Victor David (1944- 2024)
O Victor e a esposa. Cortesia da página do Facebook.
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Montemor-o-Novo > Ameira > Herdade da Ameira > Restaurante Café do Monte > 14 de Outubro de 2006 > Da esquerda para a direita: Rui Felício, Alice Carneiro (esposa do Luís Graça), António Pimentel (que veio propositadamente do norte, com o Hernâni Figueiredo), o Victor David e a esposa e, por detrás, o Paulo Raposo, o nosso amável anfitrião e um dos organizadores do Encontro.
Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Soube, ontem pelo seu amigo e camarada de armas Paulo Raposo: morreu, no passado dia 25 de abril de 2024, o Victor Fernando Franco David, ex-alf mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, "Os Baixinhos de Dulombi" (Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70). Confirmámos a notícia na própria página do Facebook do Victor David.
Era um dos "históricos" do nosso blogue, para o qual entrou em 16/3/2006 (*). Conhecemo-nos pessoalmente em Coimbra (creio que pela mão do saudoso Carlos Marques dos Santos) e estivemos juntos (eu, o David, o Carlos, o Rui Felício, o Paulo Raposo, o Pimentel e outros) no I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-O-Novo, em 14 de outubro de 2006 (**).
Tem escassas referèncias no nosso blogue. Os alferes da sua companhia ("Os Baixinhos de Dulombi", ele, o Paulo Raposo, o Rui Felício e o Jorge Rijo, faziam/fazem todos parte da nossa Tabanca Grande.
2. Sabíamos, sobre o Victor David, o seguinte;
(*) Vd, poste de 16 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P615: Tabanca Grande: Victor David, ex-Alf Mil da CCAÇ 2405 (Dulombi, 1968/70)
(**) Vd. poste de 16 de outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1181: Ameira: o (re)encontro de uma geração valorosa (Rui Felício)
2. Sabíamos, sobre o Victor David, o seguinte;
(i) era natural de (e vivia em) Coimbra;
(ii) andou no Liceu D. João III
(iii) licenciou-se em Germanicas em Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - FLUC
(iv) era casado e tinha uma filha;
(v) aderiu ao Facebook em agosto de 2011
3. Sobre o seu Curriculum Vitae militar, o Victor David escreveu em 2006 este bem humorado apontamento (*):
(...) Resenha da minha actividade de militar como "voluntário à força":
(...) "Tive um imenso prazer em conhecer-te e espero que me autorizes a entrar de quando em vez no Blogue.
"Parabéns pela iniciativa e dentro em breve contactarei com camaradas da minha companhia – a dos 'baixinhos do Dulombi', a CCAÇ 2405, para que eles também possam dar a sua achega a tão excelente ideia..
"Para já deixo-te as minhas coordenadas na Internet (...)"
(iv) era casado e tinha uma filha;
(v) aderiu ao Facebook em agosto de 2011
3. Sobre o seu Curriculum Vitae militar, o Victor David escreveu em 2006 este bem humorado apontamento (*):
(...) Resenha da minha actividade de militar como "voluntário à força":
- Incorporado em Mafra, na Escola Prática de Infantaria, como recruta em 10 de abril de 1967;
- Especialidade tirada em Mafra: atirador de infantaria;
- Promovido a Aspirante Miliciano em 25 de Setembro de 1967, fui colocado em Abrantes, no Regimento de Infantaria nº 2 (RI2);
- Primeiro trabalho no RI2 : organizar a biblioteca do Quartel!
- Dei uma recruta ainda em Abrantes até ser mobilizado;
- Em Jan de 1968, curso de Rangers em Lamego. (Nota: reprovei, mas não fui despromovido porque já era Aspirante!)
- Formámos depois Batalhão [BCAÇ 2852], em Santa Margarida e embarcámos para a Guiné em julho de 1968, no N/M Uíge;
- Chegada a Bissau em 30 de Julho de 1968;
- Treino operacional em Mansoa, no chão balanta;
- Ao fim de cinco meses, a CCAÇ 2405 é colocada na zona leste, no chão fula, em Galomaro, onde provisoriamente nos instalámos - num antigo celeiro - até sermos deslocados para Dulombi, onde construimos o Quartel onde nada existia! (até parecia que eramos de Engenharia...);
- Regresso a Portugal em 28 de Maio de 1970;
- Peluda em 29 de Junho de 1970;
- Importantíssimo(!): promovido na disponibilidade a ten lil em 1 de Dezembro de 1970! Quase chegava a General!!! (...)
Acrescentamos nós:
- A CCAÇ 2405 participou, entre outras, na Op Mabecos Bravios (fevereiro de 1969) (retirada de Madina do Boé) (onde perdeu 19 homens na atravessia do Corubal, e a CCAÇ 1790 perdeu 26);
- Particpou também na Op Lança Afiada (março de 1969):
- Era a unidade de quadrícula de Galomaro (e Dulombi)(vd. carta de Duas Fontes);
- Até Julho de 1969 Galamaro fazia parte do Sector L1 (BCAÇ 2852, Bambadinca); em Agosto de 1969, a ZA (Zona de Acção) da CCAÇ 2405 passou a constituir o COP 7, criando-se em outubro seguinte o Sector L5, sob a responsabilidadew do BCAÇ 2851 e formado pelas ZA das CCAÇ 2405 (Galomaro) e 2406 (Saltinho).
4. Em 8 de fevereiro de 2006, escreveu-me o seguinte:
(...) "Tive um imenso prazer em conhecer-te e espero que me autorizes a entrar de quando em vez no Blogue.
"Parabéns pela iniciativa e dentro em breve contactarei com camaradas da minha companhia – a dos 'baixinhos do Dulombi', a CCAÇ 2405, para que eles também possam dar a sua achega a tão excelente ideia..
"Para já deixo-te as minhas coordenadas na Internet (...)"
5. Sobre o convite que lhe endereçámos, muitos anos depois, para participar no XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, 2019, escreveu-nos o seguinte, 8 mai 2019, 1:04 (***):
(...) Muito grato pelo convite mas, com muita pena minha, não poderei estar convosco nesse tão grande encontro, do qual já tenho muitas saudades, por duas razões principais:
1ª O encontro da minha Companhia, a 2405 ( Guiné 1968/1970) realiza-se nesse mesmo dia na Meda;
2ª Por razões pessoais e imponderáveis da data e por outros motivos que, felizmente não de saúde, não poderei acompanhar as duas tão boas realizações!
Assim sendo, peço que transmitas, a todos os presentes, os desejos sobretudo de muita saúde e felicidades .
Um grande abraço do 'Baixinho' do Dulombi, Victor Fernando Franco David
Nota : Espero poder estar no próximo encontro" (...)
(...) Muito grato pelo convite mas, com muita pena minha, não poderei estar convosco nesse tão grande encontro, do qual já tenho muitas saudades, por duas razões principais:
1ª O encontro da minha Companhia, a 2405 ( Guiné 1968/1970) realiza-se nesse mesmo dia na Meda;
2ª Por razões pessoais e imponderáveis da data e por outros motivos que, felizmente não de saúde, não poderei acompanhar as duas tão boas realizações!
Assim sendo, peço que transmitas, a todos os presentes, os desejos sobretudo de muita saúde e felicidades .
Um grande abraço do 'Baixinho' do Dulombi, Victor Fernando Franco David
Nota : Espero poder estar no próximo encontro" (...)
quarta-feira, 8 de maio de 2019 às 21:28:00 WEST
Infelizmente aquele foi o nosso último Encontro, antes da pandemia. A iniciativa ainda não foi retomada. Agora só no céu dos antigos combatentes poderemos voltarmo-nos a abraçar, querido David. À tua esposa, esposa, filha, demais família e aos "baixinhos de Dulombi", apresento, mesmo com este atraso de nove meses, os nossos votos de pesar pela tua perda. Ficarás aqui connosco, à sombra do nosso poilão, enquanto o barqueiro de Caronte não chamar pela nossa vez. (****)
______
Notas do editor:
Infelizmente aquele foi o nosso último Encontro, antes da pandemia. A iniciativa ainda não foi retomada. Agora só no céu dos antigos combatentes poderemos voltarmo-nos a abraçar, querido David. À tua esposa, esposa, filha, demais família e aos "baixinhos de Dulombi", apresento, mesmo com este atraso de nove meses, os nossos votos de pesar pela tua perda. Ficarás aqui connosco, à sombra do nosso poilão, enquanto o barqueiro de Caronte não chamar pela nossa vez. (****)
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Notas do editor:
(*) Vd, poste de 16 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P615: Tabanca Grande: Victor David, ex-Alf Mil da CCAÇ 2405 (Dulombi, 1968/70)
(**) Vd. poste de 16 de outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1181: Ameira: o (re)encontro de uma geração valorosa (Rui Felício)
(...) Mensagem do Rui Felício (ex-al mil, CCAÇ 2405, Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70), hoje economista e empresário, membro da nossa tertúlia e autor de algumas das mais saborosas estórias já aqui publicadas, reveladoras de um sentido muito especial de humor que nos ajudou a sobreviver e a manter-nos vivos e solidários, uma espécie de defesa mental contra o cacimbo, o clima, a guerra :
Meu Caro Luís Graça:
Como dizem os brasileiros, o meu testemunho é claramente chover no molhado... Na verdade, dizer que o belo dia de sábado, passado na agradável herdade do Raposo, foi uma jornada inesquecível, é repetir o que por certo todos já te terão dito.
Mas nem por isso devia deixar de o referir, para lembrar que o encontro da Ameira só foi possível, porque existe o blog que tu criaste e que, com tanto trabalho e mérito, vais gerindo, coordenando e engrandecendo.
Registei, das intervenções que alguns fizeram a seguir ao almoço, alguns aspectos que confirmaram aquilo que eu já pensava através da assídua leitura do que vais editando no blog, designadamente, o facto de a tertúlia se compor de variadas perspectivas e olhares, na análise e recordação da nossa passagem por terras da Guiné, em circunstâncias adversas de clima e da própria guerra.
Embora nem sempre coincidentes, são perspectivas cuja diversidade proporciona uma visão mais completa, segura e enriquecedora das memórias de todos nós. Bastaria ter ouvido, além de tantos outros, o Virgínio Briote, o Casimiro Carvalho, o Lema Santos [, o Pedro Lauret, o Tino Neves, o Paulo Santiago, o Carlos Santos] e, especialmente, o Vitor Junqueira, para comprovar o que acabei de dizer, isto é, a nossa geração fez a guerra de África segundo as suas próprias convicções, declaradamente contra ela, a favor dela ou conformada com ela, mas sem dúvida dando o melhor de si na defesa de princípios e sentimentos que pairam acima dos interesses ou conveniências individuais.
Sou dos que naquela época era contra a guerra, mas nunca confundi isso com o dever de a fazer o melhor e mais profissionalmente que me fosse possível, quanto mais não fosse para garantir aos soldados à minha responsabilidade o regresso a casa, sãos e salvos.
É por isso que não aceito que, passados tantos anos, algumas figuras proeminentes da nossa classe política actual venham hoje a público, não poucas vezes, arvorar-se em heróis, por terem tido a coragem de desertar, de fugir para o estrangeiro, criticando aqueles que como nós estiveram em África a combater.
Obviamente que isso não é coragem. Prefiro chamar-lhe comodismo, medo... Para não lhe chamar cobardia... Gostava de os ter visto na Ameira... Ficariam a conhecer homens cujo medo (que todos tínhamos... ) foi vencido pela coragem e pelo sentido de dever...
Um abraço, Rui Felício (...)
(***) 8 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19765: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (15): Mais camaradas e amigos/as que nos honram com a sua presença em Monte Real no dia 25, sábado: António Sampaio e Maria Clara (Matosinhos); António Joaquim Alves e Maria Celeste (Alenquer); Carlos Pinheiro (Torres Novas); Jorge Araújo e Maria João (Almada); Jorge Pinto e Ana (Sintra); Juvenal Amado (Amadora); Manuel Joaquim e José Manuel S. Cunté (Lisboa); e Paulo Santiago (Águeda)
Meu Caro Luís Graça:
Como dizem os brasileiros, o meu testemunho é claramente chover no molhado... Na verdade, dizer que o belo dia de sábado, passado na agradável herdade do Raposo, foi uma jornada inesquecível, é repetir o que por certo todos já te terão dito.
Mas nem por isso devia deixar de o referir, para lembrar que o encontro da Ameira só foi possível, porque existe o blog que tu criaste e que, com tanto trabalho e mérito, vais gerindo, coordenando e engrandecendo.
Registei, das intervenções que alguns fizeram a seguir ao almoço, alguns aspectos que confirmaram aquilo que eu já pensava através da assídua leitura do que vais editando no blog, designadamente, o facto de a tertúlia se compor de variadas perspectivas e olhares, na análise e recordação da nossa passagem por terras da Guiné, em circunstâncias adversas de clima e da própria guerra.
Embora nem sempre coincidentes, são perspectivas cuja diversidade proporciona uma visão mais completa, segura e enriquecedora das memórias de todos nós. Bastaria ter ouvido, além de tantos outros, o Virgínio Briote, o Casimiro Carvalho, o Lema Santos [, o Pedro Lauret, o Tino Neves, o Paulo Santiago, o Carlos Santos] e, especialmente, o Vitor Junqueira, para comprovar o que acabei de dizer, isto é, a nossa geração fez a guerra de África segundo as suas próprias convicções, declaradamente contra ela, a favor dela ou conformada com ela, mas sem dúvida dando o melhor de si na defesa de princípios e sentimentos que pairam acima dos interesses ou conveniências individuais.
Sou dos que naquela época era contra a guerra, mas nunca confundi isso com o dever de a fazer o melhor e mais profissionalmente que me fosse possível, quanto mais não fosse para garantir aos soldados à minha responsabilidade o regresso a casa, sãos e salvos.
É por isso que não aceito que, passados tantos anos, algumas figuras proeminentes da nossa classe política actual venham hoje a público, não poucas vezes, arvorar-se em heróis, por terem tido a coragem de desertar, de fugir para o estrangeiro, criticando aqueles que como nós estiveram em África a combater.
Obviamente que isso não é coragem. Prefiro chamar-lhe comodismo, medo... Para não lhe chamar cobardia... Gostava de os ter visto na Ameira... Ficariam a conhecer homens cujo medo (que todos tínhamos... ) foi vencido pela coragem e pelo sentido de dever...
Um abraço, Rui Felício (...)
(***) 8 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19765: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (15): Mais camaradas e amigos/as que nos honram com a sua presença em Monte Real no dia 25, sábado: António Sampaio e Maria Clara (Matosinhos); António Joaquim Alves e Maria Celeste (Alenquer); Carlos Pinheiro (Torres Novas); Jorge Araújo e Maria João (Almada); Jorge Pinto e Ana (Sintra); Juvenal Amado (Amadora); Manuel Joaquim e José Manuel S. Cunté (Lisboa); e Paulo Santiago (Águeda)
3 comentários:
Os meus sentidos pêsames à família do nosso camarada Victor David que foi um dos presentes no histórico I Convívio da Tabanca Grande, em 2006, na Ameira. Lembro-me bem dele lá.
Desse convívio, que já está à distância de 20 anos, completam-se em 2026, dos 35 participantes e 17 acompanhantes, faleceram 6 camaradas e uma das esposas, que saibamos.
Carlos Vinhal
Coeditor
Condolências.
Aos familiares e amigos do nosso camarada Victor David apresento os meus pêsames e abraço-os no sentido de lhes transmitir ânimo para suportarem a dor que naturalmente sentem.
Carvalho de Mampatá
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