quarta-feira, 11 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18512: CCAÇ 1586, "Os Jacarés" (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Beli, Madina do Boé, Bajocunda, Copá e Canjadude (1966-1968): Subsídios para a reconstituição da sua história (Jorge Araújo) - Parte I





Guiné > Bissau> Cais > 9 de Maio de 1968 > Preparativos para o regresso à metrópole da CCAÇ 1586 a bordo do T/T Niassa (fotos gentilmente cedidas pelo camarada ex-fur trms Aurélio Dinis, da mesma unidade).


Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018; 
criador da série "D(o) outro lado do combate"




Companhia de Caçadores 1586, "Os Jacarés"  (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Beli, Madina do Boé, Balocunda, Copá e Canjadude ((1966-1968):  Subsídios para a reconstituição da sua história - Parte I



1. INTRODUÇÃO

Com algum atraso, mas ainda a tempo de cumprir com os objectivos de partida, o presente trabalho surge na sequência da publicação no blogue de dois postes: o P18149 e o P18158, ambos em memória do Alferes QPAugusto Manuel Casimiro Gamboa [, foto à esquerda, cortesia da Academia Militar[, pertencente à CCAÇ 1586 (1966/1968), e da referência à emboscada que o vitimou, em 14 de dezembro de 1967, na estrada entre Canjadude e Nova Lamego.

Ele é também, por um lado, um modesto contributo escrito (subsídio) visando ajudar na reconstituição da História desta Unidade (a possível) e, por outro, a concretização da promessa feita em comentário ao segundo texto, uma vez que, de acordo a informação dada pelo nosso colaborador permanente José Martins, especialista em Arquivo Histórico Militar do Exército (Guerra do Ultramar), "no volume 7.º da CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África], consta que [da CCAÇ 1586] não existe História da Unidade".

Não estando expressas as razões da ausência documental da sua História no AHM, não é difícil presumir como uma forte possibilidade, , quiçá a mais provável, que ela teve como principal causa a divisão física e logística permanente dos seus efectivos e as responsabilidades que lhes foram atribuídas em cada um dos locais onde esteve instalada, num total de oito, como se indica em título e como se assinala no mapa abaixo.

Para além desta probabilidade (suspeita), que naturalmente não podemos comprovar, uma outra variável poderá ter influenciado também a sua não transcrição para o papel, na justa medida em que estamos perante um colectivo militar metropolitano que muito sofreu ao longo dos vinte e um meses da sua comissão (de agosto de 1966 a  maio de 1968), fazendo fé nos factos que conseguimos apurar, entre eles os seus mortos e feridos.

Será que foram estas as principais causas?

Ainda assim, admitimos a hipótese de terem existido outras razões/causas para além das que acima presumimos. Mas só o saberemos, em definitivo, se algum elemento da CCAÇ 1586 tiver a resposta certa a esta questão. Vamos esperar que tal aconteça ou que no aprofundamento deste projecto de investigação possamos chegar lá.

Porém, perante a caracterização sumária do quadro supra, compreende-se (compreendo) perfeitamente as dificuldades em se estruturar/organizar as suas memórias, pois foram, certamente, muitos os factos e ocorrências que mereceriam ficar gravadas como testemunhos históricos da sua presença na região do Gabu, situada a Leste do território da Guiné, e que não foi possível centralizá-las ou juntá-las, passando-as a escrito, devido à dispersão dos seus efectivos nas diferentes frentes das muitas missões.

Lamentamos que assim tenha sido.

Porque não fazemos parte desse colectivo de camaradas (ex-combatentes), estes sim fiéis depositários das suas memórias durante aquele período ultramarino, enquanto principais personagens fazedores da sua história, esta narrativa não podia deixar de não ser corolário da consulta realizada a diferentes fontes de informação, escrita e oral, onde cada referência encontrada e relato obtido dos directamente envolvidos, se considerou relevante para a concretização do objectivo geral, ou seja, o início de um processo de reconstituição da História da CCAÇ 1586.

Dessa análise global e da sua triangulação, como metodologia da investigação, procurou-se caminhar na busca do que considerámos fidedigno, idóneo, exacto ou válido, enquanto sinónimos do mesmo valor, deixando à reflexão de cada leitor o que se pode considerar, inquestionavelmente, genuíno ou, pelo contrário, uma trapalhice (propaganda), uma vez que circulámos por ambos os lados do combate.

Em função do já pesquisado e dos resultados obtidos, decidimos dividir o trabalho em diferentes partes, sendo esta a primeira, onde se divulgam aspectos relacionados com a sua mobilização, locais das principais actividades operacionais e quadro das baixas em combate.


2. MOBILIZAÇÃO E LOCAIS DAS MISSÕES NO CTIG


Mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 2 [RI 2] , em Abrantes, a Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586] embarcou no Cais da Rocha, em Lisboa, a 30 de julho de 1966, sábado, zarpando rumo a Bissau a bordo do N/M Uíge, numa altura em que a cronologia da guerra registava já três anos e meio.

Aí desembarcou a 4 de agosto, 5.ª feira, sendo destacada para o sector do Batalhão de Caçadores 1856 [BCAÇ 1856], assumindo a 8 do mesmo mês a responsabilidade do subsector de Piche, substituindo dois pelotões da Companhia de Caçadores 1567 [CCAÇ 1567], e guarnecendo o destacamento da Ponte do Rio Caium com um pelotão, até 21 de setembro de 1966.

A partir desta data assumiu, também, funções de unidade de intervenção na zona de Nova Lamego, reforçando diversas localidades, entre elas:

(i)  Nova Lamego, de 10 de outubro de 1966 até princípios de dezembro desse ano;

(ii) Béli, de 25 de janeiro a 15 de abril de 1967;

(iii)  e Madina do Boé, de 10 de fevereiro a 1 de maio de 1967.


A 6 de abril de 1967 foi rendida no subsector de Piche, assumindo o subsector de Bajocunda no dia seguinte [7abr1967], rendendo a Companhia de Caçadores 1417 [CCAÇ 1417] e guarnecendo Copá com um pelotão, mantendo-se integrada no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores 1933 [BCAÇ 1933] e posteriormente do Batalhão de Caçadores 2835 [BCAÇ 2835].

Entre 28 de outubro e 4 de dezembro de 1967, integrou, com um pelotão, o sector temporário de Canjadude.

Foi rendida no subsector de Bajocunda a 27 de abril de 1968 pela Companhia de Caçadores 1683 [CCAÇ 1683], embarcando em Bissau, de regresso à metrópole, a 9 de maio de 1968, 5.ª feira, a bordo do N/M Niassa, com a chegada a Lisboa a acontecer a 15 de maio, 4.ª feira, ou seja, seis dias depois [adap. do P3797, José Martins, ex-Fur Trms CCAÇ 5 (1968/1970), nosso colaborador permanente].


 3. MAPA DOS LOCAIS ONDE A CCAÇ 1586 DESEMPENHOU AS SUAS DIFERENTES ACTIVIDADES OPERACIONAIS


No mapa abaixo, sinalizadas no interior de elipses, encontram-se os locais onde a CCAÇ 1586 desempenhou as suas diferentes actividades operacionais.


Infografia: Jorge Araújo (2018)



4. QUADRO DE BAIXAS DURANTE A COMISSÃO


No âmbito da pesquisa realizada, foram identificadas e agrupadas por datas as baixas contabilizadas pela CCAÇ 1586 durante a sua comissão, cujo quadro se apresenta de imediato.

A organização do quadro, segundo esta metodologia, corresponde à ordem da descrição dos factos conhecidos sobre cada causa ou ocorrência, e que daremos conta ao longo das próximas narrativas.


Infografia: Jorge Araújo (2018)

Sitografia consultada:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/

http://www.apvg.pt/

http://ultramar.terreweb.biz/ (com a devida vénia)

(Continua)
______________

Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
16JAN2018.

PS - Este é o primeiro dos textos que estavam em atraso, o da CCAÇ 1586, na medida em que me comprometi a dar uma ajuda na reconstituição da sua HU, que não existe. Entretanto, fui convidado para participar no seu Convívio Anual que se realiza em Abrantes, a 19 de maio de 2018. Já lhes pedi um cartaz para fazer a sua divulgação na «Tabanca».

9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

OK, Jorge, obrigado.

Há muitas subunidades que não têm ainda o mais pequeno registo no nosso blogyue... E quantos mais antigas no TO da Guiné, pior...Tirando a tuaCART 3494, e a minha CCAÇ 12, e mais umas tantas, tui tens 1 camarada em cada 100 a dar a cara...

Quantas histórias não estão ainda por contar, de um e do outro lado ? Isto é um verdadeiro suplício, a guerra durou 13 anos, e nós já vamos em 14...

Imagina, apareceu-me agora, ao telefone, o ex-alf mil José Luís Dumas Diniz (, da CART 2338), responsável pela segurança da coluna da retirada de Madina do Boé, a fatídica coluna teve o trágico acidente, na travessia de jangada. no Rio Corubal,em Cheche, em 6 fev 1969 (, já estava eu mobilizado para a Guiné mas lembro da comoção que nos proivocou, ao ler a notícia nos jornais de Lisboa)...

O Dinoz foi julgado,creio, em tribunal militar, e foi absolvido...Era preciso um "bode expiatório", o elo mais fraco da cazdeia hierárquica...

Ele quer dar-me/nos a versão dele... Vou combinar um almoço com ele... Ele chegou até nós através do Fernando Calado, nosso grã-tabanquerio, outro camarada e amigo desse tempo (Bambadinca, CCS/BCAÇ 2852, 1968/70)...

Como vez, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande

Ab, Luis

Tabanca Grande Luís Graça disse...

JOrge, apreciei o teu gesto... de escrever por quem "não pode ou não sabe"...Pode-se dizer que neste caso deparamos com o pesado "silêncio dos arquivos"... O José Martins conhece essa angústia... Ab, Luís

PS - Onde é que "desencantaste" o ex-fur mil trms Aurélio Dinis ? Convida-o para integrar a Tabanca Grande... A CCAÇ 1586 tem apenas 3 referências no nosso blogue, e agora mais uma...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, vou voltar a fazer um desafio ao José Martins: fazer o inventário do "bestiário da Guiné"... Já reparaste a quantidade de subunidades (companhias, pelotões...) com nomes de bichos ?


A CCAÇ 1586 (1966/68) eram "os Jaacarés"... Mas também havia os "Abutres de Cabuca", 2ª CART / BART 6253, 1973/74... E as "Onças Negras" (CCAÇ 6, Bedanda)... E os "Gatos Pretos" (CCAÇ 5, Canjadude)... A 38ª Companhia de Comandos eram “Os Leopardos” (Brá 1972/74).

Havia Leões, havia Tigres, havia Falcões, Jagudis, etc... Havia a bicharada toda, da selva... Ìamos buscar à naturezz qualidades animais (coragem, bravura, esperteza, sagacidade...) que faltavam aos humanos...

Ora aqui está um belo tema para explorar, estudar, compreender, explicar... Dá outra tese de doutormanento em socioatropologia da guerra...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A CART 676 (Bissau, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66) eram os "Elefantes"...

Os "Tigres de Cumbijã" era a CCAV 8351 (1972/74), do nosso camarada Vasco da Gama... sem edsquecer os "Piratas de Guileje" (CCAV 8350).

O grupo de combate da CCAÇ 3, do A. Marques Lopes, eram os Jagudis... O Pel Cac Nat 52 Os Gaviões...


A CART 1525 (Os Falcões) (Bissorã, 1966/67)...

Em geral, os nomes de guerra constam dos brasões e das histórias da unidade...

José Marcelino Martins disse...

A morte do Alferes Gamboa, para o PAIGC, contou a dobrar.
Já tinha consigo os galões de Tenente. Faltava só a publicação em Ordem de Serviço.

Luis. Quando estiveres com o ex-alf mil José Luís Dumas Diniz (, da CART 2338), dá-lhe um abraço meu. Pode ser que ainda se lembre de mim.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge araujo
11 abr 2018 10:48

Caro Luís,

Bom dia.

Já vi e li o poste... está óptimo, como sempre!

O camarada Aurélio Dinis reside em Almada, na freguesia da Charneca da Caparica, por isso é meu "vizinho".

Já combinámos um encontro para tomar um café. Aí teremos a oportunidade de partilhar outros temas, particularmente aqueles que digam respeito à nossa passagem pelo CTIG.
Aguardo o cartaz/programa do convívio anual da sua Unidade para o divulgar no blogue.

Até breve.
Ab. Jorge Araújo.

Anónimo disse...

Caros Luís e Jorge Araújo:
Estes temas fazem-me voltar atrás 50 e tal anos. Por isso gosto. As fotos, a primeira parte da reportagem estão muito boas.
A CC1586 ( Unidade independente? )pelos vistos esteve em NL integrada no BC1856, que não cheguei a conhecer. Esteve connosco (BC1933)no período de Out67 a Fev68, por isso devo ter conhecido alguém. Não sabia que tinham estado em Madina do Boé.
A CC1790 do BC1933 foi para Madina, não sei bem a data, mas posso ver, substituir a CC1589 do BC1894 que esteve em Madina cerca de um ano, por isso aqui não batem bem as contas. Esta CC1586 também deve ter estado sob o comando do BCAV 1915, que nós o BC1933 foi render em NL em Out67!
É preciso esclarecer isto, a razão deve-se a não haver História da Unidade.

Sobre o 'desastre' do Cheche, já tinha dito várias vezes, que há versões do acontecimento para todos os gostos, infelizmente estou ligado e sigo estas coisas por se ter passado com uma companhia do meu batalhão.
Há sempre um bode expiatório, são os mais pequenos.
Por falar nisso, parece que os Juizes que estão a julgar o caso recente dos comandos da Amadora, vão levar todos a Julgamento, vamos ver quem será o mais culpado. Mas esse, todos sabem quem é, vai ficar de lado...

Um Ab,

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Segundo reza a Historia da Unidade - BC1933, quando tomou conta do sector L3, o dispositivo encontrado entre outros eram:
.............

- CC1586;

Subsector (T)
- Destacamento de Canjadude:

. Tinha um GCOM em Canjadude,

. Tinha a sede da Companhia em Bajocunda

. Havia o 4º Pelotão em Copá

. E o 1º Pelotão em Canjadude.

Até ao fim da nossa presença no sector, não houve alterações, que eu saiba e o que leio. Veio render-nos o BCAÇ2835.

É o que posso informar, e continuo a pensar que a CC1586 é uma companhia independente, de reforço.

Virgilio Teixeira



Anónimo disse...

Caro Virgílio Teixeira,

Confirmo que a CCAÇ 1586 era, de facto, uma Companhia Independente, mobilizada pelo RI2, de Abrantes, aliás como é referido no texto.

Ab. Jorge Araújo.