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sábado, 8 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27401: A nossa guerra... a Petromax (3): Ponate, mais um sítio desgraçado: ficava a 13 km, a noroeste de Bula (Armando Teixeira da Silva, 1944-2018)


Foto nº1 > Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate >  CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67) > Um destacamento a que a malta do 2º Pelotão (+) da CCAÇ 1498 chamou, com graça, "Hotel Bandido de Ponate"


Foto  n º 2 >  Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67)>  Uma magnífica foto > Abrindo um abrigo subterrâneo para ase protegere:  Armando Teixeira da Silva está ao meio com a pá: de óculos, ao meio, em terceiro plano, o alf mil José Jorge Melo, açoriano de São Miguel.


 
Foto  n º 3 >  Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67)>  Panorama geral do destacamento. Ou um acampamento do Faroeste ? Se


Fig n º 4 >  Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67) > O Armando Teixeira da Silva num  monento de lazeer. Mobiliário feito com as aduelas dos barris de vinho.


Fig n º 5 >  Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Sector O1 > Bula > Ponate > CCAÇ 1498 (Ponate e Bula, 1966/67)>  Um Armando Teixeira da Silcva, "arranjando uns petiscos. "Tudo que vinha á rede era peixe"...

Fotos (e legendas): © Armando Teixeira da Silva  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 


Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > Carta de Bula (1953) (Escala de 1/50 mil) > Posição relativa de Bula e Ponate, na margem esquerda do rio Cacheu

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Havia imensos sítios desgraçados na Guiné... Ponate, a noroeste de Bula, era um deles... Pouco ou nada se ouve falar deste topónimo... Temos meia dúzia de referências. As NT chegaram a ter lá um destacamento. Até 6/12/1966. Tosco. Improvisado. Miserável. Teve uma vida breve na nossa guerra... Foi retirado e armadilhado 

 Reveja-se aqui o texto, de 2015 (*),  do nosso camarada Armando Teixeira da Silva (1944-2018), que morreria três anos depois:  ex-sold at inf,  CCAÇ 1498/BCAÇ 1876 (Có, Jolmete, Bula, Binar e Ponate, 1965/67); era natural de Oliveira de Azeméis mas vivia na Feira:


 Ponate, mais um sítio desgraçado: ficava a 13 km, a noroeste de Bula 

por Armando Teixeira da Silva (1944-2018)


Armando Teixeira da Silva
(1944-2018)
Quis o destino que um conjunto de 48 atónitos periquitos, um pelotão reforçado, da CCAÇ 1498, acabadinha de desembarcar, comparecesse em Ponate a fim de render tropas do BCAV 790 que estavam em mudança para o quartel de Pelundo. 

A CCAÇ 1498  (-) ficou em Có, com o 2º pelotão (+) em Ponate e o 3º pelotão (+) em Jolmete
e uma secção em Pelundo.

Assim, após um dia inteiro de marcha, em que as surpresas se sucediam a cada instante, surgiu, imperceptível, numa área desmatada, um lastimável aquartelamento nunca antes imaginado.

Passado o cavalo-de-frisa, depararam com a mais humilhante miséria:
  • um casebre construído em adobes de argamassa, coberto a chapa zincada, para alojamento de pessoal, sem distinção de postos ou classes;
  • duas barracas, em colmo, a servirem de cozinha e refeitório;
  • três atalaias, a cinco a seis metros acima do solo, com sentinelas cercadas por bidões de gasolina;
  • quatro paliçadas em cibes carcomidos sitiavam toda a desgraça.

– Aonde é que nos viemos meter?

Se estavam atónitos à chegada, estarrecidos ficaram quando o sol se escondeu!

A iluminação era a petróleo: candeeiros Petromax em redor do arame farpado e mechas de gaze de em gargalos de garrafas, na caserna, cozinha e refeitório. No resto, a escuridão era absoluta.

Equipamentos destinados a cuidados de higiene? Nenhuns!...Nada que pudesse garantir saúde, bem-estar físico e mental, de modo a evitar doenças. Em vez de latrinas abriam-se valas, fora do arame farpado, e em vez de duches existiam selhas feitas de barris de vinho, serrados ao meio.

O estado das coisas motivou um lamento:

 – Tratam-nos como bandoleiros. 

A frase inspirou a criação de uma tabuleta para colocar, logo nesse dia, à entrada do principal cavalo-de-frisa: “HOTEL BANDIDO DE PONATE”.

Mas o pior ainda era a falta de água. A privação deste precioso líquido sujeitava o pessoal a riscos diários, em deslocações a Bula, percorrendo 13 Km, em cada sentido, com uma cisterna de 1000 litros atrelada.

Ocupando uma área com cerca de 3000 m2 e sem população à vista, o quartel situava-se nas proximidades da mata de Jol, não muito distante da assombrosa bolanha de Nhaga.

A missão do seu reduzido efectivo consistia em assegurar liberdade de acção entre Bula e o Cais de São Vicente, na margem Sul do rio Cacheu, mantendo-se ao corrente de todos os acontecimentos e em total ligação com o comando do sector.

A segurança das instalações era inquietante: Refúgios ou abrigos, praticamente nem existiam e as paliçadas dificilmente aguentariam um simples ataque. Daí elaborarem um plano de obras a executar em duas fases:

(i) construção de 3 refúgios subterrâneos, bem como um conjunto de chuveiros e latrina, sem dispensar a reconstrução de todas as paliçadas;

(ii) edificação de uma “casinhota”, em blocos de cimento, para instalação de um gerador eléctrico (nada serviu esta edificação, porquanto, embora prometido, o gerador jamais ali apareceu).

Estas obras realizavam-se sem prejuízo das atividades a desenvolver além do arame farpado, ou seja: 
  • escoltas diárias à cisterna da água, 
  • patrulhamentos diurnos e/ou nocturnos, 
  • inspecções às tabancas e consequentes controlos da população indígena, 
  • reconhecimento de trilhos e caminhos, e de quando em vez, 
  • montagem de emboscadas.

E como se já não bastasse, ainda ajudavam companhias de intervenção, em operações na confinante e arriscada mata do Jol. Isto é: em Ponate, a missão, além de perigosa, era árdua e difícil.

Até dentro do arame farpado a situação era delicada, sobretudo, pela indigência das instalações e das privações de toda a espécie, no mesmo alimentares. Apesar de tudo lá iam sobrevivendo.

Até que, inesperadamente, uma mensagem, recebida no ANGRC 9, melhora-lhes as expetativas. Bula comunicava-lhes o fim da sua presença em Ponate. O primeiro a saltar, de contentamento, foi o radiotelegrafista. Outra coisa, porém, ainda estava para vir.

Continuando a tradução da mensagem concluíra-se que o próprio quartel, simultaneamente, desapareceria do mapa. Jamais uma mensagem fora tão marcante. Acontecimento para comemorarem de modo muito especial - emborcando cerveja até o stock se esgotar.

Assim, abruptamente, extinguiu-se o quartel de Ponate. Decisão que os maiorais tomaram quando perceberam, a meu ver tardiamente, a evidência dos perigos a que as tropas estavam sujeitas e as condições deploráveis (porventura infra-humanas) em que se encontravam. A mensagem surgiu-lhes ao cair da noite, todavia, a vontade de mudarem de ares era tanta que se dispensaram de dormir. Puseram mãos à obra e foi até ser dia.

Entretanto, já o sol raiava, vêem chegar camaradas especialistas em minas e armadilhas, transportando engenhos explosivos para armadilhar os pontos mais susceptíveis, na expectativa de o IN os virem a despoletar.

Por fim, com as viaturas a abarrotar a seu lado, percorreram, a pé, os 13 Km que os distanciava de Bula, em cujo quartel já tinham missão determinada.

A história da guerra considerá-los-á os derradeiros sobreviventes de Ponate. O calendário assinalava, então, 4 de dezembro/1966. Entretanto a guerra duraria mais sete anos e meio.

Ao que sabemos, jamais outro qualquer quartel ali foi edificado. Naquele espaço de tempo – superior a 10 meses – houve:

  • minas que os feriram,
  •  emboscadas que os massacraram, 
  • bolanhas que os inundaram,
  •  picadas que muito os agastaram, 
  • trilhos e caminhos que os emaranharam,
  • tempestades que os atemorizaram. 
Todavia, também houve, em abono da verdade, momentos aprazíveis, de amizade e júbilo, que muito os distraíram e estimularam. (...)

Armando Teixeira da Silva
ex-Soldado Atirador
CCAÇ 1498/BCAÇ 1876
(Ponate e Bula, 1966/67)

(Revisão / fixação de texto, título: LG)
____________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 24 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14518: Memória dos lugares (290): Os derradeiros sobreviventes de Ponate (Armando Teixeira da Silva)

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27338: Casos: a verdade sobre... (59): Quatro mortos e treze feridos, e mais dois mortos do grupo do Marcelino da Mata: subsetor de Buba, 5 de maio de 1973 (Armando Ferreira, ex-fur mil at cav, CCAV 8353/72, Bula, 1973/74)


Armando Ferreira, ex-fur mil at cav, CCAv 8353/72 (Bula,  1973/74)


Foto (e legenda): © Armando Fonseca (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. A propósito da emboscada que provocou 4 mortos e 13 feridos entre as NT, em 5 de maio de 1973, entre Dungor e Choquemone, a nordeste de Bula  (Carta de Bula. 1953 / Escala 1/50 mil), um dos quais foi o ex-1º cabo at cav J.j. Marques Agostinho (*), constatámos que há ainda pouca informação disponível sobre esta ocorrência. Para todos os efeitos, foi um revés para as NT, mesmo que tenha havido baixas prováveis do lado do IN.



1.1. Esta ação de 5/5/1973, é referida no livro da CECA, sobre a atividade operacional dos anos de 1971/74,  em termos sucintos:

Acção - 05Mai73

Forças dos Pel Mil 291, 293 e 341 (BCav 8320/72) realizaram patrulhamento conjunto com emboscada na região do Choquemone, 01-A. Tiveram três contactos com o ln, sendo o último à tarde, de que resultou no segundo, 3 mortos e 1 desaparecido do Pel Mil 293.

Naquela altura acorreram em auxílio forças de 1 Gr Comb / 1ª C/BCav8320/72 e 2 Gr Comb / CCav 8353/72, que realizavam um patrulhamento em Ponta Mátar, l Pel (-) / ERec 3432 e APAR (apoio de artilharia).

Quando as NF se dirigiam de Ponta Mátar para a região da emboscada, em Petabe, o 2° Gr Comb / CCav 8353/72 estabeleceu contacto com o ln em Bula 2H2.80, sofrendo 4 mortos, 5 feridos graves e 3 ligeiros.

Na batida feita posteriormente foram recolhidas peças de equipamento e fardamento, munições de armas ligeiras, géneros alimentícios e detida l mulher. O ln teve baixas prováveis comprovadas por grandes manchas de sangue.


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 300/301 (Com a devida vénia...).



O ex-fur mil at cav Serafim
 de Jesus Lopes Fortuna, natural
da Madalerna, V.N. Gaia,
mortoem 5/5/1973-
Fotograma do vídeo
"A ternura dos 20 anso",
do Armando Ferreira (2015)



1. 2. O Armando Ferreira, na altura furriel, e hoje um conhecido escultor e figura pública (nasceu em Alpiarca, a 14 de maio de 1951, e é membro da nossa Tabanca Grande desde 25/10/2015)  fez um emocionada homenagem aos seus camaradas de companhia caídos entre Dungor e Choquemone, por ocasião dos 42 anos da trágica emboscada, e ao mesmo tempo a denúncia de uma guerra insensata.  E, de entre eles, o seu camarada ex-fur mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, natural da Madalena, Vila Nova de Gaia, e que era um dos seus grandes amigos (tendo ambos feito a recruta e a especialidede na EPC, em Santarém).

O vídeo. "A ternura dos 20 anos"  está está disponível no You e no nosso blogue,  no poste P15291 (**)

Mais recentemente recebemos dele esta mensagem por email, em resposta ao nosso pedido de 
esclarecimento sobre a hora da emboscada:



Armando Ferreira
Data - Domingo, 19/10/2025, 19:34 

Caro camarada de guerra, a emboscada foi por volta das 15 e 30, 16 horas, fuso hprário de Bissau. 

Eu não usava horas e a situação não deu para isso, tínhamos pouco mais de um mês. 

Quatro mortos em emboscada e treze feridos, e mais dois mortos do Marcelino (da Mata).  Na mata do Choquemone, entre S. Vicente e Bula. 

Spínola e a sua equipa sabia o que ia acontecer, o seu propósito nestas situações era sempre idêntico, embora suas palavras para os governantes fossem muito diferentes. Vi e constatei coisas que me fazem dizer o que digo. 

Meu caro camarada, coloquei o furriel Fortuna na viatura. Ajudei os outros camaradas, fomos para Bula, ainda fui lavar os corpos, na capela, e depois tivemos de formar para ouvir o Grande Chefe: "Isto não foi uma derrota, mas, sim uma vitória, a nós dobram qualidades, aos outros faltam"...

Enfim,  a lengalenga do costume, o pessoal estava chorar como é natural mas o tipo deu uma chapada à pessoa errada que não era da nossa companhia. 

Bom estendi-me um pouco, ficamos assim camarada. Isto não valeu de nada.

 Um grande abraço 

Armando Ferreira

3. Comentário do editor LG:

Ficamos a saber que o gen Antónioi Spínola fez questão de estar presente em Bula, quartel de cavalaria, a sua arma, para homenagear os seus soldados acabados de ser "sacrificados no altar Pátria". Ficamos também a saber que nesta operação partiparam o Marcelino da Mata e o seu grupo (irregular), "Os Vingadores" (e que estes terão tido 2 mortes).

Enfim, seria importante ouvir outros testemunhos sobre estes acontecimentos (***).

(Revisão / fixação de texto: LG)

________________

Notas do editor LG:


(*) Vd. poste de 19 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27332: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (6) José João Marques Agostinho (Reguengo Grande, 1951 - Bula,1973): era 1º cabo at cav, CCAV 8353/72 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27267: PAIGC: quem foi quem ? (15): Leopoldo Alfama (Duke Djassi) (1945-2025), comissário político em 1974, governador da região do Cacheu até 1980; o pai era era o dono da Ponta Alfama, perto de Bula


 PAIGC > s/l > s/d > O "comandante Duke Djassi", algures, em conversa com um simples guerrilheiro. De seu nome civil, completo, Leopoldo António Luís Alfama, nascido em 1945, no antigo território da Guiné Portuguesa, de pai cabo-verdianmo, dono da Ponta Alfama, nos arredores de Bula. Foto original do Arquivo Amílcar Cabral / Portal Casa Comum, com a devida vénia

Citação: (1963-1973), "Leopoldo Alfama em conversa com outro combatente do PAIGC", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43548 (2025-9-29)



PAIGC > s/l > s/df > "Comandante" Duke Djassi, nome de guerra de Leopoldo António Luís Alfama (guineense, de origem cabo-verdiana, nascido em 1945; foi comissário político e, depois da independência, governador da região do Cacheu até 1980; deve ter "caído em desgraça" depois do golpe de Estado de "Nino" Vieira, dada a sua origem cabo-verdiana, pelo lado do pai... (Recorde-se que Amílcar Cabral, "Abel Dajssi", nome de guerra, também era  guineense, com origem cabo-verdiana, pelo lado do pai.)

Leopoldo Alfama, em 2014, aos 69 anos. Morreu em 2025, aos 79.
Casado com Fátima Alfama, tinha três filhos.

Fonte: Cortesia de  Barros Brito


1. Através do nosso camarada José Macedo (Zeca, para os amigos, nascido na Praia, ex-ten fuzileiro especial, DFE nº 21, Cacheu 1972/74, e que vive nos EUA), soubemos da morte do Leopoldo António Luís Alfama, antigo "comandante do PAIGC" (nome de guerra, "Duke Djassi" ou "Duke Djassy").


O falecimento ocorreu em 15 do corrente. Em Lisboa, num hospital do SNS. A notícia também a li no Facebook. Mas não chegou aos jornais de referência de Cabo Verde (Expresso das Ilhas, A Nação, A Semana, este último mais próximo do PAICV, agora na oposição)...

Duke Djassi não foi propriamente um dirigente do PAIGC de 1ª linha (*). Embora o elogio fúnebre que passou nas redes sociais, da parte de militantes ou simpatizantes do PAIGC, vai no sentido de destacar o seu papel na guerrilha (como "comandante" e, depois da independência, cvomo governador da região do Cacheu, cargo que exerceu até 1980, "continuando sempre fiel aos ideais de justiça, liberdade e unidade nacional" (Página do facebook de Henrique Monteiro, de 15 de setembro de 2025).

2. No portal de Barros Brito (Genealogia dos cabo-verdianos com ligações de parentesco a Jorge e Garda Brito...), ficamos a saber algo mais sobre o Leopoldo Alfama:

(i) nasceu em 23 de setembro de 1945, na antiga Guiné Portuguesa, muito provavelmente na Ponta Alfama, perto de Bula, e que era propriedade do pai;

(ii) o pai era Luís António Alfama (1886-1947), natural da cidade da Praia, e falecido em Bissau, aos 60 anos; a mãe, Maria Irene da Costa, nascida na Guiné;

(iii) o Luís Alfama instalou-se na região de Bula; foi ponteiro, na "Ponta Alfama (que ainda hoje pertence à família) plantava,  entre outras frutas, abecaxis".


Este pormenor biográfico é interessante: como outros "históricos" do PAIGC (onde passou a militar "muito jovem"), o Leopoldo era filho de pai cabo-verdiano,  ponteiro, cidadão português; pertencia, portanto, a uma pequena burguesia, neste caso rural. com acesso à catequese e à escola. Na região de Bula havia inúmeras pontas: identifiquei mais de uma dúzia, ao longo do curso dos rios Dingal, Bula, Binar, afluentes do rio Mansoa (vd,. infografia, a seguir):

Quem vinha para estas terras inóspitas, palúdicas, inseguras ?... Só os cabo-verdianos, fugidos da seca e da fome... Deviam, naturalmente, usar nas suas pontas, mão de obra local, indígena, com destaque para os desgraçados dos balantas, que era pau para toda a colher... Os seus filhos, os dos ponteiros, os Semedos, os Brandões, os Alfamas, etc.,  irão ser "comandantes" e "comissários políticos" e os seus "balantas" carne de canhão do PAIGC... 

Afinal, Rosinha, tal como que o que aconteceu na tua "terra", Angola, foi o luso-tropicalismo que "nos tramou"... na Guiné. Os filhos dos "ponteiros": ora cá está uma pista para se perceber melhor a história do PAIGC...

"Duke Djassi" era "comissário político-militar" (sic), Corpos do Exército 199 e 70 (sic), em 1 de junho de 1974  (**).



Guiné > Região do Cacheu > Sector de Bula  > Carta de Bula (1953) / Escala: 1/50 mil > Posição relativa de Bula, Ponta Alfama e mais de um dúzia de outras pontas, bem como os rios Dingal, Bula, Binar e Mansoa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral > "Mensagem de Duke Djassi comunicando as perdas de soldados coloniais nas minas colocadas pelo PAIGC na estrada de São Domingos. Data: Domingo, 1 de Agosto de 1971"... Cortesia da Casa Comum / Fundação Mário Soares.

Campada  [Frente São Domingos-Sambuia e Frente Nhacra-Morés]

SG [Secretário Geral:] Informa-se que dia 27/7  um contingente inimigo caiu em duas minas infantaria reforçada sofrendo 5 mortos 12 feridos confirmados [. ] Minas montadas na estrada S. Domingods  [- ] Fronteira por Raul Nhaga. Stop Duke Djassi. 1-8-71.


Como os demais comandantes e comissários políticos do PAIGC, o "Duke Djassi" gostava de impressionar o chefe, em Conacri, a 700 km de distância, com notícias deliberadamente fabricadas como esta... que depois da "Maria Turra" transmitia na "Rádio Libertação"... Acontece que em 27 de julho de 1971 não morreu nenhum militar português (ou guineense, milícia ou do recrutamento local), vítima de mina A/C ou AP/ ou emboscada IN ou por outro motivo.


Citação:

(1971), "Comunicado - Campada", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40630 (2025-9-29)

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27052: Facebook...ando (91): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte IX: Ainda Buba, na região de Quínara. a capela católica... e as ruínas do quartel das NT emm Bula (região do Cacheu)



Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Guiné- Bissau > Região de Quínara > Buba > Maio de 2025 >  Capela católica e ruínas do quartel das NT


Fotos (e legendas): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






João Melo (ou João Reis de Melo), ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74):


(i) é profissional de seguros, vive em  Alquerubim,  Albergaria-a-Velha;

(ii) viaja regularmente, desde 2017, para a Guiné-Bissau, em "turismo de saudade e de solidariedade" (em que distribui material pelas escolas de Cumbijã, e apoia também, mais recentemente, o clube de futebol local);

(iii) regressou há pouco tempo da sua viagem deste ano de 2025;

(iv) fez uma visita demorada à Amura e ao atual Museu Militar. em plena zona histórica (Bissau Velho);

(v) tem página no Facebook (João Reis Melo);

(vi) tem mais de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue para o qual entrou em 1 de março de 2009.


1. Na sua viagem, em maio passado, de Bissau a Cumbijã, no sul, na região de Tombali, o nosso grão-tabanqueiro João Melo, passou por várias das nossas geografias emocionais n(*)... E fotografou esses lugares.  Um deles foi Buba. o rio Grande de Buba, na região de Quínara  (vd. poste P26988) (**)... Mas também foi ao Norte, região do Caheu, passando por Bula, onde fotografou o antigo quartel das NT, hoje em completa ruína (fotos nºs 2, 3 e 4).   Às vezes fazemos confusão entre Buba e Bula...

Recorde-se que a regiuão de Quínara engloba os sectores de Buba, Empada, Fulacunda e Tite,

E a região do Cacheu intregra os sectores  de Bigene, Bula, Cacheu, Caió , Canchungo  e São Domingos,

Em Buba também fotografou a capela católica da paróquia de Buba (foto nº 1). Escreveu ele na sua página do Facebook no passado dia 15 de julho:

Foto nº 1>

“Retalhos de uma passagem pela Guiné-Bissau:

"Embora a Guiné-Bissau seja um país com grande diversidade religiosa, todas as crenças e religiões são praticadas livremente pelos seus seguidores. O país possui uma Constituição que garante a liberdade religiosa e, geralmente, a coabitação é pacífica.

"O Islão é predominante e é praticada por cerca de 70% da população muçulmana do ramo Sunita, com mais incidência no sul. 

"O Cristianismo, principalmente a Igreja Católica,  tem cerca de 19% e a restante população é distribuída por crenças tradicionais praticados pelos diferentes grupos étnicos, onde se inclui o Animismo.
 
"Na região de Quinara, onde Buba está situada, existe a católica Paróquia de Santa Cruz que tem esta igreja como seu local de culto"...

Ekm Bula, na região do Cacheu, publicou em 21 de julhio,  esats fotos do antigo quart5el de Bula, na página do Facebook do grupo Antrigos Combatentes da Guiné.


2. Permitimo-nos discordar dos números que o João Melo apresenta sobre as religiões da Guiné-Bissau.  O islamismo (70%) deve estar sobrerrepresentado. Segundo o assistente de IA (ChatPGT), a situação atual seria a seguinte, no que diz respeito à distribuição das várias religiões:

Aqui está uma visão clara e atualizada da distribuição das principais religiões na Guiné‑Bissau, baseada nas estimativas mais recentes (por volta de 2020–2022):


(i) Islamismo: aproximadamente 46 % da população identifica‑se como muçulmana.

A maioria segue o islamismo sunita (escola maliquita), com comunidades sufis (praticanets do sufismo); minorias xiitas ou ahmadis representam apenas alguns por cento,

Os muçulmanos concentram-se principalmente nas regiões norte e nordeste, sendo comuns entre os grupos étnicos Fula, Mandinga, Biafada, Sosso e Soninqué.

(ii) Cristianismo: cerca de 19 % da população é cristã (estimativas entre 18,9 % e 22 %)  

Predominam os católicos romanos (o catolisciomso foi institucionalmente estabelecido em 1533, com a criação da diocese de Cabo Verde e Guiné). Há também comunidades protestantes (como evangélicos, metodistas, Assembleia de Deus, etc.):

Os cristãos estão maioritariamente nas regiões costeiras e sul, especialmente na capital Bissau e zonas urbanas do litoral.

(iii) Religiões tradicionais africanas (“animismo”): cerca de 30–31 % seguem crenças tradicionais, com números que variam entre 30,6 % (CIA), 31 % (Pew) e até 40 % (outras estimativas).

Essas práticas incluem veneração de antepassados,  espíritos da natureza, uso de amuletos e sacrifícios rituais.

O animismo é praticado por muitos em combinação com o islamismo ou cristianismo, resultando num sincretismo religioso muito presente na Guiné‑Bissau.

(iv) Resumo da distribuição religiosa (est. 2020)

  • Islamismo ~46 %
  • Religiões tradicionais (animismo) ~31 %
  • Cristianismo ~19 %
  • Sem religião / outras crenças ~4–5 %

Esses números refletem estimativas do CIA World Factbook, Pew Research Center, e Religious Freedom Report dos EUA. 

A população da Guiné-Bissau ultrapassa já os 2 milhões, quatrro vezes mais do que há meio século: total estimado (2024): 2,132,325, segundo a CIA World Factbook.


(v) Coexistência e sincretismo

A Guiné‑Bissau é marcada por uma grande tolerância religiosa e relação em geral harmoniosa entre diferentes credos. 

Muitas pessoas mesclam práticas islâmicas e cristãs com as crenças tradicionais, dando origem a formas sincréticas únicas. 

(Fonte: ChatGPT / Pesquisa, revisão / fixação de texto, negritos: LG)

(**) Vd.  poste de 6 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26988: Facebook...ando (85): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte IV: Buba e o rio Grande de Buba no seu esplendor

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26894: In Memoriam (549): Sarg-Mor Inf Ref Vítor Manuel da Costa (1949-2025), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3328 (Bula, 1971/73) (José Câmara)

I N   M E M O R I A M

Sargento-Mor Inf Ref Vítor Manuel da Costa (1949-2025)
Ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3328 (Bula, 1971/73)

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1 - Comentário de José Câmara

Victor Manuel da Costa, Sargento-Mor Inf Ref, faleceu no dia 1 do corrente mês. Tinha 76 anos de idade.

Como Furriel Miliciano integrou a CCAÇ 3328/BII17. Fez a sua comissão de serviço militar na Província Ultramarina da Guiné entre o dia 21 de Janeiro de 1971 e o dia 7 de Janeiro de 1973. Bula foi a zona de acção da sua Companhia Militar.

Após a sua comissão de serviço na Guiné enveredou pela vida bancária. Alguns anos mais tarde regressou ao serviço militar até à sua aposentação.

Numa nota pessoal, conheci o Victor Costa em Tavira, mas foi no BII17 que nos tornamos amigos, uma amizade que o tempo se encarregou de cimentar. Ao longo dos últimos anos tivemos a oportunidade de nos encontrarmos para aquele abraço de saudade.

Um abraço solidádio para os seus familiares e amigos.

Descansa em Paz, Victor, que bem mereces. Até um dia destes...
José Câmara


2 - Comentário de Henrique André, com o qual concordo plenamente e que descreve muito bem a pessoa que era o Victor Costa, para mim um bom irmão.

"É meu doloroso dever comunicar aos sócios do Núcleo de Faro da Liga dos Combatentes, amigos e comunidade farense o falecimento do nosso grande amigo e camarada Vitor Costa, Sargento-Mor de Infantaria do Exército, ferido em combate na Guiné e também ex-bancário que nos últimos anos desempenhando funções de tesoureiro na Direção da Associação de Deficientes das Forças Armadas em Faro.

Queremos também apresentar as nossas mais sentidas condolências a toda a família, com um carinho especial à sua filha que tanto o orgulhava. Foi sempre desde que nos conhecemos, após a chegada do Ultramar, um grande amigo sempre disponível para ajudar os outros, com aquela calma, tranquilidade e humor, que é natural em qualquer alentejano como ele se prezava ser, um Ser Humano fantástico.

É por isso com grande mágoa que vimos partir mais um amigo e que tanto nos ajudava nas nossas causas. Amanhã de manhã o seu corpo chegará à Igreja de S. Luís (terça-feira dia 3 de Junho) às 11h00, onde pelas 15h00 será rezada missa de corpo presente e posterior saída para o Talhão dos Combatentes, no Cemitério Municipal da Esperança (Velho) em Faro.

Que Repouses em Paz."



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3. Comentários do editor:

Adaptação do texto e selecção das fotos a partir da página do facebbok dos Antigos Combatentes Açorianos, gerida pelo nosso camarada José Câmara

A tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné associa-se à dor dos familiares do nosso camarada Vítor Costa, aos quais envia as mais sentidas condolências.

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Nota do editor

Último post da série de 9 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26783: In Memoriam (548): Recordar o meu amigo Carlos de Matos Gomes (1946-2025), o escritor Carlos Vale Ferraz (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26433: Fichas de unidade (38): BCAÇ 507 (Bula, 1963/65)



Batalhão de Caçadores nº 507

Identificação: BCaç 507

Unidade Mob: RI 2 - Abrantes

Cmdt: TCor Inf Hélio Augusto Esteves Felgas

2.° Cmdt: Maj Inf João Luís Freire de Almeida | Maj Inf José António Monteiro de Oliveira Leite

OInfOp/Adj: Cap Inf Carlos Elmano Rocha

Cmdt CCS: Cap Inf Agostinho da Costa Alcobia

Divisa: -

Partida: Embarque em 14Ju163; desembarque em 20Jul63 | Regresso: Embarque em 29Abr65

Síntese da Actividade Operacional

Foi constituído e organizado a partir do BCaç 239, do qual transitaram os elementos de recompletamento. Era apenas composto de Comando e CCS, não
dispondo de subunidades operacionais orgânicas.

Em 20Ju163, sucedendo ao BCaç 239, assumiu a responsabilidade da zona NO e N da Guiné, designada por Sector B, após a remodelação do dispositivo de 2Ag063, desde a costa atlântica à linha Cuntima-Porto Gole e até aos rios Mansoa e Geba, com a sede em Bula e integrando as companhias estacionadas em Teixeira Pinto, Mansoa, S.Domingos e Farim e os pelotões de reforço, cujos efectivos se encontravam disseminados por várias localidades. 

Com a chegada de novas companhias, foram, sucessivamente, criados os subsectores de Mansabá e Ingoré, em 28Jul63 e Bissorã, em lAg063.

Em 1Set63, por entrada em sector do BCaç 512, a zona de acção foi reduzida dos subsectores de Mansoa, Farim, Mansabá e Bissorã, sendo, entretanto,
criados, em 8Mai64, mais o subsector de Binar e, em 02Mar65, ainda o de Có.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, de reconhecimento,
batidas e emboscadas, com o objectivo de desarticular e limitar as acções do inimigo e barrar o alastramento da subversão para Oeste e garantir a segurança e protecção das populações, quer actuando sobre as bases de refúgio, quer sobre as linhas de infiltração do inimigo.

Pelos resultados obtidos em armamento e material capturado, destacam-se
as operações "Fisga" e "Beja", entre outras.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 
  • 2 metralhadoras ligeiras, 
  • 5 pistolas-metralhadora,
  • 8 espingardas,
  • 3 minas
  • 2832 munições de armas ligeiras.

Em 28Abr65, foi rendido no sector de Bula, então já designado por Sector
01, desde 11Jan65, pelo BCav 790 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de
efectuar o embarque de regresso.

Observações -  Não tem História da Unidade.

Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 49/50.
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26404: Fichas de unidade (37): BCAÇ 599 (Tite, 1963/65)

domingo, 26 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26427: Tabanca da Diáspora Lusófona (30): José António Marinho, que vive em New Jersey, e pertenceu à CCS/BCAÇ 2928, Bula, 1970/72 (João Crisóstomo)



1. Mensagem recebida pelo formulário de contacto do Blogger:


Data - sexta, 24/01/2025, 03:45


Vivo nos EUA en NJ (New Jersey), gostava. que me inscrevessem no blogue. 

Estive em Bula. de
1970. a 1972, na CCS/BAÇ 2928.
Obrigado

Cumprimentos,
José Antônio A Marinho | Email: (...)


2. O nosso coeditor Carlos Vinhal está a tratar do pedido de ingresso na Tabanca Grande. Pedimos, entretanto, ao régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, o  João Crisóstomo,  para contactar o seu "vizinho" de New Jersey e nosso camarada... Eis a mensagem que ele lhe enviou:


Caro camarada José António Marinho,


Acabo de receber uma mensagem do “comandante” de todos os "camaradas da Guiné”, Luís Graça, dando-me conhecimento da tua mensagem: (...) "Vivo nos EUA en NJ gostava. que me inscrevessem no blog, estive em Bula,  de 1970. a 1972 na CCS/BCAÇ 2928. Obrigado." (...)

Mas que agradável surpreza! Um camarada meu, que vive em New Jersey, portanto meu vizinho, (eu vivo em Queens , Nova Iorque ) e eu nem sequer tinha conhecimento!

Podes dar-me o teu número de telefone que eu ligo-te, talvez mesmo ainda hoje, ou amanhã?

Eu estive na Guiné: Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole, Missirá… em 1965/67. Temos com certeza "manga de assuntos" de interesse para falar.

Espero a tua resposta por E mail, pode ser? Ou mesmo telefone,  se quiseres ligar-me. Senão eu ligo-te. Diz-me as melhores horas para ti, Eu , embota já velhote, ando/estou sempre a correr, sempre com mil coisas a fazer mas para os meus amigos ( e, para mim, os "camaradas da Guiné” são como irmãos),  eu cá me viro…  
 
(...) Com "parte mantenhas”…

João Crisóstomo (segue a morada e os contactos)



João Crisóstomo, 

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26333: Tabanca da Diáspora Lusófona (29): Happy New Year 2025! (João Crisóstomo, Régulo, Nova Iorque)

sábado, 25 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26425: O segredo de... (46): António Medina (1939-2025) - Parte II: em 24 de junho de 1964, a CART 527 sofreu uma emboscada no regresso a Jolmete...Como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte pelo comando do BCAÇ 507, sediado em Bula, e executados pelas NT, dois meses depois


Guiné > Região do Cacheu >  Carta de Pelundo (1953) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Jolmete e Ponta Nhaga, na margem esquerda do rio Cacheu. Pelundo ficava a sudoeste de Teixcira Pinto. E Bula a leste.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


 
O António Medina
na mata da Caboiana (c. 1964)

O António Medina (1939-2025) nasceu na ilha de  Santo Antão, Cabo Verde.

Foi fur mil inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65).

Trabalhou no BNU em Bissau (até à independência) e  depois em Lisboa.

Emigrou para os EUA em 1980. 

Morreu no princípio de 2025 em Medford, Massachusetts (onde vivia), aos 85 anos.






Guiné > Zona Oeste > CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65) > s/l > s/d > O fur mil OE António Medina e a sua secção.



Guiné > Região do Cacheu > Zoan Oeste > Pelundo > O António Medina, em primeiro plano, com miúdos e adolescentes da tabanca... Atrás,  instalações do quartel protegidas por bidões com areia.

Fotos (e legendas): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



António Medina,2016

Região do Cacheu > Setor Oeste > Teixeira Pinto, Pelundo, Jolmete, Ponta Nhaga >  24 de junho de  1964, emboscada  do IN e suas consequências

por António Medina (1939-2025)
 

I. Já lá vão precisamente cinquenta anos que carrego um facto bastante sombrio e macabro que a minha memória, vencendo o tempo e as mazelas deixadas em mim pela doença do Parkinson, conseguiu preservar no silêncio até hoje, pela maneira desumana e cruel que um julgamento sumário foi executado, ditado pelo Comando do Batalhão de Caçadores 507, de Bula [sendo na altura seu comandante o tenente coronel Hélio Felgas].

Não se trata de nenhuma minha criatividade ou ficção, mas sim a descrição verdadeira de factos sucedidos, contados a mim na altura por quem foi testemunha e participante de uma ação bastante degradante e vergonhosa, devidamente escondida e “abafada” pelos militares e a PIDE, porque das vítimas nada reza.

Por questão da minha própria ética procurarei evitar denunciar aqueles responsáveis que estiveram diretamente envolvidos em tal processo.

Desejo também esclarecer neste caso especifico que, como furriel operacional,  fui um dos indicados a participar com a minha secção no cerco à  tabanca de Jolmete que a seguir mencionarei, na captura de elementos considerados subversivos e na escolta dos mesmos para Teixeira Pinto onde ficaram sob a nossa guarda dentro daquele perímetro militar. 

Quando “Sargento Dia” em escala como qualquer um outro, assisti o corpo da guarda na distribuição de água e sobras do rancho para o sustento dos mesmos.


II. Por determinação do Comando de Bula, assiduamente as tabancas de Ponta Nhaga e de Jolmete eram visitadas pelas nossas forças, dentro do espírito do programa de reconhecimentos como retenção a possíveis infiltrações inimigas.

Sentiamo-nos confiantes e familiarizados,  mais com os residentes de Jolmete, pela simpatia e maneiras com que éramos distinguidos, muitas vezes dando-nos as boas vindas, exibindo as suas danças e cantares na cadência de um bater de palmas e pés no chão, ao som de um batuque não ensurdecedor, pelo contrário harmonioso no qual um ou outro soldado por graça se juntava.

No clima amistoso que se vivia, [a gente] se estendia no chão de papo para o ar em qualquer sombra, as cartucheiras debaixo da cabeça para melhor conforto e a arma ao lado, conversa amena entre soldado e nativo, negociando particularmente um frango para um delicioso churrasco no regresso ao quartel, um ou outro apreciando em silêncio as curvas de uma bajuda de “mama firmada” que bem parecia mais ter sido talhada a canivete, comportamento que fugia às regras e normas de segurança exigidas pelo status da guerra e que bem poderiam custar a nossa própria vida, o que estávamos ignorando.

A pedido do sargento encarregado do rancho e sob a discrição e consentimento do régulo que fixava os preços, quantas vezes se comprou frangos, ovos, cabritos e bananas que tivessem disponíveis, oferecendo-nos o gostoso e fresco vinho de palma (seiva da palmeira) sem todavia pressioná-los. 

Como “labaremos” (agradecimento),  se distribuía garrafões e latas vazias e algum arroz que o inventário do vagomestre classificava como sobra na existência do fim de cada mês.

A nível de pelotão, repetitivamente e em roulement,  lá íamos em coluna auto pela estrada de terra batida totalmente despreocupados, sem qualquer referência a minas ou outras armadilhas porque delas ainda nada ou pouco se falava, de Teixeira Pinto, passando por Pelundo,  seguindo em direção de Ponta Nhaga, depois regressar a Teixeira Pinto passando por Jolmete,  e vice-versa na semana seguinte.

Quando menos se esperava, no dia de S. João, 24 de junho de 1964, à tardinha durante o nosso regresso de Jolmete para Teixeira Pinto,  fomos surpreendidos e emboscados por um grupo armado a cerca de quatro quilómetros da tabanca, causando-nos algumas baixas com certa gravidade.

De madrugada chovia a potes, encharcados mas agora conscientes da presença inimiga, cautelosos e com medo, reforçados,  regressámos a Jolmete, com um percurso a fazer a pé depois de Pelundo, para que o factor surpresa nos beneficiasse na operação sob o comando do capitão de Teixeira  Pinto.

 As instruções eram taxativas para se prender todos os homens,  inclusive o régulo, deixando apenas mulheres e crianças. Que fossem transportados para Teixeira Pinto onde ficariam sob a nossa custódia até novas instruções. Assim tudo foi feito em cumprimento, sem qualquer resistência .

Conhecíamos o neto do régulo de Jolmete,  de nome Celestino, rapaz de cerca de 22 anos de idade, simpático, vestido e calçado, expressando-se bem em português, com o segundo ano dos liceus já feitos no Honório Barreto em Bissau onde dava continuidade aos seus estudos. Sempre que chegava a Teixeira Pinto era ele hóspede da nossa messe para uma refeição e bate-papo connosco,  furriéis. Acontece que naquela manhã o Celestino estava na Tabanca do avô e também foi preso.

III. Levados para Teixeira Pinto ficaram fechados no edifício do celeiro que se situava dentro da área do quartel, cedido pelo Administrador do Concelho, numa estadia de quase dois meses sob nossa guarda.  

Pelos resultados colhidos nos interrogatórios  se constatou que o grupo armado planeava atacar na nossa hora de ociosidade, com receio de alguma represália da tropa a posteriori, o régulo e o neto felizmente convenceram-lhes que alterassem seus planos para uma acção fora da tabanca, o que de nada serviu mais tarde como atenuante para lhes poupar a vida.

Entretanto o Comando de Bula [BCAÇ 507] ditou-lhes a pena capital,  para que todos fossem fuzilados em local secreto, com exceção do Celestino que continuaria preso em Teixeira Pinto. Que fossem transportados pela estrada de Jolmete em dia a indicar onde estaria tudo já preparado pelos participantes de Bula.

Eram eles cerca de vinte homens, o régulo de Jolmete já homem velho, de barbas e cabelos brancos, fraco pela má alimentação, outros mais novos, todos sendo transportados em GMC  sob escolta do segundo pelotão [da CART 527].

 No local indicado já os esperava um dos capitães de Bula, com uma vala aberta por uma escavadora e um outro pelotão alinhado à distância, olhando de frente para a vala, de costas para a estrada. 

O pelotão da CART 527 cuidou apenas da segurança da área para que o trabalho fosse ultimado sem qualquer interferência do inimigo.

De mãos atadas, os prisioneiros foram alinhados de costas para a vala. O capitão de Bula ali estava como oficial mandante da ordem. Através de um intérprete explicava a razão daquele procedimento, quando um dos presos consegue se soltar e fugir em direcção à mata. 

Nesse interim de confusão o pelotão disparou precipitadamente sem ter recebido ordem de fogo, restando corpos sem vida caídos na vala, à podridão, sem direito sequer a um choro, à dança das mulheres grandes ou a um toque de bombolom.

A vala comum foi fechada e armadilhada com minas anti-pessoal plantadas por sapadores de Bula. No dia seguinte essa acção da tropa colonial foi revelada pelos órgãos do PAIGC .

O Celestino continuou preso em Teixeira Pinto até que um dia a sua pena também capital não tardasse a chegar. 

Um furriel seria indicado para executar a sentença, que para nós era bastante pesaroso e em nada dignificante, dado o relacionamento e bom trato que mantínhamos com ele até se retratar como informador, para depois ser prisioneiro de guerra sem qualquer possibilidade de defesa.

Desta maneira, logo se soube da execução a ser cumprida, naquela tarde os furriéis saíram quanto mais cedo do quartel procurando uma forma de evitar participar no fuzilamento.

 Eu, como exemplo, decidi sem que ninguém desse conta visitar um senhor cabo-verdiano empregado comercial de uma casa libanesa, pai de uma linda morena a quem ia eu fazendo olhos bonitos para um possível namoro “caliente”. Me permitiu aquele senhor,  meu patrício, arrastar um pouco mais a minha visita naquela noite, sem todavia lhe dar a entender do que se estava passando. 

O facto foi consumado por um colega furriel miliciano e sua secção nas imediações do pequeno aeródromo de Teixeira Pinto

Viveu-se alguns dias em clima de pesar e tristeza no quartel, evidenciado pelos soldados nativos (eram eles distribuídos pelos pelotões e tinha eu três deles na secção) que praticamente se afastaram das outras praças. 

No dia seguinte da execução fui instruído para fazer uma patrulha de reconhecimento com o meu grupo em determinada área, notei que no momento de um pequeno descanso que achei por bem todos fizéssemos, os três militares se afastaram do grupo e se sentaram, de armas na mão como todos nós. 

Tive certa apreensão no momento o que me levou a aproximar e ficar junto deles em conforto, sem todavia ter havido nenhuma conversa, pelo contrário um silêncio absoluto de quem se sentia bastante magoado e triste. Felizmente nada aconteceu talvez pela disciplina, tratamento amigo e igual para todos que sempre implementei.

Regressámos algum tempo depois à tabanca de Jolmete e constatámos que tinha sido destruída, suas palhotas queimadas não pela tropa, abandonada pelos sobreviventes que se puseram em debandada para local desconhecido.

Acreditámos nessa altura que tivessem procurado lugar que para eles fosse mais seguro, em apoio também ao PAIGC por jamais merecermos sua confiança.

Uma vasta área foi limpa do capim, árvores e arbustos para que fosse construído para a nossa defesa e logística um verdadeiro ”fortim” com troncos de cibos, chapas de bidões e zinco, terra batida, conforme as fotos em anexo.

António Medina, 
Medford, Massachusetts, USA,  junho de 2014

(Revisão / fixação de texto, negritos, parênteses retos: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26424: O segredo de... (45): António Medina (1939-2025) - Parte I: "Uma história de terror que me atormentou toda a vida (Jolmete, junho / setembro de 1964)