Capa de "Dobra: poesia reunida". Lisboa: Assírio & Alvim, 2024, 1056 pp. |
(ii) nasceu em Lisboa em 1960 e faleceu a 30 de dezembro de 2024;
(iii) frequentou a licenciatura em Física, na Universidade de Lisboa, que viria a abandonar já quase no final do curso;
(iv) começou a publicar a sua poesia no Anuário de Poetas não Publicados da Assírio & Alvim, em 1984;
(v) em 1983, tinha começado uma nova licenciatura, em Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa;
(vi) o seu primeiro livro de poesia, "Um Jogo Bastante Perigoso", é publicado em edição de autor (1985);
(vii) tem uma extensa obra poética: Irmã Barata, Irmã Batata (2000), Manhã (2015), Bandolim (2016), Estar em Casa (2018), Dias e Dias (2020) e Choupos (2023), etc.
(viii) Dobra (2024) é a mais recente reunião da sua obra publicada, incluindo inéditos;
(ix) colaborou em diversos jornais e revistas, em Portugal e no estrangeiro, com poemas, artigos e poemas traduzidos.
Fonte: textos e fotos, adapt de Assírio & Alvim, a sua editora, com a devida vénia
Último poste da série > 4 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26347: A Nossa Poemateca (6): Adeus, de Eugénio de Andrade ("Os Amantes Sem Dinheiro", 1950) (escolha de Mário Vitorino Gaspar, ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé,1967/69)
(iii) frequentou a licenciatura em Física, na Universidade de Lisboa, que viria a abandonar já quase no final do curso;
(iv) começou a publicar a sua poesia no Anuário de Poetas não Publicados da Assírio & Alvim, em 1984;
(v) em 1983, tinha começado uma nova licenciatura, em Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa;
(vi) o seu primeiro livro de poesia, "Um Jogo Bastante Perigoso", é publicado em edição de autor (1985);
(vii) tem uma extensa obra poética: Irmã Barata, Irmã Batata (2000), Manhã (2015), Bandolim (2016), Estar em Casa (2018), Dias e Dias (2020) e Choupos (2023), etc.
(viii) Dobra (2024) é a mais recente reunião da sua obra publicada, incluindo inéditos;
(ix) colaborou em diversos jornais e revistas, em Portugal e no estrangeiro, com poemas, artigos e poemas traduzidos.
Fonte: textos e fotos, adapt de Assírio & Alvim, a sua editora, com a devida vénia
1. Dobra (2024) foi a prenda de aniversário que deu hoje ao meu filho, tendo como dedicatória um poema da minha lavra, "A gramática de vida" (que tomei a liberdade de publicar no blogue).
Da Adília Lopes, que eu só conhecia superficialmente, escolhi dois poemas para a série "A Nossa Poemateca". Temos grandes "vozes" femininas na poesia portuguesa. Adília Lopes é simplesmente portentosa. Reconhecia duas ou três fontes que a inspiravam, também três dos meus poetas preferidos; Sophia de Melo Breyner Andresen, Alexandre O' Neil e Ruy Belo. Dele Adília Lopes pode-se dizer que tinha a compulsão da escrita. Alguém disse que escrevia poesia para se salvar. Era, de resto, uma mulher crente.
A sua poesia é um fantástico jogo de teatro de marionetes. Era uma perita a manipular as palavras, as imagens e as personagens que inventava e povoavam a sua casa de Arroios. Ficará também na história da nossa literatura como um dos grandes poetas de Lisboa. Talvez o último de uma Lisboa que desapareceu ou está em vias de desaparecer, a dos bairros populares, das lojas, dos cafés e dos restaurantes de proximidade.
Lógica necrológica
Os amores
que não tive
(e foram muitos)
moeram-me
o juízo
Também
não tive
muitos filhos
isto é
não tive
nenhum
Não me queixo
O que
não foi
(e foi muito)
dei-me
muito trabalho
e muito
Fonte: "Capilé" (2016). In: Adília Lopes, "Dobra: poesia reunida". Lisboa: Assírio & Alvim, 2024, pág. 750.
No more tears
Quantas vezes me fechei para chorar
na casa de banho da casa da minha avó
lavava os olhos com shampoo
e chorava
chorava por causa do shampoo
depois acabaram os shampoos
que faziam arder os olhos
no more tears disse Johnson & Johnson
as mães são filhas das filhas
e as filhas são mães das mães
uma mãe lava a cabeça da outra
e todas têm cabelos de crianças loiras
para chorar não podemos usar mais shampoo
e eu gostava de chorar a fio
e chorava
sem um desgosto sem uma dor sem um lenço
em uma lágrima
fechada à chave na casa de banho
da casa da minha avó
onde além de mim só estava eu
também me fechava no guarda-vestidos grande
mas um guarda-vestidos não se pode fechar por dentro
nunca ninguém viu um vestido a chorar
Quantas vezes me fechei para chorar
na casa de banho da casa da minha avó
lavava os olhos com shampoo
e chorava
chorava por causa do shampoo
depois acabaram os shampoos
que faziam arder os olhos
no more tears disse Johnson & Johnson
as mães são filhas das filhas
e as filhas são mães das mães
uma mãe lava a cabeça da outra
e todas têm cabelos de crianças loiras
para chorar não podemos usar mais shampoo
e eu gostava de chorar a fio
e chorava
sem um desgosto sem uma dor sem um lenço
em uma lágrima
fechada à chave na casa de banho
da casa da minha avó
onde além de mim só estava eu
também me fechava no guarda-vestidos grande
mas um guarda-vestidos não se pode fechar por dentro
nunca ninguém viu um vestido a chorar
Fonte: "O decote da dama de espadas"(1988). In: Adília Lopes, "Dobra: poesia reunida". Lisboa: Assírio & Alvim, 2024, pág. 125.
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Nota do editor:
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