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terça-feira, 8 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20217: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte III




Foto 1 – Uma das duas GMC's da CCAÇ 423 (São João e Tite: de 22Abr1963 a 29Abr1965) danificadas por efeito do rebentamento de mina anticarro/fornilho colocada na estrada Nova Sintra – Fulacunda. A primeira, em 03 de Julho de 1963 (4.ª feira), no sítio de Bianga. A segunda, em 18 de Julho de 1963 (5.ª feira), no mesmo itinerário. Na sequência destas ocorrências, registaram-se, no total, oito baixas [Vd. quadro acima]




 O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, 
indigitado régulo da Tabanca de Almada; 
tem mais de 225 registos no nosso blogue.


ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA (PARTE III)





1. – INTRODUÇÃO


Continuamos a divulgar e a analisar os resultados apurados nesta investigação, tendo por objecto de estudo o universo das "baixas em campanha" de militares do Exército, e como amostra específica os casos de mortes de "condutores auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), identificados na literatura "Oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército, conforme demos conta no P20126, o primeiro desta séria.

No segundo – P20179 (*), para além da apresentação de mais quadros e gráficos estatísticos, incluímos os primeiros cinco "casos", escolhidos de forma aleatória, onde foram descritos os contextos e alguns dos factos que podem servir de explicação para cada um dos episódios. Como já referimos anteriormente, esta opção aleatória teve por critério de escolha: datas diferentes, bem como locais, épocas e missões, de modo a fazer-se, se possível, uma análise comparativa entre os acontecimentos.
Porque não o fizemos no fragmento anterior por razões de gestão do espaço, o que irá acontecer agora, retornamos às duas ocorrências (fotos 1) que ficaram na historiografia da guerra como tendo sido as primeiras, por efeito de rebentamento de minas/fornilhos, as quais originaram as oito mortes do quadro acima.

Para esse efeito, socorremo-nos das memórias do camarada Gabriel Moura, do Pel Mort 19, escritas no livro de 2002 - «Tite: 1961/1962/1963, Paz e Guerra» - de que é autor.

Na obra citada, é referido que o Comando em Tite, na sequência do pedido urgente de socorro que lhe foi enviado por uma coluna militar que vinha de S. João, para patrulhar a zona de Buba e Fulacunda, faz sair um pelotão em seu auxílio.

O pedido de ajuda estava relacionado com a missão atribuída à força em trânsito [CCAÇ 423] onde "uma viatura com cerca de 20 militares foi apanhada por uma carga de explosivos [TNT] colocados no chão, projectando a viatura [GMC] a cerca de 30 metros, ficando curvada pela potência dos explosivos que detonou [Deve ser a de 18Jul63]. (…)

"A distância a que se encontravam do nosso aquartelamento [Tite] ainda era de umas dezenas de quilómetros e as restantes viaturas, que não foram apanhadas pela explosão da mina anticarro, não tinham condições de continuar uma vez que não sabiam se havia mais minas colocadas. A nossa missão era bater todo o caminho até lá, fazendo uma inspecção do chão e das margens no sentido de evitar qualquer ataque ou emboscada preparada. O barulho da detonação, apesar da hora a que se deu, era já noite, talvez cerca de 23 horas, foi ouvido em Tite como se de uma coisa próxima se tratasse, quando de facto era a uma distância considerável, tal era a potência do engenho." (pp 91-92).


2. – ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE-ACIDENTE-DOENÇA (n=191)


Recordamos que a análise demográfica incluída nesta investigação, e as variáveis com ela relacionada, foi feita a partir dos casos de mortes de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas", identificados nos "Dados Oficiais", elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).




Para contextualizar a análise estatística desta narrativa, lembramos que no estudo foram apurados cento e noventa e um casos de mortes de "condutores auto rodas", do Exército, durante a guerra no CTIG (1963-1974).

Deste universo, as causas de morte foram estratificadas em três variáveis categóricas: combate - acidente - doença, em que na variável "combate" foram registados 112 (58.6%) casos; seguida pela variável "acidente", com 57 (29.9%) casos e, finalmente, a variável "doença", com 22 (11.5%) casos, conforme se indica no gráfico acima.

 



Quanto à variável categórica "combate", o estudo mostra que existem três causas principais (factores) para as mortes:  (i) "em combate" (operações/emboscadas); (ii)  "por minas" (explosivos); e  (iii) "por ataque ao quartel" (aquartelamentos/destacamentos/instalações militares).

Das 112 causas de morte "em combate" (58.6%), n=69 (61.6%) foram "por "contacto" com o IN; n=31 (27.7%) por engenho explosivo e n=12 (10.7%) por consequência de "ataque" IN ao quartel, conforme representação gráfica acima.


3. – MAIS ALGUNS EPISÓDIOS E CONTEXTOS ONDE OCORRERA

MORTES DE CONDUTORES AUTO RODAS ["CAR"] POR EFEITO
DE REBENTAMENTO DE "MINAS"



Neste ponto, continuamos a observar um dos principais objectivos deste trabalho, onde, para além dos números, se recuperam algumas memórias, sempre trágicas, quando estamos em presença de perdas humanas. Assim, e em homenagem a todos os camaradas que tombaram em campanha, apresentaremos, de seguida, mais quatro "casos" (do total de trinta e três), enquadrados pelos contextos conhecidos.

Como principal fonte de consulta, foi utilizado o espólio do blogue, ao qual adicionámos, ainda, outras informações obtidas em informantes considerados privilegiados.


3.6 - 03 DE JUNHO DE 1965: A SEGUNDA BAIXA DE UM "CAR" POR MINA - O CASO DO SOLDADO DOMINGOS JOÃO DE OLIVEIRA CARDOSO, DA CCAÇ 508, ENTRE PONTA VARELA E O XIME



A segunda morte em "combate" de um condutor auto rodas do Exército, por efeito do rebentamento de uma mina ("bailarina") [categoria de "minas"], foi a do soldado Domingos João de Oliveira Cardoso, natural de São Cosme, Gondomar, ocorrida em 03 de Junho de 1965, 3.ª feira, no itinerário entre a Ponta Varela e o Xime. O soldado 'Car' Domingos Cardoso pertencia à CCAÇ 508, uma Unidade mobilizada pelo RI7, de Leiria, chegada a Bissau a 20Jul1963, sob o comando, interino, do Alferes Augusto Cardoso.

Durante a sua comissão de dois anos (20Jul63 a 07Ago65), o contingente da CCAÇ 508 cumpriu importantes missões em dez locais diferentes, como sejam: Bissorã (Ago63-Mai64 - treze meses - sendo substituída pela CART 643); Barro e Bigene (Ago63-Dez63), Olossato (Dez63-Mai64), Bissau e Quinhamel (Set64-Mar65), Bambadinca (Mar65-Abr65, sendo substituída pela CCAV 678) e Galomaro, Xime e Ponta do Inglês (Abr65-Ago65).

Porém, a sua última missão em zona operacional iniciou-se em Março de 1965, com dezoito meses de comissão, ao ser transferida para Bambadinca, onde ficou instalado o Comando, sob a liderança, desde Jul64, do Cap Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles, assumindo este a responsabilidade do respectivo subsector, com Gr Comb destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, designado a partir 11Jan65 por Sector L1, sediado, à época, em Fá Mandinga, sob o comando do Tenente-Coronel Mário Serra Dias da Costa Campos.

Em 16Abr65, a CCAÇ 508, ao ser substituída pela CCAV 678, foi deslocada para o Xime, tendo assumido a responsabilidade do respectivo subsector, criado nessa data, com grupos de combate destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.



Recordo que o tema relacionado com os factos ocorridos em 03 de Junho de 1965, perto da Tabanca de Ponta Varela, na estrada Xime-Ponta do Inglês (infogravura acima), local onde se verificaram quatro baixas no contingente da CCAÇ 508, como consequência de ter sido accionado um engenho explosivo, já foi devidamente abordado em narrativas anteriores, estas associadas com a morte do Cap Francisco Meirelles (1938-1965), tendo como principal fonte de consulta e análise, o livro publicado em sua memória pela sua família (pp 8-11). [vidé P19597; P19613; P19640; P19656 e P19687].



Foto 2 – Ponta Varela (Xime), 03JUN1965. Momento antes da explosão que originou quatro mortes nos efectivos da CCAÇ 508. O Cap Francisco Meirelles (à esquerda) junto do Domingos Cardoso que, segundo julgo saber, era o seu condutor. [P19640]


Entretanto, neste contexto, é oportuno recuperar alguns factos que estiveram ligados às suas mortes, enquadrando-os na situação particular do camarada Domingos Cardoso.

Sabe-se hoje, pela literatura consultada, que a visita de uma equipa de reportagem da Radiotelevisão Portuguesa {RTP] ao Xime, constituída pelos técnicos Afonso Silva (operador) e Luís Miranda (realizador) tinha por objectivo principal recolher imagens e depoimentos sobre a detecção de minas. Tal interesse nascera do facto de naquela zona – Xime-Ponta Varela-Ponta do Inglês – ser muito frequente a colocação de engenhos explosivos por parte dos guerrilheiros do PAIGC, comprovado pelas cerca de quatro dezenas de minas detectadas e levantadas pelas NT, entre Março e Maio de 1965.

Coube essa particular missão ao capitão Francisco Meirelles, na qualidade de Cmdt da CCAÇ 508, ficando decidido que a mesma teria lugar no dia 03 de Junho de 1965, 3.ª feira. Como combinado, as forças destacadas para a missão, os repórteres da RTP e alguns oficiais superiores responsáveis pelo Sector L1 deram início ao compromisso assumido superiormente.

Logo ao 2.º km do Xime, o primeiro percalço: foi detectada uma mina anticarro  [mina A/C]  [foto 3, ao lado]. Como os trabalhos de levantamento da mina demorassem, o capitão Francisco Meirelles propôs ao major Abeilard Martins, 2.º Comandante do Batalhão 697 [BCAÇ 697], irem a pé até à tabanca de Ponta Varela, pois queria mostrar a conveniência da sua reocupação pelos nativos, em regime de auto-defesa, reocupando-se dessa forma uma região muito fértil. Ficariam assim os Comandos a dispor de mais um ponto de observação e de vigilância, e também dificultada a colocação de minas naquela zona.

A sugestão foi aceite. Partiram, então, aqueles oficiais, juntamente com o major Afonso, do Estado Maior do Comando Chefe, que acompanhava os operadores da TV, com o régulo da tabanca de Ponta Varela, com alguns pisteiros indígenas e com duas ou três secções que seguiam nos flancos. Percorridos os 4 ou 5 kms que distam de Ponta Varela, foi esta povoação observada minuciosamente bem como os pontos de defesa e apreciado o panorama do Canal do Geba e dos planos que o ladeiam.

Como fosse perto do meio-dia foi iniciado o caminho do regresso ao Xime. A umas centenas de metros da tabanca de Ponta Varela rebentou repentinamente uma mina antipessoal [, mina A/P], vulgo "bailarina". A mina ao rebentar ocasionou a morte instantânea do soldado condutor auto rodas Domingos João de Oliveira Cardoso, do 1.º cabo José Maria dos Santos Corbacho, natural de São Pedro e Santiago, Torres Vedras e o soldado indígena Braima Turé, natural do Xime. O capitão Francisco Meirelles ficou gravemente ferido na garganta e no tórax, vindo a falecer vinte minutos após a explosão.

Em função da violência da detonação, os corpos dos dois primeiros militares foram sepultados no Cemitério de Bafatá.


3.7 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' ALBERTO TEIXEIRA SANTOS, DO PEL REC DAIMLER  1077, EM 28.OUT.1966, ENTRE CAMECONDE E CACINE


A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Alberto Teixeira dos Santos, natural de Vidago, Chaves, ocorreu no dia 28 de Outubro de 1966, 6.ª feira, durante a «Operação Renascença», por efeito do rebentamento de uma mina, no itinerário Cameconde-Cacine, quando as forças no terreno procediam ao socorro de alguns feridos provocados por outros engenhos explosivos, nomeadamente minas A/P, e depois de ter sido detectada e levantada na mesma zona uma mina A/C.

O soldado "CAR" Alberto Teixeira dos Santos pertencia ao Pelotão de Reconhecimento Daimler 1077 (Fev66 a Nov67), Unidade sem qualquer referência no blogue.

Daí que, para a elaboração deste fragmento foi utilizada, como principal fonte de consulta, a literatura Oficial publicada pelo Estado-Maior do Exército, elaborada pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 6.º Volume, Aspectos da Actividade Operacional, Tomo I, Guiné, Livro 1, 1.ª Edição, Lisboa (2014), p417, à qual adicionámos outras informações pontuais para alargar o âmbito temático.



 «OPERAÇÃO RENASCENÇA» - 28 DE OUTUBRO DE 1966


A operação em título foi programada pelo Batalhão de Caçadores 1861 (BCAÇ 1861) [18Ago65-17Abr67], sob a liderança do TCor Inf Alfredo Henriques Baeta, Unidade que sucedera ao BCAÇ 600, em 25Ago65, assumindo a partir desta data a responsabilidade do Sector Sul 2 [S2], com sede em Buba e abrangendo os subsectores de Aldeia Formosa, Guileje, Gadamael, Sangonhá, Cacine, (cuja sede passou para Cameconde no início de Dez66) e Buba. A partir de 23Out66, foi reforçado com uma companhia [CCAÇ 1477], que se instalou em Mejo.

A realização desta operação no dia 28Out66, no território de Quitafine, previa, sobretudo, acções ofensivas nas regiões de 'Cambeque' - 'Cassaprica' - 'Cabaz Balanta' - 'Cabaz Sosso' e 'Caboma', e outra acção secundária na direcção de 'Cabonepo', localidades indicadas na infografia abaixo.

Para cumprir esses objectivos, foram mobilizadas as seguintes forças:


► CCAÇ 779 (28Abr65-20Jan67) do Cap Inf José Manuel da Silva Viegas. Assumiu a responsabilidade do subsector de Cacine desde 10Jun65, por troca com a CART 496, com um destacamento em Cameconde, para onde já deslocara um Gr Comb em 08Jun65, e que seguidamente foi reforçado com um segundo Gr Comb. Ficou integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 600 e depois do BCAÇ 1861.

► CCAÇ 1477 (26Out65-27Jul67) do Cap Inf Waldemar Sesinando Monteiro Batista (1.º) e Cap Inf José Alberto Cardeira Rino (2.º). Assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá desde 14Jan66, após a sobreposição com a CART 640, com dois Grs Comb em Sangonhá e Cacoca, respectivamente. Ficou integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 e depois do BART 1896.

► CCAÇ 1488 (26Out65-01Ago67) do Cap Inf António Manuel Rodrigues Cardoso. Em 12Out66, por rotação com a CCAÇ 1438, terminou o deslocamento para Colibuia, iniciado em 29Set66, com um Gr Comb destacado em Nhala, a fim de reforçar o BCAÇ 1861 na missão de execução de um plano de emboscadas continuadas no corredor de Guileje, em coordenação com outras subunidades.

► CCAÇ 1567 (13Mai66-17Jan68) do Cap Mil Inf João Renato de Moura Colmonero. Unidade de reforço na manobra do BCAÇ 1861.

► Para além das Unidades acima, participaram, ainda, o PSap do BCAÇ 1861 e o Pel Rec Daimler 1077, bem como os apoios de Artilharia, Aéreo e Naval.




Mapa da região de Quitafine, onde decorreu a «Operação Renascença»



Desenrolar das acções (síntese):


Em 28 de Outubro de 1966, 6.ª feira, deu-se início à «Operação Renascença». À saída de Tanene, o IN emboscou as NT, tendo retirado perante a reacção destas. Próximo de Cameconde, foi detectada uma mina A/P  de salto e fragmentação, que foi rebentada no local. A cerca de 1 km de Cabaz Balanta explodiram várias minas A/P que causaram às NT seis feridos.

Na progressão para Caboma, na sequência do contacto com o IN, foi-lhe capturada uma espingarda e material diverso, do qual resultou 1 morto e outras baixas prováveis. Na orla da bolanha de Caboma foram destruídas oito casas de mato. Quando seguiam para Cabaz Sosso, as NT foram emboscadas, sofrendo um morto (guia nativo) e cinco feridos. Na reacção, o IN sofreu um morto e a captura de duas granadas de mão.

A cerca de cinquenta metros para além de Caboxanquezinho foi detectada e levantada uma mina . Alguns metros depois as NT accionaram duas minas A/P  implantadas no meio da picada e simultaneamente, já no interior da mata, dois fornilhos causaram às NT quatro mortos e dez feridos. Os cinco mortos eram elementos da CCAÇ 799, de recrutamento local, a saber: Amadú Baldé e Sacamissa Quetá, de Fulacunda; Alfa Djaló, da Ilha Formosa; Gale Jaló, de Bafatá e Opa Colubali, de Catió.

Quando se socorriam os feridos foi accionada nova mina A/P , a poucos metros da mina mina A/C anteriormente levantada, sofrendo as NT mais um morto – o soldado condutor auto rodas Alberto Teixeira dos Santos, do Pel Rec Daimler 1077 – e mais dois feridos.

Depois desta narrativa, sempre muito difícil de descrever e mais ainda de comentar, importa agora dar conta de uma outra, esta bem mais interessante e relevante no contexto da guerra.

Embora não seja caso único, em função de experiência feita, o desenrolar da «Operação Renascença» permitiu sinalizar os valores da solidariedade, da camaradagem e do companheirismo, entre outros, em defesa da vida, que era uma das duas faces da mesma moeda naquele contexto.

A história é a do soldado condutor auto rodas José dos Santos Pedrosa, da CCAÇ 1567. Este, ao aperceber-se de que a sua Unidade tinha apenas um 1.º cabo "maqueiro", logo se ofereceu como voluntário para ajudar o seu camarada sempre que fosse preciso. Ao ter conhecimento da sua disponibilidade, o seu Cmdt - Capitão João Colmonero - concordou com a troca, deixando este de actuar como condutor.

Ora, em função do seu desempenho na «Operação Renascença», foi-lhe atribuída uma condecoração – a medalha de Mérito Militar, bem como concedido um louvor, cujo teor se transcreve:


"Louvado [José dos Santos Pedrosa] porque não sendo um elemento da especialidade de  enfermagem, mas possuindo alguns conhecimentos do mesmo ramo, graças à sua vontade e intuição para tal, foi no decurso da OPERAÇÃO RENASCENÇA um óptimo auxiliar do pessoal enfermeiro, acorrendo a todos os lugares onde era preciso, indiferente ao perigo que a sua constante movimentação o expunha; foi ainda já na viagem de regresso das NT, após a operação, o mesmo elemento incansável, indo buscar, no fundo do seu Ser energias quase impossíveis de admitir, para com a sua acção proceder à recuperação física dos elementos mais necessitados: demonstrou com este sublime exemplo a sua solidariedade para com os camaradas, sendo o soldado Pedrosa, já antecedentemente apontado como militar cumpridor e correcto, merecendo a estima de camaradas e superiores". - Ordem de Serviço 261 de 22/11/1966 do BCaç 1876/CCaç 1567 [cuja divisa era: "No exemplo estará nossa glória".]

Fonte: combatentesdeavintes.blogspot.com/2011/03/jose-dos-santos-pedrosa-guine.html


3.8 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' MANUEL PINTO DE CASTRO, DA CART 1661, EM 16.SET.1967, ENTRE PORTO GOLE E MAMBONCÓ


A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Manuel Pinto de Castro, natural de Lobão, Vila da Feira, a nona na "categoria de minas", verificou-se no dia 16 de Setembro de 1967, sábado, no cruzamento de Mansoa, na Estrada de Mamboncó-Porto Gole, por efeito do rebentamento de uma mina A/C, ocorrida no regresso de uma coluna realizada a Porto Gole visando, por um lado, deixar um graduado que estava em trânsito para cumprir o seu período de férias na metrópole, e, por outro, aproveitar essa oportunidade para transportar alguns géneros alimentícios e medicamentos para o destacamento de Bissá.

O soldado "CAR" Manuel Castro pertencia à CART 1661 (06Fev67 a 19Nov68) comandada pelo Cap Mil Luís Vassalo Namorado Rosa (1.º); Alf Mil Art Fernando António de Sá (2.º) e Cap Art Manuel Jorge Dias de Sousa Figueiredo (3.º).

Do ponto de vista da missão, esta Unidade deslocou-se para Fá Mandinga em 06Fev67, para substituir a CCAÇ 818 e realizar um curto período de adaptação operacional, sob a orientação do BCAÇ 1888, a ter lugar nas regiões do Xime, Enxalé e Xitole até 08Mar67.

Após rotação, por fracções, com a CCAÇ 1439, a CART 1661 assumiu em 03Abr67 a responsabilidade do subsector de Enxalé, com Gr Comb destacados em Missirá, Porto Gole e Bissá, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1888 e a partir de 01Jul67 do BCAÇ 1912, por alteração dos limites dos sectores daqueles Batalhões.


Para historiar esta ocorrência foram importantes as consultas ao livro (Diário do autor) do camarada Abel de Jesus Carreira Rei «Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968», edição de autor. Lousa. 2002, conforme capa ao lado.

Analisados os apontamentos explícitos no diário (livro) do Abel Rei, redigidos no dia 16 de Setembro de 1967, sábado, em Bissá, retivemos alguns detalhes:

"Às nove e tal da manhã dava-se o primeiro grande "acidente" da companhia [CCaç 1661]. Balanço quatro mortos, sendo dois brancos e dois pretos, e mais treze feridos graves; uma viatura em pedaços; e diversos materiais estragados!"

Os mortos foram: soldado 'Car' Manuel Freitas de Castro, da CART 1661, natural de Lobão, Vila da Feira, e o furriel Álvaro Maria Valentim Antunes, do Pel Caç Nat 54, natural de São Lourenço, Portalegre, ambos continentais, e do recrutamento local, Mamadu Jamanca e Adulai Sissé, do Pel Caç Nat 54, ambos naturais de Bissorã.

Continua: "Uma viatura "pisava" a primeira mina. E íamos fazer oito meses, que nós andávamos a pisar estradas da Guiné! A coluna [foi] feita para levar o furriel "meu vizinho" à Metrópole, em férias – ou melhor, até Porto Gole, para daí seguir para Bissau – trazia-mos géneros e medicamentos, indo tudo pelos ares.

"Morreu o condutor de nome [Manuel Pinto de] Castro, bastante meu amigo e o comandante da coluna, e meu amigo também, furriel [Álvaro Maria Valentim] Antunes, que conhecia a Marinha Grande, tendo já lá trabalhado, pelo que me contou um dia. (…)

"De salientar o espírito de sacrifício com que andaram os sete quilómetros que faltavam até cá [Bissá], mesmo debaixo de fogo, trazendo a notícia de tão grave acontecimento, vindo um deles, o cabo nativo Ananias, com uma perna aberta e os ossos à mostra e um pulso partido, além de outros também bastante amassados, pois andaram pelos ares, e caíram de qualquer maneira, ficando ainda alguns debaixo da viatura que se virou ao contrário, ao lado do buraco, com mais de três metros de diâmetro, originado pela explosão da mina."

Sobre a possibilidade e interesse em publicar uma foto desta ocorrência, dos contactos realizados concluímos que dela não existem registos, o que se lamenta.

Sobre este acontecimento ver, também, o P4858.

 

3.9 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' MANUEL DOS SANTOS CRAVO, DA CART 2340, EM 26.MAR.68, ENTRE JUMBEMBEM E CUNTIMA

 

A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Manuel dos Santos Cravo, natural de Febres, Cantanhede, ocorreu às 22h20 do dia 26 de Março de 1968, 3.ª feira, por efeito do rebentamento de uma mina A/C, no itinerário Jumbembem e Cuntima, durante o deslocamento da força militar que ia participar na «Operação Onça Parda - 26 e 27 de Março'68». Para além desta baixa, verificada na última viatura da coluna, ficaram feridos mais doze elementos dessa força, dos quais três considerados graves.

O Manuel Cravo pertencia à CART 2340, do Cap Mil Art Joaquim Lúcio Ferreira Neto, cuja comissão decorreu entre 15Jan68, chegada a Bissau, e 03Nov69, embarque para a Metrópole (Lisboa). Esta Unidade deu início à sua actividade operacional em 23Jan68, assumindo a responsabilidade do subsector de Canjambari, com dois Grs Comb no destacamento de Jumbembem, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1932 e depois do COP 3.

Para a elaboração deste ponto foram fundamentais os relatos publicados no P2075 «História da CART 2340» pelo seu Cmdt, ex-Cap Mil Joaquim Ferreira Neto, do qual retiramos a imagem abaixo.

 


Foto 4 - O Unimog da CART 2340 destruído por mina A/C, do P2705, 
com a devida vénia.

(Continua)


Fontes Consultadas:

 Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

28Set2019
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Nota do editor:

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18512: CCAÇ 1586, "Os Jacarés" (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Beli, Madina do Boé, Bajocunda, Copá e Canjadude (1966-1968): Subsídios para a reconstituição da sua história (Jorge Araújo) - Parte I





Guiné > Bissau> Cais > 9 de Maio de 1968 > Preparativos para o regresso à metrópole da CCAÇ 1586 a bordo do T/T Niassa (fotos gentilmente cedidas pelo camarada ex-fur trms Aurélio Dinis, da mesma unidade).


Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018; 
criador da série "D(o) outro lado do combate"




Companhia de Caçadores 1586, "Os Jacarés"  (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Beli, Madina do Boé, Balocunda, Copá e Canjadude ((1966-1968):  Subsídios para a reconstituição da sua história - Parte I



1. INTRODUÇÃO

Com algum atraso, mas ainda a tempo de cumprir com os objectivos de partida, o presente trabalho surge na sequência da publicação no blogue de dois postes: o P18149 e o P18158, ambos em memória do Alferes QPAugusto Manuel Casimiro Gamboa [, foto à esquerda, cortesia da Academia Militar[, pertencente à CCAÇ 1586 (1966/1968), e da referência à emboscada que o vitimou, em 14 de dezembro de 1967, na estrada entre Canjadude e Nova Lamego.

Ele é também, por um lado, um modesto contributo escrito (subsídio) visando ajudar na reconstituição da História desta Unidade (a possível) e, por outro, a concretização da promessa feita em comentário ao segundo texto, uma vez que, de acordo a informação dada pelo nosso colaborador permanente José Martins, especialista em Arquivo Histórico Militar do Exército (Guerra do Ultramar), "no volume 7.º da CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África], consta que [da CCAÇ 1586] não existe História da Unidade".

Não estando expressas as razões da ausência documental da sua História no AHM, não é difícil presumir como uma forte possibilidade, , quiçá a mais provável, que ela teve como principal causa a divisão física e logística permanente dos seus efectivos e as responsabilidades que lhes foram atribuídas em cada um dos locais onde esteve instalada, num total de oito, como se indica em título e como se assinala no mapa abaixo.

Para além desta probabilidade (suspeita), que naturalmente não podemos comprovar, uma outra variável poderá ter influenciado também a sua não transcrição para o papel, na justa medida em que estamos perante um colectivo militar metropolitano que muito sofreu ao longo dos vinte e um meses da sua comissão (de agosto de 1966 a  maio de 1968), fazendo fé nos factos que conseguimos apurar, entre eles os seus mortos e feridos.

Será que foram estas as principais causas?

Ainda assim, admitimos a hipótese de terem existido outras razões/causas para além das que acima presumimos. Mas só o saberemos, em definitivo, se algum elemento da CCAÇ 1586 tiver a resposta certa a esta questão. Vamos esperar que tal aconteça ou que no aprofundamento deste projecto de investigação possamos chegar lá.

Porém, perante a caracterização sumária do quadro supra, compreende-se (compreendo) perfeitamente as dificuldades em se estruturar/organizar as suas memórias, pois foram, certamente, muitos os factos e ocorrências que mereceriam ficar gravadas como testemunhos históricos da sua presença na região do Gabu, situada a Leste do território da Guiné, e que não foi possível centralizá-las ou juntá-las, passando-as a escrito, devido à dispersão dos seus efectivos nas diferentes frentes das muitas missões.

Lamentamos que assim tenha sido.

Porque não fazemos parte desse colectivo de camaradas (ex-combatentes), estes sim fiéis depositários das suas memórias durante aquele período ultramarino, enquanto principais personagens fazedores da sua história, esta narrativa não podia deixar de não ser corolário da consulta realizada a diferentes fontes de informação, escrita e oral, onde cada referência encontrada e relato obtido dos directamente envolvidos, se considerou relevante para a concretização do objectivo geral, ou seja, o início de um processo de reconstituição da História da CCAÇ 1586.

Dessa análise global e da sua triangulação, como metodologia da investigação, procurou-se caminhar na busca do que considerámos fidedigno, idóneo, exacto ou válido, enquanto sinónimos do mesmo valor, deixando à reflexão de cada leitor o que se pode considerar, inquestionavelmente, genuíno ou, pelo contrário, uma trapalhice (propaganda), uma vez que circulámos por ambos os lados do combate.

Em função do já pesquisado e dos resultados obtidos, decidimos dividir o trabalho em diferentes partes, sendo esta a primeira, onde se divulgam aspectos relacionados com a sua mobilização, locais das principais actividades operacionais e quadro das baixas em combate.


2. MOBILIZAÇÃO E LOCAIS DAS MISSÕES NO CTIG


Mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 2 [RI 2] , em Abrantes, a Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586] embarcou no Cais da Rocha, em Lisboa, a 30 de julho de 1966, sábado, zarpando rumo a Bissau a bordo do N/M Uíge, numa altura em que a cronologia da guerra registava já três anos e meio.

Aí desembarcou a 4 de agosto, 5.ª feira, sendo destacada para o sector do Batalhão de Caçadores 1856 [BCAÇ 1856], assumindo a 8 do mesmo mês a responsabilidade do subsector de Piche, substituindo dois pelotões da Companhia de Caçadores 1567 [CCAÇ 1567], e guarnecendo o destacamento da Ponte do Rio Caium com um pelotão, até 21 de setembro de 1966.

A partir desta data assumiu, também, funções de unidade de intervenção na zona de Nova Lamego, reforçando diversas localidades, entre elas:

(i)  Nova Lamego, de 10 de outubro de 1966 até princípios de dezembro desse ano;

(ii) Béli, de 25 de janeiro a 15 de abril de 1967;

(iii)  e Madina do Boé, de 10 de fevereiro a 1 de maio de 1967.


A 6 de abril de 1967 foi rendida no subsector de Piche, assumindo o subsector de Bajocunda no dia seguinte [7abr1967], rendendo a Companhia de Caçadores 1417 [CCAÇ 1417] e guarnecendo Copá com um pelotão, mantendo-se integrada no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores 1933 [BCAÇ 1933] e posteriormente do Batalhão de Caçadores 2835 [BCAÇ 2835].

Entre 28 de outubro e 4 de dezembro de 1967, integrou, com um pelotão, o sector temporário de Canjadude.

Foi rendida no subsector de Bajocunda a 27 de abril de 1968 pela Companhia de Caçadores 1683 [CCAÇ 1683], embarcando em Bissau, de regresso à metrópole, a 9 de maio de 1968, 5.ª feira, a bordo do N/M Niassa, com a chegada a Lisboa a acontecer a 15 de maio, 4.ª feira, ou seja, seis dias depois [adap. do P3797, José Martins, ex-Fur Trms CCAÇ 5 (1968/1970), nosso colaborador permanente].


 3. MAPA DOS LOCAIS ONDE A CCAÇ 1586 DESEMPENHOU AS SUAS DIFERENTES ACTIVIDADES OPERACIONAIS


No mapa abaixo, sinalizadas no interior de elipses, encontram-se os locais onde a CCAÇ 1586 desempenhou as suas diferentes actividades operacionais.


Infografia: Jorge Araújo (2018)



4. QUADRO DE BAIXAS DURANTE A COMISSÃO


No âmbito da pesquisa realizada, foram identificadas e agrupadas por datas as baixas contabilizadas pela CCAÇ 1586 durante a sua comissão, cujo quadro se apresenta de imediato.

A organização do quadro, segundo esta metodologia, corresponde à ordem da descrição dos factos conhecidos sobre cada causa ou ocorrência, e que daremos conta ao longo das próximas narrativas.


Infografia: Jorge Araújo (2018)

Sitografia consultada:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/

http://www.apvg.pt/

http://ultramar.terreweb.biz/ (com a devida vénia)

(Continua)
______________

Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
16JAN2018.

PS - Este é o primeiro dos textos que estavam em atraso, o da CCAÇ 1586, na medida em que me comprometi a dar uma ajuda na reconstituição da sua HU, que não existe. Entretanto, fui convidado para participar no seu Convívio Anual que se realiza em Abrantes, a 19 de maio de 2018. Já lhes pedi um cartaz para fazer a sua divulgação na «Tabanca».

quinta-feira, 15 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18420: Consultório militar do José Martins (35): elementos para a história da CAÇ 727 (Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), que teve 18 mortos em campanha, incluindo o alf mil inf António Angelino Teixeira Xavier, natural de Carrazeda de Montenegro, Valpaços


Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (Funchal, 1938- Lisboa, 2012): antigo comandante da CCAÇ 727 (Canquelifá, out 1964/ ago 66), subunidade que teve 18 baixas em campanha.

Seria gravemente ferido em combate em 1969, na área de Mejo/Guileje, no decurso da Op Bola de Fogo, quando comandava a CCaç 2316. Militar, ginasta e desportista, após o seu ferimento, dedicou-se à poesia e  à escrita. Era um grande cultor da língua portuguesa. Reformou-se como coronel de infantaria.

Imagem da sua página pessoal, www.joaquimevonio.com, alojada no Sapo, e que já não está disponível.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)


Aveiro > Gafanha da Encarnação > 11 de outubro de 2008 > Foto de família: XV Encontro da CCAÇ 727 (Guiné, 1964/66), enviada pelo ex-1º cabo Carmelindo Guerreiro, através do Miguel Oliveira, ex-combatente em Angola. Ao centro, de barbas brancas, aparece o cor inf ref Joaquim Evónio Vasconcelos. Na primeira fila, à esquerda, há um camarada que segura a bandeira da companhia.

Foto (e legenda): © Miguel Oliveira (2008) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Elementos recolhidos nosso camarada e colaborador permanente José Marcelino Martins (ex-fur mil trms,  CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70):

Companhia de Caçadores n.º 727 (Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66 (*)


Subunidade independente, mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 16, em Évora, sob o comando do capitão de infantaria Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos [, falecido 2012, no posto de coronel, reformado] (**), embarca para a Guiné em 6 de outubro de 1964, onde chega a 14 do mesmo mês.

Permanece no sector de Bissau para instrução de adaptação operacional, na região de Có-Pelundo e Prabis, tendo destacado em 18 de novembro um pelotão para reforço da guarnição de Madina do Boé, integrada no dispositivo do BCAÇ 506.

Segue em 5 de dezembro de 1964 para Nova Lamego, como unidade de intervenção e reserva do sector, atribuída ao BCAÇ 506, com sede em Bafatá,  e seguidamente ao BCAÇ 512, por divisão do Sector D, que se instalou em Nova Lamego.

Reforçou as guarnições de Madina do Boé, que já vinha do antecedente, e as guarnições de Buruntuma e Piche.

Tomou parte em operações nas regiões de Nova Lamego, Buruntuma e Madina do Boé, em que foi emboscada na estrada de Madina do Boé - Cobige, em 30 de janeiro de 1965, que causou elevado número de baixas ao IN, mas também houve a lamentar sete mortos nas NT.

Foi substituída na missão de intervenção e reserva, pela CART 731, em 19 de fevereiro de 1965.

Inicia o deslocamento para Canquelifá, a fim de substituir um pelotão da CCAÇ 509, vindo a assumir a responsabilidade do subsector de Canquelifá, criado em 25 de fevereiro de 1965, continuando integrada no dispositivo do BCAÇ 512 e, posteriormente,  no BCAV 705, que substituiu o anterior Batalhão.

Entre 25 de fevereiro e 20 de maio de 1965, destacou forças para o aquartelamento de Dunane e, entre 20 de maio e 22 de agosto de 1965, destacou forças para Sinchã Joté, além de ter destacado efectivos pelos destacamentos de Cantire e Sinchã Joté, por períodos curtos e variáveis.

Mantendo-se no mesmo Sector, Nova Lamego, foi substituída em Canquelifá pela CCAÇ 817, em 22 de agosto de 1965, para assumir a responsabilidade do subsector de Piche, com destacamento na Ponte Caium e, temporariamente, em Dunane.

A 5 de agosto de 1966, foi substituida em Piche por dois pelotões da CCAÇ 1567, até à chegada da CCAÇ 1586, recolhendo a Bissau, onde veio a embarcar com destino à metrópole em 7 de agosto de 1966.



Bravos da CCAÇ 727 que tombaram em campanha
 
(i) Por doença (difteria)

António Caeiro Combadão, soldado apontador de metralhadora, n.º 782/67, solteiro, filho de Manuel Caeiro Combadão e de Joaquina Cândida Fialho, natural da freguesia de Alqueva, concelho de Portel, faleceu no HM 24,  de Bissau, em 08DEZ64. Foi inumado no cemitério de Évora.

António Henriques Oliveira Marques, fur mil at inf, n.º 1374/63, solteiro, filho de Abílio Marques e de Etelvina Pessoa, natural de Vila do Mato, freguesia de Midões, concelho de Tábua, faleceu no HM 241, em 13DEZ64 -  Foi inumado no cemitério de Bissau - Campa 1270.

Anastácio Vieira Domingos, soldado apontador de metralhadora, n.º 688/67, solteiro, filho de Jacinto Domingues e de Guiomar Vieira, natural de Portela dos Caídos, freguesia de Santa Clara-a-Velha, concelho de Odemira, faleceu no HM 241 de Bissau, em 13DEZ64. Foi inumado no Cemitério de Bissau - Campa 1271.

(ii) Em combate:

No sábado, 30Jan65, encontrando-se já sob comando operacional do BCaç 512, sendo Oficial de Informações e Operações o Major de Infantaria António Ribeiro Farinha,  é montada por um pelotão daquela CCaç 727 acantonado desde 18Nov64 em Madina do Boé, uma emboscada no itinerário Madina do Boé - Rio Gobije, no decurso da qual ocorre uma contra-emboscada IN que causa às NT cerca de uma dezena de feridos e as seguintes sete baixas mortais:

António Angelino Teixeira Xavier, alf mil inf, nº 60-I-3064, comandante de Pelotão, solteiro, filho de António Augusto Xavier e de Angelina da Luz Teixeira Xavier, natural da freguesia Carrazeda de Montenegro, concelho de Valpaços. Foi inumado no cemitério de Carrazeda de Montenegro. Foi agraciado com a Cruz de Guerra 4.ª Classe, a título póstumo (O.E. 20/II.ª/66), porque, colocado como Comandante do Pelotão num destacamento fronteiriço, saiu voluntariamente numa patrulha onde faleceu em combate, sabendo de antemão tratar-se de uma zona onde era provável o contacto com o inimigo.

António Joaquim da Graça Viegas, soldado atirador, n.º 819/64, casado com Maria Manuela dos Santos Bárbara, filho de José Joaquim Viegas e de Dorila da Graça, natural da freguesia Moncarapacho, concelho de Olhão. Foi inumado no cemitério de Nova Lamego, região de  Gabu, Guiné

Avelino António Martins, 1.º cabo atirador, n.º 708/64, solteiro, filho de Miguel António e de Perpétua Martins, natural de Canano, freguesia de Alferce, concelho de Monchique. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego região de  Gabu, Guiné.

Domingos Moreira Leite, f
ur mil op esp, n.º 1714/63, comandante de secção, solteiro, filho de Avelino Maria Leite e de Maria Rosa Moreira, natural da freguesia de Rebordosa, concelho de Paredes. Foi inumado no Cemitério de Rebordosa.

Foi agraciado com a Cruz de Guerra 3.ª Classe, a título póstumo (O.E. 22/II.ª/65), porque, especialmente dotado para as funções operacionais de Comandante de Secção de Caçadores, que desempenhou com notável acerto e entusiasmo, [...] faleceu em combate quando a pequena coluna, de que fazia parte a sua secção, caíu numa violenta emboscada.

José Maximiano Duarte, soldado atirador, n.º 749/64, solteiro, filho de Sabino José Duarte e de Maria Celeste, natural da freguesia e concelho de Monchique. Gravemente ferido, foi evacuado de Nova Lamego para o HM 241, onde veio a falecer antes de findar esse dia. Foi inumado no Cemitério de Monchique.

José Pires da Cruz, soldado condutor auto rodas, n.º 937/64, solteiro, filho de Joaquim Pires da Cruz e de Maria dos Prazeres Pires, natural da freguesia de Cernache, concelho de Coimbra. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego, região de  Gabu,  Guiné.

Leonel Guerreiro Francisco, 1.º Cabo Atirador, N.º 707/64, solteiro, filho de José Francisco e de Gracinda Guerreiro, natural da freguesia de Alte, concelho de Loulé. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego - Guiné

Na Terça-feira 08Jun65, encontrando-se aquela subunidade instalada em Canquelifá (com um destacamento em Sinchã Jidé e pequenos efectivos deslocados em Cantiré e Sinchã Joté), estando desde 01Jun65 operacionalmente dependente do BCav 705 [sendo Oficial de Informações e Operações o Capitão de Cavalaria Ramiro José Marcelino Mourato], quando em deslocação no itinerário Canquelifá - Sinchã Joté e a cerca de 2km da bifurcação para Nhumanca, morrem naquele, em combate os seguintes dois militares:

António Custódio Coelho, 1.º cabo apontador de morteiro, n.º 804/64, solteiro, filho de Francisco Coelho e de Clementina Rosa, natural da freguesia de Coruche, concelho de Coruche, faleceu no Hospital Militar n.º 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério de Coruche.

António Dias Martins, 1.º cabo atirador, n.º 689/64, solteiro, filho de João Martins e de Maria Inácia Macia Dias, natural de Monte Alto, freguesia de Odeáxere, concelho de Lagos, faleceu no Hospital Militar n.º 241. Foi inumado no Cemitério de Odeáxere.

No domingo 04Jul65, no subsector de Nova Lamego morrem em combate os seguintes três militares:

Adelino Castanheira Dias, soldado atirador, n.º 722/64, solteiro, filho de António Dias Martins e de Maria Rosa Castanheira, natural da freguesia de Monsanto, concelho de Idanha-a-Nova. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

Filipe Rosa Camacho, soldado atirador, n.º 775/64, solteiro, filho de Luís Camacho e de Virgínia Rosa, natural da freguesia e concelho de Ferreira do Alentejo. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

Francisco João Beirão, 1.º cabo de armas pesadas, n.º 807/64, solteiro, filho de Casimiro Beirão e de Olinda Jesus Henriques, natural da freguesia de Veiros, concelho Estremoz. Foi inumado no Cemitério de Nova Lamego.

(iii) Em acidentes:

No domingo 22Ago65, momento em que foi substituída por troca com a CCaç 817, quando no aquartelamento de Canquelifá um sentinela ia ser rendido, aquele inadvertidamente atingiu gravemente a tiro o militar da CCaç 727 que naquele posto o iria render:

Mamadu Said Jaló
, soldado atirador, N.º 471/64, solteiro, recrutado do CTIG, filho de Alarba Sibide e de Malan Jaló, nascido na freguesia de Santa Isabel, concelho de Nova Lamego, evacuado para o HM241 onde veio a falecer. Foi inumado no cemitério de Bissau - Campa 1884.

Na Segunda-feira 25Abr66, encontrando-se a citada Subunidade desde há cerca de oito meses em Piche, a 15km de Nova Lamego e de regresso ao acantonamento ocorre um acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:

Manuel Gertrudes Guerreiro, 1.º cabo atirador, N.º 691/64, solteiro, filho de Isabel Gertrudes e de Daniel Salvador Guerreiro, nascido na freguesia de Alte, concelho de Loulé, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Segunda-feira 09Mai66.

Na Sexta-feira 06Mai66, ocorre em Piche um outro acidente de viação, do qual resultam graves ferimentos no militar:

Manuel Joaquim de Sousa Martins, soldado condutor auto rodas, n.º 1270/67, solteiro, filho de Rosa de Sousa Martins e de Domingos Lima Martins, nascido na freguesia do Carreço, concelho de Viana do Castelo, evacuado para o HM241 e seguidamente para o HMP-Estrela, onde veio a falecer na Quarta-feira 11Mai66.

Ver aqui, no portal Ultramar TerraWeb, a lista dos bravos da CCAÇ 727, mortos em campanha (18 no total)


Sabemos que o pessoal da companhia se reúne, todos os anos. Em 2010, por exemplo, realizou o seu XVII encontro, em Barcelos (***)

Contactos:

(i) Joaquim Esteves Ferreira, Balugães, Barcelos: telef + 351 258 107 204 / telem + 351 963 306 491

(ii) 1.º cabo escriturário (, de que se desconhece o nome)  Telem + 351 914101833

(iii) Virgílio João dos Santos, Setúbal (, sem nº de telefone / telemóvel).

(iv) 1º cabo Carmelindo Guerreiro, Aveiro (?)  (, sem nº de telefone / telemóvel).
______________

Notas do editor:



(...) Faleceu, em 23 Junho de 2012, em Lisboa, o coronel de infantaria reformado Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (...).

Comandou a CCaç 727 (Canquelifá, out 64 / ago 66) e, em 1968, quando comandava a CCaç 2316, foi gravemente ferido em combate na área de Mejo/Guileje.

Militar, ginasta e desportista, após o seu ferimento, dedicou-se à poesia, à escrita.

Nascido em 1938, no Funchal, era director do núcleo da Ordem Nacional de Escritores, em Portugal, desenvolvendo um trabalho muito meritório na recolha de obras de poetas, artistas e escritores locais.

Grande cultor da língua, profundo conhecedor do nosso vernáculo, era um exigente revisor de provas de poesia e literatura em geral. Um verdadeiro intelectual e um talentos diseur de poesia. (...)