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quarta-feira, 16 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26693: HIstória de vida (58): Henrique Pereira Rosa (Bafatá, 1946- Porto, 2013): o fur mil OE, CCAÇ 2614 (Nhala e Aldeia Formosa / Quebo, 1969/71), católico praticante, luso-guineense, que chegou a presidente da república, interino (2003-2005), da Guiné-Bissau



Hebrique Rosa (c. 2009). Fonte: Francisco Barroqueiro

Henrique Pereira Rosa (1946 - 2013). Fonte: Wikimedia Commons



Fonte: Archive Internet 

1. Henrique Pereira Rosa: nasceu em Bafatá, em 18 de janeiro de 1946, e morreu no  Porto, a 15 de maio de 2013. Foi um comhecido (e bem sucedido) empresário no seu tempo. Mas também político, tendo exercido as funções de Presidente da República, interino,  da Guiné-Bissau de 2003 a 2005.  Tinha a dupla nacionalidade, guineense e portuguesa.

Poucos sabem,  na Guiné-Bissau, no entanto, que "no tempo da outra senhora" foi furriel miliciano de operações especiais (EA),  do exército portuguès, na CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Nhala e Aldeia Formosa / Quebo, 1969/71) (*)

Infelizmente só temos meia-dúzia de referências a esta subnunidade. a CCAÇ 2614,. "Os Resistentes de Nhala" 

2.  Com base nas informações dos nossos camaradas Francisco Barroqueiro  e Manuel Amaro (MA) (este, ex-fur mil enf, CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971),  sabemos mais o seguinte sobre o Henrique Rosa e a sua vida (**):

(i) o  Henrique Rosa, falecido no dia 15 de maio de 2013, no Hospital de S. João, no Porto, era um cidadão guineense, de origem portuguesa;

(ii) foi furriel miliciano de infantaria, com a especialidade de Operações Especiais,  da CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Nhala e Aldeia Formosa / Quebo, 1969/71);

(iii) "conheci-o em Évora, antes do embarque [do batalhão]; e aí começamos a construir uma relação de amizade, que se manteve ao longo de toda a comissão de serviço" (MA);

(iv) "era um jovem desportista, com uma cultura política e social muito acima da média, no nosso escalão etário; gerador de consensos, coisa tão necessária, naquele tempo, tal como hoje" (MA).

Uma vez terminado o serviço militar, 


Kumba Yalá (1953-2014)
o Henrique Rosa regressou à sua vida familiar e
empresarial, na Guiné. Residia em Bissau. Em 2003,  os autores do golpe de Estado, de 14 de setembro,  liderado pelo Veríssimo Correia Seabra, que derrubou Kumba Ialá, convidaram-no (e ele aceitou) a desempenhar o cargo de Presidente da República,  a título interino, e como independente, no período de transição até às eleições de 2005 (de 24 de setembro de 2003 a 1 de outrubro de 2005).

Desempenhou esta missão, com nobreza e sentido cívico, para mais sendo um católico praticante. Ajudou o país nessa  fase difícil de transição. Tinha a vantagem de ser independente, não pertencer ao PAIGC nem a nenhum outro partido.

 Sucedeu-lhe o 'Nino' Vieira (2005-2009) (independente). Contra a sua vontade, e por insistência de amigos,  candidatou-se, ainda por duas vezes (2009 e 2012), ao cargo de presidente da república, mas não foi eleito.

Um problema grave de saúde (cancro no pulmão), que tratava em Portugal, no Hospital de São João, levou-lhe a vida, no dia 15 de maio de 2013. O corpo foi trasladado para a Guiné-Bissau.


3. Da Internet Archive, recuperámos mais a seguinte informação sobre o Henrique Rosa 




(cinco capturas de página entre 25 dez 2009 e 5 jan 2025)


O Comité militar que liderou o golpe de Estado de 14 de setembro de 2003, criou um comité "ad-hoc" entre personalidades civis e militares que indicasse um nome para ocupar o cargo de Presidente da República de Transição até à realização de eleições Presidenciais, sugeridas, em princípio, para Março de 2005.

Coube ao Bispo de Bissau, D. José Câmnate Na Bissign, liderar este comité que, escolheu e propôs o nome de Henrique Pereira Rosa para o cargo solicitado.

A escolha de Henrique Pereira Rosa foi consensual no seio do Comité Militar bem como na sociedade civil guineense, tendo tomado posse como Presidente da República de Transição a 28 de setembro de 2003.

Biografia apresentada no acto do anúncio público da candidatura:

Henrique Pereira Rosa nasceu a 18 de janeiro de 1946, em Bafatá, leste da Guiné-Bissau, é casado com a senhora eng.ª agrónoma Maria Rosa Robalo e pai de 5 (cinco) filhos. Concluiu o 3º ciclo do ensino liceal (antigo 7º ano dos liceus) em Bissau, com elevadas classificações.

Domina a Língua Portuguesa, exprime-se fluentemente em Francês e razoavelmente em Inglês.

Começou a trabalhar muito cedo e foi na vida activa que foi consolidando a sua formação profissional. Foi funcionário público - serviços de fazenda, de 1965 a 1971.

É empresário do sector de seguros marítimos (agente das seguradoras: Lloyd’s of London,  da Grã-Bretanha, e Cesam,  da França), comércio internacional e agropecuária.

Para além de frequentar diversas formações e estágios em matéria de gestão e de comércio internacional, tem uma larga e diversificada experiência política, empresarial, desportiva e social.

  • Foi Presidente da República de Transição de 28 de setembro de 2003 a 1 de outubro de 2005;
  • É Presidente do Conselho da Aliança para a Refundação da Governação em África – 2006;
  • É Presidente da Assembleia-Geral da Associação Empresarial da Zona Industrial de Brá - AEZIBRA;
  • É Presidente da Assembleia-Geral da Companhia Guineense de Seguros (Guinebis), desde 2000;
  • É Presidente da Assembleia-Geral do Sport Bissau e Benfica;
  • É Membro Fundador do Fórum dos Antigos Chefes de Estado e Governos Africanos (Fórum África);
  • É Membro Fundador da Rotary Club de Bissau, sendo Paul Harris Fellow e Past President;
  • É Membro Honorário da Liga dos Direitos Humanos da Guiné-Bissau;
  • É Membro do Conselho de Administração da Caritas Guiné-Bissau;
  • Foi Presidente do Conselho de Administração da FUNDEI (Fundação Sueca e Guineense para o Desenvolvimento Industrial) de 1995 a 2003;
  • É Cônsul Honorário da República da Costa do Marfim;
  • Foi Presidente da Direcção do Sport Bissau e Benfica de 1986 a 1997;
  • Foi Vice-Presidente da Associação Industrial da Guiné-Bissau (AIGB);
  • Foi Cônsul Honorário da Bélgica de 1980 a 1992;
  • Foi Director Executivo da Comissão Nacional de Eleições, nas primeiras eleições presidenciais e legislativas realizadas no país em 1994;
  • Foi Coordenador, a partir de outubro de 1998, do CAPAZ (Comité Ad-hoc da Sociedade Civil para a Paz), o primeiro Movimento da Sociedade Civil guineense encarregado de restabelecer a paz na Guiné-Bissau em consequência da crise político-militar que atingiu o país de 1997 a 1998;
  • Foi um dos Governadores da Fundação Rural da África Ocidental (FRAO), com sede em Dacar, Senegal;
  • Foi Membro do Conselho Inter-Diocesano de Projectos;
  • Foi Membro do Conselho dos Assuntos Económicos da Diocese de Bissau;
  • Foi distinguido pela República da Costa do Marfim com as Insígnias de Comendador da Ordem Nacional da Costa do Marfim;
  • Foi distinguido pela República da França com as Insígnias da Legião de Honra

Fonte: Henrique Rosa para Presidente (eleições de 28 de junho de 2009)

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

 _____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11578: In Memoriam (150): Henrique Rosa (1946-2013), ex-fur mil inf, Op Esp., CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Nhala e Quebo, 1969/71), e ex-presidente da República da Guiné-Bissau, interino (2003/05) (Francisco Barroqueiro / Manuel Amaro)

(**) Último poste da série > 15 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26691: História de vida (57): o fur mil vagomestre António Fonseca que acabou por ter uma morte trágica no Algarve, em Albufeira, com a toda a família em 2009 (Luís Dias, ex-alf mil op esp, CCAÇ 3491, Dulombi e Galomaro, 1971/74)

8 comentários:

Anónimo disse...

De acordo com biografia do camarada entre 1961 a 1969 foi funcionário público e não furriel de OE no exército colonial.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Falta assinar, caro leitor. LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Dúvida: o Henrique Rosa foi fur mil, mas não era de operações especiais / ranger, é isso ? Peço ao Barroqueiro e ao Amaro para esclarecerem este ponto.

Anónimo disse...

Tinha escrito o meu nome, José Macedo, DFE 21

Antº Rosinha disse...

(iv) "era um jovem desportista, com uma cultura política e social muito acima da média, no nosso escalão etário; gerador de consensos, coisa tão necessária, naquele tempo, tal como hoje" (MA).

Esta observação de Amaro podia aplicar-se em regra a qualquer estudante, desportista, ou militar, daquela geração de jovens ultramarinos.´

Em regra todos estudavam furiosamente, é o único termo, furiosamente, que consigo adaptar à vontade que demonstravam em estudar, praticar desporto, enfim, cultivar-se.

No fundo "estudar muito porque um dia o país ia precisar de mim".

Colono vai para a tua terra que eu sou mais capaz que tu.

E, neste caso, Henrique Rosa chegou a Presidente da Guiné.

Contava um engenheiro de Benguela, (não vale dizer nomes) que veio para Lisboa, e as aptidões dele eram tais, que o Benfica asilou-o nas suas instalações, cama e mesa e roupa lavada, como se dizia, estava matriculado na Universidade, podia jogar e estudar e era numa e noutra coisa considerado o melhor.

E dizia esse engenheiro que acontecia o mesmo com a maioria que vinha do ultramar, só que alguns cavaram para o MPLA.

Ou seja, podia escolher quando e como...!

Hoje os tempos são outros, e as aptidões do jovem africano continuam as mesmas do tempo colonial, e estão muitos estudantes por cá.







Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, no ano letivo de 2024/25, o nº de estudantes provenientes da Guiné-Bissau que foram admitidos no ensino superior em Portugal, aproximou-se dos 5 mil (4966)... Estamos perante um aumento significativo em relação ao ano anterior (que foi de 3356)... O drama é saber se voltam à sua terra... Estamos a fazer hoje o que não fizemos (e devíamos ter feito) nos anos 60/70.

Antº Rosinha disse...

(e devíamos ter feito)
Não sou da tua opinião Luís Graça, antes pelo contrário, pois tudo o que se fez e faz com os africanos foi e é erradissimo.

África ficou de "pernas para o ar", assim como a própria Europa, por causa das asneiras e do abuso e a leviandade da própria Europa.

No caso da Guiné, se todos os estudantes doutores medicos e engenheiros e outros técnicos formados em Portugal, na Rússia e Ucrania, na Bulgária, Brasil EUA e Cuba e Juguslávia nestes 50 anos, residissem na Guiné, fariam o quê? jogar uri?

Luis, os milhares de africanos, não só guineenses, que estudam na Europa, é uma maneira de fugirem dum mundo vazio.

É um alívio para os governantes verem-se aliviados de tanta juventude inerte e sem hipótese de ocupação.

África tem de ser feita à africana e o mundo não lhe permite.

Se a Guiné e as ex-colónias portuguesas estão com imensos problemas, não é por falta de doutores, e "futebolistas".

Anónimo disse...

Caro amigo Luis Graca, certamente que a grande maioria destes jovens preferirao ficar por la, ninguem consegue parar a maquina do tempo, se esta via nao estivesse aberta, apesar dos obstaculos, o numero das vitimas no Mediterraneo (cemiterio dos 'condenados da terra' de FFanon) seria ainda maior, ainda devemos ter em conta que Portugal e toda a zona periferica da europa, com a sua populacao envelhecida e a emigracao dos mais novos, precisam de regenerar-se e garantir o crescimento, a sustentabilidade economica e social desses paises. Os paises africanos, nao tendo conseguido construir, por diversas razoes, bases para sustentar suas dinamicas internas no periodo necessario, nao podem, por isso mesmo, competir com o resto do mundo.