1. Para animar o nosso querido (mas fugaz) mês de agosto de 2025, o Zé Teixeira mandou-nos algumas das suas histórias picarescas e brejeiras. Ficam bem na série "Humor de caserna" (*).
Recorde-se que o José Teixeira :
(i) é régulo da Tabanca de Matosinhos;
(ii) ex-1.º cabo aux enfermeiro, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70;
(iii) é um histórico da Tabanca Grande, que integrou a partir de 14/12/2005;
(iv) tem c. quatro centenas e meia de referências no blogue;
(v) vive em São Mamede de Infesta, Matosinhos;
(vi) é gerente bancário reformado;
(viii) escritor, poeta, contista, além de escutista...
A brincar, a brincar, o Zé Teixeira, que conhecia bem a população a quem prestava cuidados de enfermagem, levanta aqui neste microconto (com o título original, "As vitaminas abortivas") algumas questões sensíveis como a promiscuidade sexual, a violência sobre as mulheres (no seio da família patriarcal), a saúde reprodutiva, a interrupção da gravidez, o acesso aos cuidados de saúde etc., nas regiões de Quínara e de Tombali, em plena guerra colonial.
Em Empada uma das coisas mais gostosas que a tropa gostava de fazer era ir até à Fonte Frondosa apreciar as bajudas no banho...
− Minha tio brinca e faz minino na bariga di mim. Tem pacensa, parte quinino !
− Nega mesmo, mudjer grandi ká na tem quinino. Tu tem quinino.
− Olha, vou pensar nisso, passa amanhã pela enfermaria.
− Tem de ser hodje. Parte quinino.
Seguiu-me até à enfermaria e eu, sem saber o que fazer para afastar a chata, que ainda por cima era daquelas poucas feias que por lá apareciam e de quem todos nós nos afastávamos.
Bem, para grandes males grandes remédios. Se estava grávida, nada como lhe dar uns comprimidos de vitaminas. Mal não faziam. Talvez o milagre se desse...
Quinze dias depois, lá fui eu até à fonte passar um pouco de tempo e treinar uns apalpos, nem sempre bem sucedidos, quando a Fátma aparece.
− Fermero, minino na vai. “Coisa” (#) na tchega mesmo. Tu, bom pessoal.
Ganhei mais uma amiga e juntei à fama de curandeiro e milagreiro, mais uma: a de... abortadeiro!
Zé Teixeira
30 de julho de 2025
Humor de caserna (209) > Um "fermero" que em Empada ganhou fama de curandeiro, milagreiro e... abortadeiro!
por Zé Teixeira
Em Empada uma das coisas mais gostosas que a tropa gostava de fazer era ir até à Fonte Frondosa apreciar as bajudas no banho...
À falta de melhor e com um bocadinho de sorte aparecia uma ou outra que vestia apenas o fato que a mãe lhe tinha dado ao nascer. Para alguns camaradas virgens aquilo era sopa da boa.
A Fátma, mais uma das muitas Fátmas que conheci na Guiné, abeirou-se de mim:
− Fermero, parte quinino pra matá minino que na tem na bariga !
A Fátma, mais uma das muitas Fátmas que conheci na Guiné, abeirou-se de mim:
− Fermero, parte quinino pra matá minino que na tem na bariga !
− Como ?
− Minha tio brinca e faz minino na bariga di mim. Tem pacensa, parte quinino !
− Quinino ká tem, vai na mudjer grandi, ele trata di ti.
− Nega mesmo, mudjer grandi ká na tem quinino. Tu tem quinino.
− Olha, vou pensar nisso, passa amanhã pela enfermaria.
− Tem de ser hodje. Parte quinino.
Seguiu-me até à enfermaria e eu, sem saber o que fazer para afastar a chata, que ainda por cima era daquelas poucas feias que por lá apareciam e de quem todos nós nos afastávamos.
Bem, para grandes males grandes remédios. Se estava grávida, nada como lhe dar uns comprimidos de vitaminas. Mal não faziam. Talvez o milagre se desse...
Quinze dias depois, lá fui eu até à fonte passar um pouco de tempo e treinar uns apalpos, nem sempre bem sucedidos, quando a Fátma aparece.
− Estou tramado, aí vem a chata…
Qual quê !, ao ver-me, desata a correr para mim, toda contente.
Qual quê !, ao ver-me, desata a correr para mim, toda contente.
− Fermero, minino na vai. “Coisa” (#) na tchega mesmo. Tu, bom pessoal.
Ganhei mais uma amiga e juntei à fama de curandeiro e milagreiro, mais uma: a de... abortadeiro!
Zé Teixeira
30 de julho de 2025
(#) Menstruação
(Revisão / fixação de texto, título, itálicos e negritos: LG)
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Nota do editor LG: