1. Mensagem deAntónio Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74, com data de 7 de Setembro de 2008, fazendo a sua apresentação ao Blogue:
Caro Luís Graça,
Sou o António Carvalho, do Porto! Depois de já ter partilhado de memórias e momentos inigualáveis na Casa Teresa às quartas-feiras em Matosinhos e de com muita honra ter lido os vários testemunhos no blog Luís Graça & Camaradas da Guiné, venho agora também eu dar um bocadinho do meu testemunho e fazer a minha apresentação oficial....
Em anexo envio o documento com a minha apresentação e duas fotos, uma tirada no Quartel de Mampatá, outra mais recentemente!
Um grande abraço e obrigado.
António Carvalho
ex-Fur Mil Enf
CART 6250
Mampatá
1972/74
2. Estive lá...
Por António Carvalho
Estive lá, também fui soldado naquela Guiné onde o calor quase nos fundia o corpo e os incontáveis mosquitos disputavam o nosso sangue. A Guiné da mosca da bolanha, dos ramos que, soltos pelo da frente, nos chibatavam a cara. A Guiné dos rostos apreensivos e angustiosos, a Guiné dos que diariamente descontavam mais um dia, a Guiné dos que morreram ou viram morrer. A Guiné das lágrimas que corriam pelos rostos cobertos de sangue e pó. A Guiné do porquê e para quê. A Guiné do sacrifício inútil.
Ah! Também a Guiné das crianças iguais a todas as crianças do mundo: em correrias alegres por entre as moranças, despreocupadas com os problemas dos adultos. A Guiné das conversas com os autóctones, uma estória hoje, outra amanhã, para a compreensão da história de um povo etnicamente multifacetado. Mas sempre a Guiné de vinte e seis meses e meio que pareciam nunca mais acabar. Mesmo assim a Guiné de Mampatá que anseio profundamente rever.
Saímos do RAP2 em 27 de Junho de 1972 e chegamos no mesmo dia, de avião a Bissalanca. Daqui para os Adidos e destes para a LDG a caminho de Bolama. Um despassarado – o Zé Manel da Régua – ficou adormecido e esquecido nos Adidos. Durante a comissão forjamos uma sólida amizade que perdurará para além da morte pois, sem menosprezo para muitos outros amigos que felizmente tenho, o Zé Manel é um homem de uma grande lealdade, seriedade e generosidade e poucos terão desempenhado tão bem como ele a missão que nos incumbiram. Apareceu mais tarde em Bolama onde, infelizmente, chegou a tempo de assistir a um dos episódios mais trágicos da nossa comissão. No dia 10 de Julho, na fase do I.A.O, durante a instrução de tiro com dilagrama morreram-nos dois camaradas, um da nossa Companhia e outro do Batalhão 6520 (Batalhão de Tite). Não tenho palavras para descrever o quanto me abalou esta tragédia que guardo na minha memória com todos os contornos… aquelas imagens… aquelas vidas tão jovens ali perdidas, logo no início, como que a avisar-nos para o era aquele atoleiro.
Findo o I.A.O fomos para Buba de LDG onde chegamos no dia 28 de Julho. Primeiro nós, a sairmos da LDG e, os de Buba, para nos assustarem, passavam com Berliets acelerados transportando feridos simulados e, passadas algumas horas, após uma emboscada a sério, chegam Berliets transportando feridos a sério, um deles tão grave que acabou por falecer. Mais uma tragédia, antes ainda de chegarmos a Mampatá onde nos esperava a Companhia de açorianos CCAÇ 3326. Um mês em sobreposição, sem mosquiteiros, que só nos foram passados quando os velhinhos se foram embora.
Hoje não conto mais, não quero ser maçador. Quem quiser saber mais, vá à Casa Teresa, a Matosinhos, à quarta-feira, almoçar.
Um grande abraço onde caibam todos.
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3. Comentário de CV
Caro Carvalho
Estás apresentado formalmente, embora sejas da casa, pois militas há já algum tempo na Tabanca de Matosinhos.
Esperamos que o trabalho que nos mandaste, seja o primeiro de muitos. Não te esqueças que tens um concorrente muito sério, que é o teu camarada de Especialidade e de Mampatá, José Teixeira, que é um exímio contador de estórias, daquelas que de vez em quando nos fazem saltar uma lagrimazita mais atrevida.
Tenho o prazer de te conhecer pessoalmente, uma vez que te encontrei numa das raras visitas que faço à Casa Teresa.
Recebe um abraço dos editores e da restante tertúlia.
Teu camarada
Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último poste da série de 7 de setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3183: Tabanca Grande (85): João Manuel Félix Dias, ex-Fur Mil SAM, CCAV 2539, 2540 e CCAÇ 3, Guiné 1969/71
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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