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quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27249: As nossas geografias emocionais (58): A Pousada do Saltinho ou "Clube de Caça", com ar de abandono, em maio de 2025 (João Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã", Cumbijã, 1972/74)



Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Antiga Pousada do Saltinho > Maio de 2025 > Quando por lá passou, há  4 meses, o João Reis deparou-se com este espetáculo deprimente... Ele era cliente desta unidade hoteleira desde que começou a ir à Guiné-Bissau, a partir de março de 2017. Encerrou, não se sabe porquê...



Foto nº  2> Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Maio de 2025 > : Rápidos do Saltinho, uma das sete maravilhas do país.


Foto nº 3 >Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho, quartos (antigas isntalações de oficiais)... Diz o Paulo Santigao, que lá ficou em 2005, que eram quartos com casa de banho privativa e ar condicionado.


Foto nº 4 >Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho, antigo bar e messe de oficiais.


Foto nº 5 > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 28 de março de 2019  > Pousada do Saltinho, antigo bar e messe de oficiais > Nas paredes inscrições de clientes, como o nosso camarada Silvério Lobo, de Matosinhos, que lá ficava todos os anos, até à pandemia... O João Melo, na foto, também lá deixou a sua assinatur, em 28/3/2019.


Foto nº 6 > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho > "Boutique do Hotel" (inscrição na parede)


Foto nº 7  > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2019  > Pousadfa do Saktinho > Viosta sobre o início da Ponte e o rio Corubal


Foto nº 8 > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 26 de março de 2017  > Rápidos de Cusselinta


Foto nº 9 > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho > Emblema  da CCAÇ 2701 (1970/72)...


Fotos  nº 10 e 11  > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho > Emblemas  da CCAÇ 2406 (19689/70) e CCAÇ 3490 (1971/74)


Foto  nº 12  > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho > Monumento aos mortos da  CCAÇ 2406, "Os Tigres do Saltinho" (1968/70) e do Pel Çacç Nat 53 (1966/74)


Foto nº 13  > Guiné -Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > 25 de março de 2017  > Pousada do Saltinho > Monumento aos mortos:

  • CCAÇ 2406 / BCAÇ  2852 (1968/70): fur mil at inf Manuel F. S. Paulino  | sold at inf António B. Ferreira | sold  at inf Camilo R. Paiva | sold at inf Nelson M. João | sold António Teixeira | sold at inf Fernando P. Sequeira | sold at ifn Fernando S. Azevedo | sold at inf  Amílcar A. Domimgues;
  • Pel Caç Nat 53 (1972/74):  1º cabo  Fernando A. Alves C (?)

Fotos (e legendas): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Na sua última viagem à Guinau-Bissau, em maio deste ano, a caminho do Cumbijã, o João Melo passou pelo Saltinho e deixou, na página do seu Facebbok (quinta feira, 31 de juhio de 2025, 12:56) uma emotiva recordação da Pousada do Saltinho, que ele encontrou fechada e com ar de abandono (*). 

Este unidade hoteleira era local de paragem  obrigatória para quem visitava a Guiné-Bissau e ia a caminho do Sul, região de Tombali (Quebo, etc.) mas também de Quínara (Buba, etc.). Eu próprio estive lá em 1/3/2008, a caminho de Guileje, no âmbito do programa social do Simpósio Internacionald e Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008) (**) 


Recorde-se que o João Melo (ou João Reis de Melo) foi 1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74).  É profissional de seguros, vive em Alquerubim, Albergaria-a-Velha. Integra a Tabanca Grande desde 2009.

 
"Retalhos de uma passagem pela Guiné-Bissau" > Saltinho

por João Melo


Saltinho é, para quem foi militar e cumpriu o Serviço Militar Obrigatório na Guiné, um local onde existia um aquartelamento de militares portugueses que, além de patrulharem toda aquela área envolvente, faziam segurança à ponte General Craveiro Lopes (inaugurada no dia 8 de maio de 1955, pelo próprio, que era entáo preasidente da República),  e que une as margens do Rio Corubal entre as regiões de Bafatá, a norte, Quínara, a Oeste, e Tombali, a sul.

Saltinho, ou melhor os rápidos de Saltinho e Cusselinta, proporcionam uma paisagem de uma beleza invulgar e que são,  na verdade, várias piscinas naturais que se formam naturalmente no rio Corubal, com rápidos de rio que fazem minicascatas e zonas rochosas que formam piscinas naturais com uma temperatura muito convidativa e das quais já tive o privilégio de usufruir.

A zona onde fica a praia de Cusselinta, para além das piscinas naturais, tem uma belíssima praia de areia branca e muita tranquilidade que convida a que nos aventuremos num banho nessas águas,  caso se seja um nadador razoavelmente bom e sempre com companhia por perto.

Saltinho fica na Região de Bafatá e dista 175 Km da capital, Bissau. Mas o Saltinho, para todos aqueles antigos militares e amantes de caça que após a independência de 1974 para lá iam ou por lá passavam em visita aos locais onde estiveram em campanha, Saltinho era muito mais que isso! 

As antigas instalações militares que, entretanto, foram cuidadosamente mantidas e recuperadas para que servissem de apoio como “Pousada” aos caçadores que muito a solicitavam,  proporcionava também uma agradável paragem para uma boa refeição e descanso para posteriormente se seguir viagem. 

Fiz isso várias vezes e sempre com muito prazer. Existiu inclusive uma situação caricata – creio que em 2017 – quando seguia em mais uma jornada de “voluntarismo” para as Escolas de Cumbijã e a bordo do jipe do grande amigo Patrício Ribeiro. 

Estávamos sensivelmente a atravessar Matu du Cão, fiz um telefonema para a Pousada de Saltinho a avisar que tencionávamos almoçar lá e que poderiam contar com 6 pessoas. O diálogo, foi sensivelmente este:

– Bom dia! Estamos com intenção de aí ir almoçar. Pode ser?

 
– Está bem. E o que é que pretendem comer?

– O que é que poderá ser?

– Pode ser porco do mato. Serve?

– Certo. Pode ser.

Seguimos viagem já a “salivar”, a pensar nm o “banquete” que nos aguardaria. Como naquela altura as comunicações telefónicas estavam bem piores que hoje, pois eram poucos os locais onde se poderia ter rede telefónica, seguimos viagem e, quando estávamos a chegar a Bambadinca, o telefone toca e era da Pousada do Saltinho:

– Está? É que já tentámos ligar várias vezes, mas não deviam ter rede, e tínhamos que avisar de uma coisa…

– O quê?

–  É que mandámos o caçador para ir caçar um javali e ele não encontrou nenhum, mas abateu uma gazela. Podemos servir bifes de gazela???

– Claro que sim!...

Resumindo, foi uma gargalhada geral porque chegámos à conclusão de que o menu dependia muito mais da ocasião do que o pré-estabelecido!... O que foi ótimo!!! 

À chegada, lá estavam os deliciosos bifes de gazela,  acompanhados por arroz e batata frita. e, como “salada” umas belas travessas de mangos cortados às fatias. 

Para acompanhar,  e mediante a vontade de cada um, foram servidos (passe a publicidade) vinho branco verde Três Marias e umas cervejas Sagres geladinhas…

Mas… voltando à Pousada de Saltinho, quando lá passei em maio último, após várias tentativas de os contactar telefonicamente sem o conseguir, para avisar da nossa chegada, quando lá chegámos foi com muita tristeza que deparámos com as instalações abandonadas e já tomadas pelo mato!... 

Em resumo, aquele “oásis” com que podíamos contar, já foi tomado pela natureza e, com isso, nos privou de um apoio com que já contávamos.

Seria muito bom que aparecesse alguém com iniciativa hoteleira que pudesse reabrir aquele ícone do tirsmo da Guiné-Bissau que tanta falta nos faz…

Ficamos a aguardar por melhores dias… Seguem algumas fotos do “hoje” e do “ontem”…

(Revisão / fixação de texto, título: LG)


2. A Pousada do Saltinho - Caça e Pesca (também conhecida em 2008 como "Clube de Caça") pertence/pertencia a (ou é/era explorada por) uma empresa portuguesa, com sede em Loures, ACP - Artigos de Caça e Pesca Lda. O seu "site" já não está disponível (fomos recuperálo attarvésw do Arquivo.pt)


Não sabemos a história desta unidade hoteleira, que ocupou e recuperou as antigas instalações militares do Saltinho, e por onde passaram subunidades como a CCAÇ 2406, o Pel Caç Nat 53 (do nosso Paulo Salganho), a CCAÇ 2701, a CCAÇ 3490... 

Contactámos, hoje de manhã,  a empresa ACP - Artigos de Caça e Pesca, Lda. A resposta que nos foi  dada é que a gerência quer reabrir a Pousada do Saltinho lá para fevereiro de 2026...A pessoa com quem falei, confirmou que as instalações estar com um ar de abandono, ams o sequipamentios (ar condicionado, etc.) estão operacionais... Oxalá que sim.

No antigo "site", podia ler-se que "em 1997 a empresa foi constituída, dando seguimento ao que muitos já conheciam por Espingardaria de Loures, Loja de Comércio de Artigos de Caça, fundada por Fernando Caetano em 1981."







Pelo vi na sua página, a Pousada está aberta no tempo seco (entre 1 de fevereiro e 30 de junho). Reproduz-se abaixo o texto promocional (a título meramente informatrivo):


Entre 1 de Fevereiro e 30 de Junho venha caçar connosco!


A POUSADA DO SALTINHO, unidade Hoteleira situada a sul de Guiné Bissau a 50m do Rio Curbal (sic), onde se pode desfrutar de um ambiente calmo e paradisíaco, com Quedas de Água onde se pratica o Jakusi (sic) natural e se desfruta de uma paisagem deslumbrante com todos os atributos que caracterizam o Continente Africano.

Este complexo foi criado para que todas as expectativas dos nossos visitantes sejam correspondidas e o tempo passado na Pousada provoque o desejo de regressar.

Nesta Pousada contamos com habitações equipadas de casa de banho e ar condicionado, restaurante (com refeições típicas do País e típicas da cozinha portuguesa), Bar e esplanada com serviço de Bar.

Actividdes (Passeios e caçadas)

Passeio Fotográfico

Passeio fotográfico onde se poderá ver várias espécies de animais como os flamingos, piriquitos e muitas outras espécies em estado selvagem, sempre acompanhado de um fundo paisagístico fascinante. A cultura e o conhecimento de cada visitante é engradecido ao contactar com os Nativos e conhecer diferentes Etnias e formas de vida muito próprias.Pesca

Para os amantes da pesca, propomos jornadas de pesca tanto no Rio Curbal, como no Rio Grande de Buba e a mais fascinante oportunidade de pescar no Mar dos Bijagos onde se pode pescar entre outras espécies:
  • Lírios
  • Garopas
  • Barracudas
  • Espadartes
  • Pargos

Os transportes são assegurados em veículos todo-o-terreno e todos os grupos são livres de expôr as suas ideias relativamente à vontade de conhecer ou recordar, sendo devidamente acompanhados nas suas visitas.

Caça menor:

Propomo-nos a efectuar jornadas de caça memoráveis.
  • Rolas (diferentes tipos)
  • Chocas "Perdizes"
  • Pombos verdes

Caça Maior:

Caça maior de perseguição com guia qualificado que tem como principais presas:
  • Gazelas
  • Hienas
  • Fococheros
  • Porcos Espinhos
  • Cabras de Mato
  • Lebres
(Não há indicação de preços)

____________________

Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 16 de agosto de 2025> Guiné 61/74 - P27123: As nossas geografias emocionais (57): EUA, Flórida, Key West: passei à porta do José Belo, meu camarada (António Graça de Abreu, Cascais)

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26977: O segredo de... (50): uma recordação que ainda hoje me persegue: fiquei com fama de ter agredido um 1º cabo, "branco" da CCAÇ 2701 (e para mais meu conterrâneo de Águeda) para defender a honra de uma "preta" (mulher de um soldado meu, do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72) (Paulo Santiago)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Saltinho >O crachá da CCAÇ 2701, "Os 3 SSS" (Saltinho, 1970/72)., comandada pelo cap inf Carlos T. Clemente.  Cortesia de Paulo Santiago.



1. Mensagem do Paulo Santiago, ex-alf mil inf,  cmdt Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1971/73) (é um histórico da nossa Tabanca Grande, tem já cercad 2 centenas de referências desde 22/6/2006).


Data - quarta, 2 de julho de 2025, 18:22

Assunto - Recordação que me incomoda de tempos a tempos


Luis,

Estes últimos textos sobre os "filhos do vento" vieram acordar uma mágoa com 54 anos.

Foi em julho de 1971, viria de férias em agosto,encontrava-me no bar após o jantar quando o meu soldado Mamadú Baldé entra transtornado.

- Alferes, o nosso cabo Manuel C... tentou abusar da minha mulher, agrediu-a.

Fiquei de cabeça perdida, ficaria sempre aqui com a agravante de o Manuel C... ser meu conterrâneo, da mesma freguesia.

Procurei o abusador e, quando o encontrei, dei-lhe uma carga de pancada.

Escapou-se para o abrigo onde foi buscar a G3. Teve azar,entretanto vieram outros elementos do Pel Caç Nat 53, detiraram-lhe a arma e levou mais uns murros.

O Manuel C... desapareceu nessa noite em direcção desconhecida. Apareceu passados três dias.

O Cap inf Carlos T. Clemente, cmdt da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72), mandou formar a companhia e disse ao cabo Manuel C... para dizer onde tinha andado e qual fora a intenção ao fugir.

Fugira com intenção de ir para a República da Guiné mas tivera receio de cair nalguma armadilha ou mina, e não se tinha afastado muito do quartel e do rio Corubal. Comera umas folhas e bebera água do rio.

Este cabo, da CCAÇ 2701,  tinha a especialidade de atirador mas não saía para o mato,estava na arrecadação de material de guerra com um 2º sargento.

Quando chegou ao fim da explicação dos três dias de ausência,diz o Clemente:

- O alferes Santiago vai decidir qual a punição a dar-te.

Fiquei lixado. Eu, conterrâneo do abusador, que também estava para vir de férias, é que ia decidir a punição.

Claro que o Manuel C... ficou sem o castigo merecido.

Apesar da ausência de punição, fiquei, à data, com a fama de ter agredido um conterrâneo para defender uma preta.

Acrescento: o tipo está num país da América do Sul, e os familiares "rezam" para que ele não venha a Portugal porque da única vez que veio, houve graves problemas.

O Manuel C... devia ter levado uma "porrada", não levou, e ainda hoje, quando me lembro, fico incomodado.

Paulo Santiago

PS - Luís, fica ao teu critério, publicar ou não.


2. Comentário do editor LG:



Paulo, obrigado pela confiança que depositas no blogue, na pessoa do seu editor, e teu velho amigo e camarada. Decidi partilhar o teu "segredo", por uma mão cheia de razões:

(i) não éramos meninos de coro;

(ii) este caso e o seu desfecho são exemplares e merecem ser conhecidos;

(iii) que fique claro: houve casos de violação (ou de tentativa de violação) de mulheres da população civil (e também de prisioneiras) no TO da Guiné; muitos ou poucos, não sabemos, não há estatísticas; houve casos, como em todas as guerras;

(iv) na guerra não vale tudo, e o exército português tinha princípios e valores;

(iv) este caso envolveu um graduado (1º cabo) d CCAÇ 2701, " branco" (e por sinal teu conterrâneo) e a mulher de um teu soldado, do recrutamento local, do Pel Caç Nat 53;

(v) houve violência (física), não chegou a haver violação; o que não atenua a gravidade do comportamento do teu subordinado;

(vi) tu eras comandante operacional de um subunidade, adida ao CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72);

(vii) com estrito respeito pela hierarquia, o cap inf Carlos T. Clemente (hoje cor ref), não quis fazer o "by pass", isto é, quebrar a unidade comando-controlo;

(viii) não podias deixar de agir, sob pena de perderes a autoridade e o respeito dos teus homens;

(ix) e agiste à boa maneira da malta de cavalaria e dos paraquedistas: uns bons murros valiam mais, naquele contexto, do que uma "porrada" averbada na caderneta militar (não faço juízos de valor nem discuto se, face ao RDM, tinhas outras alternativas);

(x) podia ter ficado cara a tua atitude lúcida e corajosa: o cabo "abusador" foi buscar a G3 com intenções malévolas (talvez de "vingança"); foi felizmente desarmado e, em desespero de causa, decidiu desertar; cobardolas e arrependido, voltou para o quartel ao 3º dia;

(xi) a lição que tu lhe deste, não sabemos se ficou para a vida; mas 1º cabo Manuel C... deveria ter-te ficado agradecido por não quereres vê-lo embrulhado numa folha de papel selado; se o caso chegasse ao com-chefe, o gen Spínola, o teu homem nem saberia de que terra era;

(xii) o caso foi público e notório (agressão a um elemento civil, insucordinação e tentativa de deserção), mas mesmo assim omiste o seu apelido, como de resto mandam as nossas regras editoriais;

(xiii) espero que ele, algures, na América Latina, ainda te possa ler, e mostrar, memso que tardiamente, arrependimento e gratidão (neste caso, pelo teu sentido de justiça);

(xiv) e, por fim e não menos importante, deves sentir orgulho, mesmo ao fim destes 54 anos (!), de não teres cedido à tentação do "nacional-porreirismo" e teres sabido defender a honra de uma mulher (para mais, mulher de um soldado teu), de acordo com o nosso código de ética como militares;

(xv) mais do que "oficial e cavalheiro", soubeste respeitar a tua consciência e honrar a tua farda!

...De qualquer modo, Paulo, e como já aqui temos dito, nesta série "O segredo de...",  há vítimas nem lugar para a vitimização, não há heróis nem vilóes... Em contrapartida, também não consentimos que camaradas insultem outros camaradas, seja a que pretexto for (e, muito menos, na sequência da revelação de um "segredo", seja qual for o seu conteúdo).  

Uns e outros teremos de ser razoáveis e tolerantes, dois exercícios (o da razoabilidade e o da tolerância) que nem sempre não fáceis... Esta série funciona como um verdadeiro... "confessionário". E ir ao "confessionário" é, antes de mais, "desabafar" sem receio de ser criticado (e muito menos  crucificado na praça pública). Vir aqui dar a cara e contar um "segredo" também é um ato de coragem.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25681: 20º aniversário do nosso blogue (16): Alguns dos melhores postes de sempre (XI): na noite de 22 de junho de 1968, há 56 anos, Contabane transformou-se no inferno - Parte I: a versão de Manuel Traquina (ex-fur mil mec auto, CCAÇ 2382, Buba, 1968/70)




Guiné > Região de Tombali > Contabane > CCAÇ 2382 (1968/70) > Malta da CCAÇ 2382 instalada nma monumental bagabaga (candidato ao concurso O Melhor Bagabaga da Guiné...), nas proximidades de Contabane, uma tabanca e destacamento destruídos na sequência do ataque, de três horas, levado a cabo pelo PAIGC em 22 de junho de 1968.

Contabane foi então abandonado pelas NT e pela população. Mais tarde será feito um reordenamento, mesmo frente ao Saltinho. Por lá passou o nosso camarada Paulo Santiago, quando foi comandante Pel Caç Nat 53 (1970/72). A povoação hoje chama-se Sinchã Sambel.

Foto (e legenda): © Manuel Traquina (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar): Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guião da CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70), "Por picadas nunca estradas, por estradas nunca picadas"... Um trocadilho bem achado..., ó Zé do Olho Vivo!




1. O Manuel Batista Traquina,
  "ribatejano, escritor e fadista", com vivências ang0lanas, ex-fur mil mec auto, da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70) vive em Abrantes, onde nasceu em 1945.  [foto de 2008 à equerda].   

Podia ter sido apanhado à unha. Ou até ter sido morto. Teve sorte: esteve lá nesse pavoroso ataque a Contabane, em 22 de junho de 1968, e relatou-nos o essencial do que viu e viveu, no seu livro "Os Tempos de Guerra: de Abrantes à Guiné"   (Abrantes, editora Palha de Abrantes, 2009. ISBN 978-972-98796-6-1,228 pp.). A CECA (Comissão para o Estudo das Companhas de África) não faz qualquer referência a este ataque, que reduziu a cinzas Contabane que era até então um importante tampão fula (eixo Contabane - Aldeia Formosa), contra a fúria do PAIGC na região do Forreá.

Beja Santos
e Hermínio Marques

Este episódio de guerra foi recentemente evocado aqui pelo Beja Santos que, no passado dia 17, foi abordado pelo Hermínio Marques, antigo sold cond da CCAÇ 2382, o qual lhe contou como perdeu tod0s os seus haveres há 56 anos, em Contabane.

Ambos estava de passagem pela ilha de Santa Maria. O Hermínio Marques, que vive na América, casado com uma açoriana, reconheceu, no Hotel, o Beja Santos, sendo visita assídua do nosso blogue! (*).


Vamos convidar o Hermínio, que já nos escreveu, a juntar-se a esta tertúlia que é a Tabanca Grande, e onde já cá estão alguns bravos da CCAÇ 2382, a companhia do Zé do Olho Vivo, como o Manuel Traquina, o Carlos Nery, o José Manuel Cancela, o Alberto Ferreira, 
o padeiro, também conhecido por "Geada").



O Ataque a Contabane (**)

por Manuel Traquina

Era o dia 22 de Junho daquele ano de 1968, a Companhia estava na Guiné havia pouco mais de um mês e, ao ser deslocada para a região de Aldeia Formosa, (Quebo) dois pelotões fixaram-se em Mampatá, os restantes bem como o Comando foram deslocados para a aldeia de Contabane. 

Ali parecia respirar-se a paz, a população era numerosa e bastante acolhedora, e como habitual faziam-se alguns patrulhamentos na região, que ficava a poucos quilómetros da fronteira com a Guiné-Conákri.

Naquela aldeia os militares acomodavam-se nas próprias moranças cedidas pelo chefe da Tabanca. À volta da aldeia tinham sido abertos no terreno algumas valas e abrigos, além de duas fiadas de arame farpado. 

Tudo parecia correr dentro da normalidade, naquela tarde eu próprio com mais quatro militares saímos no Unimog a buscar água do poço que se localizava a curta distância.

Porém, já próximo do anoitecer, um dos elementos nativos que connosco efetuavam um patrulhamento, pisou um engenho explosivo, que lhe deixou um pé seriamente afectado. Este foi o primeiro sinal de que toda aquela paz não era real, o grupo recolheu à aldeia/aquartelamento, era a hora de jantar e na improvisada enfermaria o furriel enfermeiro Chambel com grande dificuldade, tentava encontrar uma veia onde pudesse administrar algum soro ao militar milícia, que com um pé decepado tinha perdido muito sangue.

Entretanto o sargento João Boiça, apercebendo-se da situação, corria de uma ponta à outra da aldeia, não parava de alertar todos para que de imediato se deslocassem para os abrigos, talvez ao tomar esta medida tenha evitado algumas mortes.

Tinha anoitecido e, de repente,  algumas explosões deram inicio a um ataque que se ia prolongar por cerca de três horas, as balas incendiarias atravessavam a palha que servia de cobertura à morança onde o ferido começava a receber o soro. Disse ao Chambel e ao Coelho que tínhamos que sair daqui imediatamente com o ferido, porém ele, já mais endurecido pela guerra, reunindo as suas débeis forças arrastou-se até á porta e, no escuro,  sem que nos apercebesse-mos desapareceu rastejando, só na manhã seguinte o voltámos a ver, quando da chegada do helicóptero que o evacuou bem como a outros feridos.

Foram cerca de três horas de bombardeamentos em que a aldeia reduzida a cinzas mais parecia um inferno. Mo final foi uma forte trovoada que, transformou a cinza em lama, onde quase não havia onde nos abrigar. 

Não tenho dúvidas de que nós,  os militares,  que naquela tarde fomos à água, pasámos muito perto do local onde o inimigo preparava o ataque e só não fomos feitos prisioneiros porque o objetivo era o ataque. 

Apesar do grande aparato e grande potencial de fogo, sofremos apenas três feridos,  dois dos quais de maior gravidade. Porém, quase todo o património da companhia ali ficou reduzido a cinza, os rádios, os géneros alimentícios, o equipamento de enfermagem, tudo ali ficou carbonizado, grande parte dos militares ficaram apenas com a roupa que tinham vestida. 

Na manhã seguinte um helicóptero evacuou os feridos, alguns militares apressaram-se a escrever um ou outro aerograma meio queimado e enlameado que foi entregue ao piloto do helicóptero, era a parte psicológica a funcionar, pretendiam partilhar aquele momento de desânimo com alguém do coração.

Contabane foi totalmente evacuada de população e militares, saímos dali moralmente destroçados, alguns apenas de calções, sapatilhas e a sua G3, mas vivos para suportar muitos outros ataques e emboscadas durante os vinte e dois meses que se seguiram. 

Já no termo da comissão viemos encontrar na cidade de Bissau o milícia que, ao pisar a armadilha,  foi amputado de um pé, e que naquela cidade tentava sobrevier como engraxador de sapatos.

Neste agora passado dia 22 de junho de 2008, ao completarem-se quarenta anos sobre este ataque, quero homenagear os dois camaradas mortos,  não neste ataque, mas noutros que se seguiram, furriel Ramiro de Sousa Duarte e o soldado Elidio Fidalgo Rodrigues, pertencentes a esta Companhia.

 Quero também saudar todos os militares da CCAÇ 2382, estou convencido que todos os que viveram este acontecimento o recordam e jamais esquecerão aquelas horas difíceis ali vividas. (***)

Manuel Batista Traquina
Ex-Fur Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)


Guiné > Região de Tombali > Carta de Contabane (1959 > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Contabane, a sul de Saltinho e do rio Corubal, a caminho da fronteira... A nordeste, Quirafo, também de trágica memória para as NT (abril de 1972).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  22 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25674: (De) Caras (209): Hermínio Marques, ex-Soldado Condutor da CCAÇ 2382: "Vou contar-lhe como perdi as minhas coisas em Contabane" (Mário Beja Santos)



Vd.poste anterior: 4 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25476: 20.º aniversário do nosso blogue (14): Alguns dos melhores postes de sempre (X): O fatídico dia 12 de outubro de 1970: a emboscada de Infandre, Zona Oeste, Setor 04 (Mansoa) (Afonso Sousa, ex-fur mil trms, CART 2412, 1968/70)

quinta-feira, 25 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24339: Tugas, pocos pero locos: algumas das nossas operações temerárias (2): Op Gavião (Madina / Belel, 4-6 de abril de 1968): 300 homens desbaratados pelas abelhas, armas extraviadas, um cadáver abandonado, um homem perdido, etc.


Cracá do Pel Caç Nat 52 (1966/1974), "Os Gaviões". Divisa: "Matar ou morrer"


Operação Gavião (Madina / Belel, 4-6 de Abril de 1968)  

1. Todos os anos, pela época seca, de preferência entre março e abril, o comando do batalhão sediado em Bambadinca, Sector L1, zona leste, região de Bafatá, mandava uma força de cerca de 300 homens à procura do acampamento IN do Enxalé, algures na península de Madina / Belel, mesmo já no limite do Sector, a sudeste da base de Sara.  Por aqui o IN e a população sob o seu controlo viviam com relativa tranquilidade, só sendo importunados por alguma incursão de tropas helitransportadas ou pelos bombardeamentos da FAP. A ida a Madina / Belel era quase sempre azarada: em geral as NT levavam prisioneiros que serviam de guias, e que procuravam ludibriar as NT, "perdendo-se" propositadamente ou tentando inclusive a fuga (como aconteceu, por exemplo, na Op Anda Cá, 22 e 23 de fevereiro de 1968) (*), 

Todos os anos aconteciam erros de planeamento, guias que se perdiam, itinerários mal escolhidos, PCV (antes da época do Strela...) que denunciavam a presença das NT, falhas no abastecimento de água, progressão para o objectivo a horas proibidas, confusão de (ou chegada tardia aos objetivos), flagelações do IN, tabancas abandonadas e queimadas, casos de exaustão, insolação e  desidratação, indisciplina de fogo, ataques de abelhas, debandada geral, perda de armas e muniçóes, e até de homens, regresso dramático ao Enxalé com viaturas a sair até São Belchior para transportar os mais "desgraçados", tentatativa de recuperação, no dia seguinte, do material perdidos… e, claro, relatórios por vezes fantasiosos, pouco rigorosos, etc....

Em 1968 (Op Gavião), aconteceram também estas coisas, próprias de uma guerra de contraguerrilha, num terreno inóspito para muitas das tropas portuguesas... É também caso para dizer, "tugas pocos pero locos" (**).

2.  Op Gavião: Desenrolar da acção

Iniciada no dia 4 de abril de 1968, às 18h00, com a duração de 3 dias, tinha como finalidade excutar uma acção ofensiva na mata de Belel, começando por um golpe de mão ao acampamento IN  do Enxalé. 

Forças ( c. 300 homens) que tomaram parte na operação:

(i) Cmdt: 2º cmdt BART 1904;

(ii)  Destacamento A: CART 2338 a 4 Gr Com + Pel Caç Nat 52;

(iii) Destacamento B: CART 2339, a 4 Gr Comb + Pel Caç Nat 53


Destacamento A

O Pel Caç Nat 52 deslocou-se de Missirá para a região de Aldeia do Cuorno dia 4 de abril de 1968, às 15h00, onde se instalou protegendo a cambança das restantes forças do Destacamento (CART 2338), cambança essa que foi efectuadas às 18h45 do mesmo dia.

Uma vez completo o Destacamemnto, as NT iniciaram a marcha para Missirá, tendo pernoitado um pouco antes de o atingir, pelas 22h00. 

Reiniciaram o movimento no dia 5, às 5h30, utilizando um guia natural de Missirá, ao qual foi acordado e indicado qual o serviço a desempenhar só pouco antes do início do movimento, por razões de sigilo e segurança.

Ao fim  da tarde do dia 5 atingiu um ponto cerca de 1 km atrás do local previsto onde pernoitou.

Reiniciado o movimento no dia 6, pelas 5h30, foi detectado um sentinela por volta das 7h30. Começou então a instação de 3 Gr Comb para proteger o ataque dos outros dois grupos. 

Entretanto a sentinela detectou as NT e fugiu. Passados poucos minutos o IN emboscou as NT com LGFog e armas automáticas
Zacarias Saiegh, mais tarde,
na 1ª CCmds Africanos,
como  tenente graduado
'comando'

Com o Pel Caç Nat 52 à frente, impulsionado pelo seu comandante, o fur mil Zacarias Saiegh, que demonstrou um sangue frio, decisão e temeridade  dignos de serem apontados, reagiu à emboscada,  perseguindo o IN durante cerca de 1,5 km. 

Deparou nessa altura com a tabanca de Belel que imediatamente atacou e destruiu totalmente, tabanca essa que tinha sido abandonada recentememnte, e que tinha 25 palhotas. Foram destruídos ainda um tanque de água e uma horta grande.

Aquando da  destruição da tabanca pelo fogo, foram ouvidos uns rebentamentos muito fortes, o que levou a concluir tratar-se de um pequeno paiol.

Entretanto, o PCV infornou o Destacamento A que o objetivo destruído era o objectivo do Dest B e deu ordens para reiniciar o regresso para o local previsto onde se devia emboscar durante a acção do Dest B, o que foi cumprido,

Ao chegar ao local previsto, encontrou-se com o outro Dest, que já tinha destruído o objetivo deste Dest (B), e acabava de sofrer um ataque de abelhas que tinha provocado uma grande desorganziação. 

Tendo então recebido ordem do PCV para iniciar o regresso da operação, acordou com o Dest B que seguisse este na frente por já conhecer o caminho. Entretanto, ao iniciar o movimenmto depois da preparação das macas improvisadas para o transporte dos elementos mais atingidos pelo ataque das abelhas, o que demorou um certo tempo, foram emboscados novamente por forças do IN, tendo sido pedido então apoio aéreo, o que foi recusado pelo PCV.

Foi reiniciado o movimento com algumas paragens motivadas por flagelações do IN, com armas automáticas, e mais dois ataques de abelhas na margem do Rio Gandurandim, o que provocou nova desorganização nos Destacamentos. 

Por fim foi atingida a estrada Finete-Enxalé, sendo o Destacamemto recolhido em viaturas em São Belchior, atingindo o Enxalé no dia 6, às 18h30.

Aí, mais tarde, foi constatado o desaparecimento de uma praça metropolitana pelo que o cmdt do Destacamento A resolveu  na madrugada seguinte ir à sua procura, não tendo sido necessário por a praça ter aparecido no Enxalé no dia 7, às 6h00.

Iniciou-se a cambança do Rio Geba para o Xime, e daí, em viaturas, iniciou-se o movimento para Fá que foi atingida no dia 8, às 15h00.

Constatou-se que, durante o ataque de abelhas, duas praças perderam as armas, pelo que o Cmdt do BART ordenou a ida de 1 Gr Comb deste Dest, e um do Dest B no dia seguinte, 8, às 5h00 ao local,  a fim de recuperar as referidas armas, o que foi conseguido. A força regerssou ao quartel em 8, às 20h00.

Destacamento B

A CART 2339 iniciou o seu movimento, em meios auto, no dia 5, às 15h00, de Fá para o Xime onde agregou o Pel Caç Nat 53. Iniciou a cambança do Rio Geba pelas 18h00, recebeu no Enxalé dois guias e iniciou a marcha pelo itinerário previsto, tendo atingido o local a norte de Madina onde se devia instalar, no dia 6, às 7h00, após alguma hesitações ("exitações", no originnal) dos guias,

Cerca das 9h00, o PCV informou que o Dest A tinha já destruído a tabanca de Belel e ordenou que se iniciasse o movimento pelo trilho Mandina-Belel, a fim de iniciar a batida à zona a sul do referido trilho.

Durante o deslocamento foi detectado o acampamento de Enxalé. que imediatamente foi atacado e destruído, sem resistência, verificando-se que tinha sido abandonado há pouco tempo. O objectivo tinha 8 palhotas, e forma capturadas 1 espingarda Mauser, 2 marmitas, 1 granada de RPG, e alguns documentos.

Aquando da destruição pelo fogo, foram ouvidos rebentamentos de munições de armas ligeiras e granadas de RPG.

Entretanto, os elementos do Dest instalados, quando se procedia ao assalto, foram atacados pela abelhas, o que provocou uma desorganiozaçáo grande, e pôs 2 homens em estado grave, que não permitiu que se deslocassem pelos seus meios.  

Devido ainda a esse ataque de abelhas, no seu movimento desordenado o Dest encontrou-se com o Dest A instalado no local previsto.

Nessa altura e como havia uma linha de água perto, 3 elementoso do Pel Caç Nat 53, sem autorização, deslocaram-se para se reabastecerem de água. Foram atacados pelo IN tendo sido abatido o soldado milícia 60/64, Tura Jau, e tendo o IN capaturado a sua arma, espingarda G3 nº 035786.

Acorrendo imediatamente ao local, repeliu-se o IN e recuperou-se o corpo  do referido mílicia.

Como o PCV informara que ía Bissau abastecer, foi pedido pela rede de operação a evacuação dos elementos feridos e do morto. Entretanto, ao chegar o PCV, foi pedida novamente a evacuação, tendo o mesmo  determinado que não houvesse evacuações, após se ter inteirado que os feridos picados pelas anelhas estavam a recuperar, e ter decidido o regresso ao quartéis em face dos objectivos previstos terem sido destruídos, o terreno a sul da picada onde nos encontrávamos estar queimado e não havendo possibilidade de se esconderem instalações do IN e ainda pelo facto do Dest GAMA (BCAÇ 1912) não se ter instalado no local previsto para proteger a acção deste Dest.

Por lapso que se explica pelas circunstâncias de momento, o PCV não foi informado que já tinha sido pedida a evacuação pela rede de operações, o que provocou a vinda do héli a Bambadinca, não sendo contudo utilizado.

Depois de uma certa demora, com o Pel Caç Nat 52 e 53 à frente, iniciou-se o regresso, tendo as NT sofrido 3 flagelações sem consequèncias, e tendo o IN sofrido 5 mortos confirmados.

Já junto da estrada Finete-Enxalé as NT sofreram mais 2 ataques de abelhas, provocando o desmaio de alguns elementos que tiveram de ser transportados às costas.

Continuando a progressão atingiu-se São Belchioronde se foi recolhido por viaturas para Enxalé, que foi atingo cerca das 18h00.

Verificou-se que o morto tinha ficado na zona d0 último ataque de abelhas pelo que foi decidido o Pel Caç Nat 53 ficar em Enxalé, a fim de ir de madrugada no dia seguinte recuperar o corpo, o que foi feito.

A CART 2339 inicou a travessia do Rio Geba, e deslocou-se em viaturas para Fá, que atingiu no dia 7 às 3h00.

Ao conferir o material foi constatada a falta de 2 espingardas G3 e alguns cantis e bornais ("burnais", no original), o que foi comunidacado ao Cmdt do BART que ordenou a ida no dia seguinte à zona do último ataque das abelhas juntamente com 1 Gr Comb da CART 2338, o que foi feito e conseguido recuperar parte do material perdido. As NT regressaram  a Fá, que atingiram no dia 8, às 20h00.

Fonte: Excerto das  páginas 43, 44 e 45 da História da Unidade: Batalhão de Artilharia nº 1904, 1966/68. Relatório da Op Gavião, iniciada em 4 de Abril de 1968: com a duração de três dias, e destinada a executar um golpe de mão contra o acampamento do Enxalé, do PAIGC, na mata de Belel, teve a participação da CART 2338, a 4 Gr Comb, mais o Pel Caç Nat 52 (Destacamento A), bem como da CART 2339, a 4 Gr Comb, mais o Pel Caç Nat 53 (Destacamento B). Foi comandada pelo 2º Comandante do BART 1904.


Documento digitalizado: © Armando Fernandes (2008). Direitos reservadas.


3. O Armando Fernandes, ex-alf mil cav, cmdt do  Pel Rec  Info,  CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68), mandou-nos em 8 de maio de 2008 fotocópias das páginas 43, 44 e 45 da história da unidade, com base nas quais transcrevemos o texto acima (com algumas adaptações, devido ao facto de estar mal redigido e ter alguns erros de ortografia).

Na altura, o nosso camarada escreveu o seguinte:

Professor Luís Graça:

Chamo-me Armando Fernandes, fui alf mil cav, comandei o Pel Rec do BART 1904 que esteve sedeado em Bambadinca, de Janeiro a Setembro de 1968. Durante todo o ano de 1967 o Batalhão esteve sedeado em Santa Luzia, Bissau, onde rendeu, em Janeiro de 67, o BCAÇ 1876.

Entrei ontem, pela 1ª vez, no seu blogue e chamou-me a atenção o nome de uma operação referido em P2817 (***), Operação Gavião.

Sobre essa operação consta da história do BART 1904, pags. 43/45 (edição não canónica em meu poder) que o fur mil Zacarias Saiegh nela participou, o que está em desacordo com uma resposta do doutor Beja Santos registada em P2817. Parece, também, que relativamente à entrada em Belel há discrepância entre o registado na história do BART e o afirmado no mesmo poste. Onde estará a verdade?

Em anexo envio cópia das páginas que referi.

Apresento os meus cumprimentos, Armando Fernandes

4. Comentário do editor L.G.:

Na altura agradeci ao camarada Armando Fernandes, dizendo-lhe que ia divulgar a sua versão (que era a versão do BART 1904)  (****) e dar conhecimentos aos camaradas que tinham escrito sobre a Op Gavião (Mário Beja Santos, do Pel Caç Nat 52, e Torcato Mendonça e Carlos Marques dos Santos, da CART 2339, estes dois últimos participantes da Op Gavião) (*****). 

Escrevi então: 

"A nós interessa-nos a verdade e só a verdade... Em muitos casos, há discrepâncias factuais entre os nossos relatórios de operações e os depoimentos pessoais. É normal. O Mário Beja Santos, que comandou o Pel Caç Nat 52 (a partir de agosto de 1968), não poderia obviamente ter participado nesta Operação Gavião (abril de 1968). Socorre-se da memória dos seus antigos soldados, alguns dos quais felizmente ainda estão vivos e vivem em Portugal."

O ex-alf mil Torcato Mendonça e o ex-fur mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), esses,  infelizmente, já náo estão entre nós...

Na altura também convidei o Armando Ferreira  a ingressar na nossa Tabanca Grande.  Infelizmente nunca mais nos contactou, pelo que nem ele nem mais ninguém representa o BART 1904 no nosso blogue.

De qualquer modo, ficou claro na altura que  o fur mil Zacarias Saiegh, a comandar interinamente  o Pel Caç Nat 52, tinha particiapdo na Op Gavião, e que recebera do comandante da operação, rasgados elogios, como se depreende deste excerto do relatório:

(...) "Com o Pel Caç Nat 52 à frente, impulsionado pelo seu comandante, o fur mil Zacarias Saiegh, que demonstrou um sangue frio, decisão e temeridade  dignos de serem apontados, reagiu à emboscada,  perseguindo o IN durante cerca de 1,5 km. " (...)
__________

Notas de L. G.:

(*) Vd. poste de 23 de fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desaosa operação a Madina/Belel

(**) Último poste da série > 21 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24330: Tugas, pocos pero locos: algumas das nossas operações temerárias (1): Op Tigre Vadio, 30 de março a 1 de abril de 1970, sector L1, Península de Madina / Belel, zona leste, sector L1 (Bambadinca)

(***) Vd. poste de 7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2817: Blogoterapia (51): O Alentejo do Casadinho e do Cascalheira, o Tura Baldé, a Op Gavião... (Torcato Mendonça / Beja Santos)
(****) Vd. poste de 11 de maio de 2008 > Guiné 63/74: P2833: Op Gavião (Belel, 4-6 de Abril de 1968) (Armando Fernandes, Pel Rec CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68)

(*****) Vd. ppostes de:

9 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2823: Dando a mão à palmatória (11): Operação Gavião, 5 de Abril de 1968, com as CART 2338 e 2339 (Torcato Mendonça / Beja Santos)

2 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9303: Memórias do Carlos Marques dos Santos (Mansambo, CART 2339, 1968/69) (1): Op Gavião: Abril de 1968, antes o fogo do IN que o ataque das abelhas

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22886: Notas de leitura (1406): CCAÇ 1550 - Quando a história de uma unidade militar ajuda a perceber a evolução da guerra da Guiné (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2022:

Queridos amigos,
Relendo este terno memorial da CCAÇ 1550, surgiu a reflexão de que toda a descrição feita da chamada região Xime-Bambadinca entre 1967 e 1968, e a própria área de atuação desta unidade veio a conhecer bastantes alterações. Naquele período as tabancas em autodefesa conheciam o reforço pelas tropas do Xime, o destacamento do Enxalé fazia parte de uma outra unidade militar, Bambadinca vivia em paz, e temos por hábito esquecer que o PAIGC e as populações em que se apoiava tinham posições relativamente consolidadas desde o segundo semestre de 1963. A região Xime-Bambadinca em que vivi e combati, tornou-se mais agressiva, retirámo-nos de algumas posições, gerando vazios favoráveis à guerrilha. Em suma, o nosso dever de memória, temos que aceitar com humildade, está profundamente marcado por uma dinâmica que ultrapassa grandemente o tempo em que permanecemos neste ou naquele espaço, não se pode confundir a árvore com a floresta.

Um abraço do
Mário.



Quando a história de uma unidade militar ajuda a perceber a evolução da guerra da Guiné

Mário Beja Santos

Não é primeira vez que aqui se refere este singelo memorial referente à CCAÇ 1550, que esteve na Guiné entre 1966 e 1968, edição de José Marques de Valente e de DG Edições, 2018[1]. Para o coordenador, que nos recorda que este livro tem 170 autores, o essencial é que não se perca a memória destes combatentes, partiram de Santa Margarida em 20 de abril de 1966 e chegaram a Bissau cinco dias depois; no dia seguinte foram até Farim, escoltados por dois grupos de combate reforçados; dias depois seguiram para Binta e Guidage. Binta não lhes pareceu pior do que outros lugares como Jumbembem, Cuntima ou Bigene, toda esta área tinha quatro companhias do batalhão de Farim, a principal base do PAIGC nas proximidades situava-se no corredor da Sambuiá, numa região entre Binta e Bigene. A CCAÇ 1550 ficou em Binta com um pelotão de caçadores nativos, um grupo de combate reforçado foi para Guidage.
Curiosa é a descrição de Binta:
“Era um conjunto de quatro ou cinco grandes armazéns que serviram para recolha de mancarra, caju, madeiras e outras matérias-primas, três ou quatro casas coloniais de um só piso e uma tabanca com duas ou três dezenas de habitações da população civil e milícias. Os armazéns, ocupados pela tropa ficavam encostados à área de atracagem dos barcos, junto de um pequeno cais de madeira. As casas de alvenaria, uns trinta metros retiradas e a tabanca mais uns cinquenta metros para o interior, junto da pista de terra onde aterravam avionetas militares e civis”. Descreve a organização da defesa e lembra-nos que durante os oito meses que permaneceram em Binta não se verificaram ataques violentos ao aquartelamento. Procurou-se saber junto da população a razão de não serem atacados e a explicação encontrada era de que tratavam bem a população civil e havia armadilhas à volta do quartel. E o autor refere não só os cuidados sanitários pela população portuguesa como senegalesa, o funcionamento das escolas, a diversidade dos patrulhamentos. A CCAÇ 1550 pertencia organicamente ao BCAÇ 1888 e daí, passados oito meses, terem sido transferidos para a região do Xime, constituído pelo destacamento do mesmo nome, o de Ponta do Inglês, e o apoio a Taibatá e Demba Taco, havendo ainda um destacamento em Samba Silate e um outro destacamento em Galomaro. Na tabanca de Taibatá estava a sede do regulado de Bambadinca e o destacamento da Ponta do Inglês sofria inúmeras flagelações, o itinerário Xime-Ponta do Inglês era evitado por terra, o abastecimento da Ponta do Inglês fazia-se por via marítima. As emboscadas na estrada Xime-Bambadinca eram também frequentes. Descreve as instalações do Xime, a composição da população e como se processava a segurança do aquartelamento, desde o arame farpado aos abrigos, procuraram-se corrigir debilidades introduzindo paliçadas com três metros de altura. Presta-se homenagem aos picadores do Xime pela ajuda crucial que deram ao pessoal de minas e armadilhas para detetar e destruir minas antipessoal e anticarro, como igualmente o esforço do pessoal civil de Amedalai que picava o último troço da estrada até à ponte do rio de Undunduma – estes picadores do Xime era um grupo de militares da CCAÇ 1550, do Pel Caç Nat 53 e milícias do Xime, Taibatá e Amedalai".


O autor lembra a vida difícil do destacamento da Ponta do Inglês, referencia Taibatá, Samba Silate e Galomaro. É minucioso a descrever o armamento, as melhorias introduzidas em abrigos, ninhos de morteiro, postes de vigia, manutenção do arame farpado, o Memorial é profundamente ilustrado, ficamos a conhecer a capela, o interior da messe de oficiais, esta composta de quatro caravanas que terão vindo da equipa técnica agronómica que trabalhara em Fá Mandiga. Há dados curiosos neste relato, veja-se um deles: “Na zona mais alta, para além do arame farpado, onde se situava o nosso posto de vigia norte, havia uma zona que fora cemitério, pois ainda havia restos de lápides funerárias e de campas de um pequeno cemitério, com lápides ainda visíveis cuja inscrições se liam nomes e referências de alemães, flamengos e holandeses. Pelas datas deduzia-se ocupação dos séculos XVIII/XIX”. Nesta época o Corubal já não era navegável, uma das lanchas que se aventurou até às imediações do Saltinho regressou com umas dezenas de impactos de projéteis.

Comenta a natureza dos abastecimentos, fala de prémios, louvores e condecorações; e segue-se um repositório muito terno de fotografias de todos os militares, fotografias do tempo da campanha e atuais, não faltam mesmo fotografias das tabancas em autodefesa como Taibatá ou Demba Taco, havia no Xime padrões da CCAÇ 1550 e do Pel Caç Nat 53, e dá-se a lista de todos os falecidos, contam-se histórias, seguem-se os encontros posteriormente realizados.

A que título se retoma a leitura deste Memorial? Circunscrevendo as observações à região do Xime-Bambadinca, e como se vê estamos num período entre 1967 e 1968, e tendo eu chegado à região de Bambadinca em agosto de 1968, que aconteceu, entretanto? Indo um pouco atrás, o combatente do PAIGC, Domingos Ramos, em meados de 1963, atravessou o Corubal e sublevou toda a região norte do Xime, populações, milícias e depois bi-grupos irão ficar instalados na Ponta Luís Dias, Tabacutá, Mina, Galo Corubal, com pleno acesso a bolanhas no Poidom, fertilíssimo, um pouco mais abaixo, também se instalaram em dois locais, Baio e Burontoni. Todas as operações feitas pelas tropas portuguesas não conseguiram desalojar as populações e os grupos armados destes locais, ao longo de toda a guerra. O Coronel Hélio Felgas concebeu uma operação de envergadura, Lança Afiada, cerca de 12 dias, um fortíssimo contingente, resultados praticamente nulos, os guerrilheiros e populações limitaram-se atravessar o Corubal e aguardar a retirada das nossas tropas. Samba Silate perdeu população, tornou-se terra de ninguém, faziam-se patrulhamentos, era inequívoca a passagem de guerrilheiros de um lado para o outro do rio Geba, ou mesmo das bases no interior do regulado do Xime; Bambadinca viveu na paz do Senhor até 28 de maio de 1969, nesta data sofreu a primeira flagelação, montaram-se novos dispositivos de defesa, um deles a segurança em torno da ponte do rio de Undunduma; a presença da guerrilha em Ponta Varela, a escassos quilómetros do Xime, era reconhecida, tentavam impedir a circulação das embarcações civis, nalguns casos tiveram êxito; e a partir de 1970 tornaram-se cada vez mais agressivas as flagelações e as práticas terroristas nas populações de Demba Taco, Taibatá e Moricanhe. Decidiu-se abandonar a Ponta do Inglês, em 1968, Moricanhe foi abandonada em 1970, as infiltrações do PAIGC cresceram para a região do Xitole. Galomaro mudou de sector. Quando cheguei à Guiné ia-se calmamente de jipe de Bambadinca a Galomaro, em finais de 1969 houve necessidade de fazer colunas, com a retirada de Madina de Boé a presença subversiva acentuou-se. Muito mais aqui se podia dizer para lembrar a todos que o vimos numa comissão podia alterar-se substancialmente nos anos longo a seguir, como aqui se mostra na região de Xime-Bambadinca. É uma simples chamada de atenção que qualquer uma das nossas comissões não passou de uma minúscula parte (mesmo que muito dolorosa) de um todo (que nos obriga à sequência cronológica e a descrever factos e feitos, em que o mais relevante terá sido o desequilíbrio do nosso armamento comparativamente ao do PAIGC, que veio permitir, já bastante perto do final da guerra que este se tivesse preparado para um quadro ofensivo onde era maleável a utilização da guerrilha com métodos de guerra convencional).
Para que conste, e não tenhamos a ilusão do que a nossa árvore é mais do que a floresta.


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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 8 DE MARÇO DE 2021 > Guiné 61/74 - P21983: Notas de leitura (1345): "Memorial, O livro dos 172 autores", da CCAÇ 1550 (Binta e Xime, 1966/68), DG Edições, 2018 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 3 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22872: Notas de leitura (1405): "Descobrimento Primeiro da Guiné", por Diogo Gomes; Edições Colibri, Junho de 2002 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22876: Efemérides (360): Os 50 anos da Corrida de São Silvestre no Saltinho, 1971/72 (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 2 de Janeiro de 2022, que nos traz uma reportagem da corrida de São Silvestre no Saltinho, passagem de ano de 1971 para 1972, já lá vão exactamente 50 anos.


São Silvestre no Saltinho

Na passagem de 71 para 72, ou seja, há exatamente meio século (Santa Maria, Mãe de Jesus, o tempo que já lá vai…), encontrava-me eu na CCAÇ 2701, no Saltinho, para onde fora destacado, em serviço de diligência, sete meses atrás.
Tal como em Bambadinca, onde fizera inicialmente um estágio de cerca de três meses por conta dos Serviços de Informação Militares, não houve ceia especial e, muito menos, réveillon. Mas, no primeiro dia daquele “prometedor” Ano Novo, ao toque de alvorada, toda a gente se levantou de um pulo para participar na Grande Prova de Atletismo de São Silvestre, que tinha a respetiva partida marcada para as nove da manhã, na tabanca de Sinchã Maunde Bucô.
Era uma prova com apenas cerca de 10 km, aberta a militares e civis com assento na região, com prémios apetecíveis para os cinco primeiros classificados. Não seria, pois, de estranhar a fartura de candidatos que acorreu ao ponto de partida, conforme nos documenta, embora sem zoom, a foto n.º 1 de um qualquer repórter desconhecido.
Mas, interessante, interessante, seria reunir agora os mesmos atletas e pô-los a repetir a corrida de há cinquenta anos atrás.

Lá ao fundo, em Madina Bucô, toda a gente preparada para a partida (o jipe, ao volante do qual está o Capitão Carlos Clemente, fará as vezes dos batedores da polícia)
Estes dois ciclistas (o Migueis, à civil, e um dos professores da CCAÇ2701) funcionariam como uma espécie de diretores/controladores da corrida.
O carro da comunicação social, com especial destaque para a RTS (Rádio Televisão do Saltinho). O bigodinho preto e os rayban são do Furriel Miliciano Faria (Transmissões)
Frente do carro-vassoura com meros acompanhantes da corrida (os desistentes da prova vinham na traseira da viatura, que outro lugar não mereciam); com uma folha de papel na mão, o 1.º Cabo Escriturário Simão (entretanto falecido).
Posto de controlo na linha de chegada, à entrada principal do aquartelamento (o Alves, furriel miliciano vagomestre, está sentado à mesa, pronto a verter para o papel os nomes dos atletas por ordem de chegada; de pé, a seu lado, e de AVP1 no ouvido, o Damas (Transmissões); e à frente, mais duas figuras das Transmissões, cujo nome, de momento, não me ocorre; à esquerda, sentadinho atrás do ensonado cão de guarda, o 1.º Sargento Picado, já falecido (está sepultado em Aveiro, sua terra-natal, segundo creio).
Chegada dos segundo e terceiro classificados da prova. O vencedor foi o 1.º Cabo Cosme, do Pelotão de Caçadores Nativos 53, de que não tenho imagens (com um treinador como o Alferes Paulo Santiago…)
Na imagem, um dos tais "diretores/controladores” da prova (curiosamente, apesar de se deslocar em bicicleta, chegou depois de todos os outros - areão no piso, justificar-se-ia). Se repararmos bem, estava toda a gente de tacha arreganhada, falta saber onde estava a piada: atrás do Migueis, o 1.º Cabo Lourenço; na berma da estrada, dois homens das Transmissões, o 1.º Picado (calça escura) e alguns miúdos da população do Saltinho.
Traseira do carro-vassoura à chegada, com os desistentes da prova a meio-caminho, se tanto.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22768: Efemérides (358): Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes, Lisboa, 19 de outubro de 2021 (João Crisóstomo, Nova Iorque)