terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23900: In Memoriam (464): Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (1935-2022), ex-Cap Art, CMDT da CART 494, Gadamael (1963/65), ex-Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné (1968/1970) e ex-Major Art, CMDT do COP 5, Guileje (1972/73)

 

Amadora > Auditório da Academia Militar > Sessão de lançamento do livro "A Retirada de Guileje" (Lisboa, DG Edições, 2008), do cor art ref Continho e Lima, em 13/12/08, 17h. O livro foi apresentado pelos, jornalista Eduardo Dâmaso e general Loureiro dos Santos. 
  
Coutinho e Lima (1935-2022) ex-cap art cmdt CART 494, Gadamael (1963/65),  ex-Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné (1968/1970) e ex-major art, cmdt  do COP 5, Guileje (1972/73) 

Foto (e legenda): LG (2008)


1. Chega-nos, de manhã, através de uma mensagem enviada ao Carlos Vinhal, a triste notícia da morte de mais um camarada nosso, aos 87 anos, Alexandre Coutinho e Lima (Viana do Castelo, 15 de setembro de 1935 - Lisboa, 2022).

Mas na passada segunda feira, já  tínhamos recebido um mail, às 22h12, da Maria Isabel Lima, com a triste notícia e que só agora li por estar acamado:

Sr. Professor: eu sou a M. lsabel Coutinho e Lima. Quero comunicar-lhe, que meu marido, depois de algum sofrimento desde o dia 25 de Setembro, faleceu hoje, cerca das 18horas

O Carlos já mandou  à viúva, D. Maria Isabel Courinho e Lima, por email os pêsames da Tabanca Grande:

"Lamentamos profundamente a perda do marido. Sabíamos que estava a passar menos bem mas não esperávamos esta triste notícia.  A tertúlia deste blogue associa-se à sua dor e envia-lhe as mais sentidas condolências, extensivas a toda a família.  Pedimos o favor de nos enviar, quando souber, os pormenores das exéquias fúnebres.  Ao dispor,  Carlos Vinhal".




Alexandre Coutinho e Lima - A retirada de Guileje: 22 de maio de 1973: a verdade dos factos (rev. texto Maria Filomena Folgado. - 4ª ed. - Linda-a-Velha : DG Edições, 2010. - 473 pp.)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 22 de Maio de 1973 > A retirada, dramática mas ordeira, das tropas portuguesas, por decisão, à revelia do Comando-Chefe, do major Coutinho e Lima, comandante do COP5. Segundo informação do Nuno Rubim (de quem não notícas "há séculos" !) a primeira unidade a ir para Guileje foi um Grupo de Combate reforçado da CART 494, em jan / fev de 1964. A Companhia estava a instalar o quartel em Gadamael. Só mais tarde é que um grupo da CART 495, em final de fevereiro desse ano, foi reforçar a guarnição até à chegada das primeiras forças da CCAÇ 726, em 31 de Outubro, permanecendo ainda algum tempo em sobreposição.

A CART 494 era comandada pelo então Capitão Coutinho e Lima, "que assim fica para sempre ligado ao início e fim de Guileje" (sic) ...  

Foto de origem desconhecida, editada por nós, e gentilmente cedida pelo Pepito, fazendo parte do acervo fotográfico do Projecto Guiledje ( © AD - Acção para o Desenvolvimento ).

A decisão, à revelia do Com-Chefe, gen Spínola, de retirar Guileje, em 22 de maio de 1973, foi a decisão mais dramática e porventura mais difícil da sua vida. E destruiu a sua carreira militar. Estebe um ano preso em Bissau. Depois de passar à situação de reforma, Coutinho e Lima fez questão de contar, por escrito, a sua versão os factos, o que fez com coragem, frontalidade e dignidade.  O seu livro, lançado em 2008, teve pelo menos 4 edições.

Dos muitos postes publicados no nosso blogue, chamo a atenção para o poste P267 (dois vídeos e 25 fotos) em que a população de Guileje, trinta e cinco anos depois (por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, em março de 2008),  homenageou  o Cor Art Ref Coutinho e Lima 

O Coutinho e Lima tem mais de uma centena de referências no nosso blogue. Era uma pessoa afável e um bom minhoto. Gostava de me convidar, a mim e à Alice, para jantar no dia dos seus anos, a 15 de setembro. Ele tinha casa em Benfica, éremos quase vizinhos.  E a esposa, Maria Isabel,  era (é, felizmente está viva) simpatiquíssima. E tinha muito orgulho na decisão do marido de salvar centenas de vidas, em 22 de maio de 1973. Ainda fomos a um ou dois jantares de aniversário. Mas a altura não era das mais convenientes para nós: estávamos  habitualmente na Lourinhã, em setembro. Às vezes falávamos ao telefone. Disse-me há tempos que andava a escrever a história da sua 
CART 494 (Gadamael, 1963/65).  Com a sua morte, perdemos também um manancial de memórias sobre a Guiné do tempo da guerra de 1961/74.

À família enlutada, esposa, filhos e netos  endereçamos os nossos votos de profundo pesar. 

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2. Entretanto, cerca das 23 horas do dia, recebemos uma mensagem da senhora Dona Maria Isabel Lima com os pormenores das cerimónias fúnebres do seu malogrado marido.

As cerimónias religiosas meu marido decorrerão na próxima quinta-feira, dia 22. Da parte da tarde haverá uma missa de corpo presente pelas 17h00 na Capela da Academia Militar, em Lisboa, na Rua Gomes Freire.

Na sexta-feira, 23,  o corpo seguirá para Vila Fria, Viana do Castelo, onde será rezada uma outra missa pelas 16h00 e o funeral será logo a seguir.

Muito obrigada
Maria Isabel Lima

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Nota do editor:

Último poste da série de 26 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23817: In Memoriam (463): Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022)... Um excerto do livro "Quebo" (2014): Recordando os tristes acontecimentos que ensombraram Aldeia Formosa, na noite de Consoada de 1971, "se não a pior, uma das mais trágicas da minha vida"

16 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Numa situação como esta não há nada que se diga. Concentremo-nos e nada mais. Nós os que ficamos (ainda e por quanto tempo?) só temos que fazer a guarda e a memória do sucedido. Das hesitações, das dúvidas e de todos momentos amargos que teve de enfrentar.
Devemos louvar e divulgar as decisões (sabe-se lá a que preço?) que tomou e todos os sofrimentos que a vida lhe continuou a arrastar, quando tudo parecia acabado.
Se pudermos divulguemos a sua acção e as situações porque passou de modo a que a memória se mantenha. Esta deve ser a sua maneira de ser eterno...

Pêsames para a família e lamento pela perda de um homem dos que é raro nascerem.
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...

Aquela foto da retirada dos militares em fila indiana, devidamente fardados com a sua bagagem individual, com a sua arma a tiracolo, com disciplina, denota que havia ali um Comandante que sabia o que estava a fazer.

Um Comandante de consciência tranquila.


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vindo de um camarada, se bem que mais novo, da Acdemia Militar e da mesma arma, a artilharoa, o teu comentário, Tó Zé, é de uma grande nobreza. Nem sempre me vida, o Coutinho e Lima foi "bem tratado", nomeadamente aqui no blogue. no "calpr das polémicas que origonaram o seu livro. Acho que nem todos, na altura, se puseram na pele do comandamyr operacional, responsável por centenas de vidas, e que tem de tomar decisões de "vida ou de morte" na frente de batalha...

No pequeno vídeo que eu inseri, no poste P3618, com um excerto da intervenção do Gen Loureiro dos Santos, na apresentação do livro na Academia Miçitra, fala-se da terrível da solidão de quem tem de decidir, sozinho, em situações-limite. Mas o dia (13/12/2008) foi de festa para o Cor Art Ref Coutinho e Lima: finalmente, 35 anos depois, pôde contar a sua história...

A apresentação do livro esteve a cargo do jornalista Eduardo Dâmaso e do General Loureiro dos Santos, este último camarada de curso na Escola do Exército / Academia Militar (o de 1953, de artilharia) do Coutinho e Lima. Estiveram presentes mais de 400 pessoas entre camaradas de armas, combatentes da Guiné, jornalistas, familiares e amigos. Entre os presentes, contavam-se o Gen Ramalho Eanes e o embaixador da Guiné, Constantino Lopes que veio acompanhado da sua filha, que faz juz à beleza das guineenses. Também esteve representada a Casa da Guiné em Coimbra, através da pessoa do Doutor Julião Soares Sousa, seu presidente.

Dos membros da nossa Tabanca Grande, fiz questão de destacar uma fortíssima representação da Tabanca de Matosinhos: recordo-me de ter encontrado diversos: Xico Allen (já falecido), António Pimentel, João Rocha (já falecido), J. Casimiro Carvalho, Eduardo Magalhães Ribeiro, o José Manuel Lopes... Do centro (Figueira da Foz), o "periquito" Vasco da Gama, "Tigre do Cumbijã". De Lisboa e arredores, o Zé Carioca e o Sérgio Sousa (Gringos de Guileje), o Pedro Lauret (Marinha=, o José Martins, o José Colaço, o António Santos, o Carlos Silva (e a esposa), o Beja Santos, eu próprio e a Alice... E obviamente o artista principal, o Coutinho e Lima, que teve um apoio excepcional da família (a esposa Isabel, a filha, os netos...).

Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2008/12/guin-6374-p3618-retirada-de-guileje-por.html

Valdemar Silva disse...

A retirada de Guilege, devia ter sido uma decisão dramática para o comandante militar.

Sentidos pêsames

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Sentidos pêsames a toda a família.

C.Martins

José Teixeira disse...


TABANCA DE MATOSINHOS
Desde há muito tempo que nos habituamos a ter presente nos nossos almoços semanais na Tabanca de Matosinhos, o coronel Coutinho e Lima. Deslocava-se de Viana a Matosinhos para almoçar connosco. A forma de estar simples comunicativa e dialogante era um estímulo para nós.
Passava uns tempos em Lisboa, mas quando regressava ao Norte, na quarta-feira seguinte apresentava-se para o rancho na Tabanca.
Sentia-se bem no nosso meio e a sua presença era para nós um orgulho. Ouvimos muitas memórias da sua guerra, e das razões que o levaram a assumir a atitude de abandonar Guilege. Não o fez sozinho. Ouviu os seus quadros e os homens grandes, equacionou as possíveis consequências da sua atitude, a começar pelas vidas humanas que conseguiria salvar, se o inimigo, não se apercebesse da manobra, o que era para o grupo de comando, uma quase certeza, e a continuar, no fim da sua carreira militar com humilhação da sua pessoa, como aconteceu, mesmo depois do 25 de Abril, quando a História demonstrou o quanto foi errada aquela guerra.
Arriscou, considera que venceu, porque salvou as vidas. orgulhava-se da sua atitude.

Perdemos um camarada que deixou marcas, nesta Tertúlia, pela simplicidade como se apresentava e agia com os camaradas presentes. Era um dos nossos.
Vai serv relembrado pelos tempos fora com carinho.

A TABANCA DE MATOSINHOS apresenta à esposa e demais família as mais profundas condolências

Anónimo disse...

Os dias de autentico inferno em Guileje aconteceram em simultâneo com a operação Balanço Final (17 a 23 de Maio 73) com a ocupação de Nhacobá pela companhia, Ccav 8351 (Os Tigres do Cumbijã).

A Ccav. 8350 (Os Piraras de Guilije) e a Ccav. 8351 (Os Tigres do Cumbijã) formaram-se no Verão de 1972, em simultâneo, no Regimento de Cavalaria n.º 3 em Estremoz, pelo que eram duas companhias irmãs.

Várias vezes invejamos a sorte desses nossos irmãos pelo facto de serem colocados numa aquartelamento bem fortificado e onde nada acontecia à vários anos.

Só no dia 23 de Maio de 73, depois de tomarmos Nhacobá, e após, também, uma retirada inopinada de noite, surgiram rumores do que estava acontecer em Guileje.

Quando tomamos conhecimento da retirada de Guileje (a 22 de Maio 73), não obstante Guidage e a forte ofensiva do In no Sul do país, com os Strela já a voarem pelos céus, ficamos incrédulos, já que julgávamos impossível ocorrer uma situação com este dramatismo.

As informações que nos iam chegando eram poucas e contraditórias

Segurado Gadamael, circularam rumores que estava em preparação a tentativa de reocupação de Guileje a partir de Cumbijã, que nunca chegou a acontecer .

Estando na posse, hoje, de todos os dados, podemos questionar a decisão, mas não deixa de ser uma decisão de grande coragem, só ao alcance de grandes líderes.

Paz à sua alma e os meus sentidos pesamos à família.
Joaquim Costa

Anónimo disse...

Condolências a toda a família.
Ernestino Caniço

António Martins Matos disse...


Sentidos pêsames a toda a família.

AMM

José Marcelino Martins disse...

Condolências.

José Botelho Colaço disse...

Sentidos pêsames á família enlutada.

Hélder Valério disse...

Caros amigos

Sabe-se, sabemos, que a morte física é um desfecho absolutamente natural, que irá acontecer a todos e cada um de nós. Sabemos isso, mas sendo "natural" é sempre com alguma dificuldade e consternação que recebemos as notícias que nos dão conta de mais este ou aquele falecimento.
E sentimos maior proximidade quando esse infausto desfecho ocorre com alguém com que, de algum modo, se trocaram palavras e/ou situações. E mais ainda quando as notícias nos atingem de sopetão, sem se ter algum "aviso prévio".
O que se pode fazer é preservar a memória e honrá-la.

Os meus sentidos pêsames à família.

Hélder Sousa

https://cart3494guine.blogspot.com/ disse...

Curiosamente o saudoso COR Coutinho e Lima é (era) efectivamente de Vila Fria - Viana do Castelo, somos práticamente visinhos, foi na sua casa cá em Vila Fria que conversamos sobre o seu livro "A retirada de Guilege.
Também no Salão da junta de Freguesia de Vila Fria apresentou a 3ª edição do seu livro no dia 05/12/2009 Vê aqui: https://cart3494guine.blogspot.com/2009/12/p45-apresentacao-da-3-edicao-do-livro.html
Aos seus familiares e amigos de toda a Tabanca Grande apresento as mais sentidas condolências.

Irei estar presente no Funeral.

A. Sousa de Castro

Manuel Luís Lomba disse...

Condolências à Família.

Anónimo disse...



Gostei do coronel Coutinho e Lima. Conheci-o na Tabanca de Matosinhos, era um homem afável e camarada, diferente de muitos oficiais emproados. Admirei a sua coragem ao abandonar Guileje quando se viu sem meios para defender o quartel e as vidas dos homens sob o seu comando e das gentes sob a sua proteção. Foi um militar corajoso ao desobedecer às ordens de Bissau e incorrer na ira do General Spínola, sabendo que o ia esperar a prisão e a tentativa de descrédito dos oficiais afectos ao regime e dos oficiais do estado maior do comando de Bissau que serviam e adulavam o Comando Chefe.
Há momentos em que um militar tem que se libertar para mostrar que é um grande homem. O coronel Coutinho e Lima foi um grande Homem,
Um abraço camarada! Os meus sentidos pêsames à família

Francisco Baptista

Anónimo disse...

Conheci o Coronel Coutinho e Lima em alguns encontros das Tabancas e desde a primeira hora que o passei a admirar, pela sensatez e a coragem demonstrada na decisão tomada, quando sabia que isso lhe arruinaria o seu futuro.

Os meus sentidos pêsames aos seus familiares

Jorge Picado