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terça-feira, 16 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23528: Fichas de unidade (26): BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72): sem subunidades operacionais orgânicas, responsabilidade de um vasto sector, na região de Tombali, o sector S3, com sede em Catió, que abrangiam os subsectores de Bedanda, Catió, Cufar, Guileje, Gadamael e Cacine.





Guião do BCAÇ 2930 e da sua CCS (Catió, 1970/72). Cortesia de:
Colecção Carlos Coutinho (2009)


1. Tive há dias o prazer de conhecer pessoalmente (e conversar longamente com) o cor inf ref Mário Arada de Almeida Pinheiro. Tem casa de férias, há décadas, na Praia da Areia Branca e é casado com uma conterrânea minha... Somos, além disso, membros do GAPAB - Vigia (Grupo dos Amigos da Praia Areia Branca). Ele genro de um dos sócios-fundadores.  A associação foi criada em 1949. Já nos conhecíamos de vista. 

Mas eu desconhecia que o cor Arada Pinheiro tinha estado na Guiné (de 1971 a 1973) e trabalhado diretamente com o gen Spínola, depois do seu batalhão, o BCAÇ 2930, ter regressado à Metrópole... 

Com 89 anos de idade, filho de oficial da marinha, e órfão de pai aos dois anos,  fez o Colégio MIlitar e entrou para a Academia Militar em 1951 (se não erro), sendo do curso do ten gen José dos Santos Carreto Curto, falecido em 2018 (ex.cap inf, cmdt da CCAÇ 153, Fulacunda, 1961/63). 

Fez duas comissões, como capitão, em Moçambique. E, já como major, foi mobilizado para a Guiné em rendição individual. Tem o curso de promoção a oficial general. 

Pessoal afável, tem uma memória espantosa e é um conversador como poucos. A Guiné, tal como Moçambique, ficou-lhe no coração. E diz, com orgulho, que substitutiu o então major inf Carlos Fabião (1930-2006) (do curso anterior ao seu na Academia Militar) nas funções de comandante do Comando Geral de Milícias (13 mil homens em armas!). 

Gostaria de o convidar para integrar a nossa Tabanca Grande (e de poder partilhar algumas das suas histórias com os nossos leitores) , mas penso que ainda é cedo... Para já aqui fica a ficha da unidade, respeitante ao BCAÇ 2930, onde o Arada Pinheiro foi Of Info Op e depois 2º comandante. 

Este batalhão (de que temos apenas umas escassas 18 referências no blogue), curiosamente, só era composto por comando e CCS, não tendo unidades orgânicas. Teve, no entanto,  a responsabilidade de um vasto sector, na região de Tombali, o sector S3, com sede em Catió, que abrangiam os subsectores de Bedanda, Catió, Cufar, Guileje, Gadamael e Cacine.


Batalhão de Caçadores n.º  2930

Identificação: BCaç 2930

Unidade Mob: BC 10 - Chaves

Cmdt: TCor Inf Castro Ambrósio | TCor Inf Carlos Frederico Lopes da Rocha Peixoto | TCor Inf Ernesto Orlando Vieira Correia

2º  Cmdt: Maj Inf Ernesto Orlando Vieira Correia | Maj Inf  Mário Arada de Almeida Pinheiro

OInfOp/ Adj: Maj Inf Duarte Leite Pereira | Maj Inf Mário Arada de Almeida Pinheiro

Cmdt CCS: Cap SGE Manuel Pereira de Carvalho

Divisa: "Sempre Excelentes e Valorosos"

Partida: Embarque em 25Nov70; desembarque em 04Dez70 | Regresso: Embarque em 130ut72


Síntese da Actividade Operacional


Era apenas composto por Comando e CCS, não dispondo de subunidades operacionais orgânicas.

Em 16dez70, após sobreposição com o BArt 2865, desde 7dez70, assumiu a responsabilidade do Sector S3, com sede em Catió e abrangendo os subsectores de Bedanda, Catió, Cufar, Guileje, Gadamael e Cacine.

Com as subunidades que lhe foram atribuídas, desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos e de vigilância da fronteira, especialmente na zona do corredor do Guileje, tendo ainda os seus aquartelamentos e aldeamentos sido alvo de frequentes e fortes flagelações, especialmente quando situados junto da fronteira. 

Além disso, coordenou e impulsionou a execução dos trabalhos de construção dos reordenamentos de Catió, Cacine e Gadamael, entre outros e os trabalhos da estrada Catió-Cufar.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 4 pistolas-metralhadoras, 4 espingardas, 2 lança-granadas foguete, 87 granadas de espingarda e 68 minas.

Em 21Ago72, foi rendido no sector pelo BCaç 4510/72 e recolheu a Bissau, onde se manteve aguardando embarque.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 92 - 2ª. Div/4.ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 150

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23373: Fichas de unidade (25): Batalhão de Engenharia nº 447 (Brá, 1964/74): "Que a tamanhas empresas se oferecem"

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20181: Tabanca Grande (485): Carlos Marques de Oliveira, ex-alf mil arm pes inf, cmdt Pel Mort 2115 e, depois, do 5º Pel Art e do 7º Pel Art (Catió e Cabedu, 1969/71): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 796



Carlos Marques de Oliveira, BI Militar


1. Mensagem do Carlos Marques de Oliveira. com data de 26/09/2019 23:36:

Meu caro Luis,

Espero que estejas melhor da intervenção ao joelho e que a recuperação se vá fazendo sem percalços. Que fiques bem o mais rápido possível.

Tenho agora oportunidade de te enviar um breve resumo do meu percurso de vida, enquanto militar.

Fui incorporado no 1.º Turno do COM na Escola Prática de Infantaria, Mafra, em Janeiro de 1968. Após recruta e tendo-me sido atribuída a especialidade de Armas Pesadas de Infantaria, terminei a formação na EPI em Junho de 1968.

Fui colocado no RI 2, Regimento de Infantaria de Abrantes onde, como Aspirante, dei instrução de Armas Pesadas/ Apontadores de Morteiros e Escola de Cabos. Também, como Adjunto do Comando, fiquei com a responsabilidade do Trem Auto.

O pessoal a que dei instrução foi todo mobilizado para diversos Pelotões de Morteiros e de Canhões sem Recuo, que entretanto se constituíram, com destino à Guiné, a Angola e a Moçambique.
Em Dezembro de 1968 fui mobilizado para a Guiné como Comandante do Pelotão de Morteiros 2115. 

Em Março de 1969 formei Unidade no RI 15, Regimento de Infantaria 15, em Tomar, onde fizemos a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO)

Terminado o IAO, embarcámos no navio Niassa a 7 de Maio 69. Chegámos a Bissau a 12 de Maio, onde aguardámos destino operacional.

O Pelotão de Morteiros é uma pequena Unidade Independente, constituída por 1 Oficial Subalterno, 1  2.º Sargento, 2 Furriéis Armas Pesadas, 4 Cabos Apontadores, 2 Soldados Condutores Auto, 2 Soldados Transmissões e neste caso, 35 soldados com diversas funções operacionais atribuídas. Actua  normalmente em apoio a outras Unidades de Escalão superior.

A 16 Mai 69 embarcámos em comboio naval com destino a Catió, na Região Sul da Guiné. Chegados a 17 de Maio foi-nos atribuído o apoio ao Batalhão de Artilharia 2865, ficando a depender logística e operacionalmente deste BArt até Dezembro de 1970.

Por ter terminado a Comissão, o BArt 2865 foi rendido pelo Batalhão de Caçadores 2930, para o qual transitámos o apoio até final da nossa Comissão, em Fevereiro de 1971.

Em Setembro de 1969, fiz parte de um grupo de Alferes e Furriéis de Armas Pesadas de Infantaria que, por necessidade operacional, recebeu instrução e formação em Materiais e Tiro de Artilharia, na BAC 1 em Bissau. Fomos depois distribuídos por diversos Pelotões de Artilharia de Campanha. Fui colocado em Cabedú, a comandar o 5.º Pel Art / BAC 1 desde Outubro de 1969 até Junho de 1970, data em que regressei a Catió para comandar o 7.º Pel Art, cujo comandante falecera em combate.

De Junho de 1970 até final da comissão, em Fevereiro de 1971, passei a comandar cumulativamente os Pelotões de Morteiros e de Artilharia. No período de transição entre o BArt 2865 e o BCaç 2930 fui responsável pelo Serviço de Informações Operações e, Administrativamente, das duas Companhias de Milícias sediadas em Catió.

Apesar de Oficial Miliciano de Infantaria, a minha Comissão de Serviço na Guiné foi, operacionalmente, quase que como Artilheiro, dada a enorme actividade dos Pel Art que comandei , em particular o 7.º Pel Art de Catió, não só em defesa de frequentes ataques e flagelações a que éramos sujeitos, como por iniciativas operacionais do BArt 2865.

Terminada a Comissão, em Fevereiro de 1971, regressámos no navio Angra do Heroísmo que, após passagem pelo Funchal, chegou a Lisboa a 12 de Fevereiro. Passei à disponibilidade no dia 13 de Fevereiro de 1971, no Regimento de Infantaria 15, em Tomar.

Meu caro Luís, este é um brevíssimo resumo do que foi o meu SMO. É longo porque foi longo. Os detalhes ficarão para pequenos textos, se assim o entenderes.

Recheado de factos, de estórias, de sensações, de sentimentos que não nos importamos de compartir e partilhar com quem, como tu, os da tua e nossa Tabanca, das Tabancas de que fazemos parte, os que também viveram e passaram pelos mesmos Chãos, sabem do que estamos a falar. E ouvem e escutam e acreditam nos sentimentos que nos irmanam e igualam.

As fotos, em anexo, não sei se te vão chegar bem. Dá notícias.

Um muito forte abraço com ,uma vez mais, os meus desejos de que tenhas uma rápida recuperação.

Carlos

Carlos Marques de Oliveira

PS. Já agora n.º mecanográfico:   NM 08234765


Foto de família do pessoal do Pel Mort 2115 (Catió e Cabedu, 1969/71). Convívio em 2016. Foto da página do Facebook do seu antigo comandante, o ex-alf mil arm pes inf, Carlos Marques de Oliveira. Reproduzida com a devida vénia...


Guiné > Região de Tombali > Catió > c. 1969 > O 7.º Pel Art de Catió, comandado pelo 2.º Sargento Issa Jau, morto em combate em 27/2/1970. Na foto, o único elemento não guineense, na segunda fila, de pé, o terceiro a contar da esquerda, é o major art José Manuel Mello Machado (1928-2012), 2.º cmdt e mais tarde comandante, depois de promovido a tenente coronel, do BART 2865 (Catió, Cufar e Bedanda, fev 1969 - dez de 1970). 

Segundo informação do Carlos Marques de Oliveira,  nesta foto do 7.º Pel Art não está o srgt art  Issa Jau, faltando aliás  mais elementos: os de recrutamento local eram cerca de 16 soldados. O srgt art  Issa Jau foi ferido nos primeiros rebentamentos de um ataque ao quartel de Catió, a 26/2/1970 tendo falecido durante a evacuação para Bissau. Nessa data já era comandante do BART 2865 o ten cor art Mello Machado, já falecido e amigo pessoal do Carlos. 

Foto do cor art Mello Machado, reproduzida no poste P9514, de 21/2/2012.  Fonte: Mello Machado - Aviltados e traídos: resposta a Costa Gomes. Lisboa: Editora Literal, 1977, 120 pp.


2. Comentário do editor:

Meu caro Carlos, fica então regularizada a tua entrada na Tabanca Grande, com o envio das fotos da praxe, que nos chegaram em boas condições. Já sabes qual é o teu lugar à sombra do nosso mágico e protetor poilão, o n.º 796. à direita do Domingos Robalo (n.º 795) e à esquerda do António Manuel Carlão, infelizmente já falecido. (*)

A tua presença honra-nos a todos, independentemente da arma e da especialidade que calhou a cada um de nós. A Tabanca Grande, já com cerca de 8 centenas de amigos e camaradas da Guiné, é uma pequena amostra da gente valorosa que passou pelo CTIG de 1961 a 1974. Mais de 90% são ex-combatentes, os restantes são familiares de ex-combatentes, mas  também guineenses e demais amigos da Guiné.

A nossa missão é simples e clara: partilhar memórias (e afetos).  É o que fazemos desde há 15 anos, contribuindo de algum modo para que os veteranos da guerra da Guiné não morram na "vala comum do esquecimento". 

Os nossos leitores já têm mais informação a teu respeito: (i) és membro da Magnífica Tabanca da Linha (desde 2 de maio de 2017); (ii) nasceste em Lisboa; (iii) praticaste remo (skiff) antes da tropa e foate campeão; (iii) trabalhaste numa multinacional; (iv) está reformado; (v)  vives em Sintra; tens tem página no Facebook: e (vi) és também membro e administrador da página de grupo Artilharia de Campanha na Guiné . BAC 1 / GAC 7, de que o Domingos Robalo é o administrador. (**)

Carlos, temo-nos encontrado, nos almoços da Tabanca da Linha, mas nunca tivemos oportunidade de conversar sobre as "coisas" da Guiné... por coincidência, somos ambos  homem de armas pesadas de infantaria:  mas tu tiveste o privilégio de ser artilheiro e comandar bravos artilheiros (***)...

Por outro lado, confirma-se, mais uma vez, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... O teu reencontro com o Domingos Robalo, no 45.º Convívio da Tabanca da Linha, no passado dia 19,  já foi aqui devidamente assinalado e documentado.

Espero que outros comandantes de Pel Mort e Pel Art sigam o teu exemplo, dando a cara.  De futuro, já sabes como comunicar connosco: através do email, podes mandar novos textos e fotos. O nosso blogue é voraz e preciso de ser devidamente alimentado todos os dias. 

Bem vindo, camarada!

PS - Obrigado também pela partilha do teu n.º de telemóvel e pelos teus votos de boa saúde... O meu joelhinho esquerdo está em franca recuperação depois de uma artroscopia, no passado dia 24.
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Notas do editor:



quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20122: (De)Caras (135): Carlos Marques de Oliveira, membro da Magnífica Tabanca da Linha, ex-fur mil, Pel Mort 2115, 5º Pel Art e 7º Pel Art (Catió e Cabedu, 1969/71): tive o privilégio de comandar valentes artilheiros


Guiné > Região de Quínara > Fulacundia > Obús 10.5 [ Foto do álbum de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)]

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso camarada Carlos Marques de Oliveira, membro de A Magnífica Tabanca da Linha (desde  2 de maio de 2017), natural de Lisboa, vivendo em Sintra [, tem página no Facebook, temos cerca de 150 amigos em comum: fica desde já convidado para integrar, de pleno direito, a Tabanca Grande, com o nº 796, a seguir ao Domingos Robalo, o nº 795] (*)


Meu caro Domingos Robalo, felicito-o pelo poste sobre a artilharia na Guiné. (*)

O mundo é pequeno. Para além de termos viajado no Niassa de 7 a 12 de Maio de 1969, foi meu instrutor na BAC1/GAC7, quando da minha formação artilheira, de recurso. Fiz parte do grupo de Furriéis e Alféres Milicianos Armas Pesadas de Infantaria que recebeu instrução de Materiais e Tiro de Artilharia tendo sido colocado no 5º Pel Art  em Cabedu e mais tarde, por falecimento em combate do 2º Sarg. Issa Jau, no 7º Pel Art  em Catió. 

Tive a honra e o privilégio de comandar valentes artilheiros. Conheci pessoalmente o Sarg. Issa Jau, que admirei, pois o meu Pel Mort 2115 foi colocado de reforço ao BART 2865 em Catió. 

Na fotografia dos artilheiros de Catió está o então major de artilharia António José de Mello Machado, 2º Cmdt do BART 2865,  mais tarde promovido a ten cor,  passando a comandar o BART até final de comissão. (*)

Meu caro Luis Graça, obrigado pela possibilidade que nos tens dado de podermos partilhar e recordar tanto do que todos nós , os que estivemos na Guiné , temos de comum. Tanto que temos para conversar. 

Um abraço,  Domingos Robalo, e quero que saiba que a instrução que recebemos valeu a pena. Não o deixámos ficar mal.

Carlos Marques de Oliveira (**)
Magnífica Tabanca da Linha
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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18119: Blogues da nossa blogosfera (86): Do Blogue "reservanaval", do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, 1966/68, o artigo de sua autoria "Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte II"


Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte II
 
Afundamento do batelão “Guadiana” por EEA–Engenho Explosivo Aquático 

(Post reformulado a partir de outro já publicado em 15 de Julho de 2010)

(Final)

Resumo do acidente

Pelas 13:30 do dia 27 de Maio de 1969 na posição de latitude 11º 14’.3 N e longitude 15º 18.1’ W, quando o comboio naval RCU 09/69 navegava no rio Cobade estreito, no percurso rio Cumbijã – foz do rio Tombali com o apoio aéreo de dois aviões T6, o batelão «Guadiana» nele integrado foi atingido pela explosão de uma mina flutuante fundeada, a meio de uma passagem do rio que não teria mais de 20 metros de largura.

Muito provavelmente, a detonação terá sido accionada electricamente de terra, com resultado agravado pelo transporte de bidons de gasolina e detonadores que seguiam como carga. Houve a lamentar 5 mortos e 8 feridos com diversos graus de gravidade, todos autóctones, sendo 2 tripulantes e 11 passageiros.

 
O batelão «Guadiana» afundado pelo rebentamento de um EEA - Engenho Explosivo Aquático


A posição relativa das LDM e dos batelões no comboio, na altura em que ocorreu o avistamento do EEA

O batelão começou a alagar rapidamente e, em face desta situação, o oficial que comandava operacionalmente o comboio, 2TEN FZE RN José António Lopes da Silva Leite ordenou o imediato reboque, por uma das LDM, para um local mais afastado da área forte do inimigo – a ilha de Como – onde a embarcação pudesse ser encalhada numa das margens.

Efectivamente o batelão «Guadiana» ainda percorreu rebocado cerca de uma milha, ficando imobilizado de proa na margem esquerda do rio Ganjola, de popa para montante e a cerca de 300 metros da confluência com o rio Como.


Análise da situação e reconhecimento local

No dia seguinte foi efectuado um heli-reconhecimento pelo Chefe do Estado-Maior do CDMG, acompanhado pelo responsável do Serviço de Assistência Oficinal (SAO), Comandante do DFE 12 e Chefe da Secção de Mergulhadores para, com base nos elementos recolhidos, se proceder a uma análise prévia da possibilidade de recuperação do batelão.

Entretanto, o Comandante-Chefe alertou as FT sediadas na margem norte do rio Cobade, para a possível utilização daqueles meios, antecipando uma tentativa de recuperação a efectuar no dia 29 de Maio. Deveriam aguardar o contacto directo do CDMG.

Era responsável por aquele sector o BArt 2865, com sede em Catió, englobando Catió, Cufar e Bedanda, tendo sido determinado à CArt 2476 (Catió) para efectuar fogo de artilharia de interdição, durante duas noites, para a área de Cachil. Simultaneamente, sobre a Ilha de Como, foram ordenados ataques com heli-canhão e bombardeamentos utilizando aviões Fiat G91, quer por haver conhecimento de numerosos alvos de interesse a atingir quer por represália.

Neste reconhecimento local, para ser apreciada a estrutura, resistência e forma de recuperação possível do batelão, deslocaram-se técnicos do SAO-Serviço de Assistência Oficinal e mergulhadores, além de outro pessoal e equipamento diverso. Participaram ainda a LFG «Cassiopeia», 2 LDM - Lanchas de Desembarque Médias e ainda um grupo de assalto do DFE 7 com 6 botes de borracha. Os trabalhos foram acompanhados de helicóptero pelo próprio Comandante do CDMG acompanhado do Sub-Chefe do Estado-Maior.


Mapa da zona do rio Cobade entre os rios Tombali (ponto TT) e proximidade do rio Cumbijã (ponto CC); assinalada a parte do Cobade estreito, próximo de Catió

O «Guadiana» tinha como principais características 17 metros de comprimento, 5.5 metros de boca e 2.2 metros de pontal. Possuía duas anteparas, a de ré que limitava os alojamentos da tripulação e a de vante que limitava o porão da amarra. Tinha duas bocas de porão, a de ré com 7.3 x 3.0 metros e a de vante com 3.2 x 2.0 metros. As balizas e a sobrequilha, em ferro, eram rebitadas ao costado.

Na continuação da vistoria efectuada pela Secção de Mergulhadores e outro pessoal técnico embarcados na LDM 105, constatou-se que o batelão estava enterrado cerca de um metro no lodo fino da margem com caimento a ré e adornado a estibordo, com balizas bastante danificadas, rebitagem desfeita e a própria sobrequilha retorcida, tudo numa extensão apreciável (cerca de 10 m). O lodo tinha invadido o fundo numa altura próxima dos 50 cm.

A impossibilidade de tornar a embarcação estanque, a estrutura fragilizada, a dificuldade na utilização de bidons que aumentassem a flutuabilidade e o intervalo de tempo entre marés disponível, deixava colocar sérias dúvidas quanto a uma tentativa de recuperação com resultados positivos.

A impossibilidade de concretizar, com os meios disponíveis, qualquer salvamento levou a que todo o pessoal e meios presentes regressassem às suas unidades de origem.


A LFG «Cassiopeia» que participou nas operações de apoio


Conclusões

No final do reconhecimento, vistoria, estudos efectuados e relatórios técnicos de todos os intervenientes concluiu o Estado-Maior haver remotas possibilidades de recuperação, questionando simultaneamente a razoabilidade de tal decisão. Assim:

– Militarmente, seria importante transformar um navio afundado numa unidade temporariamente avariada, evitando uma moralização do inimigo que incentivasse prosseguir com a utilização de minas flutuantes nos rios da Guiné, podendo vir a tornar insegura a navegação.

– Do ponto de vista de princípio, o salvamento de um navio afundado ou encalhado, deveria ser sempre encarado como meta a atingir desde que existissem consideráveis probabilidades de êxito, em função dos riscos e encargos que daí adviessem.

– Em face de informações e relatórios técnicos disponíveis, o batelão teria necessariamente reduzido valor residual e os elevados custos de reparação previstos desaconselhavam a prossecução desse objectivo.

Assim veio a suceder por determinação do Comandante-Chefe e, mais tarde, o que restava do «Guadiana» veio a ser destruído por uma equipa de mergulhadores sapadores utilizando cargas explosivas

(final)

Fontes:
Pesquisa e compilação de texto a partir do relatório do 2TEN FZE RN José António Lopes da Silva Leite, núcleo 236-A do Arquivo de Marinha; fotos do Arquivo de Marinha; imagens do autor do blogue efectuadas a partir de extractos da carta da Guiné (cortesia IICT);

mls
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Nota do editor

Vd. poste anterior de 19 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18106: Blogues da nossa blogosfera (85): Do Blogue "reservanaval", do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, 1966/68, o artigo de sua autoria "Guiné, 1969 – Emboscada a um comboio naval - Parte I"

domingo, 6 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13369: O(s) comandante(s) de batalhão que eu conheci (1): Mário Pinto (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1969/71), Luís Graça (Bambadinca, 1969/71), Jorge Teixeira (Portojo) (Catió, 1968/70), Francisco Baptista (Buba e Mansabá, 1970/72)

1. Comentários ao poste  P13368 (*)


(i) Mário Pinto

 [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71]

O Ten Coronel Agostinho Ferreira, é dos poucos oficiais superiores a quem tiro o meu quico, pois não se remetia ao seu gabinete a dar ordens mas sim acompanhava os militares em todas as operações do seu sector e conhecia a sua ZO  pessoalmente como poucos a conheciam. 

Tive a honra de o acompanhar na Op Novo Rumo,  ao sul da Guiné,  onde pude apreciar a sua destreza de comando,.

O metro e oito,  como era conhecido,  era um homem muito grande e respeitado pelas tropas sob o seu comando, estou convicto que,  se mais houvesse oficiais da sua estirpe, o rumo dos acontecimentos por todos conhecido teria outro desfecho.

(ii) Luís Graça 

[editor, ex.-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71]

Meu caro Mário, eu costumo dizer o mesmo em relação ao único oficial superior que saiu "uma vez" (!),  comigo no mato, o ten cor inf Polidoro Monteiro, comandante "imposto" por Spínola ao BART 2917, ainda  no decurso dos primeirso meses de comissão, em finais de 1970  ou princípios de 1971, se não erro,

E eu conheci dois batalhões (BCAÇ 2852 e BART 2917)...

Mas não gostaria de generalizar,  como tu generalizas... A nossa experiência foi muito limitada, eu conheci um ou dois setores na zona keste (L1, L2...), não mais. Há camaradas que nem isso, conheceram apenas o seu subsetor onde estiveram em quadrícula...

Entendo o teu elogio ao então ten cor Agostinho Ferreira, que de resto é partilhado por mais camaradas nossos...  Também partilho do teu ceticismo em relação à nossa "elite militar", mas não faço juízos de valor... A minha experiência é limitada e não gostaria de ser injusto em relação à generalidade dos nossos comandantes, operacionais ou não...

A guerra arrastou-se por demasiado tempo (1961/74) e, em boa verdade, havia pouco entusiasmo em morrer pela Pátria no ultramar...

Muitos destes homens já morreram ou estão na fase terminal das suas vidas... É verdade que nem todos mereceram o nosso respeito e admiração... Mas a guerra acabou há 40... E nós falamos, hoje, sobretudo de nós, das "cenas" em que fomos atores ou protagonistas... É verdade, é raro, no nosso blogue haver um elogio rasgado, sincero, a um comandante de batalhão... Porquê ?

Por outro lado, justa ou injustamente, Spínola será recordado, no meu tempo (1969/71) por ser um comandante "justiceiro" e até "populista", aparentemente implacável para com os seus subordinados, nomeadamente os oficiais superiores, tenentes coroneis e majores, que ele considerava laxistas, incompetentes, que mal tratavam os seus homens ou não se preocupavam com o seu bem-estar, que eram operacionalmente inaptos, etc.

Em que medida isto afectou o "moral" das tropas ? Ou subverteu a disciplina militar ? 

Acho que podemos abrir um nova série:  o que eu proponho é que se fale, aqui, dos comandantes de batalhão que cada um de nós conheceu no TO da Guiné, mal ou bem...

Ora aqui está um bom tema de dissertação e discussão... Já não falo do Com-chefe (Schulz, Spínola, Bettencourt Rodrigues)... Esse, era como um deus, ncessariamente longe e distante. Mas o "comandante de batalhão", esse, pelo menos viajou connosco no mesmo navio, esteve no mesmo setor (nem sempre) e uma vez ou outra visitou-nos (no nosso subsetor)...

Camaradas, procurando ser justos e objetivos, que lembranças têm do vosso "tenente coronel" ? Ainda se lembram, ao menos, do nome dele ? Nalguns casos, deu-nos um louvor ou uma "porrada"..
Vamos falar do conhecemos, não do que ouvimos dizer... Toda (ou quase toda) a gente teve um batalhão ou este adiada a um batalhão,,, Deixemos agora o Spínola em paz, lá no Olimpo dos guerreiros bem como o interminável debate sobre a guerra ganha/guerra perdida... Se puderem mandem fotos dos vossos comandantes, melhor ainda...


(iii) Jorge Teixeira (Portojo)

[ex-fur mil do Pelotão de Canhões
S/R 2054, Catió, 1968/70]

Dois pontos sobre os comentários do Luís: Quantos de nós conheceram oficiais superiores ? Mesmo os que foram incluindos em Batalhãos, provavelmente conheceream o seu comandante  apenas nas despedidas.

Pessoalmente, com o meu pelotão, estive adido às CCS de dois Batalhões, o 1913 e o 2865. A minha opinião sobre os dois comandantes está resumida em uma ou outra publicação no blogue. (Há um segundo comandante no 2865, e a minha opinião sobre ele também está referida. Infelizmente, já faleceu. Podem ler a sua biografia nor portal Ultramar Terraweb,.

Mas nada que tenha a ver com operacionalidade. Nunca tive acesso a "segredos". As minhas opiniões são sobre a parte humana. E,  tanto quanto me pareceu, e hoje ainda mantenho, ambos eram dominados pelos segundos comandantyes. Por várias razões.

O segundo ponto, tem a ver com o Spínola. Na realidade era comum ouvir-se na caserna, "faço queixa ao Spínola". Não sei se algum, alguma vez, o fez.

Pessoalmente assisti a uma cena degradante e patética do Senhor General, precisamente com o Senhor Comandante (o primeiro, Belo de Carvalho) do 2865, que lhe valeu um castigo. Era uma pessoa muito querida entre o pessoal. Sei que chegou a Comandante da EPA que exercia aquando do 25 de Abril.
Pelo comunicado dos militares "revolucionários" da EPA, que pode ser lido em 25 de Abril - Base de Dados Históricos, parece que o estigma da Guiné lhe ficou sempre preso no corpo.

O mito Spínola, para mim, nunca existiu. Nunca gostei dele como pessoa nem como militar. Muito menos como político.

Como seria a Guiné sem ele ? Não faço ideia nenhuma.

Como me comentou o Luís em tempos, oficiais de Cavalaria nunca gostaram de outras armas. Não terão sido estas as palavras, mas não ando longe.



[ex-alf mil inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]

Dos meus 17 meses em Buba na CCaç 2616, pertencente ao BCAÇ 2892, comandado pelo Tenente Coronel Agostinho Ferreira, recordo sobretudo as boas referências de todos os camaradas em relação às relações cordiais e ao tratamento correto que tinha com todos. 

Era também falado por ser um comandante que algumas vezes saia com os seus homens e por ser um bom estratega militar. Eu poucas vezes estive com ele, talvez duas vezes em Aldeia Formosa e não sei se alguma vez em Buba, pois não me lembro se deslocar lá. Mas sei que era um homem admirado e estimado por todo o batalhão e pelas companhias independentes que estavam sob o seu comando. 

Eu estou mais de acordo com o Luís Graça, do que com o Mário Pinto, acho que por muito bons que fossem os chefes militares, a guerra estava perdida no plano político internacional, pois tinhamos a ONU contra nós e grandes países do leste e ocidente a ajudar os movimentos de libertação.

Pela recordação que tenho do Tenente-Coronel Agostinho Ferreira, sendo um militar que não virava as costas ao perigo, não se dava ares de guerreiro como o major de operações Pezarat Correia, ou o próprio General Spinola, o homem do monóculo e do pingalim. Tenho duvidas se ele acreditaria numa vitória militar.
Foi um bom homem. Paz à sua alma!

____________________

Nota do editor:

(*) 6 de juho de 2014 > Guiné 63/74 - P13368: Recordando o BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) comandado pelo ten cor Agostinho Ferreira, o "metro e oit" (Luís Nascimento, Viseu)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9514: In Memoriam (110): Faleceu o Major de Artilharia António José de Mello Machado, 2º CMDT do BART 2865 - Catió, Cufar e Bedanda -, FEV1969 a DEZ1970 (António Brandão)


1. O nosso Amigo e leitor António Brandão, ex-Alf Mil OpEsp da CCAÇ 2336 (Angola 1968/70) reenviou-nos uma mensagem com 6 fotografias, que lhe foi envidada por um primo seu, dando-nos conta do falecimento do Sr. Major de Artilharia António José de Mello Machado, que foi 2º Comandante do BART 2865. 

Caro Magalhães Ribeiro:

Reencaminho-te este e-mail de um primo meu, também ele, ex-Alf Mil em Angola, no BART 3881, 1972/74.

Possivelmente, tal como o Duarte diz, "tocará" alguns de vós ex-combatentes da Guiné.


Publica se entenderem.

Um abraço,
Brandão 


Faleceu o Sr. Major de Artilharia António José de Mello Machado, que foi 2º Comandante do BART 2865



“Biba,

Soube ontem, segunda-feira, com atraso, do falecimento do cmdt do meu batalhão (1972/73); hoje é rezada missa do 7º dia na igreja da Assunção, em Cascais.

Não sou destas coisas de orações, mas conto por lá passar para ver se, depois destes anos todos a viúva ainda me conhece; boa senhora, mas um pouco debilitada desde os idos de 70, por força do que hoje se chamaria uma depressão persistente e que, em boa parte, deu cabo da psique do falecido, que, mesmo assim, nunca deixou de ser  o oficial digno e de invulgar elegância no trato com todos.

Ocorre-me que podes divulgar o óbito pelo pessoal da tabanca grande, já que ele passou nos três teatros de operações, de seu nome: António José de Mello Machado. 

Pelas minhas contas terá estado na Guiné por volta de 1968/70 [, vd. referência ao BART 2865, no nosso blogue: esteve na Região de Tombali - Catió. Cufar e Bedanda - entre fevereiro de 1969 e dezembro de 1970]; antes esteve em Moçambique (comandava a RMM o  general Carrasco).

Na passagem pela  Guiné, pelos meus registos, esteve no comando das guarnições de Catió, Cufar, Bedanda, Cabedés, Cacine, Cameconde, Gadamael, Guilege e Ganturé.

O orgulho do homem foi uma operação, em que ele e meia dúzia de operacionais se deslocaram e emboscaram na ilha de Como (pese embora o facto de não ter apanhado o que queria); o Spínola veio a tomar conhecimento, louvou e proibiu repetições da aventura.

Junto 6 fotos que tirei de um livro dele: na última, como se refere, está com o George que embora não pareça era um implacável comandante catanguês

abr
dna"  







____________ 
Nota de M.R.: 

Em nome do Luís Graça e demais Camaradas desta tertúlia bloguista endereçamos à família enlutada do Sr. Major de Artilharia António José de Mello Machado os nossos mais sentidos pêsames, em mais este negro momento da “família“ do BART 2865 e de todos os Camaradas que cumpriram as suas comissões militares na Guiné.

Vd. último poste desta série em: 

 9 DE FEVEREIRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9463: In Memoriam (109): Daniel Matos (1950-2011), ex-Fur Mil, CCAÇ 3518 (Gadamael, 1971/74): Agradecimentos da família aos camaradas da Guiné (Joana Matos)


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8624: Os nossos médicos (42): O Teles de Araújo, o Morais Sarmento, o Horta e Vale e o Fernando Garcia (J. Pardete Ferreira / P. Santiago / M. Amaro / A. Paiva / J. Câmara / C. Cordeiro)

1. Comentário de J. Pardete Ferreira, com data de 31 de Julho, ao poste P8555:


Caros Camarigos, vamos lá ver que não me perco com a azimute!

(i) Começo pelo Paulo Santiago (*): relativamente ao Teles de Araújo (**)... foi meu companheiro em quase todo o Curso! Não fui a Aldeia Formosa mas o Morais Sarmento, do Porto, onde o pai tinha um Consultório de Radiologia na Praça da Batalha, foi meu Companheiro de camarote no Uíge, como médico do BArt 2865 e depois, veio para a Radiologia do HM241.


O Horta e Vale, "Jean-Jean la Mitraillette", foi meu companheiro na primeira "república" que habitei em Bissau, junto ao campo de Futebol e a meio caminho entre a casa do Comodoro Bastos e a casa das... Marinetes (Barbosa e filhas do Barbosa, Secretário da R.P.S.S. Guiné).

Sobre ele, escrevi um artigo no Boletim da Associação de Combatentes ou Ex-Combatentes do Ultramar, ao gosto de cada um.

"Qual não foi o meu espanto quando encontrei um indivíduo de cuecas vermelhas, eu que era do tempo das ditas brancas... até pensei que ele fosse larila!"

Após a devida autorização vou tentar transcrever no Blogue. Penso que está uma história conseguida.

(ii) Ó Paiva, o Garcia que eu cito e que em Santa Maria tinha como alcunha o "Tin Tin"... [ Fernando Garcia] (***) foi o Chefe da Equipa Cirúrgica do HM241 que precedeu o Dr. Diaz Gonçalves. Posso, igualmente, sem grande dificuldade esclarecer a nossa dúvida.


(iii) Para terminar, o Cordeiro (****): Não tenho ideia, até porque já não estava na Guiné em 1972, de nenhum Oficial Médico com essa patente fora de Bissau. Os Médicos do QP também têm a situação de Reserva.

O Oficial médico com patente mais elevada que vi na Guiné foi um Brigadeiro, em visita de inspecção, vindo de Cabo Verde com 13 Kg de lagosta que foram por todos (?) nós comidos no 10. Inspecções assim podia haver muitas.

Alfa Beta.

José Pardete Ferreira  (*****)

_________________

Notas do editor:

(*) Comentário anterior do Paulo Santiago:


(...) Conheces o Horta e Vale? Esteve temporariamente no Saltinho, antes da chegada do teu colega Faria. As histórias que ele, sem se rir, contava davam um livro delicioso, só que,em livro,faltaria a gaguêz, o que não seria a mesma coisa. (...)

(**) Comentário de Manuel Amaro sobre o Teles Araújo:

(...) O meu médico. O Dr. Pardete não teve oportunidade de conhecer o meu médico, porque ele fez toda a comissão no mato, em Aldeia Formosa, 1969/71. Era o Dr. Teles de Araújo, Pneumologista e Presidente da Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias.  Ainda nos anos 70 tratou no Hospital Particular de Lisboa, um amigo meu que "estoirou" um pulmão, a empurrar um carro, sem bateria. Excelente profissional, reservado, utilizava um tipo de humor muito British com os soldados, que resultava em pleno. Não tenho [o] contacto [dele] , mas, porque estamos a falar de médicos, aqui fica a devida referência. (...)

[Nota do editor: Artur Diogo Teles de Araújo é  hoje pneumologista no British Hospital Lisbon XXI...  Também já esteve ligado aos órgãos sociais da Sociedade Portuguesa de Pneumologia].

(***) Comentário de António Paiva:

(...) Se formos pensar em décadas, são só 4, o número nem é muito grande...mas se formos pensar em anos, quarenta e um já estão passados, e a cabeça já não tem a capacidade de 20 ou 30 anos a trás. O que me leva a fazer-te esta pergunta: No nosso tempo, que estivemos lá pelo menos um ano, só me lembro de um Médico com o último nome GARCIA. O Dr. Horácio David Garcia, tinha o posto de Capitão, será o mesmo a quem dás o nome Fernando Garcia ? (...)

(****) Comentários de:

(i)  José Câmara(...)  Na segunda metade do ano 1972 chegou a Bolama um Coronel Médico.  Sem o poder confirmar, fui informado que o tal coronel era de origem açoriana. Também me esqueci do seu nome. Agradeço a ajuda possível à indentificação deste oficial médico. (...)

(ii) Carlos Cordeiro: (...) Que me lembre, médico açoriano do QP - Exército - houve o Dr. Cabral (talvez Machado Cabral, mas não me lembro do nome). Não sei se em 72 teria ainda idade para ser mobilizado ou se já estaria na reserva (os oficiais médicos também tinham esta situação?). (...)


(*****) Último poste da série > 20 de Julho de 2011 >

 
Guiné 63/74 - P8574: Os nossos médicos (41): Por fim, e não menos importantes, os nossos anestesistas (C. Martins / Joaquim Sabido / J. Pardete Ferreira)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7838: Em busca de... (155): Camaradas da CART 2477/BART 2865, Cufar, 1969/70 (Ex-Alf Mil Art Francisco Valdemiro Santos)

Vista aérea de Cufar
Foto: © Jorge Simão (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Francisco Valdemiro Santos, ex-Alf Mil da CART 2477/BART 2865, Cufar, 1969/70, com data de 21 de Fevereiro de 2011:

Boa noite
Foi com muita emoção e prazer que encontrei acidentalmente o vosso blogue.

Sou Francisco V.G. dos Santos, ex-Alf Mil Art da CART 2477/BART 2865 que esteve em Cufar, Guiné, nos anos de 1969-1970.

Como estive nos estrangeiro quase todos estes anos, nunca desde o meu regresso tive contactos com nenhum de vocês, camaradas da Guiné, o que lamento muito.

Gostaria de, se possível, de entrar em contacto com alguém desta Companhia ou Batalhão, mas não faço a mínima ideia como.

Passaram muitos anos, nomes esquecem-se, fisionomias mudam, mas é provável que alguém se lembre ainda de mim, já que era o único madeirense da Companhia.

Vou também passar a visitar o vosso/nosso blogue assiduamente, claro.

Melhores saudações
Francisco Valdemiro G dos Santos,
chico.santos@live.com.pt
Funchal, Madeira


2. Comentário de CV:

Caro camarada Francisco Santos
Um abraço especial para ti, porque és da bonita ilha da Madeira onde formei Companhia para ir para a Guiné.
Estive colocado em S. Martinho, no BAG 2, onde foram mobilizadas as CART 2731 e CART 2732 (a minha), que foram para Angola e Guiné, respectivamente, em 1970.

Tenho algumas boas notícias para ti, porque na nossa tertúlia temos dois camaradas do teu Batalhão, a saber: o ex-Fur Mil Sapador António Varela da CCS/BART 2865, e o ex-1.º Cabo Escriturário da tua Companhia, Jorge Simão. Para saberes algo sobre eles clica nestes endereços:

Guiné 63/74 - P5977: Tabanca Grande (207): Jorge Simão, de S. João da Madeira, ex-1º Cabo Escriturário, CART 2477, Cufar, 1969/71

Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70

Via mail vou mandar-te os seus endereços para que os possas contactar.

Por outro lado, na Página do nosso camarada Jorge Santos, em http://guerracolonial.home.sapo.pt/encontroguine.htm encontrei três pedidos de contactos do teu Batalhão, a saber:

- José Pereira, telefone 965 588 033

- Manuel Júnior, telefones 918 319 683 e 236 487 433

- Joaquim Menas Pereira, telefone 966 773 172 e e-mail rogeriomena@iol.pt

Espero que consigas comunicar com estes cinco camaradas e com muitos mais através destes.

Quero, já agora, endereçar-te o convite para aderires à nossa Tabanca virtual, onde te sentirás bem, porque somos um grupo de camaradas e amigos que calcorrearam a Guiné enquanto combatentes. Queremos contar as nossas histórias e das nossas Unidades, mostrar as nossas fotografias, e assim constituir um espólio que servirá de memória futura, no intuito de que não seremos esquecidos e muito menos o nosso sacrifício.

Convido-te a explorares o nosso blogue, e se estiveres de acordo com as nossas pretensões, manda-nos uma foto do tempo de tropa e outra actual (ambas tipo passe de preferência e formato JPEG), uma pequena história sobre a tua passagem pela Guiné, fala de ti um pouco, e serás apresentado como novo membro desta tertúlia.

Até ao teu próximo contacto, recebe um abraço em nome dos editores e da tertúlia em geral.

Este teu camarada e amigo fica disponível para o que precisares.
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de

18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7812: Em busca de... (154): Camaradas de Nova Lamego dos anos de 1966/68 (José Pereira)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5977: Tabanca Grande (207): Jorge Simão, de S. João da Madeira, ex-1º Cabo Escriturário, CART 2477, Cufar, 1969/71




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 2477 (1969/71) > Vista aérea de Cufar...


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 2477 (1969/71) > O 1º Cabo Escriturário Jorge Simão



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CART 2477 (1969/71) >  O Jorge Simão junto ao edifício da secretaria (?)... Várias companhias por aqui passaram, além da CART 2477:  CCAÇ 763, CCAÇ 1621, CART 1687... Temos alguns camaradas pertencentes a duas destas unidades de quadrícula: Hugo Ferreira Moura (CCAÇ 1621) e  Mário Fitas (CCAÇ 763)...

Fotos: ©  Jorge Simão (2010). Direitos reservados



1. Mensagem do novo membro da nossa Tabanca Grande (*), Jorge Simão, residente em São João da Madeira, ex-1º Cabo Escriturário, CART 2477, Cufar, 1969/71:

 Assunto: pela primeira vez o meu contacto

S.João da Madeira, 5 de Março de 2010

Amigos e companheiros de Guerra, depois de algum tempo que ando aqui a "espreitar" o vosso blogue, sempre resolvi escrever para vocês, mas antes de mais vou-me apresentar:

Sou Jorge Augusto Simão, da Rua dos Viajantes, 214,  1º-Esq., 3700 - 303 S. João da Madeira, fiz parte da CART 2477 do BART 2865 e foi colocado em Cufar e o Batalhão em Catió (foi para a Guiné em Fev / 69 até Dez /70, mas eu ainda aguentei em Bissau até Fev 71, era 1º Cabo Escriturário).

Vou enviar umas fotos em Cufar, mas como é a primeira vez que escrevo, fico-me por aqui, espero umas dicas do Luis Graça, porque espero que este contacto seja o mais correcto. Numa próxima vez escreverei mais em pormenor alguns acontecimentos passados na Guerra.

Um abraço grande deste camarada e combatente da guerra da guiné.

Jorge Simão

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Jorge:  Em primeiro lugar, põe-te à vontade. Uma vez que já nos "espreitas" há uns tempos, sabes bem que aqui, na nossa Tabanca Grande, ninguém bate a pala a ninguém, respeitamo-nos uns aos outros, é certo, mas tratamo-nos por tu como camaradas que fomos e continuamos a ser...

Não tenho nenhumas dicas especiais para te dar, as nossas regras de convívio são públicas (e respeitadas...), e o que me resta para te dizer é apenas isto: Sê bem vindo, Jorge. Abanca aí, debaixo do nosso poilão, respira fundo, gere as tuas emoções, conta-nos as tuas histórias de Cufar, manda-nos as fotos que achares terem algum valor documental...

Obrigado por teres "ousado" contactar-nos. És, slavo erro, o primeiro camarada da tua companhia a ingressar na nossa Tabanca Grande, o que muito nos honra e te honra a ti, também... O próximo qu entrar já é periquito à tua beira...

Espero poder vir a conhecer-te pessoalmente em breve (por que não, no dia 19 ou 26 de Junho próximo, em Monte Real, no nosso V Encontro Nacional ?). Até lá, vai escrevendo.

Um Alfa Bravo. Luís Graça

PS - Sobre Cufar tens cerca de 110 referências no nosso blogue (II Série)... Clica aqui.

___________

Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5898: Tabanca Grande (206): Agostinho Gaspar, de Alqueidão, Boavista, Leiria, ex-1-º Cabo Mec Auto, 3ª C/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3350: O meu baptismo de fogo (16): Catió, 10 de Março de 1969 (António Varela)


1. Mensagem do nosso camarada António Varela, com data de 13 de Outubro de 2008, com o seu contributo para a série O nosso baptismo de fogo. O Varela é um membro recente da nossa Tabanca Grnde. Foi Fur Mil Sapador na CCS/BART 2865, Catió, 1969/70 (*)


Caros Luis, Carlos e Virgínio:

Como tinha prometido estou a enviar-vos a estória do meu embarque para a Guiné, o meu baptismo de fogo, e também algumas fotografias minhas, do quartel e da vila de Catió. Se acharem que têm interesse podem utilizá-las (*)

Catió > 1969/70 > Ex-Fur Mil Varela junto ao monumento aos combatentes mortos. Ao fundo a Caserna dos Soldados.


O MEU BAPTISMO DE FOGO

Nos 23 meses de Catió, nunca tive contacto com o IN, com armas ligeiras. Os meus contactos foram sempre com artilharia nos ataques ao quartel de Catió, ou mesmo de Bedanda onde estive algum tempo em serviço (1 mês). Não quero com isto dizer que nunca tivemos ao quartel, um ataque feito do lado do cais com ligeiros e rockets, mas eu não estava em Catió, estava de férias, dizem até que foi um grande ataque, lançaram mais de 300 rocketadas, mas não acertaram nem uma no quartel nem causaram qualquer baixa. Atacaram também Catió Fula, mas não me lembro de estar em Catió nessa altura. Atacaram Sua, Quitafine e Areias, mas todas estas tabancas formavam a cintura exterior de Catió, nada chegou ao núcleo central de vila.

Devo chamar a atenção para a excelente segurança montada à volta de Catió. Nessas tabancas que acabei de mencionar, em Catió Fula tinhamos os Sapadores e na pista também em Priame a milícia fula. Em Sua, a milicia balanta, em Quitafine e Areias também a milícia e, entre a pista e Catió Fula ficava o pelotão de canhões.

Por isso eu digo que não tive contacto com IN com ligeiras, o meu baptismo de fogo deu-se no dia 10 de Março de 1969.

Num flagelamento ao quartel às 19 horas, estávamos a jantar na messe de sargentos, e como tinhamos postos de defesa ao quartel distribuidos, não houve tempo para pensar muita coisa, só em correr para o quarto, pegar na G3 e cartucheira e ir para o posto que me estava destinado, que tinha uma seteira no muro e 4 ou 5 bidões de areia nas costas. Ouvimos as saídas e começámos logo a correr, depois quando passavam por cima de nós a assobiar atiravamo-nos para o chão, levantávamos-nos e continuávamos a correr até chegar ao posto de defesa definido, não caiu nenhuma dentro do quartel, não causou baixas nem no quartel nem na população.

A duração do ataque foi de 5 ou 10 minutos.

Catió > 1969/70 > Vista da localização dos obuses de 10,5 e da estrada que liga Catió a Priame.

Catió > 1969 > Vista parcial da parte norte do quartel e vila de Catió

Em Catió, a psico impunha que não houvesse abrigos, pois isso seria um sinal de medo que davam ao IN. Bem, havia um abrigo que tinha sido feito pela engenharia quando construiram o quartel que ficava atrás da messe de sargentos, era normalmente disputado pelos sargentos que não tinham obrigação de defesa do quartel.
De resto cada um atirava-se para o chão e rezava para que nenhuma canhoada lhe caísse em cima ou perto.

Termino por aqui, com um até breve.

Sem mais,
Um abraço para todos
António Varela
Ex-Fur Mil Sap
______________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70

Vd. poste da série O meu baptismo de fogo de 20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3332: O meu baptismo de fogo (15): Buba, Aldeia Formosa, 1968. (José Teixeira)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3345: O cruzeiro das nossas vidas (12): Uíge, 5 de Fevereiro de 1969, destino Guiné (António Varela)

1. Mensagem de António Varela (*), ex-Fur Mil Sap Minas e Armadilhas, CCS/BART 2865, Catió, 1969/70, com data de 13 de Outubro de 2008:

Caros Luis, Carlos e Virgínio:

Como tinha prometido estou a enviar-vos a estória do meu embarque para a Guiné, o meu baptismo de fogo (**) e também algumas fotografias minhas, do quartel e da vila de Catió. Se acharem que têm interesse podem utilizá-las.

Texto e fotos: © António Varela (2008). Direitos reservados


2. Destino: Guiné (***)

No dia 5 de Fevevereiro de 1969, depois das despedidas da família e do desfile militar, fui ainda contemplado pelo Movimento Nacional Feminino com um livrinho sobre a Guiné, uma imagem religiosa e um maço de tabaco (Três Vintes). O cais da Rocha de Conde de Óbidos estava apinhado de gente para o último adeus, emocionado.

O navio que me transportou e ao BART 2865 foi o Uíge, fomos colocados oficiais e sargentos nos camarotes e os soldados no porão.

Com o navio todo inclinado para o lado do cais, num último adeus sentido, com muitos lenços brancos a acenarem para os filhos, maridos, irmãos, namorados, que se afastavam agora a caminho do mar largo, com destino à Guiné.


N/M Uige da Companhia Colonial de Navegação

Foto retirada do site
Navios no Sapo, com a devida vénia

Depois, com Lisboa fora do alcance da nossa vista, seguiram-se 6 dias em que muitos enjoaram e vomitavam em qualquer lado, até dentro do próprio prato, e alguns eram bastantes insistentes. Os piores de todos foram sempre os soldados, instalados no porão, onde só cheirava a vomitado, alguns não tinham forças para se levantarem das camas, tal era o seu estado de fraqueza.

Aguentar tudo aquilo era medonho, mas havia sempre alguns que se aproveitavam dos males dos outros em seu proveito, tomando mais uma refeição.

Foram também 6 dias de batota, com jogos de todo o género, poker, lerpa, copas, abafa, apostas em corridas de cavalos, etc. Ao terceiro dia de viagem, havia quem já tivesse perdido tudo o que tinha recebido antes de embarcar.

Passámos ao largo do norte de África, das Canárias, da Madeira e das Ilhas de Cabo Verde, acompanhados apenas pelas gaivotas e peixes voadores, Arquipélago dos Bijagós e no dia 11 de Fevereiro de 1969 desembarcámos em Bissau. O Uíge ficou ao largo, sendo nós transportados noutros barcos para o cais do Pidjiguiti.

Já no cais, comecei a olhar em volta procurando inteirar-me da realidade que me esperava, ao fazer esta observação, apercebi-me que havia uma grande lona a cobrir qualquer coisa e resolvi levantar ligeiramente para ver o que se encontrava por baixo, e para espanto meu vejo que são caixões, 50 a 60. Ao ver isto fiquei muito impressionado, e pensei:
- Estou tramado, onde é que me vim meter.

Sabia que a guerra na Guiné era a pior de todas, mas nunca pensei encontrar no cais, à chegada, como cartão de boas-vindas, todos aqueles caixões. Soube mais tarde que, como se tinha dado o desastre de Madina do Boé há pouco tempo, onde tinham morrido mais de 40 camaradas, aqueles seriam os seus caixões para serem embarcados no Uíge na volta para Lisboa. Sendo ou não caixões daqueles camaradas, o que é certo é que apanhei um arrepianço do caraças, mas também quem é que me mandou levantar a lona?

Do Pidjiguiti seguimos para o quartel em Brá, onde nos instalaram, no meu caso numa casa com colchões no chão, junto aos geradores que faziam um barulho infernal e não deixavam dormir ninguém.

Ao anoitecer ouvi os primeiros estrondos ao longe, mas que pareciam tão perto! Vim depois a saber que eram os obuses de Tite a bater a zona, mas que apanhei outro arrepio é verdade que apanhei, eu e os que estavam comigo naquela noite.

De 11 a 16 de Fevereiro de 1969 andámos por Bissau a conhecer os seus encantos, o café do Bento, o Solar dos Dez, a Solmar, um café junto da Amura de que não recordo o nome, mas onde se comia bom marisco, outro café junto à praça do Império, do lado esquerdo de quem sobe a avenida, onde os jubes vendiam amendoim descascado para acompanhar a cerveja. Era óptimo.

Andámos também pelo Pilão, o pessoal tinha algum receio de lá ir, mas era um dos principais locais para pôr a actividade sexual em dia. Visitámos também os mercados municipal e central, todas estas visitas sempre acompanhadas com muita cerveja, whisky, coca-cola, etc.

Partimos a 17 de Fevereiro em LDG, para Catió.

As marés vivas faziam as ondas bater na LDG e entrar dentro dela, dando-nos antênticos banhos de água salgada e nós não estávamos minímamente preparados para ultrapassar este problema. No entanto os marinheiros já sabiam como eram estas viagens e levavam sempre bagaço com fartura para aquecermos. Tinhamos de desembolsar 5 pesos por cada copo de bagaço, eles faziam um dinheirão com as viagens para Catió.

Quando entrámos no rio, começaram os canhões das LDG a disparar para as margens, que por vezes ficavam bem próximas das LDG, confesso que voltei a pensar:
- Cum caraças onde é que eu estou metido ?

Chegámos finalmente ao cais de Catió, aproveitando as marés, conseguimos desembarcar e dirigir-nos para a vila. Aqui chegados começámos a ver que todos os que estavam fora do quartel, estavam armados até aos dentes, pensei:
- Estou mesmo tramado, isto deve ser muito mau, se até ao bar (Catió) vêm armados...

Catió, 1869/70 > Vista parcial da vila e do Quartel

As instalações no quartel em Catió eram razoáveis para aquilo que eu estava à espera, mas mesmo assim no meu quarto ficávamos 5 furriéis. Havia espaço, o recato é que não era muito, mas dentro da diversidade havia uma certa complementaridade que permitiu nos déssemos mais ou menos bem.

Catió, 1869/70 > Fur Mil Varela à Porta d'Armas, de Sargento de Dia

Catió, 1969/70 > Quartos dos Sargentos e em frente Messe dos Oficiais

Catió, 1969/70 > Lado esquerdo, quartos dos Oficiais; em frente do lado esquerdo, Casa da Guarda e Depósito de Géneros; lado direito, Edifício do Comando; lado direito, frente, Cozinha da Messe dos Soldados.

Fotos e legendas: © António Varela (2008). Direitos reservados.



Recordo aqui com saudade os ex-Fur Mil Sap Fialho, ex-Fur Mil Sap Nascimento, ex- Fur Mil Vaguemestre Samuel e o ex-Fur Mil Escriturário Moita Pereira. Se visitarem o blogue, um abraço para eles.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70

(**) Vd. último poste da série de 20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3332: O meu baptismo de fogo (15): Buba, Aldeia Formosa, 1968. (José Teixeira)

(***) Vd. último poste desta série > 21 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3338: O cruzeiro das nossas vidas (11): Viagem para a Guiné em época de Carnaval (Jorge Picado)

Postes anteriores:

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)

11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)

15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1953: O cruzeiro das nossas vidas (6): Ou a estória de uma garrafa, com o SPM de Mansoa, que viajou até às Bahamas (Germano Santos)

3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)

13 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2044: O cruzeiro das nossas vidas (8): Porto de Lisboa, Cais de Alcântara (Luís Graça)

15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2050: Cruzeiro das nossas vidas (9): Do Funchal para Bissau no Ana Mafalda (Carlos Vinhal)

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)