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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26175: Para bom observador, meia palavra basta (6): O fortim de Cabedu

 


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Península de Cubucaré, Cantanhez > Cabedu >  Restos (arqueológicos...) do antigo destacamento de Cabedu... O fortim.... 

Por aqui passaram, em 1963/56, os valorosos e esforçados militares portugueses da CCAÇ 555, comandados pelo cap inf António Ritto  (de seu nome completo, António José Brites Leitão Rito) e de que fazia parte o fur mil at inf Norberto Gomes da Costa, hoje mestre em história,  e membro da nossa Tabanca Grande.  (Vd. livro "Missão na Guiné, Cabedu, 1963-1965”, por António José Ritto e Norberto Gomes da Costa, com a colaboração de José Colaço. Linda-a-Vela, DG Edições, 2018) (*)

A CCAÇ 555, em 28dez63assumiu a responsabilidade do subsector de Cabedu, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 356 e depois do BCaç 619; d20 a 22set64, tomou parte na Op Tornado, a região do Cantanhez. Em 25set65, foi rendida pela CCaç 1427, por troca, recolhendo por escalões, até 11out65, a Bissau.

Foto (e legenda): © José Teixeira  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e lehendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > c. 1966 > Foto do álbum do Tony Grilo, (Canadá): artilheiro, apontador de obus 8,8 (Bissau, Cabedu, Cacine, Cameconde,1966/68)-

A CCAÇ 1426, de 25set65 a 11out65, rendeu por troca, a CCaç 555, assumindo então a
responsabilidade do subsector de Cabedú, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 619 e depois do BCaç 1858, tendo tomado parte em diversas operações realizadas naquela área. Em 31mar67, foi rendida no subsector de Cabedú pela CArt 1614 e
recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
 
Foto (e legenda): © Tony Grilo (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e lehendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

 Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > Vista aérea do aquartelamento e pista de aviação. Foto do ãlbum do Manuel José Janes,  "O Violas", membro da Tabanca Grande.

Em substituição da CCaç 1427, foi deslocada para Cabedú, em 30mar67, a CART 1614, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, e ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 1913. Em 6jan68, foi substituída, transitoriamente, pela CArt 1689 até à chegada  da CCaç 1788.

Fotos (e legendas): © Manuel José Janes / Jorge Araújo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Região de Tombali > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67) > c. 1966 >  Vista aérea do aquartelameento e parte da pista que atravessava a tabanca ao meio.


A CArt 2476 / BART 2865  seguiu em 16fev69 para Catió a fim de render a CCaç 1788, assumindo, em 17fev69, a responsabilidade do respectivo subsector, com dois pelotões no destacamento de Cabedu e, cumulativamente, a função de subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.
Em 6dez70, foi rendida no subsector de Catió pela CCaç 2792.

Esta útima assumiu, nessa data,  a responsabilidade do subsector de Catió, com dois pelotões no destacamento de Cabedú, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2865 e depois do BCaç 2930, tendo sofrido várias flagelações aos aquartelamentos e executado patrulhamentos, emboscadas e contactos com as populações. Em 21go72, foi rendida no subsector de Catió pela CArt 6251/72, tendo-se deslocado por fracções, em 13ago72 e 23ago72, para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
 
Fotos (e legendas): © Manuel José Janes / Jorge Araújo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 


1. Não se sabe ao certo quando e por quem foi construído o fortim de Cabedu...Talvez pela a primeira companhia de quadrícula, a CCAÇ 555. Ou das seguintes:  CCAÇ 1427, CART 1614, CCAÇ 1788, CCAÇ 2792...

Temos que reler as memórias de Cabedu, do Norberto Gomes Costa. O Orlando Pinela,  que esteve lá, na CART 1614 (1966/68), não se lembra do fortim... Nem dos três espaldões dos obuses...

Será que a construção do fortim é data posterior a estas  primeiras três companhias ?

Mas o fortim ainda lá está ou estava, em 2008, quando o Zé Teixeira o fotografou, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, em março desse ano. Foi expressamente a Cabedu, mais o nosso saudoso Pepito (e outros camaradas como o Zé Carioca), para inaugurar o fontenário (**).

Em 1971, quando o cap art, cmdt da CCAÇ 2696 (Gadamael, 1970/72), Morais da Silva, sobrevoou de avioneta Cabedu, a caminho de Catió, o fortim já lá estava, como o atesta a foto aérea que ele tirou, mas sem até hoje ter a certeza que estava a fotografar Cabedu (destacamento da CCAÇ 2792, com sede em Catió, cujo comandante, seu camarada,  ele ia visitar) (***)... 

Estava  já o fortim ou não estava, caro leitor, tu que és bom observador (****) ?!





Guiné > Região de Tombali > Península de Cubucaré > Cabedu > 1971 > Vista aérea da povoação, pista de aviação e destacamento das NT em finais do ano de 1971 >  O fortim vem assinalado a amarelo.

Foto: © Morais da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26094: Estórias do Zé Teixeira (65): Da Guiné a Lisboa a pé pelo Saará - O sonho que durou vinte anos a concretizar-se (2) (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381)

1. Em mensagem de 28 de Outubro de 2028, o nosso camarada José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) enviou-nos o relato da aventura do seu amigo Sáculo que ambicionava a qualquer custo vir fazer a sua vida em Portugal. Hoje publicamos a segunda e última parte


Da Guiné a Lisboa a pé pelo Saará
O sonho que durou vinte anos a concretizar-se (2)



– Pois é! Talvez não soubesses que quando se caminha sem orientação, sobretudo no deserto, temos tendência a andar em círculo  
–  disse-lhe eu.

– Andar em círculo porquê? Nós seguimos em frente, sempre em frente 
– esclareceu o Sáculo.

– Só consegues andar em linha reta, quando te orientas pelo sol, ou pela lua. As pessoas, normalmente, têm uma perna mais comprida que a outra e por consequência o tamanho do seu passo, não é igual, ou seja, a perna mais comprida dá um passa mais largo, o que leva a pessoa a fazer um desvio sistemático nessa direção. Este andar em círculo, que pode ser maior ou menor, em função da diferença na altura da perna. Eu, por exemplo, tenho uma diferença de cerca de meio centímetro. Talvez o meu círculo seja grande, e também temos de considerar a possibilidade de termos uma perna mais forte que a outra, o que também pode afetar a direção, quando não temos referências, porquanto a perna mais forte tem tendência a ser mais rápida.

– Desconhecia esses fenómenos. O certo, é que, sem querer, estávamos de regresso ao Senegal. Talvez tenha sido a nossa salvação. A polícia de fronteira prendeu-nos de imediato. Ali ficámos dois dias, mas como não tínhamos nem dinheiro nem comida, éramos um problema para a polícia. Quando passou o primeiro camião, o comandante mandou-nos subir e ordenou ao motorista que nos levasse para Linguère e nós lá fomos.

E prosseguindo:

–  Só que o camião não ia para esta cidade e o motorista deixou-nos num cruzamento, a meio do caminho. Tentámos arranjar trabalho, mas fomos apanhados pela polícia que nos voltou a prender. Eram muitas bocas a pedir pão e a polícia não tinha dinheiro, nem soluções. Eu era o único que sabia falar francês e ia-me desenrascando. Ao fim de dois dias, por ordem da polícia, voltamos a subir para outro camião que passava, que nos levou até Dacar. Procurei o meu primo que era pescador, fomos à Embaixada da Guiné-Bissau regularizar a minha situação e fui para pescador com o meu primo.

– Regressado à tua terra acabou-se a aventura, e que grande aventura!

– Já tinha outro plano em mente. Eu continuava a sonhar com Lisboa. Se não podia ir por terra, tinha de ir por mar. Fiquei em Dacar e fui à pesca na canoa do meu primo, para ganhar algum dinheiro e para me habituar a andar de barco. Nos primeiros dias não pesquei nada. Passei o tempo a vomitar estendido no fundo da canoa. Com o tempo fui-me habituando e até cheguei a apanhar um susto. Valeu-me a forma como os pescadores estavam organizados para sua segurança, ou seja, cada canoa tinha quatro horas para andar no mar, e só podia ir para determinada área. Se ao fim de quatro horas não regressasse, os pescadores que estavam em terra iam à sua procura.

Continuando, diz o Sáculo:

– Eu fui pescar com dois amigos para uma área que já conhecia. Num momento, sem contar, a canoa virou-se e foi ao fundo. Conseguimos ficar agarrados a umas tábuas e ficamos a boiar. Aguentamos, uma hora ou mais, até vermos ao longe duas canoas que vinham em nosso socorro. Safamo-nos.... Eu tinha um tio em Lisboa que tu deves ter conhecido, mas já morreu. Era filho do Samba e estava na milícia no tempo da guerra. Soube que ele estava em Bissau, fui ao encontro dele e pedi para me trazer para Lisboa. Ele era embarcadiço num barco de carga, era o que eu precisava, mas ele esqueceu-se. Escrevi-lhe várias vezes para Lisboa, pedi à minha mãe para o chatear. Eu até já estava zangado com ele, quando recebo uma mensagem para ir falar com um sujeito que estava num cargueiro ao largo de Bissau. Escondi-me no cargueiro e vim parar a Tanger. Já estava perto de Lisboa. Depois foi fácil. E já lá vão trinta anos.

– Entraste em Portugal no ano de… deixa-me fazer as contas…

– Ano de 1994, quando cá cheguei. Ainda me lembro que estava muito frio e eu andei uns dias à procura da casa do meu tio. Depois fui para as obras e nunca mais parei.

– Bateste o recorde. Dez anos para chegar de Bissau a Lisboa. Foste um homem corajoso. Parabéns!

– Era um sonho que nasceu em mim, quando os militares vieram embora, em 1974. Agora é tempo de me reformar, mas não quero voltar para a Guiné. Gosto muito de Lisboa. Tenho cá a minha família, a mulher e os filhos, imãs e sobrinhos. Toda a gente está cá, está na Suíça, está na Alemanha… e sabes quem está nos Estados Unidos a trabalhar numa empresa de segurança privada? O Iero, o meu primo, que casou com a minha sobrinha, a Djuvae, filha da Auá, a minha irmã, tua amiga.

– O quê? O sacaninha do Iero está na América?

… … … ... ... ...

A conversa não ficou por aqui. Quis que eu e minha mulher, mais a Auá e a Djubae entrássemos para o seu carro, creio que um Fiat Punto, e fossemos dar uma volta por Lisboa. Foi tempo para eu e ele voltarmos à Guiné, aos meus tempos de enfermeiro militar e ele uma criança de seis anos que todos os dias me vinha dar os bons dias e ficava à espera de um naco de casqueiro.

A Auá teria uns vinte anos e estava casada com um soldado da milícia.

Nas minhas idas à Guiné reconheceu-me, chamou-me pelo nome, reavivamos bons momentos e reativamos a amizade. O Bemba, seu marido está na Guiné. Foi ferido em combate e conseguiu, muito mais tarde, com ajuda do seu antigo comandante, a cidadania portuguesa. Ela veio a Lisboa visitar a irmã e tratar a saúde.

Sempre que eu vou à Guiné, vou a casa deles comer cabrito. O Bemba já ca esteve e fui visitá-lo a Lisboa. Agora veio a Auá e fui almoçar a casa dela, um petisco à moda da Guiné.

Ela está de regresso à sua terra. O Sáculo fica por cá. Um dia vou trazê-lo a minha casa para fazermos umas contas. Quero saber quem se apossou da minha marmita com um saboroso naco de vitela assada na brasa, naquele dia 14 de novembro de 1968 em que fomos atacados à hora do almoço. Eu pousei a marmita para me proteger e fiquei sem almoço, eu e os meus colegas, que foram a correr defender as suas posições e afastar os intrusos que queriam almoçar connosco, o rancho melhorado ganho através de um tiro de G3 perdido na noite anterior que matou uma vaca do Régulo.

José Teixeira
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Nota do editor

Vd. post de 29 de Outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26091: Estórias do Zé Teixeira (64): Da Guiné a Lisboa a pé pelo Saará - O sonho que durou vinte anos a concretizar-se (1) (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381)

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26091: Estórias do Zé Teixeira (64): Da Guiné a Lisboa a pé pelo Saará - O sonho que durou vinte anos a concretizar-se (1) (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381)

1. Em mensagem de 28 de Outubro de 2028, o nosso camarada José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) enviou-nos o relato da aventura do seu amigo Sáculo que ambicionava a qualquer custo vir fazer a sua vida em Portugal.


Da Guiné a Lisboa a pé pelo Saará
O sonho que durou vinte anos a concretizar-se (1)


Eram dois “putos reguilas”, o Sáculo e o Iero, que todas as manhãs, mal sentiam a minha chegada ao barraco da cozinha para “matar o bicho”, corriam alegremente ao meu encontro, e me saudavam de mão estendida e sorriso aberto: “ocurame casqueiro”! Era o mesmo que dizer, numa mistura linguista de dialeto étnico Fula e Português de quartel 

– Dá- me um bocadinho do teu pão!

Já passaram cinquenta e seis anos.

Teriam uns cinco, seis anos, quando nos despedimos, numa manhã de sol bem quente, no mês de fevereiro de 1969. Continua a bailar-me na mente essa manhã em que chorei de alegria e tristeza, enquanto recebia os abraços de despedida daquela gente, humilde, alegre, comunicativa e sobretudo sedenta de paz, e que me ensinou tanta coisa para a vida.

Continua no meu coração a imagem daquela mãe, cujo nome jaz debaixo do pó, que com o tempo sombreou a minha mente. Naquela manhã, da minha partida, depositou a criança nos meus braços, e com os olhos rasos de lágrimas disse num tom suave e firme: 

–  A tua mulher quer ir contigo!

Trouxera-me, uns tempos antes, a bebé, uma menina linda como o sol, ferida pelo paludismo que a minara em tão grande profundidade que a temperatura corporal rondava os 42º C. Já nem força tinha para gemer. Ao fim de dois dias de luta e as dores da incerteza, consegui voltar a ver o seu sorriso. O seu palrar de bebé feliz encheu de novo a casa de sua mãe, e eu tive de a receber como minha mulher. Tão pequenina e tão linda!

Pensava eu que a minha despedida seria para sempre, mas não foi.
Mampatá 2008 > A mãe da Maimuna, a minha bebé
Foto: © José Teixeira

Podia escrever sobre os acontecimentos, que pela vida fora, nos foram aproximando, mas vou apenas escrever sobre a aventura do Sáculo.

Era um dos muitos filhos do Régulo local. Ainda criança foi para a escola corânica. Segundo me disse, há dias, quando nos reencontrámos, passados cinquenta e seis anos. O pai enviava os filhos machos alternadamente para a escola portuguesa e para a escola corânica. A ele tocou-lhe a escola corânica. Com a morte do pai e pouco depois, a independência da Guiné, muita coisa mudou, e o Sáculo partiu à aventura para Bissau, sempre a alimentar o sonho que lhe enchia a alma – vir para Lisboa.

Dias duros e difíceis se seguiram, mas o sonho perseguia-o.

Estávamos em meados dos anos oitenta. Na sequência da mudança política que se operara na Guiné, com o golpe do Nino Vieira para afastar do poder os líderes do PAIGC de origem cabo-verdiana, a vida tornou-se ainda mais difícil. Era tempo de tentar a sua sorte. Era tempo de dar vida ao sonho que o perseguia há dez anos – vir para Lisboa à procura de uma vida melhor. Junta-se a um grupo de jovens quem como ele, alimentavam o mesmo sonho, sabe-se lá porquê.

Paga 2.500 USD a um engajador que lhe garantia a chegada por terra a Portugal, faz uma trouxa e parte à aventura.

Logo se apercebe que o cansaço, mais a fome, a sede e o calor iriam ser os grandes inimigos. O frio à noite também era insuportável, mas nada o fazia desanimar. Lisboa estava a dois passos, para quem tinha tanta vontade de lá chegar. Talvez desconhecesse que havia mais de seis mil quilómetros de terra para palmilhar, um mortífero deserto para atravessar, muitas matreirices dos engajadores para combater.

– Até à fronteira com o Senegal, foi fácil. Estava na minha terra. O grupo estava animado e cheio de coragem. Os pés voavam, tal era a ansiedade e a vontade de chegar ao fim da viagem. Quando entrei em Dakar no Senegal, olhei para trás e senti que não havia retorno.

Seguimos, até à fronteira com o Mali. Ao chegar à fronteira, o guia a quem tinha pagado 2.500 USD,  entregou-nos a outro guia e desapareceu. O novo guia exigiu mais 2.500 USD para nos acompanhar e indicar o melhor caminho. A primeira grande surpresa foi a traição do guia, que nos abandonou. Outras se seguiram, mas, uma coisa era certa, chegar a Lisboa não seria assim tão fácil como sonhara.

Talvez os engajadores, na sua ânsia de “ganhar dinheiro”,  me tivessem induzido em erro.

Até chegarmos à fronteira tudo nos parecera fácil. Conseguimos trabalho pelo caminho para arranjarmos dinheiro ou comida. Agora, sentíamo-nos inseguros pelo abandono do guia e só víamos areia à nossa frente. Era o deserto maliano, arenoso e seco, com um calor insuportável durante o dia, e um frio noturno de bradar aos céus, que tínhamos de atravessar. Os que tinham dinheiro continuaram em frente, os outros desejaram-nos boa viagem e voltaram para trás. Talvez se tenham perdido no caminho. Nunca mais os vi, e já lã vão cerca de quarenta anos.

O tempo passava a correr. Dia após dia, a andar sem descanso. Semanas terríveis, em que o cansaço físico que se apossou de mim. A sede atormentava-me, e a comida escasseava, mas a força anímica tudo superava.

Seguiram-se muitos dias de caminhada até à fronteira com a Argélia em pleno deserto do Saará.
Um aspecto do deserto do Saara
Foto com a devida vénia a BBC News Brasil

– Não entendo porque tiveste de atravessar o Mali e a Argélia se o caminho pela Mauritânia era mais direto 
– disse-lhe eu. –   Já fiz esse caminho duas vezes, por ser o mais curto. É um caminho seguro, em estrada com grandes retas. Já devia existir nesse tempo, com ligação entre a fronteira de Marrocos com a fronteira do Senegal. Nesse tempo o povo saarauí, liderado pela Frente Polisário estava em luta aberta com Marrocos pela sua independência do Saara Ocidental e talvez o percurso não fosse seguro...

– Não te sei responder. Eu estava a pisar terreno desconhecido. Para mim tudo era novo. O deserto, os oásis onde nos recolhíamos, as aldeias no meio do deserto, as cáfilas de camelos a “pastar”, tudo era novidade.

E o Sáculo prosseguiu a sua narrativa;

–  Chegados a um local desértico que o “passador” disse ser a fronteira argelina, apontou-nos a direção em que devíamos seguir, até encontrar uma cidade e desapareceu como por encanto. Ali ficamos cinco jovens com uma vontade danada de chegar a Portugal, perdidos no deserto, com poucos alimentos, alguma água e muita areia para pisar, sem um caminho, uma pista a seguir.
Fomos deixando pelo caminho tudo o que era empecilho, menos o garrafão de água que cada um tinha consigo e a parca comida ressequida. Seguimos na direção que nos fora indicada pelo bandido que nos traiu. Pensamos em voltar para trás, mas não sabíamos como encontrar o caminho de regresso. Era seguir em frente ou morrer. O que mais víamos eram ossos de pessoas, crânios, braços pernas… Eu pensava: 'Não me vai acontecer a mim o que aconteceu a esta gente. Eu vou seguir em frente!'... Mas quanto mais andávamos mais o desânimo se apoderava de nós.

E confessa o meu amigo:

–  Imagina a alegria que sentimos, quando ao longe surge uma bandeira no cimo de mastro, que nos fez apressarmos o passo. Não tínhamos forças para correr.

Quando lá cheguei fiquei abismado, estava na fronteira com o Senegal.

(Continua)

José Teixeira

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Nota do editor

Último post da série de 8 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25494: Estórias do Zé Teixeira (63): O “Diário” do José Cuidado da Silva (Conclusão) (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381)

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25994: Convívios (1007): 57º Convívio da Tabanca da Linha, em Algés, no passado 26 de setembro: 0s 9 magníficos... "piras"


Adriano Aguilar (Lisboa)


António Reza (Cacela / Vila Real de Sto. António)



Eduardo Estrela (Cacela / Vilra Real de Sto António)

 


Emamuel Patrício Ribeiro



José Lopes Araújo (Braga)





José Teixeira (Matosinhos)


Manuel Patrício (Vale de Milhaços,Corroios, Seixal )



Onofre Pereira (Caxias / Oeiras)


Victor Luz (Setúbal)


Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2024). Todos os direitos reservados. [Edição : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Já estão convocados todos os magníficos para o 58º convívio da Tabanca da Linha: será dia 21 de novembro, quinta feira (pois claro, no sítio do costume e  à hora do costume)
.
Escreveu o nosso régulo, Manuel Resende, na página da Tabanca da Linha, a seguinte nota, há 4 dias atrás (26/9/2024 | 22;25)

(...) Caros camaradas e Magníficos, estou contente porque hoje o nosso convívio correu muito bem, pelo menos não houve reclamações. Como sugestão no próximo que será o 58º vamos comer, por sugestão do Sr. Lopes (gerente) Bacalhau à Casa, creio que é parecido com Bacalhau à Minhota. Garantiu que se vai aprimorar. Esta degustação será a 21 de Novembro, já com o cheiro a Natal.

Aceito outras sugestões. Por exemplo eu gostava de uma caldeirada de enguias, mas sei que não pode ser...

Tivemos hoje 9 piras, isto é os que vieram pela 1ª vez e estiveram na Guerra da Guiné.
Aqui publico todas as fotos e em outro post publicarei só os piras.

Quem quiser as fotos em Papel, como me foi sugerido, faça a descarga das fotos para o seu computador e depois é só imprimir. Junto link para as fotos. (...)

Editadas por nós aqui vão as fotos inidviduais dos 9 "piras" do 57º Convívio.  Estando fora (em Porto Santos, gozando uns dias de descanso) não me é possível, para já, saber mais pormenores da biografia de cada um dos "piras".  Da Tabanca Grande são o Ediuardo Estrela e o José Teixeira, a quem dei um fraternala abraço.  Mas todos os demais ficam automaticamente convidados a juntar-se à Tabanca Grande, a máe de todas as tabancas... LG

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Nota do editor:


terça-feira, 9 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25730: Tabanca Grande (562): Elisabete Silva (1945- 2024), nossa grã-tabanqueira nº 892, uma presença luminosa e calorosa nos nossos convívios, e que em 2013 fez uma memorável viagem à Guiné, com o marido, Francisco Silva (1948-2023), a Armanda e o Zé Teixeira


Foto nº 1A > Guiné- Bissau > Bissau >  Hotel Azarai > 30 de abril de 2013 > Antiga messe de Oficiais em Santa Luzia. A  Elisabete e  a Armanda nos jardins,


Foto nº 1 > Guiné- Bissau > Bissau >  Hotel Azarai > 30 de abril de 2013 > Antiga messe de Oficiais em Santa Luzia. A  Elisabete e  a Armanda nos jardins, junto à piscina.


Foto nº 2 > Guiné- Bissau > Bissau >  Hotel Azarai > 30 de abril de 2013 > Antiga messe de Oficiais em Santa Luzia. Da esquerda para a direita, Zé Teixeira, Armanda, Elisabete e Francisco.  "Foi sem dúvida o único local onde nada mudou e,  se tal aconteceu, foi para melhor. Instalações modernas, bem conservadas e bem apetrechadas, os jardins bem tratados. A piscina, um encanto." (*)
 
 

Foto nº 3 > Guiné- Bissau > Bissau > Cumura > Hopital de Cumura > 30 de abril de 2013 >   A Elisabete com um bebé ao colo. "Terminamos o dia com uma visita à maternidade do Hospital da Cumura, onde a Irmã Irina nos acolhe com um sorriso de agradecimento e esperança. Agradecimento pela instalação do sistema de energia solar que deu luz à maternidade e enfermaria de pediatria. Assim se evitarão,  segundo ela, partos e cesarianas à luz da vela como tem acontecido muitas vezes. Esperança, porque ter a sorte de ser visitada por um médico ortopedista [o Francisco Silva, do Hospital Amadora-Sintra], o que considerou uma bênção de Deus, logo, aproveitada e muito bem pela drª Helena, voluntária quase permanente neste hospital], (*)

 

Foto nº 4A > Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal  >  A Elisabete e o Francisco



Foto nº 4 > Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal  >  1 de maio de 2013 > "O  grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse;  dia 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e voltam depois o Xitole, convidados para um casamento" (*)


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013  > O Francisco Silva (e em segundo plano a Armanda e a Elisabete) com habitantes do Xitole, falando do passado com  o Aliu do Xitole (antigo menino da messe dos sargentos)...  O Aliu reconheceu de imediato o "alfero paraquedista” , o “Sirva”. E logo o grupo ficou em amena cavaqueira com o Aliu a falar do “alfero Sirva”, "manga de bom pessoal". (Sempre ele, calmo e sereno, observador de ouvido atento, como no tempo em que comandava os seus soldados perdidos na selva da guerra.) (*)



Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Cantanhez > Iemberém > 3 de maio de 2013  > O Francisco a aprender  a pilar arroz, com a Elisabete atenta.


Foto nº 7A Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Faro Sadjuma > 2 de maio de 2013 >  "A Fatma de Farosadjuma, ladeadas pelas nossas bajudas" (*)


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Faro Sadjuma > 2 de maio de 2013 > Interior de um bangalô, no Hotel DjamDjam, em Faro Sadjuma, no interior da Mata do Cantanhez.


Foto nº 8A > Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Cantanhez >  > Farim do Cantanhez > 4 de maio de 2013 > - A Armanda e a Elisabete junto ao poço que a Associação Tabanca Pequena, de Matosinhos  financiou (1).



Foto nº 8A > Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Cantanhez >  > Farim do Cantanhez > 4 de maio de 2013 > 
- A Armanda e a Elisabete junto ao poço que a Associação Tabanca Pequena, de Matosinh0s,  financiou.



Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco > 9 de maio de 2013 > "Os régulos da tabanca, felupes,  Alberto Sambú (o mais novo, vestido de verde) e o Necolá Djata (o mais velho, vestido de vermelho)... Para que ninguém ouse sentar-se no banqunho dos régulos (sob pena de morte!) , estes têm o cuidado de o trazerem sempre consigo, como se pode ver nesta foto em que acompanham os tugas  na visita à tabanca. O mais novo ainda se faz acompanhar de uma vassourinha para limpar a terra e areia dos pés. Cada terra tem seus usos e costumes, mas este é, com o devido respeito, deveras estranho." (*)


Foto nº 10  > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco > 9 de maio de 2013 > "O local sagrado das reuniões da comunidade, que neste dia se abriu pela primeira vez para reunir com a comunidade de  brancos (e brancas) que visitou a tabanca, vendo os régulos no lugar que ocupam habitualmente". (*)


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco > 9 de maio de 2013 > A Aemandia e a Elisabete com - com os régulos (felupes) de Jufunco no local sagrado da reunião da comunidade para orar a Deus e centro de decisões.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É uma seleção de imagens, feita pelo próprio fotógrafo,  algymas das quais ilustraram as "Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) (*), em que participaram dois casais, nossos conhecidos: o Zé Teixeira e a Armanda  Teixeira;  o Francisco Slva (1948-2023) e a Elisabete Silva (1945-2024).  É uma sequência "fotojornalística", excecional, do melhor que temos publicado aqui... 

E a nossa Elisabete Silva seguramente que guardou estas  imagens na sua memória, como  umas das melhores e mais gratas da sua vida. Ela gostava, aliás,  de viajar, e preparava-se, antes de um operação do foro cardiológica, aparentemente de rotina, para ir em setembro aos fiordes da Noruega, com a sua amiga Ema Guerra, esposa do nosso camarada Hugo Guerra.

O coração atraiçou-a (**). Estive (com a Alice) na capela mortuária de Porto Salvo e depois no tanatório de Barcarena, no passado dia 5, e pude verificar como ela era uma mãe, avó, mulher, amiga e cidadã, estimada e amada. 

Na missa de corpo presente,  o pároco de Linda a Velha,  amigo pessoal dela e da família, fez-lhe umas das mais belas, serenas e singelas despedidas que eu já vi e ouvi, feitas por um sacerdote católico, num diálogo a três (ele, os filhos e os netos da Elisabete). E que família tão linda, tão amorosa, a da Berta e do Chico!...

No "In Memoriam" que lhe dedicámos, já tínhamos dito que a Elisabete  fora ao longo destes anos todos uma presença luminosa (e calorosa)  nos nossos convívios", razão (adicional)  por que ela merecia, sem favor, "honras de Tabanca Grande": não só frequentava os convívios da Magnífica Tabanca da Linha (tal como, algumas vezes, os da Tabanca de Matosinhos) como esteve sete vezes no Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real (e o Francisco dez). 

Em suma, sempre que podia (e que a saúde o permitia) acompanhava o marido nos nossos convívios, incluindo nos encontros anuais da CART 3492 (Xitole, 1972/74), a que o Francisco pertenceu originalmente.

Sabemos, também, que a Elisabete (ou Berta) trabalhou, toda a vida, na Petrogal, nos serviços fnanceiros. O Tony Levezinho lembrava-se dela, tendo sido colega próxima da sua Isabel , que também nos deixou, infelizmente, há três anos e meio.

A Elisabete Silva passa a ser, embora a título póstuma, uma das nossas "mulheres grandes",  sentando-se, simbolicamente, à sombra do nosso poilão no lugar nº 892 (***), ao lado de outras companheiras nossas que "da lei a morte também já se libertaram":
  • Clara Schwarz da Silva (1915-2016);
  • Isabel Levezinho (1953-2020);
  • Manuela Gonçalves (Nela) (1946-2019);
  • Maria Ivone Reis (1929-2022) (esta, camarada enfermeira paraquedista);
  • Maria Manuela Pinheiro (1950-2014);
  • Teresa Reis (1947-2011);
  • Zélia Neno (1953 - 2023).


Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 
48.º Convívio > 19 de maio de 2022 > 
 A Elisabete Silva (1945-2024)... 
De seu nome completo, Maria Elisabete Trindade Vicente 
Figueira da Silva, Berta ou Bertinha 
para os familiares e amigos. Casada com o Francisco Silva, 
médico, e nosso camarada (1948-2023).

Foto: © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

 

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 13 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11699: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (5): Visitando Cabedu, Cautchinké e Catesse... A alegria com que somos recebidos, a par da tristeza com que vemos a floresta ser destruída no Cantanhez...








25 de agosto de  2013 > Guiné 63/74 - P11976: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (13): A despedida... Temos de voltar!

(**) Vd. poste de 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00

(***) Último poste da série > 3 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25709: Tabanca Grande (561): Aurélio Manuel Trindade, ten gen ref, ex-cap 4ª CCAÇ / CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67), militar de Abril, e autor do livro de memórias "Panteras à solta": senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 891

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00


Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 48.º Convívio > 19 de maio de 2022 >  A Elisabete Silva (1945-2024)... De seu nome completo, Maria Elisabete Trindade Vicente Figueira da Silva, Berta ou Bertinha para os familiares e amigos.

Foto: © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

 

1. A morte é veloz a chegar e a fazer-se anunciar ... Ontem à tarde, às 14:18, o Zé Teixeira, "régulo" da Tabanca de Matosinhos,  mandou-me a telegráfica, dolorosa,  mensagem: "A Elisabete Silva faleceu ontem à tarde. Paz à sua alma".

Só li, estupefacto, a notícia quando me ia deitar, por volta das 22 e tal. E hoje levantei-me cedo, às quatro e tal, para redigir mais este doloroso "In Memoriam"  (*)

A última vez que estive (eu e a Alice) com a Elisabete fora no funeral do marido, há quase ano e meio (**). Tinha sid ela, quem pessoalmente,  nos  telefonou, serena, a comunicar o  desenlace fatal da luta do nosso Francisco contra a doença que o vitimou. 

E no velório, em Porto Salvo, onde o casal vivia, a Elisabete confidenciou-nos que iria refugiar-se na sua casa, no Alentejo.O casal tinha dois filhos (o Francisco e a Cláudia Silva, esta, médica, a viver e a trabalhar em Santiago do Cacém) e três netos.

Nunca mais voltámos a estar com a Elisabete (e com os filhos). Há algumas semanas, pelo nosso amigo comum Zé Teixeira, tinha sabido que estava de novo doente, desta vez com problemas do foro cardíaco. 

Depois da pandemia, o casal tinha aparecido na Tabanca da Linha, em 19 de maio de 2022. E eu escrevi, sobre a foto que acima reproduzo: 

(...) "Caras lindas que não se viam por aqui há mais de 2 anos: primeiro veio a pandemia, depois vieram as mazelas do corpo e da alma... A nossa Eisabete Silva, por exemplo, quem diz que em 2013 andava pelos matos e bolanhas da Guiné-Bissau, toda fresca, com o marido, o nosso dr. Francisco Silva, cirurgião ortopedista, e que depois passou por um grave problema de saúde, felizmente já superado ?!... Está de volta aos convívios da Tabanca da Linha e com ótima cara... Que bom, ver-te, Elisabete!" (**)

E depois acrescentava que sabia que ela tinha trabalhado  na Petrogal desde os seus 20 aninhos, tendo tido como colegas  o António Levezinho (o nosso querido "Tony", da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), a Isabel Levezinho (1953-2020), o João Rebelo, o Fernando Calado... (E por certo o Joaquim Pinto Carvalho de que ela não se lembrava bem.)

À hora a que estamos a elaborar esta triste notícia para o blogue, ainda não pudemos contactar a dra. Cláudia Silva sobre as cerimónias fúnebres, mas sabemos, pelo Zé Teixeira, grande amigo do casal (ele e o Francisco e as esposas fizeram uma memorável viagem de saudade à Guiné Bissau em 2013) (***), que o corpo, em câmara ardente na igreja de Porto Salvo, Oeiras, deverá seguir, às 16h00, para o tanatório mais próximo, o de Barcarena, presumimos.

Aos filhos, Francisco e Cláudia, aos netos e demais família, e aos amigos mais íntimas, a Tabanca Grande expressa a sua solidariedade na dor.  Espero, eu e Alice, poder transmitir-lhes pessoalmente, mais logo, as nossas condolências e irmos dizer-lhe o último adeus. 

O Francisco Silva, além de meu amigo e camarada, foi meu médico. E a Elisabete foi ao longo  destes anos todos uma presença luminosa nos nossos convívios, razão adicional por que ela merece "honras de Tabanca Grande": não só  frequentava os convívios da Magnífica Tabanca da Linha (tal como, algumas vezes, os da Tabanca de Matosinhos) como esteve 7 (sete!) vezes no Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real (o Francisco esteve em 10).  

Até sempre, querida Elisabete e querido Francisco! (LG)


PS - Funeral hoje, sexta feira, dia 5 de julho,  às 16 horas, na igreja de Porto Salvo, Oeiras. 


2. Mensagem deixada hoje,às 00:02, na página do Facebook da Tabanca de Matosinhos:


A TABANCA DE MATOSINHOS ESTÁ DE LUTO

No dia 29 de Janeiro de 2023 faleceu o camarada da Guiné e nosso amigo Francisco Justino Silva. (médico)

Agora foi a vez da esposa, Elizabeth Vicente Silva.

Moravam em Lisboa, mas vieram muitas vezes à nossa Tabanca de Matosinhos  para conviverem. Eram daquelas pessoas que toda a gente gostava de ter como amigos, pela sua simplicidade, pela alegria, e pelo carinho que nos dedicavam

A Elisabeth faleceu ontem, 3-07-2024 e o funeral será amanhã dia 5 de Julho na Igreja de Porto Salvo (Oeiras) às 16 horas.

Sentidas condolências a toda a família, dois amigos que partiram.

Aos filhos, Francisco e Claudia os nossos mais profundos sentimentos de pesar.

Até sempre, amiga Elizabeth


A. Marques Lopes (1944-2024).
Foto de LG (2015):
(i) foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/68)
e CCAÇ 3 (Barro, 1968/69): (ii) cor inf ref DAF;
(iii) natural de Lisboa, vivia em Matosinhos;
 (iv) autor de um dos mais notáveis livros autobiográficos
sobre a nossa geração, "Cabra Cega" (Lisboa, 2015),
editado também no Brasil.





3. À mesma hora da noite, ou com um intervalo de minutos,  soube, também pelo Zé Teixeira,  outra terrível notícia, a morte do nosso camarada A. Marques Lopes, cor inf ref, DAF... 

Estava há uns dias nos cuidados intensivos... Lutou galhardamente contra uma doença de evolução prolongada... Tinha completado os 80 anos, no passado dia 10 de março. Vamos dedicar-lhe a seguir um especial "In Memoriam": era um histórico da nossa Tabanca Grande  
(um dos primeiros a entrar, em 10/5/2005) e da Tabanca de Matosinhos, de que cofundador 
e um dos "régulos".

Tem mais de 270 referências
no nosso blogue. Para esposa, Gena,
e aos filhos e netos, e para os nossos
camaradas da Tabanca de Matosinhos,ficam aqui publicamente  expressas as condolências da Tabanca Grande.


A TABANCA DE MATOSINHOS ESTÁ DE LUTO.

O António Marques Lopes, querido amigo 
e camarada da primeira hora da nossa 
Tabanca, partiu hoje para o eterno aquartelamento,  depois de um longo sofrimento.

A sua grande vontade de viver fez com que  
travasse por longo tempo uma luta de vida.
A sua esperança de recuperar era enorme. Dava gosto ouvir as suas palavras de esperança. Estava sempre bem e sobretudo bem-disposto. "Estou aqui para a luta", dizia-me ele há dias.

Desta vez a doença foi mais forte...

Descansa em paz, António.

À esposa, Geninha,  e aos filhos, em nome de todos os camaradas da Tabanca de Matosinhos, quero expressar os mais profundos sentimentos de pesar.

PS - Por vontade expressa do nosso camarada, não haverá velório. O último adeus será amanhã, dia 6, sábado, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos.



Capa do livro "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", de João Gaspar Carrasqueira (pseudónimo do nosso camarada A. Marques Lopes) (Lisboa, Chiado Editora, 2015, 582 pp. ISBN: 978-989-51-3510-3, Colecção: Bíos, Género: Biografia).

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Notas do editor LG:


(***) Vd. poste de 30 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24024: In Memoriam (468): Recordar Francisco Silva (1948-2023) - Viagem de saudade à Guiné-Bissau em 2008 (José Teixeira)