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quarta-feira, 17 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19687: (De)Caras (128): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - V ( e última) Parte (Jorge Araújo)


Foto 1 – Bissorã (1964) - Grupo de militares da CCAÇ 508. [Foto do álbum de Cândido Paredes, com a devida vénia] in: http://lugardoreal.com/imaxe/candido-paredes-e-camaradas-6


Foto 2 – Bissorã (1964) - Grupo de militares da CCAÇ 508. [Foto do álbum de Cândido Paredes, com a devida vénia] in: http://lugardoreal.com/imaxe/candido-paredes-e-camaradas-5




 Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018


A COMPANHIA DE CAÇADORES 508 [CCAÇ 508] - (1963-1965) E A MORTE DO SEU CMDT CAP INF FRANCISCO MEIRELLES EM 03JUN1965 NA PONTA VARELA: A ÚNICA BAIXA EM COMBATE DE UM CAPITÃO NO XIME -  V (e última) Parte


1.  INTRODUÇÃO

Depois das narrativas dos P19597, P19613, P19640 e P19656, eis a última na qual se respeitam as mesmas questões de partida. Na primeira daremos a conhecer o que foi possível recuperar da história da CCAÇ 508, identificando factos, feitos e consequências da sua vasta e importante missão operacional desenvolvida ao longo dos dois anos da sua presença no CTIG (1963-1965), entre 20Jul63 e 07Ago65, e dos dez locais diferentes onde a mesma teve lugar.

Para além dos documentos consultados e das informações orais transmitidas, via telefone, por alguns
dos elementos desta Unidade, contámos com o precioso recurso ao álbum do condutor auto rodas da "508", Cândido Paredes, actualmente a residir em Ponte de Lima, do qual apresentaremos abaixo mais algumas imagens, e a quem nos cumpre agradecer.

Na segunda, por uma feliz coincidência, ter encontrado, num alfarrabista de São João da Madeira, um livro sobre a vida e a morte do Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles (1938-1965), esta ocorrida no Xime, em 3 de Junho de 1965, 5.ª feira, local mítico e muito familiar durante a minha presença na Guiné e do contingente da minha CART 3494 (1972-1974), elaborado em sua memória pela sua família e que, segundo creio, foi editado no âmbito do primeiro aniversário da sua morte.
Daí que, nesta última narrativa, recuperaremos algumas das diferentes missões do Capitão FranciscoMeirelles, e da sua CCAÇ 508, durante os seus últimos três meses, desde a chegada a Bambadinca, em Março de 1965, até ao fatídico dia da sua morte. Seguir-se-ão as descrições de alguns factos e dos ambientes que os envolveram, que tiveram como corolário a atribuição do seu nome à toponímia da Cidade do Porto. 

A origem dessa decisão teve por contexto a reunião ordinária da Câmara Municipal do Porto, realizada em 20 de Julho de 1965, onde foi aprovada por unanimidade, em cerimónia pública, a proposta dirigida à Comissão de Toponímia de dar o nome do Capitão Meirelles a uma das ruas ou praças da Foz do Douro. 


2. SUBSÍDIOS HISTÓRICOS DA COMPANHIA DE CAÇADORES 508 (BISSORÃ, BARRO, BIGENE, OLOSSATO, BISSAU, QUINHAMEL, BAMBADINCA, GALOMARO, PONTA DO INGLÊS E XIME, 1963-1965)


Quadro cronológico da presença da CCAÇ 508 por localidades


2.1. SÍNTESE DOS PRIMEIROS DEZOITO MESES

A CCAÇ 508 chega a Bissau a 20Jul1963, sábado, a bordo do cargueiro "Sofala", sob o comando, interino, do Alferes Augusto Teixeira Cardoso, onde se juntou o Cap Mil Inf João Henriques de Almeida, o seu 1.º Cmdt. Cinco meses após o início do conflito armado na região de Tite, a CCAÇ 508 assumiu a responsabilidade do subsector de Bissorã, então criado, com GrComb destacados em Barro, até 23Dez63, e Bigene, até 26Dez63, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 507 e, após remodelação daqueles sectores, no BCAÇ 512. Em 26Dez63, passou a ter um GrComb destacado em Olossato.

Em meados de Julho de 1964, chega a esta Companhia Independente o Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles [1938-02-21/1965-06-03], em rendição do anterior Cmdt, Capitão João Almeida. Em 04Set64, 6.ª feira, já então na dependência do BART 645, e depois da chegada da CART 566, a CCAÇ 508 foi substituída no subsector de Bissorã pela CART 643, do antecedente ali colocada em reforço, tendo seguido para o sector de Bissau, a fim de se integrar no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, com um GrComb destacado em Quinhamel, ficando na dependência do BCAÇ 600.

No início de Março de 1965, com dezoito meses já contabilizados no tempo da sua comissão ultramarina, a Companhia do Capitão Francisco Meirelles foi de novo transferida para uma zona operacional.


2.2. SÍNTESE OPERACIONAL DO CAPITÃO MEIRELES DURANTE OS SEUS ÚLTIMOS TRÊS MESES

Recebida a ordem para uma nova actividade operacional, agora no Leste, a CCAÇ 508 deslocou-se em 07 e 23Mar65, por grupos, para Bambadinca, por troca com a CCAÇ 526, onde aí ficou instalado o Comando da Companhia, assumindo este a responsabilidade do respectivo subsector, com grupos de combate destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, sediado em Fá Mandinga, sob o comando do TCor Mário Serra Dias da Costa Campos.

Porém, antes da sua chegada a Bambadinca, cujo sector passou a designar-se por «Sector L1» a partir de 11Jan65, o BCAÇ 697, para desenvolver a intensa actividade operacional, recorria às subunidades do sector e a outras que lhe eram atribuídas como reforço, pois era constituída somente por Comando e CCS.

Uma das primeiras acções planeadas pelo BCAÇ 697, do início de 1965, tinha por objectivo a ocupação seguida da instalação de um aquartelamento na Ponta do Inglês. Essa missão, baptizada de «Operação Farol», foi agendada para os dias 19 e 20Jan65, envolvendo forças da CCAÇ 526, CCAV 678 e Pel AMetr "Daimler" 809, onde, depois, ficou instalada a Companhia de Cavalaria para, a partir de 16Abr65, data em que foi criado o subsector do Xime, ficar reduzida a nível de grupo de combate.

Durante o decorrer desta operação, as NT foram emboscadas, no primeiro dia, pelos guerrilheiros do PAIGC, tendo este sofrido algumas baixas não estimadas e onde foi capturado algum material de guerra, nomeadamente granadas de mão e de RPG. No dia seguinte, forças da CCAÇ 526 e CCAV 678, durante a sua actividade de segurança à distância e por efeito de um reconhecimento na área da Ponta do Inglês-Buruntoni, destruíram um acampamento IN com 15 casas a cerca de 600 mts a sul da antiga tabanca da Ponta do Inglês, tendo capturado mais munições diversas, onde foram encontrados alguns abrigos no lado sul da Ponta do Inglês-Xime, no local da emboscada do dia anterior, onde foram destruídas mais duas casas, a leste da Ponta do Inglês.

Em 16Abr65, com a criação do novo subsector do Xime, a CCAÇ 508 seria substituída em Bambadinca pela CCAV 678 (que se encontrava na Ponta do Inglês), deslocando-se, então, para o Xime, onde assumiu a responsabilidade deste subsector, com GrComb destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.

Em 20Abr65, quatro dias após a instalação do GrComb da CCAÇ 508 na Ponta do Inglês, um GrComb de Paraquedistas (CCP 121), durante a «Operação Coelho» na zona de Galo Corubal, destruiu 12 casas, abateu um guerrilheiro e fez dois prisioneiros. Forças da CCAÇ 510, vindas do Xitole, destruíram várias casas na região de Silibalde e apreenderam granadas de mão ofensivas e defensivas.

Uma semana depois, em 03Jun65, na estrada Xime-Ponta do Inglês, na região de Ponta Varela, a CCAÇ 508 tem mais quatro baixas em combate, sendo uma a do seu Cmdt, o Capitão Francisco Meirelles, por efeito do rebentamento de uma mina "bailarina".


Foto 3 – (Xime; 03JUN65). Estrada Xime-Ponta do Inglês. Início da operação onde se encontrava o Cap Meirelles [foto gentilmente cedida pelo Cor Morais da Silva].


Foto 4 – (Xime; 03JUN65). Forças da CCaç 508 na zona de Ponta Varela, onde se encontrava o Cap Meirelles [foto gentilmente cedida pelo Cor Morais da Silva].

Recordam-se alguns antecedentes que marcaram este fatídico dia 03Jun65, 5.ª feira.

O Capitão Francisco Meirelles fora incumbido de mostrar a uma equipa de enviados especiais da RTP à Guiné – Afonso Silva (operador) e Luís Miranda (realizador) – como se fazia a detecção de minas, muito frequentes naquela zona [Xime-Ponta Varela], pois em menos de três meses tinham sido levantadas mais de 40. Perto do meio-dia, a umas centenas de metros da tabanca de Ponta Varela, rebentou repentinamente uma mina ("bailarina") dando origem à morte do capitão Francisco Meirelles e de mais três militares da CCAÇ 508. Os operadores da RTP, que ficaram ilesos, começaram a filmar a cena poucos momentos após a explosão, havendo um documentário fotográfico da operação e das consequências do rebentamento. Parte dessa reportagem filmada foi transmitida pela RTP em 16 de Setembro desse ano, como, aliás, já foi referido em narrativas anteriores.

Na madrugada de 04Jun65, os corpos foram levados para Bafatá, onde ficaram sepultados o 1.º cabo [José Maria dos Santos Corbacho] e os soldados [Domingos João de Oliveira Cardoso e Braima Turé], e onde um avião foi buscar o corpo do Capitão Meirelles.

Trazido para Bissau, ficou depositado na capela militar de Santa Luzia. No dia seguinte, pelas 10 horas, houve missa de corpo presente, celebrada pelo Tenente-Capelão Padre Nazário, finda a qual o cortejo fúnebre dirigiu-se para a capelinha do cemitério onde o caixão permaneceu até ser removido para a Metrópole. Aqui chegou no vapor «Manuel Alfredo» na madrugada de 18Jul65, precisamente quando se perfazia um ano depois da partida para a Guiné (Op. Cit. pp10-11).


3.  O CAPITÃO FRANCISCO MEIRELLES TEM O SEU NOME NA TOPONÍMIA DA CIDADE DO PORTO, NA ZONA DA FOZ DO DOURO

Após a chegada do seu corpo a Lisboa, o Governador Militar de Lisboa, General Amadeu Buceta Martins quis tributar uma derradeira homenagem a quem foi seu dedicadíssimo ajudante e ordenou que lhe fossem prestadas honras fúnebres, nas quais se dignou tomar parte, assim como o Brigadeiro Couceiro Neto, 2.º Comandante do Governo Militar de Lisboa. Até à 1 hora da madrugada do dia 19, hora em que partiu para o Porto, houve turnos compostos por um oficial, um sargento e quatro praças. Antes, havia sido celebrada missa, às 14 horas, pelo capelão Padre José Maria Braula Reis (1922-), mandada dizer pela Direcção da Arma de Infantaria, e às 19 horas missa celebrada pelo Ver. Padre Júlio Marinho S. J., a pedido da família.

À uma da manhã seguiu, então, o corpo do Capitão Meirelles num armão do Exército, cedido pelo Quartel-General de Lisboa, em direcção ao Porto, onde na Igreja paroquial da Foz do Douro houve missa de corpo presente celebrada pelo Padre Fernando Leite S. J. que já presidira ao seu casamento. Lançou a absolvição final o pároco da Freguesia, Padre Manuel Dias da Costa, que também presidira à sua Profissão de Fé e que pronunciou algumas comovidas palavras ao ver na sua Igreja Paroquial, antes de baixar à sepultura, quem, tantas vezes e tão devotamente, a frequentava.

Tanto na Igreja, como no cemitério, estavam alguns milhares de pessoas, algumas em representação oficial de entidades públicas e privadas, e, entre elas, muitas das mais destacadas figuras da vida intelectual, social, militar e política da cidade.

À porta do cemitério do Prado do Repouso,
Foto 5 > Porto, cemitério do Prado Repouso
situado na zona oriental da cidade do Porto (foto 5; ao lado), uma companhia de atiradores deu as salvas do estilo e outra companhia prestou a guarda de honra. E juntos ao jazigo de seus Bisavós, ficou finalmente sepultado. […]

No dia 20 de Julho de 1965, a Câmara Municipal do Porto, na sua reunião ordinária, aprovou por unanimidade as intervenções que, a propósito do falecimento do Capitão Francisco Meirelles, foram proferidas respectivamente pela vereadora Senhora Dona Maria José Novais e pelo Senhor Presidente da Câmara.

Nesta sessão pública e no uso da palavra, a vereadora enalteceu a memória do saudoso e heroico Capitão Francisco Meirelles, por motivo da chegada do seu corpo à Cidade do Porto e dos ofícios fúnebres, traduzidos numa grandiosa manifestação de dor a que comovidos todos assistiram na Igreja paroquial de S. João Baptista da Foz do Douro, associando-se a autarquia à dor daquela família. Ao lembrar o Soldado Desconhecido, fez também questão de recordar com viva emoção, todos quantos deram a vida para dignificar a farda, a Pátria e a Família.

Acrescentando: 

"Hoje, pelo contrário, vamos relembrar todos os nossos Heróis, num oficial distinto, que viveu junto de nós [desde 1939, quando veio viver com os seus pais para o Largo de Cadouços, 37], que é portanto muito nosso, e de quem guardamos profunda saudade. O Alferes Francisco Xavier de Meirelles, serviu exemplarmente em Angola, durante dois anos, [com início logo após os acontecimentos de Fevereiro de 1961. Seguiu no primeiro avião com reforços da sua 66.ª Companhia
que, depois, foi a 5.ª de Caçadores Especiais do Regimento de Infantaria de Luanda. Depois de tomar parte na sua missão em Luanda e subúrbios foi enviado para Malanje, onde na zona algodoeira houvera um levantamento e onde a sua Companhia ficou adstrita ao Batalhão comandado pelo então Major Camilo Augusto de Miranda Rebocho Vaz (1920-1998). A 15Mar61 foi a sua Companhia retirada inesperadamente de Malanje e enviada para os Dembos, onde se tinham verificado actos de terrorismo. Durante alguns dias a coluna progrediu por Caxito, Quicabo, Nambuangongo e mais além. Instalado, depois, no Caxito o comando da Companhia, foi o seu pelotão destacado para a defesa de algumas localidades, onde esteve com intermitências, como sejam, Úcua, Mabubas, Tabi e Lifune, e mandado auxiliar a defesa de Ambriz, quando do grande ataque a essa povoação. Finda a comissão, regressou no vapor "UÍGE", tendo chegado a Lisboa em 29 de Março de 1963].

Foi promovido a tenente em 1 de Dezembro de 1962, sendo colocado, após o seu regresso ao Continente, na Região de Tomar. Promovido a capitão em 16 de Junho de 1964 foi novamente mobilizado, desta vez para a Guiné, para onde partiu com outros camaradas a 17 Julho de 1964, no barco de carga «António Carlos».


Continuou a vereadora: 

"Partiu, deixando sua mulher e dois filhinhos de tenra idade [dois rapazes; um nascido em Abril/1963, o outro em Junho/1964]. Foi nessas longínquas paragens, que soube morrer aos vinte e sete anos, depois de ter sido um magnífico exemplo das mais nobres virtudes morais e cristãs, a ponto de generosamente sacrificar o amor da própria família, que sempre subordinou aos altos interesses da Nação. […] Estas palavras são um apelo à Nação; um apelo a todos nós; para que respeitando tanto sacrifício saibamos honrar e merecer os nossos queridos mortos vivendo com dignidade o momento que passa".

Partindo dos considerandos supra, a vereadora apresentou uma proposta/pedido dirigido ao Presidente da Câmara solicitando "que a digna Comissão de Toponímia, promovesse no sentido de dar o nome do heroico Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles a uma das ruas ou praças da Foz do Douro, para que ficasse a perpetuar a lembrança dos seus actos de valentia".

A proposta foi aprovada por unanimidade, passando o «Largo de Cadouços» a chamar-se, a partir de 1966, «Largo do Capitão Pinheiro Torres de Meirelles», conforme se dá conta nas imagens abaixo.


Fotos 5 e 6 (Largo do Capitão Pinheiro Torres de Meirelles, Foz do Douro, em 18Mar2019, antigo

Largo do Cadouços) do camarada Virgílio Teixeira, na sequência do meu apelo formulado no P19597 (parte I, deste tema) a quem agradeço publicamente. 


F I M

Fontes consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); p195.

Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (s/d). Braga, Editora Pax.
 Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

16Abr2019.
_____________


Vd. postes anteriores:

1 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19640: (De)Caras (103): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte III (Jorge Araújo)

1 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19640: (De)Caras (103): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte III (Jorge Araújo)

18 de maro de 2019 > Guiné 61/74 - P19597: (De)Caras (101): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte I (Jorge Araújo)

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19656: (De)Caras (127): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte IV (Jorge Araújo)


Foto 5 - Amedalai (Abr1965) – Da esquerda para a direita: Amândio César, Administrador Augusto Cabrita, Cmdt Cyrne de Castro, Cap Francisco Meirelles (ao volante) e Alf Ferreira

[Fonte: Amãndio César  - Guiné, 1965: Contra-ataque», Braga, Editora Pax, Colecção: Metrópole e Ultramar,  1965,  p.38, com a devida vénia].


Foto 6 - Amedalai (13Set73) - Aldeamento de A/D de Amedalai (oito anos depois da foto acima), onde estava instalado o PMil 241, na sequência de um ataque com RPG e armas automáticas. Para além do estado em que ficou a Daimler do PRecD 8681, nada mais houve a registar. Nessa ocasião encontrava-me com a minha secção (+) no Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, pelo que ainda guardo na memória esta ocorrência.




Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494  (Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018


A COMPANHIA DE CAÇADORES 508 [CCAÇ 508] - (1963-1965) E A MORTE DO SEU CMDT CAP INF FRANCISCO MEIRELLES EM 03JUN1965 NA PONTA VARELA: A ÚNICA BAIXA EM COMBATE DE UM CAPITÃO NO XIME (PARTE IV)

1. INTRODUÇÃO

A presente narrativa, a penúltima relacionada com tema em título, segue a mesma metodologia das anteriores – P19597, P19613 e P19640 – onde os diferentes elementos historiográficos, de hoje, se encontram divididos em dois pontos principais.(*)

No primeiro ponto, recuperaram-se mais algumas imagens da história colectiva da Companhia de Caçadores 508 [CCAÇ 508], com recurso ao álbum de Cândido Paredes, condutor auto rodas dessa Unidade, actualmente a residir em Ponte de Lima. No âmbito da actividade operacional, destacaremos, também, algumas missões desenvolvidas nos últimos cinco meses da sua presença no CTIG (1963-1965), na sequência da transferência, em Março de 1965, para o subsector de Bambadinca, para integrar o dispositivo e manobra do BCAÇ 697, então sediado em Fá Mandinga, sob o comando do Tenente-Coronel Mário Serra Dias da Costa Campos, região que passou a ser designada, a partir de 11 de Janeiro de 1965, por «Sector L1».

No segundo ponto, continuaremos a citar o que de mais relevante retirámos das páginas do livro elaborado em memória do capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (1938-1965) pela sua família. Neste contexto, como alternativa às dificuldades (em entender a actual política de gestão do audiovisual da nossa "Estação Pública") no acesso às imagens captadas na Ponta Varela (Xime) pelos enviados especiais da RTP, Afonso Silva (operador) e Luís Miranda (realizador), naquela fatídica manhã de 03 de Junho de 1965, local da morte em combate do capitão Francisco Meirelles, e transmitidas por aquele canal televisivo em 16 de Setembro desse ano, optámos por recuperar uma entrevista radiofónica gravada umas semanas antes, em Bambadinca, pela Emissora Nacional, durante uma operação de patrulhamento sob o comando do Capitão Meirelles.


2. SUBSÍDIOS HISTÓRICOS DA COMPANHIA DE CAÇADORES 508 (BISSORÃ, BARRO, BIGENE, OLOSSATO, BISSAU, QUINHAMEL, BAMBADINCA, GALOMARO, PONTA DO INGLÊS E XIME, 1963-1965)



Foto 1 – Bissorã (1964) - Grupo de militares da CCAÇ 508. [Foto do álbum de Cândido Paredes, com a devida vénia]


2.1 – SÍNTESE DOS PRIMEIROS DEZOITO MESES

A CCAÇ 508 chegou a Bissau em 20 de Julho de 1963, sábado, a bordo do cargueiro "SOFALA", sob o comando, interino, do Alferes Augusto Teixeira Cardoso, onde se juntou o Cap Mil Inf João Henriques de Almeida (?-2007), aquele que seria o seu 1.º Cmdt.

Cinco meses após o início do conflito armado na região de Tite, a CCAÇ 508 assumiu a responsabilidade do subsector de Bissorã, então criado, com grupos de combate destacados em Barro, até 23Dez63, e Bigene, até 26Dez63, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 507, sob o comando do TCor Hélio Esteves Felgas, e, após remodelação daqueles sectores, no BCAÇ 512, sob o comando do TCor António Figueiredo Cardoso. Em 26Dez63, passou a ter um GrComb destacado em Olossato.

Em 11Ago63, dez dias após ter iniciado a sua actividade operacional, tem a sua primeira baixa, por acidente com arma de fogo. Em 12Fev64, com seis meses de comissão, a CCAÇ 508 regista mais duas baixas, estas em combate, em Maqué (Região do Óio), na sequência da sua intensa actividade operacional.

Entretanto, em Julho de 1964, chega a esta Unidade Independente, mobilizada pelo RI7, de Leiria, o Cap Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles [1938-02-21/1965-06-03], em rendição do anterior Cmdt, Cap João Almeida. Em 04Set64, já então na dependência do BART 645, sob o comando do TCor António Sobral. Depois da chegada da CART 566, a CCAÇ 508 foi substituída no subsector de Bissorã pela CART 643, do antecedente ali colocada em reforço, tendo seguido para o sector de Bissau, a fim de se integrar no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, com um GrComb destacado em Quinhamel, ficando na dependência do BCAÇ 600.


Foto 2 – Bissau (1964) - Grupo de militares da CCAÇ 508 junto ao monumento "esforço da raça". [Foto do álbum de Cândido Paredes, com a devida vénia]


Em 15Nov64, a CCAÇ 508 regista a quarta baixa, com a morte, por afogamento no Rio Geba, em Bafatá, de um soldado. Em 08Fev65, outra baixa, a quinta, desta vez provocada pelo levantamento de uma mina em Jabadá.

Porém, no início de Março de 1965, com dezoito meses já contabilizados na "fita do tempo" da sua comissão ultramarina, a Companhia do Capitão Meirelles é informada da sua transferência (a última) para uma zona operacional.


2.2. SÍNTESE OPERACIONAL DOS ÚLTIMOS CINCO MESES

Em 07 e 23Mar65, por troca com a CCAÇ 526, a CCAÇ 508 deslocou-se, por fracções para Bambadinca, onde ficou instalado o Comando da Companhia, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, com grupos de combate destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, sediado em Fá Mandinga, sob o comando do TCor Mário Serra Dias da Costa Campos.

Antes da sua chegada ao Leste, cujo sector passou a designar-se por «Sector L1» a partir de 11Jan65, o BCAÇ 697, para desenvolver a intensa actividade operacional, corolário da planificação, comando e controlo das diversas acções, como eram as missões de patrulhamento de reconhecimento e de recuperação das populações da região, recorria às subunidades do sector e a outras que lhe eram atribuídas como reforço, pois era constituída somente por Comando e CCS.

Uma das primeiras acções planeadas pelo BCAÇ 697, do início de 1965, tinha por objectivo a ocupação seguida da instalação de um aquartelamento na Ponta do Inglês (Mata do Fiofioli). Essa missão, baptizada de «Operação Farol», foi agendada para os dias 19 e 20Jan, envolvendo forças da CCAÇ 526, CCAV 678 e Pel AMetr "Daimler" 809, onde, depois, ficou instalada a Companhia de Cavalaria para, a partir de 16Abr65, data em que foi criado o subsector do Xime, ficar reduzida a nível de grupo de combate.

Durante o decorrer desta operação, as NT foram emboscadas, no primeiro dia, pelos guerrilheiros do PAIGC, tendo este sofrido algumas baixas não estimadas e onde foi capturado algum material e guerra, nomeadamente granadas de mão e de RPG. No dia seguinte, forças da CCAÇ 526 e CCAV 678, durante a sua actividade de segurança à distância e por efeito de um reconhecimento na área da Ponta do Inglês-Buruntoni, destruíram um acampamento IN com 15 casas a cerca de 600 mts a sul da antiga tabanca da Ponta do Inglês, tendo capturado mais munições diversas, onde foram encontrados alguns abrigos no lado sul da Ponta do Inglês-Xime, no local da emboscada do dia anterior, onde foram destruídas mais duas casas, a leste da Ponta do Inglês.

Com a criação do novo subsector do Xime, a CCAÇ 508 seria substituída em Bambadinca pela CCAV 678 (que se encontrava na Ponta do Inglês), deslocando-se, então, para o Xime, onde assumiu a responsabilidade deste subsector, com grupos de combate destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.

Em 20Abr65, quatro dias após a instalação do GrComb da CCAÇ 508 na Ponta do Inglês, um GrComb de Paraquedistas (CCP 121), durante a «Operação Coelho» na zona de Galo Corubal, destruiu 12 casas, abateu um guerrilheiro e fez dois prisioneiros. Forças da CCAÇ 510, vindas do Xitole, destruíram várias casas na região de Silibalde e apreenderam granadas de mão ofensivas e defensivas.

Em 27Mai65, a CCAÇ 508 regista a sexta baixa, com a morte em combate, no Xime, de um soldado condutor.

Uma semana depois, em 03Jun65, na estrada Xime-Ponta do Inglês, na região da Ponta Varela, a CCAÇ 508 tem mais quatro baixas em combate, sendo uma a do seu Cmdt, o Capitão Francisco Meirelles, por efeito do rebentamento de uma mina "bailarina" [P-III]. (*)


Foto 3 – Ponta Varela (Xime), 03JUN1965. Momentos após a explosão que vitimou o Cap Francisco Meirelles, o 1.º Cb José Corbacho, o Sold Domingos Cardoso e o Caç Nat Braima Turé, todos da CCAÇ 508 [foto gentilmente cedida pelo Cor Morais da Silva].


Foto 4 – Ponta Varela (Xime), 03JUN1965. Momentos após a explosão que vitimou quatro camaradas da CCAÇ 508, entre eles o Cap. Francisco Meirelles [foto gentilmente cedida pelo Cor Morais da Silva].

Em 06Ago65, após a chegada da CCAÇ 1439 para treino operacional, a CCAÇ 508 foi rendida no subsector do Xime por forças da CCAV 678, recolhendo imediatamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso ao Continente, após dois anos de comissão, onde contabilizou uma dezena de baixas.

A viagem de regresso iniciou-se a 07Ago65, sábado, a bordo do vapor «Alfredo da Silva», com a chegada ao cais de Alcântara, Lisboa, a ter lugar sete dias depois.


3.  A ACTIVIDADE OPERACIONAL DO CAP FRANCISCO MEIRELLES E DA SUA UNIDADE ANTES DA SUA MORTE EM 03JUN1965

Fazendo parte do dispositivo e manobra do BCAÇ 697, estavam atribuídas à CCAÇ 508 todas as missões emanadas do comando do «Sector L1», nomeadamente: patrulhamentos de reconhecimento, contactos com as populações da região e o competente enquadramento dos grupos de milícias em regime de auto-defesa.

Neste âmbito, recupero um fragmento publicado no livro do Capitão Meirelles (pp 35-37), extraído de um artigo escrito por Amândio César (1921-1987), que fora lido, na íntegra, aos microfones da Emissora Nacional e que, posteriormente, foi publicado no «Diário do Norte» de 19 de Outubro de 1965.

Este texto está, ainda, plasmado no livro, «Guiné, 1965: Contra-ataque», Braga, Editora Pax, 1965, 229 pp., Colecção: Metrópole e Ultramar, de que é autor Amândio César, cuja capa se reproduz abaixo.

O texto tem por título: «Em Bambadinca – Uma tabanca em auto-defesa».

[…]

"Foi na companhia do Capitão Torres de Meirelles que visitei uma tabanca em auto-defesa, uma das muitas tabancas onde a população civil, devidamente preparada pela nossa tropa faz frente aos eventuais ataques dos salteadores, a soldo de potências estrangeiras inimigas. Segui no «jeep» do Capitão Torres de Meirelles e, desta nossa visita, ficou-me a recordação das fotografias que tirámos, uma das quais neste mesmo «jeep», exactamente quando saímos da Tabanca de Amedalai, a caminho de Bambadinca para o salto ao aeroporto [Bafatá].

A tabanca estava devidamente guardada e vigiada, sem que nós nos apercebêssemos do facto. Os seus moradores surgiam diante de nós, como por encanto, trazendo as suas espingardas, o seu armamento, nos seus trajos característicos. Era a autêntica guerra patriótica, sentida e vivida pela população pacífica que as eventualidades do destino tinham transformado em guerreiros valentes e intimoratos. Percorremos toda a tabanca, entrámos nas casas dos seus naturais, praticámos o seu viver do dia-a-dia. O Comandante Cyrne de Castro conseguiu uma bela tábua, onde, em marabu, se ministrava os ensinamentos do Corão. (…) As fotos chegaram-me às mãos, mandadas a 30 de Maio [de 1965], da Guiné. Dias depois o Capitão Torres de Meirelles encontrava a morte; foi a sua última recordação…".

Vd. Foto 5 e Foto 6 (acima reproduzidas]

Outro fragmento a merecer relevância neste contexto, reporta-se a uma entrevista dada em Bambadinca pelo Capitão Meirelles ao locutor Fernando Garcia (1926-2015) e transmitida pela Emissora Nacional, depois de ser pública a notícia da sua morte.

Assim, em 8 de Junho de 1965 [vai fazer cinquenta e quatro anos], a Emissora Nacional transmitiu essa reportagem radiofónica na qual se incluía a entrevista acima referida, obtida na Guiné com o Capitão Meirelles, onde aquele locutor [FG] a fez preceder de algumas palavras evocativas da sua memória.

Eis as primeiras palavras: "A Emissora Nacional vai transmitir hoje mais uma reportagem realizada na província ultramarina da Guiné, onde os soldados portugueses estão a levar a cabo uma obra a todos os títulos notável." (…)

Segue-se a transcrição da entrevista:

Introdução: - "De Bambadinca fala a reportagem da Emissora Nacional. Em Bambadinca está instalada uma unidade militar. Bambadinca quer dizer em mandinga – Cova do Lagarto – talvez até devido ao facto de neste lugar existirem bastantes lagartos. Neste momento vai partir uma operação de patrulha, operação de rotina que se regista frequentemente, cremos que diariamente, ou até mais do que uma vez por dia. Em qualquer caso nós vamos conversar com o Capitão Torres de Meirelles [CM], encarregado do comando desta coluna militar.

FG – Ora, quer falar-nos desta operação de patrulhamento e dizer-nos como é que ela se costuma processar?

CM – Esta operação de patrulhamento, como disse, é absolutamente de rotina. Executa-se várias vezes por dia, tanto com tropas de linha, caçadores europeus, como com tropa nativa, caçadores nativos. Todos os dias e várias vezes ao dia todo o terreno da nossa região é batido por patrulhamentos de reconhecimento, mantendo assim as populações debaixo de um estado de segurança e de alerta.

FG – Quer dizer, portanto, que para além do facto de procurar desfeitear o inimigo, onde quer que ele surja, compete também a esta unidade e a estas colunas de patrulhamento vigiar as populações e velar pela sua segurança?

CM – Exactamente, se bem que a população dentro desta área, que é muito grande, está em regime de auto-defesa. O pessoal das tabancas defende-se a si próprio, isto é, está armado e defende-se a si próprio.

FG – Quer dizer, portanto, que há muita confiança em toda a população?

CM – Absoluta, absoluta.

FG – Se assim não fosse não seriam entregues armas para eles se defenderem no caso de qualquer ataque inimigo.

CM – Exactamente.

FG – Agora, uma vez que vamos partir, agradecemos estes esclarecimentos e voltaremos a contactar consigo ou no meio desta operação ou até depois da missão terminada.

CM – De acordo.
……

FG - Terminou já esta operação de patrulha de uma coluna militar. De novo em Bambadinca vamos procurar registar agora a opinião final do Capitão Meirelles, que comandou esta coluna militar. Entretanto, nada de novo. Missão cumprida e nada de especial surgiu nesta operação de patrulha. Durante o caminho, conforme o Capitão Meirelles já nos havia confiado à partida, encontrámos vários elementos civis armados, pois eles próprios fazem a vigilância e patrulhamento desta região. Depois de termos visitado o lugar de Amedalai, saímos, tomámos de novo a estrada [de terra batida] e regressámos ao aquartelamento de Bambadinca. A coluna militar continua a entrar no aquartelamento. Mais alguns veículos dirigem-se para o local onde nos encontramos. Num desses veículos veio o Capitão Meirelles que comandou esta operação. Ele acaba de chegar. Vários outros carros seguem-no e nós vamos trocar impressões com ele.

FG – Capitão Meirelles: gostaríamos, agora, que depois de terminada esta operação de patrulha nos confiasse o que se passou, muito embora tivéssemos tomado parte dela.

CM – Ora bem, nós fomos daqui, como viram, a Amedalai. Esta estrada tem tabancas perto e portanto tem pessoal armado e está mais ou menos defendida. O único cuidado que há a ter é com o problema das minas que podem ser instaladas na estrada. Para isso levamos equipas de batedores bastante expeditos com aqueles utensílios que viram e que se parecem com os engaços da Metrópole. Vão picando a estrada toda e vão vendo se há alguma coisa. Aqui nesta zona já foram caçadas bastantes minas, bastantes, mesmo, e nunca rebentou nenhuma.

FG – Ah! Nunca rebentou nenhuma?

CM – Não. Nunca rebentou nenhuma. Foram todas detectadas.

FG – Hoje, porém, nesta operação não foi encontrada qualquer mina?

CM – Não. Não foi encontrada mina nenhuma. De resto é natural, pois logo de manhãzinha cedo veio um grupo de pesquisadores que percorreu estra estrada em que nós seguimos, em sentido inverso e fez a pesquisa das minas. Esse grupo é de nativos, caçadores nativos

FG – Quer dizer, portanto, que se tivesse havido minas já eles as tinham detectado?

CM – Sim, já as tinham detectado e nós íamos lá levantá-las.

FG – Não lhe parece que é um caso de certo modo singular o facto de haver várias minas espalhadas por uma estrada e todas elas serem detectadas até hoje?

CM – É. Revela uma eficácia bastante grande do grupo de pesquisadores e também bastante sorte, pois para isso nestes casos é preciso sorte. É preciso sorte para encontrar as minas, pois às vezes podem não se encontrar.

Também foram entrevistados na mesma reportagem: o Senhor Tenente-Coronel Mário Campos, Cmdt do BCAÇ 697; o regedor de Badorá, Mamadu Sanhá e o soldado fula Samba Valdé. (op.cit, pp. 27-29)

Termina, dizendo:

De Bambadinca falou a reportagem da Emissora Nacional em serviço na Província da Guiné com as Forças Armadas Portuguesas. Ouviram «Missão de Soberania», reportagem pelas Forças Armadas em serviço da Província Ultramarina da Guiné em colaboração com a Defesa Nacional – Serviço de Informação Pública".

Continua…
_____________

Fontes consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); p.195.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002); p.321.

Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (s/d). Braga. Editora Pax.

Outras: as referidas em cada caso.


Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

04ABR2019.
_______________


Vd. postes anteriores:

23 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19613: (De)Caras (102): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte II (Jorge Araújo)

18 de maro de 2019 > Guiné 61/74 - P19597: (De)Caras (101): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte I (Jorge Araújo)

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19640: (De)Caras (126): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte III (Jorge Araújo)


Foto 1 > Guiné > Região de Bafatá > Xime Z Ponta Varela > 3 de Junho de 1965 >  CCAÇ 508 (1963 / 65) > Momento da explosão em que vitimou o Cap Francisco Meirelles, o 1.º Cb José Corbacho, o Sold Domingos Cardoso e o Caç Nat Braima Turé, todos da CCAÇ 508 [foto gentilmente cedida pelo Cor Morais da Silva].




Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 

(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018



A COMPANHIA DE CAÇADORES 508 [CCAÇ 508] - (1963-1965) E A MORTE DO SEU CMDT CAP INF FRANCISCO MEIRELLES EM 3JUN1965 NA PONTA VARELA - A ÚNICA BAIXA EM COMBATE DE UM CAPITÃO NO XIME (PARTE III)

1. INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao publicado nas duas primeiras partes sobre o tema em título – P19597 e P19613 – os actuais conteúdos seguem na linha das estruturas anteriores, com a divisão em três pontos. (*)

No primeiro, recuperaram-se mais algumas imagens da história colectiva da Companhia de Caçadores 508 [CCAÇ 508], com recurso ao álbum de Cândido Paredes, natural de Favaios, Vila Real, actualmente a residir em Ponte de Lima, com quem falámos recentemente ao telefone, dando-lhe conta deste trabalho de investigação.

No segundo, continuaremos a citar o que de mais relevante retirámos das narrativas publicadas no livro elaborado em memória do capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (1938-1965) pela sua família, cuja morte ocorreu por efeito do rebentamento de uma mina (a que chamamos de "bailarina") accionada em Ponta Varela, Xime, no dia 3 de Junho de 1965, 5.ª feira.

Por último, daremos conta dos resultados obtidos nos contactos tidos com o Departamento de Arquivos da RTP, visando recuperar algumas das imagens recolhidas, naquele fatídico local, e naquela data, pela equipa da TV: Afonso Silva e Luís Miranda, cuja reportagem filmada foi transmitida por aquele canal televisivo em 16 de Setembro desse ano. (Vd. Foto nº 1, acima)


2. SUBSÍDIOS HISTÓRICOS DA COMPANHIA DE CAÇADORES 508 (BISSORÃ, BARRO,  BIGENE,  OLOSSATO, BISSAU, QUINHAMEL, BAMBADINCA, GALOMARO, PONTA DO INGLÊS E XIME, 1963-1965)

2.1. A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIG

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 7 [RI 7], de Leiria, a Companhia de Caçadores 508 (CCAÇ 508) embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, em 14 de Julho de 1963, domingo, sob o comando, interino, do Alferes Augusto Cardoso, seguindo viagem a bordo do cargueiro "SOFALA" rumo à Guiné (Bissau), onde chegou a 20 do mesmo mês, sábado. À sua chegada, juntou-se aquele que seria o 1.º Cmdt da CCAÇ 508, o Cap Mil Inf João Henriques de Almeida (n?-2007), tendo sido, também, Cmdt da 4.ª CCAÇ, a qual, em 01Abr1967, passou a designar-se por CCAÇ 6.

Considerando que não existem registos desta Unidade, conforme consta no livro da CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 7.º Volume, Fichas das Unidades], algumas da informações sobre as quais temos trabalhado são de fontes orais, obtidas através de contactos telefónicos com camaradas desta Unidade. Mesmo correndo o risco de ter de corrigir o já publicado, em função desta metodologia, julgo não haver outra forma de o fazer, uma vez que todas elas estão a uma distância de mais de meio século.

Quadro cronológico da presença da CCAÇ 508, no CTIG, por localidades



2.2. SÍNTESE OPERACIONAL

Na historiografia do contingente da CCAÇ 508 estão contabilizadas, durante a sua comissão de dois anos no CTIG (1963-1965), importantes missões em dez locais diferentes, a saber: Bissorã - Barro - Bigene - Olossato - Bissau - Quinhamel - Bambadinca - Galomaro - Ponta do Inglês e Xime, conforme se indica no quadro acima.


Foto 2 > Guiné > Região do Oio >  Bissorã > CCAQÇ 508 (1963/65) > 1964 > Um dezena de militares da CCAÇ 508. [Foto do álbum de Cândido Paredes, com a devida vénia] i


Foto 3 > Guiné > Região do Oio >  Bissorã > CCAQÇ 508 (1963/65) > 1964 > Militares da CCAÇ 508. [Foto do álbum de Cândido Paredes, com a devida vénia]

No início de Março de 1965, com dezoito meses já contabilizados, foi atribuída à CCAÇ 508 uma nova missão em zona operacional, sendo transferida para Bambadinca, onde ficou instalado o Comando, assumindo, desde logo, a responsabilidade do respectivo subsector, com Gr Comb destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, designado a partir 11Jan65 por Sector L1, sediado, à época, em Fá Mandinga, sob o comando do Tenente-Coronel Mário Serra Dias da Costa Campos.

Em 16 de Abril de 1965, a CCAÇ 508 foi substituída pela CCAV 678, sendo deslocada para o Xime, tendo assumido a responsabilidade do respectivo subsector, criado nessa data, com grupos de combate destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.

Em 6 de Agosto de 1965, após a chegada da CCAÇ 1439 para treino operacional, a CCAÇ 508 foi rendida no subsector do Xime por forças da CCAV 678, recolhendo imediatamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso ao Continente, após dois anos de comissão, onde contabilizou uma dezena de baixas.

A viagem de regresso iniciou-se a 7Ago1965, sábado, a bordo do vapor «Alfredo da Silva», com a chegada ao cais de Alcântara, Lisboa, a ter lugar sete dias depois.


3. A MORTE DO CAPITÃO FRANCISCO MEIRELLES EM 03JUN1965 – DESCRIÇÃO DE ALGUNS FACTOS E DO SEU AMBIENTE

Nas duas partes já postadas – P19597 e P19613 – procedemos à descrição possível dos factos relacionados com a morte do Cmdt [o 2.º] da CCAÇ 508 – capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (1938-1965), tendo para o efeito utilizado, como principal fonte de pesquisa, o livro publicado em sua memória pela sua família (pp 8-11).


Foto 4 > Guiné > Região de Bafatá > Xime >A  Ponta Varela >  CCAÇ 508 (1963 / 65) > 3 de Junho de 1965 >Momento antes da explosão com o Cap Francisco Meirelles em primeiro plano [foto gentilmente cedida pelo Cor Morais da Silva].


3.1. SÌNTESE DO JÁ PUBLICADO (*)

Em 3 de Junho de 1965, 5.ª feira, foi o capitão Francisco Meirelles, Cmdt da CCAÇ 508 desde Jul1964, incumbido de mostrar aos operadores da RTP como se fazia a detecção de minas, muito frequentes naquela zona [Xime-Ponta Varela], pois em menos de três meses tinham sido levantadas mais de 40. 

Perto do meio-dia, a umas centenas de metros da tabanca de Ponta Varela, rebentou repentinamente uma mina ("bailarina") dando origem à morte do capitão Francisco Meirelles e de mais três militares da CCAÇ 508. Os operadores da TV [RTP] Afonso Silva (operador) e Luís Miranda (realizador), que ficaram ilesos, começaram a filmar a cena poucos momentos após a explosão, havendo um documentário fotográfico da operação e das consequências do rebentamento.

Na madrugada de 4Jun65, os corpos foram levados para Bafatá, onde ficaram sepultados o 1.º cabo [José Maria dos Santos Corbacho] e os soldados [Domingos João de Oliveira Cardoso e Braima Turé, e onde um avião foi buscar o corpo do Capitão Meirelles.

Trazido para Bissau, ficou depositado na capela militar de Santa Luzia. No dia seguinte, pelas 10 horas, houve missa de corpo presente, rezada pelo Tenente-Capelão Padre Nazário, finda a qual o cortejo fúnebre dirigiu-se para a capelinha do cemitério onde o caixão permaneceu até ser removido para a Metrópole. Aqui chegou no vapor «Manuel Alfredo» na madrugada de 18 de Julho de 1965, precisamente quando se perfazia um ano depois da partida para a Guiné" (Op. cit. pp. 10-11).


4. NA BUSCA DE IMAGENS CAPTADAS PELOS REPÓRTERES DA RTP

Influenciado pela descrição produzida no parágrafo "com um sangue-frio impressionante, os operadores da TV Afonso Silva e Luís Miranda, que ficaram ilesos, começaram a filmar a cena, poucos momentos após a explosão, havendo assim, além das testemunhas sobreviventes, um documentário fotográfico da operação e das consequências do rebentamento", segui em frente na busca dessas imagens, na medida em que soube que parte dessa reportagem filmada fora transmitida pela RTP, em 16 de Setembro desse ano.

Assim, em 29 de Novembro de 2018, procedi a um primeiro contacto com a Radiotelevisão Portuguesa no sentido de saber da possibilidade de ter acesso a tais imagens. Decorridos quatro dias recebi a confirmação de que tinham localizado as imagens referenciadas, solicitando a indicação sobre o destino a dar às mesmas, a fim de me enviarem o competente orçamento relativo a este serviço.

Nesse mesmo dia, pelas 23h15, seguia a competente resposta, merecendo relevância o fundamento que levou à criação, em 23Abr2004, do blogue da «Tabanca Grande», constituído por ex-combatentes tendo por objectivo supremo a reconstrução do puzzle da memória da guerra colonial na Guiné. Através da partilha de testemunhos na primeira pessoa, quer escritos quer em imagens, foi possível construir um espólio riquíssimo que, pelo seu valor histórico, cívico, pedagógico e sociocultural, continua/continuará disponível a todos aqueles que queiram conhecer, compreender e aprofundar, o que foram os "Anos da Guerra do Ultramar" (1961-1974), como provam os mais de onze milhões de visualizações/visitas.

Porque a narrativa com fins didáticos, e não comerciais, estava relacionada com a morte do Capitão Francisco Meirelles, verificada em 03Jun1965, na Ponta Varela (Xime), nada mais natural seria poder contar com algumas imagens dessa fatídica ocorrência onde, quis o destino, se encontrava, em "serviço público", uma equipa da RTP.

Segue-se, para conhecimento do fórum, os conteúdos dos últimos contactos estabelecidos entre nós.


4.4. A RESPOSTA DO ARQUIVO DA RTP

Em 04Dez2018, 3.ª feira, pelas 13h57, recebi o seguinte e-mail:

Exmo. Senhor

Jorge Araújo

As Relações Institucionais e Arquivo da RTP agradece o seu contacto e terá todo o gosto em prestar o serviço solicitado, de acordo com a tabela de preços em vigor na RTP. Passamos a informar que para a aquisição de imagens da RTP, para os fins referidos no seu e-mail, o orçamento é o seguinte:

Orçamento Indicativo para utilização na Internet

- Imagens / por minuto: 400,00 Euros

- Pesquisa / por hora: 30,00 Euros

- Visionamento / hora: 50,00 Euros

- Transcrição / por hora: 100,00 Euros

Valores acrescidos de 22% de IVA

Mais se informa que as imagens serão cedidas em formato Mp4 (H264 a 4Mbit/s) e as mesmas serão enviadas por Dropbox.

Este orçamento é para utilização das imagens na Internet em vários países por um período de 3 Anos, ilimitado.

(As imagens serão cedidas com logo, e as condições especiais de licenciamento serão enviadas posteriormente).

Solicitamos, entretanto, que nos sejam comunicados, por escrito, a aceitação deste orçamento e das condições, assim como nos envie os seus contactos e respetivo NIF, para podermos dar seguimento ao processo.

O Visionamento será agendado em dia e hora a acordar para poder selecionar as imagens pretendidas.

4.5. A RESPOSTA ENVIADA AO ARQUIVO DA RTP

Em 06Dez2018, 5.ª feira, pelas 10h56, respondi o seguinte:

Obrigado pelo seu contacto.

Em resposta, solicito melhor esclarecimento sobre o(s) procedimento(s) a tomar, particularmente quanto ao significado dos quatro conceitos constantes no orçamento: imagens, pesquisa, visionamento e transcrição.

Grato pela atenção.

Com os melhores cumprimentos.

Jorge Araújo

4.6 . A RESPOSTA DO ARQUIVO DA RTP

Em 07Dez2018, 6.ª feira, pelas 15h09, enviou o seguinte e-mail:

Exmo. Senhor

Jorge Araújo

Serve o presente para enviar a pesquisa.

Passamos a informar que o programa têm cerca de 31m de duração, cada minuto adquirido o valor das Imagens é de 400,00 Euros, se pretender visionar para selecionar as imagens o valor do Visionamento é de 50,00 por cada hora, a Pesquisa é a localização das imagens por parte dos nossos documentalistas, 30,00 Euros por cada hora, por último a Transcrição é a passagem do original para o envio por Dropbox, 100,00 Euros por cada hora.

No entanto continuamos à sua disposição.

Em anexo, recebi a "Lista de Conteúdos", referente ao programa de 17-09-1965, com o título «Missão na Guiné», conforme se pode observar na imagem a seguir.




Resumo Sintético:

Programa sobre a intervenção das Forças Armadas na Guiné, que neste episódio se dedica aos fuzileiros navais.

Resumo Analítico:

Lisboa; jovens voluntários embarcam no cais em direcção ao Centro de Recrutamento de Fuzileiros; exames médicos; distribuição de fardamento; treino de exercícios de combate; Bissau; embarque de fuzileiros a fim de realizarem uma operação designada "Golpe de Mão"; barcos de patrulha e lanchas; desembarque; efectuam reconhecimento da zona; navios abrem fogo onde o inimigo está instalado; aviação faz a cobertura aérea; fuzileiros desembarcam na margem de um rio, embrenhando-se na mata; recolha do corpo de um fuzileiro atingido mortalmente em combate; acampamento inimigo destruído; regresso às lanchas após ter sido atingido o objectivo; soldados tomam banho com uma mangueira; desfile militar na Unidade de Bissau.


4.7. A RESPOSTA ENVIADA AO ARQUIVO DA RTP [A ÚLTIMA]


Em 09Dez2018, domingo, pelas 17h50, respondi o seguinte:


Obrigado, uma vez mais, pelo seu contacto.

Em sua resposta, e se entendi bem os seus esclarecimentos, o orçamento apresentado é constituído por quatro parcelas que, no final, corresponderá à soma do que se observar em cada uma delas. Será assim?

A ser verdade, não me é possível suportar os seus valores uma vez que o que fazem os membros (ex-combatentes) do blogue, para o qual continuam a escrever, é darem o seu contributo para a reconstituição das memórias: individuais e colectivas dessa guerra, como já referi anteriormente. 

Acresce a esse objectivo um outro que nos é muito querido: o de prestar a toda a comunidade/sociedade um verdadeiro "Serviço Público", disponibilizando o nosso vasto espólio historiográfico, escrito e imagens, onde as actuais e futuras gerações poderão recorrer para melhor compreenderem o passado vivido pelos seus familiares, em particular aqueles que lutaram pela Pátria, palavra-chave de então, mas que nem todos regressaram, infelizmente, por nela terem tombado nos combates.

Na impossibilidade de utilizar as imagens da RTP, neste meu trabalho de pesquisa, referentes ao capitão Francisco Meirelles, não deixarei de fazer referência à sua existência nos arquivos cinematográficos da Estação Publica, lamentando esse impedimento por razões económicas.

Com os melhores cumprimentos.
Jorge Araújo.

E que mais? ... Ficámos/ficamos por aqui.

Em função do acima exposto, lamento não ter tido sucesso nos contactos com a RTP de modo a concretizar os objectivos a que me propus no aprofundamento desta investigação. Tal facto ficou a dever-se, como constataram, à política de gestão dos "recursos audiovisuais", neste caso, da Guerra do Ultramar, em vigor na Televisão Pública, na qual participaram centenas de milhares de cidadãos portugueses nos três TO.

Haja esperança, pois ainda acredito que alguém de bom senso, e com responsabilidades na nossa RTP, após ler esta narrativa ou dela ter conhecimento, tome a decisão de connosco colaborar, prestando, tal como nós, um verdadeiro "serviço público".

Aguardemos!

Continua…


Fontes consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); p195.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002); p321.

Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (s/d). Braga. Editora Pax.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

26Mar2019.
___________

Nota do editor:

Vd. postes de

23 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19613: (De)Caras (102): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte II (Jorge Araújo)

18 de maro de 2019 > Guiné 61/74 - P19597: (De)Caras (101): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte I (Jorge Araújo)

sábado, 23 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19613: (De)Caras (125): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte II (Jorge Araújo)


Foto 5 - Xime (1965) > A última foto do Capitão Francisco Meirelles na Guiné.



Foto 4 – Bissau (Ago1965). – Desfile militar da CCAÇ 508, que antecedeu o seu regresso ao continente. [Foto do álbum de Cândido Paredes,  no sítio Lugar do Real, com a devida vénia]. 


Foto 3 – Bissorã (1964). – Cândido Paredes (o 1.º da esquerda) na companhia de camaradas da CCAÇ 508 e jovens junto a uma tabanca de Bissorã. [Foto do álbum do próprio, disponível no sítio Lugar do Real, com a devida vénia] 




Foto 2 – Bissorã (1964). – Duas dezenas de militares da CCAÇ 508, em Bissorã, em pose para a fotografia. [Foto do álbum de Cândido Paredes (sentado no tejadilho do camião), com a devida vénia). In: http://lugardoreal.com/imaxe/candido-paredes-e-camaradas-15.



Foto 1 – Lisboa, Cais da Rocha - 14Jul1963. – Militares da CCAÇ 508 preparando-se para zarpar no cargueiro «Sofala» com destino a Bissau (Guiné). [Foto do álbum de Cândido Paredes, natural de Favaios, Vila Real (o 3.º da direita), Soldado Auto Rodas da Unidade que esteve em dez locais diferentes durante a comissão ultramarina, com a devida vénia, Lugar do Real].




Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018



A COMPANHIA DE CAÇADORES 508 (1963-1965) E A MORTE DO SEU CMDT CAP INF FRANCISCO MEIRELLES EM 03JUN1965 NA PONTA VARELA: A ÚNICA BAIXA EM COMBATE DE UM CAPITÃO NO XIME (PARTE II)


1. INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao publicado na Parte I do tema em título – P19597 (*) – os conteúdos deste segundo texto foram organizados seguindo a mesma metodologia, com a divisão em dois pontos.

No primeiro, recuperaram-se mais alguns registos avulsos, reforçados com imagens, da história colectiva da Companhia de Caçadores 508 [CCAÇ 508] durante a sua presença no CTIG, entre 20Jul1963, chegada a Bissau, e 07Ago1965, data do embarque de regresso à metrópole, na medida em que no livro da CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974], 7.º Volume, Fichas das Unidades, não existem registos.

No ponto seguinte, continuaremos a descrever (citar) o que
de mais relevante retirámos das narrativas publicadas no livro [capa ao lado] elaborado em memória do capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (1938-1965) pela sua família, e cuja morte ocorreu por efeito do rebentamento de uma mina antipessoal accionada em Ponta Varela, Xime, no dia 3 de Junho de 1965, 5.ª feira.


2. SUBSÍDIOS HISTÓRICOS DA COMPANHIA DE CAÇADORES 508 (BISSORÃ, BARRO, BIGENE,  OLOSSATO, BISSAU, QUINHAMEL, BAMBADINCA,  GALOMARO, PONTA DO INGLÊS E XIME, 1963-1965)

2.1 A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIG

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria 7 [RI 7], de Leiria, a CCAÇ 508 embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, em 14 de Julho de 1963, domingo, sob o comando do Cap João Henriques de Almeida (de acordo com a informação do camarada Manuel Bernardo), seguindo viagem a bordo do cargueiro "Sofala" rumo à Guiné (Bissau), onde chegou a 20 do mesmo mês, sábado.

Como curiosidade, dá-se conta que este «Sofala», comprado pela CNN [Companhia Nacional de Navegação] em Maio de 1943, em Moçambique, onde se tinha refugiado no início da segunda guerra mundial, correspondia ao antigo cargueiro alemão «Aller». [In: http://lmcshipsandthesea.blogspot.com/2011/08/o-cargueiro-sofala-de-1973.html].


2.2. SÍNTESE OPERACIONAL

Na historiografia do contingente da CCAÇ 508 estão contabilizadas, durante a sua comissão de dois anos no CTIG (1963-1965), importantes missões em dez locais diferentes, a saber: Bissorã - Barro - Bigene - Olossato - Bissau - Quinhamel - Bambadinca - Galomaro - Ponta do Inglês e Xime.

A primeira foi iniciada com a atribuição da responsabilidade pelo subsector de Bissorã, verificada entre 01 de Agosto de 1963 e 04 de Setembro de 1964 (treze meses). Nesta última data, seria substituída pela CART 643, do antecedente ali colocada em reforço, seguindo para o sector de Bissau, a fim de se integrar no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, com um grupo de combate [pelotão] destacado em Quinhamel, ficando na dependência do BCAÇ 600. Aí permaneceu durante mais cinco meses.

No início de Março de 1965, com dezoito meses já contabilizados, foi atribuída à CCAÇ 508 uma nova missão em zona operacional, sendo transferida, por fracções, para Bambadinca, onde o seu comando ficou instalado, assumindo, então, a responsabilidade do respectivo subsector, com grupos de combate [pelotões] destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, designado, a partir de 11 de Janeiro de 1965, por Sector L1, sediado, à época, em Fá Mandinga, sob o comando do Tenente-Coronel Mário Serra Dias da Costa Campos.

Em 16 de Abril de 1965, a CCAÇ 508 foi substituída pela CCAV 678, sendo deslocada para o Xime, tendo assumido a responsabilidade do respectivo subsector, criado nessa data, com grupos de combate destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.

Em 06 de Agosto de 1965, após a chegada da CCAÇ 1439 para treino operacional, a CCAÇ 508 foi rendida no subsector do Xime por forças da CCAV 678, recolhendo imediatamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso ao Continente, após dois anos de comissão, onde contabilizou uma dezena de baixas.

A viagem de regresso iniciou-se a 07 de Agosto de 1965, sábado, a bordo do vapor «Alfredo da Silva», com a chegada ao cais de Alcântara, Lisboa, a ter lugar no dia 14 do mesmo mês, sábado.


3.  A MORTE DO CAPITÃO FRANCISCO MEIRELLES EM 03JUN1965 – DESCRIÇÃO DE ALGUNS FACTOS E DO SEU AMBIENTE



A primeira parte relativa à descrição de factos relacionados com a morte do Cmdt [o 2.º] da CCAÇ 508 – capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (1938-1965) – está narrada no P19597 (*), como referido na introdução. O livro publicado em sua memória, também citado acima, foi a principal fonte de pesquisa para a elaboração deste trabalho. Deste modo, os detalhes e as afirmações aqui reproduzidas, neste ponto, correspondem ao conteúdo transcrito no louvor que recebeu do Brigadeiro Sá Carneiro, por proposta do Tenente-Coronel Costa Campos, Cmdt do BCAÇ 697, e narrado no referido livro, pp9-11.


3.1. SÍNTESE DA PRIMEIRA PARTE



Em 3 de Junho de 1965, 5.ª feira, foi o capitão Francisco Meirelles, então Cmdt da CCAÇ 508, incumbido de mostrar aos operadores da RTP como se fazia a detecção de minas, muito frequentes naquela zona [Xime-Ponta Varela], pois em menos de três meses tinham sido levantadas mais de 40.

Perto do meio-dia, a umas centenas de metros da tabanca de Ponta Varela, rebentou repentinamente uma mina antipessoal que tudo levou a crer ter sido armadilhada depois da primeira passagem pelo local ou então comandada à distância, dando origem à morte do capitão Francisco Meirelles e de mais três militares da CCAÇ 508. Os operadores da TV [RTP] Afonso Silva e Luís Miranda, que ficaram ilesos, com um sangue-frio impressionante, começaram a filmar a cena poucos momentos após a explosão de que resultou a morte do capitão Francisco Meirelles e de mais três elementos da sua Unidade, havendo assim, além das testemunhas sobreviventes, um documentário fotográfico da operação e das consequências do rebentamento. […] Op.cit. pp10-11.

3.2. O QUE SE SEGUIU…

Em função da ocorrência acima referida, as forças que tinham ficado a fazer segurança ao longo do percurso de imediato acorreram ao local.

"Entre elas, vinha o Tenente-Capelão militar, sacerdote salesiano, Padre Nazário Domingos de Carvalho, que, apesar do risco, ainda pôde acompanhar os últimos momentos do Capitão Meirelles e prestar-lhe os socorros espirituais e aos restantes mortos e feridos. O Capitão Meirelles que jorrava sangue de uma ferida sobre o coração faleceu exangue, sem ter recobrado o conhecimento.

Como as viaturas estavam a alguns quilómetros de distância, os feridos foram evacuados a pé e ao dorso, ficando no local uma secção a guardar os mortos. Passados minutos, foi atacada a tiro pelo IN, pelo que teve que defender-se, não havendo felizmente a lamentar novas vítimas. Algum tempo depois foram os mortos retirados para o Xime, onde os soldados da Companhia [CCAÇ 508] mostraram bem a dor que os invadiu pela perda do seu Capitão.

Na madrugada de 4 [Jun65], os corpos, acompanhados por quase toda a Companhia, foram levados para Bafatá, onde ficaram sepultados o 1.º cabo [José Maria dos Santos Corbacho] e os soldados [Domingos João de Oliveira Cardoso e Braima Turé (tio, por afinidade, do nosso amigo e gã-tabanqueiro, José Carlos Mussá Biai)], e onde um avião foi buscar o corpo do Capitão Meirelles.

Trazido para Bissau, ficou depositado na capela militar de Santa Luzia, sendo velado por camaradas, civis e por muitas senhoras de Bissau, entre elas as Senhoras D. Beatriz de Sá Carneiro e D. Ana Maria de Magalhães Castelo Branco, esposas, respectivamente, do Comandante do C.T.I. da Guiné e do Chefe do Estado-Maior do Comando.

Em 5 de Junho de 1965, pelas 10 horas, houve missa de corpo presente, rezada pelo Tenente-Capelão Padre Nazário, finda a qual o cortejo fúnebre, com grande acompanhamento e com a assistência do Senhor Brigadeiro Sá Carneiro, dirigiu-se para a capelinha do cemitério onde o caixão permaneceu até ser removido para a Metrópole. Aqui chegou no vapor «Manuel Alfredo» na madrugada de 18 de Julho de 1965, precisamente quando se perfazia um ano depois da partida para a Guiné". (Op. cit. pp10-11) […]


4. NA BUSCA DE IMAGENS CAPTADAS PELOS REPÓRTERES DA RTP



Influenciado pela descrição produzida no parágrafo "com um sangue-frio impressionante, os operadores da TV Afonso Silva e Luís Miranda, que ficaram ilesos, começaram a filmar a cena, poucos momentos após a explosão, havendo assim, além das testemunhas sobreviventes, um documentário fotográfico da operação e das consequências do rebentamento", segui em frente na busca dessas imagens, na medida em que soube que parte dessa reportagem filmada foi transmitida pela RTP, em 16 de Setembro desse ano, precedidas por uma intervenção de Pedro Moutinho.

4.1. O PRIMEIRO CONTACTO COM A RTP

Em 29Nov2018, 5.ª feira, pelas 15h40, enviei o seguinte e-mail:

Na qualidade de ex-combatente na Guiné, gostaria de saber da possibilidade de obter imagens relacionadas com a morte do capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles, ocorrida em 3 de Junho de 1965, na Ponta Varela (Xime), transmitidas em 16 de Setembro de 1965, e captadas pelos operadores de TV Afonso Silva e Luís Miranda.

Antecipadamente grato.

Com os melhores cumprimentos,

Jorge Araújo.


4.2. A RESPOSTA DO ARQUIVO RTP


Em 03Dez2018, 2.ª feira, pelas 14h37, recebi a seguinte resposta:


Exmo. senhor
Jorge Araújo

Acusamos a receção do seu e-mail de 29 de Novembro, o qual mereceu da nossa parte a melhor atenção.

Serve o presente para informar que já localizamos em Arquivo as imagens pretendidas, as mesmas têm cerca de 31m 16s de duração.

Agradecemos que nos informe o fim a que se destinam as imagens, para lhe podermos enviar o orçamento definitivo.

Ficamos a aguardar o seu contacto.



4.3. A RESPOSTA ENVIADA AO ARQUIVO DA RTP


Em 03Dez2018, 2.ª feira, pelas 23h15, enviei a seguinte resposta:

Antes de mais, agradeço, sensibilizado, as informações supra.

Quanto aos fins a que se destinam as imagens, elas pretendem reforçar/confirmar a narrativa que estou em fase final de concluir na qualidade de coeditor de um blogue de ex-combatentes, espaço de partilha colectivo criado com o objectivo de ajudar os antigos combatentes a reconstruir o puzzle da memória da guerra colonial na Guiné. Tem uma dimensão histórica, cívica, pedagógica e sociocultural, com testemunhos na primeira pessoa, quer escritos quer em imagens, e que na sua pluralidade, são um espólio disponível, e riquíssimo, para todos aqueles que queiram conhecer, compreender e aprofundar, o que foram os "Anos da Guerra do Ultramar" (1961-1974).

Iniciado em 23 de Abril de 2004, o blogue «blogueforanadaevaotres.blogspot.com» ou, simplesmente, «Luis Graca & Camaradas da Guine», é considerada a maior rede social na net, em português, centrada na experiência desta guerra. Com uma existência de mais de catorze anos, regista já uma cifra de onze milhões de visualizações/visitas.

E a narrativa está relacionada, como deixei expresso no primeiro contacto, com a morte do Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles ocorrida em 3 de Junho de 1965, na Ponta Varela (Xime), local mítico e fatídico da guerra, com baixas de ambos os lados, e onde, também eu, vivi e sobrevivi a grandes emoções/tensões nos diferentes combates que aí travei/travámos com os guerrilheiros do PAIGC.

Acresce dizer, neste contexto, que possuo o livro com o nome do "Capitão Francisco Meirelles", composto e impresso na Livraria-Editora Pax, Rua do Souto, 73/77, Braga, s/data, e que serviu, justamente, de base à elaboração do texto. Este, após, a sua conclusão, será editado no blogue supra.

Eis, pois, a justificação dos fins a que se destinam as imagens da RTP.

Antecipadamente grato pela atenção dispensada, sou,

Com os melhores cumprimentos,

Jorge Araújo.

Continua…
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Fontes consultadas:

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); p195.

Ø Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002); p321.

Ø Capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles (s/d). Braga. Editora Pax.

Ø Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

19MAR2019.

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