1. Morre aos 38 anos, Nuno Felício, natural de Coimbra, jornalista, filho do Rui Felício, membro da nossa Tabanca Grande desde a primeira hora:
O jornalista Nuno Felício, de 38 anos, natural de Coimbra, subeditor do turno da tarde da Antena 1, terá morrido no domingo, durante o sono, mas o seu corpo apenas foi descoberto hoje, soube o Expresso.
Nuno Felício, que no passado jogara basquete continuava a praticar desporto, desta feita corrida, e estava a preparara-se para ir fazer uma minimaratona. No sábado de manhã foi correr com uns amigos, voltou para casa e partir daí já ninguém mais o viu.
A falta de resposta aos telefonemas efetuados, ao longo de domingo, pela namorada e pela família levaram-nas a desconfiar de que algo se passava. Hoje, acabariam por descobrir o cadáver, dando a ideia de que Nuno Felício terá perdido a vida enquanto dormia.Nuno Felício fazia parte da equipa da RDP há seis anos, a última vez que se fez ouvir aos microfones foi na síntese de notícias das 18h30 de sexta-feira.
Licenciado em Jornalismo pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, apesar de ser da rádio, o jornalista gostava de escrever e por isso alimentava alguns blogues.
Anabela Natário
Fonte: Expresso, 18/2/2013 (Reproduzido com a devida vénia....)
[O jornal universitário de Coimbra,
A Cabra.net, fez-lhe, em 20 do corrente, um justíssima homenagem]
2. Texto do inconsolável pai, Rui Felício,
na sua página no Facebook [, foto atual à esquerda]:
Domingo, 24 de fevereiro de 2013, perto de Lisboa
INJUSTIÇA E DOR
Sentado à lareira, contemplo as brasas incandescentes, o crepitar dos troncos, as labaredas a lamber as paredes de tijolo.
Discorro sobre a justiça. Não sobre aquela que os humanos desenharam e construiram que é composta pela dialética, pelas provas e contraprovas, pelos argumentos e pelos formalismos em que, queremos acreditar, na nossa presunção e na nossa ignorância, hão-de conduzir ao apuramento da verdade. E ao consequente castigo dos culpados.
Não, não é sobre essa que me questiono! Porque sabemos que essa justiça, na sua génese, padece do pecado original da imperfeição humana. A justiça em que penso é outra, é a ideal, é aquela em que a infalibilidade deveria imperar, indicando-nos as causas e as razões das coisas.
É um raciocinio feito ao contrário, aquele que desenvolvo. Em que parto do castigo já aplicao para perceber a sua razão de ser, para conhecer os factos que a ele conduziram. Sem respostas, pergunto, choro, grito revoltado, olho retrospectivamente os acontecimentos, procuro neles um fio condutor, uma lógica. Mas nada!
Sinto-me impotente para entender o que me sucedeu. Disponho-me a assumir as minhas culpas se as houve. Sujeito-me à punição mais severa, em troca desta que me foi dada sem qualquer explicação, sem nenhuma acusação sequer. Abdico até da minha defesa se necessário for.
Mas imploro a misericórdia da substituição da minha pena! Que impiedoso universo é este que pune sem julgar? Que deplorável justiça é esta que, sem a menor explicação, me levou o meu filho na idade dos sonhos?
Rui Felicio
3. Comentário do editor Luis Graça, em nome de toda a Tabanca Grande:
Rui, só hoje soube da trágica notícia da morte do teu filho. É devastador para um pai e para uma mãe. É uma dor tão grande que tem de ser partilhada por todos os teus amigos. ATabanca Grande e os teus camaradas da Guiné estão contigo e com a tua família neste momento duríssimo das vossas vidas. Permite-me que faça este singelo poste In Memoriam ao teu Nuno. Não o conhecia. Mas os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são. Um grande Alfa Bravo. Luís Graça
4. Mensagem do Rui Felício a todos os amigos que estiveram com ele neste momento de grande dor e solidão:
AGRADECIMENTO
Na impossibilidade prática de o fazermos pessoal e individualmente como desejariamos, a minha familia e eu vimos manifestar por este meio a todos aqueles que nos acompanharam na dor imensa que sobre nós se abateu, a nossa eterna gratidão pela solidariedade, conforto e apoio recebidos e que nos ajudaram a suavizar o atroz sofrimento que nos aperta o coração.
Familiares e amigos nossos percorreram, alguns deles, longas distâncias para estarem presentes na despedida do Nuno. Desde África. Desde vários países da Europa. Desde muitas terras do nosso País. Desde Coimbra, onde o Nuno estudou e tinha as suas raízes familiares. E, claro, desde Lisboa onde muitos residem.
As lágrimas contínuas da sua namorada inconsolável, as lágrimas que rolavam dos olhos dos seus colegas e dos seus amigos, a maioria dos quais nós nem sequer conheciamos, faziam soltar as nossas de forma incontrolável, pela genuina verdade de uma amizade que ignorávamos ou cuja pujança e plenitude desconheciamos, e impressionaram-nos profundamente.
Ficámos a saber, porque tal era visível e evidente, que não estavam ali presentes por mero circunstancialismo mas sim pela profunda amizade e consideração que por ele nutriam. A disponibilidade de todos os seus colegas e quadros da RDP para nos ajudarem no que fosse preciso foi uma atitude espontânea que muito nos sensibilizou e que jamais esqueceremos.
Finalmente, que nos seja permitida uma referência especial ao brilhante improviso do elogio fúnebre pronunciado por Daniel Belo que a todos comoveu e que a nós calou fundo nos nossos corações. Em si mesmo, traduziu e demonstrou de forma eloquente e cabal, a verdadeira família que é o conjunto dos profissionais da rádio e televisão públicas.
Já nos orgulhávamos da personalidade do Nuno caracterizada pela sua simplicidade e aversão a protagonismos.A sua perda não nos sobreleva a dor que será eterna, mas esse orgulho, por vossa causa, é agora ainda maior.
Um forte abraço aos colegas e amigos no nosso querido Nuno cujos testemunhos nos confortaram e confirmaram as qualidades intrinsecas da sua simples e dedicada vivência, forjada e moldada pelo amor, pelos sãos critérios e pelo bom senso.
Obrigado a todos!
Rui Felicio
com,
Rosantina Felicio
e com,
Alina Lagoas
Montemor-o-Novo > Ameira > Herdade da Ameira > Restaurante Café do Monte > 14 de Outubro de 2006 > I Encontro Nacional da Tabanca Grande > Da esquerda para a direita: Rui Felício, Maria Alice Carneiro (esposa do Luís Graça), António Pimentel (que veio propositadamente do norte, com o Hernâni Figueiredo), o Victor David e a esposa e, por detrás, o Paulo Raposo, o nosso amável anfitrião. O Rui, o Victor e o Paulo foram alf mil at inf da CCAÇ 2405 (Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70)....
O "reencontro de uma geração valorosa", escreveu o Rui...
Foto: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.
__________
Nota do editor:
Útimo poste da série > 19 de fevereiro de 2013 >
Guiné 63/74 - P11116: In Memoriam (140): Major General Jaime Neves, falecido no Hospital Militar Principal de Lisboa em 27 de Janeiro de 2013 (José Martins)