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terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23900: In Memoriam (464): Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (1935-2022), ex-Cap Art, CMDT da CART 494, Gadamael (1963/65), ex-Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné (1968/1970) e ex-Major Art, CMDT do COP 5, Guileje (1972/73)

 

Amadora > Auditório da Academia Militar > Sessão de lançamento do livro "A Retirada de Guileje" (Lisboa, DG Edições, 2008), do cor art ref Continho e Lima, em 13/12/08, 17h. O livro foi apresentado pelos, jornalista Eduardo Dâmaso e general Loureiro dos Santos. 
  
Coutinho e Lima (1935-2022) ex-cap art cmdt CART 494, Gadamael (1963/65),  ex-Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné (1968/1970) e ex-major art, cmdt  do COP 5, Guileje (1972/73) 

Foto (e legenda): LG (2008)


1. Chega-nos, de manhã, através de uma mensagem enviada ao Carlos Vinhal, a triste notícia da morte de mais um camarada nosso, aos 87 anos, Alexandre Coutinho e Lima (Viana do Castelo, 15 de setembro de 1935 - Lisboa, 2022).

Mas na passada segunda feira, já  tínhamos recebido um mail, às 22h12, da Maria Isabel Lima, com a triste notícia e que só agora li por estar acamado:

Sr. Professor: eu sou a M. lsabel Coutinho e Lima. Quero comunicar-lhe, que meu marido, depois de algum sofrimento desde o dia 25 de Setembro, faleceu hoje, cerca das 18horas

O Carlos já mandou  à viúva, D. Maria Isabel Courinho e Lima, por email os pêsames da Tabanca Grande:

"Lamentamos profundamente a perda do marido. Sabíamos que estava a passar menos bem mas não esperávamos esta triste notícia.  A tertúlia deste blogue associa-se à sua dor e envia-lhe as mais sentidas condolências, extensivas a toda a família.  Pedimos o favor de nos enviar, quando souber, os pormenores das exéquias fúnebres.  Ao dispor,  Carlos Vinhal".




Alexandre Coutinho e Lima - A retirada de Guileje: 22 de maio de 1973: a verdade dos factos (rev. texto Maria Filomena Folgado. - 4ª ed. - Linda-a-Velha : DG Edições, 2010. - 473 pp.)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 22 de Maio de 1973 > A retirada, dramática mas ordeira, das tropas portuguesas, por decisão, à revelia do Comando-Chefe, do major Coutinho e Lima, comandante do COP5. Segundo informação do Nuno Rubim (de quem não notícas "há séculos" !) a primeira unidade a ir para Guileje foi um Grupo de Combate reforçado da CART 494, em jan / fev de 1964. A Companhia estava a instalar o quartel em Gadamael. Só mais tarde é que um grupo da CART 495, em final de fevereiro desse ano, foi reforçar a guarnição até à chegada das primeiras forças da CCAÇ 726, em 31 de Outubro, permanecendo ainda algum tempo em sobreposição.

A CART 494 era comandada pelo então Capitão Coutinho e Lima, "que assim fica para sempre ligado ao início e fim de Guileje" (sic) ...  

Foto de origem desconhecida, editada por nós, e gentilmente cedida pelo Pepito, fazendo parte do acervo fotográfico do Projecto Guiledje ( © AD - Acção para o Desenvolvimento ).

A decisão, à revelia do Com-Chefe, gen Spínola, de retirar Guileje, em 22 de maio de 1973, foi a decisão mais dramática e porventura mais difícil da sua vida. E destruiu a sua carreira militar. Estebe um ano preso em Bissau. Depois de passar à situação de reforma, Coutinho e Lima fez questão de contar, por escrito, a sua versão os factos, o que fez com coragem, frontalidade e dignidade.  O seu livro, lançado em 2008, teve pelo menos 4 edições.

Dos muitos postes publicados no nosso blogue, chamo a atenção para o poste P267 (dois vídeos e 25 fotos) em que a população de Guileje, trinta e cinco anos depois (por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, em março de 2008),  homenageou  o Cor Art Ref Coutinho e Lima 

O Coutinho e Lima tem mais de uma centena de referências no nosso blogue. Era uma pessoa afável e um bom minhoto. Gostava de me convidar, a mim e à Alice, para jantar no dia dos seus anos, a 15 de setembro. Ele tinha casa em Benfica, éremos quase vizinhos.  E a esposa, Maria Isabel,  era (é, felizmente está viva) simpatiquíssima. E tinha muito orgulho na decisão do marido de salvar centenas de vidas, em 22 de maio de 1973. Ainda fomos a um ou dois jantares de aniversário. Mas a altura não era das mais convenientes para nós: estávamos  habitualmente na Lourinhã, em setembro. Às vezes falávamos ao telefone. Disse-me há tempos que andava a escrever a história da sua 
CART 494 (Gadamael, 1963/65).  Com a sua morte, perdemos também um manancial de memórias sobre a Guiné do tempo da guerra de 1961/74.

À família enlutada, esposa, filhos e netos  endereçamos os nossos votos de profundo pesar. 

********************

2. Entretanto, cerca das 23 horas do dia, recebemos uma mensagem da senhora Dona Maria Isabel Lima com os pormenores das cerimónias fúnebres do seu malogrado marido.

As cerimónias religiosas meu marido decorrerão na próxima quinta-feira, dia 22. Da parte da tarde haverá uma missa de corpo presente pelas 17h00 na Capela da Academia Militar, em Lisboa, na Rua Gomes Freire.

Na sexta-feira, 23,  o corpo seguirá para Vila Fria, Viana do Castelo, onde será rezada uma outra missa pelas 16h00 e o funeral será logo a seguir.

Muito obrigada
Maria Isabel Lima

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Nota do editor:

Último poste da série de 26 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23817: In Memoriam (463): Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022)... Um excerto do livro "Quebo" (2014): Recordando os tristes acontecimentos que ensombraram Aldeia Formosa, na noite de Consoada de 1971, "se não a pior, uma das mais trágicas da minha vida"

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23715: Notas de leitura (1506): "Missão Guiné 63-65 Companhia de Artilharia 494", por Augusto Carias, Adelino Domingues, Aníbal Justiniano; edição de autor, Amares, Julho de 2012 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Março de 2020:

Queridos amigos,
Esta obra tem três autores, são memórias referentes à CART 494, esteve adstrita ao BCAÇ 513, de cuja história já aqui se fez menção. Andaram no Sul, começaram em Ganjola e depois Gadamael, parece que foram pau para toda a colher, os abastecimentos chegavam a Gadamael Porto e eles faziam colunas ou montavam segurança em itinerários de muito risco, num território que estava a ser desencravado desde finais de 1963, abarcando Guileje, Cacoca, Sangonhá e Cameconde e mais tarde Gandembel. 

Obra profusamente ilustrada, vemos o hoje Coronel Coutinho e Lima a desfilar em Viana do Castelo, vão embarcar em Lisboa; seguem para Cacine, constroem o aquartelamento de Ganjola, segue-se a construção do aquartelamento de Gadamael Porto. São imagens elucidativas de encontros de unidades, como a imagem de Ponta Balana, na estrada Guileje - Aldeia Formosa. Tocante é a imagem do Augusto Silva a escrever as suas notas no resto de uma máquina de escrever, no meio da azáfama militar.

Um abraço do
Mário



Memórias do Sul da Guiné, 1963-1965, um tocante escrito a várias mãos

Mário Beja Santos

Na base deste ajuntamento de notas e imagens está alguém que se apresenta com esta singeleza: 

“Augusto de Jesus da Silva nasceu a 19 de Junho de 1942. Aprendeu a profissão de alfaiate em Goães – Amares, sua terra natal, com João Coelho. Foi chamado para o serviço militar em Janeiro de 1963, depois mobilizado para a Guiné, até 1965. Regressado, montou uma mercearia em Goães. Foi emigrante na Alemanha durante três anos, trabalhou em alumínios. Regressado a Portugal, trabalhou na construção civil como camionista. Durante 12 anos, foi condutor de autocarros, transportando senhoras para a confeção, na Trofa. Acabou por se dedicar à restauração”. Augusto de Jesus da Silva foi coligindo notas durante a sua comissão e outros contribuíram para dar letra de forma.

A CART vai de Bissau para Bolama, daqui para Catió e depois Ganjola, houve que preparar a defesa, quartel não havia, logo começaram os tiroteios, enquanto se constrói o aquartelamento o sobressalto é permanente. Estamos em outubro de 1963, Coutinho Lima decide fazer uma operação a Ganjola Velha, queimaram-se todas as tabancas, trouxe-se uma manada de vacas. Passados dias, conjuntamente com a CCAÇ 414, vão ao Chunguizinho, houve refrega, volta-se a este objetivo, a reação da guerrilha é forte. A 16 de novembro, assinada por Mafalé Namabá, chega uma missiva em que o PAIGC pede à tropa portuguesa para não pegar nas armas e não lutar contra os irmãos africanos. 

“Se vocês não querem lutar contra nós, quando chegarem ao campo de batalha levantem mãos ao ar. Nós vamos prender-vos e transportar-vos para qualquer país que queiram. Mas se quiserem lutar contra nós, vocês vão morrer todos sem verem a vossa família”

E propõe-se um encontro, aguarda-se resposta. Saem de Ganjola a 11 de dezembro para Gadamael, à saída há tiroteio, tinham-se passado três meses, viagem cheia de incomodidades. Começam as patrulhas de reconhecimento, que se vão alargando à distância. A 27 de janeiro, numa emboscada, morre o Alferes Costa, e em fevereiro iniciam-se as flagelações a Gadamael. É o período em que se vai desencravar território, desimpedir o caminho de Aldeia Formosa até Cacine, as operações de Aldeia Formosa a Guileje, onde se instala a tropa, operações de Guileje a Ganturé, onde fica um pelotão FOX instalado. Feito o aquartelamento de Ganturé patrulham-se as estradas de Gadamael, Bricama, Ganturé, até Guilege, patrulha-se a fronteira, não se dá pela presença do PAIGC.

Estamos já em maio de 1964, as memórias de Augusto Silva falam das colunas de reabastecimento a Guileje. As coisas também não correm bem em Sangonhá, ali põe-se minas anticarro na estrada, o que dificulta as colunas de reabastecimento que vão até Guileje e Sangonhá. As memórias deste primeiro carro registam uma série de emboscadas e ataques a quarteis das proximidades, fala nas provações da comida, gente que se afoga, jogos de futebol entre as equipas de Gadamael e de Cacine, em novembro faz-se uma coluna até Gandembel, vai-se com imenso cuidado, há sempre imensas minas anticarro e antipessoal, vem também tropa de Aldeia Formosa. Rebenta uma mina debaixo de uma viatura blindada, não houve sequer um ferido. Alarga-se o campo de ação desta CART 494, já não basta as idas a Guileje, as colunas também se dirigem a Cacoca, a Cameconde. Em 26 de dezembro de 1964, assinada pelos responsáveis militares do sul do país chega nova carta dirigida aos oficiais, sargentos e praças:

“Após a vossa chegada, matastes, massacrastes e incendiastes à vossa vontade. Cometestes contra as nossas populações indefesas os maiores crimes, as maiores vilanias, julgando serdes impunes. Entre vós havia e continua a haver gente que, embora sabendo da justiça da causa por que lutamos, vos ajudaram a escorraçar e a chacinar os melhores filhos do nosso povo. Tentámos contactar convosco no sentido de entabular ligações num espírito construtivo, mas debalde (…) Não há nenhuma força do mundo, por mais poderosa que seja, capaz de desmoralizar o nosso povo e tirá-lo do caminho da luta e do progresso”

E dava-se o nome de três desertores, dizendo que tinham sido encaminhados para Dacar e Argel. Estamos já em janeiro de 1965, a atividade do PAIGC manifesta-se, logo no dia 1 foi destruído o pontão de Bricama, no itinerário Ganturé – Sangonhá; Ganturé é flagelada, sem consequências. A companhia suspira por ser transferida, não tem havido parança nos patrulhamentos e reabastecimentos. Em 25 de abril é inaugurada a Capela de S. João em Gadamael. O PAIGC, nesta fase, não dá sinal de vida. E a 28 de maio chegou a Gadamael a CCAÇ 798 que rendeu a CART 494.

Escrito a várias mãos fala-se igualmente do régulo Abibo, o régulo de Gadamael, com quem a tropa tem um excelente relacionamento, Abibo Inchassó era respeitado desde o Forreá até Cacine, foi aliciado pelo PAIGC, viu a sua vida a perigar, foi para Bedanda, muitos dos seus familiares partiram para a República da Guiné. Quando viu a recuperação de Ganturé, voltou, ficou na defesa do aquartelamento uma milícia Fula. Juntam-se outros apontamentos sobre a vida desportiva, o médico da companhia, Aníbal Justiniano, faz um relatório no final de dezembro de 1964 sobre o estado sanitário, que é integralmente reproduzido no livro. Este médico será condecorado com a medalha de mérito militar da 3.ª classe. A CART 494 estava adstrita ao BCAÇ 513, de que aqui já se procedeu à devida recensão.

Este livro de memórias é profusamente ilustrado, os autores são Augusto Silva, Adelino Domingues e Aníbal Justiniano, edição de autor, Amares, julho de 2012.

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23708: Notas de leitura (1505): Uma escultura de renome mundial, a Nalu (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23621: Notas de leitura (1495): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Setembro de 2022:

Queridos amigos,
Começo por pedir desculpa por demorar a publicação do final da história do BCAÇ 513, a que atribuo enorme importância pela natureza do relato, francamente não sei porque não concluí a recensão ao tempo, voltei à biblioteca da Liga dos Combatentes, fiz a necessária releitura de fio a pavio, compulsei as operações das três companhias de artilharia, a de caçadores, os relatórios dos pelotões de reconhecimento, e sou levado a considerar que quem queira estudar a guerra da Guiné irá ficar com uma imagem bastante rigorosa do Sul em 1963, todo o comércio se desarticulou, a Casa Gouveia e a Ultramarina fecharam as portas, tudo foi saqueado e incendiado e coube particularmente à BCAÇ 513 e às suas diferentes unidades o esforço hercúleo de procurar contrariar o que ninguém podia prever, sobretudo numa Guiné de 1962 tinha escassíssimas unidades militares.

Um abraço do
Mário



Um documento eloquente, peça de historiografia: A história do BC 513 (3)

Mário Beja Santos

Por que motivo atribuo tanto relevo a este documento? Publicado em 2000, numa verdadeira edição para amigos, a História do BC 513, da autoria de Artur Lagoela, abre luz sobre o primeiro ano da guerra, o estado do conflito na região Sul, os colonos e os comerciantes já tinham desaparecido e as populações, espavoridas ou rapidamente afetas ou constrangidas, com maior ou menor brutalidade, pelo PAIGC, tinham-se disseminado pelas pequenas vilas à sombra das tropas portuguesas, ou nas matas ou na República da Guiné.

Peça de historiografia, pelo acervo informativo, mas igualmente um documento de ternura e de respeito pela memória, basta pensar na dedicatória do exemplar oferecido à Liga dos Combatentes: “De todos nós, combatentes do BCAÇ 513, que prestou serviço na Guiné entre 25 de julho de 1963 e 25 de agosto de 1965, daqueles que por lá perderam a vida e daqueles que voltaram deixando lá parte dela, aqui fica um muito pouco de nós, num livro chamado História do Batalhão, e também um grande reconhecimento que os combatentes sabem ter por quem nunca os esquece. Mas a nossa história, essa, ficará sempre por contar. Ela seria o enorme somatório de todas as histórias de todos nós, amalgamadas com todos os nossos sentimentos, todas as nossas indignações, angústias, inquietações, desesperos, raivas, medos, coragens, esperanças, desilusões, amizades, amores, tudo como unido pela fortíssima argamassa que é a irmandade que nasce e perdura entre aqueles que foram combatentes.” Assina o antigo Alferes Miliciano Sapador José Filipe da Cunha Fialho Barata.

Recapitulando, este BCAÇ irá agregar várias companhias de artilharia (494, 495 e 496), uma companhia de caçadores (411) e um pelotão Fox (888), um pelotão de morteiros (979), entre outros. Coube-lhes a região Sul, uma extensão enorme, incluindo a fronteira, Buba, Aldeia Formosa, Cacine, Mapatá, Ganjola, e mais, tudo abandonado, uma falta total de instalações, tudo para construir, não havia pistas para aviões; a guerrilha implantada na região de Incassol, nas margens do rio Corubal, nas margens do rio Cumbijã (em Bantael Silá) e em Cacine (Campeane), para além das zonas de passagem como Ganturé-Guileje. É o período em que se intensifica o uso de minas antipessoal e anticarro, se reagrupam as populações Fulas, que tinham sido atacadas e expulsas nos itinerários Guileje-Mejo-Nhacobá-Buba-Fulacunda, todas as casas de construção europeia pertencentes a comerciantes tinham sido destruídas, as da Casa Gouveia e as da Ultramarina. Não havia, na época em que o Batalhão chegou ao Sul, ainda destacamento em Guileje. Os grupos da FLING foram rapidamente ultrapassados pelo PAIGC, a população Beafada aceitou colaborar com este partido.

Cada vez que leio estes relatos que se copiam uns aos outros sobre a passividade ou a incapacidade de resposta das nossas tropas à extensão da guerrilha, interrogo-me se essas mentes iluminadas que destratam o trabalho de Louro de Sousa e Arnaldo Schultz que se deram ao trabalho de ler relatos como este, em que se fala da ocupação de Gadamael ou de Guileje, a abertura do itinerário Guileje-Gadamael, do itinerário Sangonhá-Cacoca, Cacoca-Cacine e a ocupação de Cameconde irá ser frequentemente flagelada.

Artur Lagoela vai apensando relatórios de operações, uns referentes à ocupação de localidades abandonadas, outros à abertura e limpeza de itinerários, a presença contumaz, não faltam emboscadas, flagelações, a guerrilha já dispõe de metralhadoras, bazucas e estão a chegar os morteiros, não há qualquer referência ainda a canhões sem recuo. Aspeto curioso que merece relevo é a permanente participação das autometralhadoras nas atividades operacionais, bem como os pelotões de morteiros. Em novembro de 1964, Guileje é já um alvo que o PAIGC não poupa. Não deixa de impressionar como o autor dispõe cronologicamente as operações, mês após mês, já não se está só na fase de abrir itinerários, pretende-se ir mesmo às bases do PAIGC, aonde há população, caso de Bantael Silá ou Darsalame, destroem-se estas populações provisórias, mas nas operações subsequentes descobre-se que a guerrilha e a população voltaram. Há parágrafos que ajudam o investigador a perceber que o dispositivo da guerrilha estava fortemente implantado no Sul, as posições ocupadas eram muito vigiadas e de difícil acesso, em abril de 1965, por exemplo, Os Fantasmas já fazem aqui operações. Há registo da ação psicossocial na região de Buba, procura-se conquistar a confianças dos Nalus de Cacine, dá-se apoio às populações dos regulados de Guileje e Gadamael, há postos de socorro em Cacoca e Sangonhá.

De maio a agosto de 1965, o Batalhão permanece no setor de Bissau, procede a patrulhamentos, não se detetam atividades subversivas. E Artur Lagoela despede-se com a listagem das baixas e louvores, agradece o auxílio da Força Aérea e da Marinha e o Tenente Coronel Luís Gonçalves Carneiro no seu relatório não deixa de mencionar que o PAIGC apresentava o Sul como região libertada, propaganda contraditada pela presença das nossas tropas, disseminada por muitos quartéis, destacamentos e tabancas em autodefesa. Como é evidente, o retrato que aqui se fixa é de um Sul onde se iniciara uma grande desarticulação já no segundo semestre de 1962, onde as populações fugiram ou aderiram ao PAIGC, fizeram crescer povoações como Buba, Fulacunda ou Aldeia Formosa, o BCAÇ 513 participou nesta operação de contrariar uma extensa terra de ninguém e é por isso com imenso valor que este trabalho de Artur Lagoela e os seus amigos, mais de meio século passado.

Para quem quer estudar a guerra da Guiné, obra de leitura obrigatória.


Bem-vindos a Sangonhá, imagem do blogue
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Notas do editor:

Vd. postes anteriores de:

15 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23526: Notas de leitura (1475): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (1) (Mário Beja Santos)
e
19 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23539: Notas de leitura (1476): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 12 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23610: Notas de leitura (1494): "Diário Pueril de Guerra", por Sérgio de Sousa; Editoral Escritor, 1999 (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23539: Notas de leitura (1476): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos,
Prossegue a narrativa deste batalhão que congregava diferentes armas, companhias e pelotões. Estava sediado em Buba, a área de atuação era extensa, competia-lhe reocupar povoações abandonadas onde o PAIGC estava convencido de uma total segurança e incapacidade de reação das nossas forças armadas. As bases de apoio eram muitas, aqui residia a apetecível cultura do arroz e daí a intensidade da vigilância, como aliás iremos ver noutros pontos da Guiné, caso do Poidon, junto da Ponta do Inglês, ricos arrozais indispensáveis para a segurança alimentar de quem estava do lado da guerrilha. Reocupou-se o chão Fula e vamos ouvir falar constantemente em Aldeia Formosa, Guilege, Cacine, Gadamael, Mampatá, Cacoca, Sangonhá, Ganturé, Cameconde, Cantanhez. Pergunto-me se teria sido possível doutra maneira, e com menos sacrifício e com maior efetividade, obter-se o resultado de enfrentar as arremetidas do PAIGC. E vou reforçando a convicção de que está por reparar (e não sei se alguma vez se reparará) a tremenda injustiça de dizer que os dois oficiais generais que precederam Spínola não revelaram uma enorme capacidade para confrontar o adversário, com os meios disponíveis ao seu alcance. Foram pouco mediáticos estes dois oficiais generais e pagou-se-lhes com a fatura do esquecimento ou da ignorância (que muitas vezes é útil na historiografia de caráter manipulador).

Um abraço do
Mário



Um documento eloquente, peça de historiografia: A história do BC 513 (2)

Mário Beja Santos

Por que motivo atribuo tanto relevo a este documento? Publicado em 2000, numa verdadeira edição para amigos, a História do BC 513, da autoria de Artur Lagoela, abre luz sobre o primeiro ano da guerra, o estado do conflito na região Sul, os colonos já tinham desaparecido e as populações, espavoridas ou rapidamente afetas ou constrangidas, com maior ou menor brutalidade, pelo PAIGC, tinham-se disseminado pelas pequenas vilas à sombra das tropas portuguesas, ou nas matas ou na República da Guiné. Este batalhão cumpre as instruções do Comando-Chefe, vai procurar ocupar posições que permitam travar a penetração da guerrilha, derrotá-la no Interior, dar segurança a quem fica à sombra da soberania portuguesa. Os Fulas da região são colaborativos, vão mesmo combater com as tropas metropolitanas.

Em 17 de dezembro de 1963, ocupa-se Gadamael, veio primeiro um destacamento de fuzileiros, segue-se a CART 494, o PAIGC oferece pouca resistência; de 4 a 8 de fevereiro de 1964 ocupa-se Guilege e no dia 20 do mesmo mês abre-se o itinerário Guilege – Gadamael, dias depois ocupa-se Ganturé, patrulha-se os itinerários Aldeia Formosa – Gadamael, Guilege – Mejo e os acessos à fronteira. O PAIGC embosca e provoca vítimas mortais; em maio abre-se o itinerário Gadamael – Sangonhá e ocupa-se Sangonhá, os paraquedistas ajudam. Concluída a abertura do itinerário Aldeia Formosa – Cacoca, inicia-se um esforço no melhoramento das defesas, a pensar nas populações dos regulados de Guilege, Gadamael e Cacine; e faz-se o reconhecimento aonde a CART 496 irá instalar o futuro destacamento de Cameconde. Concluía-se assim a abertura do itinerário Cacine – Cacoca – Guilege – Mampatá – Aldeia Formosa – Buba.

Já se referiu que este documento agrega um conjunto de relatórios que abrem luz sobre o desencravamento na região Sul, como se procurava suster a presença do PAIGC ocupando posições e dando segurança às populações que a reclamavam. Ainda não chegaram as minas anticarro, os pelotões Fox e Daimler dão uma ajuda excecional, os documentos evidenciam essa realidade com a abertura do troço Cacoca – Cacine, Cacoca – Cameconde e Cacoca – Cameconde – Cacine.
E escreve-se:
“O IN levava a efeito inúmeras emboscadas ao longo de todos os itinerários controlados pelas NT em especial no de Buba – Aldeia Formosa e Rio Balana – Gadamael. Era sua preocupação dominar os itinerários que utilizavam para os seus reabastecimentos de material. Na estrada Buba – Aldeia Formosa, designadamente junto ao cruzamento de Buba e à bifurcação de Sinchã Cherno, implantou minas e montou emboscadas às nossas colunas, estas muitas vezes conjugadas com o rebentamento de fornilhos. Empenhou-se ainda na destruição de principais pontes e pontões no setor. Na totalidade, o IN implantou 66 minas anticarro, das quais foram detetadas e levantadas 46; o IN, acossado pelas NT ao longo da fronteira e no rio Cacine e afluente, decidiu-se usar a penetrante de Guilege para fazer passar a maioria dos seus reabastecimentos”.

Não menos interessante é um relatório assinado pelo Alferes Miliciano Ivo Januário Dias, de 11 de junho de 1964, referente a uma emboscada na estrada Aldeia Formosa – Fulacunda, no cruzamento de Buba, uma ação com dois pelotões.
E escreve o seguinte:
“O IN vinha escalonado: um explorador; cerca de dez metros atrás dois indivíduos (provavelmente); mais dez metros atrás um grupo inferior a dez homens e dois ou três metros depois o grosso da coluna bastante numeroso de cerca de cem homens. Naturalmente metidos no mato, caminhavam dos dois lados da estrada exploradores laterais que, no entanto, vinham atrasados em relação à vanguarda. Cerca das 20 horas, foram ouvidos os primeiros passos em marcha acelerada na estrada, distinguindo-se vagamente que era um homem que avançava no sentido Aldeia Formosa – Fulacunda. Logo a seguir foram ouvidos mais passos. Uns segundos depois voltaram-se a ouvir mais passos, desta vez de um grupo numeroso que caminhava mais lentamente. Nesta altura apercebi-me que este último grupo era o que devia transportar material, pelo que desencadeei emboscada. O fogo prolongou-se durante uns três minutos de parte a parte”.
Os guerrilheiros terão tentado o envolvimento, foi repelido, seja como for não deixou de abrir fogo do lado Norte do cruzamento de Buba e à retaguarda das forças emboscadas. Foi feita uma batida, recolheu-se material, que é inumerado.

Seguem-se outros relatórios referentes a patrulhamentos, emboscadas e operações. O relatório da Operação Marcela, em novembro de 1964, revela-se também uma peça de muito interesse. O PAIGC procurava manobras de diversão para percorrer o corredor de Guilege na mesma altura em que flagelava quartéis. O Alferes Miliciano João Pedro Mendes parte de Guilege e embosca na região de Balana, perto de Chinchim Dari. É tratada uma coluna, desencadeia-se o fogo das NT secundado com arremesso de granadas, o que provocou vários mortos ao IN. E o documento continuará a descrever patrulhamentos, reconstrução de pontões, operações, emboscadas, mas o PAIGC reage, o relatório fala de ataques IN aos aquartelamentos do setor, destaca-se Cameconde, vinte e quatro vezes flagelada entre 3 de novembro de 1963 e 27 de maio de 1965. O PAIGC ataca Cumbijã, a resistência é heroica, a seguir à letra tudo quanto se escreve no documento é uma façanha invulgar, tão poucos homens a suportar, valorosamente, uma arremetida de um enorme grupo.

Convém não esquecer que o BCAÇ 513 não atua sozinho, tem vários pelotões de reconhecimento, outras unidades militares e por vezes vêm forças especiais dar uma mãozinha. Lê-se que era dado como certo e seguro ter havido uma desarticulação da organização IN no setor, cuja superfície é assim descrita:
“O setor confiado à responsabilidade do BC 513 compreendia, além da extensa e pouco profunda zona fronteiriça, uma área interior correspondente ao antigo posto administrativo de Buba, abrangendo a Norte a região de Injassane – Incassol – Canconté, na margem esquerda do rio Corubal, e a Sudoeste a importante região de Bantael Silá – Unal, na margem direita do rio Cumbijã. Especialmente esta última é uma das mais ricas regiões de arroz da Guiné. A população Beafada da região de Antuane desde o início se ligou ao PAIGC e os Balantas que cultivavam arroz nas bolanhas do rio Cumbijã seguiram-lhes os passos após um fácil e rápido período de aliciamento. Assim se estabeleceu e foi consolidando um grande conjunto de acampamentos na região de Antuane, apoiado logisticamente nas ricas tabancas existentes ao longo do rio Cumbijã. Nestas procurou logo o IN estabelecer as suas estruturas político-administrativas, convencendo a população de que a tropa não iria ali mais e de que aquela região já estava libertada. De facto, tornou-se sempre muito difícil às NT atingir essas regiões, não só pelas grandes distâncias a percorrer como pela facilidade em impedir os movimentos, bloqueando o ponto de passagem obrigatória de Galo Bobola. Enquanto foi possível circular livremente as viaturas, confiou-se às unidades de reconhecimento da Cavalaria o patrulhamento destas áreas. Depois do aparecimento de minas em larga escala, as tropas passaram a andar a pé e então deixou de ser possível aparecer nessas tabancas com a regularidade necessária. De igual forma a região de Injassame – Incassol foi ficando fora do controlo das NT por os acessos serem muito limitados e facilmente controláveis e a distância a percorrer ser sempre para cima dos 40 km, ida e volta”.

Segue-se a descrição do modo como o BC 513 tentou desarticular as posições do PAIGC.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23526: Notas de leitura (1475): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (1) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23526: Notas de leitura (1475): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos,
Esta preciosidade é uma edição comercial, tiragem de 300 exemplares, com execução gráfica no Jornal de Matosinhos e o autor da obra é o 1.º Cabo n.º 103763, Artur Lagoela, que expressa na introdução a sua grande admiração pelo Comandante do Batalhão. Documento formal, retirado de outros documentos, estruturado quase como um relatório. Trata-se de uma epopeia silenciosa e responde à grande injustiça de se manter no esquecimento o que militarmente se fez, com decisão, firmeza e combatividade no Comando-Chefe, quando toda aquela região Sul parecia imparavelmente na posse dos grupos do PAIGC. Documento de estudo: a adesão dos Fulas, o armamento que possuíamos, o uso de minas antipessoal e fornilhos por parte do PAIGC, as minas anticarro virão mais tarde, como gradualmente os armamentos da guerrilha irão melhorar, com poucas contrapartidas das nossas tropas. Insistia-se em contrariar os corredores de reabastecimento, tinha sido um abandono tão grande que a reocupação de muitos pontos custou os olhos da cara. Tornar-se-á moda, a partir de 1968, denegrir no que se fez e como se respondeu nos primeiros anos. A documentação oficial desmente esse mito e é bom encontrar livros como a história do BCAÇ 513 para se ver o heroísmo de que hoje ninguém fala.

Um abraço do
Mário



Um documento eloquente, peça de historiografia: A história do BC 513 (1)

Mário Beja Santos

Encontrei este livro na Biblioteca da Liga dos Combatentes, tem uma dedicatória do então Alferes Miliciano Sapador José Filipe da Cunha Fialho Barata: 

“Para a Liga dos Combatentes, de todos nós, combatentes do Batalhão de Caçadores n.º 513, que prestou serviço militar na Guiné, entre 25 de julho de 1963 e 25 de agosto de 1965, daqueles que por lá perderam a vida e daqueles que voltaram deixando lá parte dela, aqui fica um muito pouco de nós, num livro chamado "História do Batalhão" e também um grande reconhecimento que os combatentes sabem ter por quem nunca os esquece. 

A nossa história, essa, ficará sempre por contar. Ela seria o enorme somatório de todas as histórias, de todos nós, amalgamadas com todos os nossos sentimentos, todas as nossas indignações, angústias, inquietações, desesperos, raivas, medos, coragens, esperanças, desilusões, amizades, amores, tudo isso unido pela fortíssima argamassa que é a irmandade que nasce e perdura para sempre entre aqueles que foram combatentes”.

Que importância podemos atribuir a este documento? Esta unidade militar faz parte daquele elenco de batalhões que tinham Comando e CCS ao qual se iam agregando diferentes Companhias. Parecia destinada a Moçambique mas a intensidade da luta armada na Guiné exigiu vários desvios, um deles foi o BC 513. Embarcaram em 17 de março, tanto o Comando e a CCS como as CART 494, 495 e 496, como igualmente o Batalhão de Cavalaria 490. Desembarcaram e tinham à espera um graúdo problema logístico, não existiam quaisquer instalações para alojar todo aquele pessoal e guardar o material, estava-se em plena época das chuvas. Houve que distribuir os efetivos por um conjunto de instalações até que em 21 de agosto foram transferidos para a Escola das Missões. Em 31 de outubro, o Comando e a CSS vão para Buba. Fica-se a saber que o capitão Coutinho e Lima, que virá a responder, em 1973, pela retirada de Guilege, é o comandante da CART n.º 494. Às três unidades referenciadas ir-se-ão agregando também pelotões Fox e Daimler, um pelotão de morteiros e outras companhias de caçadores. Era a resposta de juntar com rapidez um conjunto de unidades destinadas a um setor onde campeava em cheio a subversão. Respondia-se à Ordem de Operações n.º 1/63, procurar contrariar a infiltração das forças subversivas, aniquilar grupos de guerrilha, recuperar populações, ocupar espaços abandonados. Havia igualmente que garantir a estrada Buba – Aldeia Formosa e criar condições de utilização da estrada Mampatá – Cacine. As unidades dispersam-se por Cacine, Aldeia Formosa, Ganjola, no setor de Catió. Inicia-se a atividade operacional num território em que há muitas tabancas completamente destruídas, as tropas irão viver nas piores condições, construindo paliçadas, abrigos, pistas para aviões.

O livro reproduz o relatório periódico do Comando, referente ao período de 8 a 24 de novembro de 1963. O inimigo é quantificado e qualificado, existem três importantes zonas de concentração de grupos de guerrilha, duas de simples passagem e uma isenta de atividades. “As áreas de concentração situam-se nas proximidades das regiões ricas em arroz e outros produtos de primeira necessidade, que são precisamente aquelas onde não há forças militares. Assim, temos a região do Incassol, nas margens do rio Corubal (Gã Gregório), a região do Forreá nas margens do rio Cumbijã (Bantael Silá) e a região do Cacine, na orla marítima (Campeane). As zonas de passagem são a região de Buba e a região fronteiriça de Ganturé – Guilege. Como zona isenta de atividade inimiga, temos a região de Aldeia Formosa – Contabane”.

A guerrilha recebe a tropa com flagelações, pretende prejudicar as ligações com Aldeia Formosa, pretende manter inacessível a região do Incassol. As minas anticarro chegarão depois, ao tempo os pelotões Fox e Daimler circulam com perigo mínimo. Procura-se recuperar o chão Fula, atrair populações às tabancas abandonadas, é o que irá acontecer em Colibuia. Será necessário progredir em direção de Guilege, instalando aqui um novo destacamento. Em Aldeia Formosa existe já uma milícia de auxiliares Fulas. A guerrilha pretende manter interdito o trânsito na área do Forreá, embosca frequentemente no eixo Buba – Nhala bem como os patrulhamentos na estrada Buba – Aldeia Formosa. Os fornilhos revelam a sua força destruidora. Nesse mês de novembro de 1963 o Tenente-Coronel Luís Gonçalves Carneiro descreve o estado disciplinar como bom, tem tropas moralizadas mas há preocupantes problemas sanitários.

Bem interessante é o que se escreve sobre a reocupação do chão Fula. São referenciados os regulados de Contabane, Forreá e Guilege, correspondente a uma extensão de fronteira de mais de quarenta quilómetros. No início de 1963, grupos armados do PAIGC atacaram e expulsaram das tabancas os Fulas, pretendiam total liberdade num corredor compreendendo Guilege – Mejo – Nhacobá – Buba – Fulacunda. Fora saqueada a tabanca de Salancaur Fula, onde vivia o régulo de Guilege. Todas estas populações tinham fugido; as casas de construção europeia em Salancaur Cul e Bantel Silá tinham sido destruídas. A reocupação é feita com cautelas, atentas as grandes dificuldades. Em 4 de fevereiro de 1964 reocupa-se Guilege, em 30 de março do ano seguinte a tabanca de Mejo, considerava-se que tinham sido criadas as condições para atingir Salancaur Fula e ligar Cumbijã através de Nhacobá e Samenau. Não havia um único europeu na região. Quando terminar a comissão do BCAÇ 513 ficarão distribuídas 700 armas pelas populações, trinta tabancas em autodefesa.

Os Fulas atuarão praticamente sozinhos, chefiados pelo chefe da tabanca de Mampatá, atuarão na região do Incassol, causando grandes destruições na guerrilha. Em novembro de 1964 começarão os ataques a Guilege, e com destruições.

Todo este período inicial visa a proteção da fronteira sul da Guiné, há as povoações de Cacine, Cacoca, Sangonhá, Ganturé, Gadamael, Guilege, Gandembel está destruída e Mampatá. A subversão manifestara-se inicialmente na região de Sangonhá, primeiro com grupos da FLING que serão ultrapassados pelo PAIGC, com o apoio dos Beafadas da região. Serão assaltadas casas comerciais de Gadamael Porto e Cacoca. O relatório recorda que ao entrar o BC n.º 513 no setor havia uma região totalmente abandonada, Guilege, e uma região totalmente controlada pelo PAIGC – Ganturé, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Campeane, era por esta região que se reabasteciam as bases do Cantanhez. Iremos ver seguidamente como se procurou reocupar a região fronteiriça, em que operações se envolveram ao longo de todo o ano de 1964.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23517: Notas de leitura (1474): "Histórias da C. CAÇ. 2533" - Os belos testemunhos da gentes da CCAÇ 2533 (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21120: Notas de leitura (1291): “BC 513 - História do Batalhão”, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Quem contesta a importância primacial da leitura da história dos batalhões como documentação-base para a historiografia da guerra colonial, leia a história do BCAÇ 513 e converse depois connosco.
Desembarcam em Julho de 1963, é-lhes destinado um vasto Sul, em turbamulta, a guerrilha devasta, intimida, executa os contestatários. As incumbências que lhe estão cometidas têm um peso enorme: instalar um destacamento em Guileje, outro em Colibuia, irradiar a partir de Aldeia Formosa, interditar o trânsito do inimigo da área do Forreá para o Incassol, patrulhar e emboscar no eixo Buba-Nhala e na estrada Buba-Aldeia Formosa.
Temos aqui relatos que infundem respeito, que deixam bem claro o caos em que se encontra toda região Sul em 1963 e como numa fase de arranque do PAIGC foi possível confrontá-lo com escassos recursos. Quando ali chegaram, Guileje estava totalmente ao abandono e as forças do PAIGC controlavam totalmente Ganturé, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Campeane, bem como o Cantanhez.
Um relato épico, inesquecível.

Um abraço do
Mário


BCAÇ 513, a divisa era “Ceder Nunca” (1)

Beja Santos

Dentro da minha rede de apoios, a Biblioteca da Liga dos Combatentes tem lugar cimeiro. O responsável pela biblioteca, sempre prestável, quando o informo das minhas devoluções também me informa que encontrou mais umas coisinhas, é tudo uma questão de ir ver. Uma das novidades foi a história deste Batalhão, documento que desconhecia inteiramente: BC 513, História do Batalhão, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000. A surpresa começa logo na dedicatória de oferta:  
“De todos nós, combatentes do BCAÇ n.º 513, que prestou serviço na Guiné entre Julho de 1963 e Agosto de 1965, daqueles que por lá perderam a vida e daqueles que voltaram deixando lá parte dela, aqui fica um muito pouco de nós e um grande reconhecimento que os combatentes sabem ter por quem nunca os esquece. Mas a nossa história, essa, ficará sempre por contar. Ela seria o enorme somatório de todas as histórias, de todos nós, amalgamadas com todos os nossos sentimentos, todas as nossas indignações, angústias, inquietações, desesperos, raivas, medos, coragens, esperanças, desilusões, amizades, amores, tudo isso unido pela fortíssima argamassa que é a irmandade que nasce e perdura para sempre entre aqueles que foram combatentes. Vosso, muito grato, José Filipe da Cunha Fialho Barata, ex-alferes miliciano sapador”.

O BCAÇ 513, diz-se logo no pórtico, não foi uma unidade organizada na metrópole e preparada em conjunto numa única unidade mobilizadora. Apenas havia sido determinada a constituição de um Comando de Batalhão e respetiva CCS, com destino a Moçambique. Na antevéspera do embarque teve-se conhecimento da mudança de destino, a Guiné. Embarcam no Niassa em 17 de Julho de 1963, com as Companhias de Artilharia 494, 495 e 496, e o BCAV n.º 490 com as suas companhias 487, 488 e 489. Chegados a Bissau, logo se descobriu a falta de instalações com o mínimo de condições para alojar o pessoal, viveram um pouco aos baldões até que em 26 de Agosto seguiram para Buba. Houvera entretanto alterações no dispositivo militar, resultante da divisão de zona Sul, então na totalidade incluída na zona de ação do BCAÇ n.º 237. Dera-se a designação de Setor E, e a partir de Janeiro de 1965 passou a ser designado por Setor S2, com sede em Buba e abrangendo os subsetores de Buba, Cacine, Aldeia Formosa e mais tarde ainda os novos subsetores de Gadamael, Sangonhá e Guileje. O BCAÇ n.º 513 foi constituído na Guiné com a incorporação das três referidas Companhias de Artilharia, estava em Buba a CCAÇ n.º 411, houve também reforços com um Pelotão de Reconhecimento de Cavalaria, um Pelotão FOX. Recorde-se que o comandante da CART n.º 494 era o então Capitão Alexandre Coutinho e Lima, protagonista cimeiro da retirada de Guileje, em Maio de 1973. O Comando ficou em Buba, uma companhia partiu para Cacine, outra para a Aldeia Formosa, outra para Ganjola, no setor de Catió, onde se instalou provisoriamente.
E escreve-se na história do batalhão:  
“O facto mais grave foi o enfrentar logo no início de comissão a falta de instalações, muitas delas completamente destruídas, outras não possuindo mais que palhotas. As tropas viveram sempre nas piores condições imagináveis. Tiveram de construir paliçadas, abrigos para as armas e para o pessoal, que progressivamente foi necessário transformar em abrigos à prova de morteiro, pistas para a aviões a fim de não se ficar sujeito à única ligação mensal pelo barco dos reabastecimentos”.
E somos informados do inimigo existente, dispunha-se em três importantes zonas de concentração: a região de Incassol, nas margens do rio Corubal (Gã Gregório), a região de Forreá nas margens do rio Cumbijã e a região de Cacine na orla marítima (Campeane). Era tida como zona isenta de atividade inimiga a região da Aldeia Formosa – Contabane.

Era fundamental trabalhar na recuperação do “Chão Fula”. E escreve-se:  
“O regresso das populações às tabancas abandonadas só foi possível colocando um destacamento militar avançado na direção mais perigosa (Colibuia). O mesmo será necessário fazer quando se progredir na direção de Guileje, instalando nesta localidade um novo destacamento. Este sistema de dispersão de efetivos só seria possível desde que houvesse uma força móvel capaz de acorrer prontamente a qualquer ponto atacado. Por essa razão se manteve em Aldeia Formosa o pelotão FOX”. Era igualmente reconhecimento como imperativo paralisar o trânsito na fronteira Sul da Guiné. A tentativa de perfuração da CART n.º 496 em direção a Campeane não funcionou. Toda a região está bastante comprometida pelos terroristas e a progressão das tropas necessita sempre de apoio aéreo e de apoio terrestre dado por autometralhadoras”.

E o relatório elenca o que foi a recuperação do Chão Fula. O autor enquadra a situação:
“Junto à fronteira Sul e tendo como fulcro a tabanca da Aldeia Formosa (Quebo) uma vasta região encontrava-se habitada quase exclusivamente por povos de raça Fula tendo um importante chefe religioso, Cherno Rachide. Abrangendo os regulados de Contabane, Forriá e Guileje, corresponde a uma extensão de fronteira de mais de 40 quilómetros. Iniciada em princípios de 1963 a ação de grupos armados do PAIGC, sem que esses povos de raça Fula se tivessem deixado subverter na fase anterior de aliciamento, foram imediatamente atacados e expulsos das tabancas situadas nas linhas de infiltração escolhidas para passagens de pessoal e material, em especial no corredor de Guileje – Mejo – Nhacobá – Buba – Fulacunda. Atacada, incendiada e saqueada a tabanca de Salancaur Fula, onde se encontrava o régulo de Guileje, espalhou-se o pânico entre todos os povos desse regulado, fugindo uns para a República da Guiné, outros para Bedanda e ainda outros para Contabane e Aldeia Formosa. A tabanca do Mejo e outras próximas viriam também mais tarde a ser incendiadas e destruídas. Todas as casas de construção europeia pertencentes a comerciantes de Salancaur Cul e Bantel Silá foram destruídas. Em Maio de 1963 era chacinado em Samenau um sobrinho de Cherno Rachide e Cumbijã era atacada, ficando completamente incendiada e destruída. Assim avançou o IN na destruição das tabancas que lhe opunham dificuldades a caminho de Buba”.

O autor releva a ação de um pelotão da CCAÇ 41 e um pelotão de Reconhecimento de Cavalaria, Pelotão FOX, que foi incutindo respeito ao IN e dando confiança às populações. Nesse tempo os guerrilheiros ainda não dispunham de minas anticarro embora fizessem largo uso de fornilhos, que tinham pouco sucesso, porque eram comandados à distância. A viragem da situação ocorre com a instalação da CART n.º 495 em Aldeia Formosa, seguindo-se a instalação de um destacamento em Colibuia, em Outubro de 1963. Em Dezembro desse ano iniciou-se a preparação para a recuperação de Cumbijã. Em 4 de Fevereiro de 1964, uma enorme coluna auto, encabeçada pelo Pelotão FOX 888 e um grupo de combate da CART 495 procedeu à reocupação de Guileje. Tropas e população começaram do zero a ocupação de um dos mais importantes locais da fronteira Sul, sobre o ponto de vista militar. No mês seguinte começou a construção de um aquartelamento em Mejo e com a sua ocupação estavam criadas as condições necessárias para atingir Salancaur Fula e efetuar a ligação com Cumbijã através de Nhacobá e Samenau, completando-se a reinstalação dos povos Fulas das tabancas que tinham sido forçados a abandonar.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21099: Notas de leitura (1290): “Amílcar Cabral, Vida e morte de um revolucionário africano”, por Julião Soares Sousa; edição revista, corrigida e aumentada, edição de autor, 2016 (5) (Mário Beja Santos)

domingo, 4 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16446: Banco do Afecto contra a Solidão (17): Regressei do Lar de Runa... Um lar é um lar, por muito bom que seja... Aquilo para mim era já Gadamael (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


Instituto de Ação Social das Forças Armadas > Centro de Apoio Social de Runa (CASR), Runa, Torres Vedras


Foto: © Mário Gaspar  (2016). Todos os direitos reservados



1. Duas mensagens de hoje, do Mário Gaspra, enviadas às 3 e tal da manhã:

[foto à esquerda, Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]


(i) Assunto - Regressei do lar de Runa

Caros Camaradas

Mário Vitorino Gaspar regressou de Runa. Estou em Lisboa,  o Lar Militar em Runa fazia-me lembrar a Guiné.

Julgo estarem a confundir tudo. Sempre julguei que todos fossemos capazes de fazer um pouco de História – neste caso da guerra na Guiné – mas é mentira.

Cada um conta a sua verdade, parece mais que o Blogue não é necessário. Tenho a certeza que todos temos necessidade da importância do mesmo. Não pode ser um meio de se entreterem. Estive no Lar em Runa, sem computador e praticamente sem  contactos.

Quando uma parte se afasta há uma “história” ou “estória” mais, e cometem-se erros, para não dizer que se deturpa a verdade. O Camarada Coutinho e Lima tem razão, em Gadamael antes da CART 1659 tiveram a sua História a CART 494 e CCAÇ 798.

A CART 1659 era comandada pelo Capitão de Infantaria – e não de Artilharia, como alguém afirmou – Manuel F. F. de Mansilha.

A foto que consta do mesmo a cortar o bolo no Almoço de Confraternização na Batalha foi por mim enviada. Assim como o emblema da CART 1659 também fui eu que o fiz chegar ao Blogue.

Para saberem algo mais sobre o período de Janeiro de 1967 a Outubro de 1968, podem ler o meu livro “O Corredor da Morte”, estou a tratar de terminar uma 2.ª  edição, onde não vão existir omissões – omitir é mentir – não sou mentiroso…

Voltarei… Cumprimentos


(ii) Assunto: Um lar é... para além de tudo, um lar  – ou devia ser


Caros Camaradas e Amigos

Decerto não interessa a ninguém o que se passa num Lar. Eu estaria sempre interessado, sou curioso.

Podem crer ser pior um Lar – seja ele o melhor, tenha tudo aquilo que julgamos ser do melhor – só o sabemos quando lá estivemos.

O pessoal, todo ele compreensível, educado, trabalhador, simpático… Não tenho adjectivos para descrever, não existem palavras, mas é um Lar. Um Lar não pode ser isolado e afastado. Tem de possuir movimento de pessoas e movimentação.

Runa para mim já era Gadamael, na Guiné, no mato. Até os amigos se esquecem que existimos.

Falarei do assunto noutra altura.

Um abraço

Mário Vitorino Gaspar
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Nota do editor: 

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16437: Memória dos lugares (343): A CART 494, que eu tive a honra de comandar, foi a primeira unidade de quadrícula em Gadamael (de 17/12/63 a 28/5/65) e em Ganturé (de 21/2/64 a 28/5/65)... Fomos também nós quem construiu o primeiro aquartelamento de Ganjola, para onde fomos destacados, de 17/9 a 15/12/63 (Coutinho e Lima, cor art ref)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART 494 (de 17/12/1963 a 28/5/1965) > A equipa de futebol... Em 21/2/1964, o 3º Gr Com instalou-se em Ganturé em 21/2/1964.


Guiné > Região de Tombali > Setor de Catió > Ganjola  > CART 494 (de 17/9/1963 a 15/12/1963) >  O primeiro aquartelamento


Fotos (e legendas): © Alexandre Coutinho e Lima  (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do nosso camarada [Alexandre] Coutinho e Lima, cor art ref, ex-cap art cmdt da CART 494, Gadamael e Ganturé, 1963/65; adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné, 1968/70;  e ex-major art, cmdt  do COP 5, Guileje, 1972/73), 



Data: 29 de agosto de 2016 às 19:20
Assunto: P 7186 - 28 OUT 2010 - Memória dos lugares (105): Gadamael e as suas unidades de quadrícula


Caro Luis

Antes de mais um grande abraço, pois há bastante tempo que não temos tido contacto.

Aproveitando este magnífico tempo, aqui no Norte, tenho navegado no nosso blogue. revendo alguns aspectos relativos a Guileje e Gadamael. Hoje "esbarrei" no poste  P7186 do já longínquo ano de 2010.(*)

Nele é referido, com alguma incerteza, que a CART 1659 (67/68), poderá ter sido a 1ª. Companhia de quadrícula em Gadamael. Ora isso não corresponde à verdade. Com efeito, a primeira Companhia, naquela localidade, foi a CART 494, que eu tive a honra de comandar.

A Companhia chegou a Bissau em 22 de julho de 1963 e desde 17 de setembro até 15 de dezembro de 1963  esteve a passar umas "férias" em Ganjola (Norte de Catió, onde estava a sede do BCAÇ 356). O PAIGC ficou "tão contente", com a nossa chegada, que nos proporcionou, no próprio dia da chegada uma sessão de fogo de artifício diurno, que começou pelas 16h30; como certamente
pensaram que nós não tínhamos ficado totalmente satisfeitos, repetiram com uma sessão nocturna, por volta da 22g30.

A CART 494 foi a primeira tropa em Ganjola, onde construíu o primeiro aquartelamento, partindo do nada.

Transportada em 2 batelões (um motor) civis da Casa Gouveia (CUF) e no navio motor BOR da Armada, a Companhia fez a viagem de Ganjola para Gadamel, nos dias 15 e 16 de dezembro de 1963, tendo desembarcado em Gadamael Porto em 17.

Em 21 de fevereiro de 1964 o 3ª Grupo de Combate da Companhia ocupou a localidade de
Ganturé,  ficando assim a Companhia responsável pelos dois aquartelamentos, os quais construiu, de raiz.

Em Gadamael, construiu também a pista de aviação,apenas com pá e picareta e algumas cargas de trotil para desfazer os inúmeros morros de baga baga.

A CART 494 foi rendida em Gadamael / Ganturé, em 28 de maio de 1965, pela CCAÇ 798.(**)

No historial das Unidades que estiveram em Gadamel, falta preencher o período de 65 a 67.

Um abraço amigo,

Coutinho e Lima

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7186: Memória dos lugares (105): Gadamael e as suas unidades de quadrícula (Luís Graça / Daniel Matos)


(**) Último poste da série > 10 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16376: Memória dos lugares (342): Galomaro e as suas lavadeiras (António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912)

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16182: Memória dos lugares (340): Gadamael, 1974: foto dos régulos de Ganturé e de Gadamael... O de Ganturé chamava-se Abibo Injassó (Carlos Milheirão, ex-alf mil, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 4152/73 ( Gadamael e Cufar, 1974)  > 1974 > Régulos de Ganturé e de Gadamael... O de Ganturé chamava-se Abibo Injassó.

Foto: © Carlos Milheirão (2016). Todos os direitos reservados.




1. Mensagem de Carlos Milheirão [ex-alf mil, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974]


Data: 9 de junho de 2016 às 00:02


Assunto: Foto de Gadamael


Olá, caro Carlos Vinhal

Porque li um "post" em que alguém falava do régulo de Ganturé, lembrei-me de que tenho uma foto onde estão os dois (o de Ganturé e e o de Gadamael). Não me lembro de quem é quem mas lembro-me que o de Ganturé se chamava Abibo [Injassó].(*)

Abraço,

Carlos Milheirão (**)

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Notas do editor:



(...) A CART 494, comandada pelo então Capitão de Artilharia Alexandre Coutinho e Lima, embarcou em Lisboa, no navio Niassa, em 17 jul 63, tendo desembarcado em Bissau em 24 jul.

Esteve em Ganjola  (Norte de Catió), desde 17 set 63 (, desembarcámos às 11H00, ) até 15 dez 63, sendo a primeira tropa portuguesa a ocupar aquela localidade.

O baptismo de fogo foi no dia da chegada, em pleno dia (16h30); um grupo inimigo (IN) atacou com grande intensidade de fogo, aproximando-se a cerca de 3 metros, nas poucas zonas onde já estava instalado.

O IN teve 4 mortos confirmados, encontrados no meio do capim, com as respectivas armas: 2 Espingardas Mauser, 1 carabina e 1 pistola metralhadora PPSH. As nossa tropas (NT) não tiveram a mais pequena beliscadura; foi um dia de muita sorte.

Desde 17 set 63 até 28 mai 65, ocupou Gadamael, sendo a primeira Companhia naquela localidade. Neste período, construiu, a partir do zero, dois aquartelamentos: a sede da Companhia e o destacamento de Ganturé.

Realizou uma intensa actividade operacional, no sector que lhe foi atribuído, bem como a abertura e manutenção dos respectivos itinerários. Gadamael foi uma verdadeira plataforma logística, pois no seu “porto” desembarcavam os reabastecimentos para a Companhia e para as guarnições de Guileje, Mejo e Sangonhá/Cacoca, que davam origem às respectivas colunas, para os levar ao destino.

A Companhia realizou uma permanente acção psicossocial, no sentido de fazer regressar as populações, que se traduziu pelo regresso a Ganturé do seu Régulo Abibo Injassó e de 108 elementos da população.

Desde 28 mai 65 até 18 ago 65, esteve no sector de Bissau, onde desenvolveu acções de patrulhamento, acção psico social e assistência sanitária às populações.

A Companhia regressou a Lisboa em 18 ago 65, a bordo do navio Uíge; seguimos para o Regimento de Artilharia Pesada nº. 2, em Vila Nova de Gaia, onde o pessoal foi desmobilizado. (...)


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15217: História de vida (42): Clube dos Octogenários - Narrativa de 80 anos de vida (Coutinho e Lima)

1. Mensagem do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 17 de Setembro de 2015:

Caro Amigo Carlos Vinhal
Junto envio o texto em epígrafe, no qual relato a minha vida, com relevo para a vida militar e dou algumas informações relativas ao próximo livro que comecei a escrever.

Um Abraço Amigo
Coutinho e Lima

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CLUBE DOS OCTOGENÁRIOS

Narrativa de 80 anos de vida

Ao entrar, por direito próprio, no Clube dos Octogenários, entendi fazer o que agora se designa como “narrativa” dos meus 80 anos de vida. É o que se segue.

Nome: Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Nascimento: 21 de Setembro de 1935
Local: Freguesia de Vila Fria – Concelho de Viana do Castelo
Instrução Primária: 4 Classes, na Escola Primária de Vila Fria
Ensino Secundário: 5 anos no Liceu Nacional de Viana do Castelo 6.º e 7.º anos, no Liceu Camões, em Lisboa


Vida militar, postos, colocações e funções

Escola do Exército – 1953/56 
- 53/54 – Curso Geral Preparatório, no Aquartelamento da Amadora

- 54/56 – Curso de Artilharia, em Gomes Freire


Tirocínio para Oficial – 56/57 – na Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas.
Tive o privilégio de ter, como Comandante da Bateria de Instrução, o Sr. Capitão de Art.ª ERNESTO PASSOS RAMOS, um dos mais prestigiados Oficiais do Exército Português. Foi barbaramente assassinado pelo PAIGC (era Major), juntamente com outros Oficiais, em Abril de 1970, na região de Pelundo/Jolmete – Guiné.


Alferes e Tenente – 1957/61

- Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 – Serra do Pilar – V. N. de Gaia.

Durante este período, frequentei:
- Curso de Observador Aéreo de Art.ª na EPA e Base Aérea 3 – Tancos .
- Curso de Instrutor de Educação Física Militar, no CMEFED (Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos), em Mafra.


Capitão – 1961/70 

- Regimento de Artilharia Ligeira n.º 2 – Coimbra

- CMEFED

- CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné) – 1.ª Comissão – 63/65
Comandante da CART (Companhia de Artilharia) n.º 494 - Gadamael

- CMEFED

- CTIG – 2.ª Comissão - 68/70
Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe - Bissau

- Academia Militar


Major – 1970/76 

- Academia Militar

- CTIG – 3.ª Comissão (72/74)
Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama - Director de Instrução
Comandante do Comando Operacional n.º 5 (COP 5) – Guileje
Bissau - Prisão Preventiva (MAI 73/MAI 74), como consequência da Retirada de Guileje

- Estado Maior do Exército – 5.ª Repartição

- Quartel General da 3.ª Divisão – Santa Margarida – Chefe de Estado Maior (CEM)

- Academia Militar – Gabinete de Estudos

- Escola de Artilharia dos Estados Unidos da América – Fort Sill, Oklahoma
Curso Avançado de Artilharia – Field Artillery Officer Advanced Course (2-76)


Tenente Coronel - 1977/82 

- Academia Militar

- Comando da Área Ibero-Atlântica (COMIBERLANT) – Oficial de Pessoal e Segurança (JUL 77/NOV 80)

- Quartel General da Região Militar dos Açores (QG/ZMA) - CEM

- Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e Costa (CIAAC) – 2.º Comandante


Coronel – 1982/89

 - Direcção do Serviço de Educação Física do Exército (DSEFE) – Inspector

- QG/ZMA – CEM

- DSEFE – Inspector

Passagem à situação de Reserva – 1 de Setembro de 1989

Passagem à situação de Reforma – 1 de Setembro de 1995


Desempenho de funções não militares

- Director de Segurança do Metropolitano de Lisboa – 1989/1997

- Presidente da Direcção da Casa do Minho em Lisboa – 1988/89; 1992/93

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Depois desta descrição, penso que posso concluir que tive, durante 80 anos, uma vida militar muito variada e intensa, tendo aprendido sempre em todas as situações e circunstâncias.

Nas actividades, em tempo de paz, saliento as dedicadas à Educação Física: Curso de Instrutores no CMEFED (58), onde fui Instrutor em 62/63 e 65/68; mais tarde prestei serviço na DSEFE, antes e depois de ter sido, com o Posto de Coronel, CEM do Q/ZMA; na DSEFE desempenhei a função de Inspector.

Na guerra, têm especial relevância as 3 Comissões, por imposição, na Guiné, nas quais conheci os 3 Comandantes-Chefes: Senhores Generais ARNALDO SCHULZ, ANTÓNIO DE SPÍNOLA e BETTENCOURT RODRIGUES.  Por esta razão, tive oportunidade de verificar a evolução da guerra: no que respeita o IN, desde o baptismo de fogo, em 17 SET 63 (primeiro dia da CART 494, que eu comandava, em Ganjola – Norte de Catió) – 1.ª Comissão, até ao ataque em força a Guileje (3.ª Comissão), no período de 18/22 MAI 73, onde eu era o Comandante do COP 5.

Relativamente à actividade operacional, na 1.ª Comissão, a CART 494 (integrada no BCAÇ 513 – sede em Buba), ocupou a localidade de Gadamael (com um destacamento em Ganturé), materializando no terreno a Missão atribuída ao Batalhão, pelo Sr. Comandante-Chefe, Sr. General Arnaldo Schulz, de ocupar a fronteira Sul com a Rep. da Guiné Conacri. As outras posições ocupadas pelas NT foram Guileje, Sangonhá (com um destacamento em Cacoca) e Cameconde - destacamento da Companhia com sede em Cacine.

Na 2.ª Comissão, como Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe, em Bissau, (era Comandante-Chefe o Sr. General Spínola), tive oportunidade de viver a outra face da guerra, esta muito mais confortável.

Na 3.ª Comissão, (ainda era Comando-Chefe o Sr. General Spínola) com o posto de Major, comecei por ser Director de Instrução do Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama e a seguir Comandante do COP 5, em Guileje; em 22 MAI 73, decidi retirar desta localidade todos os militares, milícias e população, por ter considerado, face à negação de reforços, solicitada ao Comando-Chefe, conjugada com a intensa e constante pressão do IN (37 flagelações em 80 horas), a posição insustentável.

Como consequência, foi ordenada a minha prisão preventiva, com a instauração de um auto de corpo de delito.

Sobre este assunto escrevi o livro “A Retirada de Guileje”.

Presentemente, estou a escrever um 2.º livro (ainda na fase inicial), cujo título será “As minhas 3 Comissões, por imposição, na Guiné”.

Relativamente à 3.ª Comissão, não faz nenhum sentido e não o farei, repetir o que consta no livro já publicado. Nestas condições, é minha intenção:

- incluir no próximo livro, cópia da “Acta da Reunião de Comandos realizada em 15 de Maio de 1973, no Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, em Bissau” ; é um documento da maior importância, que será objecto de dois comentários: um sobre o seu conteúdo geral; outro analisando a decisão da retirada de Guileje, face ao que consta, na referida acta, das declarações de alguns dos participantes, nomeadamente o Sr. Comandante Adjunto Operacional e os Senhores Chefes das Repartições de Informações e Operações;

- publicar as críticas, positivas ou negativas, que chegaram ao meu conhecimento, sobre “A Retirada de Guileje”; das críticas negativas, algumas muito contundentes, destaco as de 4 Senhores Oficiais da Força Aérea (todos Pilotos Aviadores): 3 Oficiais Generais e 1 Tenente Coronel;

- solicitar, a todos os militares que estavam em Guileje, no período de 18/22 MAI 73, uma opinião sobre a decisão de retirar de Guileje, se assim o entenderem.

Importa referir que, destes militares, apenas um apresentou no nosso blogue, uma crítica, muito severa, sobre este assunto – Soldado Constantino Costa; embora eu lhe tenha respondido, a opinião deste militar perde toda a credibilidade, ao afirmar que os relatórios de operações da Companhia eram todos iguais (qualquer que fosse a missão), apenas mudava a data e que, depois do 25 de Abril (na sua designação 25 A), fora eleito representante dos Oficiais, Sargentos e Praças da Companhia, junto da estrutura do MFA na Guiné; tais afirmações, como terei oportunidade de provar, são puras mentiras.

Aproveito esta oportunidade para sugerir aos componentes da nossa Tabanca Grande, se assim o entenderem, que me façam chegar a sua opinião sobre a decisão que tomei de retirar de Guileje, para serem incluídas no meu próximo livro.

Alexandre da Costa Coutinho e Lima
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15197: História de vida (41): Regressei a 6/11/1968 e casei-me a 29/6/1969, com uma das minhas madrinhas de guerra...Soube pelo padre que a tropa me tinha dado como morto... (Mário Gaspar,ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15123: Efemérides (197): O baptismo de fogo da CART 494 foi há 52 anos (Coutinho e Lima, Cor Art.ª Ref)

1. Mensagem do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 17 de Setembro de 2015:

Caro Amigo Carlos Vinhal 
A CART 494, que eu comandei na minha 1.ª comissão na Guiné (63/65), teve o seu batismo de fogo, em 17SET63, em Ganjola (Norte de Catió), isto é, faz hoje 52 anos. 
Sobre este assunto foi publicado, no nosso blogue, em 17SET2004, um texto relatando os factos - P13617.

A CART 494 comemorou, no passado dia 29 de Agosto, os 50 ANOS DE REGRESSO DA GUINÉ, com o seguinte programa: 
- 10H00 - Concentração no Quartel da Serra do Pilar 
- 10H30 -Colocação de uma placa comemorativa, no local a isso destinado
- 11H30 - Missa na Igreja de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia, celebrada pelo Sr. Padre Joaquim Soares, Capelão do Batalhão . 
- 13H00 - Almoço convívio num restaurante na ribeira de Vila Nova de Gaia

Estiveram presentes 33 elementos da Companhia, juntamente com suas famílias (incluindo 3 netos), no total de 73 pessoas. 

Com um abraço amigo 
Alexandre C C Lima 
(Coronel de Art.ª Reformado
Comandante da CART 494 - Guiné (63/65) 

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Nota do editor:
Do Poste 13617 de 17 de Setembro de 2004:

[...]
Na manhã de 17SET, quando a maré o permitiu, partimos de Catió para Ganjola; quando aqui chegamos (cerca da 11 horas), verificamos, que os GC da CI ainda não tinham feito a travessia do rio (Catió ficava a Sul do rio Ganjola e a posição a ocupar a Norte do mesmo rio), pelo que atracamos ao pequeno cais, sem estar montada qualquer espécie de segurança.


 Ganjola. Vd. Carta de Catió 1/50.000

Começamos a descarregar os batelões, enquanto era montada a segurança; o atraso verificado nesta era preocupante porque, seguramente, o Inimigo (IN), com muita probabilidade, tinha tido conhecimento da nossa chegada.

Uma das primeiras medidas foi montar a Metralhadora Breda e os Morteiros de 60mm, para permitir a reacção a qualquer acção do IN.

Às 16H45, o IN atacou o que iria ser o futuro aquartelamento, com grande intensidade de fogo, tendo-se aproximado a poucos metros do arame farpado (nas zonas onde já estava instalado), a coberto das bananeiras e de outras árvores de fruto, bem como do alto capim, que, obviamente, não houvera ainda tempo de cortar.
O ataque durou cerca de uma hora. O pessoal da Companhia, juntamente com os 2 GC da Companhia de Catió, reagiu ao fogo inimigo, tendo o IN retirado. Às 22H45, verificou-se novo ataque, igualmente com grande poder de fogo e foi novamente rechaçado.

No dia seguinte, foram encontrados 4 mortos do IN, deixados no meio do capim. Pelos rastos de sangue observados, o IN teve, certamente, mais baixas.
Foi capturado o seguinte material: 2 Espingardas Mauser, 1 carabina, 1 pistola metralhadora PPSH e 1 pistola de sinais; 1 cunhete de Metralhadora Ligeira Browning com 1 fita de munições completa e outras incompletas, bem como grande quantidade de granadas de mão. Durante os trabalhos de capinagem subsequentes, com o objectivo de abrir campos de tiro, foram encontradas dezenas de granadas de mão, que o IN tinha abandonado.
As Nossas Tropas (NT), com uma enorme dose de felicidade, não tiveram uma beliscadura sequer. 

[...]
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15084: Efemérides (196): Homenagem aos Combatentes Limianos caídos ao serviço da Pátria, levada a efeito no passado dia 29 de Agosto, em Ponte de Lima (António Mário Leitão)