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sábado, 7 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23958: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVII: O maluco do Honório nunca mais!... E depois o meu adeus à guerra dos “Fantasmas”, maio de 1965


Lisboa > Terreiro do Paço > 10 de Junho de 1965 > O Almirante Américo Tomás a condecorar o ten mil 'comando' Maurício Saraiva, comandante do Grupo de Comandos "Os Fantasmas", com a Medalha de Valor Militar com Palma, e entretanto pronovido a capitão. Branco, nascido em Angola, Saraiva, idolatrado por uns, odiado por outros, foi um "mal amado", diz o Virgínio Briote... O Amadu Djaló, por sua vez, foi um dos oito "negros" (sic) - a par do Marcelino da Mata, do Tomás Camará e outros - a participar "no 1.º curso de quadros para os Comandos do CTIG", que teve início em 3 de agosto de 1964... Integraria depois o o Gr Cmds "Os Fantasmas", de outubro de 1964 a maio de 1965. O seu último comandante de secção foi o fur mil 'comando' Joaquim Carlos Fereira Morais, natural de Lisboa, oriundo da CAÇ 412 / BCAÇ 512. Morreu na Op Ciaio. Foram também feridos, da sua secção, o Amadu Fajló e o Tomás Camará. Outro ferido do grupo foi o João Parreira. (*)


Guiné > Bissau > 11 de junho de 1965 > "Foto tirada em frente ao Hotel Portugal, num dia que nunca mais esqueço, e por várias razões (i) era o dia dos meus anos; (ii) fui a Bissau buscar o 2º sgt. José Cabedo e Lencastre que vinha para o Centro de Instrução de Comandos; (iii) foi um dia depois da condecoração e promoção (a capitão) do Saraiva; (iv) os sapatos de pala castanhos que calçava atravessaram algumas bolanhas; (v) de tarde saímos para instrução e à noite fui ao cinema UDIB ver o filme “Noites de Casablanca", com a Sara Montiel".


Guiné > Região do Oio >   Tita Sambo (Camjambari) > 1965 > O Grupo Cmds "Os Fantasmas". Final da operação Ebro, em 26 de março. Para completar os intervenientes da Op Ciao (6-7 de maio de 1965, e Catunco, Cacine), falta apenas a presença do cap art 'comando' Nuno Rubim que acompanhou o Grupo. Em pé: o Cmdt Grupo ten Saraiva, 5º da esq. (MS);  e eu o 9º (FP). O fur mil Joaquim Carlos Ferreira Morais )JM) está em frente do Saraiva e o soldado Amadú Dajló (AD) à minha frente.

Fotos (e legendas): © João Parreira (2006). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mais um precioso  excerto das memórias do Amadu Djaló (**), neste caso relativas ao tempo em que integrou o Gr Comandos "Os Fantasmas" (comandado pelo alf mil cmd Maurício Saraiva, entretanto promovido a tenente e depois capitão). 

Descreve aqui a última operação, a Op Ciao, que ele realizou (junto com outros camaradas com os fur mil Morais e João Parreira, o primeiro ferido mortalmemte, e o segundo também evacuado para o HM 241; o próprio Amadu é ferido nesta operaçao). Foi em 6 de maio de 1965,  no sector de Cacine; tratou-se de um golpe de mão contra um acampamento IN em Catunco,

Recorde-se, aqui o percurso anterior do então sold cond auto Amadú Djaló (1940-2015):
(i) alistou-se nos comandos do CTIG, a convite pelo alferes mil 'comando' Maurício Saraiva, angolano; (ii) requentou o 1º Curso de Comandos da Guiné, que decorreu entre 24 de Agosto e 17 de Outubro de 1964; (iii) deste curso fizeram parte 8 guineenses: além do Amadu Djaló, o Marcelino da Mata, o Tomás Camará e outros; (iv) deste curso sairam ainda os três primeiros grupos de Comandos, que desenvolveram a actividade na Guiné até julho de 1965: "Os Camaleões", "Os Fantasmas" e "Os Panteras".

O Amadu passou a pertencer ao Grupo "Os Fantasmas" comandado pelo alf mil 'comando' Maurício Saraiva. Logo no fim do curso, os três grupos participaram na primeira operação, a Op Confiança, realizada entre 25 de outubro e 4 de bovembro de 1964 no Oio,   na área atribuída ao BCav 705, tendo por objectivo a reabertura do itinerário entre Mansabá e Farim.

A fonte continua a ser o ser livro "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp.), de que o Virgínio Briote nos disponibilizou o manuscrito em formato digital. A edição, que teve o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, está há muito esgotada. Muitos dos novos leitores do nosso blogue  estão agora a ter contacto com as memórias do Amadu Djaló.


Capa do livro de Bailo Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.


A leitura, mais atenta,  do livro continua a ser uma verdadeira surpresa para mim.   Nunca é demais sublinhar que  é um testemunho humano, singelo, de valor grande documental, e com muito interesse, do ponto de vista socioantropológico, para um melhor conhecimento do passado da Guiné-Bissau e em especial do período da guerra colonial. O Amadu Djaló esteve 12 anos, de 1962 a 1974, ao serviço do Exército Português. 

Como já tivemos ocasião de o dizer noutra ocasião, o título do livro pode parecer ter pouco a ver com o conteúdo. Terá sido, aliás, mais ditado pelo marketing, com o objectivo de vender, o que no caso do Amadu até era um objectivo relevante, sabendo-se que ele tinha 10% sobre o preço de capa e era um homem pobre e doente. (Infelizmente, não enriqueceu com o livro.) "Guineense, comando, português" foi  claramente uma concessão aos "brancos" ou "europeus" (como ele nos chamava, quase sempre), Mas ele sentia-se português e um verdadeiro comando, sem nunca, por outro lado, ter renegado a sua pátria de origem (onde está , de resto, seputaldo).

Se um homem é sempre ele próprio mais as suas circunstâncias (não podendo escapar à historicidade), o Amadú foi porventura uma espécie de Sancho Pança guineense, servindo diversos Dom Quixotes, do Mauricio Saraiva ao Antónioo Spínola, mas também poderia ter estado ao lado do 'Nino Vieira e do Amílcar Cabral, como ele próprio admitiu, quando a páginas 30/31 evocou  a tentativa de aliciamento, para ingressar nas hostes do PAIGC, em julho de 1961, por parte de Adulai Djá, um colega seu de Bissau"  (que, tendo militado nas fileiras do PAIGC, chegaria a ser 2º comandante da base principal do Morés; mais tarde morto num ataque de comandos helitransportados, em data não especificada pelo Amadu, p. 30, nota de rodapé).

O Amadú acabou por ir para a tropa portuguesa em 1962 ("tropa era uma obrigação"), depois de um série de peripécias que meteram o pai, os primos do Senegal (militares do Exército francês), o administrador de Bafatá, o tenente Carrasquinha, do BCAÇ 238 (que tinha um fraquinho pela prima, bonita, Aua Djaló)...  .

Tenho igualmente chamado a atenção  para o talento narrativo do Amadu. Como bom africano, ele era um homem da cultura oral e, logo, um grande contador de histórias. E essa oralidade, espontânea (mesmo em português que não era a sua língua materna), perpassa por todo o livro, graças ao talento de outro homem, o Virgínio Briote, o seu "editor literário" (Ou "copydesk"), à sua paciência, perserverança, bom senso, bom gosto, sentido de ética e camaradagem.

Voltamos aqui a ter, neste excerto, duas boas histórias:

 (i) uma, cómica, burlesca e divertida, na I parte (já em parte aqui reproduzida) (***), em que ele descreve as peripécias da sua (e do Tomás Camará) viagem de DO-27, de Bissau até Cufar e depois Cacine, pilotado por esse "glorioso maluco das máquinas voadoras", que já era então o fur pil Honório Brito da Costa, nascido em Cabo Verde: sobre o Honório (Srgt Pil Av) temos mais de 3 dezenas de referências no blogue; 

(ii) outra bem mais dramática, pungente, reveladora da grande coragem mas também da nobreza humana do Amadu, a última operação do Gr Cmd "Os Fantasmas", em que morre o seu comandante de secção, o fur mil Morais,  e ele próprio é ferido com mais camaradas (*).


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVII: O maluco do Honório nunca mais!... E depois o meu adeus à guerra dos “Fantasmas”, maio de 1965 (pp. 123-130)

por AmaduDjaló

(i) Voando com o "maluco" do Honório até Cacine


Em Maio[1] de 1965, fomos para Cacine, com o objectivo de executar um golpe de mão a um acampamento em Catunco. Era a última operação do grupo “Os Fantasmas” e, por isso, o tenente [Maurício Saraiva] pôs-lhe o nome de “Ciao”.

Em Brá tivemos a manhã para preparar tudo. Depois, fomos em viaturas para o aeroporto de Bissalanca, onde estavam quatro avionetas à nossa espera. O tenente dirigiu-se ao furriel Morais, que já tinha acabado o tempo de comissão e disse-lhe:

– Vocês esperam pelo Honório[2], que parece que ainda não está pronto.

– Meu tenente, eu não vou no avião do Honório! Custa-me muito faltar à operação, mas eu não vou! – disse eu.

O Tomás Camará disse também que, com o Honório, não ia.

Então, o tenente disse que as avionetas que os iam levar,  regressavam para depois levar o resto do grupo. Visto que um dos pilotos concordou, eu e o Tomás Camará ficámos a aguardar.

As três avionetas levantaram com o pessoal e, passados dez minutos vimos o furriel Honório a dirigir-se para a sua Dornier. Virou-se para nós e disse:

–Vamos?

O furriel Morais e um soldado europeu foram ter com ele.

– Só vão vocês os dois?

– É, eles dizem que não vão na sua avioneta!

– Mas, porque não?

Saiu da avioneta e dirigiu-se para nós. Cumprimentou-nos e perguntou:

– Por que é que vocês não querem ir comigo?

Olhámos para o lado, nenhum de nós deu resposta. Ele disse:

  É pá, isso é uma grande vergonha para nós! Eu sou preto, levo brancos, que têm confiança em mim e vocês, que são meus patrícios, não querem ir na minha avioneta? Vamos embora, pá, não há problemas!

–  Eu não gosto de manobras no ar e o Tomás também não!

 
–  Eu não faço nenhum tipo de manobras!

Depois, pegou nos nossos equipamentos e disse:

– Vamos embora!

Não havia outra maneira. Muito contrariados, embarcámos na avioneta. Tomou altura, virou para sul e o voo correu muito bem até ao campo de Cufar. Aí, o Honório viu um homem a andar sozinho, apontou-lhe o dedo e disse alto:

– Vou assustá-lo.

Aí, eu já não sabia onde me meter. Ele baixou a avioneta e passou por cima do homem, que continuou a andar com calma.

– Ai, ele não fugiu?!...  Então, vou-lhe acertar com a asa da avioneta! 

E baixou outra vez e ainda mais, parecia que ia aterrar ali. O homem viu aquilo, que não era nada normal, e saltou para junto de uma árvore. Mas agora, para retomar altura,  é que me parecia mesmo muito difícil.

Ao homem, a árvore tinha-lhe salvo a vida e a nós, pouco faltou para perdermos as nossas. A partir deste incidente, nenhum de nós abriu mais a boca, até chegarmos a Cacine.

Esta pequena vila fica junto ao rio. O piloto parou o motor e mergulhou, mergulhou. Só víamos água à nossa frente. Naquela altura, eu disse para comigo, "até aqui foi brincadeira, mas agora ele não vai poder controlar a avioneta e vamos morrer todos". Era só água que eu estava a ver, tapei a cara para não ver mais nada e gritei com força. Ouvi o Tomás também aos gritos.

De um momento para o outro, senti o estômago na boca, o avião estava a levantar, outra vez, a pique. Mesmo assim, vi os mangueiros bem perto e, logo depois, entrou directo na pista e aterrou.

Saltou cá para fora, abriu a porta a cada um de nós e, quando, sem qualquer tipo de fala, lhe virámos costas, ele apalpou-me o rabo e cheirou a mão, para saber se eu tinha borrado as calças.

Mesmo na pista, estava uma coluna à nossa espera, que nos transportou para Cameconde.



Guiné > Mapa geral da província ( 1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Cameconde, a guarnição militar portuguesa mais a sul, na região de Quitafine, na estrada fronteiriça Quebo-Cacine...  
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Cameconde não tinha tabanca, só quartel. Os únicos vizinhos da tropa eram do PAIGC. Os nossos militares mal podiam sair do arame farpado. Aquele local foi um castigo doloroso para quem cumpriu lá a comissão.

Cameconde fica num cruzamento. Para entrar em Cacine tem que se passar por Cameconde, venha de onde se vier. As fronteiras são em Sangonhá, Cacoca, Camissorã e Banire, este por via marítima. A estrada continua até Cassacá e Campeane. É um cruzamento que separa tudo.

Chegámos depois do almoço e ficámos a descansar até às 17h00, mais ou menos. O tenente chamou-me e levou-me junto do guia, que era nalu.

Perguntou-lhe se tinha coragem para nos levar ao acampamento. Se não tivesse, mandava vir outro guia, amanhã, de Cacine. Mas o guia, à nossa frente, assegurou que não era preciso vir mais ninguém, que ele nos levava até ao acampamento da guerrilha. Enquanto o tenente ia falando com ele e fazendo perguntas, nós ficámos a aguardar a hora de saída.


(ii) A morte do furriel Morais, meu comandante de secção

Por volta das 20h00, começámos a sair, rumo a Catunco Nalu, com a missão de executar um golpe de mão ao acampamento.

Saímos à nossa moda, como era costume, com muito cuidado e sempre no maior silêncio. Alguns minutos depois, saiu um pelotão de periquitos, pertencente à companhia de Cameconde. Fomos sempre ao lado da estrada de Cacine a Camissorã, que atravessa Cameconde, até Catunco. No cruzamento deixámos o pelotão para trás, com a missão de fazer a segurança do local e aguardar a nossa retirada.

Entrámos na direita e, a partir daqui, o guia ficou fora do nosso controlo. Já não andava mais. O tenente bem insistia e chegou a dar-lhe com a coronha da arma na cabeça, mas nada dava resultado. Rastejava um pouco e parava, levava uma coronhada, rastejava e parava outra vez. Assim, fomos andando até chegarmos a um local cheio de mangueiros, dos dois lados da picada. O local era muito escuro e o guia continuava a atrasar-nos. Não sabíamos onde o sentinela estava.

Logo que saímos da escuridão das sombras dos mangueiros, uma rajada, à minha esquerda, cortou o silêncio. Aterrámos no chão, primeiro, depois, aos gritos de "Comandos ao ataque", arrancámos na direcção de onde partiram os tiros, pensando que era o local do acampamento. Era apenas o posto da sentinela. O acampamento ficava um pouco afastado e, mais para a esquerda, viemos a saber pouco depois. Abrimos fogo e lançamos granadas incendiárias. Barracas não vimos nenhuma, o que ouvimos logo foram tiros, vindos do lado esquerdo.

Corremos nessa direcção e encontrámos uma horta, com barracas. Começámos a revistá-las e fomos encontrando equipamentos e bagagens.

Retirámos um pouco na direcção do cruzamento e, passados alguns minutos, o tenente Saraiva perguntou-me se eu tinha ouvido uma metralhadora pesada a cantar. Eu tinha ouvido muitos tiros, só não sabia se alguns eram de metralhadora pesada. Ele, então, perguntou ao furriel Morais a mesma coisa. Que não sabia se eram de metralhadora pesada, foi a mesma resposta.

E o tenente a dizer-lhe:

– Pois eu ouvi perfeitamente. Pega no guia, vai lá com o Amadú, leva duas equipas e vão vasculhar toda a área. De certeza que vão encontrar qualquer coisa interessante.

O furriel Morais e eu levantámo-nos.

– O guia para quê? Estamos a ver as barracas a arder!

Iniciámos a marcha em direcção das barracas, mas a perguntar a mim próprio, porque razão o comandante do grupo não vinha connosco. Ainda não eram 24h00 quando lá chegámos pela primeira vez, agora já eram quase 2h00 da madrugada.

A progressão até ao acampamento não teve problemas e, quando lá chegámos,  começámos outra vez a vasculhar tudo. Eu com uma lanterna na mão à procura da tal arma pesada. O furriel Morais perguntou se eu já tinha visto alguma coisa. Não, não tinha ainda visto nada.

O furriel dirigiu-se na minha direcção. O local onde eu estava tinha ídolos [3] e deuses e ele esteve naquele local ainda um bocado de tempo, sempre à procura de qualquer coisa interessante até que me disse:

– Amadú, temos que sair daqui!

Dirigimo-nos para o local onde estavam os restantes elementos. Vimos o 1º cabo Cruz com uma jarra na mão e a bater com ela no pé de uma árvore de cola, pam, pam, pam…

Eu pensei, bom, ele está a fazer este barulho para a guerrilha saber o local onde estamos. Só podia ser para essa finalidade, tanto barulho!

O Tomás Camará disse-me que o cabo Cruz lha tinha tirado, para a destruir. Daqui resultou uma discussão entre nós, dentro do acampamento, que só não deu mais barulho porque o furriel Morais pôs o pessoal na ordem.

Entretanto, as barracas ardiam com toda a força e o furriel deu ordem para sairmos do local. Perguntei-lhe qual era a equipa que ia à frente.

– É a nossa 
– disse.

Foi a última coisa que o furriel Morais disse. Mal dei o primeiro passo, uma granada de RPG [4] explodiu à nossa frente e atingiu quase todo o pessoal. O furriel Morais teve morte instantânea. Logo a seguir ao rebentamento da granada, sucedeu-se o tiroteio, que durou alguns minutos. Ninguém levantava a cabeça. Quando o fogo abrandou, já todos tínhamos pensado o mesmo, para onde, por onde, como e quando sair dali.

Entre nós estava uma grande árvore, que nós na Guiné chamamos poilão [5]. Tinha raízes de fora, com grandes lombas, eram tão grandes que podiam abrigar um bigrupo. Meti-me, deitado, numa das lombas e estava a sentir qualquer coisa a escorrer pelas minhas costas. Desabotoei o dólmen, meti a mão até à anca e pareceu-me que era sangue.

Ao mesmo tempo senti que o meu ombro esquerdo estava a doer. Cuspi na mão e tentei ver a cor do cuspo. Se fosse sangue era mau sinal, podia ter sido atingido nos pulmões ou até no coração. Não era sangue, fiquei mais tranquilo. Se a ferida é fatal, a gente nem sente.

Mas eu estava a ouvir gemidos de companheiros. Um chamava pela mãe e eu cheguei-me a ele. Que estava ferido, eu também estava e o Tomás Camará andava com as pernas abertas, a dizer que o furriel estava morto,  e que, como era agora o comandante, ia pedir apoio pelo rádio. Tomás comunicou com o tenente Saraiva, que lhe perguntou se nós não podíamos regressar pelos nossos próprios meios.

– Tenente, nós éramos onze! Há muitos feridos e um está morto! 

O tenente ainda insistiu:

– Então vocês não podem sair daí, nem se podem mexer?!

Nesse momento ouviam-se gritos de um companheiro ferido. Mas outros, gritavam alto para o PAIGC ouvir:

– Venham ter connosco aqui, pá! Estamos aqui à vossa espera!

Estes gritos serviram de incentivo. Outros começaram também a recuperar o ânimo.

Entretanto, uma secção do pelotão, que estava com a missão de nos apoiar e recolher, meteu pés ao caminho, para nos ajudar a recolher o morto e o ferido que não podia estar de pé. O único que não foi ferido foi o cabo Cruz. Dos outros, dez tinham sido atingidos, um deles mortalmente. Mas saímos dali, mal ou bem, a arrastarmo-nos como pudemos até ao cruzamento.

Ficámos a aguardar a chegada da manhã, para procedermos às evacuações. O corpo do furriel Morais esteve ali ao nosso lado, deitado e bem caladinho, num silêncio de quem nunca mais voltará. Nasceu em Portugal e veio acabar a vida neste lugar de Catunco, no sul da Guiné, em 7 de maio de 1965.

Os militares que cumpriram a comissão em Cameconde foram muito sacrificados. Estavam ali para segurança da pequena vila de Cacine. Como já disse, para entrar em Cacine, venha-se de onde vier, tem que se passar por Cameconde. E para sair é pelo mesmo cruzamento. De Cameconde para Cacine vira-se para norte. De qualquer parte que se venha, a entrada é a mesma e a saída na direcção do sul, é também a mesma. 

Em Cameconde há uma picada que liga Cacine a Camissorã, continua-se sempre para sul até chegarmos a Camissorã. Quando se chega a Cameconde, há uma estrada principal, que fica a leste, que leva a Bafatá, Enchudé, Catió, Empada, Bedanda, Quebo. Para qualquer lado que se queira ir a saída é a mesma e para oeste tem muitas tabancas, de que eu só conheço Banire, Cassacá e Campeane. Dos outros nomes, não me lembro.

Portanto, para cumprir o serviço militar em Cameconde, era como quem pegava arma e entrava na mata para atacar os acampamentos da guerrilha. Todas as horas de todos os dias eram perigosas aqui. E só passava o perigo quando se ficava longe de Cameconde. Enquanto aqui estivesse, o militar não podia sair do arame, porque a partir de 20 a 50 metros podia ser morto ou raptado pelo PAIGC.

De manhã, a avioneta pediu que indicássemos a nossa posição. O tenente mandou estender telas, a avioneta localizou-nos e, poucos minutos depois, chegou o helicóptero acompanhado de bombardeiros T-6.

O tenente indicou a posição onde podiam bombardear. Durante a noite, o PAIGC não esteve quieto, foi fazendo fogo sobre nós. Mas depois dos bombardeamentos, o tiroteio acabou. Os helis [6] puderam assim pousar com segurança. Um foi para Bissau com um ferido e o corpo do furriel Morais, eu e o Tomás Camará fomos noutro para Cacine, onde recebemos os primeiros socorros de um médico da Marinha. Estivemos deitados na enfermaria, até que chegou a coluna que nos transportou para a pista. Fomos recolhidos por avionetas e ainda não era meio-dia estávamos em Bissau.

Esta foi a “Ciao”, a última operação dos “Fantasmas”. Eu e o Tomás resolvemos abandonar os comandos. Entregámos as armas e os equipamentos e regressámos à CCS do QG.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Parênteses retos com notas / Subtítulos: LG]
_____________

Notas do autor e/ou do editor literário (VB);

[1] Nota do editor: 6 maio 1965.

[2] Furriel Piloto Aviador.

[3] Chifres, bonecos de pau, garrafas.

[4] Nota do editor: RPG ou la
nça-granadas-foguete. A abreviatura deve-se à expressão russa “lançador de granada anti-tanque portátil” (Ruchnoi Protivotankovye Granatamyot)

[5] Árvore grande, majestosa, muito frequente na Guiné. Aproveitamos a madeira para fazer canoas. Para os que adoram deuses é uma árvore sagrada, protege as tabancas, é morada tradicional de espíritos e local de cerimónias.

[6] Allouette II.
___________

Notas do editor:

(**) Último poste da série > 3 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23942: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVI: Op Faena e Açor, abril de 1965, no sector de Buba

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23415: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (8): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte VII: "Gadamael tremeu mas não caiu" (Manuel Reis, "pirata de Guileje", dixit), e isso deveu-se aos seus bravos defensores, com destaque para a atuação pronta, inteligente, corajosa e eficaz do BCP 12, e da FAP


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > Obus 14... Foto do álbum do  J. Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Inf Op Esp, da CCAV 8350 (Piratas de Guileje) e da CCAÇ 11 (Lacraus de Paunca), que passou por Guileje, Gadamael, Nhacra, Paúnca, entre 1972 e 1974... e que é um dos heróis (esquecidos) de Gadamael.

Foto (e legenda): © José Casimiro Carvalho (2007).  
Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação desta nova série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?" (**).

Trata-se de excertos da CECA (2015) sobre estes acontecimentos de maio/junho de 1973. Recordamos Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, "a batalha (ou as batalhas) dos 3 G", na véspera da efeméride dos seus 50 anos (que será em 2023).

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Sobre Gadamael, podemos fazer nossa a opinião do Manuel Augusto  Reis, ex-alf mil at cav, um dos "piratas de Guileje (CCAV 8350, 1970/72): 

"Gadamael tremeu mas não caiu e tal se deve à actuação do Batalhão de Paraquedistas [, BCP 12,] e à actuação EFICAZ da Força Aérea. Como homem no terreno, é minha convicção que se as Forças Paraquedistas demorassem mais 2 ou 3 dias, não era preciso mais, Gadamael teria caído com estrondo, aprisionando ou matando tudo o que lá se encontrava." (**).

E aqui convém repetir o que  escreveu o gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande (e na altura, tenente, que pilotava um dos nossos Fiat G-91, BA 12, Bissalanca, 1972/74, que foram neutralizar Kandiafara, a base do PAIGC; já no território da Guiné-Conacri):

"O que travou o avanço do PAIGC e estancou o tão apregoado 'efeito dominó', propagandeado vezes sem conta por 'Nino' Vieira? A explicação é simples e tem duas vertentes, por um lado a presença do Batalhão de Paraquedistas na área condicionou de imediato os movimentos dos guerrilheiros na zona, por outro lado a Força Aérea Portuguesa (FAP) bombardeou as matas à volta de Gadamael, silenciando várias bases de fogo, e em seguida entrou pelo território da República da Guiné-Conacri, destruindo a maior base de apoio do PAIGC, situada perto da localidade de Kandiafara." (***)


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas

2. 1. Ataque lN no Sul a Guileje e a Gadamael Porto

2.1.2. Ataque lN a Gadamael Porto  (continuação)

Operação "Dinossauro Preto" - 2jun a 17lul73

[Nota: É feito um resumo do Relatório de Operações, n.º 16/73 do Cmdt do BCP 12 de jul73.]

A "Missão" consistia em "destacar as três CCPs para Gadamael Porto, onde ficam sob Comando Operacional do COP 5 com missão e actividade a indicar por aquele comando". Nota: CCP 121, 122 e 123 articuladas em 4 GComb a 25, 29 ou 30 homens, conforme as disponibilidades 
em pessoal.

Em 2jun73, a CCP 122 foi deslocada de Bissau para Cacine e no dia seguinte para Gadamael Porto, sempre em meios navais.

Em 2jun, a CCP 123 foi destacada de Cadique para Cacine e em 5jun deslocada para Talaia, em meios navais, e daí em progressão apeada para Gadamael Porto.

Em 11jun a CCP 121 foi deslocada de Bissau para Cacine e em 13Jun para Talaia também em meios navais e nesse dia em progressão apeada para Gadamael Porto.

"Diversos"

"a. O Comandante do BCP 12, ten Cor Para Sílvio Rendeiro de Araújo e Sá, que se encontrava em Cufar no comando do COP 4 recebeu em 5jun73 ordem para se deslocar para Gadamael Porto e assumir o comando do COP 5, substituindo o Major Pára-quedista António Valério de Mascarenhas Pessoa, que em 2jun73, estando em Cufar como adjunto do COP 4, seguira para Cacine em 2jun73, e em 3jun desembarcara em Gadamael Porto com a CCP 122.

O Comandante do BCP 12 nesse mesmo dia seguiu em helicóptero para Cacine, e na manhã seguinte (6jun73), logo que as condições de maré o permitiram seguiu via marítima para Gadamael Porto.

b. Feito o necessário estudo, e verificando-se que o Inimigo exercia forte pressão sobre Gadamael Porto:
  • Flagelando com armas pesadas com bases de fogos na República da Guiné e em território Nacional junto da fronteira;
  • Mantendo observadores avançados para regulação de tiro;
  • Mantendo na área de Gadamael Porto volumosos efectivos de infantaria.

A Manobra a seguir pelas nossas forças assentou nos seguintes pontos:
  • Fazer estacionar dentro de perímetro defensivo o mínimo de forças, e disperso por todo o perímetro, ocupando assim também a periferia dos reordenamentos;
  • Manter em permanência em actividade operacional o máximo de forças, tomando em atenção os efectivos e o período de actuação que se previa longo;
  • Ir aumentando gradualmente a amplitude das acções e operações, por forma a aliviar a pressão sobre Gadamael Porto, e permitir o lançamento de acções e operações sobre os objectivos mais importantes (Sangonhá, Tambambofa, Gadamael Fronteira, Lamoi e Sori Ucreá);
  • Manter liberdade de navegação no braço do rio de acesso a Gadamael Porto mediante ocupação quase em permanência de Talaia e da ponta da península;
  • Impedir a livre actuação de observadores mediante patrulhamentos frequente dos possíveis pontos a ocupar pelos mesmos;
  • Colocar o Pelotão de Artilharia em condições de actuação com rendimento, melhorando os espaldões, acionando o emprego do plano de fogos previsto, garantindo as ligações obuses - PC, e prevendo o apoio directo às forças em operações, face à ausência do helicanhão;
  • Garantir a utilização com rendimento das armas pesadas disponíveis (canhões s/recuo, morteiros médios e metralhadoras pesadas), melhorando os espaldões, preparando os planos de fogos ainda não executados, e garantindo as ligações armas-PC. No caso de morteiros e canhões s/recuo prever o apoio directo às forças em operações, para as distâncias mais curtas, para as quais a Artilharia não podia actuar;
  • Utilizar códigos para conversação em claro, prevendo de preferência a utilização do HF, e distribuir mosaicos gráficos com referências numeradas, para não permitir ao Inimigo tirar partido da escuta que se previa estar a fazer às transmissões das NT;
  • Garantir a evacuação em "sintex" para Cacine de feridos ou doentes, face à ausência de helicóptero para evacuações;
  • Prever, a todo o momento, ajustamentos no plano de actividade operacional, face à actividade desenvolvida pelo Inimigo.

c. Dado que as Companhias do Exército estacionadas em Gadamael Porto se encontravam em condições deficientes, no que respeitava a efectivos, moralização e armamento, o esforço sobre as zonas de contacto provável e de maior amplitude foi exercido pelas CCP reservando-se para aquelas companhias a missão de garantir a liberdade de navegação no braço do rio de acesso a Gadamael Porto."

"Desenrolar da Acção":

De 6jun a 13jul foram efectuadas 31 acções e 8 operações.

A CCP 121 e a CCP 123, em 9 acções, fizeram o treino operacional das 3ª C/BCaç 4612/72, CArt 6252/72 e CCav 8452/72 respectivamente 3, 1 e 5, incluídas nas 31 referidas.

Destacam-se algumas em que houve contacto com o lN.

- Acção COP 5 - 6jun

A CCP 123 saiu da Gadamael Porto em patrulhamento, rumo Norte. Pelas 17h30 o agrupamento foi flagelado em Cacoca 6D8.80 com armas automáticas e LGFog RPG por um grupo ln estimado em 30 elementos.

Na reacção o ln sofreu vários feridos confirmados por abundantes rastos de sangue.

- Acção Bojarda - 10 e 11jun

A CCP 122 saiu de Gadamel Porto em patrulhamento. Em Cacoca 6F6.88, foram detectadas muitas pegadas lN, sendo montada uma emboscada, sem contacto. Pelas 14h00 as NT foram emboscadas em Cacoca 6F2. 78 por um grupo ln estimado em 40 elementos. 

A CCP 122 sofreu 17 feridos ligeiros. Feita a batida, verificou-se que o lN sofreu vários feridos, confirmados por abundantes rastos de sangue. 2 GComb regressaram ao aquartelamento para evacuar os feridos e os outros dois fizeram uma emboscada nocturna sem contacto com o lN.

- Operação Bisturi Negro - 14 e 15jun

A CCP 121 saiu em patrulhamento apeado, rumo Leste, flectindo para NWe depois para Norte. Em Cacoca 6E4.94 foi flagelada durante 45 minutos com armas autom,  LGFog RPG-2 e RPG-7, canh s/r por um grupo lN estimado em 80 elementos que se deslocavam na direcção Leste/Oeste. 

As NT sofreram 1 morto (guia) e 2 feridos ligeiros. Da batida efectuada verificou-se que o lN sofreu 4 mortos confirmados e elevadas baixas prováveis dada a forma como procurou reter as NT com uma segunda linha de fogo com nítida intenção de retirar mortos e feridos, o que foi confirmado por sinais de arrastamento de corpos e abundantes rastos de sangue. 

Foram referenciados elementos de tez clara e o lN utilizou esp autom G-3, metr lig  HK-21 e dilagramas. 

A CCP 121 regressou a Gadamael Porto para evacuar os feridos. Dois GComb voltaram a sair, rumo Leste flectindo depois para Norte. Montaram uma emboscada nocturna. Não houve contacto com o lN.

- Operação Diamante Preto - 17 e 18jun

A CCP 122 a 3 GComb saiu em patrulhamento. Em Cacoca 6F8.65 foi detectado um grupo lN estimado em 20 elementos ao qual foi montada uma emboscada imediata. O lN sofreu 1 morto confirmado e feridos prováveis; foi recolhida uma pá articulada, uma pica e uma granada de
LGFog RPG-2 com carga. 

Reiniciada a progressão o agrupamento foiflagelado do lado da fronteira com 3 granadas de canh sr/, sem consequências.

Foi montada uma emboscada nocturna. Não houve contacto com o lN.

- Operação Gamo Selvagem - 20 e 21jun

Em 20 foi feito um patrulhamento e montada uma emboscada, sem contacto lN.

Em 21 6h30 em Cacoca 6h5.94, a CCP 123 teve um forte contacto frontal com um grupo lN estimado em 80 elementos que na sequência do contacto se instalou em 2 posições sendo uma mais recuada. No contacto inicial as NT sofreram 2 feridos graves e 4 ligeiros, o que não impediu que se lançassem ao assalto, tendo a linha recuada do lN batido as NT com mort 60 mm com o propósito de retirar elementos mortos, feridos e respectivo material. 

O lN sofreu 5 mortos confirmados e muitos mortos e feridos prováveis e foram recolhidas 3 granadas tipo chinês. Foram referenciados elementos lN de tez clara e utilização de esp aut G-3. 

O lN retirou para Leste. A CCP 123 reiniciou a progressão em direcção ao aquartelamento para evacuar os feridos.

- Operação Cobra Ondulante - 23 e 24 jun

A CCP 121 a 3 GComb saiu de Gadamael Porto para efectuar um patrulhamento apeado. Depois de ter seguido vários rumos, em Cacoca 500.18, detectou rastos de viaturas.

Pelas 12h00foi montada uma emboscada em Cacoca 6D1.13. Foi levantada e passada uma hora de marcha, foram ouvidas vozes de elementos IN, tendo sido iniciada a imediata perseguição. Apercebeu-se da existência de um acampamento.

Pelas 13h30, em Cacoca 6D0.19 foi efectuado um golpe de mão imediato a um grupo lN estimado em 40 elementos. Conjugando fogo e movimento as NT transpuseram o que era então um quartel e montaram segurança nos próprios abrigos do lN. 

As NT não sofreram baixas e o lN teve 6 mortos confirmados e muitos mortos e feridos prováveis pelos abundantes rastos de sangue encontrados durante a batida. 

Foram apreendidas:
  • 1 metr lig Degtyarev, 
  • 1 LGFog RPG-2, 
  • 2 esp aut Kalashnikov,
  • 3 pist metr  PPSH,
  • 2 esp Mosin Nagant, 
  • 10 gran de LGFog  RPG-2, 
  • 1 gran de LGFog RPG-7, 
  • 13 tambores pist metr  PPSH,
  • 15 carregadores de esp aut  Kalashnikov, 
  • 3 gran mão ofensivas tipo chinês, 
  • 4 gran mão ofensivas M/62, 
  • 1000 munições 9 mm, 
  • 350 munições 7,62 mm "Soviet", 
  • 50 munições 7,62 mm "Soviet" m/908 e diverso equipamento e fardamento.
Foram montadas uma emboscada nocturna e em 24, uma diurna ambas sem contacto lN.

- Acção Bera - 11jul

Um agrupamento constituído por 2 GComb/CCP 123 e 2 GComb/CArt 6252/72 saiu de Gadamael Porto em patrulhamento apeado em direcção ao cruzamento de Ganturé com a finalidade de fazer o treino operacional da CArt 6252/72.

Em Cacoca 6E2.73 foi encontrado um acampamento ln com cerca de 70 abrigos e restos de ração de combate. Próximo e ao longo da estrada encontravam-se mais de 30 abrigos individuais com disposição que levava a concluir ser uma posição para emboscar a estrada.

Pelas 09H30 ao ser efectuado um reconhecimento das minas implantadas pelas NT em Cacoca 6E9.74 verificou-se que uma armadilha tinha sido accionada pelo l. No mesmo local foram detectadas e levantadas 3 minas A/P  lN e foi accionada pelas NT uma mina A/P  que provocou 1 morto (furriel) e 2 feridos ligeiros. Foram prestados os primeiros socorros e em seguida reiniciou-se a progressão rumo ao aquartelamento.

Pelas 10h15 quando atravessava a estrada Oeste/Leste foram detectadas 2 minas A/C  que foram torneadas em virtude da urgência da evacuação dos feridos e foi encontrado um cadáver em decomposição. Depois da chegada ao aquartelamento, foi feita nova saída para uma batida à zona Cacoca 6F9.75 até ao pontão do rio Sarampita e uma emboscada em Cacoca 6F1.86, ambas sem contacto.

"Ensinamentos Colhidos"

"Os bombardeamentos inimigos a Gadamael Porto em 1jun73 causaram às NT pesadas baixas no aquartelamento, face ao tiro ajustado e, julga-se, ao facto de estarem concentradas na zona do quartel duas companhias, um pelotão de artilharia e um pelotão de reconhecimento, não dispondo essa zona de valas ou abrigos para tal efectivo.

Com base no conhecimento do sucedido, uma das preocupações do novo comando COP 5, foi dispersar ao máximo as forças pelo perímetro defensivo, ocupando também toda a periferia dos reordenamentos, e estacionar dentro desse perímetro o mínimo indispensável do pessoal, mantendo em permanência em actividade operacional elevado conjunto de forças.

Assim, as flagelações a Gadamael Porto a partir de 6jun73 não causaram baixas às NT, sendo digno de referir a fortíssima flagelação de todo o dia 2Jul73 em nada inferior à do dia lJun73, que apenas causou dois feridos muito ligeiros.

Julga-se ser este o procedimento a seguir em situações futuras similares."

Levantamento de minas

O lN procurou dificultar os deslocamentos de Gadamael Porto, sobretudo para nordeste, implantando minas antipessoal e anticarro nas vias de comunicação.

Depois da operação "Dinossauro Preto" já era praticável efectuar a desminagem. Executou-se a acção Barulho, em 19ago73 na zona de Ganturé, por forças do COP 5 e de uma equipa de Sapadores do BCaç 4510/72, na qual detectaram e levantaram várias minas antipessoal e destruíram 2 minas anticarro.  [Nota: Atenta-se à actividade operacional - 2° Semestre, deste Capítulo.

Por se presumir a existência de mais minas, em 10Set, foi feita, na região de Ganturé, mais uma acção pelo COP 5 (Nota: Relatório da acção "Bandido" de 10Set73 do COP 5.). Foram constituídos 2 agrupamentos por forças de 1 GComb/CArt 6252/72, 1 GComb/CCav 8452/72 e por 1 Sec/Pel Mil 235. Transcreve-se:

 "Desenrolar da Acção"

"Pelas 14h00 os agrupamentos saíram do aquartelamento de Gadamael Porto seguindo pela estrada para Guileje. Ao cruzamento de Ganturé (Cacoca 6 FO 75) foi montada a segurança. Procedeu-se depois à picagem da estrada e bermas tendo sido detectadas e neutralizadas 14 minas antipessoal de plástico tipo PMN e detectadas e levantadas 3 minas anticarro TM-46.

Após o levantamento o Agrupamento B regressou ao Quartel e o Agrupamento A patrulhou a zona Cacoca 6 FI 85 onde montou uma emboscada. Pelas 23h00 regressou ao aquartelamento."

Flagelações a Gadamael Porto

O lN continuou a flagelar o aquartelamento mas com menores consequências para as NT. Entre outros ataques (Nota: Consulte-se as flagelações no 2.° Semestre a Gadamael Porto no "Inimigo - actividade militar" deste Capítulo.)
  • em 8nov; 
  • em 11nov, pelas 18h40, com 8 foguetões 122 mm;
  • e em 15nov. 
Desta última relata-se o "Desenrolar da acção"  [Nota: Relatório da flagelação a Gadamael Porto em 15Nov73 do COP 5 datado de l6Nov73

"Cerca das 17h00 o lN começou a flagelar o aquartelamento de Gadamael Porto com dois foguetões de cada vez, indiciando utilizar duas rampas. A flagelação durou cerca de 20 minutos e o lN disparou 15 foguetões da direcção de 80 graus cartográficos medidos a partir de aquartelamento. Os rebentamentos danificaram 3 casas ocupadas pelo pessoal da CCaç 20, as instalações do Comando da CCav 8452/72, uma caserna da CArt 6252/72 e uma antena do STM e causaram 7 feridos às NT, sendo 2 graves, 3 de menor gravidade e 2 ligeiros. Os feridos foram evacuados de "sintex" para Cacine.

Mais uma vez a população invadiu o edifício das transmissões e da enfermaria, abrigo onde aliás muitas mulheres e crianças se mantêm desde o dia 8nov73."

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 334-340. (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos, pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
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Notas do editor:


(***) Vd. poste de 1 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16152: FAP (95): de Gadamael a Kandiafara… sem passaporte nem guia de marcha (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23139: Notas de leitura (1434): "O Silvo da Granada, Memórias da Guiné", por José Maria Martins da Costa; Chiado Books, Agosto de 2021 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Março de 2022:

Queridos amigos,
O Martins já passou praticamente um ano em Guileje, as flagelações são rotina, um dia estourou uma granada de canhão em cima do abrigo do Pel Caç Nat 51, foi o cabo dos trabalhos; continuam as incursões etnográficas, ele é bom observador; regista o desaparecimento de quartéis à volta, Gandembel, Mejo, Sangonhá, Cameconde, Guileje está cada vez mais exposto na sua posição solitária, prosseguem as colunas de reabastecimento; assiste, atónito, a mais uma aparição de Spínola que vai muito efusivamente conversar com um furriel de nome sonoro, ligado a famílias da banca, coisa curiosa desaparece de Guileje passado quinze dias, todos se indignaram com o escândalo, o descarado favorecimento. "O capitão anda furioso; até já desabafou publicamente a indignação." Estamos em meados de 1969.

Um abraço do
Mário



Uma invulgaridade da literatura da Guerra da Guiné (3):
O Silvo da Granada, por José Maria Martins da Costa


Mário Beja Santos

Uma surpresa, e com aspetos bem curiosos, este "O Silvo da Granada, Memórias da Guiné", por José Maria Martins da Costa, Chiado Books, agosto de 2021. O leitor é colhido por uma prosa onde primam citações de clássicos, a começar pelo latim, tudo passa a ser entendível quando se lê o currículo que o autor apresenta: 

“Natural de Roriz, concelho de Santo Tirso, aí frequentei a escola primária, finda a qual entrei no seminário, mais precisamente no mosteiro da Ordem Beneditina. Saí no sétimo ano, talvez para voltar daí a trezentos anos como o monge de Bernardes. Como trezentos anos demoram a passar, para não estar ocioso entretive-me a tirar o curso de Filosofia na Universidade do Porto, e ainda o de Latim, Grego e Português, e respetivas literaturas, na Universidade de Coimbra. Entretanto, assentei praça no Exército, indo para a Guiné como combatente da Guerra do Ultramar e assentei arraiais civis no Porto, onde casei, fui professor e jornalista. Nesta cidade, tenho levado vida plácida e remansosa, dentro dos parâmetros da Aurea Mediocritas de Horácio. Por falar em Horácio, ia-me esquecendo de dizer que publiquei há anos um livro de poemas intitulado Libellus, palavra latina que tanto pode significar pequeno livro como libelo acusatório. Fora das partes líricas, acusava realmente e castigava alguns dos costumes e vícios da sociedade contemporânea. Queria endireitar o mundo. Mas o mundo ignorou o livro e continuou cada vez mais torto”.

Já estamos em 1969, o aquartelamento de Gandembel foi extinto, a unidade militar transferida para Aldeia Formosa, Martins rememora o calvário das colunas, o Inferno dos primeiros tempos de Gandembel, os rebentamentos de minas, as emboscadas, as flagelações em cadeia. As tropas paraquedistas ainda tentaram descomprimir a pressão, havia um compasso de espera e os guerrilheiros voltavam. Os de Gandembel partiram discretamente, vieram os do PAIGC metralhar um despovoado aquartelamento. Também Mejo acabou em 28 de janeiro. “Tropas, camiões, armas ligeiras e pesadas, tudo, ou a maior parte, recolhido a Guileje, que contra agora mais um pelotão de nativos; já tinha o 51, veio de lá o 67. Igual destino já tivera Sangonhá (29 de julho) e também Cacoca, dois aquartelamentos entre Cacine e Gadamael”. E aproveita para contar a história umas filmagens feitas por suecos, um ataque contra o pequeno aquartelamento de Ganturé, os suecos exigiram filmagens à luz do dia, veio a força aérea e vindimou-os do alto, despejou bombas sob toda a região de Sangonhá, não foi pequena a carnificina.

Relata mudanças no seu pelotão, há gente a entrar e a sair em Guileje, o novo comandante de Companhia é um tenente dos Comandos, exibe garbosamente camisola branca, justa, de meia manga, botas a brilhar, o semblante austero. Houvera um período de pouca frequência nas flagelações, agora recrudesceram, um alferes e um furriel, a trabalharem no obus, foram ceifados por uma canhonada vinda da Guiné Conacri. Fazem-se patrulhas até às margens do Cantanhês, encontram-se umas pirogas. O novo comandante de Companhia parece não gostar do Martins e das suas estadias na tabanca. Cecília Supico Pinto visita Guileje, Martins parte para Bissau, está cada vez mais pitosga, precisa de novas lentes, e conta-nos que tentou no exame oftalmológico fazer-se bem cegueta, a pantominice saiu-lhe caro, foi passado ao contingente geral, “punido por razões de que não quer falar” e dá-nos conta do que foi a sua estadia em Tavira, ali encontrou um antigo colega de seminário que quis desertar e tudo lhe correu mal.

A sua afeição com a gente da tabanca parece inquebrantável, fala-nos amiúde de Suleimane, de Dadanda, de Cumba, Ádama, da criancinha Mauro, compra-lhes presentes no mercado de Bandim e volta de barco até Gadamael. E não deixa de tecer um comentário: “Dos abrigos de Gadamael salta à vista a pouca robustez – uns perfeitos cardenhos. Mas isto não é Guileje; as valas vão chegando para as encomendas. Demais, é vezo dos guerrilheiros errar o tiro, indo as mais das granadas explodir no rio, assustando as ostras. No rio se banha ou chafurda sem temor a tropa, confiada nos hábitos de morcegos dos guerrilheiros, que só se atrevem ao lusco-fusco”. E regressa a Guileje, dá-nos conta das suas observações etnográficas, metido no posto de rádio, alguém diz diga se recebeu, escuto, a resposta sai breve, correto, afirmativo, começara uma nova flagelação, dá-se dois saltos para a boca do alçapão, era a primeira vez que um ataque apanhava o Martins no posto de rádio, uma granada de canhão sem recuo rebenta em cheio sobre as instalações do pelotão 51, foi o terror e a confusão, há que mostrar ao leitor o estado de alma, o olhar atónito, do que se está a ver: “O terrível engenho descarnou a cobertura de toneladas de terra e cimento que formam o essencial da sua estrutura e deixou-a no osso dos troncos de palmeira justapostos, que, a modo de caibros, a sustentam. Ouve um camarada contar como à explosão se seguiu o ranger o de alguns troncos, que estalaram ou partiram, ameaçando ceder. Os abrigos de Guileje perdurarão na memória dos que por aqui passaram; e, mais do que isso, merecem ficar na história dessa guerra.”

Procura entender os ritos dos Islamismo, as preces na mesquita. Refez-se a cobertura do abrigo do pelotão 51, restaurada e reforçada. ‘Cortar palmeiras, carrear os troncos, retirar os velhos e assentar os novos a poder de braço, tudo se fez em três escassos dias; trabalho, dada a pouquidão de meios, pouco menos que ciclópico. Houve ainda que encher a cratera com terra e mais terra estender-lhe por cima nova camada de cimento’. Mas ainda a camada de cimento não tinha totalmente secado e voltaram as flagelações. “Nada mudou desde que o Martins pôs pé em Guileje. A tropa não recua, também não avança, o que só favorece o inimigo, que aposta no desgaste causado pelo tempo a quem não é de cá.”

E assim se chegou a abril e depois a maio, sucedem-se as flagelações, a população continua tranquilamente a sua vida monótona, não deixando de ir cultivas o seu arroz de subsistência, ao amanhecer as viaturas carregadas de bidões vão direito ao poço aberto na brenha, a uns 2 km, operação que requer severa vigilância. Spínola volta a Guileje, assim se descreve o seu regresso:

“Negros como abutres, descrevendo círculos por largo, bem à vista o cano saliente do canhão de bordo, os três passarões assenhoreiam-se destes ares; metem respeito e não admira que os guerrilheiros mais que tudo os temam. E, enquanto dois deles vão dando voltas, agora mais fechadas, sobre Guileje, o outro ensaia a operação delicada de vir a terra; um instante imobilizado, roda agora a ganhar posição, inclina um tudo-nada o focinho, cautamente sondando o espaço em baixo onde pousar. E já vai descendo, em volto grossos rolos de pó que revoluteiam furiosamente no ar agitado do voltear estonteante da hélice. O monstro impõe a sua presença aparatosa. Ei-lo em repouso no chão espanado pela ventaneira”

O comandante de Companhia não gostou da discriminação, Spínola passou por meio da pequena multidão e deu de cara com um furriel do 67, cumprimentos efusivos. “O nome, de todo incomum, ou talvez sobrenome, é o mesmo de uma família da alta roda lisboeta ligada à banca. Coincidência ou não, o certo é que ainda não passaram quinze dias e já o furriel foi de abalada, transferido para zona menos descoberta aos golpes da implacável guerrilha.”

(continua)


Na tentativa de encontrar elementos gráficos disponíveis sobre Guileje, distintos daqueles que já possuímos (e que é um acervo de inegável valor) imergi no Google Maps e apareceu-me um documento com nome Jorge Soares, março de 2018, impressionaram-me estas imagens, e onde quer que esteja o autor peço-lhe a benevolência de aqui as reproduzir, é um dossiê muito belo, aqui fica a minha vénia em nome do blogue
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23131: Notas de leitura (1433): "O Silvo da Granada, Memórias da Guiné", por José Maria Martins da Costa; Chiado Books, Agosto de 2021 (2) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18274: Memória dos lugares (374): Gadamael, c.1967/68, ao tempo da CART 1659, 'Zorba' (Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620, Bissau, Cameconde, Cacine, Sangonhá, Cacoca, Cachil e Bolama, 1966/68)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael   > CCAÇ 1620 > c. 1967/68 > Passeio de "sintex". (Ao tempo ainda não havia o "cais de Gadamael" onde, em 1973, descarregava o batelão BM3, que abastecia Gadamaele  Guileje... Recorde-se que o rio que banhava Gadamael Porto era o Sapo, afluente do Rio Cacine


Foto nº 1 A > Guiné > Região de Tombali > Gadamael  > CCAÇ 1620 > c. 1967/68 > Passeio de sintex. Pormenor. da esquerda para a direita, "eu, o fur at inf da minha companhia, de apelido Viegas,  que está a remar, mais dois militares da minha companhia, de que não me lembro o nome, e  sentado à popa, de bigode, o   2º sargento que respondia pela CART 1659, que estava em Gadamael. Íamos de Sangonhá a Gamadael, em coluna auto. Eu era furriel mecânico auto. Este é um momento de descontração, no rio [Sapo} que  banhava Gadamael... A estrada na altura era transitável de Cacine a Guileje, passando por Cameconde, Cacoca e Sangonhá. De Mejo para Buba é que não... A minha companhia esteve de agosto de 1967 a março de 1968 em Sangonhá, com um pelotão destacado em Cacoca, e que era rendido ao fim de um mês. Em Cacoca ocupávamos as instalações de um comerciante branco, oriundo da região de Aveiro, que se chamava Tonecas. Com a guerra, ele  abandonou Cacoca, e ficou só com o estabelecimento de Cacine. Conheci-o em Cacine. Negociava produtos (frutas, coconote, etc.) com tipos da Guiné-Conacri que iam lá de barco, e tinham salvo-condutos passados pela NT, eram também 'agentes duplos' que davam informações sobre o que se passava do lá da fronteira. Em Cacoca também havia intercâmbios deste género , os tipos da Guiné-Conacri iam lá visitar os parentes e vender e comprar produtos".

Foto (e legenda): © Manuel Cibrão Guimarães (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Mapa de Cacoca (1960) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Sangonhá, nas proximidades da fronteira com a Guiné-Conacri, tendo a norte Gadamael e Ganturé, e a sul Cacoca e Cameconde  (e a sudoeste Cacine, vd. mapa de Cacine e mapa geral da província)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)




[Foto à direita: Manuel Cibrão Guimarães:
natural de Avintes, V. N. Gaia, vive em Rio Tinto, Gondomar]

1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do
álbum do nosso grã-tabanqueiro nº 766, Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, mec auto, da CCAÇ 1620 (Bissau, Cameconde, Cacine, Sangonhá, Cacoca, Cachil e Bolama, 1966/68). (*)

Antes de ir para o Cachil (em março de 1968, e onde esteve até 1/7/1968), a CCAÇ 1620 tinha assumido, em 5 de janeiro de 1967, a responsabilidade do subsetor de Cameconde, rendendo, por troca, a CCAÇ 799 (Cacine e Cameconde, 1965/67), e passando a integrar o dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 e depois do BART 1896. É nessa altura que a CCAÇ 1620 tem um pelotão destacado em Cacine.

Em 1 de agosto de 1967, por rotação com a CART 1692, assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá, com um pelotão destacado em Cacoca, mantendo-se no mesmo sector do BART 1896.

A foto que publicamos hoje, tirada em Gadamael, é do tempo em que a CCAÇ 1620 esteve em Sagonhá (agosto de  1967 / março de 1968). O Manuel Cibrão Guimarães passou, portanto,  sensivelmente o mesmo tempo (7 meses) erm dois sítios do regulado de Cacine: em Cacine e em Sangonhá.


22 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18238: Tabanca Grande (457): Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620 (Cameconde, Sangonhá, Cachil, Cacine, Cacoca, Gadamael, 1966/68)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 766.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18125: Tabanca Grande (455): José Parente Dacosta, ou 'José Jacinto', ex-1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonha e Guileje, 1965/67)... Natural da Covilhã, vive em Dijon, França... Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 764.


Foto nº 1 > O jovem militar José Parente Dacosta


Foto nº 2 >  Guiné > Região de Tombali > Sangonhá  > CCAÇ 1477 (1965/67) > O Dacosta (ou "Jacinto") junto ao monumento da CART 640 ("Quartel ocupado e construído pela CART 640, desde 21/5/1964. [CART] 640 / RAP2. [Há uma outra foto, no nosso blogue, com um monumento semelhante, mas de Cacoca, "quartel ocupado e construído desde 24/6/1964 pela CART 640").


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá  > CCAÇ 1477 (1965/67) > c. 1966 > "Benvindos a Sangonhá"


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 9 de junho de 1966 > "A nossa equipa de transmissões a plantar hortaliça para fazermos sopa. A água da duche era recuperada para regar. O chuveiro é o barril que podemos ver na foto com uma lata cheia de furos pendurada no barril para fazer de chuveiro. Assim íamos passando esses longos dias naquele quartel no meio do mato. Os tempos da nossa mocidade perdida."


Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 24 de outubro de 1966 > Uma autometralhadora Daimler, ME-79-09.


Foto nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > 25 de janeiro de 1967 > Um grupo de militares, onde  está o nosso camarada José Pereira Dacosta, "Jacinto". A foto deve ser da autoria de outro camarada desta companhia, o Manuel de Sousa Correia Correia (,natural de Viana do Castelo, vive no Seixal).



Foto nº 7 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > O José Parente Dacosta com o Manuel de Sousa Correia [?]-


Foto nº 8 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > 5 de março de 1967


Foto nº 9 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) > Quartel de Guileje > 15 de maio de 1967.


Foto nº 10 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 1477 (1965/67) >  15 de maio de 1967 > Tabanca de Guileje onde vivia a população. Há um militar, ao centro, que parece ser um graduado (furriel ou alferes)...


Foto nº 11 > VIII Almoço convívio da CCAÇ 1477 em Tomar, em  5 de Agosto 2017: "a comemorar com familiares e amigos 50 anos de regresso a Portugal,  vindos da nossa antiga Província da Guiné Portuguesa".

Fotos (e legendas): © José Parente Dacosta (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em 18 do corrente, o José Parente Dacosta e Tabanca Grande celebraram 6 anos de amizade no Facebook!

Dois comentários a propósito do evento:

Tabanca Grande Luís Graça:

Um abraço festivo do editor, Luís Graça. Mas, camarada Dacosta, não vejo o teu nome na lista dos762 membros da Tabanca Grande, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné... De qualquer modo, obrigado por seres amigo do Facebook da Tabanca Grande... Bom ano de 2018.

José Parente Dacosta:

Amigo,  jà faz 6 anos que faço parte do grupo (Tabanca Grande Luis Graça),  se o meu nome não figura na lista,  eu não tenho culpa...  Eu era 1° Cabo Operador Cripto da Companhia de Caçadores 1477, Guiné, Guileje, 1965/67... Guileje que  também tinha o nome  de "o corredor da morte"... Grande abraço e Feliz Natal.



A CCAÇ 1477 esteve seis meses e 20 dias em Guileje, de 3/12/1966 a 28/05/1967.

Infogravura: Carlos Guedes / Nuno Rubim / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


2. Comentário do editor Luís Graça:

Caro Dacosta, ou melhor Zé Jacinto (como és conhecido entre os amigos e antigos camaradas):

Tens e não tens razão. Há o Facebook da Tabanca Grande Luís Graça (desde janeiro de 2011, se não erro) e o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (desde 23 de abril de 2004). A Tabanca Grande Luís Graça, página do Facebook, tem mais de 2600 amigos. O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné tem 763 membros registados...

Tu és amigo do nosso Facebook, desde 18 de dezembro de 2011. Mas, por lapso teu e nosso, ainda não consta da lista alfabética, de A a Z, dos amigos e camaradas da Guiné que estão registados no Blogue... Vejo que és mais facebook...eiro do que blogueiro. Mas não faz mal. Vamos corrigir hoje o lapso e colocar-te sob o nosso poilão. no lugar nº 764. Passas a ser grã-tabanqueiro, de facto e de direito. E o teu nome passa a constar da lista alfabética da Tabanca Grande, na letra J, visível permanentemente na coluna do lado esquerdo. 

Os editores do blogue só precisam, entretanto, que nos arranges uma foto tua atual, tipo passe, e que lhes envies o teu endereço de email, para futuros contactos.

Sobre a Guiné, Sangonhá e Guileje, falam as tuas fotos e legendas, que eu fui recuperar da tua página do Facebook. Num próximo poste publico mais algumas. E tu próprio podes contactar-nos diretamente através dos seguintes emails:

Toda a correspondência para o nosso blogue (e Tabanca Grande) deve ser enviada para um ou mais dos seguintes endereços de e-mail dos nossos editores:

(i) Luís Graça:

luis.graca.prof@gmail.com ou luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

(ii) Carlos Vinhal:

carlos.vinhal@gmail.com

(iii) Eduardo Magalhães Ribeiro:

magalhaesribeiro04@gmail.com

Para os camaradas que querem saber mais sobre ti, aqui vai:

(i) o José Parente Dacosta. também conhecido por José Jacinto, trabalhou na empresa Automobiles Peugeot de agosto de 1969 a setembro de 2000; 

(ii) vive em Dijon, França; 

(iii) é natural da Covilhã, onde nasceu em 11 de setembro de 1943;

(iv)  tem página no Facebook;

(vi) esteve na Guiné, em Sangonhá e em Guileje, de 1965 a 1967. Em Sanginhá, em 1965/66 e Guileje, em 1967 (e da qual " infelizmente não tenho boas recordações", diz ele).

Só um pequeno reparo: Zé Jacinto, o quartel de Guileje não foi destruído pelo inimigo, foi abandonado em 22/5/1973, pelas NT, ocupado por escassas horas em 25/5/1973, portanto, três dias depois,  por 'Nino' Vieira e os seus homens, e  mais tarde destruído pela nossa Força Aérea.

Sê bem vindo à Tabanca Grande, ou seja, à comunidade constituída pelos membros formalmente registados no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné [https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/].

Temos algumas regras de "conívio", uma das quais é o tratamento por tu, como camaradas de armas que fomos (e continuamos a ser). As 10 regras fundamentais podem ser lidas aqui.
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Nota do editor: