segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3187: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (16): Instrutor de milícias em Bambadinca (Out 1971)

Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (16)


Texto e fotos do Paulo Santiago
ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 53
Saltinho 1970/72


Página do manual de instrução AS MILÍCIAS NA CONSTRUÇÃO DE UMA ''GUINÉ MELHOR'



Instrução de Milícias em Bambadinca

Foquei na última memória a minha ida para Bambadinca, para comandar uma Companhia de Instrução de Milícias. Vão hoje mais algumas lembranças dessa fase.

A instrução de tiro é daquelas que mais me aviva a memória, fazendo-me pensar que, possivelmente, estávamos meios loucos, melhor, estávamos completamente apanhados.
A carreira de tiro, desaterro efectuado quando da construção da estrada Xime-Bambadinca, situava-se aí entre 500 a 1000 metros da ponte do rio Udunduma, para quem seguia em direcção ao Xime.

A zona, para quem se lembra, era perigosa, mas sempre fomos na maior das calmas, como se não houvesse guerra nas imediações. Ia um pelotão de cada vez, em viaturas até à carreira de tiro, quer fosse dia ou noite, porque também havia instrução de tiro nocturno. Se de dia era arriscado, imaginem à noite.

O oficial de tiro, já dito na memória anterior, era o Vacas de Carvalho, depois substituído pelo Vilaça, talvez no início de Dezembro de 1971, nestas funções e também no comando do Pelotão Daimler.

Na instrução nocturna, o Fur Mil instrutor e o monitor levavam umas granadas e uns dilagramas, sendo esta a segurança acrescida. Claro que eu levava a G3, quer de dia ou de noite.

Em Fevereiro de 2005, quando estive no quartel de Bambadinca, contei esta cena ao comandante, respondendo ele..."tiveram sorte".


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > No dia de encerramento da instrução, junto da carreira de tiro.


Tensão arterial baixa

Aí por início de Dezembro de 71, ia eu numa instrução de Educação Física (E.F.), correndo com os instruendos na estrada Bambadinca-Bafatá, falando em termos militares, fazia um trabalho de estrada, quando comecei a transpirar em abundância, espalhando-me de imediato no asfalto.

Passados uns segundos, recobrei, regressando apoiado ao quartel, indo de seguida ao
posto médico expor ao Dr Vilar (mais conhecido por Drácula) o episódio. Aplica-me no braço o aparelho de medir a tensão arterial, dizendo-me após verificação:
- Ó caralho, estás mal, tens a merda da tensão a 4,5-7,5.
- Que medicamento tens aí para tomar?, pergunto eu.
- Qual medicamento, vais mas é começar a beber whisky logo de manhã, não te embebedas só à noite, ao meio-dia tens de estar borracho; se seguires estas indicações a tensão arterial normaliza - foi esta a receita prescrita pelo médico.

Resultou, apesar de não estar bêbado ao almoço. Durante uns tempos caminhava para essa fase a passos largos, comecei mesmo a beber uns whiskies logo pela manhã.
Estava tudo doido, começando pelo médico.

Foto tirada na ponte de Udunduma com o Celo ao meu lado esquerdo. Os restantes são militares do destacamento (talvez da CCAÇ 12). Foi tirada num Domingo em que fui ao Xime beber copos...Maluqueiras!

As meninas de Bafatá

Habituei-me a ir às meninas. Ao sábado não havia instrução, andava em pulgas para que chegasse este dia. Chegava à sexta-feira, começava a funcionar a "cabeça perfurante" sem ligar à "cabeça pensante" e no sábado lá ia com o Vacas, de Daimler, para Bafatá.

O Zé Luís conhecia uma série de meninas, havia duas que trabalhavam ou tinham trabalhado no Fontória em Lisboa. Era uma rebaldaria. Depois do serviço, vá de comer e beber uns copos naqueles restaurantes de Bafatá.

Após o Vacas de Carvalho ter regressado, andei uns tempos sem companhia para vir à cidade, mas já quando formava a 2ª Companhia de Milícias consegui convencer, ou desviar, o Fur Mil Dinis para me acompanhar nos desvarios da carne.

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Notas de vb:

(*) Vd. artigos anteriores da série, em

13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3053: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (15): Instrutor de milícias em Bambadinca (Out 1971) e

25 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2302: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (14): Ilustres visitantes no Saltinho