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domingo, 6 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26990: In memoriam (554): Apolinário Pereira Teixeira (1950-2025): natural de Fermentões, Guimarães, antigo autarca, ex-fur mil, 2ª CART / BART 6520, "Os Mais de Nova Sintar" (1972/74) (Carlos Barros)



Apolinário Pereita Teixeira: natural de Fermentões, Guimarães, nasceu em 23 de julho de 1950 e morreu a 3 de julho de 2025, aos 74 anos. Foi presidente da Junta de Freguesia de Fermentões (1993-2001). 

Era uma figura estimada em Fermentões, sua terra natal, e no concelho de Guimarães. "Participou activamente como membro da Cooperativa Farramundanes, deixando um legado de dedicação e serviço público.

Em comunicado, o Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, realçou "o serviço público que Apolinário Teixeira prestou a Fermentões e a Guimarães", e manifestou pesar pelo seu falecimento, "apresentando à sua família e amigos as mais sentidas condolências".

 (com a devida vénia)



1. Mensagem de Carlos Barros (ex-fur nil, 2ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74):

Data - 6 julho 2025 16:54 e 17:52

Lamentamos. Faleceu o ex furriel mil Apolinário Teixeira. 2ª CART / BART 6520, "Os Mais de Nova Sintra" (Nova Sintra, 1972/ 74). Estive com este grande amigo em Bolama, Tite, Nova Sintra. Gampara, um inferno...

Estávamos em Gampará.  3º Grupo de Combate da 2ª CART / Bart-6520.

Gampará era uma zona de intensos combates, com constantes flagelações do PAIGC e o saudoso ex- Furriel Apolinário (Guimarães) dizia-me: "Barros, dizem que não há inferno mas Gampará é mesmo um inferno!"...

Constantes emboscadas, flagelações ao destacamento, saídas permanentes para o mato, reforço do arame farpado, em duplicado, mortes, feridos e num desses ataques foram atingidos 3 furriéris milicianos entre outros militares que "agonizaram" durante toda a noite , dos terríveis ferimentos,
porque os "hélis" à noite, não faziam evacuações.

O Apolinário saiu desse inferno, sendo deslocado para uma companhia de africanos, tendo-se despedido dos seus amigos, com um semblante tristonho.

Regressãmos à "Metrópole" e o nosso amigo Apolinário manteve a sua amizade para com a 2ª Cart- "Os Mais de Nova Sintra", e era figura presente nos nossos convívios anuais.

No 50º Encontro, em 2025, realizado na Penha, Guimarães, terra natal do Apolinário (Fermentões), este companheiro não apareceu e aconteceu o tragicamente inesperado: motivado por doença, "faleceu" este maravilhoso amigo que deixa saudades imensas no nosso Grupo.

Paz à sua Alma
Ex furriel Barros, Esposende. Um abraço

Carlos Manuel de Lima Barros
Conhecido por Barros, "O Lateiro de Nova Sintra"
Esposende, 5 de julho de 2025

2. Comentário do editort LG:

À família do  nosso camarada Apolinário Teixeira  e aos camaradas da 2ª CART / BART 6520/72, apresento em nome da Tabanca Grande, os nossos votos de pesar. Não o deixemos ficar inumadfo na vala comum do esquecimento. Carlos Barros, manda-nos alhuma foto que tenhamos dele ou com ele, nas terras da Guiné. Obrigado.
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26960: In Memoriam (553): O Fernando Calado (1945 - 2025) que eu conheci e com quem convivi na Casa do Alentejo (José Saúde, Beja)

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26960: In Memoriam (553): O Fernando Calado (1945 - 2025) que eu conheci e com quem convivi na Casa do Alentejo (José Saúde, Beja)




Fernando Calado (1945 - 2025). Foto: LG (2013)



Lisboa > Casa do Alentejo > 8 de fevereiro de 2020 > Lançamento do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: Memórias de Gabu" (Lisboa, Colibri, 2019, 220 pp.)


Aspeto inicial (e parcial) da assistência: na fila da frente, da metade direita do salão: da esquerda para a direita, reconheço o Fernando Calado (1945-2025) (assinalado com retânmgulo a amarelo),  a esposa do maj gen Raul Luís Cunha, a Alice Carneiro, a esposa do Manuel Joaquim... e claro, o Manuel Joaquim, que tem pena de não ser alentejano.. A seu lado, um dos genros do Zé Saúde.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Texto acabado de enviar pelo José Saúde (escritor, vive em Beja, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CCS/BART 6523, Nova Lamego, 1973/74):

Data - sexta, 27 de junho de 2025, 10:34  
Assunto - O Fernando Calado que eu conheci 


Camaradas e amigos,

As nossas vidas, ou seja, a nossa intemporal existência ao cimo deste planeta chamado Terra, são precisamente efémeras. Mas, ao longo das nossas presenças humanas, cruzámos azimutes que nos enviaram para a presença factual na guerrilha da Guiné. 

Uns antes, outros depois. Todavia, restou uma amizade que ousou reforçar laços de companheirismo e de proximidade. Não importou, nem tão-pouco importa, o tempo que por lá andámos pisando terrenos em que o momento seguinte era de uma pura incerteza.
 
Conheci o Fernando Calado, bem como a sua esposa Rosa Calado, um casal que me atrevo apontá-lo como cinco estrelas, e que me proporcionaram momentos inolvidáveis. Ambos são gentes humildes e oriundas do meu Alentejo, concretamente vizinhos de Ferreira do Alentejo. Aqui nasceram, sendo que mais tarde se radicaram em Lisboa.

O Fernando sempre marcou presença nos vários livros que lancei na Casa do Alentejo, em Lisboa, onde a sua esposa, Rosa Calado, dirigente, se apresentou, e sempre, disponível, para me receber. Foram tardes de plenas cavaqueiras, tardes infindáveis onde o público se encantou com o cante alentejano e dos grupos musicais que elevaram as nossas vozes aos píncaros do seu melodioso cantar.

E se é verdade que a vida é, tão-só, uma pequena gota de orvalho que desfalece num abrir e fechar de olhos, não deixa também de se apresentar como um mar de prazeres enquanto por cá andamos. 

Fernando, camarada e amigo, sei que os teus últimos instantes de vida foram marcados pelo sofrimento, resististe, terás negado o bilhete para tal viagem sem regresso, mas, ela, a morte, fez-te uma “emboscada” e levou-te deste planeta terrestre.

Até logo, Fernando. Descansa em paz. A Rosa, o teu doce amor, ficará a rezar por ti e eu espero reencontrar-te no reino do além.

Adeus, Zé Saúde
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Guiné 61/74 - P26959: In Memoriam (552): Fernando de Carvalho Taco Calado (Ferreira do Alentejo, 1945 - Lisboa, 2025), ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968-1970): foi gestor de recursos humanos e docente universitário





Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) > Dois alentejanos e camaradas do nosso blogue, amigos do peito, o Fernando Calado (de camisola vermelha) e o Ismael Augusto. (Ambos foram alf mil da CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70). E ambos partilharam o mesmo quarto...Um terceiro elemento era o João Rocha (1944-2018).


Foto (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]-




Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > Encontro do pessoal de Bambadinca 1968/71 > A organização coube ao Fernando Calado (na foto, à esquerda), coadjuvado pelo Ismael Augusto, ambos da CCS/BCAÇ 2852 (1968/71).


O grupo (mais de 60 convivas) teve na dra. Rosa Calado (na foto, ao centro), elemento da direcção da Casa do Alentejo, uma simpatiquíssima anfitriã. O editor do blogue e fotógrafo, à direita, chegou tarde, mas ainda a tempo de constatar que a organização esteve impecável e o que o sítio não podia ser melhor, em pleno coração de Lisboa. O fotógrafo de circunstância foi o Ismael. A Rosa, na altura, era professora de história no ensino secundário. O casal vivia em Lisboa. Durante anos e anos dedicou-se de alma e coração à animação da Casa do Alentejo (um amor que também era partilhado pelo Fernando, de resto um bom executante do cante alentejano que, em 2007, estava longe  do palco do mundo).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Casa do Alentejo> 8 de fevereiro de 2020 > Apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: Memórias de Gabu" (Lisboa, Colibri, 2019, 220 pp.)... Em primeior plano, a Rosa Calado. que foi sempre, para nós, antigos combabentes, uma inexcedível e magnànima anfitriã.

 dra. Rosa Calado, então  diretora cultural da Casa do Alentejo,  eu chamava-lhe por graça "a ministra da cultura do Alentejo"...    (A  Casa do Alentejo tinha, nesa altura,  um restaurante e uma taberna com cerca de 500 lugares; dava trabalho a 40 pessoas; e  organizava eventos: tinha a agenda cheia até maio de 2020; infelizmente, veio a pandemia.)



Lisboa > Casa do Alentejo> 8 de fevereiro de 2020 > Apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: Memórias de Gabu" (Lisboa, Colibri, 2019, 220 pp.)

Da esquerda para a direita: Fernando Calado (que pertencia então aos corpos sociais da Casa do Alentejo) mais o Humberto Reis, dois camaradas de Bambadinca: alf mil trms (CCS/ BCAÇ 2852, 1968/70), e fur mil op esp / ranger, CCAÇ 12 (1969/71)...


Fotos (e legendas: © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné




Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que a malta de Bambadinca (1968/71), camaradas da CCAÇ 12, e outras subunidades, como o Pel Caç Nat 52, adidas ao comando do BCAÇ 2852, se encontrou depois do regresso a casa... Este primeiro encontro foi organizado pelo António Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018)

Mostra-se aqui um pormenor da foto de grupo. Na primeira fila, da esquerda para a direita:

(i) fur mil MAR Joaquim Moreira Gomes, da CCAÇ 12 [, vivia no Porto, na altura ];

(ii) sold cond auto Dinis Giblot Dalot [empresário, vivia em Aljubarrota, Prazeres].

Na segunda fila de pé, da esquerda para a direita:

(iii) Fernando [Carvalho Taco] Calado (1945-2025), ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 [vivi em Lisboa];

(iv) ex-alf mil manutenção material, Ismael Quitério Augusto, CCS/BCAÇ 2852 [ vive em Lisboa];

(v) ex-fur mil at inf António Eugénio Silva Levezinho [, Tony para os amigos, reformado da Petrogal, vive em Martingal, Sagres, Vila do Bispo];

(vi) ex-capitão inf Carlos Alberto Machado Brito, cmdt da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 [cor inf ref, vivia em Braga, tendo passado pela GNR];

(vii) Pinto dos Santos, já falecido, ex-furriel mil de Operações e Informações, CCS / BCAÇ 2852, [vivia em Resende].


Foto (e legenda): © Fernando Calado (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Montemor-O-Novo > Ameira > Hotel da Ameira > I Encontro Nacional da Tabanca Grande > 14 de Outubro de 2006 > Um momento de fraternidade, pensa (e sente) o "alfero Cabral", o nosso sempre querido Jorge Cabral (1943-2021), em primeiro plano, tendo à sua direita o nosso baladeiro de Bambadinca (1969/71), e hoje fadista amador, o Zé Luís Vacas de Carvalho, comandante do Pel Rec Daimler 2206. 

De pé, afinando as gargantas ou cantando ao desafio, outras duas grandes aves canoras: o Fernando Calado e o Manuel Lema Santos, o exército e a marinha de braço dado... O fotógrafo que estava de serviço apanhou o flagrante, era o David Guimarães, radiante, felicíssimo...

Foto: © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados.Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Bissau > 30 de julho de 1968 > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Um grupo de oficiais milicianos, na Av da República (vendo-se ao fundo a Praça do Império e o Palácio do Governador), no dia seguinte ao desembarque (29 de julho de 1968).  Da esquerrda para a direita, o João Rocha (1944-2018), de camisola escura,  o Fernando Calado  (1945-2025) em 4.º lugar  e o Ismael Augusto em 5º.



Guiné > Bissau > Brá > 1968 > CCS/BCVAÇ 2852 (1968/70) >  Encostados ao jipe do comandante [ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos, de alcunhas o "Pimbas"]: da esquerda para a direita, o João Rocha (194~4-2018)  e o Fernando Calado (1945-2025).

Fotos (e legendas): © Fernando Calado (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá _ Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O alf mil trms Fernando Calado(1945-2025) , de braço ao peito, junto à parede, crivada de estilhaços de granada de morteiro, das instalações do comando, messe e dormitórios de oficiais e sargentos, na sequência do ataque de 28 de maio de 1969.

Esta era a parte exterior dos quartos dos oficiais que dava para as valas, o arame farpado e a bolanha, nas traseiras do edifício do comando... Era uma parte mais exposta, uma vez que o ataque partiu do lado da pista de aviação.

Pelo menos aqui, caíram duas morteiradas:

(i) uma das morteiradas atingiu o quarto onde dormia, com outros camaradas, o fur mil amanuense José Carlos Lopes; tinha acabado de sair; ainda hoje conserva um lençol crivado de estilhaços;  e4stá vivo por uma fração de segundos (bancário reformado do BNU, vive em Linda a Velha e é membro da nossa Tabanca Grande.);

(ii) outra morteirada atingiu o quarto onde dormia o Fernando Calado e o Ismael Augusto ( o Fernando ainda apanhou o efeito de sopro, tendo sido menos lesto que o Ismael, a sair logo que rebentou a "trovoada")

Também podia ter "lerpado", como a gente dizia na época... Apesar de tudo, a sorte (ou a má pontaria dos artilheiros da força atacante, estimada em 100 homens, o que equivalente a 3 bigrupos) protegeu os nossos camaradas da CCS/BCAÇ 2852 e subunidades adidas (entre elas, o Pel Caç Nat 63 cujos soldados, guineenses, dormiam a essa hora, com as suas "bajudas", nas duas tabancas de Bambadinca, e que portanto estavam fora do arame farpado)...

Na foto acima , o Fernando Calado, membro da nossa Tabanca Grande (tal como o Ismael Augusto), trazia o braço ao peito, não por se ter ferido no ataque mas sim por o ter partido antes, num desafio de... futebol. Infelizmente temos poucas fotos dos efeitos (de resto, pouco visíveis) deste ataque.

Foto: © Fernando Calado (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Fernando Calado (em 2013)


1. Foi ontem cremado, no cemitério de Carnaxide, o corpo do nosso camarada e grão-tabanqueiro Fernando Calado. Morreu no passado dia 24, sem completar os 80 anos (ia fazê-los em 9 setembro).

A triste otícia chegou-nos â Lourinhã, transmitida pelo Humberto Reis e pelo Mário Beja Santos, seus contemporâneros de Bambadinca.

O Humberto e o António F. Marques, ex-fur mil da CCAÇ 12 (Bambadinca, mai 69/mar 71) e o Ismael Augusto, seu amigo do peito, representaram-nos a todos na sua despedida da Terra da Alegria.

O Fernando era muito estimado pela malta de Bambadinca desse tempo. Costumava aparecer, tal como o Ismael, nos nossos encontros anuais. A este último, em Ponte de Lima, faltou, embora inscrito: o coração pregou-lhe uma partida, esteve em estado de coma. Na quarta feira passado, chegou o seu dia. Deixa viúva a Rosa, e órfãos dois filhos, a Elsa e o Fernando bem como um neto, o Daniel.

Recordo-o, desde Bambadinca,  como um homem afável e discreto, que adorava o seu Alentejo, o cante alentejano, a tertúlia, o convívio com os amigos.

Natural de Ferreira do Alentejo, vivia em Lisboa há muito; era casado com a dra. Rosa Calado, professora do ensino secundário, que integrou sucessivas direções da Casa do Alentejo, exercendo, com muita competência e empenhamento, o pelouro da cultura

O Fernando era um histórico do nosso blogue, tendo participado no nosso I Encontro Nacional, na Ameira, Montemor-O-Novo (em 2006)... Tem 26 referências no nosso blogue. Foi alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); trabalhou na Petrogal e na RTP; foi docente universitário; tinha página no Facebook

Para Rosa, filhos e neto vai a nossa solidariedade na dor. A memória do Fernando, essa, continua connosco, guardada e cultivada à sombra do poilão da Tabanca Grande.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor: 

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26941: In memoriam (551): J. L. Pio Abreu (Santarém, 1944 - Coimbra, 2025): ex-alf médico, CCS/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73): quatro referências no "Diário da Guiné" (2007), de António Graça de Abreu



José Luís Pio Abreu (Santarém, 1944 - Coimbra, 2025): referência maior da psiquiatria, da saúde mental, do SNS - Serviço Nacional de Saúde e da Academia Portuguesa (Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa), foi nosso camarada de armas, no CTIG, na qualidade de alf mil médico, BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73)... 

O seu funeral realiza-se hoje, sexta,  às 16h00,  para o Crematório Municipal de Coimbra, segundo informação do "Diário de Coimbra".

Era da geração que  protagonizou a crise estudantil de Coimbra, 1969;  foi contemporâneo em Teixeira Pinto, do cirurgião Luís Tierno Bagulho, também ele alf mil da mesma unidade, mas mais velho (é protagonista da crise estudantil de 1962, em Lisboa; voltou à Guiné como cooperante médico no pós-independência, tendo morrido de doença de evolução prolongada, em finais da década de 1970; era filho,  se não erramos, do almirante  António João Tierno Bagulho, n. Elvas, 1911, e falecido em data que não sabemos).

Fonte: Just News > 25 de novembro de 2023 - 15:28 > José Luís Pio Abreu homenageado no Congresso Nacional de Psiquiatria (Foto reeditada pel0 Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2025),.
 



1. O Pio Abreu tinha consultório em Coimbra, na Rua Doutor António José de Almeida, nº 329 2º andar, Sala 68...  

E na sua página apresentava-se nos seguintes termos (não há quaisquer referência à sua experiência como alferes mil médico no CTIG, em 1971/73, na altura ainda era um jovem médico, acabado de se licenciar em 1968):

PSIQUIATRA COM MAIS DE 50 ANOS DE EXPERIÊNCIA


José Luís Pio Abreu é psiquiatra clínico.

Fez o Doutoramento em 1984, com uma tese ligada à Psiquiatria Biológica, e a Agregação em 1996, com uma lição sobre perturbações de ansiedade.

Foi médico no Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra (CHUC) e professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra , sendo ainda membro do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL).

Ao longo dos 50 anos da sua actividade profissional tem desenvolvido e orientado investigação nas áreas da Psicopatologia e psicoterapias, com centenas de artigos publicados em revistas científicas e conferências. Também se tem empenhado nas psicoterapias, tendo sido Presidente da Sociedade Portuguesa de Psicodrama (SPP).

Publicou doze livros em Portugal (alguns destes foram também publicados no Brasil, em Espanha, na América Latina e Itália) e orientou a tradução de um livro de Neurofisiologia. Três deles foram premiados em Portugal e Itália.

O mais conhecido é: "Como Tornar-se Doente Mental". Nos seus escritos, dedica-se também a uma reflexão crítica da Psiquiatria e tenta abordar o enigma da Mente a partir das suas patologias. 

Foi sempre um cidadão ativo, com diversas intervenções, artigos de opinião e colunas em jornais nacionais e regionais.


 

Capa do livro de António Graça de Abreu, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura". Lisboa: Guerra e Paz. 2007, 220 pp. il.


2. No Diário da Guiné, do António Graça de Abreu (alf mil, CAOP1,  Teixeira Pinto / Canchungo, Mansoa e Cufar, junho de 1972/abril de 1974), há algumas referências  ao J.L Pio Abreu, ex-alf mil médico do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73), falecido na passa quarta, dia 18.

Uma delas  (e justamente a última, 1 de fevereiro de 1973) está associada a uma tragédia  que atingiu os nossos camaradas da 38ª CCmds... 

Tudo começou com uma partida de futebol entre os  camaradas de Bachilé (CCAÇ 16, formada por graduados e especialistas de origem metropolitana, e praças do recrutamento local, de  maioria manjaca) e os de Teixeira Pinto (CCS/BCAÇ 3863), na região de Cacheu... 

Pio de Abreu também estava em Teixeira Pinto, em 31 de outubro de 1972, aquando a emboscada, entre Pelundo e Có, a uns quinze quilómetros do Canchungo, a um coluna de cerca de 40 viaturas, e em que seguiam vários oficiais superiores, incluindo o comandante do CAOP1 (o famoso coronel pqdt Durão), e em que houve cerca de 10 feridos, alguns com gravidade,

Nessa data, há no "Diário da Guiné"  uma referência à atuação do alf mil médico Pio  Abreu, na tentativa de salvar a vida a um fuzileiro do PAIGC, atingido por estilhaços de uma bala de helicanhão. 

Há mais 2 referências: 22 de julho de 1972 e 16 de agosto de 1972. 

Estas quatro referências são  suficientes para documentar algumas das  vezes em que o médico Pio Abreu esteve exposto  ao horror da guerra. A seguir se reproduzem essas quatro entradas do "Diário da Guiné", com a devida vénia.


Referências ao J. L. Pio Abreu no "Diário da Guiné" (2007), de António Graça de Abreu


(...) Canchungo, 22 de Julho de 1972

Fui hoje jantar com os dois alferes médicos no único tasco onde se pode comer cá na terra. Um bife duro, batatas mal fritas, um ovo estrelado, 45 escudos.

Os dois médicos são gente interessante, inteligentes, cabeças abertas para o mundo. Conversámos sobre a guerra, sobre as nossas vidas. 

 [Luís Tierno]  Bagulho  [já falecido, c. 1980] atem trinta e tal anos, é já cirurgião em Lisboa, esteve detido em Caxias quando da crise académica de 1962. 

  [José Luís] Pio Abreu  [Santarém, 1944 - Coimbra, 2025] ainda não tem trinta anos, é de Coimbra e faz parte daquele grupo de quarenta e nove estudantes da Universidade que, em 1969, na sequência das greves e desacatos na academia coimbrã, foram alistados coercivamente no exército.

Nenhum tem hoje qualquer actividade política nem de contestação do regime, mas carneiros não somos. É pena para mim – não para eles -, estarem em fim de comissão, só mais dois meses para o Bagulho.

São ótimos médicos, segundo a opinião de toda a gente. Dão consulta à população, com intérprete, tratam das milhentas doenças que afligem este povo manjaco e são os médicos militares, cuidam da tropa aqui estacionada e prestam assistência aos feridos em combate que chegam a Canchungo vindos diretamente do mato.

Têm uma casa grande apenas habitada por eles, fora do quartel, na avenida principal em frente ao hospital. Uma casa bonita com uma sala de estar confortável, com móveis e tudo. (pp. 31/32)

(...) Canchungo, 16 de Agosto de 1972

Hoje, o resultado das brincadeiras com as armas. Ouvi um tiro e gritos na caserna dos soldados do Batalhão [BCAÇ 3863], aqui diante do meu quarto, a uns quarenta metros. 

Fui dos primeiros a chegar, a ver o sucedido. Um soldado, quando brincava coma espingarda, esfacelara o pé direito de outro soldado com um tiro de G3. Tiraram a bota ao pobre rapaz que guinchava de dores, e meu Deus, como estava o pé, destroçado, atravessado de lado a lado, com os ossos e os tendões despedaçados, tudo à mostra, escorrendo sangue. 

Estava convencido de que era pouco impressionável, mas tive uma tontura, vi tudo branco. Recuperei rápido e ajudei a levar o rapaz em braços para a enfermaria. O Pio, o médico, fez o que pôde. Uma hora depois uma DO evacuava o soldado para o hospital de Bissau.

Em Bafatá, caiu um das avionetas DO ao levantar voo, parece que por acidente, descuido do piloto, um alferes que eu não conhecia. Morreram o piloto e um cabo mecânico. (pp. 43/44).


(...) Canchungo, 31 de Outubro de 1972


(…) Quando acontecem estas coisas, pedem-se logo os helicópteros de Bissau para a evacuação dos feridos e vem também o helicanhão que faz fogo sobre os itinerários de retirada do IN. 

Foi então abatido um guerrilheiro que veio de héli para aqui. Eu sabia que havia feridos e lá estava na pista. O fuzileiro do PAIGC chegou ainda vivo, com um uniforme azul manchado de sangue e um estilhaço na cabeça de bala de helicanhão. 

O médico [Pio Abreu]  e um furriel enfermeiro fizeram-lhe massagens no coração que de nada valeram, o homem morreu. Foi o primeiro guerrilheiro que vi, e logo agonizando numa maca de lona. (pág. 62)


(...) Canchungo, 1 de Fevereiro de 1973

É uma hora da manhã, escrevo sereno, lúcido, sem paixão, tudo de enfiada.

Ver viver, ver morrer, três homens mortos, sete feridos graves, quatro ligeiros. A causa próxima foi um desafio de futebol, a causa remota foi o destino e o facto de estarmos numa guerra.

Esta tarde houve um jogo de futebol entre o pessoal branco do Batalhão, CCS/BCAÇ 3863,  e a tropa branca e negra do aquartelamento do Bachile [CCAÇ 16, constituida sobretudo por militares manjacos, do recrutamento local. 

Não sei se por culpa dos brancos ou dos negros, decerto por culpa de ambos, o jogo descambou em grossa pancadaria o que levou o coronel [pára, Rafael Durão, comandante do CAOP1,] a intervir, a assestar uns tantos socos em não sei quem e a dar voz de prisão a dois negros.

Cerca das oito da noite, foi recebida aqui uma comunicação rádio do capitão branco do Bachile, a braços com uma insubordinação dos militares negros. Quarenta africanos armados haviam saído do aquartelamento e marchavam a pé para Canchungo, a fim de tirarem da prisão os seus dois camaradas detidos. 

Aprontaram-se imediatamente cerca de cinquenta comandos da 38ª. Companhia e o coronel seguiu com eles.

Na ponte Alferes Nunes, já próximo do Bachile, os Comandos ficaram e o coronel avançou sozinho, no jipe, ao encontro dos soldados africanos. Graças à sua coragem, ao respeito que impõe a toda a gente - é o “homem grande” branco -, à promessa de libertar os presos, os soldados negros regressaram pacatamente ao Bachile.

Aqui em Teixeira Pinto estávamos na expectativa, não sabíamos o que ia acontecer. Em frente do edifício do CAOP, eu conversava com o major Malaquias, com um alferes da 38ª [CCmds] e outro do Batalhão quando ouvimos um grande rebentamento muito próximo. 

Que será? Um minuto depois chegou a informação, via rádio. Era preciso preparar imediatamente o hospital, havia mortos e feridos.

No regresso dos comandos, à entrada da vila, rebentara uma caixa cheia de dilagramas – granadas disparadas pelas G 3 com um dispositivo especial – em cima de um Unimog onde vinham catorze homens. Dois mortos de imediato, os restantes feridos vinham a caminho. Corremos para o hospital. Os comandos chegaram.

Como vinham, meu Deus! Um furriel morria na sala de operações. As suas últimas palavras para o Pio [Abreu], o médico, foram: “Doutor, cuide dos outros, eu estou bem.”

Nas macas, no chão de pedra do hospital jaziam feridos graves, corpos semi-desfeitos, barrigas, intestinos de fora e quatro rapazes só com alguns estilhaços. Não ouvi um queixume, mas havia muitos homens a chorar.

Era preciso evacuar os feridos para o hospital de Bissau. Onze horas da noite, iluminámos a pista com os faróis das viaturas e com as mechas acesas em muitas garrafas de cerveja cheias com petróleo, distribuídas aí de dez em dez metros ao longo do campo de aviação. Aterraram quatro DO. Ajudei a transportar feridos entre o hospital e as avionetas, num dos nossos Unimog. Dois deles iam muito mal, cravados de estilhaços, em estado de choque ou coma, não sei se escaparão.

O condutor do Unimog em cima do qual as granadas rebentaram é um dos meus soldados, do CAOP 1, Loureiro de seu nome, com apenas oito dias de Guiné. Ia a conduzir, não sofreu uma beliscadura. Trouxeram-no cambaleando, o espanto, incapaz de falar. Evacuados os feridos, fui buscá-lo, abracei-o, sentei-o na minha cadeira na secretaria, animei-o, bebemos quatro águas Castelo.

Foi um acidente de guerra. Corpos ensanguentados, dilacerados, muitos homens destruídos, não apenas os mortos e os feridos.

Reações de alguns dos nossos soldados. “Tudo por culpa dos cabrões dos negros, filhos da puta, só fuzilados!”...

Quem resiste aos corpos esventrados dos companheiros de armas?!...As razões sem razão porque se avivam ódios, porque se morre! 

Não sei que horas são, deve ser tarde, não tenho ponta de sono. Já ouço os galos cantar. Um novo dia nasce. (...) (pãg. 70).

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Fonte: Excertos de: António Graça de Abreu - "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura". Lisboa: Guerra e Paz. 2007. 220 pp., il.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)


3. Dias depois, a 3 de fevereiro de 1973, o António Graça de Abreu é transferido, com o CAOP1, para Mansoa (que tinha a grande desvantagem, em relação a Teixeira Pinto/  Cachungo, de “embrulhar uma vez por mês”, pág. 73).

Perdemos então o rasto do Pio Abreu, que, como já dissemos, pertencia à CCS / BCAÇ 3863, com sede em Canchungo (Teixeira Pinto). Não sabemos se chegou a trabalhar no HM 241, como é provável, já que era cirurgião.

Mobilizado pelo RI 1, o BCAÇ 3863, esteve sediado (o comando e a CCS) em Teixeira Pinto. A comissão de serviço na Guiné foi de 17/9/1971 a 16/12/1973. Foi comandado pelo Ten Cor António Joaquim Correia. Era composto pelas CCAÇ 3459 (Bassarel), 3460 (Cacheu) e 3461 (Carenque e Teixeira Pinto).

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 19 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26937: In Memoriam (550): José Luís Pio Abreu (Santarém, 1944 - Coimbra, 2025), psiquiatra, foi alf mil médico, CCS/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto / Canchungo,1971/73)

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26894: In Memoriam (549): Sarg-Mor Inf Ref Vítor Manuel da Costa (1949-2025), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3328 (Bula, 1971/73) (José Câmara)

I N   M E M O R I A M

Sargento-Mor Inf Ref Vítor Manuel da Costa (1949-2025)
Ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3328 (Bula, 1971/73)

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1 - Comentário de José Câmara

Victor Manuel da Costa, Sargento-Mor Inf Ref, faleceu no dia 1 do corrente mês. Tinha 76 anos de idade.

Como Furriel Miliciano integrou a CCAÇ 3328/BII17. Fez a sua comissão de serviço militar na Província Ultramarina da Guiné entre o dia 21 de Janeiro de 1971 e o dia 7 de Janeiro de 1973. Bula foi a zona de acção da sua Companhia Militar.

Após a sua comissão de serviço na Guiné enveredou pela vida bancária. Alguns anos mais tarde regressou ao serviço militar até à sua aposentação.

Numa nota pessoal, conheci o Victor Costa em Tavira, mas foi no BII17 que nos tornamos amigos, uma amizade que o tempo se encarregou de cimentar. Ao longo dos últimos anos tivemos a oportunidade de nos encontrarmos para aquele abraço de saudade.

Um abraço solidádio para os seus familiares e amigos.

Descansa em Paz, Victor, que bem mereces. Até um dia destes...
José Câmara


2 - Comentário de Henrique André, com o qual concordo plenamente e que descreve muito bem a pessoa que era o Victor Costa, para mim um bom irmão.

"É meu doloroso dever comunicar aos sócios do Núcleo de Faro da Liga dos Combatentes, amigos e comunidade farense o falecimento do nosso grande amigo e camarada Vitor Costa, Sargento-Mor de Infantaria do Exército, ferido em combate na Guiné e também ex-bancário que nos últimos anos desempenhando funções de tesoureiro na Direção da Associação de Deficientes das Forças Armadas em Faro.

Queremos também apresentar as nossas mais sentidas condolências a toda a família, com um carinho especial à sua filha que tanto o orgulhava. Foi sempre desde que nos conhecemos, após a chegada do Ultramar, um grande amigo sempre disponível para ajudar os outros, com aquela calma, tranquilidade e humor, que é natural em qualquer alentejano como ele se prezava ser, um Ser Humano fantástico.

É por isso com grande mágoa que vimos partir mais um amigo e que tanto nos ajudava nas nossas causas. Amanhã de manhã o seu corpo chegará à Igreja de S. Luís (terça-feira dia 3 de Junho) às 11h00, onde pelas 15h00 será rezada missa de corpo presente e posterior saída para o Talhão dos Combatentes, no Cemitério Municipal da Esperança (Velho) em Faro.

Que Repouses em Paz."



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3. Comentários do editor:

Adaptação do texto e selecção das fotos a partir da página do facebbok dos Antigos Combatentes Açorianos, gerida pelo nosso camarada José Câmara

A tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné associa-se à dor dos familiares do nosso camarada Vítor Costa, aos quais envia as mais sentidas condolências.

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Nota do editor

Último post da série de 9 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26783: In Memoriam (548): Recordar o meu amigo Carlos de Matos Gomes (1946-2025), o escritor Carlos Vale Ferraz (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26783: In Memoriam (548): Recordar o meu amigo Carlos de Matos Gomes (1946-2025), o escritor Carlos Vale Ferraz (Mário Beja Santos)

Carlos de Matos Gomes (1946-2025), escritor Carlos Vale Ferraz


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Maio de 2025:

Queridos amigos,
Foi na apresentação do mais recente livro de José Brás, na Casa do Alentejo, que estive presencialmente com Carlos de Matos Gomes, já ele denotava um visível abatimento. Foi uma estima de cerca de um quarto de século, tínhamos sempre histórias para contar, livros para a permuta, momentos houve nos nossos diálogos em que eu pressentia nas suas perguntas a procura de respostas para o contexto das suas obras. Eu confessava-lhe a minha incredulidade, nunca percebi como é que ele arranjava tempo para tanta escrita, creio que a invasão da Ucrânia lhe deu ensejo para artigos quase diários que ele enviava para amigos e para a imprensa, e escreveu mesmo recentemente uma obra só com as suas reflexões políticas. Pertenceu ao núcleo fundador do MFA/Guiné, tal como Sales Golias e Duran Clemente. Não hesito em dizer que Nó Cego é referência máxima da literatura da guerra colonial, mas a sua autobiografia, Geração D, é um depoimento enriquecedor dos valores em que ele acreditava como cidadão e homem independente da esquerda.

Um abraço do
Mário



Recordar o meu amigo Carlos de Matos Gomes, o escritor Carlos Vale Ferraz

Mário Beja Santos

Carlos de Matos Gomes não ficou insensível às laudes que teci ao seu romance Nó Cego, teve a sua 1.ª edição em 1983. Tendo eu procurado compulsar o que de mais significativo se escreveu na literatura da guerra colonial, dei este romance como obra-prima absoluta, e mantenho sem hesitação tal qualificação. 

A nossa aproximação aconteceu quando um dia, num alfarrabista de Campo de Ourique, de saudosa memória, encontrei uma dúzia de exemplares de outra obra sua, Soldadó, uma narrativa humorística sobre um herói fruto do acaso, obra injustamente esquecida, telefonei-lhe para lhe anunciar a oferta, marcámos encontro à hora de almoço. E assim preparámos mais de um quarto de século de encontros amistosos, trocas de referências, cumplicidades. E dez dias antes do seu passamento telefonei-lhe para lhe pedir ajuda quanto a detalhes daquela operação a Cumbamori, onde ele esteve numa das frentes da operação do Batalhão dos Comandos Africanos. Disse-me que ia fazer tratamentos na Fundação Champalimaud, “mais uma batalha, a ver o que acontece, depois voltaremos à fala”

Não voltámos, fui-me despedir dele no velório, na Capela da Bemposta, agradeci-lhe tudo quanto me ensinou, por exemplo, o livro que escreveu com Aniceto Afonso, Guerra Colonial, Porto Editora, 2020, é um monumento de precisão e rigor, demorará muitos anos a ser reatualizado e enriquecido. E a sua obra autobiográfica Geração D, também da Porto Editora, 2024, é de uma sinceridade tocante, um poderoso testamento político.

Mas há um livro de 2017, A Última Viúva de África, que continuo a reter pelo deslumbramento da escrita, em sua homenagem aqui deixo alguns desses parágrafos que selecionei como eloquentes. Logo a dedicatória:

Aos que se interrogam.
Aos que vivem e deixam um rasto.
Aos que procuram as nascentes dos rios.
Aos que sofrem a inevitável derrota que sempre sucede quando um tirano esgota a esperança do seu povo e manda os seus soldados combater numa terra de que não é rei.
Aos meus netos e a todos os netos, para que tenham um futuro.


O fulcro da história é uma tal Madame X, o nome de código de uma informadora residente em Leopoldville, onde os movimentos independentistas angolanos, em particular a UPA/FNLA, tinham a sua base de onde recebiam o apoio político de Mobutu. No romance ela é Alice Oliveira, nascida e criada no Minho, emigrou para o continente africano, tornar-se-á, nesses tempos turbulentos do início da República do Congo em que havia mercenários que combatiam a favor da separação do Catanga, tornou-se numa informadora exímia, várias polícias secretas ficarão a dever favores, acabou por intervir nos acontecimentos de Angola, em 1975, e no fim do Apartheid na África do Sul, já nos anos 1990. Vai aparecer como amiga de Jean Scrame, um dos míticos comandantes das tropas mercenárias. Alice Oliveira, que se considerava a última viúva de África, iria morrer na Nova Zelândia. O filho, que ela viera entregar ainda bebé aos avós, em Portugal, pretendeu trazer o seu corpo lá para o Minho, depositá-lo numa igreja, consagrada como o Panteão. E assim começa a história.

Uma empresa cinematográfica vai centrar-se num filão promissor, parece um bom argumento, lá num ponto do Minho um milionário quer prestar uma homenagem à mãe, transferi-la de um outro continente para uma capela da quinta, uma equipa desloca-se, iremos ouvir falar de Miguel Barros, será uma figura central, cabe-lhe ilustrar acontecimentos que envolvem a Madame X e Jean Scrame, comandante dos Leopardos.

Ao chegar ao acampamento de Jean Scrame, caía o dia, Miguel Barros deparou-se com um inesperado cenário de dezenas, centenas de fogueiras. 

“Miguel Barros viu reunidos na messe, numa bacanal à volta de uma mesa coberta por uma toalha de bordados de Bruxelas, com travessas de loiças de Limoges cheias de restos de antílopes assados, de javalis, de macacos, garrafas de champanhe, copos de cristal da Bohemia, trazidos nos saques às casas abandonadas pelos colonos. Uma mulher grande e loira, que usava cremes e pós para a maquilhagem como se fossem estuque para cobrir fendas nas paredes, servia pedaços de carne abanando as mamas espremidas num vestido de seda costurado para o corpo de uma colona magra fugida da independência. Os homens gritavam pelo nome dela: ‘Ivette!’. Ela levantava a saia para deixar ver parte das coxas. Bebiam pelo gargalo garrafas do caríssimo champanhe Dom Pérignon, da Moët et Chandon, abandonado nas fazendas e nas lojas, a aguardar os dias de festas que nunca mais alegrariam. Só um deles, a um canto, de tronco nu, de cabeça rapada à navalha, com uma cruz de ferro pendurada por uma fita ao pescoço, bebia cerveja e berrava em alemão. O mercenário viera das estepes geladas para as savanas em brasa de África continuar a matança de comunistas e eliminação das raças inferiores.”

Vamos agora ver Miguel Barros no Victoria Hotel, em Stanleyville:

“Do Tennis Club de Stanleyville e do Cercle Hippique restavam os courts e as pistas cobertas de vegetação. No antigo hospital para os europeus estavam agora negros sentados à porta, à espera, eternamente à espera, afastando moscas e entrelaçando as cabeleiras. Das paredes dos edifícios iam desaparecendo os anúncios de agências de viagens da Wagons Lit e do American Express, de oficinas de mecânica e de stands de automóveis, de empresas de construção civil, de médicos e dentistas que já não davam consultas. As placas, tão esburacadas de tiros como as estradas pelas falhas de alcatrão continuavam a indicar as direções de Leopoldville, Elizabethville, Kampala, Goma.

Dos cerca de 5 mil europeus que residiam em Stanleyville e arredores antes da independência, restavam menos de metade. Quando desembarquei em Stanleyville corriam boatos entre os negros assimilados e os europeus que ali permaneciam da tomada de zonas importantes da Província Oriental pelos Simbas do Exército Revolucionário de Pierre Mulele. Em agosto, os Simbas capturaram Stanleyville – uma guarda avançada de apenas quarente negros drogados, descalços e armados de catanas, liderados por xamãs cobertos de peles de animais, com guizos de cobra nos pulsos e nos tornozelos, mascarados com cabeças de macacos. Em poucas semanas, cerca de metade do Congo caíra sobre o controlo dos Simbas. As portas do inferno tinham sido abertas. O monumento a Lumumba na praça central de Stanleyville transformou-se num altar onde Nicolas Olenga e os seus lugares-tenentes sacrificaram o que restava da antiga elite mestiça e europeizada de Stanleyville, os que se designavam como évolués. Ali foram levados, nus, os políticos, os jornalistas, os professores acusados amigos dos brancos, de traidores, e esventrados de pé, de mãos amarradas, retirados os fígados com eles vivos e dados a comer aos pigmeus Simbas.”


Mais tarde, deu-se o contra-ataque, vieram os paraquedistas, entraram depois em Stanleyville os Terríveis, comandados por Jean Scrame e mercenários brancos. Saquearam as povoações vizinhas, incendiando-as com os habitantes no interior das casas.

” Durante vários dias continuaram os tiros por toda a parte, principalmente para os lados do rio, onde eram executados os Simbas que não conseguiram escapar e os que não os haviam apoiado.” 


A lei do mais forte passara para Mobutu.

Obviamente que há mais trama neste romance que todo o horror que se viveu naquele período no Congo e posteriormente. A longuíssima carta que Miguel de Barros manda a Inácia Luz ilustra perfeitamente o sucesso cinematográfico com base nesta Madame X, Alice Oliveira, uma espia talentosíssima, a mãe dos mercenários, a guerreira que comanda os mortos, que estabelecera redes de contactos que informou as autoridades portuguesas do que iria acontecer no Norte de Angola, e que torna deslumbrante toda a trama do Romance, ela é a viúva branca de um paraíso perdido com a descolonização.

Ocorreu-me esta obra de Carlos Vale Ferraz, que recebeu o prémio literário Fernando Namora 2018 para lembrar o escritor que legou a mais bela obra da literatura da guerra colonial e uma referência na investigação da História contemporânea de Portugal que me honrou com a sua amizade. E assim me curvo respeitosamente em sua memória.

Junto como apêndice um texto que o Carlos escreveu no blogue A Viagem dos Argonautas sobre este seu romance:

A descolonização é um absurdo.

O romance desenvolve a reflexão do absurdo como atributo inerente do fenómeno que é habitualmente designado por “movimento descolonizador” de África feita por várias personagens. No início do romance, o narrador, um jovem português, estudante de filosofia na universidade de Lovaina, na Bélgica, fotógrafo por desejo de aventura, confrontado com as notícias e as reportagens dos tumultos que se seguiram à independência do Congo Belga, em 1960, considera como primeira impressão que os europeus andavam por África a extrair o que necessitavam para viverem melhor nas suas terras de origem, aonde regressariam após a campanha, como os pescadores de bacalhau que cumpriam temporadas na Terra Nova. Ou cumpriam penas de degredo longe das suas pátrias. O narrador apoiava as independências porque considerava um anacronismo a exploração direta de África pelos europeus: 

“Para mim, descolonizar constituía uma prova de inteligência. Não apoiava as independências das colónias por ser um direito dos povos colonizados. Não me converti ao anticolonialismo por ideologia, nem por moral, mas por pragmatismo. Quis conhecer os mercenários do Congo e Jean Scrame, em particular, para perceber porque lutava depois de administrar uma propriedade da qual já havia tirado o proveito que lhe permitia estabelecer-se noutro país, ou regressar à Bélgica.”

O narrador comete aqui a mais vulgar das confusões: refere-se, não à colonização, mas ao colonialismo. É de colonialismo que fala. O Congo Belga, como toda a África a sul do Sara, nunca foi colonizado, com exceção da Colónia do Cabo, onde os ingleses ensaiaram o que viria a ser o seu modelo de administração colonial (indirect rule). O Congo Belga (que começou por ser propriedade pessoal do rei dos belgas) foi sujeito ao fenómeno do colonialismo e o colonialismo foi um sistema de exercício violento de direitos de exploração de matérias-primas instituído e acordado na Conferência de Berlim, em 1885, entre potências europeias, para satisfazer as necessidades dos complexos industriais desenvolvidos com a energia da máquina a vapor. O colonialismo é um fruto da máquina a vapor e da revolução industrial.

Até à II Guerra Mundial foi indispensável as potências europeias assegurarem a exploração direta das matérias-primas, depois, passou a ser mais rentável delegar essa tarefa em agentes locais, as elites indígenas entretanto assimiladas e integradas na cultura e nos processos europeus. Mas houve, entre os europeus que foram para África executar tarefas de exploração direta, um grupo que, por razões diversas, assumiu aquelas terras como o seu destino final – que afirmaram ser a África, fosse o Congo, Angola, a Rodésia, Moçambique ou o Quénia, a sua pátria! Em Portugal utiliza-se o termo de “cafrealização” para designar esse processo, na Bélgica ele foi designado por “zairização”. O comandante de mercenários designado no romance como Jean Scrame e a portuguesa Alice Vieira, a última viúva de áfrica, pertencem a esse grupo. O narrador descobrirá, contudo, que nem eles – mesmo assumindo a sua nova identidade de africanos brancos – se opõem ao processo de independência das colónias, a um governo de negros, porque percebem que o sistema de administração e exploração delas se mantém, apenas mudaram os executores diretos, que passaram a ser títeres locais nomeados pelos brancos, europeus e americanos. O colonialismo manteve-se enquanto sistema de exploração de riquezas. O “Movimento Descolonizador” foi apenas uma mudança de tripulação num navio que continuou a realizar as mesmas viagens, transportando os mesmos produtos entre os mesmos portos.

Não existiu qualquer movimento descolonizador, que foi e é apenas uma designação utilizada para referir o movimento de transição da administração das colónias dos funcionários das potências europeias para uma elite de funcionários e políticos negros aculturados – ditos “assimilados” ou évolués, que, no essencial, replicam os métodos dos europeus e servem os seus interesses. Em termos políticos não existe qualquer descolonização. Não existe também qualquer libertação.

Mas não existe também descolonização em termos civilizacionais. Colonizar é a instalação de um grupo de uma dada sociedade no território de outra e implica troca de experiências, saberes, valores, relações comerciais e humanas, de forma mais ou menos pacífica ou mais ou menos violenta. Colonizar é sempre uma exportação de bens civilizacionais, da língua à religião. Entre o colonizador e o colonizado estabelece-se uma relação como a de uma gota de tinta que cai num copo de água. A gota de água dissolve-se e não é possível reconstituí-la, retirá-la da água onde se dissolveu. É por isso impossível reverter a colonização, retirar dos povos colonizados o essencial do que os colonizadores levaram e lhes inculcaram.

Nós, os portugueses devíamos conhecer bem a impossibilidade de descolonizar. Fomos colonizados pelos romanos e pelos árabes, mantemos fortes marcas dessa colonização – não fomos descolonizados até hoje. Colonizámos alguns pontos do mundo, e deixámos lá as nossas marcas, como os romanos e os árabes nos tinham deixado. O Brasil, Angola, Moçambique, a Guiné, Cabo Verde, São Tomé, não foram descolonizados, tornaram-se entidades políticas independentes, estados-nação com bandeira, hino, gravatas de seda ao pescoço dos hierarcas, número de ordem nas Nações Unidas e embaixadores que falam inglês. Tanto o discurso comum da “malvada descolonização”, como da “descolonização possível” são absurdos. O discurso da “entrega” é patológico, com origem na exacerbação de sentimentos que bloqueiam o raciocínio.

As antigas colónias europeias de África não se descolonizaram, não reverteram as instituições de governo introduzidas pelas potências coloniais, retomando as suas tradições do tempo antes da chegada dos colonizadores europeus. Pelo contrário, os dirigentes dos movimentos independentistas, do movimento descolonizador do pós II Guerra, foram particularmente violentos na aniquilação das autoridades tradicionais e dos costumes ancestrais – quase sempre com o aplauso dos antigos colonizadores e das suas instituições, com relevo para a ONU e as suas agências, que os elogiaram pela luta anti-tribalista, tomada como uma acção de modernidade.

O movimento descolonizador dos pós-II guerra é um gigantesco embuste. A descolonização de África foi, de facto, a adoção pelos africanos da “ordem” do colonialismo – constituição de estados-nação com os mesmos princípios dos estados-nação que instituíram o colonialismo, imposição dos seus sistemas políticos e jurídicos, das suas línguas, até dos seus deuses e, principalmente, das suas armas, do canhangulo à AK, do jipe ao Mirage. Não existiu qualquer libertação de África, a África política e a África dos povos estão sujeitas às mesmas regras e normas dos países que enviaram os seus exploradores ao continente africano no século XIX e que o dividiram em Berlim.

O facto de não ter existido nem descolonização, nem libertação de África não é nem bom nem mau – não existiu Mal, nem Bem, nem desastrosa descolonização, nem criminosa entrega, nem falsa libertação, houve sim uma realidade: a imposição por parte das antigas e novas potências coloniais de uma nova grelha de domínio de África, de uma grelha que facilita a relação e a exploração, pois quer uma quer outra se realizam segundo a regra dominante. O resto, o que subsiste da antiga África antes do colonialismo, das danças às mezinhas dos feiticeiros é folclore que serve de atração turística. Resta uma pergunta que Alice, A Última Viúva de África e Scrame, o último dos grandes comandantes de mercenários, colocam: Porque não podem e não puderam eles e os europeus manter-se em África como africanos brancos? Porque não pode ser a África uma pátria de brancos, como foram e são as Américas?

O romance ensaia uma resposta. A ficção é mais adequada a abordar questões difíceis que a análise política e histórica…
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Notas do editor

Vd. post de 13 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26683: In Memoriam (542): Carlos Matos Gomes (1946-2025), membro do MFA no CTIG, cor cav 'cmd', ref, escritor e historiógrafo, e grande amigo da Tabanca Grande

Último post da série de9 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26781: In Memoriam (547): Maria Rosa Exposto, ex-alf enf pqdt (Bragança, c. 1940 - Portalegre, 2021), pertencia ao 4º curso (1964) e passou pelo CTIG... Rosa, que descanses em paz!

Guiné 61/74 - P26781: In Memoriam (547): Maria Rosa Exposto, ex-alf enf pqdt (Bragança, 1940 - Portalegre, 2021), pertencia ao 4º curso (1964) e passou pelo CTIG... Rosa, que descanses em paz!


Guiné > Bissau > Av Marginal > s/d< (c. 1966) > A Rosa Exposto, é a primeira do lado esquerdo.; ao centro a Maria Arminda, e à direita, a Maria do Céu Matos Chaves.  Foto: Cortesia de Fernando Miranda (2025).





Infografia:  Aristides Santos (2025) . Reproduzido da página do Facerbook do Fernando Miranda (trabalhou no Hospital da Força Aérea, com o enfermeiro,  e tem o melhor álbum fotográfico sobre as enfermeiras paraquedistas). (Com a devida vénia...)



1. Confirmámos a notícia, que já circulava há vários meses (pelo menos desde outubro passado), entre os antigos camaradas  da FAP, da morte da ex-alf enf pqdt Maria Rosa Exposto Olivença, por postagem do Fernando Miranda, ontem, dia 8 de maio:

(...) É com muito pesar que participo o falecimento no dia 21 de junho de 2021, no Hospital de Portalegre, por doença prolongada, a nossa camarada alf enf paraquedista Maria Rosa Exposto. 

A nossa camarada era residente em Marvão e esposa do nosso camarada cap paraquedista José Barata Olivença, pioneiro do curso de Espanha. Foi cremada. (...)

2.  Era natural de Bragança. E estava viúva. Tinha um filho, Francisco Olivença  (que  confirmou a morte e relatou as circunstâncias penosas do seu internamento, ainda com as restriçóes da Covida.19).  Tinha 80 anos (nasceu a 2 de outubro de 1940). 

Há vários anos que as suas antigas camaradas e amigas, Maria Arminda e Rosa Serra, não sabiam nada dela. Sabiam apenas que vivia para os lados de Portalegre.  A Arminda (que esteve com ela em 1966, na Guiné) recorda-a como uma colega bem disposta. 

Era do 4º curso (1964). Participou no livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas" (2014) (**).  Ela terminava, em 2014, o seu depoimento, com um agradecimento à FAP pela oportunidade que lhe deu de se realizar como ser humano e como enfermeira, e com palavras de grande nobreza para com aqueles com quem trabalhou e conviveu: "Nunca vos esqueci nem esquecerei!" (**)...

Nunca  a conhecemos pessoalmente. Mas, connosco, com os amigos e camaradas da Guiné, ela também não fica na vala comum do esquecimento.  Os camaradas e amigos da Guiné, aqui reunidos no nosso blogue. também a não vão esquecer.

Não nos cansamos de lembrar que  as ex-enfermeiras paraquedistas são as únicas mulheres a quem, "de jure" e "de facto", podemos chamar camaradas. no sentido puro e duro da etimologia da palavra... 

Rosa, que descanses em paz! Um abraço solidário para o teu filho Francisco.

PS - Tinha até agora apenas 3 referências no nosso blogue (**).
 
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Notas do editor;


26 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26618: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (8): Grande coragem, sangue frio, inteligência emocional, autocontrolo, empatia, serenidade, a da Rosa Exposto!..