Guiné > Zona Leste > Setor L1 > 1969 > Rio Geba, junto ao Xime > Travessia de canoa para o Enxalé
Foto: © Carlos Marques Santos (2005)Memórias do Carlos Marques dos Santos, ex-Fur Mil da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69
1. Operação Gavião - Abril de 1968, antes o fogo do IN que o ataque das abelhas*
5 de Abril de 1968
Às 15h, saída de Fá Mandinga para mais uma operação (Op Gavião). Desta vez para a zona do Enxalé, via Xime.
O Rio Geba foi atravessado de lancha. Do Enxalé saímos cerca da meia-noite iniciando mais um passo para o desconhecido. Dois meses de mato e já tínhamos tido a nossa dose. Andámos a corta mato até às 3.30h.
O guia turra capturado, como sempre, perdeu-se. Descanso até às 5.00h, seguindo as NT depois em progressão normal.
Perto do objectivo vimos, na mata, dois nativos. Fugiram e nós continuámos. A CART 2338, nossa companheira de andanças, está a atacar o objectivo. A Companhia de Mansoa também.
Cerca do meio-dia sofremos um ataque de abelhas. Desespero em muitos de nós. Eu também fui completamente picado. Há camaradas inchados. Disformes. Há 2 camaradas desmaiados. Faz-se uma maca. Soam tiros...
- Emboscada!
Um nativo do Pel Caç Nat 53 é atingido e morto. O ataque IN continua. Regressamos.
Sofremos 5 emboscadas, mas apesar de tudo correu sem grandes azares. O IN tem baixas. Fogem. Seguimos para o Enxalé. Mais 2 ataques de abelhas. Choros. Desespero. Há que fugir. Desorientação total. Armas abandonadas.
Compreendo agora - pois noutra ocasião e lá para a frente no tempo de comissão, estive debaixo de fogo - o que é estar nestas mesmas circunstâncias. 45 minutos intermináveis. Antes o fogo do IN.
Chegámos ao Enxalé cerca das 18.00h. Soube-se depois que tinha ficado um homem da Cart 2338 (**) desmaiado no local dos acontecimentos.
Quem vai procurá-lo? Ninguém. Não há voluntários.
Triste vida a da Guerra e da sobrevivência. Mas nem sempre foi assim!
Passámos para o Xime e chegámos a Fá Mandinga às 03.00h da manhã do dia de 7 de Abril de 1968. (***)
Estou exausto. Estamos todos exaustos.
Boas notícias: o nosso homem desmaiado, soube-se, apareceu por ele no Enxalé! Já li uma estória semelhante neste blogue. Ou será o mesmo protagonista?
No dia seguinte, 8 de Abril de 1968, voltamos ao Enxalé procurar as armas perdidas. Na progressão ouvimos rebentamentos. Será Mato Cão?
Recuperámos 2 armas. Regressámos a Fá Mandinga sem incidentes.
10 de Abril de 1968
Há emboscada na estrada Xime-Bambadinca. Não houve incidentes, são as notícias que nos chegam.
14 de Abril de 1968
Dia de Páscoa, aqui, igual aos outros.
______________
Notas do CV:
(*) Originalmente publicado na I Série do nosso blogue em 31 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXIII: Diário do CMS (CART 2339)(1): Um homem ficou para trás e não há voluntários para o ir buscar...
(**) Mobilizada pelo RAL 3, e independente tal como a CART 2339. Vieram para o TO da Guiné na mesma data (14/1/1968) e regressaram a casa na mesma data. A CART 2338 esteve em Fá Mandinga, Nova Lamego, Buruntuma e Piche. Comandantes: Cap Mil Art João Carlos Palma Marques Alves; Cap Art Manuel João de Azevedo Paulo. Tem cinco referências no blogue. A CART 2339 tem 118…
(***) Sobre a Op Gavião vd. poste de 11 de maio de 2008 > Guiné 63/74: P2833: Op Gavião (Belel, 4-6 de Abril de 1968) (Armando Fernandes, Pel Rec CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68)
6 comentários:
Abelhas!!!Suas sacanas! Suas fdp!
Fiquem lá com a glória de terem sido vocês a única "força inimiga" que me deixou sem forças para regressar à base. Mas não deram cabo desta "carcassa"!Três dias depois estava pronta para a luta e ainda anda por aqui!
O militar que "ficou para trás" não era da 2339, esta Companhia parece ter deixado uma ou duas armas e pouco material. As Abelhas!
O morto era Picador no Xime, creio que se chamava Tura...e foi abatido por manifesto descuido. Confundiu o In com as NT. Houve um morto mais que era o guia. Parece ter falecido por exaustão ou morte súbita. Vinha junto ao Pelotão do Zacarias Saiegh. O outro guia parece que faleceu por doença no Enxalé. Devia estar doente pois não tomou parte na operação.
A 2339 nunca deixaria um militar seu para trás, vivo, ferido ou morto. Se as armas ficaram deve-se ás terríveis abelhas - baguera, baguera e eram pior que um bi- grupo In e o ou os militares não comunicaram o sucedido.
Esta operação já mereceu muita controvérsia- Madina, Belel, Sinchã Camisa - com as "memórias falantes" do M. Beja Santos - O Tigre -,nessa data ainda em Portugal. O Pelotão Caç Nativos era comandado pelo Saiegh. Ab T
Baguera, baguera... Os meus fulas tinham mais medo delas do que o diabo da cruz...
Caro CMS, amigo e camarada do leste (setor L1): era um osso duro de roer, a península de Madina/Belel, um importante corredor que permitia a ligação do Oio ao Xitole, com cambança do Geba no Enxalé, e depois à Região de Tombali, no sul, com cambança no Corubal...
Dois anos depois de ti, fiz a Op Tigre Vadio, com o mesmo objetivo: os mesmos resultados, a mesma porrada, as mesmas abelhas, a mesma desidratação, a mesma exaustão... Três dias de inferno!
Um abração. Beijinhos para a tua Teresa. LG
Conheci bem a zona e claro as
Abelhas, primas dessas sem
dúvida..
Abraço.
J.Cabral
As abelhas..as abelhas
Sempre a dizerem mal destes animaizinhos tão queridos.
Quem é que vos mandava meterem-se com elas..anhh...quem.
E as cobras, ninguém fala nas cobras.
Essas sim,animais horrorosos.
Se continuarem a dizer mal das abelhas, ainda faço queixa a sociedade protectora..ai faço,faço.
C.Martins
Caro Camarada C. Martins
Sei qu8e estás a brincar e com a nossa idade isso é muito bom até para a saúde e tu que o digas. Mas quero-te dizer uma coisa, passei por isso e mesmo passados quarenta e tal anos um ataque de abelhas da guiné é uma coisa muito séria.Nunca vi a Companhia tão desorganizada como com o ataque das abelhas.O IN nunca conseguiu tanto como as abelhas.
Um grande abraço e um bom ano para ti e pera todos.
Manuel Joaquim Carvalho
C Caç 2366 Jolmete 68/70
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