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segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P25000: Notas de leitura (1652): Notas do diário de um franciscano no pós-Independência da Guiné-Bissau (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Julho de 2022:

Queridos amigos,
É uma revelação, um diário elaborado por um missionário franciscano ligado sobretudo à educação. Veja-se a solução que ele encontrou para uma prova de exame, naquela alvorada do pós-Independência, um verdadeiro achado aquelas diretivas da democracia revolucionária. Questiono muitas vezes estes documentos que tendencialmente ficaram no anonimato, e que hoje seriam contributos do maior interesse. Tirando o acervo de Amílcar Cabral e alguns esparsos deste ou daquele dirigente, caso de Filinto Barros ou Delfim Silva, é confrangedor o silêncio daqueles líderes que fizeram luta. Lembro-me de uma conversa havida com Filinto Barros, Delfim Silva, Chico Bá, no final de novembro de 2010, falava-se então com alguma expetativa do diário de Chico Mendes (Chico Té), tanto quanto se sabe não conheceu a luz do dia. Será um embaraço para os historiadores, no futuro, ter de lidar com este vazio, o tempo é implacável e os mortos não falam.

Um abraço do
Mário


Notas do diário de um franciscano no pós-Independência da Guiné-Bissau (1)

Mário Beja Santos

Na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa chamaram-me à atenção para o número mais recente da revista Itinerarium, o n.º 227, referente ao semestre de janeiro a junho de 2020, a Itinerarium é a revista semestral de cultura publicada pelos franciscanos em Portugal. Ali aparece um artigo com páginas do diário de Frei Francisco de Macedo (1924-2006) que foi missionário na Guiné entre 1951 e 1997. O diário inclui os apontamentos do religioso sobre os primeiros anos da Independência, a matéria versada relaciona-se com a educação e as missões.

Frei Macedo começa por uma referência ao 24 de setembro de 1973, data da independência unilateral da Guiné-Bissau, com reconhecimento imediato por 80 países. E escreve quanto ao 25 de Abril: 

“Pouco depois da Revolução, a Guiné e Portugal entraram imediatamente num acordo de cessar-fogo e iniciaram as negociações para reconhecimento de jure da independência da Guiné-Bissau.”

Escreve que em 6 de setembro ele e o padre José Afonso Lopes, que estavam em férias em Portugal, regressaram a Guiné, ele continuou como reitor do liceu, o padre Afonso como diretor das Escolas das Missões de Bissau. No dia seguinte anota: 

“Vasco Cabral, ministro da Economia e Finanças, realizou um encontro com os comerciantes na Associação Comercial. Afirmou que tudo continuava na mesma: o sistema monetário, as transações, os câmbios. Reconheceu que a nova República era impotente para assumir a responsabilidade de todos os quadros. Pediu que todos os europeus continuassem, pois precisavam da colaboração em especial técnica e cultural.”

A datação dos acontecimentos prossegue, 10 de setembro é o reconhecimento por Portugal do novo Estado independente, 2 dias depois a transferência de poderes que se realizou gradualmente pelo interior do país, em que os quadros da administração portuguesa eram substituídos pelos quadros do PAIGC. Escreveu em 16 de setembro o teor da reunião havida com os responsáveis da Educação, Mário Cabral, Lilica Boal, Domingos Brito dos Santos, com os professores do ensino secundário, já se tinha realizado a 14 a reunião com os professores do ensino primário.

Mário Cabral reconheceu as inúmeras dificuldades, especialmente para preencher os quadros dos professores. Falou na necessidade de descongestionar Bissau, criando escolas do Ciclo e Liceus, sobretudo em Canchungo e Bafatá. 

“No liceu, no próximo ano, os livros e os programas continuarão mais ou menos, apenas com ligeiras alterações nas disciplinas de História e Geografia, em que ocuparão lugar de relevo a Guiné-Bissau e a África com todos os seus povos. Haverá adaptações da gramática portuguesa. Na instrução primária serão já adotados os livros editados pelo Partido. Na impossibilidade de terem já uma universidade, os alunos candidatos a cursos superiores irão para as nações que oferecem bolsas de estudo.”

Digno de nota é o que ele vai escrever a 16 de setembro, quando se iniciaram os exames da 2ª época, foi Frei Macedo quem elaborou a prova de Português do curso geral, vai servir-se de um texto extraído das Palavras de Ordem, de Amílcar Cabral:

“Diretivas da democracia revolucionária

Cada responsável deve assumir com coragem as suas responsabilidades, deve exigir dos outros o respeito pela sua atividade e deve respeitar a atividade dos outros. Não esconder nada às massas populares, não mentir, combater a mentira, não disfarçar as dificuldades, os erros e insucessos, não acreditar em vitórias fáceis nem nas aparências. A democracia revolucionária exige que devamos combater o oportunismo, a tolerância diante dos erros, as desculpas sem fundamento, as amizades a camaradagem com base em interesses contrários aos do Partido e do povo, a mania de que um ou outros responsável é insubstituível no seu posto. Praticar e defender a verdade, sempre a verdade diante dos militantes, dos responsáveis, do povo, sejam quais forem as dificuldades que o conhecimento da verdade possa criar. A democracia revolucionária exige que o militante não tenha medo do responsável, que o responsável não tenha receio do militante nem medo das massas populares. Exige que o responsável viva no meio do povo, à frente do povo e atrás do povo, que trabalhe para o Partido ao serviço do povo.

I Depois de ter lido com atenção o texto do camarada Amílcar Cabral, onde se estabelecem as diretivas do princípio da democracia revolucionária, procure responder às perguntas seguintes […]

Redação

Como sabe, a República da Guiné-Bissau é o mais jovem país africano. Servindo-se dos conhecimentos que tiver sobre esta jovem nação e sobre o grande herói pela sua independência, o camarada Amílcar Cabral, redija uma pequena composição.

Observação. Este ponto foi muito simples e foi elaborado um tanto à margem do programa, que era igual ao de Portugal, mas adaptado ao momento histórico que se vivia na República da Guiné-Bissau.”


Em 20 de setembro tem lugar uma reunião no gabinete do secretário de Estado da Educação e Cultura, preside Mário Cabral e estão presentes os principais responsáveis dos missionários que têm trabalhado na Guiné, caso de Monsenhor Amândio Neto, padre Ermano Battisti, padre Settimio Ferrazzeta, padre Afonso José Lopes e padre Francisco Macedo, ainda está presente o pastor dos Adventistas, Francisco Caetano. Mário Cabral elogia o trabalho dos missionários, realçando o seu valor no campo da educação. Ele próprio fez a sua instrução primária nas Escolas das Missões de Bissau, Dona Berta Craveiro Lopes. Pede a colaboração dos missionários no campo do ensino. 

“Todo o ensino seria oficializado e todos os professores seriam nomeados por eles. O seu Estado era um Estado laico, com plena liberdade religiosa. Referiu-se ao problema das escolas islâmicas, dizendo que o seu governo pensava criar mais tarde um instituto islâmico.”

Talvez valha a pena trazer aqui à consideração do leitor um artigo publicado no nosso blogue envolvendo outro missionário, veja-se o post “Guiné 61/74 - P21595: (De)Caras (166): Frei José Marques Henriques, da Ordem dos Frades Menores, 44 anos de vida sacerdotal na Guiné-Bissau, antes e depois da independência, como capelão militar e missionário”.

(continua)
A trabalhar na leprosaria desde 1955, os frades franciscanos só em maio de 1969 veem o Governo da Colónia entregar-lhes oficialmente o complexo hospitalar e os terrenos adjacentes. É o Governador Pedro Cardoso que em 20 de maio de 1969 manda publicar o decreto que institui formalmente o que a Missão de Cumura é hoje:

Considerando que os Missionários Franciscanos de Veneza que vieram a esta Província para tratar da lepra no Hospital-Colónia de Cumura se adaptaram às exigências do tratamento dos leprosos, revelando muita dedicação, espírito humanitário e de sacrifício, realizando um trabalho notável sob todos os pontos de vista, devendo destacar-se os trabalhos de carácter religioso e social durante a breve permanência neste Hospital-Colónia... o Encarregado do Governo da Guiné decide: 

Que os terrenos que faziam parte da reserva do Estado a cargo da Missão contra a Tripanossomíase, com a área de 108,2 hectares, situados na região de Cumura, do posto administrativo de Prábis, sector de Bissau, confinante a norte e oeste com o Rio Péfine e a sul com o terreno agrícola e a Missão católica de Cumura, passem a constituir uma reserva parcial para o tratamento da lepra, a cargo da Missão católica de Cumura.

O Pe Settimio reconhece que esta doação significa "mais trabalho para nós, mais responsabilidade diante do Governo, a sociedade civil e a Igreja; mas finalmente ficaremos livres para pedir ajudas económicas a tanta gente de boa vontade que terá a satisfação de ver dentro de pouco tempo as barracas de pedra e palha mudadas em pavilhões e aldeias novíssimos, dignos da nossa civilização, fornecidos de água, energia elétrica, de campos de jogos, de modernas enfermarias, de nova cozinha e serviços higiénicos"
.

Liderados pelo Pe Ferrazzeta os frades lançam-se à obra:
Extraído do site da Missão da Cumura, com a devida vénia
Missão franciscana em Canchungo
____________

Nota do editor:

Último poste da série de 22 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24987: Notas de leitura (1651): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (4) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22927: Notas de leitura (1412): “África Dentro”, por Maria João Avillez; Texto Editores, 2010 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2018:

Queridos amigos,
Não nos esqueçamos que esta viagem da Maria João Avillez ocorreu num tempo de grande esperança, era Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior, deposto por uma conjura militar em 2012. A cooperação com a Gulbenkian tinha resultados manifestos, nas áreas da educação e da saúde. Nesta digressão da jornalista percorre-se uma região do Norte, perto de São Domingos, onde o projeto VIDA marca pontos no desenvolvimento comunitário, a Missão da Cumura recebe vasto apoio, o que outrora era um hospital para tratar leprosos atende hoje um cortejo inumerável de infetados pelo VIH/SIDA; havia igualmente apoio aos centros de saúde, a economia parecia crescer em paz e reconciliação. E depois, o país retrocedeu.

Um abraço do
Mário



África Dentro, por Maria João Avillez (2)

Beja Santos

“África Dentro”, por Maria João Avillez, Texto Editores, 2010, é uma avaliação em jeito de reportagem da intervenção da Fundação Calouste Gulbenkian nas cinco ex-colónias portuguesas de África. A Gulbenkian pretendia uma reportagem captada pelo olhar de uma jornalista. Foi isso que aconteceu. Vamos falar da Guiné-Bissau, onde a Gulbenkian privilegia dois polos de cooperação, na educação e na saúde.

Visitados os projetos de educação, a jornalista dirige-se agora para a área da saúde, atravessa o rio Mansoa, depois o Cacheu, vai ao encontro da VIDA, uma ONG que se instalou no Norte da Guiné, na região de São Domingos. Na génese, integravam um movimento católico “Comunhão e Libertação”, visam o desenvolvimento comunitário, contribuíram para a criação de uma unidade de saúde base, cooperam com sete centros de saúde da região, capacitam agentes de saúde de base e as matronas (parteiras tradicionais). A participação das populações é determinante para que estas estruturas comunitárias sejam vigorosas e perdurem. E temos exemplos concretos: “As Casas das Mães, criadas para dar apoio às grávidas e garantia de condições de parto seguro e limpo, construídas e geridas pelas próprias mulheres; ou os modelos de autogestão da saúde, com preços de medicamentos e consultas decididos em plenário da comunidade; ou ainda os sistemas de seguros comunitários de saúde e a autossuficiência a nível de gestão dos programas de tendas mosquiteiras. Também o Centro de Saúde Materno-Infantil de São Domingos, o único no país com gestão comunitária, que nasceu como evolução da experiência positiva das Casas das Mães”. Também o projeto VIDA aparece ligado a outro projeto: “Jirijipe – Saúde até à Tabanca”, com objetivos precisos: melhoria de acesso a cuidados de saúde materno-infantil; intervenções com impacto na situação da saúde, e aqui há preocupações com as infeções sexualmente transmissíveis e o VIH/SIDA; desenvolvimento do sistema comunitário de saúde. É uma experiência modelar, e alguém comenta: “Esta região sanitária, ao nível da saúde comunitária, é do melhor que existe na Guiné, graças à VIDA! Há medicamentos, há vacinação, há formação, há melhor atendimento e até passou a haver a impregnação da rede mosquiteira!”

Instituição de grande prestígio é a Missão Católica Franciscana de Cumura, foi criada em 1955 por três franciscanos italianos, um deles Frei Settimio Ferrazzetta será nomeado o primeiro Bispo de Bissau. A jornalista conversa com Frei Victor Manuel Henriques, membro efetivo da Província Portuguesa da Ordem Franciscana, formado em Medicina, dirigia o hospital da Missão: “Estou aqui a trabalhar como médico, dando atendimento aos doentes pobres que chegam diariamente. Muitos padecem de lepra, tuberculose e HIV/SIDA e neste momento temos muitos deles justamente com HIV/SIDA, afetados pela tuberculose. Este hospital nasceu inicialmente para atender os doentes de lepra, mas hoje a verdadeira lepra é a infeção HIV/SIDA”. A jornalista recorda as profundas carências do país: mais de metade da população não tem acesso a água potável nem a medicamentos, e apenas 40% recebe algo de parecido com cuidados de saúde. Frei Victor Manuel Henriques faz pedidos à Gulbenkian e é compensado: um eletrocardiógrafo; um monitor de sinais vitais e outro tipo DINAMAP; um desfibrilhador. A Gulbenkian subsidiou um equipamento de radiologia, na altura havia também a promessa de um aparelho de gasometria, para tratamento e diagnóstico dos doentes de tuberculose.

E indaga-se o que é a política de saúde na Guiné-Bissau. Ao tempo, a prioridade era dar cumprimento ao Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário 2008-2017. O financiamento é escassíssimo, havia menos de seis dólares per capita por ano. O Secretário de Estado da Saúde reconhecia a ajuda da Gulbenkian, pelo que tinham feito na criação do Centro de Medicina Tropical e teceu os seguintes comentários: “A Gulbenkian intervinha não só na formação como também na parte dos recursos humanos, associada à criação de condições de trabalho nos hospitais. Foram épocas brilhantes de cooperação porque foram absolutamente decisivas para o país. Basta pensar na luta contra a oncocercose – vulgarmente conhecida como a cegueira dos rios – um programa que conheceu enorme sucesso. Hoje, já ninguém tem oncocercose no país. Foi também através da Gulbenkian que aqui se criou o melhor centro de oftalmologia da Guiné-Bissau e de toda a África Ocidental. A Gulbenkian cofinanciou três centros de saúde em Bissau”. E começa uma visita guiada aos centros de saúde, têm diversos modelos, são de três tipos: o básico, dispõe de todos os serviços de prestação de cuidados primários (consulta pré-natal, pediatria, tratamentos, sala de partos e também quatro camas para observação, é uma estrutura que cobre uma população que oscila entre os 7 e os 12 mil habitantes do setor autónomo de Bissau; o segundo tipo destina-se a uma população maior, está mais bem apetrechado, possuindo médico, laboratório, uma unidade de internamento com 20 ou 30 camas e serviço de obstetrícia; o outro modelo destina-se a zonas mais isoladas ou de difícil acesso, estão igualmente munidos de 20 ou 30 camas para internamento, possuem bloco operatório para cirurgia geral e obstetrícia de emergência e ainda um banco de sangue. As dificuldades são muitas, alguém comenta: “Temos de lutar para manter a corrente elétrica para a conservação de vacinas porque temos três geleiras onde elas estão acondicionadas. À noite, também é sempre mais complicado, a maior parte dos partos é de noite que ocorrem, tem de se transferir as parturientes para outra parte do edifício devido à falta de energia”.

A jornalista encontra o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior cheio de otimismo: “Na minha anterior governação, consegui trazer para a Guiné 30 médicos com o apoio de Fidel Castro. Chegaram aqui na altura em que o país conhecia um terrível surto de cólera. Com a ajuda deles, conseguiu-se uma cobertura sanitária eficaz e o surto foi debelado. Temos hoje uma formação de cerca de 140 médicos guineenses, pois reabriu a Faculdade de Medicina, onde clínicos cubanos se encarregam da saúde. Vão tentar criar aqui um hospital de referência. Temos grandes chagas, hospitais públicos sem quase nada lá dentro”. O então Primeiro-Ministro reconheceu existir um excelente relacionamento com a Gulbenkian e no papel determinante que esta tem no apoio às áreas da educação e da saúde.

Construção de uma cozinha e refeitório para as crianças da Missão da Cumura.
Centro materno-infantil em São Domingos.
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Notas do editor:

Vd. poste anterior de 17 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22915: Notas de leitura (1410): “África Dentro”, por Maria João Avillez; Texto Editores, 2010 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 20 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22922: Notas de leitura (1411): "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências", 2ª edição revista e acrescentada (2021), por Arsénio Chaves Puim, um caso de grande sensibilidade sociocultural e de amor às suas raízes (Luís Graça ) - Parte II

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20290: Historiografia da presença portuguesa em África (182): Dados Informativos 4, publicação da Agência Geral do Ultramar - Guiné, 1968: Os números da educação e saúde (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Dezembro de 2018:

Queridos amigos,
Estes dados são uma mera curiosidade, podem servir para quem pretenda estudar este período. O sistema educativo era de fresca data, o trabalho missionário, por natureza, não possuía a consistência que o sistema educativo público veio permitir, tanto no liceal como no técnico-profissional, acresce que a própria Agência Geral do Ultramar proporcionava bolsas de estudo para a metrópole. Onde podia haver, com legitimidade, orgulho era no setor da saúde, tanto o sistema público como a atividade missionária, pense-se na Cumura, no Asilo de Bor, no Hospital Central de Bissau, na Missão do Sono, no Combate às Tripanossomíases, nas tabancas-enfermarias, o período colonial marcou pontos na prevenção e combate às doenças tropicais mais agressivas, o Instituto de Medicina Tropical era apresentado como uma entidade de excelência.
Foi o que foi.

Um abraço do
Mário


Guiné, 1968: Os números da educação e saúde

Beja Santos

Um achado na Feira da Ladra, esta edição da Agência Geral do Ultramar, dados informativos sobre todas as províncias ultramarinas.
Retenhamos o que se escreve sobre a Guiné, logo quanto à educação e ensino:
“Na Guiné, a instrução na sua primeira fase e até meados do século XIX, esteve inteiramente confiada aos missionários, que não só catequizavam como ensinavam português.
Em 1883 havia já professores oficiais em Bolama, Bissau, Cacheu, Buba, Geba e Farim, e em 1890 foi publicado o primeiro Regulamento Escolar da Província, tornando-se o ensino primário obrigatório para as crianças de ambos os sexos, dos 7 aos 15 anos de idade. Este ensino primário incluía a leitura, escrita e gramática do português, a aritmética, a História de Portugal, a corografia e a geografia, a doutrinação cristã, elementos de agricultura e economia doméstica”.

Dá-se igualmente conta das alterações do sistema educativo na I República e na Ditadura Nacional, e assim se chega aos anos mais recentes já na década de 1960, onde se lê o seguinte:
“No ano lectivo de 1964/65 havia 123 escolas primárias, com 188 professores para 11.664 alunos, e 33 postos escolares, com 53 professores e 1376 alunos. Em 1965/66 os estabelecimentos oficiais, dispondo de 98 agentes de ensino para 3644 alunos, compreendiam 15 escolas e 22 posto escolares. As missões religiosas ensinaram em 36 escolas primárias e 52 postos escolares, com o total de 147 professores para 9800 alunos. Os números provisórios relativos a 1966/67 indicam a existência de 105 escolas primárias, com 280 professores e 12.105 alunos, e de 52 postos escolares, com 64 professores e 4900 alunos.
Os cursos nocturnos, especialmente para adultos, funcionam nas escolas de Bissau, Bolama, Bafatá, Mansoa, Bissorã, Catió, Farim, Nova Lamego, S. Domingos e Teixeira Pinto, e ainda outras. Fazendo parte do ensino primário, embora estranho ao plano oficial, há a contar (1966/67) com 276 escolas muçulmanas, com 278 professores e 4100 alunos.
Em 1958, dado o aumento da frequência do instituto de ensino liceal, foi a Guiné dotada com o Liceu Honório Barreto, em Bissau, com os três ciclos liceais. Em 1961 criou-se o Serviço Liceal Extraordinário, para adultos, em alas nocturnas. O Liceu Honório Barreto, no ano lectivo de 1966/67, teve 417 alunos, leccionados por 21 professores.
Quanto ao ensino técnico-profissional, em 1958, tinha sido instituída em Bissau uma escola técnica elementar, como um primeiro passo para a criação de estudos mais desenvolvidos. Aquela escola foi convertida, no ano seguinte, na Escola Industrial e Comercial. Em Dezembro de 1966, tinha 30 professores e 643 alunos.
Para a formação de quadros dos serviços públicos contava-se em 1966/67, com dois institutos (Correio e Telecomunicações, e Obras Públicas) com 6 professores e 26 alunos”.

Passando para a saúde e assistência, o Regulamento dos Serviços de Saúde e Assistência da Guiné, publicado em 1966, estipula a missão destes serviços: promover a defesa e proteção da saúde das populações, incluindo a prevenção e combate das doenças endémicas e epidémicas; estabelecer normas de salubridade urbana, rural, habitacional, de higiene de trabalho e das indústrias; promover o saneamento do território da Província; manter-se sempre atualizado o estudo das necessidades efetivas de assistência sanitária contra os grandes flagelos sociais e as endemias.

A rede sanitária incluía o Hospital Central de Bissau, 3 hospitais regionais, 6 hospitais rurais, 10 delegacias de saúde, 53 postos de saúde, 10 maternidades regionais nas sedes das delegacias de saúde e outras 12 maternidades rurais.
O Hospital Central de Bissau era assim apresentado:
“É um estabelecimento hospitalar e policlínico, com 356 camas, compreendendo, além dos serviços de medicina e cirurgia geral, as especialidades de pediatria, obstetrícia, oftalmologia, estomatologia, neurologia e psiquiatria, traumatologia e ortopedia, dermatologia e os serviços auxiliares de terapêutica e diagnóstico (de análises clínicas, anatomia patológica, anestesiologia, hemoterapia, radiologia, fisioterapia e dietética). Neste hospital são atendidos e tratados não só os doentes de toda a área do concelho de Bissau como também os doentes evacuados dos centros de saúde que não disponham de serviços especializados. O sempre crescente afluxo de doentes que se vem registando nas diferentes formações sanitárias determinou importantes obras de ampliação e adaptação no Hospital Central de Bissau, que conta hoje com dois blocos operatórios, uma enfermaria reservados exclusivamente a pediatria, encontrando-se em construção novos blocos de enfermarias e uma moderníssima cozinha”.

O documento da Agência Geral do Ultramar carateriza os hospitais regionais e os hospitais rurais, alude ao combate à tuberculose, às brigadas de radiorrastreio, à Missão de Combate às Tripanossomíases, bem como o combate à doença do sono.

Também se contextualiza a atividade missionária, recordando a elevação à categoria de prefeitura apostólica em abril de 1955, com sede em Bissau, compreendendo os três arciprestados de Bissau, Cumura e Bafatá, confiados, respetivamente, aos missionários franciscanos portugueses, padres franciscanos da província de Veneza e missionários do Instituto das Missões Estrangeiras de Milão. Em 1964, havia na prefeitura 22 sacerdotes, 9 irmãos auxiliares e 18 irmãs religiosas. As Irmãs, Hospitaleiras de Nossa Senhora da Conceição, trabalham no Asilo e Creche de Bor, no Hospital Central de Bissau e no Internato Feminino de Bafatá. No censo de 1960, havia cerca de 26 mil católicos e 8 mil catecúmenos.

As missões protestantes na Guiné eram Evangélicas e situavam-se em Bissau, Bissau Novo, Biombo, Bissorã, Teixeira Pinto e Orango. Também segundo o censo, os islamizados, principalmente Mandingas e Fulas, orçavam pelos 182 mil.
E escreve-se:
“Note-se que o avanço do islamismo na Guiné não se fez de uma maneira contínua, mas antes por períodos de expansão seguidos de outros de recuo. A ocupação europeia veio favorecer consideravelmente esse avanço.
A dispersão do islamismo encontra-se ligada ao sistema de confrarias (na Guiné Portuguesa, a dos Cadiriya e a dos Tidjaniya) derivadas do rito malequita. As confrarias são dirigidas por grão-mestres (cheiques), que detêm a emanação da santidade (baraca), sendo muito hierarquizadas. À volta delas gravitam os operadores de milagres, curandeiros, místicos ou iluminados (marabus) ”.


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Nota do editor

Último poste da série de 16 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20245: Historiografia da presença portuguesa em África (180): “Duas descrições seiscentistas da Guiné”, de Francisco Lemos Coelho, introdução a anotações históricas por Damião Peres, Academia Portuguesa de História, 1953 (4) (Mário Beja Santos)

domingo, 29 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16144: Ser solidário (197): Ler faz crescer - uma alegria em Cumura: texto e fotos dos nossos amigos Ana Maria Gala e João Martel















Guiné-Bissau > Cumura >  Missão da Cumura > A nova biblioteca!


1. Mensagem dos nossos amigos Ana Maria e João Martel:


Foto da página do Facebook  Um Pé na Guiné

 Data: 16 de abril de 2016 às 22:16

Assunto: Ler faz crescer - uma alegria em Cumura


Não podíamos deixar de partilhar com os amigos deste projecto "um pé na Guiné" mais esta grande alegria!

Damos graças a Deus e desejamos que uma luz única e maravilhosa se abra em cada uma destas pequenas mentes.

Agradecemos profundamente a todos os amigos e benfeitores que vão tornando isto possível.

Um abraço da Guiné!

Ana Maria e João

2. Ser solidário > Um pé na Guiné > 13 de abril de 2016 > Ler Faz Crescer!


[Um pé na Guiné: projeto criado por dois jovens profissionais portugueses, um médico, João Martel,  e uma professora do 1º e 2º  nciclos,, Ana Maria Gala,  que se propuseram a colaborar, pelo período de um ano, com a Missão de Cumura - uma missão humanitária Franciscana, na Guiné-Bissau. Cumura é uma pequena aldeia que se situa a 12 km de Bissau e que há mais de 50 anos conta com a presença Franciscana. Estes jovens, e nossos amigos, nossos grã-tabanqueiros, estão aqui deste setembro de 2015... e vão ficar  até ao próximo mês de junho, portanto mais uns dias ou mais umas semanas. O seu objetivo é(era) trabalhar para a continuidade da missão e para a formação de recursos humanos, colaborando no hospital e na escola de Cumura.  Parabéns pela obra feita e sobretudo pelo exemplo generoso e solidário. Bom regresso a casa.  LG]


Texto e fotos por  Ana Maria Gala e João Martel

– "É amanhã que libertamos aquela sala!"..,
– "Já pedi para limparem a sala",..
– "Tem de ser aquela, tem mais luz"...

Muito andávamos a conspirar para começar os trabalhos da nova biblioteca dos mais pequenos. Hesitações sobre o espaço, a disposição das estantes, a catalogação das obras, os novos bibliotecários a contratar e ensinar… Como em todos os empreendimentos, havia que começar!

Num sábado de Fevereiro pela manhã, arregaçámos as mangas, caixotes para dentro do carro, panos na mão e entrámos em acção! Uma pequena equipa de trabalho de 5 maduros fez-se ao pó e às tralhas da velha sala de professores, para fazer nascer ali um novo espaço para o conhecimento. Fazer a triagem dos materiais ali esquecidos, dar o justo destino aos livros de ponto do século passado, tirar grandes teias de aranha, arrastar as pesadas estantes,  tudo se justificava para aproveitar a boa luz daquela sala! Os professores iriam ter um novo espaço também, mais funcional e arrumado.
Desencantaram-se algumas mesinhas que os amigos de Itália tinham doado, reaproveitaram-se estantes que não estavam em uso e, praticamente a custo zero, o novo espaço começou a ganhar forma.

Para dar as boas-vindas aos nossos alunos, prontificou-se o nosso amigo “Honório Leitor” – um pequeno peixe que tinha chegado aos mares da Guiné, pela amizade de quem o enviou de Portugal, e que encontrou o seu lugar de anfitrião.

Se o Honório já tinha lugar….. era hora de inaugurar! E assim foi: no dia 31 de Março, fez-se a abertura e apresentação do espaço aos professores e alunos. A curiosidade já era muita e, ao verem a sua nova biblioteca, os sorrisos mostraram-se, com ânsia de folhear aqueles mundos desconhecidos (e houve quem o fizesse logo, não conseguindo esperar).

No fim da apresentação a cada turma e respectivos professores, muitos agradeceram a generosidade dos amigos de Portugal. Os professores salientaram a importância desta doação para os alunos de Cumura, dado que as crianças e jovens na Guiné têm muito pouco acesso a livros, no geral, e particularmente a literatura adaptada à sua idade.

O funcionamento da biblioteca só é possível garantindo o apoio e vigilância do espaço nos períodos da manhã e da tarde. A escola comprometeu-se com a contratação de dois bibliotecários, dois jovens da comunidade de Cumura, um deles ainda aluno do Secundário. Têm recebido alguma formação e começaram já a desempenhar as suas tarefas de forma aplicada, recebendo uma pequena quantia mensal.

Desde a abertura da biblioteca, assim que toca a sineta, fazem-se corridas para chegar primeiro, já que a capacidade do espaço não é grande (cerca de 18 alunos sentados). Muitos decoram o lugar do seu livro na estante para conseguir apanhá-lo antes de outros.

E a nós é isto que nos faz correr. Os resultados são bonitos de se ver.

Nota: Esta biblioteca só se tornou possível com o contributo de muitos amigos e benfeitores de Portugal. Desde a doação, à reunião, triagem e encaixotamento, expedição e recepção dos livros, inúmeras pessoas trabalharam afanosamente para este resultado. Queremos lembrar aqui:

– Familiares e amigos – em especial a Inês Martel e a Maria e Isabel Gala, que foram pontos de contacto, embaladoras e verdadeiras promotoras e dinamizadoras deste projecto;

– Os alunos do Secundário do Liceu Pedro Nunes, que reuniram e continuam a reunir várias obras para os colegas de Cumura;

– A Fundação João XXII [, com sede em Ribamar, Lourinhã], que tornou possível o transporte da maioria destas obras para a Guiné, sem custo para nós;

– Os colaboradores da Fundação Calouste Gulbenkian, que se mobilizaram para reunir um conjunto importante de obras de literatura infanto-juvenil.

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Nota do editoral:

Último poste da série > 5 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15822: Ser solidário (196): Vamos ajudar a ONGD "Ajuda Amiga", com a consignação de 0,5% do IRS... Notícias: A "Ajuda Amiga" (i) tem novo sítio na Net; (ii) tem novos corpos sociais para o biénio de 2016-17; e (iii) os seus dois cententores deste ano já chegaram a Bissau (Carlos Silva)

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13131: Notas de leitura (589): "Os Frades Menores de Veneza na Guiné-Bissau: 50 anos de história para recordar (1955-2005)", por Fabio Longo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Novembro de 2013:

Queridos amigos,
Trata-se de um relato inspirado na bondade e dedicação ilimitada de franciscanos italianos implantados na Guiné desde 1955. É um relato tocante, pelo que se constrói e a seguir se vê destruído, basta uma guerra civil.
Estão aqui páginas de ouro da vida missionária de uma Guiné que deploravelmente foi esquecida durante séculos, isto sem deixar o reparo de que o clima era adverso para trabalho em profundidade, que é propósito básico do missionário.
Obra rica nas ilustrações, desvela igualmente almas esplendorosas como a de Settimio Ferrazzetta, sepultado na Catedral de Bissau.

Um abraço do
Mário


Os Frades Menores de Veneza na Guiné-Bissau: 50 anos de história para recordar (1955-2005)

Beja Santos

É um registo tocante, por vezes a roçar o épico, desvelam-se aqui santos, gente mais compassiva é difícil de imaginar que estes franciscanos vénetos que aportaram à Guiné Portuguesa em 1955 e aqui têm operado maravilhas em prol do desenvolvimento humano e das convicções cristãs. O autor da narrativa chama-se Fábio Longo que trabalhou a documentação recolhida pelo Padre Rino Furlato, arquivista da diocese de Bissau. O autor destaca vários objetivos para esta publicação, penso que o mais carregado de intensão é o último, onde ele escreve que pretende dar o conhecimento de como permanece intacto o ideal evangélico de S. Francisco de Assis: o amor e o cuidado dos homens mais infelizes e abandonados, os leprosos e os mais pobres entre os pobres do mundo, afinal o que fizeram os Frades Menores vénetos desde 1955 na Guiné: Padre Settimio Ferrazzetta, Frade Giuseppe Andreatt, Frade Epifanio Cardin, seguidos depois por muitos outros, religiosos, religiosas e leigos.

Começa por apresentar a Guiné-Bissau em termos geográfico-históricos, sumaria a evangelização da Guiné-Bissau que, diga-se em abono da verdade, é paupérrima e coroada de insucessos. Pela Guiné andaram franciscanos em 1973, a supressão das ordens religiosas em Portugal, em 1834, deitou por terra o esforço missionário destes frades que evangelizaram em Farim, Geba e Ziguinchor. Os missionários franciscanos portugueses regressaram em 1932, desembarcaram em Bolama e alcançaram Cacheu, logo perceberam que tudo tinha voltado à estaca zero. No seu primeiro relatório apelaram a pelo menos 20/25 sacerdotes, dada a impossibilidade dos franciscanos portugueses corresponderem ao pedido apelou-se ao Instituto Pontifício para as Missões Estrangeiras, de Milão, que aceitou enviar um primeiro grupo de sacerdotes e um irmão leigo, em 1947, data da primeira chegada de missionários não-portugueses. Nesta época já vigoram os princípios missionários combonianos (com origem em Dom Daniele Comboni): formação de catequistas, uma das bases da evangelização; seminários diocesanos e casas de noviciado, enfim, preparar no local os servidores religiosos que atuaram no local.

A chegada dos três primeiros franciscanos a bordo do Ana Mafalda, a sua preparação em Bor e depois a sua ida para a Cumura, junto à leprosaria dão conta da atividade que aqui se desenrolará, em torno de uma aldeia habitada pela etnia Papel. O que ali existia era uma aldeia com 18 palhotas, terra batida, todas sem água e sem luz, habitadas por 205 leprosos, desfigurados no rosto, corroídos na pele e na carne, mutilados nos membros, sem mãos, sem dedos, com os pés totalmente deformados, alguns com os braços e o corpo carregados de feridas nauseabundas. É nesta atmosfera de pobreza extrema e de morbilidade intensa que os franciscanos começam a sua ação. Settimio Ferrazzetta escreve em julho de 1955: “Era a primeira vez que via uma leprosaria. Esta primeira visita lançou-me um pouco o pavor na alma, não pela sensação de me encontrar defronte à terrível doença, não pelo medo de me infetar, mas pelo ambiente em que vivem estes pobres leprosos”. Lançam-se ao trabalho, assistem e medicam diariamente os doentes, procedem ao exame bacteriológico e clínico, distribuem géneros alimentícios, dão catequese. Depois começam a chegar reforços. Em 1966, é criada a Missão Católica de Cumura, chegam os donativos, são postos de pé novos pavilhões, arejados, com leitos de ferro, colchões, lençóis e redes mosquiteiras. Settimio Ferrazzetta escreve em 1970, a propósito dos leprosos convertidos: “É algo de comovente ver estes pobres infelizes rezar: o terço não desliza bem em suas mãos, porque… perderam os dedos, por isso querem terços de grãos muito grossos! Pobrezinhos! Mas numa fé profunda e vivida encontraram a resignação cristã. É muito fácil encontrar leprosos no nosso hospital que dizem: O bom Deus é para todos, eu sofro, mas Ele o sabe, amanhã me pagará os meus sofrimentos, amanhã Deus me dará as minhas mãos e os meus pés, o meu corpo será belo como o corpo dos outros, e eu viverei feliz na eternidade”.

O trabalho é insano, constroem-se casas, jardins para os filhos dos leprosos, presta-se assistência aos pobres, a guerra de 1998-1999 agravou as condições de vida dos guineenses, a ajuda das Missões intensificou-se, procuram oferecer comida, vestuário, sabão, o indispensável. Como o Estado já não pode responder às necessidades básicas, os franciscanos constroem um hospital-maternidade, abrem-se postos de socorro, a atividade assistencial alastra. O livro elenca a edificação de igrejas e capelas na Cumura, em Bor, Prábis, em Cumura-Papel. O reconhecimento das gentes é cada vez maior, são tratados como os pais. O primeiro batismo foi administrado a um adolescente em fim de vida na leprosaria, crescem as conversões, aumentam os catequistas, as escolas de Cumura ganham notoriedade até se transformarem em complexo escolar. A partir dos anos 1970, Settimio Ferrazzetta começa a enviar para Portugal e Itália alguns jovens guineenses com a finalidade de formar gente preparada para favorecer o progresso social e cultural do país. Infelizmente, poucos voltaram à Guiné-Bissau, defraudando as esperanças neles depositadas pelos missionários. A promoção social, na lógica missionária é a de “não dar um peixe sem ensinar a pescar”, assim surgem a carpintaria e a oficina mecânica.

Conta-se a infausta Missão de Bolama, encetada em 1956 e interrompida em 1962 por razões do início dos focos independentistas, os padres foram afastados. De igual modo são descritas as missões de Brá, de Nhoma, de Safim, que foram profundamente afetadas pela guerra civil. Pelo adiante são descritas com mais pormenor as missões de Quinhamel e de Blom e, por último a Missão de Caboxanque, na região de Tombali.

A narrativa desnuda-nos a alma santa de Settimio Ferrazzetta, primeiro bispo da Guiné-Bissau, sacerdote da paz e do diálogo, prosélito e evangelizador, a ele, tanto como a Cumura, ficam associadas iniciativas como os seminaristas que mandou estudar filosofia e teologia no Senegal enquanto não se construiu o seminário diocesano em Bissau, depois a construção do seminário maior e casa de formação para aspirantes a irmãs guineenses. Morre imprevistamente mal tinha regressado à Guiné, em janeiro de 1999, deixou consternada toda a Guiné, fora, nesses tempos duríssimos da guerra civil uma figura eloquente da mediação e da tentativa da resolução pacífica da contenda entre Nino Vieira e a Junta Militar. A narrativa prossegue apresentando outros frades que acompanharam Settimio Ferrazzetta desde a primeira hora aquelas que já partiram deste mundo. É dado igualmente destaque à Ordem Franciscana Secular na Guiné-Bissau, aos muitos voluntários que dão a sua generosidade ao serviço dos guineenses, merece destaque Vittorio Romano Bicego, um antigo sargento do Corpo dos Alpinos, depois empregado nos lanifícios, que se dedicou de alma e coração à construção de missões em Tite, Ingoré e Bendanda e na região de Tombali criou uma propriedade agrícola modelo chamada “São Francisco da Floresta”.

Enfim, um documento acerca da exaltação do amor de vultos excecionais que têm doado a sua vida à Guiné.
Para que conste.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13119: Notas de leitura (587): "Um Sorriso para a Democracia na Guiné-Bissau", por Onofre dos Santos (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11613: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (1): Bissau, ontem e hoje


Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 1 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (1)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 2 > O primeiro encontro com o passado: um antigo "djubi", hoje quadro superior estatal, reconhece o "alferes paraquedista", hoje médico, ortopedista, Francisco Silva. Do lado esquerdo, a Maria Armanda e a Elisabete.



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 3 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (2)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 4 > Antiga Messe de oficiais do QG, hoje Hotel Azarai (3)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 5 > Uma rua de Bissau (1)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 6 > Uma rua de Bissau (2)



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 7 > Um monumento Português com um “toque” independentista, a estrela.



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 8 > A Cadidjato Candé, filha de Aliu Candé,  e a Maria Armanda, esposa do José Teixeira.




Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2013 > Foto nº 9 > Transportes públicos

Fotos: © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (28 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte I

por José Teixeira [, membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário  da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013]


Chegamos alta madrugada ao Aeroporto de Bissau [, terça-feira, 30 de abril]. À nossa espera estavam os dedicados funcionários da AD, o Tchibi e o Bemba,  que nos conduziram rapidamente para a sede desta Associação no Quelélé onde amavelmente disponibilizara dois quartos na Escola de Hotelaria, para os quatro turistas tugas: o Francisco Silva e esposa Elisabete, e o José Teixeira e esposa, a Maria Armanda

Após um sono reparador iniciamos as visitas de cumprimentos na sede da AD, ao Pepito e colaboradores. Pude abraçar de novo a Cadidjato Candé, mas conhecida por Cadi Guerra, a filha do lendário Aliu Sada Candé, dos tempos de Aldeia Formosa (Quebo). O combatente que avançava com o seu grupo, de peito aberto às balas ao encontro do inimigo que nos fazia esperas no mato com fins nada amistosos. Lamento a morte violenta a que foi sujeito, uns meses depois de termos abandonado aquele povo. Sei que, acabada a guerra,  voltou à sua terra e dedicou-se como todos os ex-combatentes ao ganha-pão na lala, onde o foram buscar para julgamento popular e morte violenta. Em 2008 tive o grato prazer de conhecer a sua filha, a Cadi em Guiledje e logo ali firmamos uma grata amizade. Sou o “tio” mais novo da Cadi

Grandes amigos, os companheiros da AD. Sabem acolher como ninguém. Sentimo-nos em casa, com o calor humana que nos proporcionaram, apesar do asfixiante calor solar que se fazia sentir. Momentos gratificantes que não esqueceremos.

Fomos de seguida à procura da nova cidade de Bissau que não conseguimos encontrar. Vimos,  sim, uma cidade velha esburacada, poluída e ruidosa. Muita gente em alegre movimento no seu colorido característico, muitas viaturas a rodar, umas velhas a cair de podre em disputa com a nova vaga de carros e jeeps de luxo, sinais de riqueza de alguns, mas uma cidade sem alma. Muito lixo nas ruas. O Cais do Pijiguiti completamente descaracterizado, pela imundície e pelo cheiro nauseabundo de detritos perdidos na orla marítima. Ali mesmo funciona um pequeno mercado cheio de vida.

Dando asas à saudade,  fomos até à antiga messe de Oficiais em Santa Luzia, onde funciona atualmente um Hotel [, o Azarai]. Foi sem dúvida o único local onde nada mudou e,  se tal aconteceu, foi para melhor. Instalações modernas, bem conservadas e bem apetrechadas, os jardins bem tratados. A piscina, um encanto.

Ali mesmo se deu o primeiro encontro com o passado quando o diretor de um Instituto do Estado Guineense, de passagem, reconheceu ao primeiro olhar o “alferes paraquedista”, ou seja o nome pelo qual o Francisco Silva era conhecido por ter feito uma experiência nos paraquedistas antes de ingressar no Exército e entabulou conversa connosco, sobre os tempos em que,  sendo ele um miúdo, convivia na sua tabanca natal com os militares portugueses ali estacionados. (*)

Um franguinho de chabéu no Restaurante A Padeira Africana retemperou-nos as forças, numa tarde quente que convidava ao repouso, a quem acabava de chegar do frio Portugal.

Terminamos o dia com uma visita à maternidade do Hospital da Cumura, onde a Irmã Irina nos acolhe com um sorriso de agradecimento e esperança. Agradecimento pela instalação do sistema de energia solar que deu luz à maternidade e enfermaria de pediatria. Assim se evitarão,  segundo ela, partos e cesarianas à luz da vela como tem acontecido muitas vezes. Esperança, porque ter a sorte de ser visitada por um médico ortopedista [, o Francisco Silva, do Hospital Amadora-Sintra], o que considerou uma bênção de Deus, logo, aproveitada e muito bem pela Drª Helena, voluntária quase permanente neste hospital.

Uma criancinha aguarda há cerca de um ano o milagre de ser vista e operada a uma perna. Faltava o médico ortopedista e eis que aparece um vindo de Portugal, sem ninguém contar e não se faz rogado. Logo, se alinham as condições para que a criança seja operada. Torna-se necessário pedir à Clinica Pediátrica de Bor para que a operação seja feita neste Hospital, pois no de Cumura não há as condições ideais. Programadas as démarches para se concretizar a operação clínica,  recolhemos a Quelélé para um merecido repouso, depois de jantarmos na Baixa de Bissau e apreciarmos a ruidosa noite com carros e carros em movimento num vai e vem pela única saída da cidade, a Avenida do Aeroporto.

(Continua)
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 26 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6252: Tabanca Grande (215): O Francisco Silva, hoje cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra, foi o substituto do infortunado Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves da Costa, do Pel Caç Nat 51, morto por um dos seus homens em 16 de Julho de 1973

(...) O Francisco Silva revelou-me na altura [, em Iemberém,] ter saído da CART 3492 para substituir um alferes morto na parada, pelos seus homens, africanos (ou por um dos seus homens, já não sei precisar bem) do Pel Caç Nat 51, sediado em Jumbembem, sector de Farim. Segundo o Francisco Silva, o alferes terá sido morto por que "era um tipo bom de mais, com problemas para impor a sua autoridade ao pelotão (que era etnicamente heterogéneo, e tinha um historial de problemas de disciplina)"...

Sabemos agora, através do Fernando Araújo, que esse infortunado camarada chamava-se Nuno Gonçalves da Costa, era natural de Arcos de Valdevez, e terá sido morto, "traiçoeiramente", a sangue frio, à queima-roupa, " com 3 tiros de G3", disparados por um militar do seu Pel Caç Nat 51, que não acatou o castigo (um reforço) que lhe imposto pelo seu comandante. A data fatídica foi em 16 de Julho de 1973. Os seus restos mortais repousam no cemitério da sua freguesia natal, São Jorge. (...)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8146: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (8): 14/12/2009, das 16 às 18h: Visita ao hospital de Cumura: lepra, sida, tuberculose... e compaixão


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 &gt > 18h > Mural com as seguintes inscrições: "Obrigado, Bispo Settimio"; "X Aniversário da Morte de Dom Settimio"; "A Verdade Vos Libertará".

O missionário Settimio Arturo Ferrazzetta, da ordem franciscana, foi o 1º bispo da diocese de Bissau, criada em 1977. "Homem Grande" da Igreja Católica de África, nasceu em Itália, em 8 de Dezembro de 1924, e morreu, com fama de santidade, em Bissau, em 26 de Janeiro de 1999.



Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 > Fazem-se bichas a partir das 5h30, à porta deste hospital privado, ainda recentemente ciatdo neste blogue (vd. poste P8133)

Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Descarregamento de medicamentos, sob a supervisão da madre italiana...

Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Todos dão uma ajuda no descarregamento


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Medicamentos doados pelo Brasil


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Uma farmácia bem recheada e organizada

Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Os missionários também sabem conduzir tractores


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 &gt >O João, com o seu colega Vitor, frade e médico, com duas mulheres que trabalham no hospital: a da esquerda, de óculos, ao lado do João, é a enfermeira Joaquina Sousa que - segundo informações que nos chega da nossa leitora Isabel - já fez várias missões no hospital de Cumura, tendo estado este ano em Janeiro com uma equipa de médicos (os obstetras/ ginecologistas José Furtado e António Silva, os  anestesistas Fernanda Nunes e Filipa Felix, e o cirurgião José Trigueiros)....




Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Um recém-nascido, desnutrido, ao colo de uma das enfermeiras (a da esquerda, em primeiro plano, é a Joaquina de Sousa, natural de Guimarães, segundo informação da nossa amiga Filomena Sampaio)


Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 >  Dando o biberão ao recém-nascido... 





Guiné-Bissau >    Bissau > Cumura >   Missão Católica e Hospital de Cumura > 14 de Dezembro  de 2009 &gt > Pátio interior do hospital


Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Gracça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele  fez, nas duas semanas que lá passou (*)... 

Nos cinco primeiros dias (de 6 a 10 de Dezembro de 2009) fomos encontrá-lo, como médico, voluntário, no Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém.  O fim de semana,  de 11 a 13 (6ª, sábado e domingo) de Dezembro de 2009, foi passado em Bubaque e Rubane, no arquipélago de Bolama-Bijagós, como simples turista.  Dia 13, domingo,  à tarde, regressou  a Bissau, ao bairro do Quelelé, onde se situa casa do Pepitop e da Isabel, que lhe derem guarida. É também aqui a sede da AD - Acção para o Desenvolvimento, cujos trabalhadores tiveram,  na segunda feira de manhã,  exame médico de vigilância...  Viu 18 de manhã (e no dia 17, viu mais 5). À tarde, nesse dia de segunda-feira, o João Graça foi, de carro ao centro de Bissau, e visitou, nos arredores o Hospital de Cumura, gerido por um Missão Católica portuguesa... (LG)



14/12/2009, 2ª feira, Bissau, Cumura


10.1. Consultas na AD (ver ficha clínica), [aos trabalhadores da ONGD, cuja sede é no Bairro do Quelelé]. Consultório improvisado, mesa a fazer de maca.

10.2. Hospital da Cumura. Fui buscar, com o Domingos, a Sara, ao centro de Bissau. Cumura fica na periferia, passando o Quelelé [, a 10km, na estrada de Prábis].

10.3. Encontro com a irmã Ida (brasileira, ternurenta) e com a enfermeira de Guimarães […] nas enfermarias de pediatria e ginecologia de mães com HIV. Criança desnutridíssima, pele repuxada, viam-se os ossos. Há cerca de 30 camas ali.

10.4. Sala de partos em condições, cesarianas [são feitas] no [Hospital Nacional] Simão Mendes.

10.5. Consultas externas com óptimas condições, vários gabinetes. Grávidas fazem fila à porta a partir das 5h30 da manhã.

10.6. Aqui conhecemos o Frei Vitor, médico formado na minha faculdade [, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa]. Terminou o curso em 1986. Depois entrou na Ordem dos Franciscanos: “Quando Deus chama por nós, temos de ir. Não interessa nem quando nem como”. […] Acabou a especialidade de medicina interna em Torres Vedras [,no então Hospital Distrital,] há uns anos,

10.7. [O] Hospital [de Cumura foi] construído nos anos 50 pelos Franciscanos de Veneza, creio que a área foi oferecida pelos portugueses nessa altura. Dedicava-se à Lepra. Hoje também, mas sobretudo à Sida e à Tuberculose.

10.8. Actualmente o financiamento é da associação (de um tipo que foi trabalhar para uma ilha de leprosos e lá morreu e ajudou a sensibilizar para o problema da lepra). [Mais pela] Portuguesa e menos pela Italiana [, provável referência à União Missionária Franciscana, Convento da Portela, Rua dos Mártires, 1, Apartado 1021, 2401-801 Leiria, Tel. 244 839 904/6, que gere a Missão Católica e  e a Leprosaria de Cumura]

10.9. Ajudámos a descarregar um carregamento de 100 mil eurps em medicação. Madre italiana gesticulava e dava ordens: “Soro para aqui… Ecco [, expressão idiomática, em italiana, equivalente ao nosso pronto]… mas está bem”. De óculos graduados [?], grossos.

10.10. Ala da Sida e tuberculose. Ele ]Frei Vitor] não se protege. “Está ali um doente com tuberculose multirresistente. Entrou ali na boa”.

10.11. Doente ala da tuberculose com sintomas de Pancoast – edema do membro superior por compressão venosotorácica.

10.12. Farmácia com imensa medicação, tubos toracocentese.

10.13. Ala da lepra mais interessante. Doente com dedos retraídos, espessamento do cubital, outra com facies leonina (cá fora, forma em L, bacilífera).

10.14. [Frei Vitor] fez um curso de lepra no sul da Índia, muito conhecido. “Lesão hipopigmentada com sensibilidade reduzida=lepra até prova em contrário”.

10.15. Duas crianças com lepra. A mulher que nos tirou a foto de grupo não tinha o indicador da [mão] direita.

10.8. Havia tractores com padres italianos… Havia um cemitério para padres… 



João Graça

(Continua)

[ Revisão / fixação de texto / selecção, edição e legendagem de fotos: L.G.]
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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:



 4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8043: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (7): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte III, o regresso a Bissau)


28 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8005: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (6): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte II)


 12 de Março de 2011 Guiné 63/74 - P7931: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (5): Os encantos e as armadilhas das ilhas de Bubaque e Rubane (Bijagós), 11/13 de Dezembro de 2009 (Parte I)


19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau


19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau


5 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7727: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (3): 9 e 10/12/2009, em busca do dari (chimpanzé), em Farim e Madina do Cantanhez...


28 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7686: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (2): 6/12/2009, domingo, 1ª consulta, um baptizo muçulmano, um casório católico, uma visita a uma fábrica de caju... 7/12/2009, 2ª feira: 1º dia de consultas. 42 doentes à porta do C.S. Materno-Infantil de Iemberém


16 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7622: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (1): 5/12/2009, sábado, viagem de carro, de Bissau (13h30) a Iemberém (21h50)