quinta-feira, 28 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25314: Os Nossos Enfermeiros (19) : Negócios Imobiliários em Mampatá (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enf.º)


1. Em mensagem de 27 de Março de 2024, o nosso camarada António Carvalho (ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72, (Mampatá, 1972/74), conta-nos a estória de um negócio imobiliário, em Mampatá, que não correu muito bem.


Negócios Imobiliários em Mampatá

Quando chegámos a Mampatá (CArt 6250), para render a companhia açoriana, fomos surpreendidos pela disposição absolutamente anárquica dos aposentos dos militares, no meio das moranças da população, e das suas características das instalações, na sua maioria construídas pela população autóctone. Essas instalações, logo que os velhinhos se foram embora, transitaram para o pessoal da nossa companhia, mediante as condições de desenrascanço próprias da tropa.

No caso que aqui vou narrar, a casinha de planta rectangular, de paredes de taipa e cobertura de capim, não teria mais que uma dúzia de metros quadrados. Nela tinham cabido três soldados da companhia dos velhinhos que a terão construído sob a permissão e ajuda do dono do terreno a quem terão pago alguma importância. Certo é que, esses três velhinhos, assumindo-se como proprietários legítimos desse prestimoso imóvel, o venderam, por 300$00, a três cabos da minha companhia que lá encaixaram, como puderam, as suas camas. Esqueceram-se porém de pagar o IMI e o IMT.

Não sei se foi por isso, ou por qualquer outra razão, certo é que, no fim da comissão, não havendo rendição, devido ao fim da guerra, e quando os três militares da minha companhia se prontificavam a praticar o acto generoso de oferecer aquele imóvel ao enfermeiro da Milícia Adulai Baldé, o pretenso dono do terreno opôs-se veementemente à doação, argumentando que sendo dele o terreno, também dele era a casinha. E assim ficou o proprietário do terreno com as benfeitorias e o Adulai Baldé sem a casinha que tão bem lhe viria a calhar.

Um grande abraço.
Carvalho de Mampatá

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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25297: Os Nossos Enfermeiros (18) : O Enfermestre, a estória de um furriel enfermeiro que não quis ser vagomestre (António de Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro)

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, a arte e o engenho da nossa rapaziada!... Mais uma pequena história para a História com H grande.

Já agora toma boa nota: 300$00 em 1972 equivaleriam a 82 euros a preços de hoje... Era "patacao": dava para 15 "bocas" comerem um bif, cada um, com batatas fritas e ovo a cavalo no restaurante "Transmontana", em Bafatá, no meu tempo (1969/71) (bebidas aparte).

Tratando-se de 300 pesos, tens de aplicar uma taxa de desvalorização (ou quebra cambial) de 10%.

100 pesos pagava eu à minha lavadeira. ... Era um mãos-largas. Mas para aquela família, de mãe solteira, com um filho de tuga, 100 pesos era muito importante no orçamento...

O arroz estava a 5 pesos (na loja do Rendeiro) o quilo, iria triplicar em 1973/74...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Como te disse, António, ainda cheguei a reservar uma mesa para quatro em Entre-Os-Rios, Penafiel, agora na semana santa...

Mas pediam-me 220 euros por uma lampreia para 4...(fora as bebidas).

E, como tu bem dizes, as lampreia de Entre-Os-Rios, são espanholas, francesas ou canadianas...

Infelizmente elas não sabem voar para transpor as barragens do Douro, a começar pela tua, que é Crestuma... Dantes era o petisco dos pobres, nesta região do Vale do Tâmega, a lampreia e o sável...

Santa Páscoa para ti e demais boa gente de Medas. E salvemos a lampreia que é mais antiga que os dinossauros da Lourinhã (agora também parte do Geoparque do Oeste, aprovado pela UNESCO).

Valdemar Silva disse...

Em Paúnca não havia o que podemos chamar "um Quartel".
Havia uma área vedada a arame farpado, com duas peças de artilharia numa parada, uma casa local que fazia de secretaria, refeitório sargentos e oficiais e cripto. Um grande armazém de mancarra servia de caserna dos soldados e uma barracão de cozinha.
Foram requisitadas casas civis na tabanca, para oficiais e sargentos, que no meu caso estava na mesma casa com os donos e o soldados fulas ficavam com as suas mulheres e filhos em vários casas , também, na tabanca. Não me recordo onde ficavam o Capitão e os Alferes.
Diariamente, depois do jantar e até cerca das 22 horas toda a tropa ia para os abrigos junto da vala e arame farpado, e havia soldados que ficavam sempre de serviço nos abrigos, e o resto vinha dormir a tabanca.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz