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sábado, 15 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26585: In Memoriam (539): Mário Vitorino Gaspar (1943-2025), ex-fur mil art, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)... O funeral é hoje, às 15h45, no Cemitério de Camarate, Loures

 

Mário Gaspar (1945-2025)

1. Mais uma notícia profundamente triste, que nos chega ao conhecimento, através da página do Facebook do Carlos  Pedro Marques Gaspar, filho do nosso camarada Mário Gaspar, com data de ontem, sexta, de manhã:

É com profundo pesar que comunico a morte do meu pai Mário Vitorino Gaspar e que as cerimónias fúnebres terão início hoje, a partir das 17h, com velório na Igreja do Campo Grande (Igreja dos Santos Reis Magos - Paróquia do Campo Grande).(*).

Amanhã, sábado, às 15h45, será realizada a despedida final no Cemitério de Camarate.

Obrigado.

Fonte: Página do Facebook de Carlos Pedro Marques Gaspar




Mário Gaspar
2. O Mário Vitorino Gaspar, ex-fur mil art,  minas e armadilhas, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), integrava a Tabanca Grande desde  8/12/2013 (*). 

Tem 144 referências no blogue (**). Eis uma breve nota biográfica:

(i) nasceu a 9 de abril de 1943  na freguesia de Santa Maria, em Sintra;

(ii)  foi alistado em 27/7/63 e incorporado em 3/5/65, de acordo com a sua caderneta militar;

(iii) viveu em Alhandra desde os 3 anos; "vila industrial, foi aí que aprendi a ser Homem, embora tenha estudado no então famoso Externato Sousa Martins, em Vila Franca de Xira";

(iv) "desde os meus treze anos namorei com uma sueca, linda boneca, Ingrid Margaretha Gustavsom: Alhandra foi a minha Universidade, tive como Professores Sábios Avieiros e os Operários";

(v) à vila de Alhandra, no concelho de Vila Franca de Xira, estão ligados os nomes de grandes portugueses como Afonso de Albuquerque (Alhandra, 1452 -Goa, 1515), o médico Sousa Martins (Alhandra, 1843- Alhandra, 1897) (que o povo transformou em santo) ou o escritor Soeiro Pereira Gomes (Baião, 1909 - Lisboa, 1949), autor de "Esteiros" (1941) (obra ilustrada por Álvaro Cunhal, e dedicada aos "filhos dos homens que nunca foram meninos");

(vi) durante a pandemia de Covid-19, o Mário foi  também um dos nossos bons e fiéis companheiros, mandando-nos quase todos os dias emails, alimentando o nosso blogue com imenso material, desde poemas a vídeos, mesmo que muito desse material  não fosse publicável, por razões editoriais (por exemplo, tudo o que era referente à atualidade política, social e cultural);

(vii) foi também um exemplo, corajoso, de um camarada nosso que, apesar dos seus inúmeros problemas de saúde nos últimos anos, conseguiu remar contra a maré da infelicidade, e ensinar-nos a maneira como podíamos envelhecer,  ativa, proativa, produtiva e saudável:  escrever no nosso blogue ou em boletins como  "O Olhar do Mocho", era  um dos muitos meios que ele apontava, e que praticava;

(viii)  trabalhou  perto de 30 anos na Dialap - Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, SA : "éramos nós, Portugueses, os Melhores Lapidadores de Diamantes do Mundo, e a Dialap talvez a maior Empresa de Portugal";

(ix) era DFA - Deficiente das Forças Armadas;

(x) foi cofundador e dirigente da APOIAR -  Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

O último mail que recebemos dele,  foi no dia 9, há seis dias. A Tabanca Grande apresenta à família os votos de pesar pela morte do seu familiar, e nosso amigo e camarada Mário Gaspar. Que descanse finalmente em paz.


 
Capa do livro de memórias que publicou em vida, em 2014, 
com prefácio do psiquiatra dr. Afonso de Albuquer

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segunda-feira, 10 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26569: (In)citações (263): Palavras de homenagem e de agradecimento da família do Valdemar Queiroz da Silva (1945-2025): "Perdi um pai mas encontrei muitos tios! (José da Silva) | "Pai, como você diria de uma forma muito teatral, no final de uma boa garrafa de vinho: Deste..? Deste já não há mais! " (Maaike da Silva)






1. Mensagem José da Silva, filho do nosso já saudoso e sempre querido Valdemar Queiroz (1945-2025) (*), seguida do texto que a esposa, neerlandesa, Maaike da Silva, leu na cerimónia fúnebre, no sábado à tarde, no Cacém (**):


Data - domingo, 9/03/2025 23:18  

Boa noite,  sr. Graça.

Escrevi um pequeno texto de agradecimento que, se possivel, gostava que publicasse no blog.
Repito os meus agradecimentos pelos ultimos dias, sr. Graça.
Cumprimentos,
Zé da Silva


Caros camaradas,

Alguém deve de ter dito um dia que quando algo perde, algo de novo se encontra. Essa é a ideia com que fiquei dos atribulados e emocionantes dias que se passaram. As palavras que foram chegando através de emails, mensagens e dos diversos post no blog da Tabanca Grande, deram força e acima de tudo transmitiram uma amizade por parte dos camaradas do meu pai. 

Durante a cerimónia funebre de sábado dia 8 de março, um camarada disse (e peço desculpa mas não me recordo quem foi...) " Desde que nos lembramos de alguém, esse alguém está sempre presente", e é assim que o meu pai estará sempre presente. Basta nos lembrar dele. 

Contaram-se histórias e aventuras ( eu nem sabia que o meu pai tinha veia para locutor de rádio....) mas tenho que confessar do que mais gostei de ouvir foi o orgulho que o meu pai tinha do seu filho e especialmente dos seus netos.

Perdi um pai mas encontrei muitos "tios"!

Muito, muito obrigado por parte do filho, da nora e dos netos do Valdemar Queiroz.

Bem haja a todos e ficou a promessa de um até uma próxima oportunidade.


2. Texto da esposa do José da Silva, Maaike da Silva:


Meu querido pai,

Sento-me aqui em Colares a olhar para o salgueiro chorão que está aqui em frente à casa. O salgueiro chorando como metáfora para a montanha-russa dos últimos dias. Sinto-me especialmente triste pelo período difícil que teve. Mas,  quando olho atentamente para os ramos do salgueiro chorão, vejo a nova vida de uma primavera se aproximando e, ao mesmo tempo, também sinto gratidão pelos anos que pude conhecê-lo. 

Muitas lembranças passam pela minha mente. Lembro-me do nosso primeiro encontro, do casamento com o seu filho e do leitão que levou na bagagem de mão no avião. Uma bela história que continua a ser contada anos depois. Memórias dos primeiros anos, quando as crianças ainda eram pequenas. 

Que avô orgulhoso você sempre foi para nossos filhos, fez quilómetros de material de filme e fotos durante as férias . O suficiente para nos enviar nos meses seguintes. 

Lembro-me dos anos em que se sentava à nossa mesa com a mãe e a avó Joana durante a época natalícia. Belas lembranças ..... 

As histórias e anedotas que você poderia transmitir como nenhum outro. Os guardanapos que foram dobrados em tops de biquíni. Isso para a grande hilaridade dos netos e de nós.

 Apesar de a sua saúde se ter deteriorado ao longo dos anos, manteve-se positivo. Mesmo quando já não podia estar connosco durante as férias, que grande tristeza e perda. A sua forma de se manter em contacto connosco, enviando emails com vídeos da história de Portugal, fotos e filmes de seus netos que você fez durante a temporada de Natal e férias. Sempre em contato,  sem raiva e deceção. Isto apesar de também ter dado tristeza por a distância ser tão grande. 

Sempre cheio de interesse pelos netos, especialmente quando você tem um smartphone, o contato entre você e os netos se tornou mais rápido e fácil. Nos anos seguintes quando as crianças cresceram e puderam ir para Portugal de forma independente e visitar os avós. Você poderia viver e reviver essas tais visitas por meses. 

Muitas vezes desejei e esperei que fosse diferente, que pudéssemos viver mais juntos. No entanto, a vida correu de outra maneira. O lar é onde está o coração e você sempre estará no meu coração. 

Pai, vou sentir sua falta. Levamos as histórias e memórias connosco para a memória coletiva da Família da Silva. E,  para terminar como você diria de uma forma muito teatralmente no final de uma boa garrafa de vinho: "Deste..? Deste já não há mais!"

Boa viagem meu pai

Até nos encontrarmos novamente
muitos beijinhos, tua filha Maaike.


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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:



sábado, 8 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26562: In Memoriam (538): Valdemar Queiroz (1945-2025): o último adeus, hoje, na igreja do Cacém, a partir das 17h30... A cremação será amanhã, às 9h45, no Centro Funerário de Barcarena (mensagem do filho, José Valdemar do Vale Pereira Queiroz da Silva, que vive nos Países Baixos)

 

Valdemar Queiroz (Afife, Viana do Castelo, 1945 - Agualva, Sintra, 2025)

Ex-Fur Mil , CART 2479 / CART 11
Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70


1. Mensagem do José Valdemar do Vale Pereira Queiroz da Silva, acabada de receber, às 8: 21


Bom dia sr. Graça e demais camaradas,

Finalmente já tenho a informação para o velório / cerimónia funebre do meu pai.

Vai-se realizar na Igreja do Cacém,  hoje , dia 8 de março, a partir das 17.30 horas. A morada é Rua Coração da Maria, sem nr,.  no Cacém.

A cremação realiza-se às 9h45 de domingo,  dia 9 de março,  e vai ser realizada no Centro Funerário de Barcarena,  na Rua Elias Garcia, 2730-073 Barcarena.

Eventualmente para contacto via Whatsapp, o meu numero é o 0031621100199.

Até mais logo,

Cumprimentos,
Zé da Silva



2. Nota do editor LG:


 Infelizmente não devo  chegar a Lisboa, a tempo,  hoje. Estou em Vila do Castelo, por ironia na terra do Valdemar, onde vim fazer um conferência. Conto poder ir amanhã ao local da cremação para dar um abraço ao filho e aos netos do nosso querido Valdemar, e despedir-me de mais um velho "lacrau" de Contuboel que conheci há 56 anos atrás.
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de março de 2025 > > Guiné 67/74 - P26549: In Memoriam (537): Morreu o Valdemar, o último tuga da rua de Colaride

segunda-feira, 3 de março de 2025

Guiné 67/74 - P26549: In Memoriam (537): Morreu o Valdemar, o último tuga da rua de Colaride

 

Lisboa > 20 de junho de 2019 > Quatro "Lacraus", da esquerda para a direita. Renato Monteiro (1946-2021), Abílio Duarte, Valdemar Queiroz (1045-2025) e Manuel Macias, todos ex-fur mil da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70), mais conhecidos como "Os Lacraus".


 O Abílio já não estava com o Renato há mais de 30 anos... A pandemia de Covid-19 e os problemas de saúde (do Renato e do Valdemar, ambos vítimas da DPOC - Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) não permitiram que esta sardinhada se repetisse em 2020 e muito menos em 2021, o ano da morte do Renato.

T/T Timor > Fevereiro de 1969 > CART 2479  / CART 11 (1969/70) >  Da esquerda para a direita, os fur mil Pechincha, Valdemar Queiroz   e Abílio Duarte


Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Valdemar Queiroz (1945-2025)







Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colaride > Maio de 2023> "Da minha varanda também vejo o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua"

Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2023). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Da rua de Colaride via-se o mundo

Uma rua, a rua de Colaride, Agualva-Cacém,
que se tornou famosa,
há uns tempos atrás:
estava no mapa e na blogosfera,
por nela viver (mesmo só podendo assomar à janela...)
um antigo combatente da guerra da Guiné, 
um "lacrau", o Valdemar Queiroz...

Vivia sozinho em casa,
era portador de um doença crónica incapacitante
(o raio de uma DPOC - Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica),
mas não perdia o gosto de viver e conviver,
e muito menos deixava de cultivar o bom humor de caserna...
Que o crioulo, esse, falava com a empregada
que lá ia a casa fazer a cachupa, a bianda,
e em dias de festa o chabéu de frango...
"Bioxene ? Não, camarada, estou proibido dos médicos.
Agora só água da bolanha!"...

Da sua janela via o mundo... da sua rua.
Era um dos mais antigos moradores da rua Colaride,
que estava então mais bonita do que em 1972/73,
quando um andar do Jota Pimenta
custava 200 contos
(c. 56 mil / 49 mil euros, a preços de hoje...).

Quando o Valdemar Queiroz se casou
e se mudou para Agualva-Cacém, há 50 anos,
a Rua Colaride não era tão bonita
e sobretudo era muito menos "colarida"...
Agora floriam nespereiras e jacarandás nos canteiros.

No país não havia mais do 28 mil estrangeiros
com estatuto legal de residentes...
Há dois anos já eram  mais de 750 mil,
segundo o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras)
que entretanto foi extinto,
mas continuou a haver estrangeiros e fronteiras.

Na Rua de Colaride, havia mais gente oriunda de outras terras,
Cabo Verde, Guiné, Angola, por exemplo,
três antigas colónias portuguesas,
que se haviam tornado independentes em 1974 e 1975...
Muitos vizinhos já teriam a nacionalidade portuguesa,
outros bem a queriam ter,
para não terem um dia destes a desagradável surpresa
de virem a ser corridos da rua de Colaride...
Que era maneirinha, pacata, multicolarida...

As fotos que o Valdemar ia tirando à varanda,
com um telemóvel fatela,
não nos diziam tudo, mas diziam algumas coisas,
dele, dos vizinhos, dos fregueses, dos transeuntes...
Bem, não se via o mundo todo,
via-se só uma nesga, o que era melhor que nada.

E sobretudo deram origem a umas tantas blogarias.
O Valdemar gostava de blogar,
dizia ele que até fazia bem à saúde,
que até se esquecia que estava agarrado à "bomba".

Às vezes, demasiadas vezes, lá sobrevinha uma crise.
Lá vinha o tinonim
e lá ia ele de charola para o hospital
"Parece que me safei desta, camaradas!"

Da última vez, no dia 1, há 2 dias,
escereveu, no blogue, a partir do telemóvel fatela:
"Caro amigo Vinhal... 
Eu estou de cama
sem poder deslocar-me em casa 
por estar ligado a uma máscara de oxigénio.
É uma merda estar nestas condições da doença, 
e magro, como um cão, só pele e osso.
Neste mês vou ao hospital, consegui !!!, com os bombeiros,
para ser visto o pacemaker.
Obrigado pelo teu cuidado, ´
abraço e saúde da boa. 
Valdemar Queiroz".

Morreu o Valdemar, 
o último tuga da rua de Colaride.
"Desta vez não me safei, camaradas,
mas já tinha pedido ao meu filho, que está na Holanda,
para vos avisar, quando a pilha falhasse.
Não se esqueçam de mim,
eu não vos esquecerei".

Minhoto de nascimento, 
alfacinha por criação, 
avô de netos holandeses, aliás, neerlandeses...
Uma história de grande humanidade, 
um exemplo (tocante) para todos nós,
antigos combatentes, 
que somos representantes de uma "espécie" 
em vias de extinção...

Luís Graça

3 de março de 2025,22:00

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26548: In Memoriam (536): Valdemar Queiroz (1945-2025), ex-Fur Mil da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca e Guiro Iero Bocari, 1969/70)

Guiné 61/74 - P26548: In Memoriam (536): Valdemar Queiroz (Afife, Viana do Castelo, 1945 - Agualva Cacém, Sintra, 2025), ex-Fur Mil da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca e Guiro Iero Bocari, 1969/70)

I N  M E M O R I A M

Valdemar Queiroz (1945-2025)
Ex-Fur Mil da CART 2479 / CART 11
Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70


A notícia chegou-nos na hora em que estávamos a editar um poste com mensagens de apoio ao nosso amigo Valdemar. Infelimente não chegou a ser publicado, antes sai este a comunicar o seu falecimento.

1. Mensagem de José da Silva, de hoje às 16h23:

Boa tarde Sr. Graça,
O meu nome é José Valdemar do Vale Pereira Queiroz da Silva e sou o filho do vosso camarada Valdemar Queiroz.
Venho por este meio informá-lo de más e tristes noticias. Esta manhã faleceu em sua casa em Colaride o meu pai. Ele tanto queria mas não chegou aos 80 anos de vida.
Como tudo ainda é muito recente ainda não o posso informar, e aos demais camaradas, aquando das cerimónias fúnebres.
Não escrevi nada no vosso blog porque não acho que o deva fazer. Para ser sincero nem sei como o fazer, daí deixar esta notícia aos cuidados do sr.
Das poucas alegrias que o meu pai tinha nos últimos anos, era a convivência com os camaradas da Guiné, nem que fosse através das ricas histórias no vosso blog. O ano passado já tínhamos falado os dois no que fazer após vir a falecer ao que ele me disse para informá-lo. Como ele dizia, um homem preparado até para a morte vale por dois ou mais...
Vou continuar, se achar correto, a contactá-lo nos próximos dias para que o sr. e o resto dos camaradas amigos tenham um momento de despedida do meu pai.

Até mais noticias,
Os melhores cumprimentos,
Zé da Silva



2. O nosso editor enviou a seguinte mensagem ao José da Silva, filho do Valdemar:

Querido Zé:
O seu pai (e nosso camarada e amigo) morreu, de pé (simbolicamente falando), agarrado ao poilão da vida, do amor, da amizade, ele que tinha tanto orgulho no filho, nos netos luso-neerlandeses, e demais família, amigos e camaradas. É um duríssimo golpe para todos nós, mesmo que estivéssemos sempre a afastar do nosso espírito as sombras negras da morte que o ameaçavam de há uns meses a esta parte. Ainda hoje tive de manhã esse estranho pressentimento, ao pedir ao nosso coeditor Carlos Vinhal que publicasse a mensagem que o João Crisóstomo (que ele tanto admirava), lhe enviara de Nova Iorque, às 4 horas da manhã de Lisboa.... (Infelizmente já não a leu.)

Escrevi ao Carlos às 9h00: "Carlos , por favor, põe isto na série Banco do Afecto contra a Solidão...O Valdemar não anda bem, 24 horas por dia dependente da máquina de oxigénio, não sei se escapa desta... Apesar da sua coragem e determinação, que eu admiro... Ab, Luis".

A morte finta-nos, sempre, a todos... O combate, corpo a corpo, entre ela e o nosso Valdemar, acabou. Somos sempre o elo mais fraco. Mas não vamos deixá-lo na "vala comum do esquecimento"... Ele terá, no nosso blogue, as honras que merecem os nossos grão-tabaqueiros. Ele deixou-nos um exemplo de vida de grande coragem e dignidade. Fico grato ao Zé por nos ter dado a dolorosa notícia, cumprindo a vontade do seu pai. A Tabanca Grande era também uma extensão da sua família e do seu círculo íntimo de amigos (mesmo à distância). Espero que a nossa solidariedade na dor também o ajude a si, Zé, e aos seus, a lidar com este momento terrível, devastador, que é a morte do nosso progenitor...
Fique com o meu nº de telemóvel. Dê notícias. Luís

PS - O Abílio Duarte, que era seu camarada de armas, da CART 11, fará o favor de comunicar o falecimento do Valdemar aos outros "Lacraus" (O Cunha, etc.)

Valdemar Queiroz: entrou para a Tabanca Grande em 16/2/2014. Tem 200 referências no blogue. É autor da série "Memórias de um Lacrau".


********************

Seguem-se algumas mensagens de pesar, entretanto chegadas até nós:

1. Do nosso amigo Virgílio Teixeira:


Camaradas.
Quando escrevia esta mensagem, ainda na cama, por volta das 9h comecei a ler o email do João NY, e escrevi com dificuldade, pois parece que me estava a despedir dele sem nada saber, e ele a dar-me o último suspiro.
Chamam a esta intuição de 'premonição' e assim foi.
Fico pasmado comigo sem mais nada que fazer sabendo agora que a minha mensagem ele nunca a leu.
Fica na sua história e da imensa saudade que nos vai deixar!
E eu não convivi com ele, ele esteve em Nova Lamego depois de eu sair e só venho a ler e ver a sua cara aqui no blogue.
É é com imensa saudade e sentido que assim me despeço do homem lutador, combatente e amigo.
E nunca ouvi ou li mensagens dele a queixar-se da sua terrível doença.
Deus o receba nos seus braços e que fique em paz.
Condolências à família.

Camarada da Guiné
Virgílio Teixeira


2. Dos nossos amigos João e Vilma Crisóstomo:

A todos,
estou convosco neste momento de dor. Porque sou crente de que existe algo mais do que esta vida terrestre (como posso explicar o que quer que seja sem acreditar em algo mais, mesmo fora da minha compreensão?), logo me agarrei à Vilma e juntos elevamos a nossa mente ao Céu, com a prece que o próprio Cristo nos ensinou, e que um dia me trouxe de volta ao catolicismo: “ Pai nosso”…
A coragem e outros atributos do Valdemar que nem preciso lembrar agora, ficarão sempre connosco.
Repito e faço minhas as palavras do Virgílio: "Deus o receba nos seus braços e que fique em paz".
E a todos os que ainda continuamos por cá: Força e coração ao alto meus caros.

João e Vilma


3. Do nosso amigo Eduardo Estrela:

Fiquei agarrado ao écran do telemóvel, um aperto no coração e as palavras a surgirem embaciadas pelas lágrimas.
Partiste amigo. Eu sei que sem nunca nos termos visto nos conhecíamos bem. Tomaste a barca de Caronte e foste nomadizar para outra dimensão.
Descansa em paz companheiro.

Até sempre.
Eduardo

4. Do nosso amigo Hélder Sousa:

Caros amigos
Que triste notícia! Não que seja totalmente inesperada, dadas as circunstâncias, e nunca se está verdadeiramente à espera.
Tinha, mais ou menos aprazado com o Yussuf, filho do Cherno, irmos os dois fazer-lhe uma visita, logo que o tempo melhorasse...
Realmente, o Valdemar foi-nos dando ao longo destes tempos um forte exemplo de resistência, certamente fortalecida pelo seu espírito combativo, pela sua acutilância, pelo seu companheirismo.
É uma perda grande para os familiares de sangue mas também para os amigos que o tinham em estima e consideração.
Aguardemos indicações.

Abraços solidários.
Hélder Sousa

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Nota do editor

Último post da série de 27 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26532: In Memoriam (535): Leite Rodrigues (1945-2025), cap ref da GNR, cavaleiro olímpico, ex-alf mil cav, CCAV 1748 (1967/69), voltou, em abril de 2017, aquela "terra verde-rubra" que continuou a amar, apesar de lá ter sido ferido gravemente em combate, em outubro de 1967 (Fotos: José Manuel Cancela)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26532: In Memoriam (535): Leite Rodrigues (1945-2025), cap ref da GNR, cavaleiro olímpico, ex-alf mil cav, CCAV 1748 (1967/69), voltou, em abril de 2017, aquela "terra verde-rubra" que continuou a amar, apesar de lá ter sido ferido gravemente em combate, em outubro de 1967 (Fotos: José Manuel Cancela)


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Zona Oeste >  Hotel Rural de Uaque, próximo de Mansoa > Abril de 2017 > O Leite Rodrigues e a sua "pileca" guineense...  Um cavaleiro olímpico mostra o saber-ser, o saber-estar,  o saber-fazer e o saber-montar-em-toda-a-sela... em qualquer parte do mundo!


 Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Bafatá > 4 de abril de 2017 > O Leite Rodrigues com a Célia e o João Dinis (1941-2021), donos do restaurante "Ponto de Encontro", porto de abrigo de muitos portugueses que voltam à Guiné em viagem de saudade... 

O João Dinis, nosso grão-tabanqueiro, era também dono da escola de condução automóvel de Bafatá. Era um militar português, da CART 496 (Cacine e Cameconde, 1963/65), integrada no BCAÇ 513 (com sede em Buba)... Vivia na Guiné desde 1963. Natural de Alvorninha, Caldas da Rainha (conterrâneo do cardeal José Policarpo, 1936-2014), casou em janeiro de 1972, aos 31 anos, com a Célia, de 18 anos de idade. O casal teve 3 filhos (um rapaz, falecido aos 25 anos, e duas raparigas mais velhas a viver em Portugal). Infelizmente, morreu de Covid-19, durante a pandemia.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Bafatá > 4 de abril de 2017 >  No restaurante "Ponto de Encontro". O Leite Rodrigues ao fundo da mesa, do lado direito, tendo á sua esquerda o Antônio  Barbosa, também nosso grão- tabanqueiro.


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Região de Cache > São Domingos, a caminho da praia de Varela, com paragem em Susana  >  Abril de 2017 >  Parte do grupo vendo possivelmente um desafio de futebol na TV... O Leite Rodrigues, ao centro.



Foto nº 9 > Guiné-Bissau > s/l > Abril de 2017 > s/ legenda


Foto nº 10 > Guiné-Bissau >  Zona Oeste >  Hotel Rural de Uaque, próximo de Mansoa > Abril de 2017 >  


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > s/l > Abril de 2017 > O grupo (que parece estar completo) com um líder político ou  religioso (?)... Talvez o PR da Guiné. A foto deve ter sido tirada por um dos 2 motoristas.


Foto nº 12 > Guiné-Bissau > s/l >  Abril de 2017  > O Zé Cancela


Foto nº 13 > Guiné-Bissau >  s/l >  Abril de 2017  > O Zé Cancela.


Foto nº 14 > Guiné-Bissau > Bissau >  Ponte Amílcar Cabral sobre o Rio Mansoa >  Abril de 2017  > O Zé Cancela.


Foto nº 15 > Guiné-Bissau > Região do Cacheu  >  Abril de 2017  > O Zé Cancela, de pé, encontados ao monumento que parece ser um antigo "padrão dos Descobrimentos", eventualmente transformado em monumento às vítimas da escravatura e trafico negreiro: o brasão de armas de Portugal terá sido picado, aproveitou-se a pedra... À esquerda, de costas, está o Leite Rodrigues e o Vitorino.


Fotos (e legendas): © José Cancela (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso camarada Leite Rodrigues (1945-2025), que passou a integrar a Tabanca Grande a título póstumo, sob o nº 899,  voltou à Guiné-Bissau em abril de 2017, com mais camaradas da Tabanca de Matosinhos: o José Manuel Cancela, o  João Rebola (1945-2018) (ex-fur mil,  CCAÇ 2444, Bula, Có, Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70), o António Barbosa, o Angelino Silva, o José Manuel Samouco, o Eduardo Moutinho, o Rodrigo Teixeira e o Monteiro...

 Penso que ficaram instalados no Hotel Coimbra, alugaram dois jipes, e percorreram parte da Guiné (Bissau, Zona Oeste e Zona Leste). Não temos aqui â mão o percurso. Foi na época seca, abril de 2017.
 
O Zé  Cancela teve a gentileza, a meu pedido, de me mandar algumas fotos desta viagem. Já publicámos algumas no poste P26527 (*). 

 Recorde-se que o Leite Rodrigues foi ferido com gravidade  em outubro  de 1967,  no decurso da Op Invicta II  na região de Caresse, a  caminho de Sinchã Jobel no subsetor  de Geba, sector L2 (Bafatá),  quando a sua CCAV 1748 estava aquartelada em Contuboel...  (Foi evacuado para o HM 241 e depois para o HMP, já não tendo regressado à Guiné.) 

Seria interessante que um ou mais dos seus companheiros de viagem pudessem partilhar aqui, connosco, as reações do nosso camarada recentemente falecido. Seguramente partilhou nessa altura (e depois na Tabanca de Matosinho) as suas emoções com o grupo.  (**)

PS1 - O José Manuel Cancela foi ex-Soldado Apontador de Metralhadora, CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70). Tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue.

PS2 - Afinal o grupo que foi à Guiné-Bissau, de 30 de março a 7 de abril de 2017, era maior: "13 elementos, que englobavam os colegas Moutinho, Vitorino, Rebola, Ferreira, Marques Barbosa, Leite Rodrigues, Isidro, Monteiro, Cancela, Rodrigo, Angelino, Samouco (que embarcou em Lisboa) e eu próprio" (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, cmdt da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74): o nosso camarada, membro da Tabanca Grande, fez a reportagem completa desta viagem, em 11 postes, publicados em setembro e outubro de 2017.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26527: Tabanca Grande (568): Homenagem ao capitão e cavaleiro Leite Rodrigues (Aveiro, 1945 - Matosinhos, 2025), ex-alf mil cav, CCAV 1748 (1967/69), membro da Tabanca de Matosinhos: passa a sentar-se, simbolicamente, no lugar n.º 899, sob o nosso poilão, a título póstumo

(**) Último poste da série > 24 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26523: In Memoriam (534): O Alberto Leite Rodrigues que eu conheci (José Teixeira/Tabanca de Matosinhos)

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26518: In Memoriam (533): Cap Cav Ref Alberto Bernardo Leite Rodrigues (1945-2025), ex-Alf Mil Cav da CCAV 1748 (1967/69): A Tabanca de Matosinhos fica doravante mais pobre (José Teixeira)


Alberto Bernardo Leite Rodrigues (1945-2025)

Faleceu o Alberto, a Tabanca de Matosinhos está mais pobre

por José Teixeira

Faleceu o Alberto Bernardo Leite Rodrigues (15/09/1945 – 21/02/2025). Era capitão de cavalaria reformado. Cumpriu a sua missão na Guiné 1967/68 como Alferes de Cavalaria, 

Apanhou-nos de surpresa, e partiu para o Eterno Aquartelamento, o combatente mais carismático e mais querido que passou pela Tabanca de Matosinhos. Recordamos:

  • as palavras cheias de afeto, quentes e calorosas com que acolhia todos e cada um dos camaradas, enchiam os nossos corações;
  • a sua presença semanal (té no tempo da Pandemia, com o amigo inseparável Rodrigo Teixeira, esteve presente na Tabanca de Matosinhos) com alegria, bo a disposição e sobretudo com uma palavra de alento);
  • a sua paixão por causas justas, e a sua visão uma guerra que nunca devia ter existido, que arrastou para a morte milhares de jovens, e deixou muitos mais estropiados (ele próprio) e doentes, para além de outros efeitos colaterais negativos que tanto marcaram o povo português e guineense; 
  • visão que ele tão eloquentemente punha em comum, e que todos nós gostávamos de ouvir;
  • a forma alegre como encarava a vida, e nos transmitia o calor dessa vivência: à  volta dele não havia tristeza.

Recordamos as suas conversas (pequenos discursos) com que nos brindava a pretexto de um aniversário, de um acolhimento a um novo conviva, de uma festa; a sua graça a receber as nossas esposas sempre com aquele sorriso cativante que o caraterizava.

Ainda na passada quarta-feira, o ouvimos muito muita atenção.

Foi este querido amigo, companheiro e camarada de todas as horas, que partiu, em silêncio, repentinamente, e nos deixa imensa saudade.

Recordamos o seu sofrimento, quando, ao fim de três meses de Guiné, foi vítima de uma basucada inimiga que o feriu gravemente na cara e na boca, deixando-lhe a língua em pedaços. Terminou assim a sua comissão.

Recordamos a sua intervenção no pós-25  de Novembro, (quinze dias depois) no recito exterior da Cadeia de Custóias (já como caitão da GNR). onde estavam os militares que foram presos naquele acontecimento, em que ele vestido à civil, porque estava de folga, quando soube que os seus homens da GNR tinham ido para Custóias reforçar a segurança, seguiu para lá a tempo de evitar um banho sangue.

Quando viu os soldados da GNR abrirem fogo sobre a multidão, saltou para o seu meio e mandou cessar o fogo, impedindo assim que houvesse mais mortos. Creio que houve quatro mortos nesse acontecimento. Como “prémio” pela sua ousadia foi deslocado compulsivamente para o Quartel da GNR em Lisboa, por cerca de um ano.

Querido amigo Leite Rodrigues onde estiveres, descansa em paz, que nós embreve, vamos ter contigo.

À família enlutada, sobretudo ao seu querido filho, os mais profundos sentimentos de pesar desta sua segunda família – Os combatentes da Guiné agrupados na Tabanca de Matosinhos.

Até sempre, camarada!

José Teixeira

Nota: Quando houver mais dados sobre o triste acontecimento informaremos.



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2. Nota dos editores LG/CV:

Apurámos que o nosso infortunado camarada foi alf mil cav, CCAV 1748 (que passou por Bissau, Bula, Contuboel e Farim, entre jul 67 e jun 69). Tem cruz de guerra de 4.ª classe, atribuída em 1972.  Não temos nenhum representante desta subunidade na nossa Tabanca Grande.  

Era uma figura conhecida no meio equestre, foi atleta olímpico, e é recordado tanto como cavaleiro como mestre na arte da equitação.  Era natural de Aveiro. 

Curvamo-nos à sua memória, apresentamos à família e amigos mais próximos bem como  aos nossos tabanqueiros de Matosinhos a nossa solidariedade na dor por esta perda de um camarada que nos era querido e que conhecemos em vida; a sua jovialidade, simpatia, carisma, amor à sua arte e carinho pelos seus camaradas, antigos combatentes, tocou-nos a todos (**).

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3. Em tempo:

O nosso camarada José Teixeira acaba de informar que os restos mortais do Capitão Leite Rodrigues estarão em Câmara Ardente na Igreja da Lapa a partir das 17 horas do dia 25.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26419: In Memoriam (532): Victor Fernando Franco David (1944- 2024), ex-alf mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70): natural de Coimbra, era um dos históricos do nosso blogue, morreu há 9 meses



Victor David (1944- 2024)




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Montemor-o-Novo > Ameira > Herdade da Ameira > Restaurante Café do Monte > 14 de Outubro de 2006 > Da esquerda para a direita: Rui Felício, Alice Carneiro (esposa do Luís Graça), António Pimentel (que veio propositadamente do norte, com o Hernâni Figueiredo), o Victor David e a esposa e, por detrás, o Paulo Raposo, o nosso amável anfitrião e um dos organizadores do Encontro.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Soube, ontem  pelo seu amigo e camarada de armas Paulo Raposo: morreu, no passado dia 25 de abril de 2024, o Victor Fernando Franco David, ex-alf mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, "Os Baixinhos de Dulombi" (Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70). Confirmámos a notícia na própria página do Facebook do Victor David.

Era um dos "históricos" do nosso blogue, para o qual entrou em 16/3/2006 (*). Conhecemo-nos  pessoalmente em Coimbra (creio que pela mão do saudoso Carlos Marques dos Santos) e estivemos juntos (eu, o David, o Carlos, o Rui Felício, o Paulo Raposo, o Pimentel e outros) no I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-O-Novo, em 14 de outubro de 2006 (**). 

Tem escassas referèncias no nosso blogue.  Os alferes da sua companhia ("Os Baixinhos de Dulombi", ele, o Paulo Raposo, o Rui Felício e o Jorge Rijo, faziam/fazem todos parte da nossa Tabanca Grande.

2. Sabíamos, sobre o  Victor David,   o seguinte;

(i) era natural de (e vivia em) Coimbra;

(ii) andou no Liceu D. João III
 
(iii) licenciou-se em Germanicas em Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - FLUC

(iv) era casado e tinha uma filha;
 
(v) aderiu ao Facebook em agosto de 2011


3. Sobre o seu Curriculum Vitae militar, o Victor David escreveu em 2006 este bem humorado apontamento (*):

(...) Resenha da minha actividade de militar como "voluntário à força":
  • Incorporado em Mafra, na Escola Prática de Infantaria, como recruta em 10 de abril de 1967;
  • Especialidade tirada em Mafra: atirador de infantaria;
  • Promovido a Aspirante Miliciano em 25 de Setembro de 1967, fui colocado em Abrantes, no Regimento de Infantaria nº 2 (RI2);
  • Primeiro trabalho no RI2 : organizar a biblioteca do Quartel!
  • Dei uma recruta ainda em Abrantes até ser mobilizado;
  • Em Jan de 1968, curso de Rangers em Lamego. (Nota: reprovei, mas não fui despromovido porque já era Aspirante!)
  • Formámos depois Batalhão [BCAÇ 2852],  em Santa Margarida e embarcámos para a Guiné em julho de 1968, no N/M Uíge;
  • Chegada a Bissau em 30 de Julho de 1968;
  • Treino operacional em Mansoa, no chão balanta;
  • Ao fim de cinco meses, a CCAÇ 2405 é colocada na zona leste, no chão fula, em Galomaro, onde provisoriamente nos instalámos - num antigo celeiro - até sermos deslocados para Dulombi, onde construimos o Quartel onde nada existia! (até parecia que eramos de Engenharia...);
  • Regresso a Portugal em 28 de Maio de 1970;
  • Peluda em 29 de Junho de 1970;
  • Importantíssimo(!): promovido na disponibilidade a ten lil em 1 de Dezembro de 1970! Quase chegava a General!!! (...)
Acrescentamos nós:
  • A CCAÇ 2405 participou, entre outras, na Op Mabecos Bravios (fevereiro de 1969) (retirada de Madina do Boé)  (onde perdeu 19 homens na atravessia do Corubal, e a CCAÇ 1790 perdeu 26);
  • Era a unidade de quadrícula de Galomaro (e Dulombi)(vd. carta de Duas Fontes);
  • Até Julho de 1969 Galamaro fazia parte do Sector L1 (BCAÇ 2852, Bambadinca); em Agosto de 1969, a ZA (Zona de Acção) da CCAÇ 2405 passou a constituir o COP 7, criando-se em outubro seguinte o Sector L5, sob a responsabilidadew do BCAÇ 2851 e formado pelas ZA das CCAÇ 2405 (Galomaro) e 2406 (Saltinho).

4. Em 8 de fevereiro de 2006, escreveu-me o seguinte:

 (...) "Tive um imenso prazer em conhecer-te e espero que me autorizes a entrar de quando em vez no Blogue.

"Parabéns pela iniciativa e dentro em breve contactarei com camaradas da minha companhia – a dos 'baixinhos do Dulombi', a CCAÇ 2405, para que eles também possam dar a sua achega a tão excelente ideia..

"Para já deixo-te as minhas coordenadas na Internet (...)"

5. Sobre o convite que lhe endereçámos, muitos anos depois,  para participar no XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, 2019, escreveu-nos o seguinte, 8 mai 2019, 1:04 (***):


(...) Muito grato pelo convite mas, com muita pena minha, não poderei estar convosco nesse tão grande encontro, do qual já tenho muitas saudades, por duas razões principais:

1ª O encontro da minha Companhia, a 2405 ( Guiné 1968/1970) realiza-se nesse mesmo dia na Meda;

2ª Por razões pessoais e imponderáveis da data e por outros motivos que, felizmente não de saúde, não poderei acompanhar as duas tão boas realizações!

Assim sendo, peço que transmitas, a todos os presentes, os desejos sobretudo de muita saúde e felicidades .

Um grande abraço do 'Baixinho' do Dulombi,  Victor Fernando Franco David

Nota : Espero poder estar no próximo encontro" (...)

quarta-feira, 8 de maio de 2019 às 21:28:00 WEST 

 
Infelizmente aquele foi o nosso último Encontro, antes da pandemia.  A iniciativa ainda não foi retomada. Agora só no céu dos antigos combatentes poderemos voltarmo-nos a abraçar, querido David.  À tua esposa, esposa, filha, demais família e aos "baixinhos de Dulombi", apresento, mesmo com este atraso de nove meses, os nossos votos de pesar pela tua perda. Ficarás aqui connosco, à sombra do nosso poilão, enquanto o barqueiro de Caronte não chamar pela nossa vez. (****)

 ______

Notas do editor:

(...) Mensagem do Rui Felício (ex-al mil, CCAÇ 2405, Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70), hoje economista e empresário, membro da nossa tertúlia e autor de algumas das mais saborosas estórias já aqui publicadas, reveladoras de um sentido muito especial de humor que nos ajudou a sobreviver e a manter-nos vivos e solidários, uma espécie de defesa mental contra o cacimbo, o clima, a guerra :

Meu Caro Luís Graça:

Como dizem os brasileiros, o meu testemunho é claramente chover no molhado... Na verdade, dizer que o belo dia de sábado, passado na agradável herdade do Raposo, foi uma jornada inesquecível, é repetir o que por certo todos já te terão dito.

Mas nem por isso devia deixar de o referir, para lembrar que o encontro da Ameira só foi possível, porque existe o blog que tu criaste e que, com tanto trabalho e mérito, vais gerindo, coordenando e engrandecendo.

Registei, das intervenções que alguns fizeram a seguir ao almoço, alguns aspectos que confirmaram aquilo que eu já pensava através da assídua leitura do que vais editando no blog, designadamente, o facto de a tertúlia se compor de variadas perspectivas e olhares, na análise e recordação da nossa passagem por terras da Guiné, em circunstâncias adversas de clima e da própria guerra.

Embora nem sempre coincidentes, são perspectivas cuja diversidade proporciona uma visão mais completa, segura e enriquecedora das memórias de todos nós. Bastaria ter ouvido, além de tantos outros, o Virgínio Briote, o Casimiro Carvalho, o Lema Santos [, o Pedro Lauret, o Tino Neves, o Paulo Santiago, o Carlos Santos] e, especialmente, o Vitor Junqueira, para comprovar o que acabei de dizer, isto é, a nossa geração fez a guerra de África segundo as suas próprias convicções, declaradamente contra ela, a favor dela ou conformada com ela, mas sem dúvida dando o melhor de si na defesa de princípios e sentimentos que pairam acima dos interesses ou conveniências individuais.

Sou dos que naquela época era contra a guerra, mas nunca confundi isso com o dever de a fazer o melhor e mais profissionalmente que me fosse possível, quanto mais não fosse para garantir aos soldados à minha responsabilidade o regresso a casa, sãos e salvos.

É por isso que não aceito que, passados tantos anos, algumas figuras proeminentes da nossa classe política actual venham hoje a público, não poucas vezes, arvorar-se em heróis, por terem tido a coragem de desertar, de fugir para o estrangeiro, criticando aqueles que como nós estiveram em África a combater.

Obviamente que isso não é coragem. Prefiro chamar-lhe comodismo, medo... Para não lhe chamar cobardia... Gostava de os ter visto na Ameira... Ficariam a conhecer homens cujo medo (que todos tínhamos... ) foi vencido pela coragem e pelo sentido de dever...

Um abraço, Rui Felício (...)

(***) 8 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19765: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (15): Mais camaradas e amigos/as que nos honram com a sua presença em Monte Real no dia 25, sábado: António Sampaio e Maria Clara (Matosinhos); António Joaquim Alves e Maria Celeste (Alenquer); Carlos Pinheiro (Torres Novas); Jorge Araújo e Maria João (Almada); Jorge Pinto e Ana (Sintra); Juvenal Amado (Amadora); Manuel Joaquim e José Manuel S. Cunté (Lisboa); e Paulo Santiago (Águeda)

(****) Último poste da série > 23 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26417: In Memoriam (531): António Medina (Santo Antão, Cabo Verde, 1939 - Medford, Massachusetts, EUA, 2025), ex-fur mil at inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió 1963/65), nosso grão-tabanquerio desde 2014