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Carlos Matos Gomes (1946-2025) Foto de José Morais (com a devida vénia...) |
1. Excerto do poste P26683 (*):
(...) Penso, sem qualquer lisonja, para a qual tenho espinha demasiado rígida e a boca demasiado dura, que este blogue é algo de extraordinário. Um daqueles casos que nos aquecem a esperança e nos incham a alma.
É extraordinário a vários títulos: pela ideia de reunir antigos combatentes num espaço democrático (o que quer dizer de livre expressão de cada um e de obrigatório respeito por todos e cada um dos outros), onde relatassem as suas experiências de há 30/40 anos, revivessem a sua grande aventura dos 20 anos, restabelecessem contactos, amizades e camaradagens, recordassem através da escrita e da imagem os lugares, os acontecimentos e as pessoas com quem partilharam os seus tempos da guerra, que servisse até de veículo de ajuda.
É extraordinário porque tem mantido o diálogo entre pessoas com diferentes visões da guerra e das situações num elevado nível de tolerância, mesmo quando o calor provoca reacções mais ásperas.
É extraordinário porque o colectivo do blogue conseguiu criar um "espírito de corpo" entre os tabanqueiros, que se reveem nas histórias, nos convívios que se vão multiplicando, nas acções que se desenvolvem, seja de solidariedade e ajuda ao povo da Guiné, seja a camaradas em dificuldades, seja ainda a familiares que procuram reconstituir as histórias de parentes seus na guerra.
O bloque e a Tabanca são um espaço de pureza e generosidade.
A pureza do blogue e dos seus tabanqueiros tem a ver com aquilo que é a sua matriz, a sua característica fundadora, o seu ADN: o blogue serve para relatar, contar, descrever, para transmitir emoções, para despejar pesos acumulados.
O blogue é a camaradagem, o que desaconselha grandes reflexões, análises e explicações. Deve continuar assim. É a sua força. (...) (**)
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 13 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26683: In Memoriam (542): Carlos Matos Gomes (1946-2025), membro do MFA no CTIG, cor cav 'cmd', ref, escritor e historiógrafo, e grande amigo da Tabanca Grande
2 comentários:
Ficamos a dever ao Matos Gomes esta clara, concisa e precisa definição do que é (ou deveria ser) a Tabanca Grande... Sendo ele um "marginal-secante", e não tendo querido, em vida, ser um "grão-tabanqueiro", está em melhor posição para nos dizer que afinal o melhor do nosso blogue é a partilha de memórias (e afetos)...
Quando caímos na tentação de ser analistas, historiadores, sociólogos, psicólogos, antropólogos, politólogos de "pudim instantâneo", acabamos, muitas vezes sem querer, por atear o fogo ao capim... Lembro-me de algumas polémicas e picardias...
Subscrevo com todo o gosto. VBriote
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