavera.
Depois de atravessarmos para o outro lado da lala, permanecíamos aí algum tempo, até cerca das 15:00 horas, quando decidíamos abandonar o local. Caminhávamos mais dois ou três kms e emboscávamo-nos. Ocupávamos dois caminhos, o que ia para Nhunanca e o que levava a Chauara. Ficávamos durante cerca de uma hora e regressávamos, contornando o quartel e entrando pela entrada contrária à saída para Copá.
Numa dessas saídas, em 7 de Janeiro de 1974 (2.ª feira), na “Acção Minotauro”, um dos nossos bigrupos, comandado pelos alferes Ali Sada Candé e Braima Baldé, quando estava emboscado, a cerca de dois kms do aquartelamento, avistou, por volta das 16:00 horas, um grupo do PAIGC a atravessar a lala. Estavam a deslocar-se na direcção do quartel [de Canquelifá].
O nosso bigrupo foi no encalço deles, a observarem o que iam fazer. Cerca de um quilómetro andado o pessoal do PAIGC parou, debaixo de uma grande árvore. Um deles estava a preparar-se para subir a árvore, quando o nosso bigrupo os atacou, de surpresa. O pessoal do PAIGC fugiu como pôde, deixando no local três guerrilheiros mortos, as armas e um rádio Racal que, viemos a descobrir mais tarde, tinha sido perdido por nós em Morés, em 23 de Dezembro de 1971.
[Nesse dia] era a vez do meu grupo ficar no aquartelamento, mas quando começámos a ouvir o tiroteio saímos imediatamente. Quando os encontrámos o caso já estava arrumado. Ajudámo-los a trazer os corpos dos guerrilheiros que depositámos junto à parada.
Nesse mesmo dia 7 de Janeiro, por volta das 17:30 horas, o PAIGC desencadeou um ataque a Canquelifá. Ou de represália, ou porque também tinha ouvido os tiros. Um dos primeiros mísseis acertou na central eléctrica e uma grande bola de fumo negro começou a subir. De vez em quando paravam os bombardeamentos, depois recomeçavam. Durou quase a noite toda este ataque.
A tabanca ardeu e ficou completamente destruída. Morreram durante o ataque quatro pessoas, um furriel europeu [Luís Filipe Pinto Soares, da CCAÇ 3545 - P16127], um soldado negro (Donsa Boaró, da CCAÇ 21), o soldado Mica Djaló Baldé (do 6ºPelArt/GAC7) e um rapaz de cerca de 13 ou 14 anos que trabalhava para o furriel europeu que tinha morrido” (op.cit., pp.268-270).
Ou, consultando o link;
https://www.portugal.gov.pt/upload/ficheiros/i007076.pdf
2.7 – RAMÓN MAESTRE INFANTE - tenente cubano falecido na Guiné
▬ Breve biografia militar
► Como foi referido nos pontos 2.5 e 2.6, quer por Fernandes de Sousa Henriques, da CCAÇ
3545, quer por Amadú Bailo Djaló, da CCAÇ 21, ambos os depoimentos são unanimes ao afirmarem a morte de dois elementos da guerrilha, em combate ocorrido em 7 de Janeiro de 1974, e o transporte dos seus corpos para o quartel de Canquelifá. Um seria cubano e o outro cabo-verdiano, provavelmente os dois cadáveres que se encontram na foto 4.
A ser verdade que o elemento cubano capturado seja o tenente Ramón Maestre Infante, como é indicado pelo escritor Ramón Pérez Cabrera, no livro de que é autor, e que abaixo se reproduz, independentemente de haver a discrepância em relação ao seu local, ao escrever que foi em Copá (onde não se verificou a captura de qualquer elemento da guerrilha) mas, ao que tudo leva a crer, foi em Canquelifá.
O que é um facto é que este militar cubano morreu… vinte e cinco dias depois da sua partida de Havana.
◙ Eis uma brevíssima biografia, enquanto cidadão militar, retirada da literatura consultada:
● Tradução
“Enquanto as actividades iam acontecendo nas matas guineenses, em Havana um novo contingente de instrutores cubanos preparava-se para prestar a sua ajuda internacionalista aos combatentes do PAIGC na Guiné-Bissau. Um deles, Ramón Maestre Infante, deixou Cuba por via aérea em 13 de dezembro [1973] para a África. Chegou a Conacri e, sem perder tempo, seguiu viagem para Kandiafara e em poucos dias foi incorporado num destacamento de guerrilha no teatro de operações” (op.cit., p.180).
● Tradução
“Em 7 de Janeiro (2.ª feira), Ramón Maestre cumpriu, junto com um jovem guerrilheiro cabo-verdiano, a importante missão de assediar o quartel de Copá com morteiro, mas a acção foi suspensa para o dia seguinte. Na manhã do dia 8Jan (3.ª feira), Ramón Maestre e o jovem guerrilheiro partiram novamente e quando estavam a colocar o morteiro foram surpreendidos por uma patrulha portuguesa.
No intenso tiroteio, Ramón Maestre foi ferido, morto ou feito prisioneiro [?], enquanto o cabo-verdiano conseguiu escapar sob o intenso tiroteio. A princípio, os portugueses acreditaram que o combatente era guineense, mas após identificá-lo como cubano, decidiram levá-lo ao quartel de Buruntuma [? - talvez Canquelifá, o quartel mais próximo] com a intenção de transportá-lo posteriormente para a capital de Bissau, mas não puderam levá-lo porque o quartel fora cercado pelas FARP e o fogo antiaéreo impediu que os helicópteros pousassem na área. Finalmente, o corpo do oficial cubano foi sepultado fora do quartel depois de lhe cortarem o corpo em duas metades e amputar as orelhas e as mãos como prova da nacionalidade” (op.cit., p.180).
► Encontrámos mais uma referência ao seu nome no ponto 13 (Anexos) do livro “El Grito del Baobab” (O grito do Baobá), de que é autor o escritor cubano Coronel (reformado) Humberto Trujillo Hernández, editado pela Editorial de Ciências Sociais em 2008. Porque não conseguimos ter acesso ao seu conteúdo, aqui se dá conta, somente, desse facto, o que lamentamos. Caso haja algum tertuliano que o tenha, faça o favor de nos informar.
2.8 – JAIME MOTA – cabo-verdiano, natural da Ilha de Santo Antão
▬ Algumas notas
► Das fontes consultadas, a investigação realizada pelo jornalista cabo-verdiano José Vicente Lopes, parece não deixar quaisquer dúvidas, não só em relação à data, como ao local da ocorrência, conforme se retira da leitura aos P14150 e P14151, de 15Jan2015, em particular de algumas passagens retiradas do artigo do mesmo autor, designado por “O martírio de Jaime Mota”.
Eis alguns fragmentos:
(i) – De acordo com as informações dadas pelo, também cabo-verdiano, Amâncio Lopes, Cmdt do 2.º Grupo GRAD a actuar na região de Gabú, refere que no dia 3 de Janeiro de 1974, vai com Jaime Mota, e outros elementos, para a operação de Canquelifá, que corre bem. “No dia 7Jan voltámos ao mesmo quartel e cometemos um erro que foi fatal para Jaime Mora e outras pessoas”.
(ii) – Nesse dia, a determinada altura, “detectada a presença de um grupo do PAIGC, um pelotão de comandos africanos [um bigrupo da CCAÇ 21] acaba por surpreendê-los pela rectaguarda, precisamente no momento em que Amâncio Lopes, Jaime Mota e os restantes guerrilheiros procediam à recolha de dados para mais um bombardeamento ao quartel de Canquelifá”.
(iii) – Essa emboscada fatídica, segundo Amândio Lopes, “aconteceu já ao fim da tarde, quando ele e os seus homens aguardavam que escurecesse um pouco mais para procederem ao bombardeamento do quartel de Canquelifá e, como era hábito, desaparecerem rapidamente do terreno”.
(iv) – “Estávamos a comunicar, o cubano [?] sentou-se num bagabaga, o Jaime Mota sentou-se também um pouco atrás de mim, o radialista guineense também, e havia mais três elementos do meu staff para definir a direcção do fogo (só na artilharia, éramos uns sete ou oito elementos)”.
(v) – Nesse momento, sentimos tiros. “Na fuga, eu (Amâncio Lopes) ensaio ir numa direcção, no que um dos guineenses me grita, aflito, ‘por aí não, camarada Amâncio, porque o tiro está a vir dessa direcção’”.
(vi) – Invertemos a fuga. No recuo, verificámos que nem o Jaime Mora nem o cubano [?] estavam connosco. Mandei toda a gente parar e eu disse: ‘falta-nos o Jaime e o cubano’. O artilheiro guineense me diz: ‘camarada Amâncio, na direcção em que o Jaime e o cubano ficaram, não há chance… se você quiser ficar também… Pense bem. Não podemos voltar, porque se o fizermos será a nossa morte também”.
(vii) – Por outro lado, Honório Chantre (1941.10.25-2020.07.20), que, depois da independência da Guiné-Bissau, foi Ministro da Defesa Nacional de Cabo Verde, entre 1981-1986, recorda o seu conterrâneo como um homem muito ponderado e seguro, afirmando: “o Jaime não foi tropa portuguesa, mas tinha uma formação militar muito sólida. Esteve em Cuba, na União Soviética e tinha experiência de combate adquirida no terreno da Guiné. Juntamente com Amâncio e o Bibino, ele tinha a quarta classe daquele tempo, feita nos anos quarenta ou cinquenta, ao contrário de alguns colegas de Santo Antão que foram alfabetizados por nós em Cuba”.
(viii) – Depois… Depois, a confirmação da morte de Jaime Mota. Esta aconteceu na sequência da “operação de recolha e transladação dos três cabo-verdianos inumados em território da Guiné-Bissau”, em que participaram António Leite, Amâncio Lopes e Eduardo dos Santos. É referido: “fomos ao Leste e conseguimos localizar os restos do Jaime Mota, que pouco restava. Mesmo assim, foi fácil, porque sabíamos que ele tinha um dente de ouro e encontrámos uma caveira com dente de ouro”. (…)
Termino esta narrativa, com a mesma dúvida como comecei… Será que este documento, onde se procurou separar o caminho do “real” do da “ficção”, tem alguma utilidade?
Pelo menos, para mim, ajudou-me a compreender melhor alguns dos episódios mais marcantes e mais sofridos dos “encontros” tidos, de ambos os lados, nas matas de Copá e Canquelifá, situadas na Região do Gabú, Leste da Guiné-Bissau, entre o Natal de 1973 e 7 de Janeiro de 1974.
Obrigado pela atenção.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
08Fev2022
Último poste da série > 15 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22631: Memórias cruzadas nas 'matas' da Região do Óio-Morés: o caso da queda do "T-6 FAP 1694", em 14out1963, incluido no documentário "Labanta Negro!", realizado pelo italiano Piero Nelli, 28 meses depois (fev 1966) (Jorge Araújo)
► Encontrámos mais uma referência ao seu nome no ponto 13 (Anexos) do livro “El Grito del Baobab” (O grito do Baobá), de que é autor o escritor cubano Coronel (reformado) Humberto Trujillo Hernández, editado pela Editorial de Ciências Sociais em 2008. Porque não conseguimos ter acesso ao seu conteúdo, aqui se dá conta, somente, desse facto, o que lamentamos. Caso haja algum tertuliano que o tenha, faça o favor de nos informar.
2.8 – JAIME MOTA – cabo-verdiano, natural da Ilha de Santo Antão
▬ Algumas notas
► Das fontes consultadas, a investigação realizada pelo jornalista cabo-verdiano José Vicente Lopes, parece não deixar quaisquer dúvidas, não só em relação à data, como ao local da ocorrência, conforme se retira da leitura aos P14150 e P14151, de 15Jan2015, em particular de algumas passagens retiradas do artigo do mesmo autor, designado por “O martírio de Jaime Mota”.
Eis alguns fragmentos:
(i) – De acordo com as informações dadas pelo, também cabo-verdiano, Amâncio Lopes, Cmdt do 2.º Grupo GRAD a actuar na região de Gabú, refere que no dia 3 de Janeiro de 1974, vai com Jaime Mota, e outros elementos, para a operação de Canquelifá, que corre bem. “No dia 7Jan voltámos ao mesmo quartel e cometemos um erro que foi fatal para Jaime Mora e outras pessoas”.
(ii) – Nesse dia, a determinada altura, “detectada a presença de um grupo do PAIGC, um pelotão de comandos africanos [um bigrupo da CCAÇ 21] acaba por surpreendê-los pela rectaguarda, precisamente no momento em que Amâncio Lopes, Jaime Mota e os restantes guerrilheiros procediam à recolha de dados para mais um bombardeamento ao quartel de Canquelifá”.
(iii) – Essa emboscada fatídica, segundo Amândio Lopes, “aconteceu já ao fim da tarde, quando ele e os seus homens aguardavam que escurecesse um pouco mais para procederem ao bombardeamento do quartel de Canquelifá e, como era hábito, desaparecerem rapidamente do terreno”.
(iv) – “Estávamos a comunicar, o cubano [?] sentou-se num bagabaga, o Jaime Mota sentou-se também um pouco atrás de mim, o radialista guineense também, e havia mais três elementos do meu staff para definir a direcção do fogo (só na artilharia, éramos uns sete ou oito elementos)”.
(v) – Nesse momento, sentimos tiros. “Na fuga, eu (Amâncio Lopes) ensaio ir numa direcção, no que um dos guineenses me grita, aflito, ‘por aí não, camarada Amâncio, porque o tiro está a vir dessa direcção’”.
(vi) – Invertemos a fuga. No recuo, verificámos que nem o Jaime Mora nem o cubano [?] estavam connosco. Mandei toda a gente parar e eu disse: ‘falta-nos o Jaime e o cubano’. O artilheiro guineense me diz: ‘camarada Amâncio, na direcção em que o Jaime e o cubano ficaram, não há chance… se você quiser ficar também… Pense bem. Não podemos voltar, porque se o fizermos será a nossa morte também”.
(vii) – Por outro lado, Honório Chantre (1941.10.25-2020.07.20), que, depois da independência da Guiné-Bissau, foi Ministro da Defesa Nacional de Cabo Verde, entre 1981-1986, recorda o seu conterrâneo como um homem muito ponderado e seguro, afirmando: “o Jaime não foi tropa portuguesa, mas tinha uma formação militar muito sólida. Esteve em Cuba, na União Soviética e tinha experiência de combate adquirida no terreno da Guiné. Juntamente com Amâncio e o Bibino, ele tinha a quarta classe daquele tempo, feita nos anos quarenta ou cinquenta, ao contrário de alguns colegas de Santo Antão que foram alfabetizados por nós em Cuba”.
(viii) – Depois… Depois, a confirmação da morte de Jaime Mota. Esta aconteceu na sequência da “operação de recolha e transladação dos três cabo-verdianos inumados em território da Guiné-Bissau”, em que participaram António Leite, Amâncio Lopes e Eduardo dos Santos. É referido: “fomos ao Leste e conseguimos localizar os restos do Jaime Mota, que pouco restava. Mesmo assim, foi fácil, porque sabíamos que ele tinha um dente de ouro e encontrámos uma caveira com dente de ouro”. (…)
Termino esta narrativa, com a mesma dúvida como comecei… Será que este documento, onde se procurou separar o caminho do “real” do da “ficção”, tem alguma utilidade?
Pelo menos, para mim, ajudou-me a compreender melhor alguns dos episódios mais marcantes e mais sofridos dos “encontros” tidos, de ambos os lados, nas matas de Copá e Canquelifá, situadas na Região do Gabú, Leste da Guiné-Bissau, entre o Natal de 1973 e 7 de Janeiro de 1974.
Obrigado pela atenção.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
08Fev2022
Último poste da série > 15 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22631: Memórias cruzadas nas 'matas' da Região do Óio-Morés: o caso da queda do "T-6 FAP 1694", em 14out1963, incluido no documentário "Labanta Negro!", realizado pelo italiano Piero Nelli, 28 meses depois (fev 1966) (Jorge Araújo)
22 comentários:
Excelente trabalho.
Jorge Araújo, grande documento.
Estive na zona três anos antes, embora com "porrada" mas havia deslocações no terreno, colunas nas estradas e apoio aéreo frequente.
Neste teu documento do período 1973-74, verifica-se haver a intenção do PAIGC fazer outra "zona libertada" como na zona do Boé. Já não se podia sair dos aquartelamentos/tabancas e a população fugia para melhor segurança e provavelmente haveria, mais tarde, o abandono estratégico dessas localidades. Estavam a fechar o cerco a Piche, primeiro, para posterior ataque a Nova Lamego.
Estas acções na zona leste 1973-74 deitam abaixo aquela 'faltam uns mesinhos para a guerra acabar e todos voltarmos para casa'. E acabou não por "derrota/vitória" militar, acabou por causa do 25 de Abril de 1974.
Como disse, estive nessa zona em 1970 e palmilhei alguns km em operações sem nunca ter contactos com o IN, mas, eu, nunca fui a Pirada. Como curiosidade, nas Dingas, tabancas perto de Copá, havia vários albinos na população.
Abraço e saúde
Valdemar Queiroz
Excelente análise, Jorge Araújo, aliás como é o teu hábito.
Apenas notei um lapso de transcrição, na 1ª, está transcrito 1973, mas no cubano é 1974, como é natural (1,º semestre de 1974).
Abraços
JPicado
Jorge, alguns leitores sentir-se-ão chocados com a foto nº 4... A morte, todas as mortes dos seres humanos, perturbam. E, na guerra, também há uma ética da morte... E pudor e compaixão, em relação aos nossos mortos e aos mortos do "inimigo"...Nem sempre, de um lado e do outro, nos comportámos de maneira ética em relação aos cadáveres: houve mutilações, rituais (orelhas cortadas) ou de raiva, houve cadáveres que ficaram insepultos, houve corpos armadilhados deixados no terreno, houve corpos retalhados a catana ou a rajadas de kalash ou de G3, gratuitamente...
Em relação a estes dois homens, que foram mortos pela CCAÇ 21, na sequência da Acção Minotauro, em 7 de janeiro de 1974 (, não parece haver qualquer referência nos livros da CECA a esta acção...), já se disse muita coisa... Oude está a verdade ? Só cruzando versões e triangulando fontes...
Gostei de ler a legenda do Jorge Araújo, honrando os princípios do nosso blogue:
(...) É intenção da foto que se encontra abaixo (Fotos 4 e 4A) servir de prova sobre alguns equívocos identificados nas narrativas analisadas, em particular nos “casos” em que é descrito, com aprofundado detalhe, o modo como ocorreram as mortes de elementos da guerrilha, a sua captura e posterior inumação.
Importa sublinhar que, neste “caso”, os dois corpos da foto, desnudos, mereceram o maior respeito e consideração humana, por parte do colectivo da CCAÇ 3545, tendo os mesmos sido lavados antes de serem inumados na região (de acordo com fonte oral). (...)
Caro Camarada Jorge Picado,
Obrigado pelo elogio e pela pertinência do reparo sobre o ano indicado no primeiro fragmento da tradução.
De facto, o jornalista Ramón Cabrera, ao referir-se às três frente de combates levados a cabo pelo PAIGC (Guidage, Guileje e Gadamael - os três G's) errou no ano, ao indicar 1974, quando, como sabemos, eles (ataques) ocorreram entre Maio e Junho de 1973. Ao detectar essa discrepância a tradução aparece já com a data corrigida, o que faz todo o sentido.
Um abraço.
Jorge Araújo.
Amigo Luís
Nesta fase da vida, fotos dessas já não me chocam nada. E isto não tem nada a ver por ter participado numa guerra, ainda que eu classifique agora como tendo sido a minha estadia naquelas paragens, "menos má", pois tive muita sorte, comparado com a grande maioria dos que por lá "passaram as passas do Algarve", como se costuma dizer. Não me chocam, já que isto tem sido o "pão nosso de cada dia", desde que terminou a 2,ª Guerra Mundial e então se esperava que nunca mais veriamos tais atrocidades. Pura mentira...
Até as crianças com os jogos que se multiplicam para jogar nos "computers", já nem ligam às mortes!!!
Desculpa este desabafo, mas é o Mundo insensível que construiram.
Melhoras para ti e grande abraço
JPicado
Pergunta o Jorge Araújo, no final do seu trabalho:
"Termino esta narrativa, com a mesma dúvida como comecei… Será que este documento, onde se procurou separar o caminho do “real” do da “ficção”, tem alguma utilidade?"...
Jorge, estamos muito limitados, nas nossas pesquisas, no que diz respeito ao acesso a bases de dados bibliográficos ou outras fontes documentais... Não somos investigadores profissionais, académicos ou jornalistas... E o que tu tens feito, e muito bem, é aproveitar, cruzando e triangulando, versões e fontes que estão ao nosso alcance, na Internet, incluindo o nosso blogue, que a caminho dos 18 anos de existência, acabade publicar o seu poste 23000!...
Penso que o nosso blogue já contribuiu, por exemplo, para dar uma versão, mais próxima da verdade factual, sobre as circunstâncias da morte do Jaime Mota, um dos três "combatentes da liberdade da Pátria", de origem cabo-verdiana, que morreram em combate, na Guiné...
Acho que ajudámos o conceituado jornalista e historiógrafo José Vicente Lopes a rever algumas das informações, mais "fantasiosas" ou mais "hagiográficas", sobre a morte do Jaime Mota, "torturado e executado por comandos africanos"... Partilhámos imformações aqui no nosso blogue... E a verdade é que eu já não encontro, disponível na Net (e no sítio da Fundação Amílcar Cabral) do seu muito "enviesado" artigo intitulado "O martírio de Jaime Mota"... Não sei se ele voltou a escrever sobre o assunto... Seria importante, já que é um escritor influente no seu país... Vou mandar-lhe o link do teu poste...
Jorge Araújo:
Parabéns pelo teu trabalho.
Um grande abraço,
Mário Migueis
Na página do Facebook das Forças Armadas de Cabo Verde, de 6 de abril de 2018, pode ler-se:
(Fiz ligeiras correções de português...LG)
O Comando da Guarnição do Estado-Maior das Forças Armadas celebra hoje 6 de abril dia da Unidade Jaime Mota. Para marcar este dia irá decorrer um conjunto de atividades no Quartel Jaime Mota, sito no Plateau.
Em homenagem a esse grande homem e combatente da Liberdade da Pátria, deixamos aqui a sua biografia.
JAIME NASCIMENTO MOTA, combatente da Liberdade da Pátria, nasceu a 6 de Abril de 1940, na freguesia de Santo António da Pombas, Concelho do Paul, ilha de Santo Antão. Filho de António Manuel Mota e de Elvira Nascimento Delgado.
Camponês de origem humilde, desde cedo ajudou os pais na labuta do dia-a-dia.
Em 1960, depois de terminar o Serviço Militar Obrigatório no Exército Português, emigrou para Holanda e posteriormente para França onde trabalhava numa fabrica de metalurgia em Moselle.
No ano de 1965, depois de mobilizado para o PAIGC, saiu da França e foi destacado para a Argélia para receber preparação militar, para posteriormente entrar na Luta de Libertação Nacional.
Terminado a primeira formação militar em Argélia, juntamente com outros camaradas, viaja para Cuba, onde permanece de 1965 a 1967, com o objetivo de efetuar um desembarque em Cabo Verde.
A 15 de Janeiro de 1967, JAIME MOTA, e outros camaradas prestam Juramento de Fidelidade a justa causa da Independência, perante o fundador da nossa Nacionalidade, Amílcar Cabral. Falhado o plano de desembarque, JAIME MOTA é encaminhado para uma nova formação na União Soviética, onde se especializou em Artilharia não estriada (morteiro), tendo regressado à Luta Armada no ano 1968.
Nos finais de 1970 parte para URSS para se formar na área da marinha, especializando-se em mecânica e eletricidade, tendo regressado para a Luta Armada em 1971, desta vez como eletricista de uma vedeta de guerra e posteriormente para um barco de pesca de arrasto.
Depois da morte de Amílcar Cabral, no ano de 1973, ele deixou a marinha e regressou à frente de combate, retomando o seu cargo na Artilharia Terrestre no sul da Guiné, e tendo posteriormente regressado à frente Leste.
Com uma formação militar muito sólida e com experiência de combate, esteve em várias frentes de luta na Guiné, “no mato”, designadamente na praça-forte de Madina de Boé (sic).
Faleceu, em combate, a 7 de Janeiro de 1974, na zona de Canquelifá, Guiné Bissau e os seus restos mortais foram translados para Cabo Verde no ano de 1991, quinze anos depois da sua morte, e depositados no cemitério do Paul, ilha de Santo Antão.
No ano de 1992, pelo decreto-lei nº 104/92, de 24 de Agosto, e em reconhecimento do seu legado, é designado como Patrono da Unidade, JAIME MOTA, baseada na Cidade da Praia, ilha de Santiago.
https://www.facebook.com/219926775256665/photos/o-comando-da-guarni%C3%A7%C3%A3o-do-estado-maior-das-for%C3%A7as-armadas-celebra-hoje-6-de-abri/220529475196395/
Largos excertos do artigo "O martírio de Jaime Mota", de José Vicente Lopes, publicado no jornal "A Nação", em 20/1/2014, e reproduzido no sítio da Fundação Amílcar Cabral, Praia, Cabo Verde, podem ser lidos aqui, no nosso blogue, no poste P14150 (Seleção e fixação de texto: LG).
O texto do José Vicente Lopes, felizmente, deixou de estar "on line", já não o conseguimos encontrar na fonte original, a página da Fundação Amilcar Cabral.
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/01/guine-6374-p14150-casos-verdade-sobre-i.html
Temos mais uma versão, relevante, sobre os acontecimentos do dia 7 de Janeiro de 1974, a do nosso camarada Pereira, ex-furriel miliciano da CCAÇ 3545... A foto que disponibilizou ao seu amigo e camarada Jorge Araújo é documento importanotíssimo para todos nós que procuramos saber a verdade.
Jorge Araújo,
Excelente trabalho, como muitos outros que já li no blogue, feitos por ti.
O teu trabalho tem o seu enorme mérito, de dedicação e pesquisa destes factos, que posso adivinhar que a maioria dos nossos homens que passaram os 10 anos de guerra na Guiné, nao sabem, nem lhes passa pela cabeça.
Isto é o que importa, saber, mesmo que tudo, possa não ser tão verdade, é saber de tantos bravos que passaram horas do diabo, e que não são reconhecidos, ou se o são, não o suficiente.
Eu posso dizer que quando regressei a casa, não fazia ideia de onde vinha, afinal, estava a regressar do inferno, felizmente que tendo passado por alguns apertos, nada disto eu tinha ideia, e se não fosse o desastre do Cheche, não vinha 'marcado' tão profundamente.
E quem diria que, eu estive lá, noutra época, queria ir na Patrulha - ou recreio - que o Comandante do Batalhão Ten Cor Armando Vasco Campos Saraiva, fez ainda em finais de 1967, a Pirada e Copa. Levou o médico do batalhão Ten Médico Cortez e a sua mulher, ela vestida a rigor de camuflado, parecia um elemento de um grupo de combate. O Comandante não me deixou também ir nessa viagem, que de perigos nesse tempo não existiam, porque não queria perder o seu braço direito do Conselho Administrativo, que ele preservava.
As viagens que fiz foi tudo desenfiado, deixei de pedir licença e ia na mesma.
Nunca me chamaram a atenção de nada, até o dia em que andei perdido nos rios entre Suzana e São Domingos, mas aí, fui destacado das duas viagens de Sintex, sem ter experiência de comando operacional, mas eu pensava lá nisso, queria era sair daquela monotonia, da solidão, do isolamento, ver novas paisagens, conhecer novos povos, como foi o caso dos Felupes de Varela e Susana.
Fiquei sempre com esta nega da viagem a Pirada, no meu subconsciente, tinha visto ou até pisado as terras do Senegal, ali bem perto da fronteira.
E até posso questionar a razão da nega, porque a minha missão também consistia visitar e fiscalizar 'in loco' as contas das Unidades sob o nosso comando, e eram naquele sector grande L3, 17 unidades independentes. Ora bem, se fosse nesse período fatídico de fins de 73 inícios de 74, talvez não teria tanto desejo.
Sem pieguices, pois já não tenho idade nem saúde para isso, tenho de dar o meu louvor a este teu trabalho e outros, um contributo inestimável para o conhecimento da verdade.
Não esquecer o soldado condutor António Rodrigues, por ter isto escrito ao pormenor, nem sei como eu não me dediquei a escrever nessa época. Agora escrevo e muito, mas os factos passados são apenas uma miragem, e afinal fui um sortudo nesta guerra, que não renego.
Os meus parabéns Jorge Araújo, sinceros mesmo, aprecio as tuas obras, ao contrário de outras sem nenhum interesse, que vão sendo publicadas. Sei que dizer isto chateia, mas sou assim, e também sei que as minhas estórias não interessam à maioria.
Um abraço,
E saúde da boa (como diz o nosso Valdemar).
Virgilio Teixeira,
Em Vila do Conde, a recuperar de 2 cirurgias, dos dias 3 e 8 de dezembro 2021.
Excelente trabalho.
Pena que, à parte o reporte do voo nocturno do Dakota, (que ia espalhando ferro pelas matas), não vir referido o apoio da FAP na região. Pela minha parte, entre 8 e 13 Janeiro 74, fiz oito missões de apoio a Bajocunda/Copá, chegando a largar bombas de 750 libras a menos de quinhentos metros do aquartelamento, já fora da área de segurança das nossas tropas (alguns devem tê-las ouvido). Outros pilotos terão feito o mesmo. Só para lembrar aos mais distraídos, em 31Jan74 e em apoio a Bajocunda/Copá, foi abatido um Fiat G-91.
Virgílio, o que é isso do 'nosso Valdemar'?
Como não estamos na tropa, nem coisa que se pareça, posso entender que queiras dizer 'que escrevo umas coisas aqui no blogue', por não julgar que seja anagrama de sonso.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Jose Matos (by email)
quarta, 16/02/2022, 23:33
Já agora sobre a morte do tenente cubano Rámon Infante em Copá, posso dar um esclarecimento adicional que podem publicar no blogue com base no livro “El Grito del Baobab” (pp. 232-233), do Humberto Trujillo Hernández.
O relato neste livro é baseado em informações de Sergio Sarduy, chefe da inteligência militar cubana na Guiné- Bissau. Ora, no dia 7 de janeiro, o Rámon participou num ataque com morteiros a Copá. Nesse dia, o bombardeamento foi suspenso devido a problemas com as espoletas e passou para o dia seguinte (dia 8). Pela manhã desse dia, ele e um cabo-verdiano (Jaime Mota?) foram para o local com o intuito de bombardear a posição portuguesa e quando estavam a preparar os morteiros foram surpreendidos por uma patrulha portuguesa.
Depois de um intenso tiroteio, Rámon caiu morto no chão, mas o cabo-verdiano parece que escapou debaixo de fogo?? Depois de identificado como cubano, as forças portuguesas tentaram levá-lo para Buruntuma para depois ser transportado para Bissau. No entanto, não conseguiram devido ao facto do quartel estar cercado por forças do PAIGC e a aterragem de helicópteros não ser possível. Perante a situação, os portugueses decidiram enterrá-lo perto de Copá, numa cratera feita por um foguete Grap-1p, depois de cortar o corpo em duas metades para caber lá dentro e de lhe cortar as orelhas e as mãos como provas de identificação.
O corpo seria encontrado mais tarde, depois dos portugueses abandonarem Copá. Um rapaz guineense terá dito aos cubanos onde estava o corpo.
VT, disse,
Lá reaparecem os mal entendidos!
Valdemar, o que eu queria dizer, porque já pertenço também aos doentinhos, é que agora só desejo saúde da boa, para todos, tal como, o nosso Valdemar Queiroz, sempre acaba as suas intervenções, e agora compreendo, que não vale a pena desejar outra coisa que não seja,
SAUDE DA BOA!
Não sei se respondi, pois não percebi bem qual era a tua ideia, mas não estava coincidente com a minha, julgo eu?
Nesta fase da vida, e depois de aprender cada dia mais umas coisas, pouco me interessam outros assuntos, a minha doença deitou-me abaixo pelo menos 50% e já não volta mais ao mesmo.
Para terminar em beleza, quando entrei neste blogue, foste quase o primeiro a aparecer, e poderíamos ter tido mais e melhores dicas, pois havia em comum o facto de Nova Lamego, que eu não esqueço nunca, e o quartel de baixo também, factos que nos uniam. Complementando tudo com as imensas fotos que tinha, não sendo as melhores, pois estava a aprender a lidar com uma câmara , mas havia muito pano para mangas.
Tu apareces por lá 2 anos depois de eu sair, e gostava de saber a evolução da terra e da guerra naquele imenso sector L3, do meu tempo.
Depois não sei porquê, começaram as picardias, e eu não me sentia bem, pois estava a lidar com pessoas que não conhecia de parte nenhuma.
Não foi só contigo, mas com outros, que não vou aqui elencar, que chegaram ao insulto barato, só porque eu tinha, e tenho, uma forma de ver a vida e uma outra noção da guerra, e outras particularidades que não são bonitas para malta dos 70 e tal anos.
Por essas e por outras, fiz questão de sair, e vou aparecendo sempre que me apetece e puder, mandando os meus bitaites, mas os assuntos agora são de uma tecnicidade e tão filosóficas que eu já não tenho bagagem para comentar.
Estou velho e sinto-me agora muito mais velho.
É a vida, camarada de armas, que passou por terras onde eu estive também e só isso é um factor de proximidade e não de afastamento.
Abraço para ti, e para os nossos bloguistas de tertúlias, e
Saúde da boa,
Virgilio Teixeira
Caro José Matos,
Obrigado pelas notas que nos enviaste.
Contudo, esta versão do coronel cubano Humberto Trujillo Hernández, publicada no seu livro "El Grito del Baobab", que é citado, foi editado em 2008, ou seja, três anos depois daquele que utilizei neste meu trabalho...
Na tradução (a última), da minha responsabilidade, é referido o seguinte:
● Tradução (a última) da página 180 do livro do escritor cubano Ramón Pérez Cabrera, editado em 2005.
“Em 7 de Janeiro (2.ª feira), Ramón Maestre cumpriu, junto com um jovem guerrilheiro cabo-verdiano, a importante missão de assediar o quartel de Copá com morteiro, mas a acção foi suspensa para o dia seguinte. Na manhã do dia 8Jan (3.ª feira), Ramón Maestre e o jovem guerrilheiro partiram novamente e quando estavam a colocar o morteiro foram surpreendidos por uma patrulha portuguesa. No intenso tiroteio, Ramón Maestre foi ferido, morto ou feito prisioneiro [?], enquanto o cabo-verdiano conseguiu escapar sob o intenso tiroteio. A princípio, os portugueses acreditaram que o combatente era guineense, mas após identificá-lo como cubano, decidiram levá-lo ao quartel de Buruntuma [? - talvez Canquelifá, o quartel mais próximo] com a intenção de transportá-lo posteriormente para a capital de Bissau, mas não puderam levá-lo porque o quartel fora cercado pelas FARP e o fogo antiaéreo impediu que os helicópteros pousassem na área. Finalmente, o corpo do oficial cubano foi sepultado fora do quartel depois de lhe cortarem o corpo em duas metades e amputar as orelhas e as mãos como prova da nacionalidade” (op.cit. p.180).
Que diferenças substantivas encontramos entre os dois textos? Na minha opinião, nenhumas.
Voltarei a este tema logo que tenha "matéria(s) de facto".
Obrigado.
Saúde.
Jorge Araújo.
O Hernandez (2008) plagiou descaradamente o Cabrera (2005)... Esta versão acaba por legitimar a lenda...Hagiografis pura ?!...Jorge, volta a falar com o teu amigo Pereira, nosso camarada da CCAÇ 3545... Esse estava em Canquelifá, viu e ouviu...
Caros amigos,
Foi com muita satisfaçao e grande alivio que li o excelente trabalho do nosso Jorge Araujo a quem aproveito louvar pelo valor dos seus trabalhos de pesquisa. Ha quem nao goste destas triangulaçoes de mostrar o outro lado da barricada, mas somos forçados a reconhecer que é a melhor forma de desvendar e desmistificar acontecimentos, muitas vezes envoltos em mitos, narrativas fantasiosas e/ou artimanhas de enganar a opiniao publica nacional e internacional a seu favor.
Para mim, aqui fica claro que, como sempre, houve um aproveitamento, da parte do Paigc, de um acontecimento triste e doloroso para diabolizar os Comandos africanos (aos quais temiam que nem o diabo) e todos os que estavam do lado oposto numa dupla estratégia que consistia, primeiramente, em minar qualquer possibilidade de uma futura reconciliaçao entre guineenses através do odio e, em segundo lugar, preparar o terreno para o que ja planeavam fazer em relaçao aos Comandos e demais militares e civis classificados de colaboradores dos colonialistas. Até ai, tudo bem, posto que fazia parte da guerra, mas, o que a mim entristece-me mais é o facto de estas e outras aldrabices merecerem o (in)devido credito da parte de alguns Oficiais Milicianos portugueses (da esquerda politica do MFA?) que participaram na guerra da Guiné.
Todavia, fica uma questao sem resposta e relacionada com o terceiro guerrilheiro que, segundo o depoimento do soldado Cmd Amadu Djalo, teria sido morto junto com os dois (o Cubano e o Caboverdiano). Nada consta dele nos diferentes depoimentos apresentados a posteriori e, parece que a atençao maior recaiu sobre os guerrilheiros "estrangeiros" e menos sobre o nativo guineense que, se calhar foi deixado aos Jagudis (?).
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
O Hernandez (2008) plagiou descaradamente o Cabrera (2005)... Esta versão acaba por legitimar a lenda...Hagiografis pura ?!...Jorge, volta a falar com o teu amigo Pereira, nosso camarada da CCAÇ 3545... Esse estava em Canquelifá, viu e ouviu...
Luís, o c. está fora... está tudo tratado.
Ab.
Já agora sobre a morte do tenente cubano Rámon Infante em Copá posso dar um esclarecimento adicional com base no livro “El Grito del Baobab” (pp. 232-233), do Humberto Trujillo Hernández. O relato neste livro é baseado em informações de Sergio Sarduy, chefe da inteligência militar cubana na Guiné- Bissau. Ora, no dia 7 de janeiro, o Rámon participou num ataque com morteiros a Copá. Nesse dia, o bombardeamento foi suspenso devido a problemas com as espoletas e passou para o dia seguinte (dia 8). Pela manhã desse dia, ele e um cabo-verdiano (Jaime Mota?) foram para o local com o intuito de bombardear a posição portuguesa e quando estavam a preparar os morteiros foram surpreendidos por uma patrulha portuguesa. Depois de um intenso tiroteio, Rámon caiu morto no chão, mas o cabo-verdiano parece que escapou debaixo de fogo?? Depois de identificado como cubano, as forças portuguesas tentaram levá-lo para Buruntuma para depois ser transportado para Bissau. No entanto, não conseguiram devido ao facto do quartel estar cercado por forças do PAIGC e a aterragem de helicópteros não ser possível. Perante a situação, os portugueses decidiram enterrá-lo perto de Copá, numa cratera feita por um foguete Grap-1p, depois de cortar o corpo em duas metades para caber lá dentro e de lhe cortar as orelhas e as mãos como provas de identificação. O corpo seria encontrado mais tarde, depois dos portugueses abandonarem Copá. Um rapaz guineense terá dito aos cubanos onde estava o corpo. Ab
Enviar um comentário