Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > Centro de Instrução de Milícias > Da esquerda para a direita, em segundo plano, Ten Cor Polidoro Monteiro, Gen Spínola e Alf Mil Paulo Santiago.
Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados
1. Temos uma série, ainda com poucos postes, sobre os nossos comandantes e outros militares que, no TO da Guiné (*), se destacaram de uma maneira ou de outra ou ficaram na nossa memória (pelo seu currículo militar, pela sua liderança, pela sua personalidade, pelo seu convívio, pelas histórias que deles se contavam, etc.).
Hoje reunimos alguma informação adicional sobre o último comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), João Polidoro Monteiro, infelizmente já falecido, mas que alguns de nós conheceram e que com alguns privaram:
1. Armando Pires [ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula
e Bissorã,
1969/70] (**):
O Ten Cor João Polidoro Monteiro [JMP] veio, em 1970, directamente de Moçambique, onde comandava a Guarda Fiscal, para Bissorã, comandar o [meu batalhão, o] BCAÇ 2861, em substituíção do Ten Cor César Cardoso da Silva. Em Dezembro de 1970, o 2861 regressou a Portugal, terminada a comissão. Foi nessa altura que JPM foi comandar o BART 2917.
(...) Estou a vê-lo, ao Polidoro, galões reluzentes sobre um camuflado acabadinho de
saír do Casão Militar, olhos protegidos pelas lentes escuras de uns inevitáveis
Ray-Ban, pingalim tremelicando na mão direita, voz forte e decidida advertindo
a força em parada:
- Não me tomem por periquito, que de guerra venho eu farto.
Depois, a ordem que obrigava todos os militares a andarem devidamente fardados e ataviados quando não em serviço (???).
Se esta não fosse já um mimo, a cereja em cima do bolo veio de seguida. Íamos fazer exercícios de protecção ao aquartelamento. Poupo-vos ao relato e consequências, embora fossem de ir às lágrimas.
Já mais tarimbado na função, o Paulo Santiago, ex-comandante do Pel Caç Nat 53, aqui nos relatos da Tabanca mostra-o, ao Polidoro, numa foto tirada nas margens do Geba, ali no Mato Cão, exibindo um magnifico troféu de caça.
Com a mais respeitosa vénia ao Santiago, recoloco aqui a tal foto, ao lado de uma outra tirada por mim, em Bissorã, pedindo-lhes que descubram a semelhança.
- Não me tomem por periquito, que de guerra venho eu farto.
Depois, a ordem que obrigava todos os militares a andarem devidamente fardados e ataviados quando não em serviço (???).
Se esta não fosse já um mimo, a cereja em cima do bolo veio de seguida. Íamos fazer exercícios de protecção ao aquartelamento. Poupo-vos ao relato e consequências, embora fossem de ir às lágrimas.
Já mais tarimbado na função, o Paulo Santiago, ex-comandante do Pel Caç Nat 53, aqui nos relatos da Tabanca mostra-o, ao Polidoro, numa foto tirada nas margens do Geba, ali no Mato Cão, exibindo um magnifico troféu de caça.
Com a mais respeitosa vénia ao Santiago, recoloco aqui a tal foto, ao lado de uma outra tirada por mim, em Bissorã, pedindo-lhes que descubram a semelhança.
Hum!!! Já viram? Reparem outra vez… olhem bem… não deram por ela?...
É A FACA DE MATO, caramba! Ali, sempre pendurada no ombro direito.
Guiné > Região do Oio > Bissorã > BCAÇ 2861 (1969/70) > 1970 > Festa tribal: À esquerda o Alf Capelão Batista, à direita o Ten Cor Polidoro Monteiro
Foto (e legenda): © Armando Pires (2009). Todos os direitos reservados
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > O Ten Cor Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917 (1970/72), o Alf Médico Vilar e o Alf Mil Paulo Santiago, instrutor de milícias, com um jacaré do rio Geba... Foto tirada em Novembro ou Dezembro de 1971 no Mato Cão, após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento, encarregue de proteger a navegação no Geba Estreito e impedir as infiltrações na guerrilha no reordenamento de Nhabijões, um enorme conjunto de tabancas de população balanta e mandinga tradicionalmente "sob duplo controlo".
Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados
2. David Guimarães [ex-Fur Mil Art Minas e Armadilhas, CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72] (***)
(...) A CART 3492 (Xitole, Janeiro de 1972/Março de 1974) foi
exactamente a Companhia que rendeu a CART 2716 a que eu pertenci e fomos nós
que fizemos a sobreposição...
(...) Um dia o Comandante do BART 2917, já na sobreposição, apareceu no Xitole. O
Luís Graça e o Humberto Reis conheciam-no. Era o Tenente Coronel Polidoro
Monteiro... Conto-vos uma peripécia passada com ele.
Perguntava eu, bem perfilado, ao Polidoro Monteiro:
- Meu comandante, a nossa missão é ir ensinar o caminho a esta gente...Proponho que ensinemos o início dos caminhos por onde passamos tantas vezes....
Resposta:
- Vai-te foder, seu caralho, quero que lhes ensinem a toca....
Deu em riso, como é evidente....
O Polidoro Monteiro foi o único Tenente-Coronel que usava arma e eventualmente percorria um pedaço de caminhos connosco... Gostava muito de passear no Xitole, pois de manhã gostava de ir até Cussilinta, ao banho, no Corubal, e à noite ir à caça às lebres que iam para junto da mancarra (amendoím], na Tabanca de Cambessé, à guarda do aquartelamento do Xitole....
Sempre vi nele um bom militar e era da inteira confiança de Spínola.... Aliás ele era Tenente-Coronel de Infantaria e foi colocado por Spínola em Bambadinca para ir comandar o BART 2917, [em substituição do] Tenente-Coronel Magalhães Filipe, que era o Comandante inicial do Batalhão (...).
A gota de água para retirar o Comando ao Magalhães Filipe foi a operação na Ponta do Inglês onde morreu aquela secção do Cunha [da CART 2716, do Xime]... Quem merecia a porrada acabou por não a apanhar (...).
Ainda sobre o Polidoro Monteiro... Um dia ele manda um rádio para o Xime com a seguinte nota: "Dois pelotões formados às 5.30 para sair com CMDT" (...). O Polidoro Monteiro chama o condutor de dia e percorre, sem qualquer escolta, aquele caminho de Bambadinca ao Xime, a alta velocidade... Resultado: 10 dias de prisão para o [alferes que exercia as funções de] 2º Comandante, e 10 de detenção para outro alferes... É que eles nunca se fiaram que àquela hora ele aparecesse lá e como tal não estavam prontos como ele mandara....
Luís Graça e Humberto Reis: vocês já não estavam lá, creio, mas que isto se passou, passou... O Polidoro era assim, um bom Comandante, a nível operacional: dizia quantas asneiras havia no dicionário... Muito operacional mas bom sujeito... Vocês conheceram-no ainda (...).
Perguntava eu, bem perfilado, ao Polidoro Monteiro:
- Meu comandante, a nossa missão é ir ensinar o caminho a esta gente...Proponho que ensinemos o início dos caminhos por onde passamos tantas vezes....
Resposta:
- Vai-te foder, seu caralho, quero que lhes ensinem a toca....
Deu em riso, como é evidente....
O Polidoro Monteiro foi o único Tenente-Coronel que usava arma e eventualmente percorria um pedaço de caminhos connosco... Gostava muito de passear no Xitole, pois de manhã gostava de ir até Cussilinta, ao banho, no Corubal, e à noite ir à caça às lebres que iam para junto da mancarra (amendoím], na Tabanca de Cambessé, à guarda do aquartelamento do Xitole....
Sempre vi nele um bom militar e era da inteira confiança de Spínola.... Aliás ele era Tenente-Coronel de Infantaria e foi colocado por Spínola em Bambadinca para ir comandar o BART 2917, [em substituição do] Tenente-Coronel Magalhães Filipe, que era o Comandante inicial do Batalhão (...).
A gota de água para retirar o Comando ao Magalhães Filipe foi a operação na Ponta do Inglês onde morreu aquela secção do Cunha [da CART 2716, do Xime]... Quem merecia a porrada acabou por não a apanhar (...).
Ainda sobre o Polidoro Monteiro... Um dia ele manda um rádio para o Xime com a seguinte nota: "Dois pelotões formados às 5.30 para sair com CMDT" (...). O Polidoro Monteiro chama o condutor de dia e percorre, sem qualquer escolta, aquele caminho de Bambadinca ao Xime, a alta velocidade... Resultado: 10 dias de prisão para o [alferes que exercia as funções de] 2º Comandante, e 10 de detenção para outro alferes... É que eles nunca se fiaram que àquela hora ele aparecesse lá e como tal não estavam prontos como ele mandara....
Luís Graça e Humberto Reis: vocês já não estavam lá, creio, mas que isto se passou, passou... O Polidoro era assim, um bom Comandante, a nível operacional: dizia quantas asneiras havia no dicionário... Muito operacional mas bom sujeito... Vocês conheceram-no ainda (...).
3. Paulo Santiago [, ex-Alf Mil, cmdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho,
1970/72] (****)
(...) Acontece,algumas vezes, aparecerem postes que mexem comigo, precisando...emocionam-me. É o caso de hoje, com este poste do camarada Armando Pires,que entrou, em grande forma, para a Tabanca. Não é por causa da foto, onde apareço abrindo a boca do anfíbio bicharoco; não,o que me tocou mais fundo foi a recordação do Polidoro, pessoa que nunca mais encontrei após a minha saída de Bambadinca.
Todos sabeis, já o escrevi várias vezes (****), o Ten-Cor Polidoro Monteiro foi talvez o oficial superior, melhor, devo dizer, foi o único oficial superior que me mereceu respeito, e conheci vários. Estes vários que conheci, majores, tenentes-coronéis, quando íam ao Saltinho (é um ex.) utilizavam o heli, nada de ir em colunas, havia o pó e outras merdas mais complicadas... E aqui começa a diferença... Conheci o Polidoro, não em Bambadinca, conheci-o (e também ao Vacas de Carvalho)... no Saltinho, onde chegaram e de onde partiram numa coluna com o trajecto Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho
e depois o trajecto inverso. Não sei a razão, mas em Bambadinca, havia, como dizer?, uma certa cumplicidade entre mim e o Polidoro. Entendíamo-nos muito bem, já o mesmo não acontecia com o 2º comandante, o [major] Anjos de Carvalho, um militar emproado, bom para andar na parada, esperando ver um militar com menos atavio,ou que se esquecesse da
continência, para de imediato lhe foder a vida.
Agora a foto. Quem era o comandante de batalhão que se metia num Sintex e descia o Geba Estreito até Mato Cão? Só o Polidoro...e ficou lá a dormir nos buracos com o pessoal do Pel Caç Nat 63. Aquela faca no ombro direito, de que fala o Armando, é imagem de marca, julgo que nunca vi o Polidoro com outra farda que não fosse o camuflado, raramente com galões, contrariamente ao 2º comandante que sempre vi de calções, meia
alta e respectivos galões.
Agora vou "entrar" com o Armando quando cita aquela apresentação do Polidoro ("Não me tomem por piriquito que de guerra venho eu farto"). Oh Armando, não terá sido assim: "
"C..., não me tomem por piriquito que de guerra venho eu farto" ? Ou assim: "Não me tomem por piriquito, c..., de guerra venho farto" ?.
Agora, ainda a propósito da foto, reparem no outro personagem,o Alf Mil Médico Vilar, "apanhado" na altura (...hoje... psiquiatra)... Olhem para a arma que segura: é uma carabina de caça 22...Não é que ele lhe acoplou aquela imensa baioneta (comprada na Feira da Ladra) de uma Kropatschek ?! (...)
4. Comentário do editor:
(...) Companhias de quadrícula do BART 2917 (Maio de 1970/Março de 1972) (comandado por Ten Cor Art Domingos Magalhães Filipe e depois por Ten Cor Inf João Polidoro Monteiro):
(i) CART 2714, sita em Mansambo (Cap Art José Manuel da Silva Agordela)
(ii) CART 2715, sita no Xime (Cap Art Vitor Manuel Amaro dos Santos, Alf Mil Art José Fernando de Andrade Rodrigues, Cap Art Gualberto Magno Passos Marques, Cap Inf Artur Bernardino Fontes Monteiro, Cap Inf José Domingos Ferros de Azevedo)
(iii) CART 2716, sita no Xitole (Cap Mil Art Francisco Manuel Espinha de Almeida) (...).
______________
Notas do editor:
(*) Vd. postes anteriores desta série:
21 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7313: As Nossas Tropas - Quem foi quem (6): Hélio Esteves Felgas, Maj Gen (1920-2008)
9 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 – P4313: As Nossas Tropas - Quem foi quem (5): João Bacar Jaló (1929-1971) (Benito Neves, Mário Fitas e João Parreira)
13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3735: As Nossas Tropas - Quem foi quem (4): Cap Art Ricardo Rei, CART 1792: Lixaram-no, não passou de coronel (Joseph Belo)
21 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2569: As Nossas Tropas - Quem foi quem (3): João Bacar Djaló (1929/71) (Virgínio Briote)
4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2239: As Nossas Tropas - Quem foi quem (2): António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe (1968/73)
23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2207: As Nossas Tropas - Quem foi quem (1): Vasco Lourenço, comandante da CCAÇ 2549 (1969/71) e capitão de Abril
(**) Vd. poste de 4 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4778: Tabanca Grande (168): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã (1969/70)
Vd.comentário ao poste de 10 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9021: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72): Resumo dos factos e feitos mais importantes, por João Polidoro Monteiro, Ten Cor Inf (Benjamim Durães)
(***) Vd. poste, da I Série > 26 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXVI: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (6)