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quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26419: In Memoriam (532): Victor Fernando Franco David (1944- 2024), ex-alf mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70): natural de Coimbra, era um dos históricos do nosso blogue, morreu há 9 meses



Victor David (1944- 2024)




~


Montemor-o-Novo > Ameira > Herdade da Ameira > Restaurante Café do Monte > 14 de Outubro de 2006 > Da esquerda para a direita: Rui Felício, Alice Carneiro (esposa do Luís Graça), António Pimentel (que veio propositadamente do norte, com o Hernâni Figueiredo), o Victor David e a esposa e, por detrás, o Paulo Raposo, o nosso amável anfitrião e um dos organizadores do Encontro.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Soube, ontem  pelo seu amigo e camarada de armas Paulo Raposo: morreu, no passado dia 25 de abril de 2024, o Victor Fernando Franco David, ex-alf mil, CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852, "Os Baixinhos de Dulombi" (Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70). Confirmámos a notícia na própria página do Facebook do Victor David.

Era um dos "históricos" do nosso blogue, para o qual entrou em 16/3/2006 (*). Conhecemo-nos  pessoalmente em Coimbra (creio que pela mão do saudoso Carlos Marques dos Santos) e estivemos juntos (eu, o David, o Carlos, o Rui Felício, o Paulo Raposo, o Pimentel e outros) no I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-O-Novo, em 14 de outubro de 2006 (**). 

Tem escassas referèncias no nosso blogue.  Os alferes da sua companhia ("Os Baixinhos de Dulombi", ele, o Paulo Raposo, o Rui Felício e o Jorge Rijo, faziam/fazem todos parte da nossa Tabanca Grande.

2. Sabíamos, sobre o  Victor David,   o seguinte;

(i) era natural de (e vivia em) Coimbra;

(ii) andou no Liceu D. João III
 
(iii) licenciou-se em Germanicas em Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra - FLUC

(iv) era casado e tinha uma filha;
 
(v) aderiu ao Facebook em agosto de 2011


3. Sobre o seu Curriculum Vitae militar, o Victor David escreveu em 2006 este bem humorado apontamento (*):

(...) Resenha da minha actividade de militar como "voluntário à força":
  • Incorporado em Mafra, na Escola Prática de Infantaria, como recruta em 10 de abril de 1967;
  • Especialidade tirada em Mafra: atirador de infantaria;
  • Promovido a Aspirante Miliciano em 25 de Setembro de 1967, fui colocado em Abrantes, no Regimento de Infantaria nº 2 (RI2);
  • Primeiro trabalho no RI2 : organizar a biblioteca do Quartel!
  • Dei uma recruta ainda em Abrantes até ser mobilizado;
  • Em Jan de 1968, curso de Rangers em Lamego. (Nota: reprovei, mas não fui despromovido porque já era Aspirante!)
  • Formámos depois Batalhão [BCAÇ 2852],  em Santa Margarida e embarcámos para a Guiné em julho de 1968, no N/M Uíge;
  • Chegada a Bissau em 30 de Julho de 1968;
  • Treino operacional em Mansoa, no chão balanta;
  • Ao fim de cinco meses, a CCAÇ 2405 é colocada na zona leste, no chão fula, em Galomaro, onde provisoriamente nos instalámos - num antigo celeiro - até sermos deslocados para Dulombi, onde construimos o Quartel onde nada existia! (até parecia que eramos de Engenharia...);
  • Regresso a Portugal em 28 de Maio de 1970;
  • Peluda em 29 de Junho de 1970;
  • Importantíssimo(!): promovido na disponibilidade a ten lil em 1 de Dezembro de 1970! Quase chegava a General!!! (...)
Acrescentamos nós:
  • A CCAÇ 2405 participou, entre outras, na Op Mabecos Bravios (fevereiro de 1969) (retirada de Madina do Boé)  (onde perdeu 19 homens na atravessia do Corubal, e a CCAÇ 1790 perdeu 26);
  • Era a unidade de quadrícula de Galomaro (e Dulombi)(vd. carta de Duas Fontes);
  • Até Julho de 1969 Galamaro fazia parte do Sector L1 (BCAÇ 2852, Bambadinca); em Agosto de 1969, a ZA (Zona de Acção) da CCAÇ 2405 passou a constituir o COP 7, criando-se em outubro seguinte o Sector L5, sob a responsabilidadew do BCAÇ 2851 e formado pelas ZA das CCAÇ 2405 (Galomaro) e 2406 (Saltinho).

4. Em 8 de fevereiro de 2006, escreveu-me o seguinte:

 (...) "Tive um imenso prazer em conhecer-te e espero que me autorizes a entrar de quando em vez no Blogue.

"Parabéns pela iniciativa e dentro em breve contactarei com camaradas da minha companhia – a dos 'baixinhos do Dulombi', a CCAÇ 2405, para que eles também possam dar a sua achega a tão excelente ideia..

"Para já deixo-te as minhas coordenadas na Internet (...)"

5. Sobre o convite que lhe endereçámos, muitos anos depois,  para participar no XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, 2019, escreveu-nos o seguinte, 8 mai 2019, 1:04 (***):


(...) Muito grato pelo convite mas, com muita pena minha, não poderei estar convosco nesse tão grande encontro, do qual já tenho muitas saudades, por duas razões principais:

1ª O encontro da minha Companhia, a 2405 ( Guiné 1968/1970) realiza-se nesse mesmo dia na Meda;

2ª Por razões pessoais e imponderáveis da data e por outros motivos que, felizmente não de saúde, não poderei acompanhar as duas tão boas realizações!

Assim sendo, peço que transmitas, a todos os presentes, os desejos sobretudo de muita saúde e felicidades .

Um grande abraço do 'Baixinho' do Dulombi,  Victor Fernando Franco David

Nota : Espero poder estar no próximo encontro" (...)

quarta-feira, 8 de maio de 2019 às 21:28:00 WEST 

 
Infelizmente aquele foi o nosso último Encontro, antes da pandemia.  A iniciativa ainda não foi retomada. Agora só no céu dos antigos combatentes poderemos voltarmo-nos a abraçar, querido David.  À tua esposa, esposa, filha, demais família e aos "baixinhos de Dulombi", apresento, mesmo com este atraso de nove meses, os nossos votos de pesar pela tua perda. Ficarás aqui connosco, à sombra do nosso poilão, enquanto o barqueiro de Caronte não chamar pela nossa vez. (****)

 ______

Notas do editor:

(...) Mensagem do Rui Felício (ex-al mil, CCAÇ 2405, Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70), hoje economista e empresário, membro da nossa tertúlia e autor de algumas das mais saborosas estórias já aqui publicadas, reveladoras de um sentido muito especial de humor que nos ajudou a sobreviver e a manter-nos vivos e solidários, uma espécie de defesa mental contra o cacimbo, o clima, a guerra :

Meu Caro Luís Graça:

Como dizem os brasileiros, o meu testemunho é claramente chover no molhado... Na verdade, dizer que o belo dia de sábado, passado na agradável herdade do Raposo, foi uma jornada inesquecível, é repetir o que por certo todos já te terão dito.

Mas nem por isso devia deixar de o referir, para lembrar que o encontro da Ameira só foi possível, porque existe o blog que tu criaste e que, com tanto trabalho e mérito, vais gerindo, coordenando e engrandecendo.

Registei, das intervenções que alguns fizeram a seguir ao almoço, alguns aspectos que confirmaram aquilo que eu já pensava através da assídua leitura do que vais editando no blog, designadamente, o facto de a tertúlia se compor de variadas perspectivas e olhares, na análise e recordação da nossa passagem por terras da Guiné, em circunstâncias adversas de clima e da própria guerra.

Embora nem sempre coincidentes, são perspectivas cuja diversidade proporciona uma visão mais completa, segura e enriquecedora das memórias de todos nós. Bastaria ter ouvido, além de tantos outros, o Virgínio Briote, o Casimiro Carvalho, o Lema Santos [, o Pedro Lauret, o Tino Neves, o Paulo Santiago, o Carlos Santos] e, especialmente, o Vitor Junqueira, para comprovar o que acabei de dizer, isto é, a nossa geração fez a guerra de África segundo as suas próprias convicções, declaradamente contra ela, a favor dela ou conformada com ela, mas sem dúvida dando o melhor de si na defesa de princípios e sentimentos que pairam acima dos interesses ou conveniências individuais.

Sou dos que naquela época era contra a guerra, mas nunca confundi isso com o dever de a fazer o melhor e mais profissionalmente que me fosse possível, quanto mais não fosse para garantir aos soldados à minha responsabilidade o regresso a casa, sãos e salvos.

É por isso que não aceito que, passados tantos anos, algumas figuras proeminentes da nossa classe política actual venham hoje a público, não poucas vezes, arvorar-se em heróis, por terem tido a coragem de desertar, de fugir para o estrangeiro, criticando aqueles que como nós estiveram em África a combater.

Obviamente que isso não é coragem. Prefiro chamar-lhe comodismo, medo... Para não lhe chamar cobardia... Gostava de os ter visto na Ameira... Ficariam a conhecer homens cujo medo (que todos tínhamos... ) foi vencido pela coragem e pelo sentido de dever...

Um abraço, Rui Felício (...)

(***) 8 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19765: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (15): Mais camaradas e amigos/as que nos honram com a sua presença em Monte Real no dia 25, sábado: António Sampaio e Maria Clara (Matosinhos); António Joaquim Alves e Maria Celeste (Alenquer); Carlos Pinheiro (Torres Novas); Jorge Araújo e Maria João (Almada); Jorge Pinto e Ana (Sintra); Juvenal Amado (Amadora); Manuel Joaquim e José Manuel S. Cunté (Lisboa); e Paulo Santiago (Águeda)

(****) Último poste da série > 23 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26417: In Memoriam (531): António Medina (Santo Antão, Cabo Verde, 1939 - Medford, Massachusetts, EUA, 2025), ex-fur mil at inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió 1963/65), nosso grão-tabanquerio desde 2014

Guiné 61/74 - P26417: In Memoriam (531): António Medina (Santo Antão, Cabo Verde, 1939 - Medford, Massachusetts, EUA, 2025), ex-fur mil at inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió 1963/65), nosso grão-tabanquerio desde 2014

Fotos: Facebook de António Medina (1939-2025) (com a devida vénia)


1. Fomos alertados, ontem às 21:30,  pelo nosso amigo e camarada José ("Zeca") Macedo, para a notícia da morte do António Medina. A triste notícia é confirmada pela família, por postagem de hoje, 23 de janeiro, âs 03:05, em português e inglês:


(...) É com profunda tristeza que anunciamos o falecimento do nosso querido pai e amado esposo de Lilica, Antonio C. Medina. Ele partiu em paz, cercado pelo imenso amor de sua esposa e filhos, e sentiremos a sua falta profundamente. 

Meu pai foi muitas coisas ao longo da sua vida: filho, irmão, tio, amigo, soldado, protetor, conselheiro, e contador de histórias magníficas. Ele acreditava nos laços fortes de família e amizade, e as conexões que criou duraram toda a vida. 

Não há palavras suficientes para expressar a imensidão dessa perda. Encontramos paz ao saber que ele agora está em um lugar melhor, ao lado dos seus pais e irmãos que o precederam, compartilhando piadas e histórias, talvez até um uísque ou dois com os Tios.
 
Papá, descansa tranquilo sabendo que estás deixando a Mamã em boas mãos. Deste-nos tudo necessário para cuidar dela e uns dos outros. Tambem deste-nos a força para enfrentar este momento difícil, e seremos fortes por ti. Até nos encontrarmos novamente, descansa na graça de Deus.

Sempre estaremos unidos, como sempre desejaste. Não haverá um dia em que não sentiremos a tua ausência mas carregaremos o teu amor, os teus conselhos, tudo que nos ensinastes eternamente nos nossos corações. Com muito amor, carinho e saudade dos teus trệs e da tua querida Lilica. (...)



2. Sobre o  nosso camarada da diáspora lusófona, António C. Medina:


(i) de seu nome completo, António Cândido da Silva Medina, nasceu em 26 de setembro de 1939, na ilha de Santo Antão, Cabo Verde;

(ii) estudou no liceu Gil Eanes (Mindelo, São Vicente) (o único liceu então existente nas ilhas, criado pela República em 1917. como Liceu Nacional de Cabo Verde, 1917-1926, depois Liceu Central Infante Dom Henrique, 1926-1937, e, por fim, eaté à independência, Liceu Gil Eanes, 1937-1975);
(iii) ex-fur mil at inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió 1963/65), de resto o único representante desta subunidade, na Tabanca Grande;

(iv) a CART 527 estava adida ao BCAÇ 507 (Bula, 1963/65), que era comandado pelo ten cor inf Hélio Felgas;

(v) depois da passar à disponibilidade, viveu em Bissau, e entre 1967 e 1974, até à independência, sendo funcionário do BNU (Banco Nacional Ultramarino);

(vi) em junho de 1974,  em Bissau, teve a surpreendente visita do primo Agnelo Dantas, comandante do PAIGC (**) (não sabemos se o primo lhe contou que em meados de 1973 fora ele quem comandou a flagelação à BA12, Bissalanca, com foguetões 122 mm, a partir da Ponta Cumeré, felizmente sem consequências); 

(vii) regressou a Portugal, onde ainda trabalhou no BNU, em Lisboa; 

(viii)  vivia desde 1980 nos EUA, em Medford, no estado de Massachusetts, onde também foi bancário;

(ix) tinha página no Facebook (onde já não escrevia desde 17/5/2022);

(x) entrou poara a Tabanca Grande em 15/2/2014; tem 43 referências no nosso blogue.


À viúva Lilica, ao filho Tony, às  filhas, netos, demais família e amigos, transmito em nome da Tabanca Grande a nossa solidariedade na dor. O António continurá aqui connosco, simbolicamente, sob o nosso poilão. E os seus escritos e fotos continuarão a testemunhar o muito amor que ele tinha por Portugal, Cabo Verde e a Guiné-Bissau.

Ficou muito feliz por ter sido acolhido de braços abertos pelos seus antigos camaradas de armas.  Escreveu na altura:

(...) "Tenho muitas histórias que oportunamente irei contar, dessa guerra inútil e não só, da minha vida civil com a continuidade em Bissau, na Guiné como bancário.

Gostei da vossa composição do Blogue e é louvável a vossa paciência e eficiência em nos assistir para que o nosso sacrificio fique para a eternidade." (...) (***)




Os Medina, em Medford, Mass, USA: pai, mãe, filho e filhas. Facebook do António Medina, 2/10/2013 (com a devida vénia...)

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(**) Vd. poste de 4 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24725: O segredo de... (39): António Medina: O surpreendente reencontro, em Bissau, em junho de 1974, com o meu primo Agnelo Medina Dantas Pereira, comandante do PAIGC

(***) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12727: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (81): António Medina, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, foi fur mil da CART 527 (Teixeira Pinto, 1963/65) e vive hoje nos EUA, onde descobriu o nosso blogue

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26313: In Memoriam (530): Florimundo Rocha (C. 1950 - 2024), ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAÇ 3546 / BCAÇ 3883 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972/74)

IN MEMORIAM
FLORIMUNDO ROCHA († Lagoa, 22 de Outubro de 2024)
Ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAÇ 3546 / BCAÇ 3883 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972/74)


A funesta notícia do falecimento do nosso camarada Florimundo (Flor) Rocha chegou até nós através do nosso amigo Arménio Estorninho, que mora em Lagoa, tal como o Flor até ao seu falecimento.

O Flor inscreveu-se na tertúlia em 11 de Abril de 2011, por intermédio da sua filha Susana.
Era um dos sobreviventes da trágica emboscada a uma coluna auto, em 14 de Junho de 1973, no itinerário Ponte Caium-Piche.
Num contacto telefónico com o nosso editor Luís Graça, ele, que conduzia a primeira viatura, um Unimog 411 (burrito) que capotou ao entrar na zona de morte, contou os pormenores do acontecimento, tal como ainda se lembrava.
Consultar o poste de 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8061: (De)Caras (7): Reconstituição da emboscada do dia 14/6/73, a 3 Km de Piche, pelo sold cond auto Florimundo Rocha (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74).

Embora atrasadas, aqui deixamos as nossas mais sentidas condolências à familia do nosso camarada e amigo Flor, na pessoa da sua filha Susana que o trouxe o seu pai até nós no longínquo ano de 2011.

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Nota do editor

Último post da série de 19 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 – P26291: In Memoriam (529): Comandante Almada Contreiras (1941-2024), um antigo camarada que conheceu as terras da Guiné, e um dos militares do 25 de Abr (José Saúde)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 – P26291: In Memoriam (529): Comandante Almada Contreiras (1941-2024), um antigo camarada que conheceu as terras da Guiné, e um dos militares do 25 de Abr (José Saúde)

 

 

Beja > Biblioteca Municipal José Saramago > 10 de dezembro de 2019 > 21h30 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, “Um Ranger na Guerra Colonial: Guiné-Bissau 1973/74:  Memórias de Gabu”. 

A mesa formada por (da esquerda para a direita)  dr.ª Paula Santos, diretora da Biblioteca Municipal José Saramago de Beja; Comandante de Mar e Guerra Almada Contreiras, um militar que integrou o MFA aquando a Revolução dos Cravos, 25 de Abril; Luís Godinho, diretor do Diário do Alentejo;  José Saúde, autor da obra;  e Fernando Mão de Ferro, editor da Colibri

Foto (e legenda): © José Saúde  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.



Morreu o Comandante Almada Contreiras, um antigo camarada que conheceu as terras da Guiné


Camaradas,


Faleceu na passada quarta-feira, 18 de dezembro de 2024, o Comandante Almada Contreiras, capitão-de-mar-e-guerra, e que se encontrava na situação de aposentado. Carlos Almada Contreiras era natural de Aljustrel, distrito de Beja, nascido no ano de 1941, e foi um dos militares da Revolução do 25 de Abril de 1974, que proporcionou a queda do antigo governo.

Almada Contreiras era, pois, um homem que contribuiu para a Liberdade de um povo amordaço que ao longo de 48 anos se vira privado de múltiplos objetivos que pairavam, então, na mente de jovens que, a partir dos princípios da guerra colonial, se sentiam oprimidos face a um futuro quiçá incerto, dado ser quase certo a nossa presença na guerra de além-mar.

O Comandante ingressou na Escola Naval em 1960 e esteve presente em diversas missões militares na Guiné, Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe, entre 1964 e 1970. Almada Contreiras participou ativamente na Revolução de Abril e foi um dos subscritores da redação do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA).

Ao longo do processo revolucionário desempenhou vários cargos, bem como funções, nomeadamente enquanto membro da Comissão Coordenadora do MFA, do Conselho de Estado e do Conselho da Revolução, e conselheiro do Serviço Diretor e Coordenador da Informação (SDCI). Foi, também, condecorado por diversas vezes, incluindo com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Este vosso camarada teve o privilégio de conhecer, e de com ele privar, o Comandante Almada Contreiras, dado o facto de ter sido um dos oradores do meu livro – UM RANGER NA GUERRA COLONIAL – GUINÉ-BISSAU 1973/1974 –, na Biblioteca Municipal de Beja José Saramago, aquando da apresentação da obra editada pela Colibri, sendo que este livro faz parte coleção que agora deixa: Memórias de Guerra e Revolução. Direção: Carlos de Almada Contreiras.

Deixo-vos a foto do acontecimento e o meu pesar pela morte do Comandante Almada Contreiras, assim como os sentimentos à família enlutada.

Abraços, camaradas
José Saúde
Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523

___________

Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


27 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26200: In Memoriam (518): Lúcia Bayan († 26 de Novembro de 2024): Doutorada em Estudos Africanos e colaboradora do nosso Blogue em assuntos do Chão Felupe (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26239: Facebook...ando (68): Na morte de Lúcia Bayan, que disse numa entrevista: "Eu gosto muito, sempre, de relembrar um provérbio que eu aprendi em criança, porque eu nasci e cresci em África, que diz que enquanto o leão não tiver voz só vamos ouvir a história do caçador" (Ana Archer)

1. Excerto de postagem de Ana Larcher, na sua página do Fcebook, 26 de novembro às 15:05 (com a devida vénia):

Acabo de saber a tristíssima notícia que nos deixou uma grande amiga, a Lucia Bayan (foto à esquerda: cortesia de Fumaca.pt, podcast de jornalisno de investigação).

Uma pessoa boa, de sorriso sempre aberto e coração puro, sempre pronta a ajudar os outros, como sabem os muitos amigos que tem. 

Uma investigadora de excelência, de um rigor raro, que dedicou a sua vida ao estudo do sistema político e do povo Felupe na Guiné-Bissau. Acima de tudo, a sua vida foi movida por um compromisso profundo para com o povo Felupe e para com a Guiné-Bissau.
 
Tentando encontrar um pouco de sentido neste momento de tamanha tristeza, reli alguns dos textos da Lúcia e encontrei esta entrevista em que ela diz:

"Eu gosto muito, sempre, de relembrar um provérbio que eu aprendi em criança, porque eu nasci e cresci em África, que diz que enquanto o leão não tiver voz só vamos ouvir a história do caçador. 

"E realmente ainda hoje só continuamos a ouvir a história do caçador. É mesmo o caçador que continua a dar os nomes às coisas e a decidir o que fazer. O caçador, hoje em dia, acaba por decidir o destino do mundo em peso. E pior do que tudo: o leão sente-se castigado sem ter nada feito."

A sua missão era mesmo essa, contar a história pela perspetiva do leão. E tenho a certeza que o seu trabalho vai continuar a inspirar muita gente, muitos investigadores, e que será semente de mudança. (...) (**)


______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 27 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26200: In Memoriam (518): Lúcia Bayan († 26 de Novembro de 2024): Doutorada em Estudos Africanos e colaboradora do nosso Blogue em assuntos do Chão Felupe (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 26 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26198: Facebook...ando (67): Joaquim Gregório Rocha, da CART 2715 / BART 2917 (Xime, 1970/72): participou na trágica Op Abencerragem Candente (25-26 de novembro de 1970), era do 4º pelotão (do fur mil Cunha, uma das vítimas mortais), vive em França e manifestou, há dois anos, interesse em integrar a Tabanca Grande

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26224: Recortes de imprensa (141): Morreu aos 80 anos o comandante do PAIGC, Júlio de Carvalho ("Julinho"), e também primeiro cmdt das Forças Armadas de Cabo Verde ("A Semana", de 26nov2024)


Júlio de Carvalho (1943 - 2024).
Foto. Cortesia de ACOLP / A Semana,
 26nov2024

1. Recorte de imprensa que nos chega através do nosso amigo e camarada Zeca Macedo
 (ex-2º tenente fuzileiro especial, RN, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74; nasceu na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951; vive nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008):


Data . terça, 26/11, 14:06


Luis, junto te envio anoticia publicada hoje, dia 26 de Novembro, sobre o falecimento do Comandante Júlio Carvalho, um dos heróis da Luta pela Independência de Cabo Verde (e da Guiné)

 Ab, Ze Macedo

2. Recortes de imprensa  > Óbito: Faleceu Júlio de Carvalho o primeiro comandante das Forças Armadas de Cabo Verde

A Semana, 26 nov 2024


Faleceu na madrugada de hoje, na cidade da Praia, o primeiro comandante das Forças Armadas de Cabo Verde, Júlio de Carvalho, também combatente da liberdade da Pátria, comunicou a Associação dos Combatentes da liberdade da Pátria (ACOLP).

Julinho Carvalho, como era conhecido, de acordo com a ACOLP, nasceu no Mindelo a 27 de Janeiro de 1943, estudou no Liceu Gil Eanes, onde se destacou pela sua “participação apaixonada” pelas atividades desportivas, tendo inclusive integrado a seleção de voleibol do referido liceu.

Nessa altura, refere um comunicado da ACOLP, com Abílio Duarte, toma conhecimento dos ideais da luta pela independência de Cabo Verde desenvolvida pelo PAIGC, com as quais ele logo se simpatizou, tendo em 1961 viajado para Portugal onde se inscreve como estudante de Engenharia Química,  juntamente com Amaro da Luz, Tito Ramos, e outros estudantes nacionalistas.

“Decidido a exercer um papel activo na luta encabeçada pelo PAIGC, nos finais de 1964, Julinho foge para Paris onde se junta a Manecas Santos, Manuel Delgado, Joaquim Pedro Silva e Olívio Pires. Sob a orientação de Pedro Pires, ele participa na mobilização de um grupo de cabo-verdianos emigrantes na região de Moselle, na França”, lê-se no comunicado da ACOLP.

Júlio de Carvalho, segundo explica ACOLP, integrou a luta armada em Kandjafara, como comandante de artilharia da Frente Sul e, em Maio de 1973, participou na operação que culminou com a tomada do quartel fortificado de Guiledge, prenunciando o fim da ocupação portuguesa na Guiné.

Após o 25 de Abril de 1974, participou nas primeiras negociações com militares portugueses realizados a 15 de Julho, em Cantanhez, no sul da Guiné, visando o estabelecimento de um cessar fogo na Guiné, tendo em fins de 1974, depois da Independência da Guiné, permanecido em Bissau onde, durante cinco anos, exerceu as funções de comissário político das Forças Armadas.

Depois do golpe de Estado de 1980,  estabeleceu-se em Cabo Verde onde exerceu funções de ministro do Interior, primeiro e, de seguida, ministro da Defesa e Segurança, no último mandato de Pedro Pires como primeiro-ministro.

Com a derrota eleitoral do PAICV, fixou residência no Sal onde viveu nos últimos tempos como empresário.

Júlio de Carvalho foi membro da Comissão Política do PAICV e durante toda a sua vida de luta evidenciou, conforme a ACOLP, um “grande patriotismo” como “um elevado espírito de sacrifício e dedicação” em prol de Cabo Verde.
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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26200: In Memoriam (518): Lúcia Bayan († 26 de Novembro de 2024): Doutorada em Estudos Africanos e colaboradora do nosso Blogue em assuntos do Chão Felupe (Mário Beja Santos)

IN MEMORIAM

Doutora Lúcia Bayan (†24 de Novembro de 2024)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,

O que me deslumbrava nesta investigadora era o entusiasmo que punha nas histórias que tinha vivido em território Felupe, onde fez tarimba para o seu doutoramento, que se realizou em 2023. Terá deixado um acervo impressionante de imagens, bom seria que um dia viessem a ser publicadas, algumas delas são verdadeiramente esplendentes, o que mais me impressiona é o entusiasmo que está por detrás da sua captação. 

Algumas das imagens que estão publicadas no blogue têm a ver com o sentido festivo do povo Felupe, e a Lúcia enriqueceu o nosso reportório com os marcos de fronteira, oxalá que a sua tese de doutoramento mereça o melhor acolhimento das instâncias universitárias guineenses e da comunicação social.

Um abraço do
Mário



Morreu Lúcia Bayan, nossa colaboradora, os Felupes estão de luto

Mário Beja Santos

Conheci a Lúcia quando, através do meu amigo Eduardo Costa Dias, ela pediu para falarmos sobre documentação do General Arnaldo Schulz, que estava em poder de uma sobrinha dele. Examinei a documentação, nada era desconhecido, salvo um conjunto de fotografias, para as quais sugeri destino, havendo uma delas pedido de autorização para ser publicada no nosso blogue, como aconteceu.

 Palavra puxa palavra, e íamos falando regularmente sobre o seu doutoramento, a sua paixão, temas da cultura Felupe. Doutorou-se, parecia ter a vida num trilho esplendente, e ontem o Eduardo Costa Dias deu-me a infausta notícia da sua partida. 

A Lúcia colaborou no nosso blogue, como hoje se relembra, um texto primoroso, imagens belíssimas de um povo que ela estudou in loco, há para ali imagens de grande significado, e não são só os marcos de fronteira. Levava os estudos africanos muito a sério, numa abrangência de etnologia, etnografia, antropologia, conhecimento histórico (e aqui estudava afincadamente os Djolas, ramo étnico onde avultam os Felupes).

Esta etnia, digo-o cheio de comoção, perdeu uma investigadora de grande mérito, a cultura luso-guineense fica mais pobre. E não voltaremos a ter o colorido das imagens que a Lúcia nos ofereceu, que tristeza. 

Junta-se a sua colaboração em texto e imagens um apontamento radiofónico sobre histórias que ela investigou e deu a conhecer tanto na Guiné-Bissau como em Portugal.

 Curvo-me respeitosamente perante a sua memória.

Ver colaboração no Blogue em:

15 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20560: Antropologia (35): Djobel, uma tabanca vítima das alterações climáticas, por Lúcia Bayan (Mário Beja Santos / Lúcia Bayan)
e
22 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20584: Antropologia (36): As insígnias de autoridade dos Felupe e Marcos no Chão Felupe, por Lúcia Bayan (Mário Beja Santos / Lúcia Bayan)
Belíssimas fotos do Chão Felupe da autoria de Lúcia Bayan, publicadas no nosso Blogue

Link que contém a sua entrevista sobre a narrativa oral Felupe (Fumaça.pt) :

Foto com a devida vénia

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CV de Lúcia Bayan - Resumo

Doutorada em Estudos Africanos pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, mestre em Estudos Africanos pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa e licenciada em Estudos Africanos pela Universidade de Lisboa.

- Entre 2011 e 2013 foi bolseira de investigação no Centro de Estudos Africanos do ISCTE-IUL no âmbito do projecto "Sociedades africanas face a dinâmicas globais: turbulências entre intervenções externas, migrações e insegurança alimentar" (PTDC/AFR/104597/2008).

- Entre 2013 e 2017 foi bolseira de Doutoramento FCT em Estudos Africanos (SFRH/BD/88278/2012) no Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL), onde desenvolveu uma tese intitulada Linguagens de poder, cadeias iniciáticas, identidade e coesão na sociedade Felupe (Guiné-Bissau).

- Em 2017, participou no projecto de recolha e edição de música tradicional infantil "I NO BALUR", fazendo pesquisa e recolha de música tradicional infantil na Guiné-Bissau.

- Desde 2009, tem desenvolvido trabalho de terreno continuado na Guiné-Bissau, centrado nas estruturas políticas da sociedade Felupe.

Principais áreas de interesse: as estruturas políticas tradicionais e organização social das sociedades rurais africanas.

Qualificações Académicas:

- ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa - Doutoramento Estudos Africanos - 2023

- ICS - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa - Curso Livre O Estudo da Política em África: métodos, objectos e temas de investigação - 2017

- ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa - Curso Livre Documentário Etnográfico Interactivo - 2014

- ISCTE - Istituto Universitário de Lisboa - Portugal - Lisboa - Mestrado Estudos Africanos - 2010

- Universidade de Lisboa - Faculdade de Letras - Portugal - Lisboa - Licenciatura Estudos Africanos - 2007

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Nota do editor

Último post da série de 15 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26156: In Memoriam (517): José Manuel Amaral Soares (1945-2024), ex-fur mil sapador MA, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); morava em Caneças, Odivelas

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26156: In Memoriam (517): José Manuel Amaral Soares (1945-2024), ex-fur mil sapador MA, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); morava em Caneças, Odivelas




José Manuel Amaral Soares (1945-2024)


1. Por intermédio do Humberto Reis, nosso colaborador permanente (e meu vizinho de Alfragide), tive ontem a triste notícia da morte, no passado dia 10, de mais um nosso camarada e amigo, o José Manuel Amaral Soares (1945-2024), ex-fur mil sapador minas e armadilhas, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). (*)

Soubemos, pela notícia da agência funerária, que a cerimónia fúnebre se realizou no passado dia 11 de novembro, pelas 15:30, tendo sido antecedida de velório e de missa de corpo presente. O corpo saiu depois da capela mortuária da igreja de Caneças, para o cemitério local.

 família enlutada transmitimos ainda, em tempo, os nossos votos de pesar e a nossa solidariedade na dor. O Soares vai ficar aqui também connosco, à sombra do nosso simbólico e fraterno poilão. Queremos honrar a sua memória e lembrarmpo-nos dos bons e maus momentos qiue passámos juntos. Por lapso, ele não passou a figurar na lista alfabética da nossa tertúlia, logo em abril de 2005, como deveria ter acontecido pelas nossas regras. Ingressa agora, a título póstumo, na nossa Tabanca Grande. com o nº 895.

O Soares residia em Caneças, concelho de Odivelas, e estava doente há já alguns tempos, o que não o impediu de ir ao último convívio da malta de Bambadinca, em Vila Nova de Azeitão, no passado dia 25 de maio, de cadeira de rodas, amparado pela filha (**)

Em Bamdadinca, estivemos juntos cerca de 10/11 meses  (entre julho de 1969 e maio de 1970). As nossas instalações eram comuns, incluindo a messe e o bar de sargentos. 

Muito mais assíduo do que eu nos convívios do pessoal de Bambadinca do nosso tempo, encontrámo-nos também algumas vezes em vários locais do país: por exemplo, em Lisboa, na Casa do Alentejo (2007) (***), em Castro Daire (2009), etc. 




Vila Nogueira de Azeitão > 25 de maio de 2024 > Restaurante Típico Manuela Borges> 28º almoço-convívio do pessoal de Bambadinca de 1968/71 (BCAÇ 2852, CCÇ 12 e outras subunidades). A organização coube ao João Gonçalves Ramos (ex-sold radiotelegrafista, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, jun 69/ mar 71).Sentados, da esquerda para a direita: Fernando Calado (CCS/BCAÇ 2852) (Lisboa), Gabriel Gonçalves (CCAÇ 12) (Lisboa). Silvino Carvalhal (CCS/BCAÇ 2852) (V.N. Famalicão), e o José Manuel Amaral Soares (CCS/BCAÇ 2852) (Caneças / Odivelas).(**)

(Foto gentilmente cedidas pelo Humberto Reis, tirada por um fotógrafo da organização. Edição e legendagem complementar: Humberto Reis e Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2024)


Castro Daire > Freguesia de Monteiras > Zona Industrial da Ouvida > Restaurante P/P > 30 de Maio de 2009 > 15º Convívio do pessoal de Bambadinca, 1968/71, CCS / BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades adidas > O ex-fur mil sapador, MA,  CCS / BCAÇ 2852, José Manuel Amaral Soares.


Foto ( legenda): © Luis Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > Encontro do pessoal de Bambadinca 1968/71 > A organização coube ao Fernando Calado, coadjuvado pelo Ismael Augusto, ambos alferes da CCS/BCAÇ 2852 (1968/71). 

Aqui na foto o Ismael Augusto e o José Manuel Amaral Soares, ex-furriel mil sapador, ambos da CCS / BCAÇ 2852. O primeiro vivia em Lisboa (trabalhou na RTP como engenheiro e gestor;  e era na altura consultor e docente universitário nas áreas da multimédia). O Soares, por sua vez, vivia em Caneças.(***)

Foto ( legenda): © Luis Graça (2007). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. O Zé Manuel Soares foi dos primeiros camaradas a aparecer no blogue. No poste P5, de 20 de abril de 2005 (****), publicámos a sua convocatória para o convívio desse ano, do pessoal de Bambadinca 1968/71 (de que ele era o organizador, como já o tinha sido em anos anteriores):



"Guiné, Bambadinca 68/71. 

"Companheiros: Desejo que estejam de saúde assim com os vossos familiares. Vamos mais uma vez realizar o nosso almoço anual a fim de convivermos, matarmos saudades e ainda relembrarmos aqueles bons e menos bons momentos que cimentavam a nossa amizade; de tal forma que passados 37 anos sentimos ainda um grande prazer de estar juntos, ainda que por breves horas.

"Por tudo isto, camaradas, no próximo dia 11 de junho espero por todos na Baixa de Faro, junto ao Jardim Manuel Bivar, pelas 10.30 horas. 

"Vamos aí fazer a nossa concentração para que, depois das habituais formalidades, possamos seguir para o Cais da Porta Nova e às 11.00 horas embarcar até à Ilha Deserta. Durante o percurso vamos apreciar a bela paisagem da magnífica Ria Formosa. 

"Quando forem 13.00 horas iniciaremos o nosso alomoço, composto apenas por produtos do mar. O preço por pessoa é de 48 euros com viagem de barco incluída.  As crianças dos 5 aos 11 anos pagam 50%, portanto 24 euros.

"Camaradas, a vossa confirmação tem que ser feita até ao dia 1 de junho, impreterivelmente, com cheque cruzado para José Manuel Amaral Soares (...). Para toda ajuda, telemóvel 96 242 80 53".


3. Além destas referências no blogue, há uma do tempo de Bambadinca, que nos é particularmenmte cara pelas fotos de camaradas daquele tempo e dos nossos quartos. As fotos foram-nos enviadas pelo nosso muito querido e saudoso amigo e camarada de Coimbra, o Carlos Marques Santos (1943-2019), ex-fur mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69) (*****)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 >  Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) >  "Na primeira fila, veem-se os Furriéis Oliveira e Soares. Na 2.ª fila, eu (Marques dos Santos) mais o furriel Carlos Pinto... A foto foi tirada pelo furriel Rei (Cart 2339), meu inseparável companheiro de férias. No interregno das nossas férias aconteceu o desastre do Cheche – Madina do Boé, em 6/2/1969, onde também a CART 2339 esteve envolvida com material auto e apoio logístico"

O Humberto Reis veio depois completar o nome dos dois camaradas que apareciam em primeiro plano: à direita, o  José Manuel Amaral Soares,  ex-furriel mil sapador de minas e armadilhas, CCS / BCAÇ 2852; e à esquerda, o "ranger" Fernando Jorge da Cruz Oliveira (hoje a viver em Fernão Ferro, Seixal). Quanto ao Carlos de Oliveira Pinto, era  radiomontador  (morou depois no Porto onde se formou em engenharia).




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) >  "Aqui, já com o furriel Rei na 1.ª fila",

Comentário de LG: "Como se pode ver pelas fotografias, não se passava sede no Hotel de Bambadinca e, a avaliar pela decoração das paredes dos quartos, os seus hóspedes tinham uma permanente ligação (espiritual, estética, mágica, poética, erótica...) com o mundo das "fadas"  que povoavm os seus sonhos ou ajudavam a climatizar os seus pesadelos,,, Além disso, supremo luxo, tinham direito a lençóis brancos, lavados, e até a frigorífico elétrico"...




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > O Carlos Marques Santos em trânsito para Mansambo, depois da licença de férias na metrópole. (*****)


Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


Acrescenta o Humberto Reis em relação a esta última foto: "(...) pode ver-se um frigorífico que eu comprei quando os velhinhos da CCS / BCAÇ 2852 se vieram embora e ficou para a malta da CCAÇ 12 que depois mudou para o meu quarto".

Comentário de LG:

 "Um frigorífico (para mais  elétrico), naquelas paragens e naquele contexto, era um verdadeiro luxo! 

"O nosso (o do Humberto, que ele compartilhava com a malta do quarto, como eu e o Tony Levezinho) só funcionava à hora do almoço e à noite, quando estava ligado o gerador... Foi depois revendido aos periquitos que nos vieram render, em finais defevereiro de 1971. 

"E julgo que terá chegado, heroicamente, até à hora da partida do último soldado português na Guiné. Provavelmente terá sido oferecido a um camarada do PAIGC. Por falta de energia eléctrica, terá morrido ingloriamente no montão de lixo que deixámos em Bambadinca, a começar pela tralha da guerra, incluindo obuses 14...

"Um felizardo do mato, com direito a férias (nem que fosse em Bissau, também conhecida por guerra do ar condicionado), ia de barco, civil, a partir de Bambadinca, ou apanhava uma LDG no Xime ou, ainda, uma boleia, de helicóptero ou de Dornier, DO 27 (o que era mais difícil, por causas das prioridades, do elevado custo do transporte aéreo e sobretudo do factor C - a cunha).

"A sede da CCS / BCAÇ 2852, a que a CCAÇ 2590/CÇAÇ 12 estva adida, em Bambadinca, funcionava como hotel para os militares em trânsito, oriundos dos aquartelamentos e destacamentos do setor (em especial, Xime, Mansambo, Xitole, Missirá e Fá Mandinga) ou até de outros setores da Zona Leste (Bafatá, Gabu, Galomaro...).

"Comparadas com as do Xime, Mansambo ou Xitole, as instalações para oficiais e sargentos em Bambadinca eram as de um hotel de cinco estrelas... Daqui que a malta de Bambadinca (CCS / BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades) procurava sempre 'desenrascar'   os alferes e furriéis milicianos em trânsito... 

"Mais do que cumplicidade corporativa, havia solidariedade para com os camaradas que viviam em piores condições do que nós... De resto, havia sempre camas vazias, nomeadamente da malta operacional que frequentemente dormia no mato ou estava destacada fora de Bambadinca (como era o caso da CCAÇ 12)." (...)


(*****) Vd. postes de:

sábado, 2 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26108: In Memoriam (516): Regina Gouveia (1945-†2024), Amiga Grã Tabanqueira, esposa do nosso camarada Fernando Gouveia

IN MEMORIAM

Regina Gouveia (1945 - †2024)

A notícia do falecimento da nossa amiga Regina Gouveia, esposa do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf do CMD AGR 2957 - Bafatá, 1968/1970), ocorrida há cerca de três semanas, apanhou de surpresa os editores do blogue. A infausta notícia foi confirmada pelo José Teixeira e pelo António Pimentel, amigos próximos do casal Gouveia. 

Regina Gouveia, formada em Fisico-Químicas e Mestre em Supervisão, era professora aposentada do ensino secundário e autora de diversas obras literárias, algumas delas dedicadas aos mais pequenos.

Tem 15 referências no nosso blogue onde começou a colaborar no já longínquo ano de 2009. Acompanhando o seu marido, esteve presente nesse mesmo ano no IV Encontro Nacional da Tertúlia em Ortigosa.

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real > 20 de Junho de 2009 > IV Encontro Nacional do nosso blogue > Regina e Fernando Gouveia. 

O nosso editor Luís Graça publicou no P4615 um pequeno resumo sobre Regina Gouveia que abaixo se reproduz:

(i) Nasceu em 1945 (em Santo André, Estado de S. Paulo, Brasil, onde vivei até aos dois anos de idade);

(ii) Passou a sua infância e adolescência no Nordeste Transmontano, em Portugal, de onde tem raízes pelo lado paterno;

(iii) casada com Fernando Gouveia, arquitecto, aposentado da CM Porto; acompanhou o marido, em Bafatá, durante a sua comissão militar (1968/70);

(iv) É Licenciada em Físico-Químicas (Universidade do Porto) e Mestre em Supervisão (Universidade de Aveiro).

(v) Professora do Ensino Secundário, aposentada, dedicou muito do seu tempo à formação de professores (foi orientadora de estágios durante 22 anos);

(vi) Colaborou com o Ensino Superior, nomeadamente com o Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

(vii) Actualmente lecciona na Universidade Popular do Porto e colabora, a título voluntário, com a Biblioteca Almeida Garrett no Porto, divulgando a ciência e a poesia, junto dos mais pequenos.

(viii) Em 2005, no âmbito do Ano Internacional da Física, foi agraciada com a comenda da Ordem da Instrução Pública e premiada com o prémio Rómulo de Carvalho.

(ix) É autora do livro de didáctica Se eu não fosse professora de Física. Algumas reflexões sobre práticas lectivas e do livro de ficção Estórias com sabor a Nordeste.

(x) No âmbito da poesia, tem poemas dispersos em algumas publicações,além de prémios; é autora de dois livros de poesia Reflexões e Interferências e Magnetismo Terrestre;

(xi) António Gedeão (pseudónimo lietrário de Rómulo de Carvalho) é um dos seus poetas favoritos. Recorde-se que é o autor do célebre poema Pedra Filosofial (Eles não sabem que o sonho /é uma constante da vida...), transformado em canção de contestação, na voz de Manuel Freire, e nas vozes de alguns de nós,em Bambadinca (1969/71)...

(xii) Em 2006, publicou o seu primeiro livro para crianças: Era uma vez… ciência e poesia no reino da fantasia...

Duas fotos da jovem Regina Gouveia em Bafatá durante a sua permanência naquela localidade guineense onde o marido cumpria a sua comissão de serviço.


Em jeito de homenagem, aqui deixamos três poemas, ao acaso, de Regina Gouveia, o primeiro, uma memória da Guiné e das pessoas de quem ainda se lembrava; o segundo, talvez um grito de protesto pelas desigualdades de uma sociedade de consumo onde alguns têm tudo e outros não têm nada; o terceiro, dedicado ao cais, aquele muro que desde tempos imemoriais viu partir portugueses para a guerra e para a emigração. Todo o cais é uma saudade de pedra, na palavra de Fernando Pessoa.


Telejornal

Vejo o Telejornal no canal dois.
A apresentadora fala da BSE, de clonagem, do Kosovo
e, logo depois, de um acidente no Cais do Sodré e da instabilidade na Guiné.
E eu empreendo no tempo uma viagem...
O Braima, a Binta, o Adrião, onde andarão neste momento?
Conheci-os em Bafatá, há muito tempo, iam buscar o cume no fim da refeição.
Recordo os seus olhos vivos de crianças, pele negra, dentes alvos, sem igual,
os passos apressados quando o vento anunciava em breve um temporal.
Eu era aluna e eles mestres do crioulo de que mal guardo lembranças.
Das mulheres, recordo as suas vestes, fossem mulheres grandes ou bajudas
no tronco, eram em geral desnudas,
presos na cinta panos coloridos que, de compridos, chegavam quase ao chão.
Algumas eram de tal modo belas que pareciam extraídas de telas.
Recordo, servindo-me o café, o Infali com aquele seu olhar tão doce e triste,
talvez o ar mais triste que eu já vi. Será que o café ainda existe?
Recordo aquele condutor, o Mamadu, mostrando com orgulho o seu menino.
Que terá feito deles o destino?
Recordo os passeios na estrada do Gabu, os mangueiros, os troncos de poilão,
a mesquita, o mercado, a sensação de paz que tudo irradiava,
apesar do obus de Piche que atroava, apesar da maldição da guerra
cujo espectro por cima pairava.
Recordo ainda o cheiro e a cor da terra,
o Colufe e o Geba sinuosos onde canoas esguias deslizavam,
recordo macaquitos numerosos que entre os ramos das árvores saltavam
enquanto que lagartos, preguiçosos, ao sol, pelos caminhos se espraiavam
e uma miríade de insectos buliçosos ao nosso redor sempre volteavam.
Recordo o batuque daquele casamento.
Na foto ficou bem impresso o momento em que o dançarino fazia um mortal
numa fantástica expressão corporal.
Foi lá na Ponte Nova, naquela tabanca onde de azul se coloriam panos
que as mulheres usavam em volta da anca e que desciam quase até ao chão.
Tudo isto se passou há muitos anos.
A apresentadora fala agora em danos causados por uma longa estiagem
e mostra uma desértica paisagem.
Eu regresso da minha viagem e tento organizar o pensamento.
O telejornal está quase no final. Deve seguir-se a previsão do tempo.




Pai Natal

Pai Natal, acabo de perceber que não és imparcial
A alguns meninos deste tudo e a outros não deste nada
Será que perdeste a morada, não estava a tundra gelada,
ou estava a rena cansada?
No Natal que logo vem, pensa bem pois não pode ser assim.
Ou dás presentes a todos ou não os dás a ninguém. Nem a mim.


Regina Gouveia em Ciência para meninos em poemas pequeninos



Cais

Na janela, a cortina rendada.
Através dela, navios que demandam o cais,
outros que partem.
Lenços brancos acenam da amurada
outros respondem acenando de terra.
Entre uns e outros, oceano e guerra.
Navego no navio da memória
delida pelo tempo, esse cavalo alado.
Na janela, cada dia mais puída a cortina rendada.
Através dela já não vislumbro
o inexistente cais, outrora imaginado.

Do livro “Entre margens", editado em 2013


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E assim nos despedimos da nossa amiga Regina Gouveia.

Ao Fernando Gouveia, seus filhos, netos e demais família, deixamos o nosso mais profundo pesar.

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Nota do editor

Último post da série de 24 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26075: In Memoriam (515): Marco Paulo (1945-2024): "Nosso cabo, não, meu Alferes, sou o Marco Paulo" (.... nome artístico de João Simão da Silva, nascido em Mourão, ex-1º cabo escriturário, QG/CCFAG, Amura, Bissau, 1967/69)

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26076: S(C)Comentários (49): "Quem não tem padrinhos, morre Mouro" (José Colaço)... "E quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão" (Luís Graça)



Fotograma de vídeo da RTP, 1968, "Marco Paulo Anima Tropas na Guiné" (1' 23'') (com  devida vénia...) (No vídeo, outro dos artistas que atua neste espetáculo é o cabo-verdiano Bana, então em início de carreira; e na assistência parece-nos também reconhecer o gen Arnaldo Schulz, a bater palmas...) 


1. A propósito do popularíssimo Marco Paulo (Mourão, 1945 - Sintra, 2024) que acaba de deixar da Terra da Alegria, depois de uma prolongada, digna e corajosa luta contra o cancro, e que nos seus verdes anos foi nosso camarada na Guiné (*)...

(i) Luís Graça:

 A história do Hugo Guerra (*), hoje cor inf DFA reformado, ... é uma delícia!... 

Vem um gajo do "inferno de Gandembel" para desopilar em Bissau, e é apanhado "em contramão" pelos sacanas da PM... Quem apanha a seguir com a fúria toda acumulada, é um pobre de um cabo, nos Correios, o peito ao léu, desabotoado, afogueado pelo calor...Mas não é um cabo qualquer, ponto e vírgula, é o Marco Paulo, é já o futuro grande artista Marco Paulo!...

Salvaguardas as devidas proporções (e sem qualquer crítica para ninguém), faz-me lembrar a história dos cães famélicos e vadios da "Cova do Lagarto", vítimas da Op Noite das Facas Longas:

  • o tenente coronel andava com os cabelos em pé com medo de levar um "par de patins" do Spínola; 
  • pressionava o segundo comandante (um militarista, que nunca se vestia à civil!) e o major de operações a mostrarem serviço; 
  • estes, por sua vez, obrigavam os desgraçados dos "pretos de 1ª e 2ª classe" a andar no mato a toda a hora do dia e noite; 
  • o capitão não chiava porque, á beira  dos 40 anos, estava na calha para ser promovido a major; 
  • o "chico" do alferes "ranger", garboso 2º comandante da companhia, com um ego de todo o tamanho, batia-se à cruz de guerra, e estava sempre danado para sair com os seus "rapazes"; 
  • os furriéis, os cabos e o resto da "tropa-macaca" andavam à beira de um ataque de nervos...

Um bela noite de verão tropical, com milhões de insetos atacar em voo picado os ouvidos dos pobres "tugas", mais a sinfonia lancinante dos vira-latas, que tomavam conta da parada à noite, uivando como verdadeiras alcateias de lobos..., tudo somado fez encher o copo...

Às 3 da manhã, um piquete exterminador, armado de Walthers P38, com balázios de 9 mm, em loucas correrias de jipe, deu cabo de todo o canil da  "Cova do Lagarto"... (Este massacre ficou, obviamente omisso, na história do batalhão...).

Toda a gente, a começar pelo comandante, teve um resto de noite descansada, e até com direito a sonhos cor de rosa... Nessa altura, ainda não havia o partido dos animais e da natureza... Nem cão era gente, e muito menos "turra". Mas pior que "turra".

Este é mais "um conto com mural ao fundo"... A verdade é que quando o mar bate na rocha quem se f*de é sempre o mexilhão...



(ii) A a propósito de um militar ficar ou não em Bissau (como acontecia com os artistas, os futebolistas, e outras figuras públicas, mais os "meninos" que tinham cunhas...), bem pergunta o alentejano José Colaço (ex-sold trms, CCAÇ 557, 1963/65),  que foi parar com os costados ao inferno do Cachil, no Como:

(...)  "Sorte ficar em Bissau?!... O Zé Manuel Concha do Duo Concha também teve essa sorte... que se chama "Cunha"... E aí formou um conjunto e animava as noites de Bissau. Como diz o provérbio popular, "Quem não tem padrinhos, morre Mouro"....

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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 9 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26025: S(C)em Comentários (48): O quarto dos horrores... no "Anexo de Campolide" do HMP (Excerto do livro "Cabra Cega", 2015, de A. Marques Lopes, 1944-2024)