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sábado, 9 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24932: E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas (Joaquim Costa) - Parte III: Primeiro, Santo Tirso, a seguir, Portalegre e logo... Santarém (onde fiz a minha formação pedagógica)


Santarém > Escola Industrial e Comercial de Santarém >  c. 1978/79 > "A nossa obra maior: Um 'supercomputador'...  Com esta mesa didática (construída de raiz por estes 5 “estarolas” ) se simulavam todas as operações em instalações elétricas.




Santo Tirso > c. 1975/76 > Foto de grupo:  o Joaquim Costa (algures) mais os seus colegas professores (e destes, quantos não terão passado também pela Guiné?!)

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.Continuação da nova série do Joaquim Costa:, "E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas"... (*)

(i) ex-fur mil at armas pesadas inf, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74);

(ii) membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021, tem cerca de 7 dezenas de referências no blogue;

(iii) autor da série "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)" (de que se publicaram 28 postes, desde 3/2/2021 a 28/7/2022) , e que depois publicou em livro ("Memórias de um Tigre Azul - O Furriel Pequenina", por Joaquim Costa; Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp);

(iv) tirou o curso de engenheiro técnico, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto;

(v) foi professor do ensino secundário, tendo-se reformado como diretor da escola secundária de Gondomar;

(vi) minhoto, de Vila Nova de Famalicão , vive em Rio Tinto, Gondomar;

(vii) tem página no Facebook.


E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas (Joaquim Costa)  - Parte III:  

Primeiro, Santo Tirso, a seguir, Portalegre,  e logo... Santarém (onde fiz a minha formação pedagógica)


Depois de Portalegre segue-se Santarém, para fazer a minha formação pedagógica na Escola Industrial e Comercial de Santarém (c. 1978/79, LG).

Era um CF constituído por professores de várias formações e grupos disciplinares.
Reconheço que foi um ano muito enriquecedor. Formadores de excelente qualidade, grande camaradagem e entreajuda com os mais de 30 estagiários oriundos de todo o país, com muitos jantares (muita sopa da pedra) em conjunto já que a maioria só regressava a casa ao fim de semana. 

Aqui se estudou até à exaustão a Teoria Cognitiva de Piaget e a taxonomia dos objetivos educacionais de Bloom (Taxonomia de Bloom).

Os seis elementos do meu grupo disciplinar, no qual se incluía o orientador, eram todos do Porto e viviam na mesma casa. Mais parecia uma segunda recruta.
Foi um ano de muito trabalho, com muita colaboração, mas também alguma competição. A nota final do estágio podia ditar, no concurso para efetivo, ficar longe ou perto de casa. O trabalho começava às oito da manhã e muitas vezes só terminava de madrugada.

Poucas vezes jantávamos fora já que o ordenado era curto, como tal o jantar era feito em casa. Cada um tinha a sua especialidade: mm sabia cozinhar, outro tinha jeito para as compras, outro para as limpezas (as casas de banho era rotativo) e quem não tinha jeito para nada lavava a loiça.

O especialista da cozinha não deixava nada ao acaso, pois na quantidade de água no arroz, do tempo de cozedura ou quantidade de sal utilizava sempre uma fórmula matemática com o auxílio de uma régua de cálculo (os engenheiros gostavam mais das réguas de cálculo do que das primeiras "texas").

Este foi um ano em que o arroz faltou em quase em todo o país pelo que o especialista das compras, por sugestão do merceeiro, levou arroz integral. O cozinheiro aplicou a fórmula habitual para a quantidade de água, tempo de cozedura e quantidade de sal. Já o bife tinha "voado" e o arroz ainda não tinha chegava à mesa, pelo que, fomos à cozinha ver o que se estava a passar com o cozinheiro. Vimo-lo todo vermelho, com o suor a cair-lhe da testa dentro da panela e a régua de cálculo feita em pedaços no chão num canto da cozinha. Quanto mais água punha na panela mais ela desaparecia e o arroz sempre duro...

Um belo dia comemos na cantina algo que não nos caiu bem, pelo que decidimos fazer para o jantar uma canja de galinha. O cozinheiro colocou tudo na panela, aplicando as suas fórmulas com a ajuda da régua de cálculo (já colada com fita cola) e foi arejar um pouco já que se sentia um pouco indisposto. Os restantes elementos começaram a mexer a canja e (sem régua de cálculo) concluíram que a porção das pevides de massa era muito pouca pelo que a cada "mexidela" lá ia mais um mão cheia de pevides para a panela. 

Quando o cozinheiro chegou, gritou furioso: "quem esteve a mexer na panela? Vão ser todos obrigados a comer esta mistela!"

 E assim foi, todos comemos a canja de galinha às fatias e de faca e garfo.

Como fazíamos várias noitadas na escola, fomos avisados por colegas mais antigos que o guarda noturno, para além de uma grande pancada, fazia a ronda sempre de pistola (#), pelo que o devíamos informar sempre que ficássemos a trabalhar até de madrugada. Assim sempre fizemos. Contudo, numa altura em que se estava a esgotar o tempo para apresentar um trabalho de equipa, pedimos a chave ao chefe dos funcionários para trabalharmos na escola num dia feriado. Era nossa intenção trabalhar só da parte da manhã, mas a coisa complicou-se e arrastou-se pela noite dentro.

Embrenhados no trabalho nem nos lembramos do guarda noturno. Era uma da manhã quando ouvimos passos ao longe, ficamos brancos como um fantasma, pois o homem caminhava na nossa direção como nos filmes de terror. Ficamos sem saber o que fazer. Se gritássemos,  assustávamos o homem e ainda levávamos um balázio, se não nos dessemos a conhecer a coisa ainda poderia piorar. 

Entretanto ouve-se um tiro (##) e,  ato contínuo, todos começamos a gritar (eu fui o único que se deitou no chão - ainda reflexos dos tempos de Guiné): "Somos nós, Sr. João, não dispare pelo amor de Deus!". 

O homem lá nos reconheceu, também ficou aliviado, mas nós ficamos sem conseguir falar durante uns bons minutos.

Joaquim Costa
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Notas do autor:

(#) Todas as escolas, mais antigas, ainda têm no seu inventário uma pistola e um carregador cheio de balas, guardado a sete chaves no cofre (fala quem sabe!)

(##) O homem de facto usava a pistola carregada e pronta para disparar, mas o tiro foi de uma pistola de feira, de fulminantes, que também usava como primeira abordagem à situação.
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Vd. também poste de 20 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24865: E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas (Joaquim Costa) - Parte I: Santo Tirso, o dono da "tasca"

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24547: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (3): EPC - Escola Prática de Cavalaria - Santarém: Especialidade

Caldas da Rainha - João Moreira, em primeiro plano, no dia do juramento de bandeira


"A MINHA IDA À GUERRA"

3 - EPC - ESCOLA PRÁTICA DE CAVALARIA - ESPECIALIDADE

João Moreira


Mas, como eu não tinha "cunha" atribuíram-me a especialidade de atirador de cavalaria e lá segui eu para a Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, onde se repetiu o meu martírio.

Passados poucos dias fui ao médico da EPC. Consultou-me e ouviu as minhas queixas. Mandou-me logo para o Hospital Militar de Tomar.

Após os exames e reconfirmada a minha "Espinha Bífida", mandaram-me para o Hospital Militar Principal, em Lisboa, por ser o único hospital militar que podia resolver os processos dos milicianos.

Em Lisboa confirmaram a minha deficiência... e deram-me alta. Voltei a Santarém. Como já tinha ultrapassado o número de faltas permitido mandaram-me para casa, com a especialidade perdida. (Era a segunda Especialidade perdida).

Em Outubro de 1969 voltei à Escola Prática de Cavalaria, em Santarém.
Falei com o 1.º sargento enfermeiro que ficou surpreendido por o Hospital Militar Principal, em Lisboa não me ter reclassificado ou mandado para casa, livre da tropa. Disse-me que ia pedir a minha ida a uma junta médica no Hospital Principal, em Lisboa, para resolverem a minha situação que já se arrastava havia 6 meses e, se perdesse a terceira especialidade, ia para o contingente geral.

Chegado ao Hospital Militar em Lisboa, fui à secretaria entregar a documentação que levava.
Disseram-me onde funcionava a Junta e para ir para lá e esperar que me chamassem.
Quando já era o único militar por chamar, e os médicos começaram a sair constatei que algo estava errado.

Dirigi-me a um médico que saiu e expliquei-lhe o que se estava a passar. Ele identificou-se como sendo o subdirector do Hospital e disse para ir com ele à secretaria para tratar do meu internamento.

Aí tocaram as "campainhas". Expliquei-lhe que não ficava internado, porque a perda da terceira especialidade significava a minha ida para o contingente geral. Por isso ia regressar a Santarém.
Ele garantiu-me que ia à Junta antes de acabar o prazo de faltas, e que não perdia a especialidade.

Também me disse que eu ia ser internado no Hospital Anexo, em Campolide, e que ele ia lá todas as manhãs. Disse para quando eu chegasse ao Anexo perguntasse onde era o gabinete do director do Hospital e fosse falar com ele às 10 horas da manhã seguinte, para pôr o meu processo a andar com urgência.

Na manhã seguinte, fui falar-lhe e ele chamou logo um 1.º sargento enfermeiro, e deu-lhe indicações para ele acompanhar o processo de forma a estar pronto a tempo de eu ir à Junta na semana seguinte.

A mim disse para ir todas as manhãs falar com ele, para o informar do que tinha feito, e chamava o 1.º sargento para confirmar se estava tudo a rolar para ir à Junta na semana seguinte. Na semana seguinte, antes de atingir o limite de faltas que originava a perda da especialidade, fui à Junta.

Quando fui chamado, o diretor do Hospital pegou no meu processo e disse que continuava com a mesma especialidade.

O subdirector, que tinha acompanhado o meu processo e sabia a gravidade da minha deficiência perguntou aos outros médicos se eles tinham lido o processo e se sabiam qual era a gravidade do meu problema.

Eles não responderam, e o director tomou a palavra e disse que "se eu fosse soldado ia já para casa", mas como era miliciano continuava como atirador de cavalaria porque havia falta de milicianos.

Com esta resposta dum coronel médico, director do Hospital Militar Principal, eu fiquei sem fala. Foi um choque tão grande que eu não consegui reagir.

Penso que se o subdirector reagisse adequadamente, a Junta tinha-me mandado para casa, ou no mínimo tinha-me reclassificado para uma especialidade que não tivesse actividade física.

Voltei à EPC em Santarém e falei com o 1.º sargento enfermeiro, que ficou incrédulo com o sucedido, e tomou a iniciativa de ir falar com o meu comandante de pelotão para me dispensar das provas físicas.

Como tinha boas notas nos testes, compensava para as provas físicas. E assim acabei a especialidade com aproveitamento.
Caldas da Rainha - Da esquerda para a direita: em pé: Seco, Castro, Daniel e João Moreira. Dos deitados não lembro os nomes.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24531: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (2): CIOE / Rangers - Especialidade em Lamego (Parte 2)

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22152: In Memoriam (392): Claúdio Ferreira (1950-2021), ex-fur mil art, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74)... Passa a integrar, a título póstumo, a Tabanca Grande, sob o nº 840 (Jorge Araújo)

 


IN MEMORIAM

HOMENAGEM AO CAMARADA

CLÁUDIO MANUEL MARQUES FERREIRA [1950-2021]

- Ex-Fur Mil Art da CART 3494 (Xime-Mansambo, 1971-1974) –

por Jorge Araújo

 


Camaradas,

Serve o presente para dar-vos conta de mais uma notícia que nunca estamos preparados ou desejamos fazê-lo. Trata-se de mais uma baixa no contingente da minha CART 3494, desta feita a do meu/nosso camarada Cláudio Manuel Marques Ferreira (1950-2021), ex-furriel do meu Grupo de Combate (o 1.º), com quem partilhei, durante os já longínquos anos de 1972-1974, para além do mesmo espaço de pernoita, muitos momentos de verdadeira amizade e solidariedade e, também, muitas emoções, nomeadamente ao calcorrear os mesmos caminhos que nos "couberam em sorte", todos eles situados a sul do Xime.

Com efeito, este triste e sentido desfecho já estávamos a prever há algum tempo, precisamente quando o telemóvel do Cláudio Ferreira deixou de comunicar. É que no final do mês de Março, o camarada António Bonito contactou-me perguntando se sabia algo sobre o camarada Cláudio Ferreira, uma vez que lhe ligou mas o seu telefone estava desligado. Este era o indício do que já tinha acontecido… e que hoje foi, lamentavelmente, confirmado.

Descansa em paz, camarada Cláudio Ferreira!

Em sua homenagem, recordo aqui alguns momentos que fazem parte da memória colectiva da CART 3494, que no próximo mês de Outubro comemora meio século de existência, quando a Unidade se constituiu no RAP 2, em Vila Nova de Gaia, preparando a sua missão Ultramarina.


Foto 1 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > Setembro de 1972 > Da esquerda para a direita: Cláudio Ferreira, João Godinho e Jorge Araújo, trio de furriéis responsáveis pelo 1.º Gr Comb.

 

◙ - MEMÓRIAS DO DIA 9 DE AGOSTO DE 1972 (VÉSPERA DO NAUFRÁGIO NO GEBA)


(…) O dia 09 de Agosto de 1972, 4.ª feira, foi passado no cumprimento das diferentes tarefas logísticas internas como sejam: limpeza, recolha e abastecimento de água pelos diferentes abrigos e outros serviços de manutenção ao aquartelamento, sob a orientação operacional dos três furriéis do grupo: Cláudio Ferreira, João Godinho e Jorge Araújo.


Concluídas as diferentes missões, o restante tempo que faltava para encerrar o dia foi utilizado no jantar, na messe, e depois recolhemos ao nosso "TZero", procurando recuperar energias para o dia seguinte, já que a missão atribuída na escala era de «intervenção», desconhecendo-se, naquele momento, o que estava previsto ou pensado para esse efeito.


Já na posição de deitado, recebendo o ar fresco da ventoinha suspensa na estrutura da cabeceira da cama, pois estávamos na "época das chuvas", eis que entra no quarto o camarada Cláudio Ferreira, com ar de poucos amigos, contando que tinha sido chamado ao Gabinete do CMDT da Companhia, ex-Cap. António José Pereira da Costa, líder da CART 3494 desde 22Jun1972, recebendo instruções para preparar a sua Secção (Bazuca) reforçada com mais alguns elementos do Gr Comb (o 1.º), com o objectivo de no dia seguinte, de manhã, participar num patrulhamento a efectuar na margem direita do Rio Geba, estando prevista a inclusão, na acção, do Major de Operações do BART 3873, ex-Major de Artª. Henrique Jales Moreira.


Perante os sinais de ansiedade transmitidos em cada frase emitida e o nervosismo sentido em cada movimento corporal, logo o questionámos – eu (Jorge Araújo) e o João Godinho – o que se passa contigo?


A resposta não foi imediata. Mas, depois de alguma insistência, afirmou sentir-se um pouco em baixa de forma. Perguntei-lhe se queria que eu fosse no seu lugar. A sua resposta foi afirmativa, deixando cair, então, um grande fardo que tinha sobre os seus ombros. (…)


Seria que estava a adivinhar ou a persentir algo negativo? – (ver P10246)

 


Foto 2  > Guiné > Zona Leste >Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > Dezembro de 1972 >  Messe de Sargentos - Da esquerda para a direita J. Pacheco [Fur, 20.º Pel Art], João Godinho [Fur], Serradas Pereira [Alf], João Fernandes [Fur], Cláudio Ferreira [no acto de cantar] e Jorge Araújo [de costas].

 


Foto 3 > Guiné > Zona Leste >Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > Abril/1973 > Em 1.º plano, da esquerda para a direita: os Furriéis Jorge Araújo, Cláudio Ferreira, Abílio Oliveira e João Godinho; em  2.º plano (e pela mesma ordem): Acácio Correia [Alf], Luciano Costa [Cap], Luciano de Jesus [Fur] e José Araújo [Alf, 1946-2012].

 


Foto 4 > Guiné > Zona Leste >Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > Julho de 1973 > Da esquerda para a direita,  Carvalhido da Ponte [Fur Enf], Acácio Correia [Alf], Cláudio Ferreira [Fur], Manuel Ramos [1.º Cabo - 1950-2012] e Rogério Silva [Sold Radiot - 1950-2002]  (foto do álbum do Acácio Correia).

 

◙ - VISITA AO CLÁUDIO FERREIRA NO CENTRO DE MEDICINA DE REABILITAÇÃO DE ALCOITÃO EM 28 DE JULHO DE 2015


Ao termos conhecimento de que o camarada Cláudio Ferreira se encontrava hospitalizado no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, três dos seus camaradas: o Acácio Correia, o Luciano de Jesus e o Jorge Araújo, tomaram a iniciativa de o visitar, em 28 de Julho de 2015, 3.ª feira, para lhe levarmos a amizade e solidariedade de todo o colectivo, transmitindo-lhe o ânimo de que precisava para superar as dificuldades físicas e psicológicas porque estava a passar naquela ocasião.

Foi com muita emoção que nos recebeu e durante cerca de duas horas, contou-nos alguns dos detalhes que o tornaram dependente de uma "cadeira de rodas". Não deixou, também, de viajar pelas memórias de longa data, relativas ao tempo vivido na Guiné.

Quanto ao seu estado físico, ele tem a sua génese num acidente de viação, ocorrido em 2009 no IC9, entre Tomar e o Entroncamento, que lhe provocou várias fracturas expostas em ambos os membros. Ao fim de um ano em recuperação a sua mobilidade permitia-lhe já fazer uma vida normal.

Em 2014, seis anos depois, começou a sentir sinais de falta de equilíbrio até que um dia [em Novembro], ao descer os degraus da escada da sua habitação, em Santarém, caiu desamparado, voltando a fracturar a perna esquerda em vários sítios, entre eles o fémur.

Levado para o Hospital local, aí foi sujeito a uma intervenção cirúrgica. No recobro, durante a recuperação da anestesia, nos primeiros períodos em que esteve acordado tomou consciência do seu corpo. Tudo parecia funcionar. Porém, decorrido algum tempo nesse estado de repouso, entre vigílias e sonos, constatou que não executava a motricidade voluntária dos membros inferiores, pelo que chamou a equipa médica, disso lhe dando conta.

Feitos os exames de diagnóstico do protocolo, voltou ao Bloco para nova cirurgia. Foi-lhe dito, sumariamente, pela equipa médica desta segunda operação, que tinha sido removido um coágulo sanguíneo, o qual contribuiu para esta última situação.

Daí estar no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, entregue à supervisão técnica dos especialistas nesta área científica, na expectativa de recuperar o que deixou de funcionar de um momento para outro – a mobilidade dos membros inferiores.

Eis algumas imagens dessa nossa visita.



Foto 5 > Cascais >  Alcoitão > Julho de 2015 >  O camarada Cláudio Ferreira durante a amena cavaqueira, recordando momentos passados em comum há mais de quatro décadas, no CTIG.  

 


Foto 6 > Cascais > Alcoitão > Julho de 2015 >  O camarada Cláudio Ferreira ouvindo o relato do Acácio Correia (à direita),   relacionado com a sua visita à Guiné-Bissau, em 1998, na qual incluiu os locais palmilhados pelo colectivo da CART 3494.

 


Foto 7 > Cascais> Alcoitão > Julho de 2015 >  Um novo trio olhando para a câmara do camarada Luciano de Jesus: da esquerda para a direita, Jorge Araújo, Acácio Correira e Cláudio Ferreira

 


Foto 8 > Cascais > Alcoitão > Julho de 2015 > A equipa que conviveu com o camarada Cláudio Ferreira, levando-lhe os afectos e a solidariedade de todos os membros da CART 3494.

 


Foto 9 > Cascais > Alcoitão > Julho de 2015 > O camarada Cláudio Ferreira dirigindo-se ao colectivo dos «Fantasmas do Xime», enviando-lhes um GRANDE ABRAÇO e votos de muita saúde.

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Hoje, que soubemos da sua morte, resta-nos enviar à sua família, e amigos, os nossos mais sentidos pêsames, dizendo-lhes que o nosso camarada Cláudio Ferreira continuará a estar presente… SEMPRE!

 

Saudações,

Jorge Araújo.

28.Abr2021


Comentário do editor LG:


Jorge, e continuará sempre, na nossa  memória, o Claúdio Ferreira, ao passar a integrar, a título póstumo, a nossa Tabanca Grande. Ficará, simbolicmante, inumado, no talhão nº 840, à sombra do nosso sagrado poilão. (**)


Fico sensibilizado também pela vossa solidariedade, ao visitá-lo no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, em julho de 2015 (***).  São exemplos desses que devem ser conhecidos e louvados. 


Fica também aqui expressa, em público, a nossa solidariedade na dor, endereçada à família e aos amigos e camaradas mais próximos.

_____________


Notas do editor:


(*) Último poste da série > 7 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22077: In Memoriam (391): Maria Cristina Robalo Allen Revez (8/3/1943 - 5/4/2021) - A Cristina, a Guiné e a sua presença na nossa sala de conversa (Mário Beja Santos)

(**)  Último poste da série > 29 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22048: Tabanca Grande (517): Jean Soares, ex-1º cabo de radiolocalização, Batalhão de Reconhecimento de Transmissões (Trafaria, e Maquela do Zombo, 1972/75): enfermeiro psiquiátrico reformado, a viver em França, em Caen, Normandia, e que está a tentar a recuperar a nacionalidade portuguesa que perdeu... Nasceu em Pirada... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 839.


(***) Vd. poste de 26 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15162: História da CART 3494 (10): A dimensão humana do colectivo da CART 3494 (Jorge Araújo)

sábado, 12 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21639: In Memoriam (377): Victor Alves (1949-2016), natural de Santarém, ex-bancário, ex-fur mil SAM (vagomestre), CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/73)


Óbidos > Restaurante A Lareira > 22/5/2010 > 16º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 >  Da esquerda para a direita: Luís Graça (ex-fur mil, CCAÇ 12, 1969/71), Victor Alves (ex-fur mil SAM, CCAÇ 12, 1971/72), Celestino Ferreira da CostaMajor inf ref,  o 2º Capitão da CCAÇ 12, 1971/72, residente na Trofa, trazido pela mão do Fernando Sousa), Jorge Cabral (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 63, 1969/71).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. 
Só agora, lamentavelmente,  soubemos da morte do Victor Alves, ocorrida em 12 de março de 2016, pela leitura de um comentário do António Lalande Jorge, ex-fur mil mec auto, CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, março de 1972/ abril de 1974), com data de 4/8/2016, deixado num poste de 20 de maio de 2011 (*).

O comentário, que vamos reproduzir na íntegra num outro poste, dizia o seguinte em relação ao Victor Alves:

Meus caros camaradas. 

(...) Nunca escrevi nada no blogue porque nunca fui "expert" em computadores e é para mim muito difícil dominar estas tecnologias.No entanto sempre acompanhei, lendo todos os comentários que por aqui foram passando.

Resolvi escrever agora porque achei muito triste não se ter ainda comentado a infeliz partida do nosso camarada Victor Alves, que foi vagomestre da CCAÇ 12 e um dos grandes impulsionadores dos convívios que vimos efectuando há 43 anos consecutivos e que muita saudade nos deixa...Paz à sua alma. (...) 



2. Comentário do nosso editor LG:

 O Victor Alves merece, mesmo que muito tardiamente, ser lembrado aqui, por várias razões:

(i) foi um dos nossos "periquitos",  chegou a Bambadinca, à CCAÇ 12, em fevereiro de 1971, para render o fur mil SAM Jaime Soares Santos (vulgo,  vagomestre; aliás, um dos camaradas a que chamamos os "pais-fundadores" da CCAÇ 12,  que também nunca mais vi, depois do nosso regresso em março de 1971; disseram-me que se formou em  economia e trabalhou na TAP);

(ii) natural de Santarém, era um dos históricos da nossa tertúlia: descobriu em 207, maravilhado, o nosso blogue:

(iii) fazia a ponte entre a geração dos "pais-fundadores" da CCAÇ 12 (, a minha, 1969/71), a segunda geração (a dele, 1971/73), e a da terceira  (como o António Manuel Sucena Rodrigies, 1951-2018);

(iv) tentou. sem êxito, que se realizasse apenas um convívio anual do pessoal da CCAÇ 12, juntando os,  afinal, escassos representantes das três gerações (1969/71, 1071/73, 1973/74);

(v ) conheci-o pessoalmente em Óbidos, em 2010, por ocasião do 16º Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71), bem como o ex-cap inf Celestino Ferreira da Costa (vd. foto acima);

(vi) falámos algumas vezes ao telefone e trocámos alguns emails;

(vii)  foi um dos camaradas que andou a angariar fundos para custear  a  vinda a Portugal do José Carlos Suleimane Baldé  (que eu tive a alegria de rever e abraçar em Coimbra, em 2011); 
(**)

 (viiI) em fevereiro de 2014, escrevia-nos: "Já há algum tempo que nada tenho lido sobre o blogue. Hoje ocasionalmente deparei-me com esta situação.[, inquérito 'on line']. Como tantos também não gostaria de morrer sem voltar à Guiné. Contudo, devido a problemas de saúde, tudo teria de ser bem revisto. Mas em principio também gostaria."

Infelizmente não teve ensejo de realizar esse sonho. Morreria dois anos depois, de doença. Presumimos que tenha nascido em 1949. (****).  

Fica honrada a sua memória. Este caso, de resto, não será virgem: suspeitamos que possa haver mais camaradas  nestas circunstâncias: já falecidos, sem conhecimento dos editores... O blogue vai fazer 17 anos e há membros da nossa Tabanca Grande de quem não temos notícias há muito. 

PS - Soube, entretanto, pelo Fernando Sousa, que o nosso camarada Celestino Ferreira da Costa, major inf ref,  o 2º Capitão da CCAÇ 12, 1971/72, casado e  residente na Trofa, também já nos deixou.

________

Notas do editor:


15 de maio de  2012 > Guiné 63/74 - P9903: Tabanca Grande (338): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74)

22 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8311: Os nossos camaradas guineenses (32): José Carlos Suleimane Baldé... Pensando na CCAÇ 12, em Coimbra, em Amedalai, em Bambadinca... Andando pelo Planaltod as Cesaredas, à procura de amonites e orquídeas-abelhas... Celebrando a biodiversidade, a etnodiversidade, a camarigagem, os nossos encontros e desencontros... (Luís Graça)

(***) Último poste da série > 8 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21622: In Memoriam (376): Raul Albino (1945-2020): recordando as peripécias da formação e partida da CCAÇ 2402 / BCAÇ 2851, com menos duas baixas de vulto, à chegada a Bissau
 
(****) Alfageme Santarém, Blog dos Antigos Alunos da Escola Industrial e Comercial de Santarém, fundada em 1956. > Faleceu Vítor Alves

Publicado em 2016/03/12 por alfagemesantarem

(...) Amigas, Amigos, acabamos de receber a triste notícia do falecimento do Colega Vítor Manuel Ferreira Alves. Estava casado com Madalena Simões Alves, que também andou na nossa escola.

Frequentou o Curso Geral de Comércio, curso diurno. Foi jogador de hóquei em patins pela equipa da nossa Escola, dos Caixeiros e da Académica de Santarém. Trabalhou no ex-Banco Espírito Santo.

O corpo está em velório desde as 16 horas, numa das capelas das Portas do Sol. O funeral é amanhã [113/3/2016], domingo, às 15 horas, seguindo depois para cremação, em Póvoa de Santa Iria.

Na foto abaixo, Vítor Alves é o 7º, a contar da esquerda, em baixo.

À Família enlutada, expressamos o sentimento do nosso profundo pesar.

A Coordenação.



O Victor Alves, elemento da equipa de hóquei em patins da sua escola, a Escola Industrial e Comercial de Santarém, Nesta foto, sem data, é o 7º a contar da esquerda, assinalado a amarelo.

Cortesia de Alfageme Santarém (Blogue dos Antigos Alunos da Escola Industrial e Comercial de Santarém, fundada em 1956)

domingo, 29 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21591: Bombolom XXIX (Paulo Salgado): "Dezasseis anos depois", um poema meu, que li em Santarém, no encontro anual da CCAV 2721, em Abril de 1986, onde esteve presente no final do almoço o Salgueiro Maia (1944-1992)


Guiné > Região do Oio > Olossato > CCAV 2721 (1970/72) > 1970 > O Alf Mil Cav Salgado, dando uma mãozinha ao pessoal dos serviços de saúde


Foto (e legenda): © Paulo Salgado (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor dos livros, "Milando ou Andanças por África", "Guiné, Crónicas de Guerra e Amor" e "7 Histórias para o Xavier":


Data - segunda, 26/10/2020, 16:14
Assunto . Um poema

Meu caro Luís Graça,
Meus Caros Editores,

Junto um poema que fiz em Abril de 1986. Li-o em Santarém no encontro anual da minha Companhia - CCAV 2721.

Esteve presente no final do almoço o capitão Salgueiro Maia. que veio dar um abraço à malta, em especial ao seu camarada Mário Tomé.

Peço-vos o favor - se for publicado no nosso Blogue - de atender à separação das estrofes. Obrigado.

Um abraço a todos.
E votos de resistência.

Paulo Salgado



DEZASSEIS ANOS DEPOIS

por Paulo Salgado


Anos de setenta

de surpresas e desventuras,

de guerra e de paz,

de ódio e de amor,

de carnificina e fraternidade.

 

As viaturas lançando poeira vermelha.

O cigarro fumado à sombra do mangueiro.

As crianças atraídas pela nova gente.

Os velhinhos dizendo chacota e piada.

As casas cobertas de capim.

O arame farpado rodeando o imenso terreiro.

Mulheres e homens de olhar indiferente.

As casas comerciais antigas.

As casernas  os abrigos  as valas

Os postos de sentinela o longe mirando

O rio correndo ao fundo pelos matagais

A floresta e a bolanha de grandeza nunca vistas

Os carreiros por entre matas serpenteando

- Pedaços de Abril de setenta

 

Anos de setenta

de surpresas e desventuras ,

de guerra e de paz,

de ódio e de amor,

de carnificina e fraternidade.


 P’ra trás ficou Bissorã,

Mansoa, Bissau, o Pidgiguiti cais

da luta sangrenta de operários e arrais

lá onde acostou o “Carvalho Araújo”,

(com nome do bravo marujo)

trazendo no seio carne para canhão.

 

A viagem foi lenta e segura.

Levar a bom porto tal gentalha

(que a guerra há tanto tempo dura)

p’ra alimentar de novo a fornalha.

Cada qual chorando os entes queridos,

alguns, do porão, lançando vómitos repetidos,

outros, amigos, conversando na amura.

 

Mar alto, mar de calma,

muitos companheiros nunca olharam,

mas outros antanho navegaram,

fosse Zarco ou Tristão, Nola ou Gama,

aqueles que sonharam com impérios

(se tais sonhos, loucos, ousaram)

de Lisboa até à Oceânia

vivos, agora, lançariam vitupérios

à desordem, à guerra, à infâmia

que de guerras tantas sofreram.

 

Anos de setenta

de surpresas e desventuras ,

de guerra e de paz,

de ódio e de amor,

de carnificina e fraternidade.


Olossato, Cansambo, Canicó,

Cansonco, Fajonquito, Nemanacó,

Amina Dala, Canjaja, Morés,

Iracunda, Bissancage, Maqué,

e outra belas tabancas,

de fulas, mandigas, balantas

mil etnias desta Guiné.

 

Destruídas, arrasadas, queimadas,

incultas, nuas, abandonadas,

terras que deram fruto e vida

agora chão fratricida.

Irmãos de raça ou de cor

lutando no lado de lá

com armas deitando fogo.

As voltas que a vida dá.

 

Já não se saboreiam cajus,

já não se cultivam bolanhas

nem se colhe o bom feijão

apenas se ouve o obus

e se contam as façanhas

de cada guarnição

 

Quem imagina um passeio

rio acima de canoa

ou viagem a Mansoa

Bafatá ou Farim?

Não passará de anseio,

quem pensa coisa assim?

Mancebo quer casar

bajuda formosa, nubente.

Como podem eles folgar

ao som do batuque dançar

e amarem-se no palmar

se a pobreza está presente?

 

Mistério este incompreendido

por deus.

lá no alto dos céus

bem por cima dos poilões

ele não vela

não vê o que se passa na Terra.

Terra

Negra Terra

Dura

Obscura

em que os homens são caminheiros

de estradas cortadas

esbarrando no arame farpado.

Com as mãos sangrando

aos seus deuses gritando:

Acabaram-se os sonhos?

Acabou-se o amor?

Não vedes, ó deuses,

as crianças de olhar parado e triste?

 

Anos de setenta

de surpresas e desventuras ,

de guerra e de paz,

de ódio e de amor,

de carnificina e fraternidade.


Troaram metralhadoras

e cantaram “costureirinhas”

pelo tarrafo lá ao fundo

e pelo rio atá à foz.

E a nossa voz

é um grito profundo

 

Quantos padeceram

a doença e o sofrimento

da fome e da solidão!

Quantos se picaram

e se vergastaram

pelo movimento

dos corpos suados!

Tristeza no coração.

 

Tapámos os olhos para não ver

o sangue escorrendo nas carnes feridas.

Tapámos os ouvidos para não ouvir

os ais lancinantes de desesperança

que brotavam das bucas sujas,

cheias de terra.

  

 Ah, o nosso mundo não é este.

Nos dedos escorre a morte   a dor   o suor.

Os olhos choram companheiros

sem sorte.

Nós queremos erguer

a bandeira branca

e cantar

e ouvir

canções contra a injustiça

contra as trevas

contra a infâmia maldita

que lançaram sobre o nosso destino.

 

Anos de setenta

de surpresas e desventuras ,

de guerra e de paz,

de ódio e de amor,

de carnificina e fraternidade.

 

Tantos anos já passaram

desde aquelas horas

à chuva

ao calor

ao cansaço

ao sofrimento…

 

Dezasseis anos passaram

depois de tantos homens

e tantas mulheres

e tantas crianças

morrerem

sofrerem

no mato

na bolanha

na tabanca ardida

incendiada

violada.

 

Dezasseis anos passaram

cheias de mortes,

anónimas, algumas concretas   próximas   desesperantes

vivas.

 

Dezasseis anos já passaram.

A nossa memória

paira na poeira do tempo

e da história .

Não esqueceremos

o capitão,

o Sebastião

a Kadi mulher

e os homens e mulheres

que na guerra se encontraram.

 

Tantos anos depois

não esqueceremos.

 

Anos de Abril de setenta

sonhando com Abril próximo

Abril sem ódio e sem guerra.

Com paz e fraternidade

na nossa terra.

 

Paulo Salgado

Abril de 1986 

(nas vésperas do encontro da nossa Companhia – CCAV 2721, 

em Santarém).

 __________

Nota do editor:


Último poste da série > 27 de novembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21587: Bombolom XXVIII (Paulo Salgado): Saudação e participação