Os BVB tinham a sede na Rua Gov Sequeira
Não sabemos ao certo qual era avenida ou rua...
Em segundo plano, do lado direito a um dos imponentes "sobrados" da cidade
Onde ficava também o mercado municipal...
Guiné > Bolama > 1938 > Imagens da cidade, que foi capital da colónia até 1941
Jornal-programa (sic) editado pelo "Sport Lisboa e Bolama", novembro de 1938. Composto e impresso pela Imprensa Nacional da Guiné, Bolama. Nº de páginas: 12 (doze).Visado pela Comissão de Censura,
1. Já fizemos referência ao jornal do Sport Lisboa e Bolama (**), com data de novembro de 1938. Foi feita na altura uma edição única, com o propósito de comemorar o 5.º aniversário do fundação do clube, em Bolama, em novembro de 1933.
Pelo cabeçalho que acima se repoduz, vê-se que era uma filial do Sport Lisboa e Benfica (fundado, por sua vez, em 28 de fevereiro de 1904). (Com a transferência, em 1943, da capital de Bolama para Bissau, irá nascer o Sport Bissau e Benfica, em 27 de maio de este1944, sendo este a vigésima nona filial do Sport Lisboa e Benfica.)
Mas a nós interessa-nos agora ter uma ideia da toponímia da cidade bem como do comércio local existente em meados dos anos 30.
Croquis de Bolama que o António Estácio (Bissau, 1947-Algueirão, Sintram 2022) conheceu nos anos 1950 por lá ter morado com os pais, e lá ter feito a instrução primária. Este croquis permite-nos reconstituir a malha urbana, identificando avenidas, ruas e edifícios (adminstração pública, comércio e habitaçáo). A cidade. já em decadência, com a transferência da capital para Bissau, em 1943, era organizada numa malha ortogonal com dois grandes eixos de avenidas, e com ruas que se cruzavam dividindo-a em quatro setores. Vários pontos de referência são sinalizados: a ponte-cais, a câmara municipal, a alfândega, os bombeiros, o Sport Lisboa e Bolam, o BNU, a praça Infante Domn Henrique, a estátua de Ulysses Grant, o Mercado, a Casa Gouveia, etc.
Fonte: Estácio (2012) (*)
Nada como selecionar e analisar as fotos (mesmo de fraca qualidade) da cidade e os anúncios que vêm inseridos nesta edição única. Uma coisa que salta à vista, pelo conjunto de anúnciios, que reproduzimos abaixo, é a ausência da Casa Brandão, de Manuel de Pinho Brandão.
Ora, ele na época já era um comerciante conhecido, e dono de um dos principais "sobrados" de Bolama, edifício que dava nas vistas. Em 1935 ele morava em Bolama, e devia ter já perto dos 45 anos de idade.
Segundo uma fonte que nos acaba de chcgar às mãos (por intermédio do nosso camarada Manuel Barros Castro, ex-fur mil enf, CCAÇ 414, que esteve em Catió, quase um ano antes da Op Tridente, entre abril de 1963 e fevereiro de 1964, e conheceu o velho Brandão), este terá chegado à Guiné em finais da década de 1910. Em 1963 teria já 71 anos, pelas nossas contas.
Não sabemos ao certo quando, na década de 1930, se mudou para a zona de Catió, e se tornou um dos grandes agricultores da região de Tombali. No final da década de 1950 produzia duas mil toneladas de arroz e tinha um efetivo de 50 trabalhadores (fora os sazonais). Mais: já dispunha de tractores e máquinas agrícolasm sem nunca ter deixado também de ser comerciante, como se vê por este documento de 1934.
Guiné > Bolama > Direcção dos Serviços e Negócios Indígenas > Nota de dívida ao comerciante Manuel de Pinho Brandão, pelo "fornecimento de uma secretária americana e de uma cadeira", no valor de 3300 escudos, valor que foi liquidado em 11 de junho de 1934.
Portal Casa Comum | Fundação Mário Soares | Instituição: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Bissau | Pasta: 10427.126 | Assunto: Nota de dívida da Direcção dos Serviços e Negócios Indígenas à empresa Manoel de Pinho Brandão, pelo fornecimento de mobiliário de escritório. | Data: Terça, 29 de Maio de 1934 | Fundo: C1.6 - Secretaria dos Negócios Indígenas | Tipo Documental: DocumentosPágina(s): 1
Citação:
(1934), Sem Título, Fundação Mário Soares / C1.6 - Secretaria dos Negócios Indígenas, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=10427.126 (2024-9-1)
2. Podemos admitir que o Manuel de Pinho Brandão fosse forreta e não quisesse gastar patacão em publicidade... Por outro lado, podia não ser benquista e não querer, portanto, contribuir para a festa do clube local. Mas, o mais provável, era já não viver na cidade, em finais de 1938.
De entre os comerciantes e industriais que patrocionaram a edição (única) do jornal "Sport Lisboa e Bolama" , o destaque vai para alguns nossos conhecidos como Fausto [da Silva] Teixeira ("Serração Eléctro-Mecânica") e Júlio Lopes Pereira (representante na Guiné da máquina de escrever Royal).
Recorde-se que o Fausto Teixeira foi um dos primeiros militantes comunistas [segundo reivindicação do PCP] a ser deportado para a Guiné, logo em 1925, com 25 anos, ainda no tempo da I República.
Era dono, em novembro de 1938, segundo o anúncio que abaixo se reproduz, de "a mais apetrechada de todas as Serrações existente nesta Colónia". E o anúncio acrescenta: "Em 'stock' sempre as mais raras madeiras. Preços especiais a revendedores. Agentes em Bolama, Bissau e nos principais centros comerciais da Guiné"...
Na altura a sede ou o estabelecimento principal era no Xitole... Foi expandindo a sua rede de serrações pelo território: Fá Mandinga, Bafatá, Banjara... Era exportador de madeiras tropicais, colono próspero e figura respeitável na colónia em 1947, um dos primeiros a ter telefone em Bafatá, amigo de Amílcar Cabral, tendo inclusive ajudado o Luís Cabral a fugir para o Senegal, em 1960... Naturalmente, sempre vigiado pela PIDE
Há outros nomes das empresas que patrocinaram o 5.º aniversário do Sport Lisboa e Bolama, como o libanês João Saad, a casa Guedes, a casa Machado, a casa Antunes, a "Competidora", de António de Almeida, o Lourenço Marques Duarte, o José Lopes, o Cipriamo José Jacinto, o João Alves da Silva, etc.
Outras firmas comerciais, por sua vez, não estão aqui representadas como o BNU, a Casa Gouveia (a "poderosa empresa de António da Silva Gouveia"), o António dos Santos Teixeira ("rico e respeitado comerciante guineense"), o Manuel Simões Marcelino, a casa Pintosinho (como era mais conhecido o português Ernesto Gonçaves de Carvalho"), o guineense Carlos Domingos Gomes ("Cadogo Pai"). (**)
Em suma, não atribuímos particular significado à ausência da Casa Brandão nesta amostra de anúncios comerciais.
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Notas do editor:
Vd. também poste de 25 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23200: 18º aniversário do nosso blogue (5): Roteiro da nossa saudosa Bolama (Antonio Júlio Emerenciano Estácio, luso-guineense, nascido em 1947, e escritor)
(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20152: Jorge Araújo: memórias de Bolama: a imprensa e o comércio locais há oito décadas atrás.