1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Julho de 2019:
Queridos amigos,
Em três momentos inopinados, dá-se o confronto entre o
dia e a noite, não passa pela cabeça fazer apreciações sobre os
movimentos de rotação e translação da Terra, o que se impõe são os nexos
associativos, os acordes da imaginação. E assim nasceu esta epifania
que se iniciou numa ida à Feira da Ladra, percorrendo o paredão entre
Cascais e o Estoril e, por fim, na apoteose das ruas decoradas de Tomar,
quando a Festa dos Tabuleiros está no auge e uma poderosa massa humana
vem reverenciar a genial arte decorativa do papel recortado.
Luz
inextinguível na nossa vida inexaurível, este dom maravilhoso da luz
vencer, até ao fim dos tempos, a escuridão.
Um abraço do
Mário
Luz inextinguível, lembranças tropicais, sob a vida inexaurível
Beja Santos
Está na moda falar-se nos mistérios do cérebro, nas associações neuronais labirínticas, que ultrapassam o computador mais genial. Tudo começa neste amanhecer, é a Rua do Vale de Santo António, pouco passa das sete da manhã, é sábado, a Feira da Ladra está a escassos minutos, enfiando pela rua à direita. O viandante vai feliz e contente, com a sua sacola, pode ser que seja uma manhã de prodígios, se não for tanto faz, o que interessa é o farejo da caça. Nisto, olha-se para aquele céu que podia ser pintado por Turner, vislumbram-se umas manchas ígneas, e o viandante lembra-se de um amanhecer na orla do Geba, mais precisamente em Mato de Cão, uma bola de fogo irrompia na massa florestal, acima de Samba Silate, outrora a maior tabanca do Leste da Guiné. Um tanto aturdido com a lembrança tropical, puxa do telemóvel, e zás, aqui fica uma epifania para a luz da saudade, por natureza inextinguível.
O bom Deus privilegiou o viandante dando-lhe a conhecer todos os milésimos de segundo das 24 horas do dia, das quatro estações do ano, nas temperaturas moderadas em que vive neste ponto ocidental europeu e na fulgência daquela Guiné cheia de ruídos noturnos, um fim de dia a pique, sem um quase compasso de espera entre a luz e a escuridão, e os alvores sanguíneos que tornam o coberto vegetal e a torrente das águas barrentas com um sombreado de prata. Num fim de tarde, o viandante põe-se a passear entre Cascais e o Estoril, no chamado paredão, é para dizer que a sorte favorece os audazes, é um fim de dia irisado, a luz desfaz-se em joia de ourivesaria, expele contrastes, matiza-se, e o que há de mais espetacular é aquele esplendor genesíaco que apanha a orla da costa, e nas duas imagens seguintes parece que um cometa foi disparado sobre o oceano, que nasce ali ao pé.
É dia ou noite? Já se falou desse bizarro e genial pintor inglês, Turner, era homem para estar postado aqui, nesta mesma hora, e retirar da paleta todos os cromatismos do dia em despedida. É uma vista esmagadora, puxe-se pela imaginação e até se é levado a supor que há uma formidável batalha naval ao fundo, incendeiam-se naves de todos os tamanhos… Mas não, é o esplendor da criação, e retomamos o que diz o Génesis bíblico, Fiat Lux! Até amanhã, regressa na tua imensa glória!
Anoiteceu, é o sábado que precede o ponto culminante da Festa dos Tabuleiros de 2019, um dos rituais do coletivo tomarense é o adorno das ruas no casco histórico. Várias coisas acontecem ao mesmo tempo, em tropel acorrem multidões murmurantes, percorrem-se ruas, soltam-se exclamativas, esta rua está melhor que a anterior, os mirones disparam em todas as direções. É o feitiço da luz que engrandece todo este laborioso trabalho de papel recortado, esta competição sem inveja, rua a rua se procura o inolvidável, a luz esfusiante, camaleónica, pois ela tem um poder mutante de tornar as cores translúcidas, todo aquele papel recortado só lhe falta falar. Impossível imaginar a Festa dos Tabuleiros sem este espetáculo cromático, chuva de luz, não é noite nem dia, é a luz inextinguível de uma festa exigente, é um momento único de grandeza estética, repete-se de quatro em quatro anos como uma liturgia, luz de festa urbana, arte efémera, mas um dos motores de uma existência coletiva que entrelaça na cultura popular luz com cores, ruas com vida. Pois é assim a vida inexaurível!
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Nota do editor
Último poste da série de 4 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20524: Os nossos seres, saberes e lazeres (371): Do alto de Ourém, de onde se avista Sicó, Alvaiázere, Lousã e a Serra da Estrela (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 11 de janeiro de 2020
sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
Guiné 61/74 - P20547: In Memoriam (362): Padre Libório Jacinto Cunha Tavares (1933-2020), ex-Capelão do BCAÇ 2835 (Nova Lamego, 1968/69)
IN MEMORIAM
PADRE LIBÓRIO JACINTO CUNHA TAVARES (1933-2020)
1. Mensagem de Catarina Tavares, sobrinha-neta do Padre Libório Tavares, com data de 9 de Janeiro de 2020:
Boa tarde,
Há algum tempo fiquei de lhe enviar uma fotografia do meu saudoso tio padre, como carinhosamente o chamamos eu e a minha irmã desde sempre. Para lhe dizer a verdade fui-me esquecendo, pois pensei que tinha tempo... é com grande tristeza que o informo que o meu tio padre faleceu terça-feira, 7 de janeiro após o seu estado de saúde se deteriorar nos seus últimos dias de vida.
Envio-lhe em anexo algumas fotografias dele, como me tinha pedido.
Obrigada por ter partilhado histórias tão dele!
Com os melhores cumprimentos,
Catarina Tavares
************
2. Libório Jacinto Cunha Tavares:
(i) Açoriano, nascido em 1933, na ilha de São Miguel, em Rabo de Peixe;
(ii) Frequentou o seminário diocesano da Terceira;
(iii) Foi ordenado padre em 1958; esteve em várias paróquias da sua ilha natal, incluindo Rabo de Peixe;
(iv) Com 35/36 anos, foi capelão no CTIG, de 17/1/1968 a 10/12/1969, em Nova Lamego, no leste da Guiné [, como tudo indica, no BCAÇ 2835: mobilizado pelo RI 15, esta unidade partiu para a Guiné em 17/1/1968 e regressou a 4/12/1969; esteve em Bissau e Nova Lamego; comandantes: Ten-Cor Inf Esteves Correia, Maj Inf Cristiano Henrique da Silveira e Lorena, e Ten-Cor Inf Manuel Maria Pimentel Bastos; foi rendido pelo BCAÇ 2893 (1969/71)] (*);
(v) Emigrou para o Canadá, foi pároco da igreja católica de Santa Maria, em Brampton, durante 26 anos, lugar que é hoje ocupado pelo seu sobrinho e afilhado, o padre Libório Amaral, nascido em 1963;
(vi) Em 2016, reformado, viveu em Brampton, cidade suburbana da área metropolitana de Toronto, província de Ontario, Canadá:
(vii) Muito conhecido de (e estimado por) a comunidade portuguesa e açoriana de Toronto, é foi considerado um dos principais animadores da tradição da multissecular festa do Senhor Santo Cristo
Guiné > Região de Gabu > Sector de Nova Lamego) > Canjadude >
CCAÇ 5, "Gatos Pretos" > 1969 > O Alf Mil Capelão Libório
Tavares, dizendo missa, num altar improvisado. Ajudante, o
José Martins, Fur Mil TRMS, CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70).
Fotos mais recentes do Padre Libório Tavares, enviadas pela sua sobrinha-neta
************
3. A tertúlia e os editores deste Blogue, enviam as mais sentidas condolências à família do senhor Padre Libório Tavares pela perda deste seu ente querido.(**)
Em jeito de homenagem póstuma, à sua pessoa, aos nossos capelães, a todos os nossos camaradas açorianos, e aos demais camaradas da diáspora lusitana, o seu nome passará a figurar entre os nossos tertulianos já falecidos.
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16638: Os nossos capelães (6): Libório [Jacinto Cunha] Tavares, o meu Capelini, capelão dos "Gatos Negros", açoriano de São Miguel, vive hoje, reformado, em Brampton, AM Toronto, província de Ontario, Canadá (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)
(**) Último poste da série de 6 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20532: In Memoriam (361): Fernando Alberto Silva Franco (1951-2020), ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74)
Guiné 61/74 - P20546: Dando a mão a palmatória (33): Uma Daimler era uma Daimler e uma Fox era uma Fox... É preciso vir um artilheiro (António J. Pereira da Costa) corrigir os infantes...
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70 > Isto é uma Fox... que pertencia ao Pel Rec Daimler, comandado pelo Jaime Machado... Participou, enquanto foi viva, em colunas de transporte de tropas e civis, incluindo a das Op Cabeça Rapada (março-maio de 1969).
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Estrada Bambadinca . Mansambo - Xitole > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70 > Isto é uma Daimler (matrícula ME-90-90)... que pertencia ao Pel Rec Daimler, comandado pelo Jaime Machado (que vai empoleirado na parte de trás)... Participou, enquanto foi viva, em muitas colunas logísticas , incluindo a Op Lança Afiada e a Op Cabeça Rapada (março-maio de 1969).
Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, do Pel Manut > Isto... era uma Fox, que morreu de velha, ou capotou... Pertencia ao Pel Rec Daimler 2046, que era comandando pelo Jaime Machado, nosso grã-tabanqueiro.
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto do álbum do 1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, do Pel Manut > Isto... era uma Fox, a da fotografia de cima (, aqui vista de ângulo, com as entranhas à mostra)... Na foto, o Otacílio.
Foto (e legenda): © Otacílio Luz Henriques, (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > Isto é uma Fox, explica o Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, um dos heróis de Gadamael que a Pátria nunca reconheceu... A viatura blindada pertencia ao Pel Rec Fox 3115, Os Pipas (1972/74).
Guiné > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Isto é uma Daimler, explica o Virgílio Teixeira.
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Pel Rec Daimler 3089 > (Teixeira Pinto, 1971/73) Fevereiro de 1973 > A chegada de Caió > Isto também é uma Daimler (matrícula ME-90-90)... vísível a cabeça e parte do tronco do 1º cabo apontador Manuel Lucas.
Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O meu coronel art ref António J. Pereira da Costa não me perdoa o mais pequeno deslize ... E ainda bem que assim é, e que ele, neste caso, estava atento... Escreveu, em comentário (*):
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > Isto é uma Fox, explica o Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, um dos heróis de Gadamael que a Pátria nunca reconheceu... A viatura blindada pertencia ao Pel Rec Fox 3115, Os Pipas (1972/74).
Foto (e legenda): © José Casimiro Carvalho (2007. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Isto é uma Daimler, explica o Virgílio Teixeira.
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O meu coronel art ref António J. Pereira da Costa não me perdoa o mais pequeno deslize ... E ainda bem que assim é, e que ele, neste caso, estava atento... Escreveu, em comentário (*):
"Não vejo as Daimler, mas devem lá andar. A AM [Auto-Metralhadora] que está em grande é uma Humber ou uma Fox"...
Referia-se à primeira foto, acima reproduzida, de novo...
Referia-se à primeira foto, acima reproduzida, de novo...
E tem razão... A gente às vezes "troca(va) o material"... Mas, aos "infantes", perdoa-se a muita ignorância com que foram, mal preparados, para a guerra...
Enfim, aqui ficam as nossas desculpas, aos leitores, depois de darmos a mão à palmatória (**)...
Enfim, aqui ficam as nossas desculpas, aos leitores, depois de darmos a mão à palmatória (**)...
PS1 - O Jaime Machado pode confirmar se aquela Fox era mesmo dele, ou era dos "cavaleiros" de Bafatá... Eu, que ainda sou do tempo do Jaime, não me lembro de ele andar de Fox...muito menos de Humber... Lembro-me, sim, das suas velhinhas Daimlers, que depois foram herdadas pelo Zé Luís Vacas de Carvalho, cmdt do Pel Rec Daimler 2206 (Bambadinca, 1969/71).
PS2 - Em louvor das suas velhas Daimlers, saltitonas, que ele punha sempre num brinquinho, escreveu, em verso, o Francisco Gamelas, cmdt do Ple Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73):
(...) Rolando sobre a estrada
a abrir e a fechar
colunas civis ou militares,
éramos a força esperada,
metralhadora pronta a cantar
ao desafio os seus cantares.
Impunham algum respeito
estas massas de ferro circulante,
armadas e brutas,
nem que fosse pelo efeito
grotesco de velho ruminante,
sobrevivente de esquecidas lutas. (...)
In: Francisco Gamelas - Outro olhar: Guiné 1971-1973.
Aveiro, 2016, ed. de autor, pp. 29-31
(Reproduzido com a devida vénia).
PS2 - Em louvor das suas velhas Daimlers, saltitonas, que ele punha sempre num brinquinho, escreveu, em verso, o Francisco Gamelas, cmdt do Ple Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73):
(...) Rolando sobre a estrada
a abrir e a fechar
colunas civis ou militares,
éramos a força esperada,
metralhadora pronta a cantar
ao desafio os seus cantares.
Impunham algum respeito
estas massas de ferro circulante,
armadas e brutas,
nem que fosse pelo efeito
grotesco de velho ruminante,
sobrevivente de esquecidas lutas. (...)
In: Francisco Gamelas - Outro olhar: Guiné 1971-1973.
Aveiro, 2016, ed. de autor, pp. 29-31
(Reproduzido com a devida vénia).
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 9 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20541: Questões politicamente (in)correctas (48): Op Cabeça Rapada I, II, III e IV, no setor L1 (Bambadinca), março-maio de 1969: mobilizados milhares de civis, recrutados pela administração do concelho de Bafatá... Não sabemos se foram "voluntários" e "devidamente remunerados"... (Luís Graça / Torcato Mendonça / Albano Gomes / Carlos Marques Santos)
(**) Último poste da série > 2 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20196: Dando a mão à palmatória (32): O texto sobre os "Alentejanos de pele escura" é do nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro, é de 2008 e tem sido sistematicamente "pirateado" na Internet... O interesse pelo tema surgiu quando o autor conheceu, em Mafra, na EPI, no COM, um soldado-cadete que era um "mulato de Alcácer" e que, na recruta, foi vítima de "bullying" racista...
(**) Último poste da série > 2 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20196: Dando a mão à palmatória (32): O texto sobre os "Alentejanos de pele escura" é do nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro, é de 2008 e tem sido sistematicamente "pirateado" na Internet... O interesse pelo tema surgiu quando o autor conheceu, em Mafra, na EPI, no COM, um soldado-cadete que era um "mulato de Alcácer" e que, na recruta, foi vítima de "bullying" racista...
Guiné 61/74 - P20545: Notas de leitura (1254): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (40) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Julho de 2019:
Queridos amigos,
Era inaceitável não se fazer uma referência, ligeira que fosse, a quem escreveu poesia durante e depois da comissão. É a dimensão literária mais pobre que temos, mas há um ponto intrigante, a meu ver muito pouco explorado no blogue: a poesia popular. Reconheço que não se pode inventariar estes livrinhos que circulam nalgumas reuniões anuais, atribui-se pouca importância para a explicação histórica, é muito pessoal mas, reconheça-se, de grande pendor afetivo, deixo à vossa consideração a hipótese de se procurar tentar fazer um levantamento, não tenho nenhuma receita.
Para se olhar ao espelho com o bardo do BCAV 490 só me ocorre, pela máquina poética, Álamo Oliveira, o poema escolhido parece-me gracioso, um açoriano carregado de saudades da Guiné.
Que eu saiba, Álamo Oliveira não regressou ao tema.
Um abraço do
Mário
Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (40)
Beja Santos
“Foi ferido um Furriel
ao pé da enfermaria.
A 489 com coragem
novamente se distinguia.
Como é de calcular,
ainda existe grande bando
e a 18 de Abril o Comando
eles vieram atacar.
Granadas começaram a jogar,
caindo muitas fora do quartel.
O nosso amigo Joel
grande susto apanhou
porque quando uma rebentou
foi ferido um Furriel.
Tudo se levantou
quando na caserna uma caiu
a mala do barbeiro se partiu,
mas ninguém se magoou.
Para as viaturas tudo abalou
onde perigo não havia.
Mas neste momento se ouvia
o Furriel Mortágua aos gemidos,
foi ferido pelos bandidos
ao pé da enfermaria.
Na 487 rebentaram
umas minas há tempos atrasados.
Ficaram alguns colegas atordoados,
mas todos recuperaram.
O Pardal foi dos que ficaram
estendidos na folhagem.
Contra o grupo selvagem
luta-se sem pena nem dó
por isso entrou em Sulucó
a 489 com coragem.
Avançando uns carreiros,
ao local preciso chegaram,
o acampamento cercaram,
desorientando os bandoleiros.
Cá de trás com os morteiros
muito fogo se fazia,
neste momento a Companhia
arrancou com os seus pelotões
e apanhando armas e munições
novamente se distinguia.”
********************
Enquanto decorrem estas refregas, cuide-se de saber se há livros de poesia dedicados à Guiné, ou com afinidades. Armor Pires Mota chegou a ser galardoado com o prémio Camilo Pessanha pelo seu livro "Baga-Baga". Há, em pequenas edições, outras obras de poesia popular. Um dia recebi de um antigo soldado, António Veríssimo, da CCAÇ 2402, um livro de perfeita rima métrica, detive-me num poema muito singelo, afetuoso, senti-o quase como padrão da poesia popular de toda a guerra da Guiné, veja-se esta “Carta P’rá Família”:
“Boa saúde a todos desejo
E que a vida vos corra bem
Eu não sei se mais vos vejo
Ou se pereço aqui, na terra de ninguém
Estou ótimo graças a Deus
Vou vivendo no meio da guerra
Esperando voltar para os meus
Para a paz da minha terra
Corre carta, corre carta
Sai daqui, vai embora
Leva a meus pais esta farta Saudade que eu sinto agora
Voa carta, carta voa
Segue sempre em frente
E quando chegares a Lisboa
Vai ter com a minha gente
Segue carta o teu caminho
Leva beijinhos e saudades também
Diz lá no meu cantinho
Que aqui mal! Eu estou bem”
********************
Álamo Oliveira |
Mas há outros atrevimentos poéticos, um deles merece citação pelo que é e de quem é. “Triste vida leva a garça”, por Álamo Oliveira, Ulmeiro, 1984, precede uma obra já aqui referenciada, Até Hoje (Memória de Cão), também da Ulmeiro, 1986. Álamo Oliveira andou por Binta, honremos o bardo falando da poesia de Álamo Oliveira, aqui ficam extratos do seu poema “cantigas de ter ido à guerra não p’ra matar ou morrer – pico, soldado – mais nada”, com ressaibos açorianos, não se pode desmentir o sangue:
“Guiné, meu campo de guerra,
Gindungo com que tempero
A alcatra da minha terra…
Vinho de palma não quero.
Antes ‘cheiro’ que me aguarda
Com confeitos e alfenim.
Não fui herói de espingarda,
Não fui cobra de capim.
Noites longas, sem mulher;
Noites de cio em segredo.
- Seja soldado quem quer,
Toda a farda mete medo.
(…)
Foi mau. Foi duro. Foi reles.
(Hoje é só bruma passada).
Ó terra de curtir peles,
Mochila cheia de nada.
De resto, quem não recorda
O pavor que nos lançou
O Mastigas numa corda
No dia em que se enforcou?
Fui soldado. Simplesmente.
Soldado de corpo nu.
Amei África e sua gente…
Muito sumo de caju.
Por isso, canto, em quadra
A saudade que engatilha
A arma que me desarma:
- África-mim/minha ilha!
Dos companheiros de armas,
Guardo o rosto e afeição.
Soldados com espingardas
Murchas e presas à mão
Para puxar o gatilho
No momento de matar.
Antes, sachavam o milho,
Agora, são de odiar.
Hoje, à distância de anos,
Meia légua do caixão,
Coso, de memória, os panos:
- Meus companheiros quem são?
(…)
Que eu quis de África o chão,
O lugar e a madrugada;
Amei o seu povo sem pão…
Eu fui soldado – mais nada.
Ansumane, meu amigo,
Ainda estás na mesquita?
Sonho, às vezes, contigo,
Teu olhar mago me fita.
De toga, África te veja,
Verde-oiro bordado à mão,
Curvado – Alá te proteja! –,
Nas rezas do Alcorão.
Num só Deus me comprometo,
De um só Deus te não arranco.
O teu é negro de preto,
O meu é alvo de branco.
(…)
Terras de Binta, Mansoa,
Safim, Bissau, Jumbembem,
E outros nomes que, em boa
Verdade, não me lembro bem.
Lá no fundo da picada,
Vejo avançar para mim,
Negra balanta gingada
Com um molhe de capim.
Carrega o filho às costas,
Seios caídos de fora,
Mãe-negra, em quem apostas
O teu futuro agora?
Que eu vi cacheus e gebas
Caminharem com a maré,
Mas, por mais rios que bebas,
Não terás teu candomblé.
(…)
Mãe-negra – África-mim,
Meu postal desilustrado,
Tempo de angústia e capim
Ao meu ombro pendurado.
Que bem faço por esquecer
Armas, mosquitos, viagem.
África ferrou-me o ser,
Trouxe-a feita tatuagem.
Se da guerra me livrei,
Do seu povo é que não.
Na farda, não me piquei,
Mas trouxe, na minha mão
Ritos de fanado e morte,
Rios mansos que o sol coa,
Luar branco, trovão-forte,
Negro vogando em canoa.
(…)
Guiné! Guiné! Voz de gente!
Doce de coco e baunilha!
Bem te sinto, no meu ventre,
A pulsar no som da ilha,
Que é de mar, enxofre e lava
Hortênsias e solidão.
Guiné, minha irmã-escrava,
Mango caído no chão.”
Por aqui fiquemos, não posso escusar dizer que esta desgarrada com marca de água açoriana me impressiona profundamente, é toada nova de poesia de sabor luso-guineense, um espinho de saudade, ele é porta-estandarte dessa Guiné que ficou para muitos como uma irmã-escrava lá nas terras do poeta feitas de enxofre e lava.
(continua)
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Notas do editor:
Poste anterior de 3 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20523: Notas de leitura (1252): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (39) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 6 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20534: Notas de leitura (1253): Um relato que se vai aprimorando de edição para edição: Liberdade ou Evasão, por António Lobato (1) (Mário Beja Santos)
Marcadores:
Álamo Oliveira,
Armor Pires Mota,
BCAV 490,
Beja Santos,
CCAÇ 2402,
CCAV 489,
Missão Cumprida,
notas de leitura,
poesia,
Santos Andrade
Guiné 61/74 – P20544: Agenda cultural (720): Lançamento do livro "Da Senhora e Da Franqueira: Memórias das nossas Origens", de Manuel Luís Lomba, a levar a efeito, amanhã, dia 11 de Janeiro de 2020, pelas 16,00 horas, no Auditório da Biblioteca Municipal de Barcelos, apresentação pelo professor aposentado, Dr. José Gomes Campinho
C O N V I T E
Lançamento do livro "Da Senhora e Da Franqueira: Memórias das nossas Origens", de Manuel Luís Lomba e prefácio de Cláudio Brochado, Mestre de Arqueologia, a levar a efeito, amanhã, dia 11 de Janeiro de 2020, pelas 16,00 horas, no Auditório da Biblioteca Municipal de Barcelos, apresentação pelo professor aposentado, Dr. José Gomes Campinho.
Monte da Franqueira
Com a devida vénia a Franqueira - Pereira - Barcelos
Capa do livro "Da Senhora e Da Franqueira"
Contra-capa
Sobre o livro:
Edição de autor
Título: Da Senhora e Da Franqueira, Memórias das nossas Origens
Autor: Manuel Luís Lomba
© Manuel Luís Lomba
Rua da Igreja, 44
4755-204 - Faria
manuelluislomba@gmail.com
Paginação e capa: Daniela Fernandes
Imagem da capa: Igreja de N. S. da Franqueira/Ruínas do Castelo de Faria
N.º de páginas: 475
Impressão: Papelmunde
1.ª edição: Dezembro de 2019
Depósito legal: 464886/19
ISBN:978-989-0194-4
Sobre o autor:
Manuel Luís Lomba nasceu em Faria (Concelho de Barcelos), em 1 de Maio de 1942.
Foi funcionário da construtora Soares da Costa onde alcançou o cargo de Director.
É autor dos dois volumes de Faria: "Terra-mãe da Nacionalidade".
Promoveu o renascimento e é Presidente da Direcção do Grupo de Alcaides de Faria.
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Nota do editor
Último poste da série de 15 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 – P20455: Agenda cultural (719): Fotos da sessão de lançamento do livro do José Saúde, “Um Ranger na Guerra Colonial: Guiné-Bissau 1973/74: Memórias de Gabu”, Beja, 10 de dezembro de 2019
Guiné 61/74 - P20543: O nosso blogue em números (65): Quem nos visita vem sobretudo de Portugal (41%) mas também dos EUA (24%) e do Brasil (6%), usa o Chrome (38%) como navegador, e o Windows (77%) como sistema operativo...
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)
Gráfico nº 11 - Principais localizações dos nossos visitantes (leia-se: visualizações de páginas, entre maio de 2010 e o final de 2019): o destaque vai para Portugal (com mais de 4 milhões) e os EUA (com c. 2,4 milhões), seguindo-se o Brasil (0, 558 milhões) a França (0, 5 milhões) e a Alemanha (0, 5 milhões.
Fonte: Adapt. de Blogger (2020) (com a devida vénia)
A principal origem dos que visitam o nosso blogue, quase dois terços, é Portugal (41%) e os EUA (24%) Gráfico nº 8)
Segue-se, à distância, o Brasil (6%), a França (5%) e a Alemanha (5%).
Segue-se, à distância, o Brasil (6%), a França (5%) e a Alemanha (5%).
No mundo globalizado, somos vistos em todo o lado: seguem-se por decrescente (com menos de 1%): Polónia, Espanha, Ucrância, China, Canadá, Itália, Região Desconhecida, Itália, Paises Baixos, Emiratos Árabes Unidos, México, Turquia, Vietname, e Outros (com 12%).
Nesta lista dos Top 20, não aparece infelizmente mais nenhum membro da CPLP, e nomeadamente a Guiné-Bissau e Cabo-Verde, onde temos gente da Tabanca Grande.
Este perfil não se tem alterado desde 2014, ano em que o Brasil perdeu o 2º segundo lugar para os EUA.(*)
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)
2. Os principais navegadores usados pelos nossos leitores, os que visitam o nosso blogue, desde maio de 2010, são o Chrome, o Firefox, o MSIE (Microsoft Internet Explorer) e SafaSri (Gráfico nº 9).
3. O Windows, por sua vez, continua, destacado (77%), à frente dos demais sistemas operativos (Gráfico nº 10)...
No entanto, desceu 3 pontos percentuais em relação a 2017, tal como o Macintosh (menos 2)... O Android (com 5), o iPad (com 2I) e o iPhone (com 1), ou sejam. os sistemas operacionais móveis, ganham agora mais visibilidade.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)
Seria interessante que os nossos leitores pudessem comentar estes números... Ficamos à espera (***).
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 3 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19359: O nosso blogue em números (54): atingimos, no final de 2018, um total de c. 10,9 milhões de visualizações de página... Quem nos visita, vem de Portugal (41,6%), EUA (23,1%), Brasil (6,2%), França (5,3%) e Alemanha (4,5%)...
(**) Vd. poste de 14 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18210: O nosso blogue em números (50): visualizações de página por navegador e por sistema operativo... 602 seguidores do blogue; 2630 amigos do Facebook... Comentário do nosso colaborador permanente Hélder Sousa
Guiné 61/74 - P20542: Parabéns a você (1739): Bernardino Parreira, ex-Fur Mil Inf da CCAV 3365 e CCAÇ 16 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 9 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20540: Parabéns a você (1738): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)
Nota do editor
Último poste da série de 9 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20540: Parabéns a você (1738): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)
quinta-feira, 9 de janeiro de 2020
Guiné 61/74 - P20541: Questões politicamente (in)correctas (48): Op Cabeça Rapada I, II, III e IV, no setor L1 (Bambadinca), março-maio de 1969: mobilizados milhares de civis, recrutados pela administração do concelho de Bafatá... Não sabemos se foram "voluntários" e "devidamente remunerados"... (Luís Graça / Torcato Mendonça / Albano Gomes / Carlos Marques Santos)
Foto do álbum do Albano Gomes, que vive em Chaves, e que foi 1º cabo op cripto, CART 2339 (Mansambo, 1968/69).
Foto (e legenda): © Albano Gomes (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca( > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Op Cabeça Rapada (2)
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca( > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Op Cabeça Rapada (3)
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca( > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Op Cabeça Rapada I > Milhares de nativos são requisitados pela administração do concelho de Bafatá para capinar a estrada de Bambadinca - Mansambo - Xitole (cerca de 30 Km), de um lado e de outro, numa faixa (variável) de 100 a 200 metros.
Fotos do álbum de Torcato Mendonça (ex-alf mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69)
Fotos (e legendas): © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Comando e CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Dada ordem, pela administração de Bafatá, de mobilização de milhares de nativos para os trabalhos de desmatação das orlas da floresta na estrada Bambadinca-Xitole (e depois Bambadinca-Xime). Aqui na foto, forças da CART 2339 (Mansambo, 1968/69).
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Estrada Bambadinca - Mansambo > Op Cabeça Rapada: a espingarda, a enxada, a pá, a picareta, a maceta...
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Estrada Bambadinca - Mansambo > As catanas a funcionar
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Estrada Bambadinca - Mansambo > Aspecto do trabalho de desmatação.
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CART 2339 > Estrada Bambadinca - Mansambo > Montando a segurança às brigadas de trabalhadores.
Fotos do álbum do Carlos Marques Santos (1943-2019), ex-fur mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69)
Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Estrada Bambadinca . Mansambo - Xitole > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70 > Fotos do álbum de Jaime Machado, duas imagens que falam por si e que documentam a participação das velhinhas Daimlers na escolta de segurança a colunas logísticas bem como a colunas de transporte de tropas e civis, incluindo a participação na Op Cabeça Rapada.
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Fotos do álbum do Carlos Marques Santos (1943-2019), ex-fur mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69)
Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Operação Cabeça Rapada I, III e III (Estrada Bambadinca- Mansambo - Xitole, março-maio de 1969) e IV (Bambadinca - Xime, maio de 1969)
1. Comentou o nosso editor LG, no poste P20538 (*)
(...) Morreu muita gente [, na guerra da Guiné, entre 1961 e 1974,] e não vem nas estatísticas...da "guerra". Morreram muitos civis, de um lado e do outro... Estes estivadores [, ao serviço da Intendência, mortos em de março de 1974, em Cufar], por exemplo: quem eram ? A Intendência devia ter, pelo menos, uma folha de pagamentos com os seus nomes...
E os "carregadores" do PAIGC, nas chamadas "regiões libertadas" ?... Era trabalho "revolucionário"..., tão "forçado" como o das populações que eram arrebanhadas, pelos régulos e pelos administradores, para "capinar" as bordas das estradas...e outros "trabalhos públicos".
Isto ainda acontecia no nosso tempo: 1969, no 1º ano do consulado de Spínola!... No Setor L1 (Bambadinca), houve um operação de capinagem, no 1º semestre de 1969, que envolveu... muitos milhares de civis! Op Cabeça Rapada, I, II, III e IV... E lembro-me de, em certas operações, levarmos civis para carregar jerricãs de água e granadas (de bazuca e de morteiro)... Por ex., na Op Tigre Vadio, março de 1970...
No caso da Operação Cabeça Rapada, os capinadores foram "recrutados" de entre as populações Fula, Mandinga e Balanta de Badora (e talvez do Corubal).
2. A propósito da Op Cabeça Rapada, escreveu o Torcato Mendonça (ex-alf mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69) (**):
"Operação Cabeça Rapada: uma mente, com um QI superior, resolveu juntar talvez milhares de africanos e capinar, limpar toda a vegetação, de ambos os lados da estrada Bambadinca/Mansambo, nos locais onde o IN atacava com mais frequência. Talvez 20 a 50 metros de cada lado.
A madeira cortada ficou empilhada na zona final do corte. Resultado: fizeram abrigos para o IN e limpámos-lhe o campo de tiro.
Palavras para quê? Eram artistas portugueses.
2. A propósito da Op Cabeça Rapada, escreveu o Torcato Mendonça (ex-alf mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69) (**):
"Operação Cabeça Rapada: uma mente, com um QI superior, resolveu juntar talvez milhares de africanos e capinar, limpar toda a vegetação, de ambos os lados da estrada Bambadinca/Mansambo, nos locais onde o IN atacava com mais frequência. Talvez 20 a 50 metros de cada lado.
A madeira cortada ficou empilhada na zona final do corte. Resultado: fizeram abrigos para o IN e limpámos-lhe o campo de tiro.
Palavras para quê? Eram artistas portugueses.
Atenção junto a aquartelamentos e em determinadas zonas foi positivo."
3. Notas de TM / LG:
3. Notas de TM / LG:
As foto e as legendas. acima reproduzidas, referem-se à Operação Cabeça Rapada I, iniciada em 26 de março de 1969, às 5 horas da manhã, com duração de 2 dias e envolvendo cerca de 7000 nativos. Foram trabsportados em camionetas dos comerciantes da região: os Rodrigo Rendeiro, de Bambadinca, os Regala, de Galomaro, os Jamil Nasser, do Xitole... E traziam as suas próprias alfaias agrícolas... Nem a administração de Bafatá nemo BCAÇ 2852 tinham catanas para tanta gente...
Na história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), diz-se que a operação foi para montar segurança aos trabalhos de desmatação, de 200 metros para cada lado (!), do itinerário Bambadinca - Mansambo, compreendido entre Samba Juli e Mansambo.
Esta operação envolveu 3 destacamentos, num total de 14 Gr Comb (cerca de 400 homens em armas):
(i) Destacamento A: CCAÇ 2405, a 2 Gr Comb + 2 Gr Comb da CCS/BCAÇ 2852, o Pel Caç Nat 53 e o Pel Caç Nat 63:
(ii) Destacamento B: CART 2339, a 3 Gr Comb + CART 1746, a 2 Gr Comb + 2314, a 2 Gr Comb
(iii) Destacamento C: Pel Mil 103, 104 e 145.
Em 8 de março (e até 18) tinha havido a Op Lança Afiada, envolvendo 1300 efetivos (entre tropa e carregadores civis)… Era necessário dizer ao PAIGC: "A população está connosco"…
Não houve contacto com o IN...
Em 9 de abril desenrolou.se a Op Cabeça Rapada II, com duração de dois dias. O objetivo era novamente montar segurança aos trabalhos de desmatação a cargo da administração do concelho de Bafatá.
Não houve contacto com o IN...
Em 9 de abril desenrolou.se a Op Cabeça Rapada II, com duração de dois dias. O objetivo era novamente montar segurança aos trabalhos de desmatação a cargo da administração do concelho de Bafatá.
O itinerário escolhido, desta vez, foi Mansambo / Ponte dos Fulas. Envolveu "2150 nativos" (sic).
Em 30 de abril e até 2 de maio, teve lugar a Cabeça Rapada III: não está descrita na história do BCAÇ 2852: o itinerário escolhido foi Bambadinca, Candamã, Galomaro e Samba Cumbera.
A 3 de maio, com início às 3 da manhã, houve ainda a Op Cabeça Rapada IV, com duração de 3 dias, para desmatar o intinerário Bambadinca - Xime.
Neste caso, foram envolvidos cerca de 150 homens em armas, ou sejam, 2 Gr Comb / CART 1746 + 2 Gr Comb / CCAÇ 2405 + 1 Gr Comb / CART 2413 + Pel Rec Daimler 2046 (comandado pelo camarada Jaime Machado)..
Também não houve contacto. Não é referido o número de civis recrutados. Mas também terão sido da ordem das centenas ou milhares
"A população envolvida era Fulas e Mandingas. Os Balantas estiveram e muito bem, como carregadores, integrados na minha Companhia, na Op Lança Afiada. Um dia contarei…Tanta estória…" (Torcato Mendonça)
4. Comentário do editor LG (***):
Neste caso, foram envolvidos cerca de 150 homens em armas, ou sejam, 2 Gr Comb / CART 1746 + 2 Gr Comb / CCAÇ 2405 + 1 Gr Comb / CART 2413 + Pel Rec Daimler 2046 (comandado pelo camarada Jaime Machado)..
Também não houve contacto. Não é referido o número de civis recrutados. Mas também terão sido da ordem das centenas ou milhares
"A população envolvida era Fulas e Mandingas. Os Balantas estiveram e muito bem, como carregadores, integrados na minha Companhia, na Op Lança Afiada. Um dia contarei…Tanta estória…" (Torcato Mendonça)
4. Comentário do editor LG (***):
É um número impressionante de trabalhadores de etnia fula e mandinga, mas também balanta, naturais dos regulados de Badora (e talvez do Corubal). Desconheço se foram recrutados "voluntariamente" e "devidamente pagos"... É muito provável que tenham sido apenas pagos em "géneros": arroz... A tradição da administração colonial, antes do início da guerra, e teoricamente até pelo menos a 1961, era a do "trabalho forçado", puro e duro... (****)
Recorde-se que, segundo a História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/69), "a população de um modo geral é-nos favorável [no sector L1], sendo de destacar o regulado de Badora que tem como Chefe/Régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus (sic). Esse homem é o Tenente Mamadu, já conhecido no meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população [balantas, beafadas e mandingas...] fortes dúvidas se tem especialmente as dos Nhabijões, Xime e Mero" (Cap. II, pag. 1).
Conheci o tenente de 2ª classe, régulo e chefe máximo das milícias de Badora. O apontamento do escriba castrense da BCAÇ 2852 é manifestamente exagerado: acho que o Tenente Mamadu era respeitado e sobretudo temido pelos seus súbditos, mas é manifestamente grosseiro, etnocênctrico e até ofensivo dizer que a população, muçulmana, o "considerava como um Deus"...Convenhamos que é uma figura de estilo"...
O administrador do concelho de Bafaté e o régulo de Badora eram, na altura, figuras poderosas, com capacidade para recrutar milhares de braços...
Recorde-se que, segundo a Convenção nº 29 da OIT - Organização Internacional do Trabalho (adotada em 1930, e ratificada por Portugal em... 1956)), trabalho forçado ou obrigatório é todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e para o qual a pessoa não se ofereceu espontaneamente (nº 1 do artº 2ª)...Mas depois havia as exceções do nº 2 do artº 2º...
Recorde-se que, segundo a Convenção nº 29 da OIT - Organização Internacional do Trabalho (adotada em 1930, e ratificada por Portugal em... 1956)), trabalho forçado ou obrigatório é todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e para o qual a pessoa não se ofereceu espontaneamente (nº 1 do artº 2ª)...Mas depois havia as exceções do nº 2 do artº 2º...
5. Texto (excertos) do Carlos Marques dos Santos (ex-fru mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69) (*****), receém falecido, no final do ano:
Prenúncio da abertura definitiva da estrada Bambadinca - Mansambo Xitole, intransitável desde novembro de 1968 a 4 de agosto de 1969 (Op Belo Dia).
[Recorde-se que desde novembro de 1968 o itinerário Mansambo-Xitole estava interdito. Nessa altura, uma coluna logística do BCAÇ 2852, no regresso a Bambadinca, sofrera duas emboscadas (uma das quais, a primeira, com mina comandada), a cerca de 2 km da Ponte dos Fulas, na zona de acção da unidade de quadrícula aquartelada no Xitole [não era ainda CART 2413, mas sim a CART 2339]. A coluna prosseguiu com apoio aéreo. Nove meses depois, fez-se a abertura desse itinerário, mais exactamente a 4 de Agosto de 1969. Na Op Belo Dia, participou o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 com forças da CART 2339 (Mansambo), formando o Destacamento A"... (LG)]
Haverá concerteza alguns dos tertulianos que estiveram envolvidos nesta série de operações... Então relembremos:
Nós, CART 2339, especialmente na segundo Operação [Op Cabeça Rapada II], vibrámos com o movimento. Espantoso: caldeirões de arroz (meio bidão de gasóleo, em fogueiras espalhadas pelo aquartelamento, movimento de viaturas e homens, um barulho ensurdecedor, homens deitados por tudo o que era sítio, em suma, uma anarquia bem controlada).
Passemos à exposição dos factos:
Op Cabeça Rapada I: em 25 de março de 1969, uma semana depois da Op Lança Afiada, inicia-se a primeira Op Cabeça Rapada, com a duração de 2 dias, no itinerário Bambadinca/Mansambo.
Picagens, seguranças de flanco, etc. Trabalhos de nativos em desmatação das bermas da estrada. Estava dado o pontapé de saída, para maior segurança nas deslocações na estrada Bambadinca/ Xitole. Mas, do nosso ponto de vista, maior exposição à observação IN.
Haverá concerteza alguns dos tertulianos que estiveram envolvidos nesta série de operações... Então relembremos:
Nós, CART 2339, especialmente na segundo Operação [Op Cabeça Rapada II], vibrámos com o movimento. Espantoso: caldeirões de arroz (meio bidão de gasóleo, em fogueiras espalhadas pelo aquartelamento, movimento de viaturas e homens, um barulho ensurdecedor, homens deitados por tudo o que era sítio, em suma, uma anarquia bem controlada).
Passemos à exposição dos factos:
Op Cabeça Rapada I: em 25 de março de 1969, uma semana depois da Op Lança Afiada, inicia-se a primeira Op Cabeça Rapada, com a duração de 2 dias, no itinerário Bambadinca/Mansambo.
Picagens, seguranças de flanco, etc. Trabalhos de nativos em desmatação das bermas da estrada. Estava dado o pontapé de saída, para maior segurança nas deslocações na estrada Bambadinca/ Xitole. Mas, do nosso ponto de vista, maior exposição à observação IN.
Em 5 de abril inicia-se o aperfeiçoamento na desmatação do itinerário Bambadinca/ Mansambo, o mesmo acontecendo nos dias seguintes, 6, 7 e 8 de abril, sempre das 6.00h às 17.00h (nota jocosa: em horário de expediente).
Op Cabeça Rapada II
Em 9 de Abril, às 5.40h, inicia-se com a duração de 3 dias a Op Cabeça Rapada II, no itinerário Mansambo/ Ponte dos Fulas. (....)
Foi efectuada a picagem e estacionamentos laterais, para segurança, no sentido Mansambo / Ponte Fulas, antes e durante os trabalhos.
Foram detectadas 2 minas A/P e uma A/C, mas sem incidentes (...) O trabalhos envolveram 2150 trabalhadores nativos, que dormiram e comeram em Mansambo, tendo a segurança ficado montada de noite no itinerário.
Em 10 de abril de 1969 retomam a actividade, pela manhã, tendo os trabalhadores sido recolhidos em Mansambo ao final do dia, regressando ao seus destinos.
Às 18.00h, desse dia, os vários destacamentos militares regressam a Mansambo e aguardam a sua vez de regressar aos quartéis, sem incidentes, com muitos vestígios. (...)
No dia seguinte, a 3 de maio, a CART 2339 estava envolvida em nova operação, a Op Espada Grande, iniciada às 00.00h e terminada - para a CART 2339 - às 8.00h do dia 4 (Galo Corubal e Satecuta) (...).
Não havia tempo para descansar. As acções de segurança e combate iriam prosseguir. (...)
Op Cabeça Rapada II
Em 9 de Abril, às 5.40h, inicia-se com a duração de 3 dias a Op Cabeça Rapada II, no itinerário Mansambo/ Ponte dos Fulas. (....)
Foi efectuada a picagem e estacionamentos laterais, para segurança, no sentido Mansambo / Ponte Fulas, antes e durante os trabalhos.
Foram detectadas 2 minas A/P e uma A/C, mas sem incidentes (...) O trabalhos envolveram 2150 trabalhadores nativos, que dormiram e comeram em Mansambo, tendo a segurança ficado montada de noite no itinerário.
Em 10 de abril de 1969 retomam a actividade, pela manhã, tendo os trabalhadores sido recolhidos em Mansambo ao final do dia, regressando ao seus destinos.
Às 18.00h, desse dia, os vários destacamentos militares regressam a Mansambo e aguardam a sua vez de regressar aos quartéis, sem incidentes, com muitos vestígios. (...)
No dia seguinte, a 3 de maio, a CART 2339 estava envolvida em nova operação, a Op Espada Grande, iniciada às 00.00h e terminada - para a CART 2339 - às 8.00h do dia 4 (Galo Corubal e Satecuta) (...).
Não havia tempo para descansar. As acções de segurança e combate iriam prosseguir. (...)
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Notas do editor:
(*) Vd. postes de 8 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20538: (in)citações (142): Homenagem aos nossos bravos "intendentes", Fernando Franco (1951-2020) e António Baía, os primeiros a falar-nos da tragédia de Cufar, de 2 de março de 1974
(**) Vd. poste de 24 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1459: Fotos Falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (9): Operação Cabeças Rapadas (Estrada Bambadinca-Xitole, Março / Maio de 1969)
(***) Vd. poste de 22 de janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - P449: Mais de 7 mil nativos em trabalhos de desmatação (Mansambo, 1969) (Luís Graça)
(*****) Vd. poste de 22 de janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - P448: Estrada Mansambo-Bambadinca (Op Cabeças Rapadas, 1969) (Carlos Marques Santos)
Guiné 61/74 - P20540: Parabéns a você (1738): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 8 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20537: Parabéns a você (1737): António Murta, ex-Alf Mil Inf MA do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)
Nota do editor
Último poste da série de 8 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20537: Parabéns a você (1737): António Murta, ex-Alf Mil Inf MA do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)
quarta-feira, 8 de janeiro de 2020
Guiné 61/74 - P20539: Historiografia da presença portuguesa em África (195): A Guiné vista pelo seu primeiro governador, Pedro Ignacio de Gouveia (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Janeiro de 2019:
Queridos amigos,
Estes relatórios dos primeiros governadores da Guiné são peças documentais de valor incalculável.
No caso vertente, Pedro Inácio de Gouveia deixa-nos aqui o primeiro relatório, ele foi o primeiro governador, entre 1881 e 1884, a ele se deve um texto esplêndido referente à viagem que o então Alferes Francisco Marques Geraldes fez a Selho, para resgatar um conjunto de mulheres raptadas em S. Belchior, no Geba.
É um documento que revela a situação de uma colónia que continua sem projeto, é uma feitoria e um entreposto em decadência, alerta o Governo para a presença crescente dos franceses no Casamansa, a colónia tem tropa deficiente e entusiasma-se a falar das potencialidades agrícolas.
Peço a atenção do leitor para três imagens do chão Felupe, que é o tema de eleição da doutoranda Lúcia Bayan e que gentilmente as cedeu e as comentou, uma bela intervenção que apraz agradecer e até pedir mais.
Um abraço do
Mário
A Guiné vista pelo seu primeiro governador, Pedro Inácio de Gouveia
Beja Santos
Desafetada de Cabo Verde em 1879, o primeiro governador da Guiné tomou posse em 1881 e enviou ao Ministro da Marinha e do Ultramar o seu primeiro relatório em 1882. É um documento de muito interesse, o brioso oficial da Marinha percebe-se estar entusiasmado, não esconde a penúria que envolve a sua administração, sente-se no dever de entrar em detalhes para que Lisboa compreenda que aquela colónia não passa de uma feitoria, está completamente subaproveitada e cercada pelos apetites coloniais franceses, daí o seu esforço de sensibilização. É um tanto formal, por vezes eloquente, é explicativo, não quer deixar nenhuma verdade na penumbra.
Ele escreve assim:
“A História da Guiné Portuguesa desde a sua fundação como Feitoria, depois como Distrito, até à sua autonomia como Província, não se faz num limitado campo de um relatório. A história política do território da Senegâmbia Portuguesa há-de fazer-se um dia com os elementos arrecadados no Arquivo do Ministério e outros dispersos na sede do Governo da Província de Cabo Verde.
O Arquivo da Província é o mais deficiente possível; os elementos escasseiam por toda a parte, e tudo é pobre em subsídios para a História da Guiné, desde o primeiro estabelecimento na antiga Praça em Bissau até à ocupação em Bolama. A Província que tenho a honra de administrar, o território que compreende a Senegâmbia Portuguesa, não está definido, não está limitado. Segundo as opiniões mais conspícuas, situar-se-ia ao sul do rio Gâmbia, o limite boreal, e ao austral em Cabo Verga, entre os rios Casamansa e Nuno. A Guiné, pela sua autonomia, foi dividida em quatro concelhos, com sedes em Bolama, Buba, Bissau e Cacheu, divisão que não foi sancionada pelo Governo de Sua Majestade.
O actual Concelho de Buba era no passado denominado de Bolola. Os pontos fortificados, partindo de sul para norte são: Bissau, Geba, Cacheu, Zinguinchor e Farim. As leis repressivas contra o infame tráfico de escravos, dificultando a sua exportação e a carência quase completa de mercado importador, puseram termo a este vil comércio. Na impossibilidade de comerciar em escravos, dirigiram-se as atenções europeias para os vastos campos incultos, e puseram ombros à agricultura, que então só era embrionária, compensando aliás generosamente os capitais empregados (da leitura deste parágrafo, compreende-se que a consideração do autor é dirigida ao desenvolvimento em geral do Império Português em África).
Enquanto a Guiné não for verdadeiramente conhecida, despida de temores devidos ao seu passado, enquanto as informações colhidas na metrópole não colocarem esta Província no seu verdadeiro pé, há-de vegetar e não viver, apesar das suas muitíssimas riquezas. Mandei confeccionar o recenseamento geral da população, através de mil dificuldades pelos atritos que tive de vencer”.
O documento é detalhado sobre o estado geral das infraestruturas e equipamentos, em dado momento o governador pormenoriza o estado da administração militar:
“A força militar da Província compõe-se do Batalhão de Caçadores 1 da África Ocidental e de uma Bateria de Artilharia. Em geral, a soldadesca é bastante eivada de vícios; nos angolanos predominam o da embriaguez e o crime de furto, nos cabo-verdianos a insolência e o desrespeito; os europeus são, talvez, os melhores, ainda que tragam já consigo uma bagagem pouco brilhante de faltas disciplinares. O angolano na paz não presta, em fogo é suportável, portando-se até com bravura; o cabo-verdiano, salvo excepções, é tímido e fraqueja no combate, pensa demais na família e arreceia-se pela morte.
"O Batalhão, que veio transferido em condições muito más, por falta de quartel apropriado, sendo os soldados obrigados a dormir sob as árvores e comandados por oficiais que não tinham as verdadeiras noções do seu dever, ressentiu-se por muito tempo da pouca disciplina de então”.
Mostra-se muito preocupado com a efetiva colonização e explica ao Ministro o que pretende fazer para haver pacificação com os povos da Guiné e disciplina nas suas tropas:
“Posso garantir a V. Ex.ª que não há nada preferível para captar a confiança destes povos incultos a dar-lhes uma lição severa. Compreendem a força e entendem também a generosidade.
No princípio da ocupação de Bolama, quando a Guiné ainda era distrito, os Bijagós quando vinham a Bolama consideravam-se em país conquistado, e o saque era geral quando não havia a prevenção de fechar os estabelecimentos a tempo. Mais tarde, já na minha administração, sucedeu o que já tinha sucedido; os Bijagós vinham fazer o seu tráfico humilde e sisudamente já ninguém os receava; a pilhagem existia pela inversa, eram os soldados que roubavam os Bijagós, a ponto de não quererem estes vir a Bolama comerciar porque os interesses eram para a soldadesca, pelo furto de grande número de artigos.
A Bateria de Artilharia foi destinada a guarnecer as fortalezas da Província. O princípio era justo se a Província tivesse fortalezas. Bolama não carece delas; Bissau possui uma meio derrocada, que tem para mim o defeito de ter sido útil, está hoje a população da vila de S. José de Bissau sofrendo, sem necessidade, as consequências de uma aglomeração de gente e daquele espaço inutilizado em que as condições higiénicas da localidade são das piores possíveis; Cacheu possui apenas uns fortins desmantelados; Geba, semelhantemente; e só Buba e Farim é que têm um sistema de fortificação passageira.
A disciplina quanto a oficiais parece-me que devia ser o mais rigorosa possível, evitando-se que chegassem a oficiais superiores, ou mesmo a capitães, oficiais que têm estado na inactividade temporária por castigo, ou hajam cometido faltas que os obriguem à prisão”.
E depois destas considerações pormenorizadíssimas, o governador discreteia sobre a economia, fala das produções da Guiné ao tempo, a saber: mancarra, amêndoas de palma, arroz em casca, couros e goma. Dá informação de que o comércio estava todo entregue às casas francesas de Marselha e às situadas na Bélgica, o centro das operações era no Senegal, na Guiné estas casas comerciais apenas conservavam sucursais e os capitais lucrativos não eram empregados em benefício e para a prosperidade do território guineense.
Na continuação do seu relatório fala da administração da justiça, da instrução pública, da administração eclesiástica, chega mesmo a referir o número de freguesias, nove, e dotadas com seis padres, cinco dos quais eram missionários oriundos do colégio de Cernache do Bonjardim.
Revela-se muito inquieto com a situação existente no Forreá e a necessidade de proteger os Fulas-Pretos.
Este é o primeiro documento de um governador da Guiné, a Biblioteca da Sociedade de Geografia conserva outros documentos destes primeiros governadores, voltaremos ao assunto.
Honra-nos com imagens da vida Felupe a doutoranda Lúcia Bayan, que gentilmente oferece três fotografias do seu acervo e tece os seus comentários:
O chão Felupe, apesar de pequeno, tem características muito distintas, visíveis na instalação das tabancas, tipo de casas e na produção agrícola. Devido a estas características, os Felupe consideram o seu chão dividido em três zonas:
a) zona de mato (kajamutai) com 11 tabancas: Sucujaque, Tenhate, Basseor, Caroai, Varela Medina, Varela Iale, Catão, Cassolol, Edjatem, Budjim e Suzana.
Tal como o nome indica, esta zona tem muitas árvores, especialmente palmeiras e cajueiros, sendo por isso zona de produção de vinho de palma e de caju. As moranças são espaçosas e as casas com grandes varandas abertas. Há estradas e caminhos pelo que a comunicação entre tabancas é fácil e recorrente.
b) zona de areia (kassukai) com 5 tabancas: Edjim, Elalabe, Ossor, Bolor e Jufunco.
Esta é uma zona com poucas árvores, onde não há produção de vinho de palma nem de caju. Em vez disso, a população dedica-se à pesca e secagem de peixe e, na estação seca, produz tomate nas bolanhas. Estes produtos são depois vendidos nos mercados de Elia e Arame a mulheres que vêm propositadamente de Bissau. As moranças são menos espaçosas e as varandas das casas são fechadas com paus para diminuir a entrada de areia. Sendo zona de areia, o acesso é difícil, reservado apenas a carros com tração às quatro rodas. Por isso, não há estradas e a comunicação entre tabancas é feita essencialmente através de canoas.
c) zona da água (assumulô) com 3 tabancas: Arame, Elia e Jobel.
As duas primeiras tabancas estão situadas numa zona mista, isto é, com mato e água. Por isso, nestas tabancas há áreas de produção de vinho de palma e de caju. Jobel está totalmente situada na água. Esta tabanca é constituída por grupos de casas instaladas em pequenos montes que, durante a maré alta, parecem pequenas ilhas e algumas casas parecem mesmo assentes em palafitas. Em Arame e Elia, as moranças são muito dispersas. Na parte norte, zona de mato, a comunicação entre elas é feita por estrada e de canoa na parte sul, zona de água. Em Jobel a comunicação é feita apenas por canoa e depende das marés.
Fotos (e legendas): cortesia da doutoranda Lúcia Bayan
____________
Nota do editor
Último poste da série de 1 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20519: Historiografia da presença portuguesa em África (194): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (7): "As rotas da escravatura, 1444-1888”, por Jordi Savall (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Estes relatórios dos primeiros governadores da Guiné são peças documentais de valor incalculável.
No caso vertente, Pedro Inácio de Gouveia deixa-nos aqui o primeiro relatório, ele foi o primeiro governador, entre 1881 e 1884, a ele se deve um texto esplêndido referente à viagem que o então Alferes Francisco Marques Geraldes fez a Selho, para resgatar um conjunto de mulheres raptadas em S. Belchior, no Geba.
É um documento que revela a situação de uma colónia que continua sem projeto, é uma feitoria e um entreposto em decadência, alerta o Governo para a presença crescente dos franceses no Casamansa, a colónia tem tropa deficiente e entusiasma-se a falar das potencialidades agrícolas.
Peço a atenção do leitor para três imagens do chão Felupe, que é o tema de eleição da doutoranda Lúcia Bayan e que gentilmente as cedeu e as comentou, uma bela intervenção que apraz agradecer e até pedir mais.
Um abraço do
Mário
A Guiné vista pelo seu primeiro governador, Pedro Inácio de Gouveia
Beja Santos
Desafetada de Cabo Verde em 1879, o primeiro governador da Guiné tomou posse em 1881 e enviou ao Ministro da Marinha e do Ultramar o seu primeiro relatório em 1882. É um documento de muito interesse, o brioso oficial da Marinha percebe-se estar entusiasmado, não esconde a penúria que envolve a sua administração, sente-se no dever de entrar em detalhes para que Lisboa compreenda que aquela colónia não passa de uma feitoria, está completamente subaproveitada e cercada pelos apetites coloniais franceses, daí o seu esforço de sensibilização. É um tanto formal, por vezes eloquente, é explicativo, não quer deixar nenhuma verdade na penumbra.
Ele escreve assim:
“A História da Guiné Portuguesa desde a sua fundação como Feitoria, depois como Distrito, até à sua autonomia como Província, não se faz num limitado campo de um relatório. A história política do território da Senegâmbia Portuguesa há-de fazer-se um dia com os elementos arrecadados no Arquivo do Ministério e outros dispersos na sede do Governo da Província de Cabo Verde.
O Arquivo da Província é o mais deficiente possível; os elementos escasseiam por toda a parte, e tudo é pobre em subsídios para a História da Guiné, desde o primeiro estabelecimento na antiga Praça em Bissau até à ocupação em Bolama. A Província que tenho a honra de administrar, o território que compreende a Senegâmbia Portuguesa, não está definido, não está limitado. Segundo as opiniões mais conspícuas, situar-se-ia ao sul do rio Gâmbia, o limite boreal, e ao austral em Cabo Verga, entre os rios Casamansa e Nuno. A Guiné, pela sua autonomia, foi dividida em quatro concelhos, com sedes em Bolama, Buba, Bissau e Cacheu, divisão que não foi sancionada pelo Governo de Sua Majestade.
O actual Concelho de Buba era no passado denominado de Bolola. Os pontos fortificados, partindo de sul para norte são: Bissau, Geba, Cacheu, Zinguinchor e Farim. As leis repressivas contra o infame tráfico de escravos, dificultando a sua exportação e a carência quase completa de mercado importador, puseram termo a este vil comércio. Na impossibilidade de comerciar em escravos, dirigiram-se as atenções europeias para os vastos campos incultos, e puseram ombros à agricultura, que então só era embrionária, compensando aliás generosamente os capitais empregados (da leitura deste parágrafo, compreende-se que a consideração do autor é dirigida ao desenvolvimento em geral do Império Português em África).
Enquanto a Guiné não for verdadeiramente conhecida, despida de temores devidos ao seu passado, enquanto as informações colhidas na metrópole não colocarem esta Província no seu verdadeiro pé, há-de vegetar e não viver, apesar das suas muitíssimas riquezas. Mandei confeccionar o recenseamento geral da população, através de mil dificuldades pelos atritos que tive de vencer”.
O documento é detalhado sobre o estado geral das infraestruturas e equipamentos, em dado momento o governador pormenoriza o estado da administração militar:
“A força militar da Província compõe-se do Batalhão de Caçadores 1 da África Ocidental e de uma Bateria de Artilharia. Em geral, a soldadesca é bastante eivada de vícios; nos angolanos predominam o da embriaguez e o crime de furto, nos cabo-verdianos a insolência e o desrespeito; os europeus são, talvez, os melhores, ainda que tragam já consigo uma bagagem pouco brilhante de faltas disciplinares. O angolano na paz não presta, em fogo é suportável, portando-se até com bravura; o cabo-verdiano, salvo excepções, é tímido e fraqueja no combate, pensa demais na família e arreceia-se pela morte.
"O Batalhão, que veio transferido em condições muito más, por falta de quartel apropriado, sendo os soldados obrigados a dormir sob as árvores e comandados por oficiais que não tinham as verdadeiras noções do seu dever, ressentiu-se por muito tempo da pouca disciplina de então”.
Mostra-se muito preocupado com a efetiva colonização e explica ao Ministro o que pretende fazer para haver pacificação com os povos da Guiné e disciplina nas suas tropas:
“Posso garantir a V. Ex.ª que não há nada preferível para captar a confiança destes povos incultos a dar-lhes uma lição severa. Compreendem a força e entendem também a generosidade.
No princípio da ocupação de Bolama, quando a Guiné ainda era distrito, os Bijagós quando vinham a Bolama consideravam-se em país conquistado, e o saque era geral quando não havia a prevenção de fechar os estabelecimentos a tempo. Mais tarde, já na minha administração, sucedeu o que já tinha sucedido; os Bijagós vinham fazer o seu tráfico humilde e sisudamente já ninguém os receava; a pilhagem existia pela inversa, eram os soldados que roubavam os Bijagós, a ponto de não quererem estes vir a Bolama comerciar porque os interesses eram para a soldadesca, pelo furto de grande número de artigos.
A Bateria de Artilharia foi destinada a guarnecer as fortalezas da Província. O princípio era justo se a Província tivesse fortalezas. Bolama não carece delas; Bissau possui uma meio derrocada, que tem para mim o defeito de ter sido útil, está hoje a população da vila de S. José de Bissau sofrendo, sem necessidade, as consequências de uma aglomeração de gente e daquele espaço inutilizado em que as condições higiénicas da localidade são das piores possíveis; Cacheu possui apenas uns fortins desmantelados; Geba, semelhantemente; e só Buba e Farim é que têm um sistema de fortificação passageira.
A disciplina quanto a oficiais parece-me que devia ser o mais rigorosa possível, evitando-se que chegassem a oficiais superiores, ou mesmo a capitães, oficiais que têm estado na inactividade temporária por castigo, ou hajam cometido faltas que os obriguem à prisão”.
E depois destas considerações pormenorizadíssimas, o governador discreteia sobre a economia, fala das produções da Guiné ao tempo, a saber: mancarra, amêndoas de palma, arroz em casca, couros e goma. Dá informação de que o comércio estava todo entregue às casas francesas de Marselha e às situadas na Bélgica, o centro das operações era no Senegal, na Guiné estas casas comerciais apenas conservavam sucursais e os capitais lucrativos não eram empregados em benefício e para a prosperidade do território guineense.
Na continuação do seu relatório fala da administração da justiça, da instrução pública, da administração eclesiástica, chega mesmo a referir o número de freguesias, nove, e dotadas com seis padres, cinco dos quais eram missionários oriundos do colégio de Cernache do Bonjardim.
Revela-se muito inquieto com a situação existente no Forreá e a necessidade de proteger os Fulas-Pretos.
Este é o primeiro documento de um governador da Guiné, a Biblioteca da Sociedade de Geografia conserva outros documentos destes primeiros governadores, voltaremos ao assunto.
Honra-nos com imagens da vida Felupe a doutoranda Lúcia Bayan, que gentilmente oferece três fotografias do seu acervo e tece os seus comentários:
O chão Felupe, apesar de pequeno, tem características muito distintas, visíveis na instalação das tabancas, tipo de casas e na produção agrícola. Devido a estas características, os Felupe consideram o seu chão dividido em três zonas:
a) zona de mato (kajamutai) com 11 tabancas: Sucujaque, Tenhate, Basseor, Caroai, Varela Medina, Varela Iale, Catão, Cassolol, Edjatem, Budjim e Suzana.
Tal como o nome indica, esta zona tem muitas árvores, especialmente palmeiras e cajueiros, sendo por isso zona de produção de vinho de palma e de caju. As moranças são espaçosas e as casas com grandes varandas abertas. Há estradas e caminhos pelo que a comunicação entre tabancas é fácil e recorrente.
b) zona de areia (kassukai) com 5 tabancas: Edjim, Elalabe, Ossor, Bolor e Jufunco.
Esta é uma zona com poucas árvores, onde não há produção de vinho de palma nem de caju. Em vez disso, a população dedica-se à pesca e secagem de peixe e, na estação seca, produz tomate nas bolanhas. Estes produtos são depois vendidos nos mercados de Elia e Arame a mulheres que vêm propositadamente de Bissau. As moranças são menos espaçosas e as varandas das casas são fechadas com paus para diminuir a entrada de areia. Sendo zona de areia, o acesso é difícil, reservado apenas a carros com tração às quatro rodas. Por isso, não há estradas e a comunicação entre tabancas é feita essencialmente através de canoas.
c) zona da água (assumulô) com 3 tabancas: Arame, Elia e Jobel.
As duas primeiras tabancas estão situadas numa zona mista, isto é, com mato e água. Por isso, nestas tabancas há áreas de produção de vinho de palma e de caju. Jobel está totalmente situada na água. Esta tabanca é constituída por grupos de casas instaladas em pequenos montes que, durante a maré alta, parecem pequenas ilhas e algumas casas parecem mesmo assentes em palafitas. Em Arame e Elia, as moranças são muito dispersas. Na parte norte, zona de mato, a comunicação entre elas é feita por estrada e de canoa na parte sul, zona de água. Em Jobel a comunicação é feita apenas por canoa e depende das marés.
Fotos (e legendas): cortesia da doutoranda Lúcia Bayan
____________
Nota do editor
Último poste da série de 1 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20519: Historiografia da presença portuguesa em África (194): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (7): "As rotas da escravatura, 1444-1888”, por Jordi Savall (Mário Beja Santos)
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