Carlos Matos Gomes, cor cav 'cmd', ref; capitão de Abril; escritor, historiógrafo (Vila Nova da Barquinha, 1946 - Lisboa, 2025). Ia completar 79 anos em 24 de julho. Do seu CV militar destaque-se: fez part do curso de cadetes de 1963 na Academia Militar; oficial dos 'comandos', passou pelos 3 TO, com destaque para Moçambique, onde participou na operação “Nó Górdio” (1970); esteve no CTIG de julho de 1972 a fins de junho de 1974, participando em diversas operações com o Batalhão de Comandos da Guiné (por ex., a Op Ametista Real, 1973); pertenceu à primeira Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães na Guiné; foi membro da Assembleia do MFA em 1975;
Por detrás, o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. Matos Gomes, na altura capitão dos comandos, foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história... Recorde-se que a Amura é hoje o panteão nacional da Guiné-Bissau, onde repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros heróis da pátria guineense, como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna ou Rui Djassi.
Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O Paulo Santiago deu-me a desoladora notícia, esta manhã: morreu o Matos Gomes. E confirmei, de imediato, na sua página do Facebook: "A todos os amigos e seguidores do meu pai, Carlos Matos Gomes, é com profunda tristeza que informo que faleceu hoje, 13 de Abril, no Hospital Cuf Tejo. Partiu sereno e com músicas de Abril. Direi por aqui todos os pormenores sobre as cerimónias que se seguem. Grata a todos pelo carinho e admiração que tinham por ele."
2. Comentário do editor LG:
2. Comentário do editor LG:
Morreu o Matos Gomes, um amigo e camarada da Guiné que tinha na Tabanca Grande muitos e bons amigos. Fico desolado por mais esta perda da nossa comunidade de antigos combatentes. (*)
Já não o via há largos anos, mas também nunca fomos íntimos. Propus o seu nome, como participante, ao Pepito, organizador do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008) (**). Viajámos juntos e estivemos juntos nesse evento. Estive também com ele nalgumas sessões de lançamentos de livros e conferências.
Não, não fazia parte da Tabanca Grande, pelas razões que ele próprio, em vida, apresentou. Nem eu agora, à revelia da sua vontade, vou "dar-lhe honras de Tabanca Grande"... Tem mais de 100 reeferências no nosso blogue. Foi uma "espécie de marginal-secante", interagindo connosco sempre que entendia oportuno ou que nós o solicitávamos...
Não, não fazia parte da Tabanca Grande, pelas razões que ele próprio, em vida, apresentou. Nem eu agora, à revelia da sua vontade, vou "dar-lhe honras de Tabanca Grande"... Tem mais de 100 reeferências no nosso blogue. Foi uma "espécie de marginal-secante", interagindo connosco sempre que entendia oportuno ou que nós o solicitávamos...
Era um espírito muito livre, independente, rebelde, culto e crítico. E um combatente com uma grande folha de serviço. Capitão de Abril, escritor, historiógrafo, "influencer"... Confesso que não o seguia no Facebook, como de resto não sigo ninguém em especial.
Li, dele, para além das obras de historiografia militar, dois livros que considero incontornáveis para quem quiser conhecer melhor a nossa geração a quem coube fazer a(s) guerra(s) da descolonização, mas também a paz e o 25 de Abril: "Nó Cego" (1983), romance, escrito sob o pseudónimo Carlos Vale Ferraz e "Geração D: da Ditadura à Democracia" (2024). O "Nó Cego" é já uma clássico da literatura portuguesa. E a "Geração D" também a li de um fôlego...
Deixemos, porém, aos nossos leitores, e sobretudo aos camaradas que o conheceram melhor do que eu, a honra (e o dever...) de o lembrar aqui.
Como fundador, administrador e editor deste blogue (que já tem mais de 20 anos)), recordo dois apontamentos da autoria do Carlos Matos Gomes que sempre nos deu força e motivação para continuar a manter vivo, ativo, proativo, produtivo e saudável o nosso blogue. Temos para com ele mais esta dívida, a de gratidão.
(i) Mensagem enviada aos editor Luís Graça e Carlos Vinhal:
Data - segunda, 23/04/2012, 18:32
Assunto -Parabéns
Meus caros amigos, estive a ver as fotos da festa da Tabanca (Grande) (**). Queria deixar aqui os meus parabéns, mas também expressar a admiração pelo convívio e pela sã troca de afetos e memórias entre aqueles que passaram pela Guiné no cumprimento do serviço militar.
Assunto -Parabéns
Meus caros amigos, estive a ver as fotos da festa da Tabanca (Grande) (**). Queria deixar aqui os meus parabéns, mas também expressar a admiração pelo convívio e pela sã troca de afetos e memórias entre aqueles que passaram pela Guiné no cumprimento do serviço militar.
Todos ficamos enriquecidos ao visitar esta Tabanca. Em especial ao Luís Graça e aos editores, o meu bem hajam e o estímulo para que continuem. Para todos os que aqui partilham os seus segredos, os seus pensamentos, os seus sentimentos vai o meu obrigado pelo que me têm ensinado.
Um grande abraço para todos do Carlos Matos Gomes
(ii) Mensagem, de 17 de janeiro de 2010, do cor cav ref Carlos Matos Gomes, conhecido estudioso e analista da guerra colonial, investigador e também romancista e argumentista (autor de, entre outras obras, sob o pseudónimo, do romance "Nó Górdio", 1983). (***)
(ii) Mensagem, de 17 de janeiro de 2010, do cor cav ref Carlos Matos Gomes, conhecido estudioso e analista da guerra colonial, investigador e também romancista e argumentista (autor de, entre outras obras, sob o pseudónimo, do romance "Nó Górdio", 1983). (***)
Meu caro Luís, a propósito de uma resposta minha ao post do Jorge Félix relativo ao vídeo da viagem pelo Rio Cacheu Acima , fizeste-me uma proposta de integrar esta Tabanca, que me fez reflectir com serenidade antes de ter responder.
A primeira reacção foi: é claro que sim!... Preencho todos os requisitos, tenho ali (na Tabanca) tantos amigos, conhecidos. O local é bem frequentado, isto é, a frequência é de boa gente, são boas as intenções e a finalidade dos que frequentam a Tabanca.
A primeira reacção foi: é claro que sim!... Preencho todos os requisitos, tenho ali (na Tabanca) tantos amigos, conhecidos. O local é bem frequentado, isto é, a frequência é de boa gente, são boas as intenções e a finalidade dos que frequentam a Tabanca.
Une-me aos que aqui se reúnem recordações de lugares e de tempos e ainda o afecto pela terra da Guiné e das suas gentes. Nada a obstar, antes pelo contrário, tudo me levaria a sentir-me, além de honrado, disponível para integrar este grupo como membro de pleno direito.
Mas… vamos aos mas…
Sou leitor e frequentador assíduo e muito interessado da Tabanca. Tenho um juízo sobre esta Obra. Penso, sem qualquer lisonja, para a qual tenho espinha demasiado rígida e a boca demasiado dura, que este blogue é algo de extraordinário. Um daqueles casos que nos aquecem a esperança e nos incham a alma.
É extraordinário a vários títulos: pela ideia de reunir antigos combatentes num espaço democrático (o que quer dizer de livre expressão de cada um e de obrigatório respeito por todos e cada um dos outros), onde relatassem as suas experiências de há 30/40 anos, revivessem a sua grande aventura dos 20 anos, restabelecessem contactos, amizades e camaradagens, recordassem através da escrita e da imagem os lugares, os acontecimentos e as pessoas com quem partilharam os seus tempos da guerra, que servisse até de veículo de ajuda.
É extraordinário porque tem mantido o diálogo entre pessoas com diferentes visões da guerra e das situações num elevado nível de tolerância, mesmo quando o calor provoca reacções mais ásperas.
É extraordinário porque o colectivo do blogue conseguiu criar um "espírito de corpo" entre os tabanqueiros, que se reveem nas histórias, nos convívios que se vão multiplicando, nas acções que se desenvolvem, seja de solidariedade e ajuda ao povo da Guiné, seja a camaradas em dificuldades, seja ainda a familiares que procuram reconstituir as histórias de parentes seus na guerra.
O bloque e a Tabanca são um espaço de pureza e generosidade.
A pureza do blogue e dos seus tabanqueiros tem a ver com aquilo que é a sua matriz, a sua característica fundadora, o seu ADN: o blogue serve para relatar, contar, descrever, para transmitir emoções, para despejar pesos acumulados.
O blogue é a camaradagem, o que desaconselha grandes reflexões, análises e explicações. Deve continuar assim. É a sua força.
Ora eu, pelos rumos que a minha vida tomou, se ainda mantenho a minha generosidade, perdi a pureza de reviver a guerra colonial. Isto é, eu bebo do blogue, leio o que os homens da minha idade e da minha geração que passaram pelos locais por onde eu passei escrevem sobre ela, tento perceber como, em termos coletivos, a minha geração viveu este período da nossa História. Cada pequena descrição, ou relato, ou fotografia, ou filme, que cada um coloca é para mim um objecto de análise.
Mas… vamos aos mas…
Sou leitor e frequentador assíduo e muito interessado da Tabanca. Tenho um juízo sobre esta Obra. Penso, sem qualquer lisonja, para a qual tenho espinha demasiado rígida e a boca demasiado dura, que este blogue é algo de extraordinário. Um daqueles casos que nos aquecem a esperança e nos incham a alma.
É extraordinário a vários títulos: pela ideia de reunir antigos combatentes num espaço democrático (o que quer dizer de livre expressão de cada um e de obrigatório respeito por todos e cada um dos outros), onde relatassem as suas experiências de há 30/40 anos, revivessem a sua grande aventura dos 20 anos, restabelecessem contactos, amizades e camaradagens, recordassem através da escrita e da imagem os lugares, os acontecimentos e as pessoas com quem partilharam os seus tempos da guerra, que servisse até de veículo de ajuda.
É extraordinário porque tem mantido o diálogo entre pessoas com diferentes visões da guerra e das situações num elevado nível de tolerância, mesmo quando o calor provoca reacções mais ásperas.
É extraordinário porque o colectivo do blogue conseguiu criar um "espírito de corpo" entre os tabanqueiros, que se reveem nas histórias, nos convívios que se vão multiplicando, nas acções que se desenvolvem, seja de solidariedade e ajuda ao povo da Guiné, seja a camaradas em dificuldades, seja ainda a familiares que procuram reconstituir as histórias de parentes seus na guerra.
O bloque e a Tabanca são um espaço de pureza e generosidade.
A pureza do blogue e dos seus tabanqueiros tem a ver com aquilo que é a sua matriz, a sua característica fundadora, o seu ADN: o blogue serve para relatar, contar, descrever, para transmitir emoções, para despejar pesos acumulados.
O blogue é a camaradagem, o que desaconselha grandes reflexões, análises e explicações. Deve continuar assim. É a sua força.
Ora eu, pelos rumos que a minha vida tomou, se ainda mantenho a minha generosidade, perdi a pureza de reviver a guerra colonial. Isto é, eu bebo do blogue, leio o que os homens da minha idade e da minha geração que passaram pelos locais por onde eu passei escrevem sobre ela, tento perceber como, em termos coletivos, a minha geração viveu este período da nossa História. Cada pequena descrição, ou relato, ou fotografia, ou filme, que cada um coloca é para mim um objecto de análise.
Não tenho, pois, a pureza indispensável para me intrometer neste ambiente, não me sentiria confortável a fazer de mais um, quando afinal eu era e sou o que está a observar.
Um dos muitos factores de interesse do blogue é ser, além de um extraordinário local de convívio para os antigos combatentes da Guiné, uma futura fonte de conhecimento para a História da guerra colonial.
Um dos muitos factores de interesse do blogue é ser, além de um extraordinário local de convívio para os antigos combatentes da Guiné, uma futura fonte de conhecimento para a História da guerra colonial.
E este conhecimento assenta em informações, por vezes únicas, sobre determinados acontecimentos e só isso já seria muito e bom serviço, mas o mais importante é que este blogue vai permitir aos historiadores e aos interessados do futuro pela História de Portugal, pela história colonial, pela história das forças armadas portuguesas e pela História da Guiné uma visão muito real sobre os actores que estiveram no terreno.
Raramente, na história em geral e na história militar em particular, é possível aceder ao sentimento, ao pensamento dos homens comuns que a fizeram. Este blogue dota os futuros estudiosos desse precioso elemento que é o de lhes fornecer o relato em primeira mão do soldado, do sargento, do subalterno, do capitão que estavam no mato, a bordo de navios, nos aviões.
Eu, pelo facto de ter enveredado muito cedo pelo trabalho de análise da guerra colonial, sou alguém que polui essa fonte.
Raramente, na história em geral e na história militar em particular, é possível aceder ao sentimento, ao pensamento dos homens comuns que a fizeram. Este blogue dota os futuros estudiosos desse precioso elemento que é o de lhes fornecer o relato em primeira mão do soldado, do sargento, do subalterno, do capitão que estavam no mato, a bordo de navios, nos aviões.
Eu, pelo facto de ter enveredado muito cedo pelo trabalho de análise da guerra colonial, sou alguém que polui essa fonte.
Se aceitasse pertencer à Tabanca e aceder ao teu convite, estava a seguir o meu instinto e a fazer o que eu gostaria, mas não estava a prestar um bom serviço à Tabanca (tenderia a apresentar análises e a fazer interpretações que gerariam tensões e desviariam a atenção dos puros tabanqueiros), nem estava a prestar um bom serviço ao futuro estudo da guerra colonial, pois introduziria factores de distorção na análise. Estava a fazer o que gostava, mas não o que devo,
É por tudo isto que aqui tentei resumir e sem ter a certeza de ter sido claro que, meu caro Luís, te peço para me deixares neste lugar de entreportas, a vaguear pela Tabanca como um estrangeiro adotado, respeitando os usos e os costumes, falando quando me autorizarem, ou quando me pedirem, saudando os que assumem a responsabilidade de manter o fogo aceso, o gado alimentado, os fracos protegidos. Sendo agradecido pelo muito que o vosso labor me proporciona, pelo que aprendo e pelas amizades que criei.
Um grande abraço
Carlos Matos Gomes.
NB: Desculpa a extensão da resposta, mas não consegui resumir e devia-te, e a todos os membros da Tabanca, uma explicação séria, sem falsas humildades, mas principalmente sem deixar qualquer mal-entendido sobre a recusa a partilhar um espaço como este que, reafirmo, honra todos os que a ele pertencem e me honraria a mim também, se não fossem as razões que tentei expressar.
(iii) Comentário de L.G., com data de 24/1/2010:
Carlos:
Em meu nome e dos demais editores, o Carlos, o Eduardo e o Virgínio, bem como de todos os demais amigos e camaradas da Guiné que se reconhecem neste blogue, agradeço as palavras que dizes a nosso respeito e que são um estímulo, público, para continuar...
Às vezes, as nossas forças também fraquejam e a gente tem dúvidas, legítimas, sobre o caminho a seguir... Tu bem sabes, da longa e dura experiência dos três TO por onde passaste, a começar pela Guiné, como as picadas pareciam não ter fim... As tuas palavras são um doce bálsamo para as dores do caminho e um bom tónico para prosseguir, apesar de alguns conflitos, incompreensões e escaramuças que, inevitavelmente - e por que não, saudavelmente - surgem neste percurso comum...
E queremos prosseguir, não exactamente por sentido de "missão" (não somos heróis nem iluminados, somos apenas 'common people'), mas pela simples razão de termos criado, quase sem o querer, uma comunidade de desvairadas gentes que têm, como menor denominador comum, uma experiência de guerra e o conhecimento, vivido, de uma terra...
A guerra colonial e a Guiné-Bissau (ou o discurso sobre) não são monopólio de ninguém, nem sequer mesmo dos guineenses... Este período da história comum de portugueses e guineenses está longe de estar encerrado. Vamos continuar a esforçarmo-nos por manter este espaço plural e aberto, e cultivar nosso espírito de partilha, de tolerância e de discrição.
Dito isto, entendo inteiramente as razões por que gostarias de, mas não podes nem deves, aceitar o meu/nosso convite para integrar a Tabanca Grande.
É por tudo isto que aqui tentei resumir e sem ter a certeza de ter sido claro que, meu caro Luís, te peço para me deixares neste lugar de entreportas, a vaguear pela Tabanca como um estrangeiro adotado, respeitando os usos e os costumes, falando quando me autorizarem, ou quando me pedirem, saudando os que assumem a responsabilidade de manter o fogo aceso, o gado alimentado, os fracos protegidos. Sendo agradecido pelo muito que o vosso labor me proporciona, pelo que aprendo e pelas amizades que criei.
Um grande abraço
Carlos Matos Gomes.
NB: Desculpa a extensão da resposta, mas não consegui resumir e devia-te, e a todos os membros da Tabanca, uma explicação séria, sem falsas humildades, mas principalmente sem deixar qualquer mal-entendido sobre a recusa a partilhar um espaço como este que, reafirmo, honra todos os que a ele pertencem e me honraria a mim também, se não fossem as razões que tentei expressar.
[ Revisão / fixação de texto, título: L.G.]
(iii) Comentário de L.G., com data de 24/1/2010:
Carlos:
Em meu nome e dos demais editores, o Carlos, o Eduardo e o Virgínio, bem como de todos os demais amigos e camaradas da Guiné que se reconhecem neste blogue, agradeço as palavras que dizes a nosso respeito e que são um estímulo, público, para continuar...
Às vezes, as nossas forças também fraquejam e a gente tem dúvidas, legítimas, sobre o caminho a seguir... Tu bem sabes, da longa e dura experiência dos três TO por onde passaste, a começar pela Guiné, como as picadas pareciam não ter fim... As tuas palavras são um doce bálsamo para as dores do caminho e um bom tónico para prosseguir, apesar de alguns conflitos, incompreensões e escaramuças que, inevitavelmente - e por que não, saudavelmente - surgem neste percurso comum...
E queremos prosseguir, não exactamente por sentido de "missão" (não somos heróis nem iluminados, somos apenas 'common people'), mas pela simples razão de termos criado, quase sem o querer, uma comunidade de desvairadas gentes que têm, como menor denominador comum, uma experiência de guerra e o conhecimento, vivido, de uma terra...
A guerra colonial e a Guiné-Bissau (ou o discurso sobre) não são monopólio de ninguém, nem sequer mesmo dos guineenses... Este período da história comum de portugueses e guineenses está longe de estar encerrado. Vamos continuar a esforçarmo-nos por manter este espaço plural e aberto, e cultivar nosso espírito de partilha, de tolerância e de discrição.
Dito isto, entendo inteiramente as razões por que gostarias de, mas não podes nem deves, aceitar o meu/nosso convite para integrar a Tabanca Grande.
És uma figura pública, um autor com obra feita sobre a história e a ficção da guerra colonial, não queres com a tua presença inquinar ou enviesar as fontes subterrâneas que alimentam este blogue... É de um grande honestidade intelectual: tu não queres ser o eucalipto que seca tudo em seu redor, os poilões, os bissilões, as cabaceiras, o mangal... da nossa Tabanca Grande.
Em contrapartida, deixa-me aceitar a tua proposta de seres uma espécie de marginal-secante, alguém que está fora e está dentro, que intersecta dois sistemas... Não propriamente esse "estrangeiro adotado" de que falas, mas sim alguém que ocupa esse "lugar de entre.portas, a vaguear pela Tabanca (...), respeitando os usos e os costumes, falando quando me autorizarem, ou quando me pedirem, saudando os que assumem a responsabilidade de manter o fogo aceso, o gado alimentado, os fracos protegidos"...
Carlos, aparece sempre que te der na real gana, entra e sai: não precisas de bater à porta...
Como bem sabes, nesta Tabanca Grande não há moranças com portas nem janelas, não há bunkers nem abrigos, não há portas de armas nem cavalos de frisa, não há cercas de arame farpado, nem muito menos campos de minas e armadilhas... No dia em que nos impuserem tal, serei eu o primeiro a escolher a picada do exílio...
Em contrapartida, deixa-me aceitar a tua proposta de seres uma espécie de marginal-secante, alguém que está fora e está dentro, que intersecta dois sistemas... Não propriamente esse "estrangeiro adotado" de que falas, mas sim alguém que ocupa esse "lugar de entre.portas, a vaguear pela Tabanca (...), respeitando os usos e os costumes, falando quando me autorizarem, ou quando me pedirem, saudando os que assumem a responsabilidade de manter o fogo aceso, o gado alimentado, os fracos protegidos"...
Carlos, aparece sempre que te der na real gana, entra e sai: não precisas de bater à porta...
Como bem sabes, nesta Tabanca Grande não há moranças com portas nem janelas, não há bunkers nem abrigos, não há portas de armas nem cavalos de frisa, não há cercas de arame farpado, nem muito menos campos de minas e armadilhas... No dia em que nos impuserem tal, serei eu o primeiro a escolher a picada do exílio...
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 29 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26628: In Memoriam (541): Leopoldo Correia (1941-2024), ex-fur mil, CART 564 (Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65)... Faleceu aos 83 anos (Paulo Correia)
(***) Vd. poste de 24 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5700: Tabanca Grande (200): As razões por que eu gostaria de, mas não posso nem devo, aceitar o vosso convite (Carlos Matos Gomes)
27 comentários:
Abraço de solidariedade a todos os familiares e amigos.
DEP
Eduardo Estrela
Não conheci pessoalmente o Cor. Matos Gomes. Tenho referências acerca do mesmo , por camaradas conhecidos. Sinto que se perdeu um grande Português, Deixa marcas da sua figura. Condolências à Família e que descanse em Paz.
Falta assinar, caro leitor. LG
Camaradas, tomem boa nota: não se deve morrer ao fim de semana... Aliás, não se devia morrer...
Muito esquerdista, muito radical. A consciência política veio depois do 25 de Abril, as ilusôes revolucionárias, o grito impossível do mundo melhor. Como camarada de armas, que descanse em paz.
Nestas ocasiões as palavras são sempre excessivas.
Sinto que se perdeu um Homem interventivo e esclarecido.
Lamento esta perda, até também pelo não-esperado (pelo menos para "agora").
Os meus sentido pêsames para familiares e amigos.
Que descanse em paz.
A minha homenagem ao homem, ao escritor, ao cidadão.
Virgílio Teixeira (by email)
14 abr 2025 12:52
Caro amigo Luis,
Se puderes nos comentários, apresenta os meus pêsames aos familiares e todos os amigos de aquém e além mar, pela morte do nosso camarada, ainda mais novo que eu, Coronel Carlos Matos Gomes, de Vila Nova da Barquinha, que tanto gostei quando a andei por Santa Margarida, membro da nossa Tabanca.
E paz à sua alma.
Virgilio Teixeira
A minha homenagem ao homem sem amarras. As minhas condolências à família e amigos.
Joaquim Costa
Os meus sentidos pêsames à família do nosso Camarada, Coronel Carlos Matos Gomes.
Carlos Vinhal
Vejo, pelo facebook da filha Carla, que o nosso camarada Matos Gomes tinha dois netinhos que ele, como qualquer bom avô, adorava... Vão crescer, só com a memória do avô... A vida é "injusta"...Mais um antigo combatente que morre, de doença, sem ter direito aos "descontos de tempo" que o Deus da Guerra devia dar a quem fez 3 comissões, Moçambique, Angola, Guiné...
Pormenor biográfico: conheceu o Salgueiro Maia (dois anos mais velho) no Colégio Nuno Álvares, de Tomar....
João Crisóstomo, (neste momento na Eslovénia, mas vivendo e acompanhando através do nosso blogue, a minha/nossa família "camaradas da Guiné.”)
Não o conhecia o Cor. Matos Gomes mas, dada a relevância com que a sua morte foi assinalada , e não só no nosso blogue, mas nas "notícias de jornal" a nível nacional fiquei curioso de saber mais sobre este camarada que agora nos deixou. E não precisei de ir muito longe; bastou ler a correspondência que teve com o Luís Graça, racionalizando a sua posição , quando convidado a entrar na Tabanca. Vejo que já então era um homem de muito valor , duma grande honestidade credor de grande respeito. Um orgulho para a sua família e quem teve o privilégio de o conhecer. A todos estes os meus pêsames. E Paz à sua alma.
João Crisóstomo, Nova Iorque
Grande soldado e grande escritor . Esteve no epicentro do período mais efervescente da guerra da Guiné, em 1973, nomeadamente na operação que visou aliviar a pressão sobre Guidage. Igualmente se destacou nas operações do 25 de Abril, especialmente em Bissau, na neutralização do então Governador.
Os meus sentimentos à família e amigos.
Carvalho de Mampatá
João, boa estadia na Eslovénia da tua querida Vilma... E boas e santas Páscoas... Estou por Candoz...
Sobre o Carlos Matos Gomes podes ver aqui uma nota biográfica na Wikipedia...
Na hora das condolências ainda há quem teça comentários à postura político/social do falecido, só porque o mesmo não seria da sua área política, ou porque era um cidadão de corpo inteiro preocupado com o seu semelhante?
Abraço
Eduardo Estrela
Joseph Belo (by email)
Data / hora - 15 abril 2026 18:14
Assunto - Quando não se deve virar a página.
Caro Luís
Tive a oportunidade de ter conhecimento da morte do meu Amigo e Camarada Matos Gomes no poste da Tabanca Grande.
Nos comentários ao mesmo verifiquei que um dos camaradas da Guiné exprimiu opiniões políticas ,relacionadas com o falecido, menos apropriadas tendo em conta o momento.
Evitar conflitos,encolher os ombros,virar a página……serão alternativas!
Mas o respeito por um Camarada com uma postura de vida honesta e coerente,e não menos, com uma folha de serviço militar honrosa,obriga a uma reação ao inapropriado comentário.
“Muito esquerdista.Muito radical.”
Serão opiniões válidas….mas….num outro momento.
Senti ,e sinto, respeito pelo Amigo e Camarada Matos Gomes,como militar,como intelectual e escritor e,não menos ,como Capitão não politicamente “encurralado “ nos anos de 74/75.
Os considerandos “muito esquerdista e muito radical “ podem ,com toda a justiça, serem aplicados a mim nos referidos anos de 74/75.
Estando ainda vivo,e desde uma privilegiada perspectiva na solarenga Key West/Florida,poderei vomitar a gargalhar com os mesmos .
Os falecidos não o podem fazer.
J.Belo
Subscrevo o comentário do J.Belo
Citou o J. Belo o seu poeta de cabeceira, o Fernando Pessoa, aqui no nosso blogue, a propósito da morte do Eduardo Lourenço:
(...) “Não sou da altura que me vêem,
mas sim da altura que os meus olhos podem ver”
(Fernando Pessoa)
Melhor definição de um pensador como Eduardo Lourenço? (...)
Creio que a frase bem poderá ser dita por algum dos nossos melhores amigos ou por um dos nossos filhos, no nosso velório, à frente do nosso caixão, quando chegar a nossa hora da verdade, a da despedida da Terra da Alegria...
O Carlos Matos Gomes, nosso camarada de armas na Guiné (que muito admirava o nosso Amadu Djaló, 'comando', pela sua "secular sabedoria e generosidade de africano" ) acabou hoje de pagar ao rabujento e asqueroso barqueiro de Caronte o seu miserável serviço de transporte das almas dos mortos pelos rios de Aqueronte e Estige, a barreira instransponível que os separava do mundo dos vivos. Estava ao serviço do deus Hades, o dos infernos. E pagou metaforicamente com uma moeda de metal, que levou nos dentes (mesmo tendo sido cremado no forno do cemitério do Alto de São João)...
Com os desgostos que sofreu na sua carreira militar (e não foi caso único, o Zé Belo é outro, de muitos casos), quem sabe se essa moeda não é produto da fusão, pelo fogo, das suas cruzes de guerra...(Talvez ele acreditasse, como eu acredito, na velha mitologia grega: ao pagar ao barqueiro Caronte, estava a assegurar que não seria uma alma errante, a vaguear mais 100 anos pelas margens do rio.)
Era um homem inteligente e foi nobre na morte, segundo o testemunho da filha... Sejamos nós também nobres ao escrever o RIP no seu livro de condolências... A compaixão e a solidariedade na dor ficam-nos bem: afinal, todos estamos na fila...( Ah!, não se esqueçam da moedinha para dar ao barqueiro.)
Pedido de esclarecimento ao cor art ref Morais Silva, que é do curso do Matos Gomes na AM (1963):
Luís Graça (by email)
15 abr 2025 13:55
Meu caro António; Há dúvidas sobre a "comissão de serviço" em Angola do Matos Gomes... Poderá fornecer-me o "assento" dele na sua "base de dados" ? Já lá está c
Resposta do Morais Silva (by email)
15 abr 2025 22:07
Viva. Tanto quanto lembro, em 1969, ainda tenente, foi a Angola (CIC) como adjunto de CCmds e seguiu para Moçambique onde já tinha feito estágio em 1967 como Alferes. É do meu curso AM/63, os Kurikas.
Que Deus o guarde. Ab. MS
Morais Silva
Se a frase "ferozes na guerra, magnânimos na vitória" faz sentido (pelo menos é usada, de tempos a tempos, por alguns dos melhores cabos de guerra, enfatizando a força e a determinação do soldado em combate, mas também a capacidade de agir com compaixão, nobreza e humanidade na vitória), mais sentido ainda faz quando morre um de nós, um camarada de armas, um antigo combatente da Guiné...
Temos que saber respeitar, recordar e honrar "os nossos mortos", mesmo quando as vicissitudes da vida e da história nos levam eventualmente por caminhos divergentes...
Que eu saiba, nunca aqui ninguém chamou "fascista" ou "terrorista" ao general Spínola, que foi comandante-chefe de muitos de nós... O uso dos "ismos", como arma de arremesso nas nossas "picardias", corre sempre o risco de se transformar em juizo sumário e, por carambola, "in limine", em "execução sumária", "assassínio de carater", etc. O que é manifestamente contrário aos princípios da nossa política editorial bloguística e à "sã convivência" que aqui se procura cultivar... É saudável discordarmos uns dos outros na apreciação dos homens e das suas circunstâncias, em particular no tempo e no espaço delimitados pela guerra da Guiné (1961/74)...
Mas, por favor, sejamos magnânimos na morte dos camaradas de armas, que essa, sim, não é vitória de ninguém, seja de "direita" ou de "esquerda", mais "conservador" ou mais "radical"... Todos ficamos mais pobres quando morre um de nós...(mesmo sabendo que o Matos Gomes não era membro, registado, da Tabanca Grande, pelas razões que ele invocou, com grande frontalidade e lucidez).
... essas infos - segundo as quais «em 1969, ainda tenente, foi a Angola (CIC) como adjunto de CCmds e seguiu para Moçambique onde já tinha feito estágio em 1967 como Alferes» -, são incompletas quanto equívocas: mau grado o Sr. Cor art ref António Carlos Morais da Silva haver ingressado na Academia Militar em Nov1963 ao mesmo tempo que o então sr. cadete n/m 02831863 aluno do curso da Arma de Cavalaria, apenas consta que de facto, o alferes de cavalaria da EPC Carlos Manuel Serpa de Matos Gomes «em 13Jan1967 foi mobilizado para servir na RMM e integrado numa subunidade de cavalaria colocada na região do Lago Niassa, da qual regressou à EPC em 07Ago1968» - sem que no entanto se saiba, ao certo, qual a subunidade em que cumpriu o supracitado estágio -, cumpre-me no entanto aqui esclarecer, reafirmando peremptoriamente que Carlos Manuel Serpa de Matos Gomes nem cumpriu qualquer comissão de serviço militar na Província Ultramarina de Angola, tal como jamais no CIC-Luanda teria sido «adjunto de CCmds», porquanto em 16Abr1969, por ter sido «nomeado por imposição» para frequentar na Província Ultramarina de Angola o 15º Curso de Comandos, naquela data embarcou em Lisboa no NTT ‘Vera Cruz’ rumo ao porto de Luanda destinado ao CIC/RMA, onde em 12Ago1969 lhe foi averbada a especialidade 959-Comandos e em 27Ago1969 promovido a capitão, transferido por via marítima em 07Out1969 para o nordeste da Província Ultramarina de Moçambique como comandante de grupo de combate e adjunto-do-comando da 21ªCCmds, até ter sido colocado em Nov1969 como formador e comandante da 1ªCCmds/RMM - no então recém-instalado CIC-Montepuez chefiado pelo cap art cmd Júlio Faria Ribeiro de Oliveira - e com aquela CCmds participou na Op Nó Górdio.
Tenho dito.
Joseph Belo (by email)
16 abril 2025 10:06
Caro Luís
A “Geração D” foi o ultimo livro que encomendei desde Portugal.
Uma muito interessante leitura que nos deixa com alguns profundos pontos de interrogação.
Quando se vive meio ano no extremo do extremo sul Norte Americano e o outro meio ano no extremo do extremo norte europeu o que nos vai cheirando desde a Lusitânia nem sempre é animador.
(Mas será que na actualidade algo de animador nos chega desde qualquer lado?)
A tal “Geração D” muito terá tido de ingenuidade,utópicos projetos políticos de modo algum passíveis de serem aceitáveis por uma realidade Geopolítica envolvente…..MAS….certos ou eivados de ignorâncias básicas….ideais existiam!
Hoje,desde os arrependidos aos conversos radicais,a infelizmente demasiadas personalidades políticas das denominadas áreas governamentais,a corrupção manifesta-se quase diariamente.
E lá acabamos por ter que recordar Fernando Pessoa no seu grito de alma: quanto ao “Ser Tempo”.
Um abraço .
Acho que alguns, muitos, não entenderam o meu comentário. Todos os camaradas de armas na Guiné são meus irmãos, esquerdistas, direitistas, sobretudo nem uma coisa nem outra, cada um de nós é um mundo. E quem sou eu para julgar.
A vida, a velhice ensina-nos a respeitar as convicções de cada um. Para além das utopias, dos amanhãs que não cantam, do homem novo, sempre velho, Carlos Matos Gomes era um camarada de eleição.
Que descanse em paz.
António Graça de Abreu
Discordo da afirmação do António Graça de Abreu, não é a vida nem a velhice que nos ensina a respeitar as convicções de cada um, são os nossos princípios.
Carlos Vinhal
Estamos todos de acordo que, aqui, entre camaradas (salvo seja!) de armas, não é preciso (nem é desejável) pormos rótulos na testa uns dos outros... Os únicos, "de facto et de jure", que nunca poderão ser considerados como nossos camaradas (salvo seja!) de armas, são afinal... os faltosos, os refractários e os desertores...
É claro, há muito, para todos, que este é um blogue de antigos combatentes... E à entrada da Tabanca Grande ninguém pergunta a ninguém se portista, benfiquista, sportinguista ou do Futebol Clube A do Pinto... Boas Páscoas, camaradas!
PS - O "salva seja" é uma brincadeira do tempo do PREC... Muito antes do "Avante, camarada!", já existia a palavra "camarada", na língua portuguesa, derivada do termo espanhol "camarada" (do latim "camara": quarto ou alojamento) usado a partir do século XVI para designar "grupo de soldados que dormem e comem juntos"...
Também o termo "camarata" tem a mesma origem do latim "camara": vem do italiano "camerata"...Na idade Média, era frequente em casa e no hospital dormirem duas ou mais pessoas, hóspedes ou doentes, na mesma cama...
Portanto, "camarada" (agora sem salvo seja!) é o que literalmente partilha a mesma cama ou "buraco", enquanto "companheiro" é o que come o mesmo pão à mesma mesa (do latim "cum" + "pane") ...E colega o que segue a mesma "lei" ou andou no mesmo "colégio"... Em matéria de protocolo, a primeira coisa que aprendemos na tropa é que colegas... era só nas p*tas.
'Veja-se o que diz o Carlos Rocha, colaborador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:
Qual a diferença entre camarada, companheiro e colega? (Pergunta de Pedro Teixeira, Empresário, Portugal )
Resposta - As palavras têm, de facto, sentidos muito próximos uns dos outros. A principal diferença está na situação em que são usadas e na carga histórica que lhes anda associada.
Assim, «camarada», que significou «pessoa que vive no mesmo quarto (i.e. câmara) que outra», acabou por se aplicar a um «soldado da mesma companhia, regimento, divisão» (e há trinta anos usava-se muito em Portugal, como sinal de militância política).
«Companheiro» é praticamente sinónimo de «camarada», mas tem uma história um pouco diferente: deriva de uma tradução em baixo latim (‘cum’ + ‘panis’), corrente na antiga Gália (hoje, a França), de uma expressão germânica, "gahlaiba", composta de “ga” («com») + “hlaiba” («pão») – cf. Dicionário Houaiss.
Por outras palavras, «companheiro», que se referia àquele com quem se comia o pão, passou a significar simplesmente «o que faz companhia».
Finalmente, «colega» (com o qual se relaciona «colégio») é um termo derivado do latim ‘collega’, por via culta, e designa «indivíduo que, em relação a outro, faz parte da mesma comunidade, corporação, profissão» (ver José Pedro Machado, Grande Dicionário da Língua Portuguesa), ou seja, em termos actuais, é a pessoa que trabalha na mesma actividade ou no mesmo lugar que nós.(...)
Carlos Rocha, 19 de setembro de 2005'
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-diferenca-entre-camarada-companheiro-e-colega/15916 [consultado em 16-04-2025]
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