Com a devida vénia a Biblioteca Municipal de Penela
1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 23 de Dezembro de 2019:
As luzes que se viam da serra
Naquele dia, manhã cedo, o Pedro deixou a aldeia e guiou o rebanho até à serra, como fazia todos os dias, quando lá chegou estava muito frio, o sol ainda se não via, olhou em direção à vila sede do concelho e estranhamente viu muitas luzes, eram brancas, azuis, amarelas, verdes, um sem fim de cores. Depois de muito pensar o que seria que por lá estaria a acontecer, respirou fundo e disse para consigo - "Com tantas luzes e de tantas cores, só pode ser feira!" - E logo imaginou que não faltariam por lá os carrosséis, os carrinhos de choque, o circo, a barraca das farturas e tantas coisas bonitas que raramente podia ver. Nesse mesmo instante decidiu. Na amanhã do dia seguinte depois de levar as ovelhas a pastar à serra, também ele havia de ir à feira.
E assim fez, no dia seguinte chegou a casa “arranjou-se” e pôs-se a caminho, por veredas e atalhos depressa chegou à vila, as luzes cada vez lhe pareciam mais, mas não encontrava o largo da feira continuou procurando só que depois da caminhada que fizera e de tanto procurar começava a sentir algum cansaço. Aquilo que imaginara ir ver não encontrava. Apenas via muitas pessoas numa correria louca, carregadas de sacos de plástico e de vários embrulhos, e a feira ele não encontrava.
Aproximou-se duma velhinha e perguntou:
- "Senhora pode informar-me onde fica o local da feira?"
A velhinha sorriu e disse:
- "Olha menino, de facto parece uma feira mas não é! Começa hoje a época de Natal aqui na vila e a Câmara Municipal mandou iluminar as ruas para ficarem mais bonitas e para que mais gente venha até cá, e assim, os comerciantes possam fazer mais negócio".
O Pedro agradeceu à velhinha a informação prestada, cansado, triste, e desiludido voltou à sua aldeia. Era tempo de Natal, mas apesar de muito ter caminhado, coisas que lhe fizessem lembrar essa época ele não encontrara. O Presépio como sempre havia na sua aldeia ou a pequena árvore de natal não vira em nenhum lado. Desejava contar à mãe, viúva há já alguns anos a desilusão que tinha sido a sua ida à vila. Mas também não pôde porque ela se encontrava doente, internada no hospital de uma cidade distante. No regresso a casa pensou. Como é lindo o Natal na minha aldeia! Onde o menino Jesus é o centro da festa, e as crianças, mesmo as que não recebem prendas, conseguem ser felizes.
António Eduardo Ferreira
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Nota do editor
Último poste da série de 23 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20486: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (12): Associação Afectos com Letras, ONGD
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