quarta-feira, 11 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18515: O cruzeiro das nossas vidas (27): O meu regresso no N/M Uíge, em 5 de agosto de 1969, com o cap mil médico Carlos Parreira Pinto Cortez, esposa e outros (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


N/M Uíge > Agosto de 1969 > "Falta esclarecer que a minha pessoa está na mesa de costas, o último da direita, não se vê quase nada, estou ao lado do Major [José Daniel Barros] Adão, comandante das tropas embarcadas."


















N/M Uíge > Viagem de regresso,  Bissau - Lisboa, com escala em Cabo Verde (Santiago e Ilha do Sal)  > 5-9 de agosto de 1969. [ O navio, da "Companhia Colonial de Navegação", tinha cerca de 150 tripulantes].


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, de 9 do corrente, de  Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):  vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado [, foto atual à direita]; tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue.


Olá,  Luís, bom dia.


Ainda sobre o Médico Cortez que já respondi nos comentários, envio aqui para acabar o tema da viagem de regresso então chamada 'O cruzeiro da nossa vida' , duas coisas, aliás três:

- O agradecimento do CTIG pelos serviços prestados à Pátria [, vd. cópia do documento em baixo];

- O menu da viagem de regresso, onde está lá o Cap mil médcio Cortez e esposa e outros;

- Uma foto da refeição do dia seguinte, com o Comissário de Bordo e outros.

A primeira refeição foi por borda fora, o meu baptismo de alto mar fez-me mal, mas foi só meio dia, depois foi uma maravilha.(**)

Fiz aí uns comentários às fotos dos Terroristas, mas eu não alinho nisso e tenho mais do que uma razão:  o meu pai, oficial do Exército, estava lá no 25 de Abril. No acto de entrega dos materiais aos novos 'senhores da guerra' lá colocados pelo nosso querido amigo Mario Soares e outros,  "cuspiram na cara do meu pai". Não sei os pormenores porque ele ficou muito afectado com isso e pouco mais falou [...].(***)

Por essa e por outras,  que agora não vou alimentar, eu gosto muito do povo guineense, mas só do povo.

Um Ab,

Virgílio





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(***) Vd. poste de 9 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18504: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte I

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nos nossos paquetes da(s) carreira(s) de África, comia-se bem, ao que parece, e bebia-se melhor... Curiosa a ementa, reparo que o perú assado à Condestável ainda consta do cardápio de alguns hoteis... Como seria o raio do perú ? Recheado ?... Seguramente melhor do que o de hoje, que é de aviário...

Mas o que era fascinante era a existência de uma orquestra, que não podia ser ligeira... para tocar a 9ª sinfonia do Schubert.

https://www.youtube.com/watch?v=bA6pzRx6gBE

Abel Santos disse...

Enquanto os Senhores da Guerra e suas esposas eram obsequiados com lautos almoços e jantares, à tropa do porão era servido "bianda" arroz com espinhas, triste sina a do soldado que ainda hoje é olhado de soslaio.

Anónimo disse...

Sim é verdade, até nem me lembro de tanta 'pompa e circunstância' em banquetes na minha vida, quer antes e quer depois, apesar de ter passado por bons momentos, talvez porque aquilo era por conta dos cofres do Estado. O aparato quando foi servido o Peru recheado, é uma imagem que não esqueço também, pela positiva. As luzes foram reduzidas ao mínimo, e ao som da tal orquestra, vieram os empregados com as bandejas e os perus, desceram as escadarias, e passeavam as bandejas num ritual que eu não conhecia, e tudo 'au flambé' (não sei se é esta a forma de escrever, mas vinham a arder em chamas que iluminavam a sala. Coisas do outro mundo.

O Abel Santos tem razão, em parte. Eu tive a ingrata missão, entre aquele rol de oficiais que faziam parte da comitiva, de me calhar nos 6 dias de navegação, talvez aos 3º ou 4º dia de mar, de fazer a última e ingrata missão de 'Oficial de dia', o que me causou muitos suores frios, pois o que vi não me agradou nada, tinha descido lá baixo a primeira vez, e assisti a duas refeições, que não gostei comparando com o que era servido lá em cima, depois houve uma espécie de tentativa de 'levantamento de rancho', mas alguém colocou água na fervura, e aquilo passou. Estava lá muito soldado que me conhecia bem, e sabiam da minha amizade e grande camaradagem ao longo de 23 meses, eu não tinha culpa daquilo. Caso houvesse problemas lá tinha que passar um mau bocado, nem sei se seria desmobilizado no dia 10 de agosto 69, ou teria de fazer os relatórios etc.... Felizmente correu menos mal. Contudo não deixo de estar em desacordo com a formula generalizada de 'os senhores da guerra e suas esposas. Não havia senhores da guerra, mas militares, uns mais graduados que outros, e esposas só haviam duas, tudo o resto vinha a seco!
Como dizia o outro, 'É esta a vida de um probe xoldado' em todas as guerras.
Um abraço, e o que interessa é que estamos vivos para puder contar isto.

Virgílio Teixeira


Tabanca Grande Luís Graça disse...

A Guiné não era sítio paar se levar mulher e filhos... E a prova são estes números:

Em 42 oficiais que regressaram no "Uíge", a Lisboa, sendo 39 provenientes de Bissau (de acordo com a lista dos passageiros de 1ª classe), há 3 esposas e 2 criaças. Total: 47 passageiros... Os passageiros da 2ª classe e 3ª classe não contavam para a história... pelo que não sabemos se havia mulheres e crianças entre eles... Seria pouco crível, mesmo assim havia alguns militares, da classe de sargentos, que tinham as esposas no TO da Guiné...

Antº Rosinha disse...

O Vera Cruz e o Príncipe Perfeito não subiam o Geba, pois só oiço falar no Uige e nos mistos da Sogeral (CUF)para baixo e para cima.

Aqueles enormes de luxo penso que só encostavam em Luanda, Lobito, Cape Town e Lourenço Marques.

Ali é que era luxo que não apetecia que a guerra acabasse.

Cólidade de vida! Só visitei as primeiras destes paquetes, encostados no porto de Luanda.

Porque a minha viagem para Luanda, foi no porão do Império por 3500 escudos com carta de chamada.

A reação e muita revolta dos "brancos" mais reacionários que viviam em Angola, era que uma qualidade de vida bem conhecida, salários, mordomias, acompanhamento de famílias, câmbios escudos/angolares, de certas elites militares, (Altos oficiais e...Altos sargentos)não permitiam que a guerra acabasse, nem com vitória nem com derrota.

Nem «comiam» nem saiam de cima.