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segunda-feira, 30 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26969: Notas de leitura (1815): Guiné - Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril; Âncora Editora, 2024 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Junho de 2024:

Queridos amigos,
Não devemos esquecer que a cada um que aqui vem testemunhar a sua participação no MFA Guiné foi pedido um relato pessoal e daí parecer por vezes que se repetem as memórias de como todos eles se foram encontrando e atuando, como se institucionalizou o MAPOS, logo em 4 de maio, exigindo negociações com o PAIGC, a efervescência do ambiente social em Bissau depois do 25 de Abril, o papel da Voz da Guiné, a vida no mato, seja em Empada seja em Caboxanque, trata-se de um documento que se poderá classificar como de referência, na justa medida em que complementa tudo quanto já está escrito pelo lado de oficiais do quadro permanente e até de investigadores deste período, como é o caso dos trabalhos de António Duarte Silva. É pois de leitura obrigatória para quem pretende estudar quem foi quem no final do Império, no território da Guiné.

Um abraço do
Mário



Os milicianos no MFA da Guiné (3)

Mário Beja Santos

Na sequência do texto dado à estampa na semana anterior e referente ao livro recentemente publicado e intitulado "Guiné, Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril", Âncora Editora, 2024, onde se dá voz a um conjunto de depoimentos de milicianos, alguns deles ligados à crise académica de 1969 e a Coimbra, já deu para entender que por um feliz acaso ocorreu uma gradual convergência entre estes oficiais milicianos sediados em Bissau e o núcleo de oficiais do quadro permanente onde, entre outros, estavam ativos Sales Golias, Duran Clemente e Carlos de Matos Gomes e estreitamente relacionados com o capitão miliciano José Manuel Barroso.

Dada a diversidade de olhares, deu-se a palavra a um acervo de intervenientes como Álvaro Marques, Amaro Jorge, Canhoto Antunes, Celso Cruzeiro, Eduardo Maia Costa, João Teixeira, José Manuel Barroso e J. M. Correia Pinto. Põe-se termo a esta digressão pelos testemunhos destes oficiais milicianos, começa-se por José Pratas e Sousa, alferes-miliciano da CCAV n.º 8352, SRI e secretariado do MFA. Como outros intervenientes, Pratas e Sousa logo alude à derrota das tentativas de desenvolvimentos de soluções neocolonialistas, como foi repudiado o projeto de Spínola de manter a Guiné numa comunidade lusíada. Faz menção de que o que procura relatar é a sua experiência pessoal, como viveu e sentiu acontecimentos do período de abril a setembro de 1974. Mafra, a Escola Prática de Cavalaria, o Regimento de Cavalaria n.º 3 onde se formou a sua companhia, chegaram à Guiné em 4 de novembro de 1972, o destino era Caboxanque, na região do Cantanhez. “Tinha cerca de 800 habitantes e a nossa tropa instalou-se dentro da povoação que era habitada por velhos, mulheres e crianças. Não havia jovens. Estavam no mato com o PAIGC, que até então tinha controlado todo o Cantanhez. Esta situação contribuiu para acentuar a sensação de sermos ocupantes ilegítimos de uma terra que não era nossa.” Fazem patrulhamentos intensivos, são flagelados, normalmente sem consequências maior, terão dois mortos. Frutificaram amizades, que permanecem, refere Rui Silva, o capitão miliciano que comandava a companhia, com quem mais tarde se encontrará no secretariado do MFA em Bissau.

Deixa a companhia em agosto de 1973 (esta ir-se-á manter em Caboxanque até junho de 1974), foi transferido para Bissau, irá dirigir o Programa de Línguas Nativas, um programa de rádio militar integrado no Serviço de Rádio e Difusão de Imprensa. O noticiário oficial procurava iludir o agravamento da situação militar: os aviões derrubados pelo PAIGC eram noticiados em Lisboa como alvos de mísseis disparados a partir da Guiné-Conacri ou quedas devidas a acidentes. Dá-nos conta de como viveu o 25 de Abril, como foi determinante o papel do capitão Jorge Golias, era o oficial de maior prestígio dentro do MFA, não esquece o papel importante do capitão miliciano José Manuel Barroso, que desempenhou funções de adjunto de Carlos Fabião, Barroso foi o único miliciano que esteve desde o início envolvido nas reuniões conspirativas do Movimento dos Capitães da Guiné. Não esquece a referência ao MAPOS, o Movimento pela Paz que agregou oficiais, sargentos e praças, constituído em 4 de maio.

Observa que a guerra da Guiné acabou no dia 26 de abril. “É certo que ainda houve alguns combates, havendo a lamentar, nos cinco meses seguintes, cinco mortos entre os militares portugueses. Sem querer desvalorizar o significado destas mortes, ainda mais absurdas num tempo em que estavam abertos os caminhos da paz, é de lembrar que nos onze anos de guerra na Guiné morreram em média cinco militares portugueses em cada dez dias. O que houve foi o resultado de alguns incidentes provocados na sua maioria por comandantes do PAIGC, que no mato tomaram iniciativas individuais, que foram logo reprimidas pela direção do partido.” E lembra o papel que tiveram as sessões de esclarecimento em muitas unidades do interior.

Tem agora a palavra Luís Araújo, da Repartição da ACAP do Comando-Chefe em Bissau. Desembarcou em Bissau em março de 1973, engenheiro de formação, regista as primeiras impressões, a atuação dos oficiais milicianos, os acontecimentos do 25 de Abril e dias imediatamente posteriores. “A minha função era a recolha e processamento de informação que permitisse ao Comando-Chefe acompanhar a opinião da evolução pública, quer nacional, quer internacional, sobre a situação da Guiné. Produzia relatórios periódicos de divulgação interna reservada, baseados em fontes de informação internas do território e em posições expressas na imprensa portuguesa e nacional.” Irá colaborar depois com comissões de apoio às funções de Carlos Fabião.

O último depoimento pertence a Rui Pedro Silva, nome já mencionado por José Pratas e Sousa. Ele comandava a companhia de Caboxanque, pela rádio ouviu falar no golpe de Estado. Vem de férias em março de 1974, no regresso é confrontado com a notícia da morte de dois soldados. Fazendo um balanço desse mês de março, observa que no Cantanhez houvera uma forte manifestação na capacidade do PAIGC. Faz uma alargada digressão sobre os acontecimentos políticos em Portugal, como correu a sua mobilização, foi enviado para Angola em 1971 e 1972, esteve nos Dembos, volta a Mafra para o curso de comandante de Companhia, como se processou em termos efetivos a operação Grande Empresa, encetada em 6 de dezembro de 1972. Tem importância o que escreve a seguir sobre a quadricula para Cafal, Jemberem, Cobumba e Chugué, lembrando que o relato detalhado desta operação é da lavra do Coronel Moura Calheiro no seu livro "A última Missão", ele foi o coordenador da operação desde o seu início. Em 27 de setembro de 1972, a CCAV n.º 8352 é transferida para Caboxanque. “Nos primeiros cinco meses em Caboxanque, a maioria dos militares dormia em valas, a comida era distribuída por uma viatura que percorria o limite do aquartelamento por onde estavam distribuídas as três secções de cada um dos quatro pelotões, cerca de quilómetro e meio, chegando já fria à últimas secções, utilizavam uma vala como latrina, partilhavam sem privacidade.”

Conta várias peripécias, até de um estranho acidente com uma arma de fogo, como se procedia a ação psicológica, desde a melhoria das habitações da população local à assistência de enfermagem. Também escreve a sua versão sobre os acontecimentos de 1973, e assim chegamos ao encontro com o PAIGC em maio de 1974, que ele descreve assim:
“Reuni os chefes da tabanca, poucos dias após os 25 de Abril, informei-os que íamos cessar as patrulhas na zona operacional, mas que queríamos manter contacto com a população que vivia fora de Caboxanque e pedimos que disso dessem infomação a essas populações. Cerca de duas semanas após o 25 de Abril, fomos visitados por um comissário do PAIGC, vinha fardado e naturalmente desarmado. Apresentou-se em Cufar e depois, a seu pedido, transportado em escolta até Caboxanque. O encontro foi muito cordial. Primeiro, pediu autorização para visitar a família que vivia em Caboxanque e que não via há bastante tempo. Depois dessa visita realizámos uma longa conversa, partilharam das dificuldades vividas. Concordámos que não haveria lugar a emboscadas, ataques ou minhas em toda a zona operacional. Para nós, a guerra tinha terminado. Na despedida, demos um abraço”.
A companhia é transferida para Bissau em junho, Rui Pedro Silva fica a trabalhar no secretariado do MFA.

O anexo inclui imagens da Voz da Guiné, de encontros entre as nossas tropas e as do PAIGC.

Obra de referência para o estudo das relações entre os oficiais do quadro permanente e milicianos na génese, organização do MFA Guiné e das ações posteriormente desenvolvidas em conjunto.


Gadamael, maio de 1974. A primeira visita do PAIGC à tabanca e aquartelamento de Gadamael: Em primeiro plano, ao centro, o Comandante do COP5 (Cap Ten Fuzo Patrício); do seu lado direito está o comissário político do PAIGC, de cigarro russo na boca. Imagem retirada do nosso blogue
Pirada, primeiros contactos com o PAIGC, junto à fronteira do Senegal com o fim de combinar a "passagem de testemunho", dirigido pelo Comandante Jorge Matias, do BCAV 8323. Fotografia de António Rodrigues, com a devida vénia
China, Amílcar Cabral e o PAIGC: um namoro em três tempos Delegação do MPLA e do PAIGC na China, em Agosto de 1960, a convite do Comité Chinês de Solidariedade com África e Ásia. Imagem da Associação Tchiweka de Documentação
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Notas do editor

Vd. post de 23 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26950: Notas de leitura (1812): Guiné - Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril; Âncora Editora, 2024 (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 27 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26962: Notas de leitura (1814): O fotógrafo Alfredo Cunha, a Guiné, o 25 de Abril no mais antigo museu português (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26950: Notas de leitura (1812): Guiné - Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril; Âncora Editora, 2024 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
O mínimo que se pode dizer deste conjunto de testemunhos é que pela primeira vez acorrem ao palco oficiais de milicianos que participaram de um modo ou do outro no MFA da Guiné, gente que tinha estado nas lutas estudantis, algum deles já tinha iniciado a sua vida profissional, coube-lhes relevantes funções desde o comando das forças militares até à coordenação dos serviços de comunicação e mesmo na direção de serviços da própria administração colonial. Contam como atuaram, formaram o núcleo inicial e este se desenvolveu, como tudo se estava a modificar depois da perda da supremacia aérea, como contribuíram para o 25 de abril. Fica demonstrado como todo este grupo de milicianos teve um papel marcante no fim do Império, como decorreram as negociações com o PAIGC, e todos são unânimes que Spínola era portador de um sonho anacrónico neocolonial que felizmente não houve condições para pôr em prática.

Um abraço do
Mário



Os milicianos no MFA da Guiné (2)

Mário Beja Santos

Na sequência do texto dado à estampa na semana anterior e referente ao livro recentemente publicado e intitulado Guiné, Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril, Âncora Editora, 2024, onde se dá voz a um conjunto de depoimentos de milicianos, alguns deles ligados à crise académica de 1969 e a Coimbra, já deu para entender que por um feliz acaso ocorreu uma gradual convergência entre estes oficiais milicianos sediados em Bissau e o núcleo de oficiais do quadro permanente onde, entre outros, estavam ativos Sales Golias, Duran Clemente e Carlos de Matos Gomes e estreitamente relacionados com o capitão miliciano José Manuel Barroso.

Dá-se a palavra a Eduardo Maia Costa, alferes miliciano do Serviço Geral da Força Aérea, colocado em Bissalanca. Chegou a Bissau no dia 20 de janeiro de 1973, dia do assassinato de Amílcar Cabral. Foi colocado no serviço de Justiça. A Força Aérea, no início desse ano, assegurava a superioridade da tropa portuguesa na guerra, tinha o domínio absoluto dos ares, cumpria sem sobressaltos a rotina que ia desde o apoio às operações, à evacuação dos feridos, ao transporte de pessoas, de géneros e materiais, até aos bombardeamentos.

Depois veio o abalo dado pelo uso dos mísseis terra-ar. Ponto importante para a ligação entre os milicianos foi a oferta feita por Barros Moura ao Major Coutinho e Lima de ser seu defensor, Spínola não gostou deste tipo de intervenção, Barros Moura foi empandeirado para S. Domingos. Em Portugal fermentava o MFA, na Guiné ele surge em agosto de 1973, implanta-se em Bissau, na Força Aérea aderem Jorge Alves e Faria Paulino. Sucedem-se os acontecimentos que outros autores já referenciaram, dá a sua nota pessoal:
“Realizaram-se na Força Aérea eleições para a escolha dos representantes do MFA das diversas categorias, tendo eu sido um dos eleitos dos oficiais milicianos. No dia seguinte apresentámo-nos ao comandante da Base. Ele recebeu-nos um pouco amedrontado, possivelmente pensando que o íamos prender. Foram-nos atribuídas tarefas específicas: substituir, com outros oficiais milicianos, os funcionários dos serviços de trabalho. Os funcionários coloniais receberam-nos de bom grado, eles não se entendiam com os novos tempos, queriam era regressar à metrópole, e logo desapareceram.” Vai passar férias e regressa a Bissau em 10 de agosto, aqui o ambiente era de fim do império, Portugal iria reconhecer no dia 26 a independência da Guiné.

Segue-se o depoimento de João Ferreira do Amaral, que chegou a Bissau em março de 1973, comenta a situação político-militar a partir dessa data. Ele está nos serviços de economia, recorda o aumento do preço de arroz, procurava-se a todo o transe garantir o abastecimento deste alimento básico; continuará nestes serviços até ao princípio de outubro. “Tive a oportunidade de transferir a administração dos serviços de economia para as novas autoridades, acompanhando o ministro Dr. Vasco Cabral, numa visita a uns serviços que estavam então a meu cargo, economia, estatística e planeamento.”

Dá-se agora a palavra a João Teixeira, alferes-miliciano com a especialidade de Engenharia, colocado na Base Aérea n.º 12. Chega a Bissau a 21 de janeiro de 1973, é esperado no aeroporto por José Manuel Barroso, especula-se sobre quem mandou matar Amílcar Cabral. Descreve a sua vida em Bissau, os acontecimentos posteriores aos abates dos aviões com os mísseis terra-ar, a adaptação dos voos à nova realidade, os apelos urgentes a Lisboa para se encontrar a competente defesa aérea para a Guiné. João Teixeira discorre amplamente sobre a evolução do MFA na Guiné, a tentativa neocolonial perpetrada por Spínola, e como foi derrotada, dá-nos um quadro do que foi a Assembleia Geral na Guiné em 1 de junho, e regressa a Lisboa em meados de setembro.

É o momento de ouvirmos José Manuel Barroso, capitão miliciano, parecia que ia para o mato, mas é nomeado para trabalhar com Spínola, a sua missão era acompanhar a atividade militar e governativa, e transformá-la em notícias a fornecer para o exterior, para os média nacionais e para as agências noticiosas internacionais, recorda algo que se ia aprofundando entre ele, Sales Golias e Matos Gomes. “A minha mais profunda surpresa inicial foi a descoberta no mundo da oficialidade que servia no Comando Chefe, na fortaleza de Amura. Uma boa parte dos oficiais falava abertamente da questão política da guerra, questionando-a, ouvi mesmo dizer a um dos meninos queridos de Spínola que aquilo só iria à força.” Viveu os acontecimentos ligados ao assassinato de Amílcar Cabral e pareceu-lhe sincera a atitude de Spínola, reagiu desalentado com esta perda.

Descreve a atitude de um punhado de oficiais do quadro permanente quando se souber da realização de um Congresso de Combatentes. “Quase a totalidade dos capitães do quadro permanente assinaram protesto dirigidos ao Governo central – e dezenas de milicianos também. Mas o episódio criou um clima de contestação aberta, que não pararia. Antes do Movimento dos Capitães, a Guiné era cabeça da contestação. O núcleo do que seria a comissão de militares do MFA estava constituído e preparado para qualquer ação. O nosso agora alargado grupo chegou a discutir uma hipotética ação militar contra Lisboa, sem sequer saber que algo idêntico, mas mais forte ainda, havia sido discutido por oficiais afetos a Spínola, como o Major Fabião revelaria depois. Estive no grupo que, na Guiné, ligado a Otelo e ao Movimento dos Capitães apoiou ativamente o golpe em Lisboa, despediu a 26 de abril as autoridades militares em Bissau que se não manifestaram favoráveis à Junta de Salvação Nacional. Depois, fui chamado, com o Tenente-Coronel Mateus da Silva para, em representação do MFA/Guiné, acompanhar o Ministro dos Negócios Estrangeiros no seu primeiro contacto com o presidente do PAIGC, Aristides Pereira, em Dacar. Dias depois de chegar a Bissau, fui chamado a Lisboa por Spínola, que me proibiu de regressar à Guiné. Fui o primeiro capitão do MFA saneado".

J. M. Correia Pinto era Segundo-Tenente do Comando de Defesa Marítima da Guiné, desembarcou em Bissau em 24 de maio de 1972. Faz um enquadramento do início da guerra colonial, do curso de oficial da Defesa Naval, acompanhou a evolução da situação da Guiné, ali chegara e ainda os ecos da operação Mar Verde estavam longe de estarem extintos, fora-lhe testemunhado por um oficial do quadro permanente ter participado na Mar Verde que o objetivo primordial era assassinar Sékou Touré, promover um golpe de Estado, sequestrar ou assassinar Amílcar Cabral mais dirigentes do PAIGC, destruir material bélico da República da Guiné, caso dos aviões MiG, quase tudo correu mal. E em 1973, a roda da fortuna desandou em favor do PAIGC, volta a falar na defesa do Major Coutinho e Lima, no significado do Congresso dos Combatentes, como se processou a ação do PAIGC no primeiro trimestre de 1974, o significado que se atribuiu ao livro de Spínola e descreve minuciosamente os acontecimentos do 25 de abril. “Chegado a Lisboa no dia 4 de maio, deparei-me com um convite de uns camaradas da Marinha, ir a Caxias ver os pides presos. Recordo que as primeiras pessoas que vi em Caxias, a consultar os arquivos, foram o Zé Manel Tengarrinha, o Oneto e o Jean Jacques Valente.”

Gadamael, maio de 1974. A primeira visita do PAIGC à tabanca e aquartelamento de Gadamael: Em primeiro plano, ao centro, o Comandante do COP5 (Cap Ten Fuzo Patrício); do seu lado direito está o comissário político do PAIGC, de cigarro russo na boca. Imagem retirada do nosso blogue
Pirada, primeiros contactos com o PAIGC, junto à fronteira do Senegal com o fim de combinar a "passagem de testemunho", dirigido pelo Comandante Jorge Matias, do BCAV 8323. Fotografia de António Rodrigues, com a devida vénia
China, Amílcar Cabral e o PAIGC: um namoro em três tempos Delegação do MPLA e do PAIGC na China, em Agosto de 1960, a convite do Comité Chinês de Solidariedade com África e Ásia. Imagem da Associação Tchiweka de Documentação

(continua)

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Notas do editor

Vd. post de 16 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26925: Notas de leitura (1809): Guiné - Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril; Âncora Editora, 2024 (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 23 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26949: Notas de leitura (1811): O livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (2025) (235 pp.) - Parte I: apresentação de Luís Graça

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20241: Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar) (Fernando de Sousa Ribeiro, CCAÇ 3535, Angola, 1972/74) - Parte VI: Não aos crimes de guerra: os bravos não são cruéis e os cruéis não são bravos



Foto nº 2 > Angola > CCAÇ 3535  (1972/74) >  O grupo de combate do alf mil  Fernando de Sousa Ribeiro no decurso  da operação que levou à conquista e destruição da base de Catoca, da UPA / FNLA. Foto do álbum do  fur mil  Luís Macedo.






Crachá da Companhia de Caçadores 3535, baseado no suposto brasão pretensamente pessoal do capitão miliciano Lamas da Silva. Eu nunca andava com este crachá ao peito. A Idade Média acabou há séculos. Eu
não tinha nada que trazer ao peito o presumido brasão alegadamente do Lamas, como se o Lamas fosse meu senhor feudal. Se ele quisesse brincar aos fdalgos, que brincasse sozinho. Por outro lado, e o que era muito mais grave, eu não podia aceitar um lema tão repugnante como o que se encontrava no crachá. 


lema, "A cada um a sua própria morte", foi cirurgicamente retirado de uns versos do Livro das Horas de Rainer Maria Rilke, de tal forma que o seu sentido fcou completamente adulterado. Os versos dizem o seguinte: Senhor, dá a cada um a sua própria morte. / Morrer que venha dessa vida / durante a qual amou, sentido encontrou, teve má sorte. O que era uma frase que fazia parte de uma oração a Deus foi transformado num lema que é um incitamento ao homicídio! Se dúvidas eu tivesse a propósito do verdadeiro significado do lema, elas dissiparam-se quando foram distribuídos, pelo pessoal da companhia, lenços de cor preta, para proteger a cara do pó da picada durante as colunas auto. 

Tal como o lema, a cor preta dos lenços não foi escolhida por acaso. Com um tal lema assassino e com tais fúnebres lenços pretos, quiseram fazer de nós emissários da morte. Porém, nós agimos de modo precisamente contrário




Foto nº 1 > Na picada que subia da Ponte do Rio Dange para norte, havia esta placa de trânsito, de cimento, indicativa de um desvio para o Mucondo, que ficava a poucas centenas de metros de distância. Amarrada a esta placa, estava uma tabuleta de madeira que dizia "AQUI COMEÇA O INFERNO". Esta tabuleta é a haste horizontal da mancha negra em forma de cruz que se vê acima da placa de cimento.


Fotos (e legendas): © Fernando de Sousa Ribeiro (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Fernando de Sousa Ribeiro:


(i) ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);

(ii) é membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780;

(iii) licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;

(iv) está reformado, e 
vive no Porto, mas também tem boas recordações de Lisboa onde viveu e trabalhou;

(v) tem página no Facebook;

(vi) a CCAÇ 3535 foi mobilizada pelo RI 16, partiu para Angola em 13/6/1972 e regressou em 28/8/1974; esteve em Zemba, P. R. Zádi. Comandantes: cap mil inf José Manuel de Morais Lamas Mendonça e Silva, e cap mil inf José António Pouille Nobre Antunes.

(vii) pertencia ao BCAÇ 3880, sediado em Zemba e Maquela e comandado pelo ten cor inf Armando Duarte de Azevedo; as outras duas subunidades eram a CCAÇ 3536 (Cambamba, Fazenda Costa) e a CCAÇ 3537 (Mucondo, Béu);

(viii) o ficheiro, em formato pdf, que estamos a publicar, tem 165 pp, imagens incluídas.


Dignidade e Ignomínia 

(Episódios do Meu Serviço Militar)

 > Crimes de guerra 
(pp. 49-63)(*)


por Fernando de Sousa Ribeiro



Pouco tempo antes da nossa partida para Angola, quando ainda estávamos em Santa Margarida aguardando o dia da partida, os aspirantes das companhias operacionais do BCaç 3880 fizeram uma espécie de juramento. Digo «uma espécie», porque não foi um juramento formal, mas sim um compromisso que os aspirantes tomaram uns perante os outros. Se não todos, pelo menos quase todos (eu incluído), levaram esse compromisso a sério, como se de um verdadeiro juramento se tratasse.

Foi num dia ao imm da tarde que esse compromisso teve lugar, enquanto tomávamos banho e nos arranjávamos para irmos jantar à messe de oficiais do Campo Militar de Santa Margarida. Alguns de nós preparavam-se para tomar banho, completamente nus e prontos para entrar no chuveiro. Outros tinham acabado de tomar banho e
saíam do chuveiro, igualmente nus. Outros ainda, incluindo eu próprio, estavam a fazer a barba, com uma toalha à cintura. Sem que ninguém o fizesse prever, um dos aspirantes presentes no local chamou a atenção dos restantes, dizendo:

— Ó malta, vamos assumir um compromisso!

Não me lembro de quem foi que falou, mas tenho a vaga ideia de ter sido o falecido aspirante Leite, que viria a ser alferes miliciano da CCaç 3537.

Nós interrompemos o que estávamos a fazer, para ouvirmos o que ele tinha para nos dizer. E ele disse, muito aproximadamente, o seguinte:

— Nós não sabemos o que nos espera na guerra. Não sabemos que perigos é que iremos enfrentar, nem que horrores é que iremos testemunhar. Nem sequer sabemos se vamos estar no lado certo ou no lado errado da guerra. Só quando chegarmos a Angola é que viremos a saber. Mas independentemente de estarmos no lado certo ou no lado errado da guerra, independentemente de tudo o que nos vier a acontecer, havemos de agir sempre de acordo com o que a nossa consciência nos determinar. Não sabemos se tal será possível no meio de uma guerra.

E continuou:


— Poderemos enfrentar situações que nos levem a cometer atos que em condições normais nunca cometeríamos. Não sabemos. Mas mesmo assim e
independentemente de tudo, procuraremos agir sempre de acordo com a nossa consciência, custe o que custar.

E, quando já todos nos manifestávamos a favor do compromisso, assumindo-o, ele repetiu, martelando as palavras:

— CUS...TE... O... QUE... CUS...TAR!

— Custe o que custar — repetimos.

Apesar de terem sido ditas numa circunstância e num lugar pouco apropriados a um juramento solene, estas palavras valeram como tal. Os aspirantes das companhias operacionais do BCaç 3880 comprometeram-se assim, uns perante os outros, a seguir os ditames da sua consciência na sua conduta durante a guerra. Foi com esta
disposição que eles partiram para Angola.

Após uma curta estada no quartel do Grafanil, nos arredores de Luanda, onde ficou assim que chegou a Angola, a minha companhia viajou para Zemba, o seu destino na guerra. Não houve quaisquer incidentes durante a viagem, felizmente. 


De entre as paragens que se fizeram durante a deslocação, destaca-se uma que se fez no Mucondo. Esta paragem durou cerca de meia hora, talvez, antes da partida para Santa Eulália e Zemba, já ao fim da tarde. Enquanto permanecemos no Mucondo, eu estive na messe de oficiais a descansar. Sem que nada o fizesse prever, os oficiais da companhia local, que ainda não tinha sido rendida pela CCaç. 3537, começaram a gabar-se perante nós, "maçaricos", dizendo:

— Nós somos os "Assassinos do Mucondo"! Nós não fazemos prisioneiros. Tudo o que encontrarmos na mata a mexer-se é turra, é para abater, seja homem, mulher, criança, cão ou galinha. Somos os "Assassinos do Mucondo". Não perdoamos a ninguém. Nunca fazemos prisioneiros. Atiramos primeiro e perguntamos depois. Somos implacáveis. Somos os "Assassinos do Mucondo"!

Eu achei graça àquilo, pensando que eles estavam a tentar impressionar-nos, novatos que nós éramos, cheios de medo a caminho da guerra. Não levei aquelas palavras a sério, de maneira nenhuma.


Na picada que subia da Ponte 

do Rio Dange para norte, havia esta placa de trânsito, de cimento, indicativa de um desvio para o Mucondo, que ficava a poucas centenas de metros de distância. Amarrada a esta placa, estava uma tabuleta de madeira que dizia "AQUI COMEÇA O INFERNO". Esta tabuleta é a haste horizontal da mancha negra em forma de cruz que se vê acima da placa de cimento 

[Foto nº 1, acima; e em pequeno reduzido à direita]


Quando chegamos a Zemba já era de noite. Logo a seguir ao jantar, fui para o quarto, juntamente com os restantes alferes da 3535, arrumar as minhas coisas.

Nessa altura, os alferes da companhia que fomos render (a CCaç 3346, do BCaç 3840), também foram ao nosso quarto, mas para falar connosco com toda a seriedade. O que eles nos disseram foi o seguinte:

— Nós temos uma revelação para vos fazer, que é muito constrangedora para nós. Mas é preferível que vocês saibam da nossa boca do que por terceiros. A revelação é: a nossa companhia cometeu um massacre.

Perante a nossa surpresa, exclamaram logo a seguir:

— Por amor de Deus, não nos interpretem mal! Nós condenamos o que se passou, tanto como vocês. A sério! Mas a verdade é que houve um massacre cometido por militares da nossa companhia. Infelizmente houve. Nós condenamos, mas houve.

Passaram então a contar o que se passou:

— Uma vez, no Zemba "Turra", um alferes mandou fuzilar 21 prisioneiros que tinham acabado de ser capturados. Ele confessou que estava aterrorizado por se encontrar num sítio tão perigoso como era o Zemba "Turra". Mandou alinhar os prisioneiros e ordenou aos soldados que os fuzilassem. E assim aconteceu. O alferes já não está cá.

Foi castigado por causa disso e transferido, embora o texto da punição não faça referência ao massacre.

E os alferes da 3346 repetiram e voltaram a repetir:

— Vocês não pensem que nós costumávamos agir desta forma. De maneira
nenhuma! Nós condenamos o massacre tanto como vocês. Mas a verdade é que aconteceu. Foi o único massacre que houve na nossa companhia, por culpa de um cobarde. Ele mesmo confessou que estava aterrorizado e já não está cá. Por amor de Deus não pensem mal de nós! Nós também condenamos o massacre. Acreditem que é verdade! Nós sempre procuramos respeitar as vidas humanas. Aquele cobarde é que não respeitou.

Depois de terem contado o episódio do massacre, envergonhados, os alferes da 3346 saíram, para nos deixar ficar a arrumar as nossas tralhas no quarto. O alferes Arrifana, da minha companhia, saiu também de imediato e dirigiu-se diretamente para a caserna do seu grupo de combate. Reuniu os seus soldados e cabos e contou-lhes o que tinha acabado de saber. Por fm, acrescentou:

— Vocês livrem-se de cometer atos semelhantes a este! Se algum de vocês matar um só inocente que seja, vai ter que se haver comigo! Juro que lhe faço a vida num inferno! Se há coisa que eu não admito no meu grupo de combate é cobardes. Se algum de vocês for cobarde e assassino, garanto que me vai ter à perna. Nunca mais terá sossego comigo!

No dia seguinte de manhã, quando entrei na caserna do meu próprio grupo de combate, ouvi os meus homens comentarem o sucedido uns com os outros. O "sermão" do Arrifana também tinha chegado ao conhecimento deles. Diziam os meus cabos e soldados:

— Um homem que é homem não dispara contra quem não se pode defender. Se o outro estiver armado, pode disparar, pois nesse caso estarão de igual para igual; se ele não disparar, o outro disparará primeiro. Mas atirar contra uma pessoa desarmada é cobardia.

E diziam uma frase que ouvi repetida por eles várias vezes ao longo dos dias que se seguiram:

— Só quem tem medo de tudo e de todos é que está disposto a matar tudo e todos. É um cobarde.

Perante tais palavras, achei que não valia a pena eu fazer também um "sermão" aos meus homens. O do Arrifana chegou.

Passaram-se vários meses. Quantos? Não me lembro. Só me lembro de que um dia ouvi o comandante do batalhão fazer referência aos "Assassinos do Mucondo". Não me lembro das circunstâncias em que ouvi tal referência, nem tenho a certeza de que ele tenha pronunciado textualmente as palavras «Assassinos do Mucondo». Só
me lembro de ouvir o tenente-coronel lamentar o facto de a CCaç 3537 não se comportar como a companhia que a antecedeu, que varria tudo à sua frente. Achava ele que o terror espalhado pela companhia anterior deveria ser continuado pela CCaç 3537, mas «infelizmente» não era. «Aquilo é que era uma companhia que impunha respeito», disse ele sobre a companhia anterior. Quase só lhe faltou chamar
mole e piegas à 3537.


Eu ouvi as palavras do tenente-coronel Azevedo com um certo espanto. «Será que no princípio da comissão os autodenominados 'Assassinos do Mucondo' tinham-nos mesmo falado verdade?», interroguei-me. «Até o comandante se refere a eles! Como foi que ele soube?» Instalou-se a dúvida no meu espírito a respeito dessa companhia.

Algum tempo mais tarde realizou-se uma operação ao Catoca, na qual o papel principal foi desempenhado pelo meu próprio grupo de combate. O grupo não foi comandado por mim, mas sim pelo valente furriel Macedo, porque eu estava em gozo de licença anual. 

Além da conquista e destruição da base do Catoca propriamente dita, o resultado final dessa operação ultrapassou em muito tudo quanto se tinha esperado dela: a UPA/FNLA abandonou, pura e simplesmente, toda a zona do Catoca! Os guerrilheiros fugiram para o Mufuque, que era a base principal do movimento na região do Mil e Vinte (assim chamada por nela haver três montes com a mesma altitude de 1020 metros), e deixaram entregue à sua sorte a população nos acampamentos que tinham controlado na zona do Catoca.

 
Foto nº 2 (acima; em formato 
reduzido, à direita) Fotografia feita pelo furriel Luis Macedo na zona do Catoca


Em Zemba, ninguém se tinha dado ainda conta do das verdadeiras consequências da operação, com o abandono do Catoca por parte da UPA/FNLA, até ao momento em que chegou um SITREP, que era um relatório semanal distribuído pelos batalhões dando conta da evolução da guerra em Angola. 

Neste relatório em concreto, o batalhão de Vista Alegre dava conta da apresentação, naquela localidade, de numerosos elementos da população e, até, de guerrilheiros armados, oriundos da zona do Catoca. O batalhão de Vista Alegre congratulava-se vivamente com o facto, que atribuía à ação psicológica por si mesmo desenvolvida.

O comandante do nosso batalhão, assim que leu o SITREP em questão, foi a correr ao posto de rádio, para comunicar ao brigadeiro de Santa Eulália que as apresentações registadas em Vista Alegre não se deviam a ação psicológica nenhuma, mas sim à ação militar empreendida pelo Batalhão de Caçadores 3880, que conquistou o Catoca. O brigadeiro respondeu-lhe, do outro lado, que já sabia,
porque também se estavam a verificar apresentações em Santa Eulália de pessoas vindas do Catoca. O brigadeiro aproveitou a oportunidade para dar os parabéns ao tenente-coronel pelo êxito militar.

As apresentações de pessoas vindas do Catoca só se verificaram em Vista Alegre e Santa Eulália. Significativamente, ninguém se apresentou no Mucondo. Absolutamente ninguém. Quando o brigadeiro perguntou aos que se apresentaram em Santa Eulália porque motivo percorreram tantos quilómetros até lá chegarem, em vez de se apresentarem no Mucondo, que ficava muito mais perto do Catoca, recebeu a seguinte resposta:

— A tropa do Mucondo mata.

É claro que não era a Companhia de Caçadores 3537 que matava, mas sim a sua antecessora, a companhia dos "Assassinos do Mucondo", cuja fama permaneceu depois da sua saída.

De um momento para o outro, o tenente-coronel deixou de elogiar os "Assassinos do Mucondo", que tinha apresentado como exemplo a seguir, para passar acondená-los:

— Se não fossem aqueles sacanas, — dizia — teria havido apresentações no Mucondo. Esse seria mais um ponto a nosso favor.

Cerca de meio ano depois, estive em Luanda mais ou menos durante um mês. Ao longo desse tempo, dei alguns passeios pela região envolvente à capital angolana.

Num desses passeios fui até à barragem das Mabubas. Para meu espanto, encontrei aquartelada nas Mabubas, junto à barragem, a companhia dos "Assassinos do Mucondo"! Reconheci logo o capitão, que aliás era do quadro permanente. Não falei com ninguém da companhia. Falei apenas com o médico militar que lá se encontrava e que eu conhecia de vista do Porto.

O médico falou longamente de uma epidemia de cólera que se iniciou muito perto dali, na Barra do Dande, e que já se estava a espalhar por Angola inteira, tendo já causado dezenas de mortos. Ele estava indignadíssimo com o comportamento das autoridades sanitárias coloniais, as quais, em vez de tomarem medidas para combater a epidemia, tudo fizeram para escondê-la, «para que o inimigo não saiba e não a aproveite para fazer propaganda». Resultado: a doença espalhou-se para lá do que era possível esconder e O MUNDO INTEIRO, e não só o "inimigo", ficou a saber que havia uma epidemia de cólera em Angola!

A certa altura da conversa, e sem que eu lhe fizesse qualquer pergunta a respeito da companhia que estava colocada lá nas Mabubas, o médico começou a falar dela, comentando que nem parecia uma companhia veterana, já em fim de comissão.

Acrescentou, por sua própria iniciativa, que os militares da companhia se chamavam a si mesmos "Assassinos do Mucondo". O médico nunca tinha estado no Mucondo, mas sabia que aquela companhia era dos "Assassinos do Mucondo"!

— Se eles foram ou não assassinos lá no Mucondo, não sei, mas que se chamam a si próprios assassinos, chamam, e eu acredito que tenham sido, — disse o médico — porque são uma tropa muito fraca.

A corroborar a falta de qualidades militares da companhia, o médico passou a relatar um episódio passado algum tempo atrás, lá mesmo nas Mabubas:

— Certa noite, um soldado sentiu necessidade de defecar. Ou porque estava aflito com diarreia ou por outro motivo qualquer, em vez de se dirigir aos sanitários, resolveu fazer o "serviço" no meio do capim, no escuro, do lado de fora do quartel.

Passou para o exterior do arame farpado e, a uma certa distância do quartel, começou a "arriar o calhau". Um sentinela viu um vulto na escuridão e começou a disparar sobre ele. O pobre soldado, vendo-se alvejado, pôs-se a gritar para não dispararem, porque era ele, Fulano, que estava ali. Mas quanto mais ele gritava, mais
o sentinela disparava. De um momento para o outro, toda a companhia desatou a disparar para todos os lados, numa barulheira infernal! 


Era suposto esta companhia ser constituída por veteranos, que já tinham feito uma guerra no Mucondo, e não por "maçaricos" cheios de medo, acabados de chegar do "Puto". Pois foi como "maçaricos" que estes veteranos se comportaram. 

No fim, quando o tiroteio acabou, o soldado que tinha estado na origem desta confusão saiu do capim, branco como a cal da parede, mas incólume. Gastaram-se muitas centenas ou mesmo milhares de
munições em poucos minutos e nem uma só acertou no homem… Felizmente! 

Uma semana depois, dizia-se em Luanda que as Mabubas tinham sido atacadas!

Como se vê, os indícios de que a companhia aut
odenominada "Assassinos do Mucondo" cometeu crimes de guerra,  foram-se acumulando no meu espírito à medida que o tempo passava. Só o facto de os militares dessa companhia terem escolhido chamar-se "assassinos" é, só por si, muito preocupante. 

A palavra "assassino" tem uma carga negativa fortíssima. Ninguém gosta de ser chamado "assassino". No entanto, foi este nome, e não outro, que eles escolheram para si próprios. Era deste nome que eles se orgulhavam, como eu próprio testemunhei. Por algum motivo o terão feito. Mesmo que tenham provocado uma só morte de um inocente, esta morte já é de mais. 

É verdade que eu não tenho provas concretas, factuais, de que algum crime tenha sido cometido por elementos dessa companhia. Tenho apenas as suspeitas que acabo de expor, mais o que passo a expor a seguir.

Muito recentemente, soube através da internet,  que um antigo militar que tinha estado no Mucondo tinha publicado um livro. Fiquei cheio de curiosidade. O antigo militar em causa chama-se Rogério Pires de Carvalho, foi furriel miliciano e o seu livro tem como título "Alenterra". Um título destes pode sugerir tudo menos a guerra colonial ou a tropa em geral, mas enfm, quer tenha sido bem ou mal escolhido, foi este o título que o autor deu ao livro. Encomendei um exemplar, recebi-o e li-o.

Pouco tempo depois, descobri que este antigo militar tinha pertencido à companhia dos "Assassinos do Mucondo". Voltei a pegar no livro e reli-o, agora sob uma nova perspetiva. Tudo se encaixou.

O livro "Alenterra", de Rogério Pires de Carvalho, é uma pequena obra autobiográfca de 91 páginas, que aborda, sobretudo, a experiência militar do seu autor. 

É um livro muito bem escrito, que revela um escritor de primeira água. Embora seja autobiográfco, o livro é tudo menos monótono e linear, graças aos numerosos saltos no tempo que contém, para a frente e para trás, que são dados sem aviso. Por isso, este livro exige do leitor um certo cuidado, para não se perder relativamente à época a que o autor se refere a cada momento.

Eu não vou fazer aqui um resumo do livro. Vou apenas respigar uma ou outra passagem que possa esclarecer o pensamento e, sobretudo, a ação do autor, assim como da companhia a que pertenceu. Comecemos então.


(...) «Há coisas que nem nos segredos se devem aflorar. Coisas de nada, mas também outras coisas, densas, plúmbeas, excessivas. Como o remorso, o reverso do acto irreversível.

«Ou a dor, que mesmo descrita, não passa de retórica aos ouvidos dos outros. Sente-se na carne, nos ossos, na pele, nas unhas, mas dela nada se pode dizer, porque ela existe para ser sentida nas entranhas. A palavra não a redime, nem a dissolve.» (Rogério Pires de Carvalho, "
Alenterra"!, 2010, Prólogo, pág. 13)

(...) «Como o soldado que se vangloriava de... olhe, não sei se lhe conte, porque não são coisas fáceis de escutar. Histórias de gente que se mata à bala e à faca, gente que sangra outra gente, é sempre gente sofredora. Gente é gente, desde que nasce até que morre, e gente que se mata mal acaba de nascer também é gente, ou poderia tê-lo sido. E é dessas histórias que me recuso a contar-lhe, porque tenho vergonha. Apesar deste tempo todo, ainda tenho vergonha, do que fiz e do que não fiz, do que vi fazer e do que ouvi contar. E por isso não lhe conto, porque não precisa de sofrer o que os outros já sofreram. Ponto final.» (Ibid., pág. 43)

(...) «Aqui e além, disfarçadas na vegetação que começava a revelar-se mais densa, vislumbrámos as primeiras cubatas feitas de paus e palha grossa. Alguns vultos andrajosos voltavam na nossa direção o inexpressivo rosto da hostilidade. Bastava aquele aparente alheamento em relação à nossa presença, para percebermos que não éramos bem-vindos. Nós éramos homens de guerra e era a guerra que carregávamos connosco, embora restasse em nós alguma reserva de inocência. A inocência dos que ainda não tinham trilhado os caminhos da infâmia.» (Ibid., pág. 56)

(...) «O sofrimento cicatriza as emoções. Cobre-as com uma casca rija, casca grossa onde a crueldade se instala. A guerra promove esta neurose, alimenta-se dela, porque só sobrevivem os mais coriáceos. É preciso pôr a humanidade de lado para fazer nascer a verdadeira natureza humana: feroz, assassina e impiedosa. O homem finalmente despido de todas as roupas civilizadas e morais, deixando à solta a sua natureza instintiva e primária, é isto que a guerra autoriza.» (Ibid., pág. 85)

(...) «Ao fim de quatro dias de combates, fomos recolhidos pelos helicópteros, e tivemos a recepção que só é concedida aos heróis. Mas todos estávamos vazios, ocos por dentro, como um saco roto. Não havia nada em nós, nem emoções, nem sentimentos, nem um traço de humanidade. Nada. Um deserto interior feito de apatia e desinteresse por tudo e por todos.

«De uma vez por todas, tinha conseguido atingir o objectivo supremo: já não ia sofrer mais com os males dos outros ou com os meus próprios, porque uma parte de mim tinha deixado de existir. A batalha deixara sobreviver uma legião de fantasmas, articulados por
fora como bonecos, mas mortos por dentro.

«No sítio da alma havia um buraco negro.» (Ibid., pág. 87)

Como se vê, ele emprega palavras como «remorso», «infâmia», «vergonha», «crueldade», etc. Todas estas palavras apontam no mesmo sentido, o da confirmação de que existiram atos que foram, no mínimo, reprováveis e de que há um arrependimento por parte do autor do livro. Existe, contudo, uma passagem, em que ele talvez procure uma desculpabilização e que eu não posso deixar passar em claro.

Nesta outra passagem, o autor ofende quem agiu de modo diferente. A passagem é a que se segue:

(...) «E aquele ser sem eira nem beira lá ia de camarada com os restantes, todos feitos da mesma massa, todos ruminando pensares que iam e vinham, desatinados. Sôfregos de atenção, sôfregos de estima, que quem ali ia não ia para ser estimado, mas para ser odiado. E temido, claro, temido como só os bravos o sabem ser. Os bravos ou os cruéis, ou ambos, porque ambos são a mesma coisa.» (Ibid., pág. 61)

É inacreditável esta frase: «Os bravos ou os cruéis, ou ambos, porque ambos são a mesma coisa.» Esta frase é um insulto aos meus maravilhosos camaradas de armas que, apesar de todos os perigos e de todas as provações por que passaram (que em nada ficaram a dever às que foram vividas pelo autor do livro), se comportaram SEMPRE como valentes seres humanos, abnegados e generosos, mesmo nas circunstâncias mais extremas. 


Ao contrário do que Rogério Pires de Carvalho afrma, os bravos não são cruéis e os cruéis não são bravos. DE MANEIRA NENHUMA! Agora sou eu que digo: «Ponto final».







Capa do livro Alenterra, de Rogério Pires de Carvalho, "Alenterra", edições Alfarroba, 2010, 96 pp.


Excerto de notícia do jornal 'on line' TInta Fresca, sobre o lançamento do livro, em Torres Novas, em 24/5/2012:

(...) O autor, nascido em Zibreira [, Torres Novas,]  nos idos de 1948 e residente em Castelo Branco, é professor, licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em literatura e cultura portuguesa pela Universidade Nova. Trabalhou na Segurança Social e foi arqueólogo no IPPAR. Alenterra constitui-se como um romance autobiográfico, centrado na Guerra Colonial, onde o trauma e a culpa definem as coordenadas da narrativa. (...)

Mais dados biobliográficos sobre o autor:

(...) encontra­‑se aposentado do ensino secundário. Entre os anos de 1969 e 1973 cumpriu o serviço militar obrigatório, tendo sido mobilizado para a região dos Dembos, em Angola.

Publicou:

- As três guerras do Mucondo (2001), Roma Editora; 

- Os funerais de dona Soledade; (2003), Roma Editora; 
- Alenterra (2010), Alfarroba Editora; 
- Histórias Parvas (2013), Fonte da Palavra Editora. (...)


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19104: Notas de leitura (1110): Os oficiais milicianos paraquedistas da FAP, volume I: os que combateram em África (1955-1974)- Um trabalho sério, rigoroso e honesto de mais de 2 anos, de José da Fonseca Barbosa, em homenagem a uma geração de portugueses que ajudaram a escrever algumas das mais belas páginas de sacrifício e abnegação da nossa história contemporânea (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72)


Capa do livro de José da Fonseca Barbosa, "Oficiais milicianos pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa: volume I: Os que combateram em África, 1955 a 1974. Porto: Fronteira do Caos, 2018, 343 pp.


Jaine Silva: leste de Angola (c. 1970/72)
1. Nota de leitura do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, natural de (residente em)  Lourinhã, preofessor de educação física, docente reformado do ensino superior politécnico, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72 [, foto à direita]


 Introdução

José da Fonseca Barbosa  fundamenta e aborda com grande seriedade e objetividade o papel dos oficiais milicianos paraquedistas que participaram na Guerra em África.

 “Dos milicianos, no geral, diz-se que ... 'não se sabe quase nada'...". Enfim, "a sua história ainda está por fazer.” (...) "Na História, são praticamente ignorados e o seu sacrifício a Pátria ignora”.  talvez porque “ quando se faz a história, são os QG que a escrevem, logo ...”

Eles, escreve ainda o autor, “estão  entre os que contribuíram para que as Tropas Paraquedistas portuguesas deixassem escritas. a letras de ouro, páginas duma história que já leva 60 anos de existência, é justo e inteiramente merecido que se refira o conjunto de oficiais Milicianos Paraquedistas”.

Alicerça o seu trabalho na pesquisa que efetuou nos arquivos das Tropas Paraquedistas, nos testemunhos de um grande número de Oficiais Milicianos que fizeram a guerra e na bibliografia disponível,  alusiva ao tema.

Na minha modesta opinião, considero a obra de José da Fonseca Barbosa  de inegável valor histórico e pedagógico, não só pela seriedade com que fundamenta e organiza a pesquisa , mas também   pelo importante contributo que dá para o estudo e compreensão do papel dos Oficiais Milicianos Paraquedistas durante a guerra colonial.  

O seu trabalho alerta ainda, por analogia, para que  o país não  esqueça  o  contributo de todos os outros oficias milicianos que serviram nos restantes Ramos das Forças Armadas Portuguesas nas três frentes da  Guerra em África. Sem o contributo dos Oficiais Milicianos, seguramente que o decisores políticos e militares não conseguiriam aguentar por tantos anos essa guerra, reconhecidamente travada “fora do  tempo histórico” em que se realizou.


Sobre o autor:

José da Fonseca Barbosa viveu em Angola  até 1975. Depois de concluir o COM na EPI (Mafra), ingressou nas tropas Paraquedistas em 7 de junho de 1976. Pertenceu ao 92.º curso de Para- quedismo,  tem o Brevet n.º 13436 e serviu nas Tropas Paraquedistas até março de 1983.

Nas Paraquedistas desempenhou várias funções nomeadamente a de instrutor militar, chefe do Centro de Treino Físico, 2.º comandante e comandante de subunidades de Apoio de Serviços, designadamente de destacamento de Apoio e Serviços de missão portuguesa na IFOR/SFOR na Bósnia Herzegovina, durante o ano de 1996.

 Do seu currículo consta, ainda: “ A sua formação militar inicial foi marcada pela influência da geração que combateu em África, pela história que construiram, pela forma como o fizeram. Do legado dos combatentes retirou luzeiros que orientaram toda a sua carreira militar.
Passou à situação de reserva em 31 de dezembro de 2002".


Sobre a obra:

O autor apresenta o seu trabalho ao longo de 343 páginas e, depois da “Dedicatória”,  “Agradecimentos” , “Introdução – Razões e Retrospetiva” e “Notas do  Autor”, desenvolve o objeto do seu estudo em seis capítulos.

Dedica o seu trabalho a todos os oficiais Milicianos Paraquedistas de ontem, de hoje e a todos os que fizeram dele soldado, paraquedista, boina verde e o acompanharam como oficial e militar e agradece a todos os paraquedistas ou não que o ajudaram a levar por diante este empreendimento.

Refere, ainda, as dificuldades  que encontrou na recolha da informação e as opções que teve de  tomar para organizar a obra e esclarece a razão por que decidiu dividir o trabalho em dois volumes:

O Volume I, referente ao período de 1955 -1974, é dedicado aos que combateram em África, perfazendo um total de 197 brevetados;   e o Volume II,  referente ao período 1975 – 1993, corresponderá  à geração pós Império, com 97 brevetados. 


Notas do autor (pp.. 11 – 14)

"A organização da informação pesquisada e recolha ao longo de 25 meses, bem como a redação do texto, são da minha responsabilidade", escreve o autor.

Alerta o leitor para não esperar encontrar na sua obra histórias, análises profundas e/ou reflexões demasiado elaboradas e muito menos juízos de valor sobre atos e atores, mas outrossim, cópias, transcrições, relatos e testemunhos feitos por quem viveu um determinado período de História das Tropas Paraquedistas com o estatuto de oficial miliciano..

A fundamentação do seu trabalho, escreve, está comprovada em todas as Ordens de Serviço (BCP/RCP/BET e BCP 21/ BCP 31/BCP 32/ BCP 12) que foram passadas página a   página  de 1956 a 1978, bem como testemunhos que recolheu e na bibliografa existente da especialidade.

Alerta o leitor, ainda, para as dificuldades que encontrou na numeração de Brevet que não coincide com o números do diploma,  as divergências que encontrou, também,  na numeração sequencial dos cursos de paraquedismo e as imprecisões quanto à data do início das Comissões de Serviço no Ultramar.


Capitulo 1 - COMO FOI (pp. 15 - 86)

No capitulo 1 o autor enumera, primeiro, por ordem cronológica, o número de cursos de paraquedismo e de oficiais milicianos participantes  desde   o primeiro curso terminado em
Alcantarilha a 15 de abril de 1955 até ao último curso em 1974.

 Na segunda parte deste capítulo o autor aborda com grande oportunidade todos as fases da formação pelas quais tiveram de percorrer  e ultrapassar os  oficiais  Miliciano paraquedista, desde as “as  razões pelas quais quiseram servir nos Paraquedistas”  até à enumeração de todos os fatores que prevaleceram até hoje e são únicos na identificação de um Paraquedista como: “Tradições ... Princípios e valores ... identidade”.


Capítulo 2 - QUEM FORAM E QUEM SÃO (pp. 87 - 181)

Para a concretização do seu trabalho José da Fonseca Barbosa, com os condicionalismos que encontrou e  mencionou na sua “Introdução”, apresenta os testemunhos recolhidos entre alguns dos milicianos, concretamente: “o que nos dizem alguns dos que deram o seu testemunho escrito
individualizando (...), o que fizeram/ fazem depois de cumprido o serviço militar como oficiais milicianos.”

Para além de um quadro síntese, analisa individualmente o percurso de vida de cada um por curso, terminando com as fotografias (rostos com nome) e a lista nominal.


Capítulo 3 - O QUE FIZEERAM E COMO FIZERAM ( pp. 183 - 234)

O autor introduz o capítulo com um subtítulo bem a propósito - Uma História por fazer? - e afirma: “Dos milicianos, no geral, diz-se que ... não se sabe quase nada...”

Ao longo do capítulo descreve as “funções desempenhadas” pelos milicianos (para além de comandantes de pelotão), enumera em cada ano, a partir de 1961, “Quem e Quando Foram” prestar serviço em cada uma das Unidades no Ultramar e “O papel que tiveram na guerra” e termina com a lista de “Aqueles, que pelos ilustres feitos foram condecorados”


Capítulo 4 - IMAGENS DE UM TEMPO PASSADO (pp. 235 - 315)

Neste capítulo o autor dá a palavra às imagens. Durante 80 páginas documenta, numa primeira parte, com uma sequência fotográfica as várias etapas da formação de um paraquedista, evocando nas restantes, figuras e nomes de muitos dos milicianos que contribuíram para a história dos paraquedistas.


Capítulo 5 – O BALANÇO FEITO (pp. 317 - 331)

O autor, através do testemunho de alguns milicianos,  faz o balanço do que foram aqueles anos vividos há meio século para alguns e dezenas de anos para outros.

Termina o seu trabalho com um voto.

“Voto a fechar: Que os atuais e vindouros Oficiais Milicianos Para-quedistas saibam aproveitar o melhor que lhes foi legado e que sejam dignos descendentes e continuadores da obra dessa plêiade de homens que ajudaram a escrever das mais belas histórias de sacrifício e abnegação da nossa História Contemporânea.”


Jaime Silva
CAPÍTULO 6 - AQUELES QUE PELO “LAJEDO DO SACRIFÍCIO”, POR LÁ SEQUEDARAM.

Em África tombaram seis: Três na Guiné, dois em Angola e um em Moçambique.


Jaime Silva

[Cumpriu o Serviço Militar Obrigatório nas Tropas Paraquedistas como Oficial Miliciano, sendo mobilizado para uma comissão de serviço em Angola no BCP 21 (1970/1972); tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue, foto atual à esquerda]