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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26363: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (31): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte V: o embarque, no T/T Uíge, de regresso a casa, em 4 de agosto de 1969 (continuação)



Foto nº 2 >  Bissau > 2 de agosto de 1969 > O T/T Ana Mafalda atracado na ponte-cais, visto à noite, ao luar (1)


Foto nº 2A > Guiné > Bissau > 2 de agosto de 1969 > O T/T Ana Mafalda atracado na ponte-cais, à noite ao luar (2)



Foto nº 1 > Guiné > Bissau > 2 de agosto de 1969 > O T/T Ana Mafalda, na ponte-cais, ao amanhecer



Foto nº 3 >  Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >  Escadas de acesso e minha entrada a bordo (1)


Foto nº 3 > Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >  Escadasa de acesso e minha entrada a bordo (2)


Foto nº 4 > Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   Já a bordo, a primeira vista de "Bissau Velho" (2) 


Foto nº 4A -   Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   Já a bordo, a primeira vista de "Bissau Velho" (3): na ponte-cais, o N/M  Rita Maria, da Sociedade Geral (SG)


Foto nº 4B > Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   Já a bordo, a primeira vista de "Bissau Velho" (4): destaque para o Forte da Amura ao fundo


Foto nº 4C > Guiné > Bissau > 3 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   Já a bordo, a primeira vista de "Bissau Velho" (4):  destaque para o edifício da Alfândega à direita



Foto nº 5  > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   A LDG 101, da Marinha, encosta ao nosso navio, para embarcar os miligytares e suas bagagens (1)


Foto nº 5A > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge >   A LDG 101, da Marinha, encosta ao nosso navio, para embarcar os militares e suas bagagens (2)



Foto nº 6  >  Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge >  LDG 101, da Marinha > Tropas ao molhe, aguardando embarque


Foto nº 7 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge >  LDG 101, da Marinha > Tropas ao molhe, aguardando embarque... Como se fossem "gado"...



Foto nº 8 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge >  LDG 101, da Marinha >  O içar das bagagens... Há quem aguarde em traje pouco regulamentar, tocando violando e entoando quiçá o "Fado da Guiné"


Foto nº 9 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge > O navio visto do lado de terra, a LDG 101 e os militares que foram embarcando ao longo da tarde


 Foto n º 10 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge > Barcaça civil, vista de cima do nosso navio


Foto nº 11 > Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > T/T Uíge > Barcaça civil, vista de cima do nosso navio

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




Vírgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) que estava no sítio certo na altura certa, a preparar o embarque dos seus camaradas, no T/T Uíge, de regresso à Metróple, em 4 agosto de 1969



1. Mensagem do Virgílio Teixeira:

Data - 28/12/2024, 16:17

Assunto - O nosso regresso, no T/T Uíge, em 4ago1969 (*)

No seguimento deste tema (o regresso das Nossas Tropas) (**), envio o lote completo das fotos do meu álbum, cobrinndo esse evento.

Já estão algumas publicadas (***), agora é só fazer a seleção daquilo que interessa para postar e finalizar este impportante momento da nossa vida.

Segue um memorando anexo, com algumas cenas desse evento. As fotos estão cronologicamente numeradas (de 1 a 21, e de 31 a 32) e legendadads.

Um abração. Bom ano se não falarmaos antes e saúde para todos.
Virgílio.
2024-12-28

PS - Agora e depois de ver todo o filme da nossa partida de Bissau, vou comentar algumas fotos e cenas. Ultrapassada a fase das datas (4 e não 10 de agosto de 1969), tenho ainda vários documentos de prova. (...)

sábado, 6 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25720: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (1): O meu cruzeiro no N/M "Ana Mafalda": ficámos contentes por saber que era só até à Guiné, e não até Timor...


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor de Geba > CART 1690 (1967/68) > Cantacunda >  Abrigo... ou "bu...rako"



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967/69) > O A. Marques Lopes em 1967, com duas beldades locais. Em 21 de agosto de 1967, seria ferido com gravidade na estrada de Geba para Banjara na sequência da explosão de uma mina A/C e, uma semana depois, evacuado para o HMP, em Lisboa. Voltou ao CTIG, em Maio de 1968, para acabar a sua comissão, tendo sido colocado então na CCAÇ 3, em Barro.



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel Carlos da Conceição Guimarães, então com 29 anos. Foi um dos 24 capitães mortos no TO da Guiné




Guiné > Região do Cacheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > Grupo Os Jagudis >  O ex-al mil  Marques  Lopes,   com o seu guarda-costa, balanta... "O meu guarda-costas chamava-se Bletche-Intete. Grande amigo. Um dia deu-me um grande empurrão durante um tiroteio... é que eu tinha-me virado de costas para o local de onde o IN estava a disparar (fiquei mal dos ouvidos desde que fui ferido em Geba)".


Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Viagem Porto-Bissau > Abril de 2006 > Percalços no deserto... e a solidarieade dos tuaregues... O Xico Allen, junto à traseira do jipe e o Hugo Costa, filho do Albano Costa, fazendo a cobertura fotográfica...

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Bissau > Restaurante Colete Encarnado > 21 de Abril de 2006 > O nossso camarada e amigo,  coronel de infantaria DFA,  ref, A. Marques Lopes  (à direita), jantando com o "inimigo de ontem", comandante Lúcio Soares e o comandante Braima Dakar. 

Sobre este último acrescentou: "O Braima Dakar, nome de guerra de Braima Cama,  é outro comandante que esteve ligado à morte dos três majores no chão manjaco. Disse-me que se disseram muitas coisas sobre isso que não são verdade, que não queria falar, e não me contou nada" (...) (*) 

Foto (e legenda): © Xico Allen (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Jantar de Natal 2007 > Os quatro magníficos da CART 1690, todos eles alferes milicianos... 


(ii) em primeiro plano, está o António Moreira, à esquerda, e o António Marques Lopes, à direita

Os quatro fazem o pleno na Tabanca Grande em matéria de alferes milicianos de uma companhia: crieio que a CART 1690  é a única nessas condições... (Não temos notícias de nenhum deles há muito.)

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2007). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. No dia em que o nosso camarada e amigo A. Marques Lopes (foto à esquerda) chega ao fim da picada da vida, ao km 80 (*), temos a obrigação de mostrar aos mais novos do blogue, os recém-chegados,  os "periquitos, alguns dos melhores postes por ele publicados, e pôr em evidência o seu exemplo de vida e de coragem.

Ele esteve particularmente presente, sempre ativo e proativo,  no arranque do blogue: um 1/5 dos postes de um total de 385 publicados em 2005,  foram da sua autoria ou têm o seu nome (A. Marques) como "descritor". 

Foi particularmente participativo, no nosso blogue, até ao ano de 2008. Em 2006, em abril, fez a sua *romagem de saudade" à Guiné-Bissau, de jipe  com mais meia dúzia de camaradas (entre eles, Albano Costa, o filho Hugo, o Xico Allen, e a filha, Inês), e assinou algumas das melhores crónicas da série "Do Porto a Bissau", com abundante documentação fotográfica, revisitando as estações do seu calvário...

O A. Marques Lopes que em 1975 , beneficiando do seu estatuto de DFA, aproveitou a legislação que lhe  iria permitir voltar á vida ativa militar, e fez a carreira chegando ao posto de coronel, foi dos nossos primeiros "tertulianos" a relatar e a documentar, com recurso  a um numeroso e valioso espólio fotográfico, as aventuras e desventuras dos milicianos na Guiné: no seu caso, primeiro como alf mil na CART 1690, no subsector de Geba, região de Bafatá, zona leste, onde foi gravemente ferido (com direito a evacuação para a metrópole), e depois (ainda mal recuperado ) no Cacheu, em Barro, junto à fronteira com o Senegal, na CCAÇ 3, onde foi obrigado a completar o resto da comissão (1967/68).

O A. Marques Lopes era um profundo conhecedor da Guiné e do PAIGC, mantendo com os seus antigos guerrilheiros e comandantes uma relação próxima, não hesitando por exemplo em sentar-se à mesa com eles e partilhar "confidências" do tempo da guerra (vd. foto acima com o comandante Gazela, nome de guerra do Lúcio Soares)...  

Depois pediu-nos uma "licença sabática," porque estava a escrever um livro e tinha outros afazeres, incluindo a sua intervenção cívica nas escolas, associações e autarquias, mostrando e explicando o dossiê guerra colonial, no âmbito da A25A - Delegação Norte, a que pertencia.

 Pelo meio, meteu-se o projecto da Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné, bem como da Associação Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné Apoio e Cooperação ao Desenvolvimento Africano, de que foi o vice-presidente do Conselho de Administração.

Nado e criado em Lisboa, com costela alentejana (logo "mouro", sulista), vivia, há muito, disfarçado de "morcão", em Matosinhos...  Do seu segundo casamento, com uma nortenha, a Gena, teve um filho, o Francisco, que já terá os seus 30 anos. Tem ainda o Vasco, do primeiro casamento. Não falava muito da sua vida privada e familiar. Deixa-nos, entre outra produção literária, um grande livro de memórias, "Cabra Cega" (Lisboa, Chiado Books, 2015).

Dele guardo a grata memória de um grande homem, de fibra, de coragem, um bom amigo e camarada, que, mesmo na fase mais dramática da sua doença, era um otimista, um apaixonado pela vida. Costumava telefonar- lhe  no aniversário natalício.  O José Teixeira, seu vizinho, e que com ele conviveu e partilhou os projetos da Tabanca de Matosinhos, escreveu: 

"A sua grande vontade de viver fez com que travasse por longo tempo uma luta de vida. A sua esperança de recuperar era enorme. Dava gosto ouvir as suas palavras de esperança. Estava sempre bem e sobretudo bem-disposto. 'Estou aqui para a luta', dizia-me ele há dias. Desta vez a doença foi mais forte" (*)...

Pedi ao Zé Teixeira que nos representasse, a todos nós, Tabanca Grande, na hora da despedida. Para a esposa, Gena, e os filhos,  Vasco e Francisco, vai a nossa solidariedade na dor por esta perda enorme, para eles e para todos nós, seus amigos e camaradas. (LG)


T/T Ana Mafalda



O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024):

O meu cruzeiro no "Ana Mafalda":  ficámos contentes por saber
 que era só até à Guiné, e não até Timor...


Tinha 103 metros de comprimento e 14 metros de largura, em linguagem de pescador de canoa em água doce, e tinha uma velocidade máxima de 13,5 nós, isto é, em linguagem de velho motorista de fim-de-semana, dava no máximo 25 km por hora.

Tinha 16 alojamentos em primeira classe, 24 em segunda e 12 em terceira. Tinha 47 tripulantes (estou muito agradecido a um deles, um que me vendeu a máquina fotográfica com a qual tirei as fotografias que vocês conhecem). Alguns dos modernos "cacilheiros" que atravessam o rio Tejo não serão tão "grandes", mas aproximam-se.

Pois é verdade, meus amigos, foi neste transatlântico que a CART 1690 [Geba, 1967/69] largou do cais de Alcântara até à Guiné. Era a única unidade que lá ia, porque não cabia mesmo mais ninguém, penso eu.

Como alguns meses antes de embarcarmos nos tinham dito que íamos para Timor, ficámos satisfeitos por decidirem mandar-nos para a Guiné, pois pensámos que seria terrível ir num barco daqueles até à Oceânia...

Os alferes, sargentos e furriéis foram distribuídos pelos beliches dos "camarotes" de segunda e terceira classe. Em primeira classe ficou o capitão da companhia, o comandante do navio, o imediato, o oficial das máquinas, certamente, e uns mangas que se penduraram em nós à boleia, que eu não sei quem eram nem procurei saber.

O Zé Soldado, sempre o mais fodido nestas situações, foi para o porão onde estavam montados uns beliches de ferro com umas enxergas em cima, e onde casa de banho não havia.

Largámos às 12h00 do dia 8 de abril de 1967. Foi uma bela viagem, como devem calcular, com os baldes dos dejetos do porão a serem despejados borda fora de manhã e ao fim da tarde (ao menos haja regras). Mas os "despejos" começaram logo à saída da barra do Tejo. Eu, pessoalmente, nunca tinha chamado tantas vezes pelo Gregório.

Mas deixem-me contar o que aconteceu antes do embarque. No dia 3 de Abril houve a cerimónia de despedida, assim lhe chamaram, no RAC (Regimento de Artilharia de Costa) de Oeiras, que era onde estávamos à espera de embarque. Houve missa na parada celebrada pelo padre Nazário, perdão, o senhor major-capelão Nazário, que, ainda por cima tinha sido meu "superior" quando eu fiz a instrução primária nas Oficinas de S. José, em Lisboa!

Não fui à missa nem ouvi o sermão que ele fez, e que me 
disseram que foi uma bela dissertação sobre o amor à pátria e a defesa do património nacional. Mas tive que o gramar mais tarde, porque ele, um dia, apareceu em Geba para ver como estava a guerra.

− Nós por cá todos bem, é claro − disse-lhe eu.

 Foto à direita: Nazário Domingues de Carvalho (salesiano) (capelão, CTIG, 1964/68)

Depois, no dia 8 de Abril, então, seguimos de comboio especial para a gare marítima. Fizemos um belíssimo e aprumadíssimo desfile, com a nossa mascote Morena à frente (...) ( coitada, não vem na lista, mas estava em Sare Banda, aquando do ataque, e foi morta durante ele; morreu em combate também; era uma cadela muito porreira) perante um representante de Sua Ex.ª o Ministro do Exército.

As senhoras do Movimento Nacional Feminino deram muitos santinhos, calendários e bolachas a todos. O representante de Sua Ex.ª o Ministro do Exército ainda fez uma preleção aos sargentos e oficiais dentro do navio. Aos soldados não deu trela. E lá embarcámos com as lágrimas dos familiares presentes.

Às 16h00 do dia 15 de abril de 1967 o Ana Mafalda chegou ao porto de Bissau. A 16 de abril a companhia passou diretamente do navio para LDG e seguiu pelo Geba acima até Bambadinca.

Foi engraçado e giro, como devem calcular, para o pessoal que ia enfiado, ouvir os fuzileiros que nos levaram ir dizendo, em cada curva ou ponto mais apertado do rio:

−  Olhem que aqui costuma haver ataques!...
 
Dormimos em Bambadinca, em tendas, ao pé do rio, porque não havia instalações. Foi o primeiro combate com a mosquitada.

A 17 de Abril seguimos de Bambadinca para Geba em coluna auto. E fomos render a CCAÇ 1426, do Belmiro Vaqueiro.

A brincar, a brincar, é o começo da nossa estória. (**)

(Seleção, revisão / fixação de fotps, edição e legendagem de fotos, título: LG)
__________

Notas do editor:

(*) 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00

(**) Vd. poste de 28 de junho de  2005 > Guiné 63/74 - P87: A caminho da Guiné, no "Ana Mafalda" (1967) (Marques Lopes)

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22626: "Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar" (texto cedido pelo escritor ao José Martins para publicação no blogue) - Parte V: Do Tejo ao Geba (17 de Abril de 1965/25 de Maio de 1965)


N/M "Ana Mafalda" (1951-1975): navio misto (mercadorias e passageiros), que tinha o comprimento (fora a fora) de um campo de futebol... Alojamentos para 16 passageiros em primeira classe, 24 em segunda e 12 em terceira classe, no total de 52... Nº de tripulantes: 47...


1. Continuação da (re)publicação do "Diário de Guerra" (*), do nosso camarada açoriano e escritor Cristóvão de Aguiar (1940-2021), que faleceu na passada  dia 5, aos 81 anos (*). Organização: José Martins; revisão e fixação de texto (para efeitos de publicação no nosso blogue): Virgínio Briote. 

Estes excertos, que o autor cedeu amavalmente ao José Martins, para divulgação no blogue,  fazem parte do seu livro "Relação de Bordo (1964-1988)" (Porto, Campo das Letras, 1999, 425 pp). (**)



Cristóvão de Aguiar.
Foto: Wook (com a devida vénia...)


Diário de Guerra

por Cristóvão de Aguiar


(Continuação)

1965

Lisboa, 17 de Abril 1965 - Sábado de Aleluia

Com repiques ao contrário den­tro de mim. Acabei de embar­car com a minha Companhia Independente de Caça­dores número oitocentos. Vamos com destino marcado para a Guiné. O "Ana Ma­falda" vai cheio de carne para canhão e ainda se encontra atracado no Cais da Ro­cha.

São três as companhias de caçadores e parte de uma de coman­dos e serviços de um batalhão. No salão de primeira classe, há pouco, houve discursos e vinho do Porto e uísque e sal­gadinhos.

Uma falta de respeito. Mal acabou a cerimónia, en­fiei-me no meu ca­ma­rote de primeira, pois en­tão! Morra Marta, mas morra farta! Estou para aqui so­zi­nho, la­vado em lágrimas, en­quanto os outros oficiais meus ca­ma­radas, talvez mais corajosos, se en­contram na amu­rada do navio nos últimos acenos de despedida. Puta de Pátria a minha!

Já fora Barra do Tejo, no mesmo dia, à noite

BARCO DE ESPERANÇA

Fizeste um barco de esperança e partiste
Ao longo de um mar verde de ternura.
Ficou no cais ainda o eco triste
Do mar acalentando a aventura...

Geme agora o mar contra a noite escura,
Num beijo sincopado de segredo...
E a alma num alentejo de secura
Cai de joelhos tran­sida de medo.

Medo da longa noite onde me canso,
Comprida noite onde nunca há descanso,
Nem estrela, nem barco ou gaivota...

E o mar que nos meus olhos cabia inteiro,
É agora um soluço de guerreiro,
Caindo em duas lágrimas de derrota.


18 de Abril - Mar e céu

Neste Domingo de Páscoa triste, cele­brada com amêndoas amargas que nos serviram à sobremesa do almoço para que hou­vesse sabor a festa. O navio não dá um balanço sequer. No porão, os soldados jo­gam às car­tas e fazem algazarra. Ouço-os do deque de primeira. À mesa, o capitão só diz as­neiras com ar compenetrado e sábio.

22 de Abril - Véspera de chegada.

Ainda se não adivinha terra nem rumor dela. Após a última refeição, passeio no deque, obstinada­mente, como um burro à roda da nora. Houve mudança súbita de ventos, o que fez com que logo cor­resse o boato de que estaríamos mudando de rumo.

Ainda se não perdeu a crença num súbito milagre que nos leve à Ilha do Sal, nosso primordial destino! Só assim, so­n­han­do, se aguenta esta patriótica estopada.


23 de Abril - Bissau

Evola-se desta terra avermelhada e ressequida um bafor que se transmite ao corpo e o faz destilar rios de suor. Logo após o de­sem­bar­que e com as tropas já aquarteladas na Amura, fomo-nos apresentar ao co­mando mili­tar. Desconhe­cia pura e simplesmente a nossa existência. Que não nos des­tiná­vamos a esta guerra, mas à da Ilha do Sal − foi-nos dito na secre­taria, antes de apresentarmos cumprimentos ao comandante.

Ainda olhámos uns para os outros com um pequeno clarão nos olhos, mas depressa nos desiludiu SEXA, refastelado no seu gabinete, com ar condicionado, onde pouco depois entrámos, perfilados. Ti­nha na verdade havido um pequeno deslize de informação, mas iria ser ime­diata­men­te remediado. Ficaríamos, para compensar, à or­dem do comando-chefe. Uma honra para a nossa com­panhia, que tinha vindo da me­trópole para defender este tão pátrio chão.

26 Abril - Carreira de tiro

Fomos todos para a carreira de tiro treinar a ponta­ria e experimentar pela primeira vez as espingardas G3, que se utilizam nesta guerra. Nos cur­sos de preparação, em Mafra, Tavira e Santarém ainda se treina o pessoal com a Mauser da última guerra mundial. Que se divide em dez partes, a saber: cano com es­trias, coronha, gatilho, guarda-mato, etcetra e tal.

29 de Abril - Ordem unida na Amura

Houve tentativa de levantamento de rancho na nossa companhia. Como ninguém se tivesse acusado como cabecilha da frustra­da rebelião, o capitão, furioso por não ter bode expiatório, deu como castigo aos três pelotões ope­ra­cio­nais, neles incluindo cozinheiros e outras especialidades não béli­cas, oito horas se­guidas de ordem unida, entremeada com passo de corrida.

Para que não hou­vesse que­bra de ritmo nem de suor, ordenou que os quatro alferes des­sem, à vez e na ordem in­versa da sua antiguidade, duas horas de in­s­trução cada um. Ainda se acre­dita pia­mente, na tropa, que a ordem unida é a mãe de todas as virtu­des mili­tares, sobretudo da disci­plina.

No quartel da Amura, os velhos de caqui amarelo, que aguardam em­bar­que de regresso após dois anos de comissão, olharam para nós, maçaricos, vesti­dos de verde-bilioso-vomitado, como se pertencêssemos a outra ga­lá­xia.


5 de Maio - Primeiras baixas, nos arredores de Bissau

O nosso capitão e o seu guarda-costas foram feridos numa operação-treino nos arredores de Bissau. Foram ambos transportados de ur­gên­cia, de helicóptero, para o hospital militar. O primeiro, com estilhaços fin­ca­dos por todo o corpo; o último, sem as duas pernas dos joelhos para baixo e com as tri­pas de fora e sujas de terra. Como oficial mais antigo, tomei o co­mando da com­pa­nhia.


8 de Maio - Em Bissau, como Cmdt da CCaç 800


Recebi um rádio do gabinete do comando-chefe, anun­ciando a transferência para a metrópole do capitão e do seu soldado guarda-costas. Es­tou fragilizado e com muito medo. Não nasci para comandar tropas.

Para me sen­tir mais aconchegado e protegido no meio de toda esta engrenagem de insegurança e de morte pressentida, escrevi uma longa carta a meu tio Fran­cisco, que mal conheço, de­vido às zangas fraternais entre ele e meu Pai que se estenderam du­rante quase toda a minha vida. Agora estão de bem um com o outro. Fizeram as pa­zes há cerca de dois meses, após meu tio ter frequentado, durante três dias, um Curso de Cris­tan­dade na Ilha, na estância termal do vale das Furnas.

Soube-me bem acolher-me ao robusto tronco fami­liar, durante as duas breves horas de escrita epistolar, regada a lágrimas sa­borosas. Pressinto a morte, muito perto, rondando-me os gestos, as pa­la­vras e os pas­sos.


10 de Maio de 1965 - No HM 241


Hospital Militar de Bissau, para uma pequena in­ter­venção cirúrgica. Circuncisão, isto é, um corte no freio, que tinha dificuldade em arregaçar.

Se tivesse nascido judeu, ter-me-ia poupado ao incómodo nesta idade de quase um quarto de século. Saí do hospital pouco depois e vim para o quartel da Amura, sem sequer sentir necessidade de me ir recostar na tarimba. Fui antes para o bar dessedentar-me e dar umas boas tragaças, que o cigarro tem sido para mim um ex­celente camarada de armas...

24 de Maio de 1965 - Bambadinca


Veio a companhia por aí a cima, sob o meu co­mando, escoltada por outras tropas e por brigadas especializadas na de­tecção e le­van­tamento de minas e armadilhas, atravessando terra-de-ninguém de Man­soa até aqui, em não sei quantas viaturas, abarrotando de tudo quanto é ne­ces­sário para ins­talar uma companhia operacional no mato, desde tarimbas de ferro até tachos e pa­nelas, pas­sando por móveis para a secretaria, que, na guerra, a papelada tem grande impor­tân­cia. Chamam-lhe mesmo a guerra dos papéis, por vezes ainda mais renhida do que a sua irmã colaça.

Chegámos à margem esquerda 
[, o autor queria dizer direita.. ] do rio Geba, es­tava um capitão, Ga­briel Tei­xeira,  de sua graça, com duas secções à nossa es­pera. Pertencem ao batalhão ao qual vamos ficar logisticamente ad­s­tritos, uma vez que, operacional­mente, conti­nuamos à ordem do comando-chefe.

Ainda temos, porém, de atravessar tudo de jan­gada para a outra mar­gem  [, a esquerda...] , incluindo as viaturas, a fim de seguirmos para Bafatá e de­pois para Con­tu­boel, nosso des­tino. O rio Geba está su­jeito ao regime das marés, nesta altura vivas, aqui chamadas macaréu, de forma que vamos demorar muito tempo até nos passar­mos to­dos para o lado de lá.

Bambadinca, 25 de Maio de 1965

A TUA AUSÊNCIA

A tua ausência
É este estar nu por dentro,
E ter um rosto velho
Gretado de suor
Do sol dos prados
E das manhãs
Que nunca tive...

Em cada segundo te habito
Como a loira canção das abelhas
O indomável cio
Das flores abrindo-se
Loucas de tesão...

(Continua)
__________

Notas do editor:

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22372: Tabanca Grande (520): Vítor Ferreira, ex-Fur Mil (Cameconde e Bissau, 1970/72) que se senta no lugar 843 do nosso Poilão


1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Vítor Ferreira, ex-Fur Mil (Cameconde e Bissau, 1970/72), com data de 26 de Maio de 2021:

Caro Carlos
Estive na Guiné de 1970 a 1972. Primeiro em Cameconde e depois em Bissau.
Sou acompanhante assíduo do blogue.
Para “padrinho“ posso indicar o Hélder Sousa, conceituado cronista.

Fico ao dispor.
Vitor Ferreira


O Vítor Ferreira, "ontem", talvez em Cameconde
O Vítor Ferreira "hoje"
XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Monte Real, 25 de Maio de 2019. Na foto, da esquerda para a direita: Armando Pires, Luís Paulino e o estreante Vítor Ferreira.
XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Monte Real, 25 de Maio de 2019. Nesta foto de família, à esquerda, logo a seguir ao Jorge Canhão o casal Maria Luísa e Vítor Ferreira.

Fotos do Encontro Nacional de Hélder Sousa, editadas pelo coeditor.

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2. Mensagem enviada pelo coeditor CV ao Vítor, com conhecimento ao nosso colaborador permanente Hélder Sousa, em 26 de Maio de 2021:

Caro Vítor
Obrigado pelo contacto.

Para uma apresentação mais completa gostaríamos que nos desses mais pormenores sobre ti, a saber:
Posto, especialidade, unidade(s) a que pertenceste, data de ida e regresso, locais por onde andaste e outras informações que aches úteis.
Quanto ao "padrinho", acho uma boa opção mas parece que ele é muito forreta, nem sequer dá folar pela Páscoa.
Fico a aguardar a volta do correio.

Abraço do camarada
Carlos


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3. Mensagem do nosso camarada Hélder Sousa, enviada ao Blogue em 26 de Maio de 2021, com conhecimento ao Vítor Ferreira:

Olá Carlos
Que bela surpresa!

O Vítor foi um dos amigos vilafranquenses que me acolheu quando cheguei à Guiné.
Foi no quarto que ele na altura (9 de Novembro de 1970) ocupava, com outro vilafranquense, o Zé Augusto Gonçalves meu colega de curso de montador-electricista na EICVFXira e também e ainda com o muito falado e "desaparecido" Pechincha, que me acolhi até ir para Piche.
O Vítor esteve já em Monte Real no último ou penúltimo Encontro.

Entre várias outras coisas recordo principalmente as partidas de bilhar na "Brasileira", em Vila Franca.
Teve um problema grave de saúde, mas para isso falará ele, se quiser, mas congratulo-me vivamente pela disposição manifestada por ele.
Vou aguardar o desenvolvimento. Fico à espera do "aparecimento" no Blogue.

Abraço, caro Carlos V e para o Ferreira, também.
Hélder Sousa


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4. Comentário do coeditor CV

Caro Vítor Ferreira
Uma vez que nunca mais nos voltaste a contactar, fica feita a tua apresentação formal à tertúlia com os elementos que nos disponibilizaste.
Posso especular que terás pertencido à açoriana CCAÇ 2726, uma vez que afirmas ter estado em 1970 em Cameconde. Consultados, o 7.º Volume da CECA - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné e o 3.º Volume da CECA - Dispositivo das Nossas Forças - Guiné, verifiquei que a 2726 esteve sediada em Cacine entre 1970 e 1972, com destacamentos em Cameconde. Outro sinal, será tu apareceres numa das fotos publicadas, do nosso XIV Encontro Nacional de 2019, junto ao Luís Paulino, também ele Fur Mil da mesma Companhia.
Esperamos por novo contacto teu para nos confirmares ou desmentires.

Com a tua adesão, ficamos com mais um lugar preenchido debaixo do nosso "poilão sagrado", esperando que nos possas enviar fotos e textos da tua comissão de serviço, que parece não ter decorrido na totalidade na CCAÇ 2726, uma vez que também estiveste colocado em Bissau, onde o nosso comum amigo Hélder em boa hora te foi encontar.

Já agora, se se confirmar que foste para a Guiné integrado na açoriana CCAÇ 2726, ficas a saber que viajámos no mesmo navio. O "Ana Mafalda" embarcou em Lisboa, no dia 11 de Abril de 1970, a tua Companhia e fez escala no Funchal, no dia 13, para embarcar a madeirense CART 2732. Chegámos a "bom porto" no dia 17.

Resta-me então, deixar-te em nome dos colaboradores deste Blogue e da tertúlia, um abraço de boas-vindas e os parabéns pelo padrinho que escolheste.


Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22304: Tabanca Grande (519): Alfredo Fernandes, ex-1º cabo aux enf, CCAV 678 (1964/66)... Natural de Valença, vive em Viana do Castelo, é enfermeiro aposentado do SNS. Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 842

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20854: Efemérides (323): No dia 13 de Abril de 1970, a CART 2732 embarcou no Cais do Funchal, no navio Ana Mafalda, com destino à Guiné (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA)


Se dos fracos não reza a História, da História da CART 2732 e dos seus valorosos Combatentes, reza que hoje se completam 50 anos após o seu embarque no Cais do Funchal, no navio Ana Mafalda, com destino à Guiné, onde chegaram no dia 17 para cumprir uma esforçada comissão de serviço de 23 meses.

Companhia de quadrícula, esteve aquartelada em Mansabá durante 22 meses, onde deixou muitos amigos e saudades entre a população.

Cais do Funchal, 13 de Abril de 1970 - O Governador do Distrito, Coronel Braamcamp Sobral, e o Governador Militar da Madeira, Brigadeiro Luís Mário do Nascimento, passam revista à formatura da CART 2732.

Cais do Funchal, 13 de Abril de 1970 - Desfile da CART 2732, comandada pelo Alf Mil Manuel Casal, momentos antes do embarque. Como Porta-estandarte o então Segundo Sargento António Piedade Santos.


Foi este o efectivo da CART 2732 que embarcou no navio Ana Mafalda

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Notas:

São estes os que embora "não achando quem armas lhes resistisse" acabaram por sucumbir no cumprimento da sua missão, não voltando connosco:

a) - O Alf Mil Art MA José Armando Santos do Couto, faleceu em combate em 6 de Outubro de 1970
b) - Soldado José do Espírito Santo Barbosa, faleceu no HMP em 14 de Dezembro de 1971, vitima de ferimentos recebidos em combate no dia 2 de Dezembro.
c) - Soldado Manuel Vieira faleceu em combate no dia 2 de Dezembro de 1971.
d) - Soldado José Silvestre Nunes Vieira faleceu vítima de acidente de viação  em 17 de Maio de 1971.

Há ainda a registar o falecimento por doença, em 16 de Maio de 1971, do Soldado Artur Malcata de Matos, integrado na CART 2732 já na Guiné.

A estes 5 saudosos camaradas de armas, neste dia, a nossa homenagem.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20851: Efemérides (322): O meu domingo de Páscoa de 1968 (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op MSG)

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15401: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (4): No regresso a Lisboa, em março de 1969, no N/M Uíge: 1246 passageiros, distribuídos pela 1ª (n=57), 2ª (n=133) e 3ª classes (n=1056)



Foto nº 1 > T/T Ana Mafalda... na viagem de Lisboa-Bissau, em 1967: o alf mil Alfredo Reis é o primeiro da direita. E em segundo plano, à sua direita, se não erro, o Alberto Branquinho, que foi seu colega de liceu em Santarém.  O Branquinho era alferes da CART 1689 / BART 1913 (, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69).


Foto nº 2 > O T/T Uíge, o paquete da Companhia Colonial de Navegação, onde o alf mil Alfredo Reis regressou a casa... tal como muitos de nós.





Foto nº 3 > T/T Uíge > Março de 1969 > Distribuição do contingente militar e familiares, pelas três classes do navio... Entre os alferes milicianos, havia 4 futuros grã-tabanqueiros, ou sejam, membros da nossa Tabanca Grande: o Alberto Branquinho (CART 1689), o António Moreira, o A, Marques Lopes e o Alfredo Reis  (CART 1690)(*)...  O nº de passageiros era de 1246, a grande maioria (as praças) viajando em "terceira classe"... Lembrei-me logo do título do livro do José Rodrigues Miguéis, "Gente da Terceira Classe" (**)

Foto nº 4 > T/T Uíge > Março de 1969 >Cumprimentos de despedida do comandante de bandeira, do Comandante e Oficiais do navio


Foto nº 5 >  T/T Uíge > Março de 1969 > Nome do capitão de bandeira, do comandante, do imediato, do chefe de máquinas, do comissário, do médico e do 1º radiotelegrafista


Foto nº 6 > Menu do jantar de despedida, em 7 de março de 1969

Foto nº 8 > Programa do concerto

Fotos (com exceção da nº 1) do regresso, no T/T Uíge, em março de 1969



Guiné > Zona leste > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Continuação da publicação do álbum fotográfico do alf mil Alfredo Reis, que nos foi disponibilizado pelo seu amigo e camarada A. Marques Reis.


Fotos: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]




Informação do nosso leitor (e, presume-se, camarada) Gabriel Tavares sobre a figura do Capitão de Bandeira:

Capitâo de Bandeira é o oficial da armada (marinha de guerra) nomeado para representar as autoridades navais a bordo de navio mercante fretado pelo Estado para transporte de guerra (pessoal e material). Tem autoridade sobre toda atripulação. Para as tropas havia o comandante das tropas embarcadas, oficial mais antigo de todos os oficias das forças embarcadas.

Se o Oficial da Armada que tinha de ser da classe de Marinha fosse mais graduado ou antigo que o comandante militar de bordo (comandante das forças embarcadas) acumulava as duas funções.

Esta legislação entretanto foi revogada em 2009.
G.Tavares, 24/11/2015

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15388: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (3): O que é um homem precisava no mato, num miserável destacamento como o de Banjara, em 1967 ?
(**) Gente da terceira classe é o título da crónica que narra a primeira viagem de José Rodrigues Miguéis  [Lisboa, 1901-Nova Iorque,1980] para os Estados Unidos da América. Ao ler este registo autobiográfico, o leitor poderá captar as primeiras impressões de uma realidade social que será desenvolvida nos contos e novelas.

Jornal de bordo - 1935

«(...) É preciso ter viajado num destes transatlânticos para se fazer uma ideia das fronteiras que separam os homens e as classes, mesmo dentro duma casca de noz. E somos poucos, aqui, não mais de cinquenta: que faria se fôssemos os duzentos ou quatrocentos da lotação, só Deus sabe, amontoados na imunda gafaria que é a terceira dos emigrantes. (...)

Ao partir, levavam consigo ao menos uma esperança: agora nem isso lhes resta. Muitos deles, com o sonho, seu único luxo, perderam por lá a saúde e a força de trabalho, que era toda a sua riqueza.
Com estes, os de torna-viagem, embarcaram na Madeira e agora comigo, em Lisboa, alguns portugueses que vão, como eu, à Inglaterra tomar o paquete para os Estados Unidos. Assim se juntam aqui, embora com destinos e em estados de alma opostos, duas correntes da mesma miséria: uma delas, ainda quente do sol da ilusão, parte para a zonas mais temperadas e prósperas do Leste americano; a outra regressa lá do equador e do trópico, fria de desapontamento, amolambada e escrofulosa, para se dispersar por todos os cantos deste nosso mundo cristão e ocidental. Correntes humanas, num inquieto e perpétuo corropio em torno destoutro mar de Sargaços, a vida.(...)»

in «Gente da Terceira Classe», 3.ª ed, Editorial Estampa, 1983 pp. 11 e 12

(Crónica publicada na revista «Seara Nova» nos anos 40 e depois integrada no volume intitulado «Gente da Terceira Classe». A primeira edição data de 1962).

Fonte: © Instituto Camões, 2001 (com a devida vénia...)