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sexta-feira, 15 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25274: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Lançamento do livro em 2010 - Parte III: Intervenção do cor inf ref e escritor Manuel Bernardo


O 1º cabo 'cmd' Amadu Bailo Djaló, em meados de 1966. Foto do autor.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) >  Amadu, 70 anos, de fato completo, gravata, e as suas condecorações, autografando o seu livro... A seu lado, a filha e o neto... Pareceu-me estar feliz, apesar do peso da idade e da doença crónica... Disse-lhe, em tom de  brincadeira: "Aamdu, agora é que vais ser famoso e rico"... (Infelizmente, os direitos de autor não o fizeram rico, apesar da generosidade da Associação de Comandos, seu editor, e do livro ter esgotado; famoso, também não, mas tornou-se um camarada guineense muito popular e estimado por todos nós; a morte levá-lo-ia consigo cinco anos depois; fez questão de ser inumado na sua terra natal.)


Lisboa > Museu >Militar > 15 de Abril de 2010 > Apesar de ter perdido ainda recentemente a sua mãe, o Virgínio Briote estava feliz pelo Amadu e  pela concretização de um projecto onde ele investiu muito do seu tempo, talento, camaradagem e generosidade. Esteve sempre atento ao Amadú, segredando-lhe ao ouvido algumas dicas... A felicidade do nosso querido amigo, camarada e coeditor (hoje jubilado, mas sempre leal e solidário com a nossa equipa) seria completo se o Amadu tivesse aproveitado a ocasião, como era a sua intenção, para a estender a mão aos inimigos de ontem, num gesto  histórico de reconciliação, que teria grande simbolismo. 

Mas o Amadu não se sentiu muito confortável nem em condições de saúde para dizer as palavras que estavam no seu coração e na sua cabeça (e que estão no seu livro).

Na foto, à direita, o nosso camarada Carlos Santos, que veio de Coimbra (recorde-se que foi  fur mil da CCAÇ 2700, Saltinho, 1970/72,  infelizmente já falecido entretanto). 

A malta do nosso blogue esteve presente em força, querendo com isso testemunhar o seu apreço e carinho ao Amadu.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) > O Virgínio Briote "adiantando serviço" ao Amadú que não teve mãos a medir em matéria de pedidos de autógrafos... A seu lado, inclinado, apenas com a careca visível, o nosso amigo Rui Alexandrinho Ferrera, tratado afectuosamente como Ruizinho. Recorde-se que foi que o Rui A. Ferreira (1943-2023), nascido em Angola, cumpriu duas comissões de serviço na Guiné, primeiro como alf mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67, e depois  como cap mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) >  Sessão de autógrafos > Na foto, à esquerda e de perfil o nosso camarada António Santos.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1.  O lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, il.) foi um acontecimento cultural, social e militar, juntando no Museu Militar alguns conhecidas personalidades e sobretudo muitos amigos e camaradas, incluindo guineenses, e membros da nossa Tabanca Grande (alguns, infelizmente, já falecidos: o José Eduardo Oliveira, o Coutinho e Lima, o José Manuel Matos Dinis, o Rui A. Ferreira).

Estamos a recordar alguns dos melhores momentos desse evento, a que o nosso blogue dedicou, na altura, nada mais mais nada menos do que cinco postes, e nomeadamente as intervenções dos três oradores: depois do jornalista, escritor e analista político Nuno Rogeiro e do cor 'cmd' Raul Folques, que foi cmdt do Amadu Djaló, em 1973, no Batalhão de Comandos da Guiné (*), terminamos com a intervenção do cor inf ref e escritor Manuel Bernardo: 


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Sessão de lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, Lisboa, 2010) > O cor inf ref Manuel Bernardo lendo a sua intervenção



Capa do livro

Intervenção do cor inf ref e escritor Manuel Bernardo

Cumprimentos

- Dr. Lobo do Amaral
- Cor. “Cmd” Raul Folques
- Dr. Nuno Rogeiro
- O autor Amadú Djaló
- Cmd Virgínio Briote
- Todos os presentes…

Não tenho os dotes oratórios dos camaradas e amigos que me antecederam e muito menos dos do professor e ilustre comentador da SIC, que é o Dr. Nuno Rogeiro, pelo que vou limitar-me a ler um texto que elaborei para esta ocasião.


Agradeço o amável e honroso convite que me foi formulado pelo Presidente da Associação de Comandos, Dr. Lobo do Amaral, com quem já colaborara na edição de um outro livro sobre o 25 de Novembro e também incluído nesta colecção Mama Sume, da Associação de Comandos.

Para quem não me conhece e não compreende a minha presença neste acto solene de apresentação do livro do Alferes graduado Amadú Djaló, adiantarei que me envolvi com a Guiné e com os guineenses, quando fui solicitado por um grande amigo e camarada do meu Curso de Infantaria, o Coronel José Pais, pouco tempo antes de falecer, para que eu denunciasse os crimes contra a humanidade praticados na Guiné, no pós-independência, contra os seus militares, e outros, que incluía os designados “comandos africanos”.

Apesar de nunca me ter deslocado a este território, fiz questão de cumprir a promessa feita.

Assim, nesse sentido, em 2007 publiquei o livro Guerra Paz e Fuzilamento dos Guerreiros; Guiné 1970-1980, onde, além dos 53 “comandos africanos”, na grande maioria oficiais e sargentos, identifiquei 182 elementos, que igualmente foram fuzilados clandestinamente pelas autoridades guineenses, depois de serem detidos, sem ser oficialmente formulada qualquer acusação.

Nesta cerca de duas centenas de vítimas estão incluídos 34 militares do Exército, 14 fuzileiros especiais e 14 milícias, além de vários régulos e cipaios.

Quero lembrar aos presentes que os nomes daqueles 53 “comandos” africanos mandados fuzilar clandestinamente pelo PAIGC, se encontram desde Novembro do ano passado inscritos nas paredes do Memorial dos Combatentes do Ultramar, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, depois de uma porfiada campanha nesse sentido feita pela Associação de Comandos.

Pena foi que nesse acto não tivessem tomado a posição de esclarecer as pessoas, e nomeadamente os combatentes, dessa vergonhosa afronta e dos crimes praticados e consubstanciados nesse tipo de actuação.

Questões prévias

Antes de me debruçar sobre este livro do Amadú Djaló, permitam-me que, aproveitando estar junto de tantos militares e amigos, tente esclarecer dois assuntos, que foram referidos em livros publicados recentemente.

O primeiro tem a ver com a crítica feita pelo meu amigo Cor Brandão Ferreira, no seu último livro (Em Nome da Pátria) em relação à maneira como deviam ter sido solucionadas as guerras subversivas que enfrentávamos em Angola, Guiné e Moçambique. Ele não concorda com o princípio, que eu defendo, de que “a solução para este tipo de guerra deve ser política, através de negociações para a paz, e de preferência em posição de força.”

Julgo que, genericamente, o princípio deverá ser este. Recordo ter sido o utilizado pelo General De Gaulle, na Argélia… E lembrava igualmente ter ocorrido, em 1972, a última oportunidade perdida pelo anterior regime de iniciar um processo negocial na Guiné, como foi proposto a Lisboa pelo então General António de Spínola, na sequência de um encontro com o Presidente do Senegal, Leopold Senghor.

O segundo diz respeito a uma referência errada à minha actuação antes e pós 25 de Abril, em relação ao falecido Marechal Spínola, feita pelo Professor Luís Nuno Rodrigues, na biografia deste oficial, publicada recentemente e lançado na semana passada, em Lisboa.

Afirma o referido autor, com base na transcrição de um livro meu (Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975) em relação a um passo significativo para a reintegração de Spínola na sociedade portuguesa, o seguinte:

“(…) Os “fiéis” de sempre voltam a cerrar fileiras em torno do Velho. Em 1977, um grupo de oficiais, entre os quais Manuel Monge. Manuel Amaro Bernardo e Caçorino Dias, solicitaram ao CEME, General Rocha Vieira, que resolvesse a sua situação remuneratória (…). Meses depois, a 27-2-1978, Spínola foi finalmente reintegrado nas FA (…).”

Daquilo que conheço apenas o Manuel Monge poderá ser considerado um “fiel de sempre”, pois o Caçorino Dias apenas o terá conhecido em 1973, numa visita à Guiné, a propósito da contestação desencadeada ao Congresso de Combatentes e eu nunca o tinha visto, contactado ou trabalhado com ele até essa altura (1977). Apenas tive ocasião de lhe falar pela primeira vez, quando pedi uma entrevista, em 1993, para um trabalho universitário, depois publicado no livro Marcello e Spínola; a Ruptura (…)”.

E dos cinco oficiais, onde eu me incluo e que tomaram essa atitude de solidariedade castrense, os dois não transcritos do meu texto – os então Major José Pais e Capitão Ribeiro da Fonseca –, poder-se-iam considerar muito mais ligados ao Marechal desde os tempos da Guiné, onde prestaram serviço e comandaram companhias em operações.

Lembro ainda que imediatamente antes dessa afirmação, no livro Memórias da Revolução (…), eu frisava que apenas tinha conhecido António de Spínola depois de ele regressar do exílio, pós-11 de Março de 1975.

Mas eu já estou habituado que façam más transcrições dos meus livros, como aconteceu, com o Dr. Almeida Santos, para o seu Quase Memórias. Mas terão sempre que me ouvir em relação aos erros cometidos…, pois estou no meu direito de tentar restabelecer a verdade dos factos.

Um grande “comando” guineense

Entrando na análise desta obra, começaria por dizer que o seu autor foi um militar perseverante e distinto, que percorreu as funções das três classes atribuídas aos combatentes: praça (soldado e cabo), sargento e oficial, ao longo dos 11 anos que durou a guerra na Guiné.

Amadú Djaló, com o Curso de Comandos, que frequentou em 1964, seria transformado de um jovem comerciante independente, na vida civil, num grande combatente.

Para tudo na vida é preciso ter sorte e ele teve-a com os militares que foram seus instrutores e, depois, com o Alferes Maurício Saraiva, comandante do seu grupo (Os Fantasmas) e que foi considerado como um dos melhores combatentes da Guerra do Ultramar.

A este propósito lembro que os instrutores e monitores deste Curso de Comandos foram militares muito valentes, quer na Guiné, quer nos outros teatros de operações.

Quatro deles viriam a ser galardoados com a mais alta condecoração, a Ordem Militar da Torre Espada, do Valor Lealdade e Mérito, em 1969/70: Tenente Jaime Abreu Cardoso, 2.º Sargento Ferreira Gaspar, 2.º Sargento Marcelino da Mata e Capitão Maurício Saraiva. Dos restantes, sete seriam condecorados com a Cruz de Guerra (alguns com mais que uma).

Aliás, durante a guerra da Guiné, e por feitos praticados em operações foram condecorados com a Torre Espada mais quatro oficiais dos comandos: Major Almeida Bruno, Capitão Ribeiro da Fonseca, e os guineenses Cherne Sissé e João Bacar Jaló. 

 Pena foi que o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, o Coronel Raul Folques (aqui presente e também na capa deste livro), que já se distinguira em Angola e condecorado com uma terceira Cruz de Guerra em 1973, não tivesse merecido da hierarquia militar a ambicionada Torre Espada.

Quanto ao conteúdo da obra poder-se-á dizer que se trata de uma história triste, contada na primeira pessoa ao logo destas 300 páginas, como tristes e dramáticas serão todas as histórias de guerra.

Nela se descrevem as acções onde as nossas tropas sofrem feridos e mortes de camaradas, que com eles conviviam no dia-a-dia. Essas são marcas que ficarão para sempre na nossa memória. O autor fez bem em salientar, em anexo, os nomes de todos eles.

Na fase inicial de combate, no Grupo Fantasmas do então Alferes Maurício Saraiva já se nota, muitas vezes, uma mistura dos guerrilheiros com as populações, por conivência ou ameaças sobre elas, o que dificulta a actuação, sem os designados danos colaterais.

No entanto, o bom senso e a experiência do Amadú foram factores importantes para o bom andamento das operações. A sua actividade nos “comandos” manteve-se após a saída deste oficial, com a sua integração no Grupo Centuriões do Alferes Luís Rainha.

Após a intensa actividade operacional entre 1964 e 1966, nesses grupos de “comandos”, Amadú sentiu a necessidade de descansar para “recarregar as baterias”, voltando à sua condição de condutor. Assim, durante três anos passou pela CCS/QG e por vários batalhões: o BCav 757, o BCaç 1877, o BCav 1905 e BCaç 2856, que estiveram sediados em Bafatá.

Com a ordem de regressar aos “comandos” em 1969, com vista à formação da 1.ª CCmds Af., Amadú, tal como os seus antigos camaradas Braima Bá e Tomás Camará, regressou às lides operacionais, agora (1970) sob a liderança do Tenente João Bacar Jaló, um figura mítica e muito considerada pelas gentes da Guiné.

Mas, antes, ainda teve que frequentar um curso acelerado com o então Capitão “Comando” Barbosa Henriques, um militar que, depois do 25 de Abril, prestaria serviço comigo no Tribunal Militar.

Recordo a manifestação sentida dos “comandos” guineenses residentes na área da grande Lisboa, com os seus trajes típicos maometanos, no dia do seu funeral, há alguns anos, no cemitério do Alto de S. João. Despediram-se do seu amigo com o habitual grito “Mama Sume”

Grandes operações nos países vizinhos

Além das mais variadas operações feitas em todo o território e nomeadamente nas matas de Morés ou da Cobaiana, saliento as duas efectuadas em território estrangeiro.

A Mar Verde, na Guiné-Conacri, em Novembro de 1970, em que previamente surgiram dúvidas nos elementos da 1.ª CCmds Af. sobre a sua participação naquelas condições e onde actuaram juntamente com elementos dissidentes daquele país.

Os principais objectivos acabariam por não ser conseguidos, devido a falhas dos serviços de informações em relação à localização dos aviões e do presidente Sékou Turé, mas ocorreu o notável feito da libertação de 26 portugueses, que o PAIGC mantinha em prisões na capital do país.

Nesta operação a companhia de Comandos teve uma baixa de peso, pois o Tenente Januário Lopes desertou e entregou-se com o seu grupo de 24 homens. Esta não é porém a versão de Marcelino da Mata, com acção de comando importante à frente do seu grupo, após a morte do alferes na fase inicial, e que diz terem-nos deixado para trás por falta de coragem em os ir lá buscar na retirada.

O facto é que nas declarações à comissão da ONU, dias depois, Januário afirmou ter de facto desertado e acabaria por ser fuzilado com os seus homens no mês seguinte.

Amadú aquando dos preparativos para esta operação afirma no livro:

“(…) A nós, o PAIGC não nos poupava. Que me lembre não me recordo ver alguns dos nossos matar os feridos. Nem deixávamos nenhum ferido do PAIGC na terra de ninguém. Se estivesse ferido, pedíamos a evacuação para o Hospital Militar. Certamente que alguns de nós, brancos ou negros não se comportavam assim tão dignamente, mas não eram a maioria. E se fossemos apanhados pela tropa do Sékou Turé, de certeza que não haveria nenhum sobrevivente. (…)

A segunda, a operação Ametista Real, foi realizada em Maio de 1973, à base de Cumbamori, no Senegal, em que seria empenhado todo o Batalhão de Comandos Africano, sob o comando do então Major Almeida Bruno.

O objectivo, desta vez, foi conseguido, pois levou à destruição dos depósitos de armas e munições e numerosas baixas no PAIGC, tal como seria parado, pouco tempo depois, o cerco a Guidaje, que já durava havia três semanas.

O Batalhão de Comandos também sofreu bastantes baixas e a retirada do Senegal para o território da Guiné foi deveras penosa e feita com grandes dificuldades. Seria mais uma vez a grande experiência do Amadú e o apoio eficiente dado pelos aviões da Força Aérea a resolver a situação no final da operação. O autor descreve o sucedido, nas pag. 253 e 254:

“(…) Continuámos a retirar em direcção à fronteira. Não podíamos forçar muito, porque o Jamanca (tenente e comandante da companhia) só podia andar com o apoio de alguém e o Capitão Folques, com a perna ferida também tinha muita dificuldade em andar e estávamos ainda longe de Guidage.

“Pedimos apoio à aviação, mas recusaram. Que estavam a a voar muito alto e era difícil localizarem-nos. (…) Perguntei ao soldado que transportava o morteiro se tinha alguma granada de fumo. (…) O Capitão Folques transmitiu para os aviões (…). Disparei com o morteiro para sinalizar o local a partir do qual os aviões podiam bombardear.

“Uma grande bola branca de fumo já tinham visto dos aviões, ouvimo-los dizer. A partir deste momento, o Capitão Folques disse sueste do fumo, a sul, a sudoeste e a oeste, arrasar tudo, tudo! (…) Essa granada de fumo ajudou-nos muito. (…)

“Chegámos junto do arame farpado de Guidage entre as 18 e as 19H00, mortos de sede e fome. Em Guidage não havia nada para comer. Nem medicamentos. (…)

Como se vê, foram tempos dramáticos e de grande sofrimento os passados nessa altura… E pelas transcrições feitas julgo que ficarão de algum modo elucidados sobre o conteúdo desta obra.

Antes de terminar apenas quero fazer duas pequenas observações.

A primeira em relação ao editor, por na contra-capa não ter colocado outra fotografia do autor, em que no fundo estivessem nomes de guineenses (talvez os fuzilados e colocados recentemente no Memorial do Bom Sucesso) e não os que se encontram nessa foto.

A segunda por o autor não fazer qualquer referência à actuação do Marcelino da Mata naquelas grandes operações, atrás referidas, onde ele teve desempenho brilhante e relevante.

Lembro ainda o facto de ele ter sido o militar mais condecorado do Exército Português em toda a Guerra do Ultramar. Mas o Amadú Djaló, na pág. 243 do livro, esclarece a sua atitude em relação a este oficial:

“O ambiente entre nós nem sempre foi o melhor. Havia rivalidades étnicas que se cruzavam com os problemas que ocorriam em qualquer unidade militar. “

A terminar, quero elogiar o autor por esta significativa e importante obra hoje foi aqui lançada e que acabou por ser publicada mercê da sua persistência de vários anos.

De assinalar igualmente o trabalho meritório do “Comando” Virgínio Briote, que contribuiu bastante para a execução deste projecto, tal como na sua eficiente divulgação.

Elogio igualmente o editor, Dr. Lobo do Amaral, Presidente da Associação de Comandos, por numa altura de crise geral e editorial, nomeadamente em relação aos livros de ensaio ou memórias, se ter abalançado na sua publicação.

Muitas felicidades para os três, para o Coronel Raul Folques e para o Dr. Nuno Rogeiro, assim como para todos os presentes.

Muito Obrigado!
Manuel Bernardo
Lisboa, 15-04-2010
____________

Nota  do editor:

(*) Último poste da série > 13 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25268: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Lançamento do livro em 2010 - Parte II: vídeo (8' 43'') da intervenção do cor 'cmd' ref Raul Folques

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23017: In Memoriam (428): Carlos Alberto Oliveira Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72) que faleceu em Coimbra no passado dia 19 de Fevereiro de 2022 (Mário Migueis da Silva)

IN MEMORIAM

Carlos Alberto Oliveira Santos
Ex-Fur Mil da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72)


1. Mensagem de Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 21 de Fevereiro de 2022, com a notícia do falecimento do nosso camarada Carlos Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 2701, ocorrido no passado dia 19, em Coimbra:

Caro Carlos Vinhal
Assim, um pouquinho a correr, venho juntar fotografia e legenda alargada do Carlos Santos, camarada da CCAÇ 2701, falecido no passado dia 19, em Coimbra.

Era figura muito querida de toda a malta, nomeadamente do nosso amigo Paulo Santiago.

Se não vires qualquer inconveniente, agradecia a publicação respetiva.

Um grande abraço,
Mário Migueis


Distribuindo sorrisos, palavras amigas, abraços calorosos...

Distribuindo sorrisos, palavras amigas, abraços calorosos, na Guiné, como por cá, eis o retrato fiel do Carlos Santos, homem-grande de coração enorme, que, no passado dia 19, para grande mágoa nossa, nos deixou para sempre.

Residente em Coimbra, mas natural do concelho de Cantanhede, foi furriel miliciano da CCAÇ 2701, tendo cumprido, nos três primeiros anos da década de 70, a sua comissão de serviço na Guiné, onde, um dia, o fui encontrar.

Foi um privilégio tê-lo como amigo, merecendo-me, desde sempre, a maior consideração e estima, ou não tivesse sido ele o primeiro camarada a dar-me as boas-vindas à minha chegada ao Saltinho.


Entre as inúmeras histórias, com o seu quê de anedótico, que ele gostava de recordar, à gargalhada, durante os nossos convívios do pós-guerra, sempre figurava a que se segue:
Perante a iminência de um ataque com artilharia ao Saltinho, pedimos uma batida da zona de tiro provável a Aldeia Formosa. Já as granadas de obus sibilavam sobre as nossas cabeças, foi-me o Carlos Santos encontrar, a mim, homem das informações, bloco e lápis na mão, sentado, sem qualquer resguardo, num dos degraus de acesso à messe:

– Que é que estás a fazer aqui, Migueis?!... – o Santos, preocupado.

– Não me distraias, bolas!... Não vês que estou a tomar nota do número de obuses e da hora exata a que cada um nos passa por cima?...

********************

Comentário do editor:

O nosso camarada Carlos Santos foi, praticamente, desde a primeira hora um seguidor do nosso Blogue, tendo participado no emblemático I Encontro da Tertúlia na Ameira, no já longínquo ano de 2006. Esteve ainda presente nos II; III e V Encontros.
Esta foto é referente ao III Encontro de 17 de Maio de 2008, na Quinta do Paúl, Ortigosa, Leiria. O Carlos Santos entre o seu amigo Julião (Martins Julião, Alf Mil da CCAÇ 2701?) e o David Guimarães.

À família do nosso malogrado amigo e camarada Carlos Santos, apresentamos as nossas mais sentidas condolências.

Mais um Combatente que foi reforçar o contigente celestial, onde, mais tarde ou mais cedo, nos vamos alistar todos.

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23010: In Memoriam (427): Notícia do falecimento do nosso camarada Alberto Roxo Cruz, PilAv da BA 12 (Bissalanca, 1968/70 e 1972/74)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7496: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (14): Ruizinho, os heróis não morrem; Paulo, quem quer ser lobo, veste-lhe a pele; Carlos, portugueses e camarigos, muitos, alguns loucos; Miguel, 'tá lindo o nosso Poilão; camaradas, amigos, camarigos, saúde e paz na terra e... na blogosfera (Luís Graça)



O poilão da Tabanca Grande devidamente enfeitado e iluminado pelo nosso strelado artista gráfico, o camarigo © Miguel Pessoa (2010) (cada vez mais cobiçado pela concorrência...)




1. Temos sabido do Rui Ferreiro (mais conhecido no círculo de amigos como o Ruizinho), através do Paulo Santiago, em correspondência com o Carlos Vinhal (que neste momento e até ao fim do ano está de "baixa bloguistica", por sua vontade e meu consentimento):


(i) 14 de Dezembro de 2010:


(...) Há momentos, para me esclarecer num comentário, tive de telefonar ao Carlos Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 2701. Deu-me uma má notícia.

O Rui Alexandrino Ferreira( Ruizinho) está desde esta manhã internado na UCI do Hospital de Viseu com problemas cardíacos. Inspira cuidados.Terá de ser transferido para os HUC,onde forçosamente terá de ser operado. Já andava mal há uns dias. (...)



(ii) 14 de Dezembro de 2010: 


(...) Cheguei há pouco de Coimbra onde fui à apresentação do livro do Cor Calheiros. Acabei de falar com o Carlos Santos que esteve hoje à tarde na UCI do Hospital de Viseu. O Rui está muito debilitado, [ à doença crónica degenerativa que já tinha ] agora junta-se a angina de peito, precisa de ser intervencionado nos HUC. O problema é, com a debilidade que apresenta, essa intervenção cirúrgica poderá ser feita? Penso, o Carlos Santos também, que o Rui gostará de saber que os camaradas fazem força pela sua recuperação. Fica ao vosso critério a divulgação ou não do estado de saúde do Rui. (...)

(iii) 23 de Dezembro de 2010:

(...) O Rui foi transferido na 2ª feira do Hospital de Viseu para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa (com Coimbra ali tão perto...) para ser operado na 3ª feira. O seu estado devia ser grave, os médicos não esperaram e operaram-no durante a madrugada de 2ª para 3ª. O pós-operatório parece estar a correr bem...hoje telefonou ao Carlos Santos.

Aproveito para te desejar um Bom Natal, extensivo à tua família. Não deixes que as "guerras" do blogue te enviem para a psiquiatria. Dá descanso aos neurónios... Grande
abraço.



(v)  No dia 23 de Dezembro de 2010 20:01, Carlos Esteves Vinhal escreveu ao Paulo:

Caro Paulo. Obrigado pelas notícias que vou canalizar para o Luís. Acho que seria oportuno a publicação de um poste agora que temos mais certezas. Muito obrigado pelas tuas palavras em relação a mim.



Recebe um abraço e a retribuição dos teus votos. Tudo de bom para ti e para os teus. Carlos


(v) Eu, Luís Graça, senti-me na obrigação de escrever a ambos (com conhecimento a toda a Tabanca Grande), o seguinte... É um texto de humor e de amor bloguísticos (por favor não o levam a sério, os seus destinatórios são apenas o Paulo e o Carlos):


Paulo (com conhecimento ao Carlos Vinhal): 

Que raio de Natal, o deste ano! O nosso Ruizinho, 67 anos,  no hospital, a inspirar-nos cuidados e um aperto de angústia no coração; o meu querido Carlos Vinhal abatido por causa das "e-merdas" do blogue; eu, deitado, de cama, desde sábado, com uma ciática, a deixar-me operacional só a 20%; o Virgínio, há muito de sabática por causas das arritmias do coração; o Eduardo a tapar os buracos das albufeiras; o Zé Martins a pôr velas aos santinhos nossos padroeiros e a desejar as nossas melhorar; o strelado do Miguel a enfeitar de luzinhas o poilão da nossa Tabanca Grande para tentar a alegrar o ambiente; as nossas queridas caras metades na freima de ter tudo pronto, logo á noite, na ceia da Consoada: as prendinhas, o azevinho, a toalha de linho, as pencas, as batatas, o bacalhau, o azeite, o vinho...

Espero ao menos  que tu, Paulo, meu  bravo comandante do Pel Caç Nat 53 e camarada de armas de Bambadinca ao Saltinho,   nos anime e nos dê, de Águeda,  uma  ajudinha a vigiar este batalhão de náufragos do império... incluindo todos aqueles camaradas, amigos e camarigos que, sem um queixume, uns com "by-pass", outros sem "ombro amigo", vão passar esta Noite também tristes, doentes, combalidos, cacimbados, lixados, f..., ou até sós... (E se calhar são muitos mais do que aqueles que a gente imagina...Para eles vai o meu, o nosso,  pensamento solidário)... 

Paulo, faz chegar ao Rui, aos seus amigos (em especial ao Carlos Santos) e família, à equipa de saúde de Santa Maria que o está a tratar (e seguramente salvar), o desejo das suas rápidas e possíveis melhoras, e faz-lhe(s) sentir o melhor que há em nós, a malta desta Tabanca Grande, que é já uma peqena grande família, o melhor justamente de nós, que é a camarigagem, a compaixão, a força na adversidade... 

Vou tentar fazer uma notícia a desejar as melhoras do Rui... 

Na cama (estou na Madalena, V.N. Gaia, onde cheguei ontem à noite de Lisboa, com mulher e filhos) sou capaz de trabalhar com o portátil, nos intervalos da "pedrada" da medicação... Vou estar de férias no Porto (ou de atestado médico, se a coisa piorar... até ao fim do ano). 

Um santo Natal para ti, família, amigos... Dá um abração ao grandalhão do Victor Tavares, teu vizinho e herói de tantas batalhas do BCP 12, que também há tempos passou as passas do Algarve por causa da coluna...

Paulo, tu que és um coração de ternura barrada com mel, por baixo desse tronco de touro ou de lobo do reiguebi, mereces um especial xicoração, da minha parte, por tudo o que tens feito por todos nós, e em especial pelo Rui... Sei que és sempre o primeiro quando alguém está doente ou em baixo, aqui ou na Guiné-Bissau.... Eu tenho um especial carinho e admiração por ti, tu sabes... 


Um Alfa Bravo também para o "tabanqueiro" do teu João... Desculpa-me se hoje estou mais lamechas... mas  um gajo também é uma merda neuroquímica,  70% de sangue, suor e lágrimas: não é preciso um tiro de Kalash para nos matar, basta uma injecção letal, ou às vezes até a simples altercação do povo ...Luís...

PS1 - E já que a ocasião é propícia, mete na tua árvore de Natal estes sábios provérbios populares sobre doentes, doentinhos e pobrezinhos... E se não tiveres insónias nesta noite de Consoada, pensa em nós, Paulo, pensa no Rui,  e distribui alguns destes aforismos  aos teus amigos (que eu sei que são muitos) e aos teus inimigos (que eu sei que sei poucos, "pero locos").

"Quando pobre come frango, um dos dois está doente".
"Mais vale uma perna sã do que duas muletas"
"Médico novo e puta velha, todos gostam de experimentar" 
"Até aos 40 bem eu passo, dos 40 em diante 'ai a minha perna, ai o meu braço' ";
"Não adianta fugir com o cu à seringa"
"Em Lisboa nem sangria nem má nem purga boa"
"O hóspede e o peixe aos três dias fedem"
"De São Martinho ao Natal, o médico e o boticário enchem o bornal";
"Uma facada tem cura, mas a má palavra sempre dura"
"Quem de puta faz cabedal vai acabar na cadeia ou no hospital"
"É preciso cuidar dos pobres, antes que eles cuidem de nós"

PS2 - Para  o meu querido amigo Carlos, editor, que está sofrer, que eu sei (por que tenho um dedo que adivinha), com  "burn-out", esgotado (e eu sinto-me também culpado por isso)... mando-lhe estes "regalitos" para a sua árvore de Natal (a dele e da pobre Dina, que já há muito devia ser promovida a tabanqueira de honra, já que nunca falhou nenhum dos nossos cinco encontros e atura-nos, por tabela, muitos dos nossos pesadelos não climatizados)... 

Carlos, que o teu coração se alegre (ou que pelo menos consigas sorrir) ao ler estes conselhos que uso debaixo do travesseiro da minha cama, quando sofro de insónias ou dos males da alma:

"Portugueses pocos, pero locos" (considerar-me-ei sempre português, mesmo que seja o último, e mesmo que louco...)
"Cristo curou cegos e aleijados mas não malucos" (cuidado com o conceito...)
"Foge do louco e do alvoroço do povo" (há loucos e malucos...)
"Deus manda ser bom, mas não manda ser parvo" (acho que sou bom e quase sempre parvo, o que em latim quer dizer pequeno)
"Mais se ganha no paço às barretadas do que no campo às lançadas" (, que irónico, é a gente vê todos os dias na santa terra...)
"Quem a um castiga, a cem fustiga" (à vezes funciona)
"O dente morde na língua mas mesmo assim vivem juntos" (uma grande verdade)...
"Quem em caça, política, guerra e amores se meter,  "
não sairá quando quiser" (foi nosso caso, ainda não saímos, a maldita da guerra)
"O hóspede e o peixe aos três dias fedem" (... ponham-nos no frigorífico!)
"Os homens conhecem-se pelas palavras e os bois pelos cornos" (...por usamos palavras como camarigo e camarigagem...)
"Se um burro te zurrar, não lhe zurres" (... devíamos ir mais vezes ao jardim zoológico para percemos que afinal o Homo Sapiens Sapiens não passa de uma espécie animal, classificada pelos zoólogos na Ordem dos Primatas, com mais outras 200 espécies que elem, Homo Sapiens Sapiens, já conseguiu destruir...).


Madalena, Vila Nova de Gaia, 24 de Dezembro de 2010, 16h
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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6869: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (26): Portugueses na Lapónia... sem distress (José Belo)

1. Foto e texto de José Belo (Mensagem enviada com data de ontem)


O VERÃO NA LAPÓNIA em....stress de calor! 

Caros Amigos e Camaradas:

Um Continente, mesmo de um extremo ao outro, é bem pequeno para a nossa Tabanca e os seus leitores. Nao é que me apareceram, literalmente, "à porta de casa",  em Abisko, bem já dentro do Círculo Polar Ártico, na Lapónia Sueca, 3 casais de portugueses, leitores do blogue de Luís Graça e Camaradas da Guiné?!! 

Interessados pelo norte da Escandinávia, seguiram a sugestão do nosso Camarada da Tabanca do Centro, Carlos Santos, de quem são amigos, deram uma olhadela ao blogue da Tabanca da Lapónia e... aqui apareceram, em viagem que os levou da Lapónia Finlandesa, à Sueca e Norueguesa. 

Sem os conhecer de lado nenhum,e sem saber "o que são" ou no que "acreditam", tivemos momentos inesquecíveis de convívio Lusitano. Mais uma vez, temos que concordar que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é.....Grande! (*)

Um grande abraço amigo.

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