sábado, 28 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20507: Os nossos seres, saberes e lazeres (370): Umas férias à sombra do Forte do Pessegueiro (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Junho de 2019:

Queridos amigos,
Os netos possuem essa poderosa faculdade de influenciar as opções estivais, aquela neta não esquece as ondas de Sines, bem se procurou acautelar o poiso do ano anterior, impossível, a casa do Paiol estava tomada durante meses, encontrou-se abrigo num aldeamento perto do Pessegueiro, procurando-se suprir as saudades com visitas regulares a Sines, correu tudo a contento, aquela costa escalvada, recortada, como se estivesse permanentemente a expulsar pedras ao oceano, é um fascínio permanente e a neta não se cansou de elogiar a água quentinha, as ondas e os regalos da mesa.
Eles são o nosso futuro, merecem o nosso melhor, a começar pela ternura.

Um abraço do
Mário


Umas férias à sombra do Forte do Pessegueiro

Beja Santos

Era uma vez um avô que tinha uma neta muito desempoeirada, de sorriso bonito, um rosto emoldurado por olhos de azul-marinho, conversadora e perguntadora, com uma grande paixão pelos banhos de mar e saltos nas ondas. No ano anterior, tinha ido com o avô para Sines, tinham ficado numa casinha num sítio chamado Paiol, era um regalo aqueles banhos da manhã numa praia de água quente, seguia-se uma almoçarada a contento de todos, sesta, brincadeiras e depois praia, todos felizes com aquela boa vida. No ano seguinte, foi impossível ir para o Paiol, casa alugada durante meses, andou-se à procura de outro sítio, acertou-se no Pessegueiro, bem perto do Forte, altaneiro e vigilante, em terra firme, a olhar a ilha do mesmo nome.




Na “Descrição do Reino de Portugal”, de Alexandre Massai, datado de 1621, escreve-se que a Ilha do Pessegueiro dista de Vila Nova de Mil Fontes duas léguas e da vila de Sines três, ninguém mora na ilha, aqui perto embarcou D. António Prior do Crato e foi à procura de outra guarida. No mesmo livro se faz o elogio do atum e da sardinha e que por ali há porto seguro, o problema eram as investidas inglesas, eram inimigos dos reis Áustrias. E por tal razão coube a Filipe Terzi a construção de um forte defronte da ilha, trabalho que envolveu uma cópia de gente e que só acabou em 1598, aqui se puseram 4 peças de artilharia, 6 mosquetes e 25 arcabuzes. Pensou-se igualmente na ilha fazer um fortezinho cujas obras acabaram também no final do ano de 1598. Hoje é uma recordação histórica, felizmente está preservado, ali perto começa a vilegiatura de muita gente, praias com muito cascalho até chegar ao areal, águas mansas, divertimentos vários, por ali se pedalam gaivotas e se contorna aquela ilha que nunca sai dos nossos olhos.





Foi uma semana de sonho, evidentemente que se visitaram as outras praias e mesmo Sines, tem-se amigos na Pensão Central, a Isabel e o Augusto, o Augusto, como sonha em ir trabalhar para a Guiné faz muitas perguntas ao avô enquanto a neta percorre a Pensão Central de alto a baixo, gralhando e com raio de felicidade. E aqui ficam imagens que recordam ditosos tempos, é de supor que há milhões de anos por aqui se deu uma fragmentação de grande tomo, todas estas toneladas de pedra se esfarelaram, entre a costa alentejana e a algarvia. Era uma vez uma neta perguntadora que não esqueceu nem esquecerá Sines, os saltos nas ondas, a boa mesa, o bom dormir, a ternura das histórias e as respostas a mil porquês. Passeou-se muito, entre Sines e Porto Covo. Qualquer dia aqui se volta, as vontades da neta merecem ser satisfeitas.






Em jeito de despedida, junto um bilhete-postal que a minha mãe recebeu de uns amigos na década de 1970, imagens da Praia Grande, Forte do Pessegueiro, Praia do Peixe e Jardim de Porto Covo, obviamente que houve grandes mudanças, foi irresistível não postar aqui esta relíquia.
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Nota do editor

Último poste da série de21 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20478: Os nossos seres, saberes e lazeres (369): Elogio do Penedo do Granada, do Zêzere e do Cabril (2) (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Valdemar Silva disse...

Obrigado Beja Santos.
Em 1983, mesmo fora do período de férias, toda a zona em redor do Forte era um acampamento selvagem permanente. Dentro do Forte era como uma pensão colectiva de rapaziada hippie, que lá dentro faziam tudo. Era difícil entrar no Forte por a ponte de acesso estar destruída.
Julgo que partir dos anos 90, com a expulsão dos ocupantes, o arranjo da ponte e o começo das obras no Forte começaram as visitas para toda a gente.
Ainda lá estavam alguns canhões e contava-se a lenda da passagem secreta do Forte para a Ilha.
Bons tempos, andei por esses lados mais de vinte anos por altura das férias de verão. Conheci bem toda a zona de Porto Covo à Zambujeira do Mar e, desde 2006, nunca mais lá voltei.

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz