sábado, 4 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20524: Os nossos seres, saberes e lazeres (371): Do alto de Ourém, de onde se avista Sicó, Alvaiázere, Lousã e a Serra da Estrela (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
Ourém Velha, sem favor, está entre as mais belas vilas portuguesas, tem ali perto concorrência como Dornes ou Óbidos, ou mesmo Sardoal, Constância e Golegã. O Paço, agora em fase de reabilitação, é uma peça única na nossa arquitetura, meio civil, meio militar, andando por ali à volta a bisbilhotar a grandiosidade do Paço dos Condes de Ourém encontramos reminiscências das nossas construções militares no Norte de África e da arquitetura toscana, recorde-se que começou a ser levantado em finais da Idade Média, e está de paredes meias com o soberbo castelo que indicia a Reconquista Cristã.
O viandante, que é fotógrafo amador e bem canhestro, tem procurado estudar, para estas coisas de fortalezas e aparentados a boa hora para captar as imagens, e não esconde o seu contentamento pelo registo destas imagens.

Um abraço de despedida, e até à próxima viagem,
Mário


Do alto de Ourém, de onde se avista Sicó, Alvaiázere, Lousã e a Serra da Estrela

Beja Santos



Entre as mais belas vilas de Portugal, Ourém goza de um soberbo paço ducal, singularíssimo. Em meados do século XV, o 4.º Conde de Ourém, Marquês de Valença e filho primogénito do Duque de Bragança, aqui mandou erguer uma residência fortificada, um misto de castelo do Norte de África e de palácio toscano, coisa raríssima entre nós. Escolheu bem o local, bem perto do castelo que pertenceu aos Árabes, está num topo de escarpas, e o que daqui se avista é soberbo numa rotação panorâmica: temos Sicó mais perto, não longe a Serra d’Aire e Candeeiros e lá ao fundo as penhas da Serra da Estrela. Como se escreve em “As mais belas vilas e aldeias de Portugal”, Editorial Verbo, 1984, “Nos cumes do alcantilado monte elevam-se o Castelo e os Paços da Ourém Velha. As muralhas protegem também a semicircunferência do povoado, que foi pelo menos romano, suevo, visigodo e árabe antes de ser definitivamente cristão”. Pois bem, o espetacular Paço dos Condes é o principal núcleo monumental de Ourém Velha.



Volta-se a citar esta obra da Editorial Verbo: “Construído no século XV, impressiona pela majestosa força, imponente conjunto de torreões, aligeirados e até tornados esbeltos pela cimalha em cachorrada de tijolo formando arcaturas ogivais. Janelas também rematadas em ogiva abrem para o espaço interior e um friso de tijoleiras salientes é mais um elemento deste original e entre nós raro decorativismo”. É impressionante, é como se puséssemos um pé no fim da Idade Média, só um senhor muito poderoso se podia ter abalançado a este empreendimento. E quase logo a seguir, Ourém começou a perder a aura que o seu nobre procurara impor.




E continuando a citação: “Como os gigantescos degraus, as torres sobem a crista do monte que culmina no arruinado castelo, toda uma afirmação de grandeza e poder devida em grande parte a D. Afonso, Conde de Ourém e Marquês de Valença, primogénito do 1.º Duque de Bragança e grande impulsionador de Ourém. O seu túmulo, belíssima peça escultórica, encontra-se na cripta da Capela-Mor da Colegiada, na zona felizmente poupada pelo terramoto de 1755, que arrasou praticamente a igreja e grande parte da vila. Escapou à brutalidade do sismo a arca tumular, mas não à dos franceses em 1810, que espalharam as ossadas do neto de D. João I e de Nuno Álvares Pereira e roubaram e queimaram tudo quanto puderam em Ourém”.




Ourém Velha tem soberbos atrativos turísticos, a despeito de muita casa arruinada, há por ali belas habitações, há muito restauro, goza de uma importante pousada, tem alojamento local e um posicionamento estratégico que permite ao turista ir visitar as pegadas dos dinossauros, as colinas e os vales banhados por ribeiros e pelo rio Nabão, o Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, o Parque do Agroal e também Fátima, bem perto.



A chamada vila medieval merece pois uma visita demorada, veja-se aqui a Porta de Santarém e ao lado a linda Capela de Nossa Senhora da Conceição completamente vestida de azulejos seiscentistas.




Enfim, há muito mais a visitar na vila medieval de Ourém, casas brasonadas, a antiga cadeia, o antigo Hospital da Misericórdia, a rua da antiga Judiaria, a Calçada da Carapita, a Calçada da Mulher Morta. O Posto de Turismo deve ser visitado, tem habitualmente belas exposições e boa bibliografia oureense para os interessados.


O viandante tinha imensas saudades de aqui regressar, gosta de usufruir do panorama único, de se reencontrar com este local grandioso do tempo da Reconquista e de contemplar o Paço dos Condes de Ourém, que conforme as imagens ilustram está numa fase de beneficiação e restauro. Aconteceu, mesmo em jeito de despedida, no cimo de uma escadaria apanhar esta atmosfera verdejante e aqueles seres irreais ao fundo, são coisas da imaginação que metem fadas, duendes e histórias de mouras encantadas… Histórias que fazem parte de Ourém, diga-se em abono da verdade.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20507: Os nossos seres, saberes e lazeres (370): Umas férias à sombra do Forte do Pessegueiro (Mário Beja Santos)

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