Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 17 de fevereiro de 2007
Guiné 63/74 - P1533: De regresso a Bissorã: Uma viagem fantástica (Carlos Fortunato)
Guiné-Bissau > Bissau > 18 de Novembro de 2006 > Restaurante Bate Papo > Pepito, fundador e director executivo da AD, à esquerda, e Carlos Fortunato, à direita de óculos escuros. O restaurante Bate Papo, da Maria José, fica no centro de Bissau, junto aos Serviços Metereológicos.
Guiné- Bissau > Bissau > 18 de Novembro de 2006 > Na Escola de Artes e Ofícios de Quelélé, da AD > Jorge Handem (Jorgito), Director da Escola, Carlos Fortunato e Carlos Schwarz (Pepito).
Guiné-Bissau > Bissau > Escola de Artes e Ofícios > 24 de Novembro de 2006 > Agradecimento e oferta de um lenço da AD ao Carlos Fortunato que aqui realizou uma acção de formação sobre desenho de sítios na Net.
Fotos: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.
1. O Carlos Fortunato, membro a nossa tertúlia desde Julho de 2005, e que trabalhou até há pouco numa multinacional de consultadoria na áera dos sistemas de informação, tem agora mais disponibilidade de tempo para se dedicar à Guiné, aos seus amigos guineenses e à sua página na Net, que foi recentemente reestruturada. O sítio, criado em Fevereiro de 2003, passa agora a chamar-se Guiné - Os Leões Negros. É apresentado nestes termos:
"Site sobre a Guiné - Bissau, relatando a guerra 1963 a 1974, nomeadamente alguns dos episódios da experiência vivida pela a Companhia de Caçadores 13, mais conhecida como CCAÇ 13, mas também designada por Leões Negros, ou ainda pela Companhia dos Balantas de Bissorã, que combateu aqui durante o período de 1969 a 1974.
"A companhia era constituída na totalidade por soldados operacionais guineenses, que eram todos da etnia balanta, e por alguns oficiais, sargentos, cabos e especialistas, vindos da metrópole.
"São igualmente incluídos ou referenciados, outros temas, através de textos, fotografias e filmes, para melhor compreensão do conflito, e deste país".
Ainda não tive tempo para saudar, aqui, o Carlos e fazer uma pequena nota de reportagem à sua viagem à Guiné-Bissau, em Novembro passado. Estive com ele uns dias antes de partir: estava entusiasmado com a perspectiva de voltar a Bissorã e ajudar os seus antigos soldados, balantas, da CCAÇ 13, os seus leões negros. Também tinha combinado, com o Pepito, fazer uma acção de formação sobre desenho de páginas na Net. O tempo passou e eu fiquei sem saber como tinham corrido as coisas por lá. Mandei-lhe então um mail, pedindo-lhe para nos fazer um pequeno relato das suas impressões.
Publico hoje, com atraso, a sua resposta.
2. Mensagem do Carlos Fortunato, de 22 de Janeiro último:
Amigo Luís: Está tudo bem comigo, apenas um pouco mais ocupado, espero que contigo tudo esteja bem também.
Já tinha pensado em enviar-te uma mensagem, falando da minha viagem à Guiné. Foi uma viagem fantástica. jáescrevi um texto sobre a mesma, está no site da CCAÇ
13 > Guiné - Os Leões Negros.
Na página Encontros, abri o tema Viagens, onde inseri um texto com fotos sobre a viagem e um pequeno vídeo.
O blogue [, Luís Graça & Camaradas da Guiné,] esteve sempre presente, nos meus contactos, fazendo sempre referência a ele, quer na entrevistaúque dei para a rádio, quer na que dei para a TV.
Fiquei com muitas duvidas em como abordar o tema no blogue, e fiquei a pensar no assunto:
- Reproduzir a página na totalidade no blogue ?
- Extrair apenas algumas partes, que sejam mais do interesse geral?
- Fazer um resumo para o blogue ?
- Produzir um texto novo?
Dá uma vista de olhos no site, e dá-me a tua opinião. Um grande abraço
Carlos Fortunato
3. Acabei por aceitar a sugestão do Carlos e fazer um resumo alargado da sua crónica. Aproveito para saudar o Pepito que está por cá, em Lisboa, nestes dias, até à próxima sexta-feira. O Carlos conheceu-o em Bissau e tive oportunidade de constatar, directamente, o excelente trabalho que a sua ONG , a AD - Acção para o Desenvolvimento, está a fazer no terreno, em prol da Guiné e do seu povo.
A minha viagem fantástica, de regresso à Guiné-Bissau (de 17 a 24 de Novembro de 2006).
por Carlos Fortunato (Subtítulos da responsalidade do editor do blogue)
(...) A chegada a Bissau no dia 17/11/2006 (6ª feira) não podia ter começado de melhor maneira, Carmona Rodrigues presidente da CML e um bispo de uma religião que não consegui identificar, iam no meu avião, pelo que dois grupos de dança, e música estavam à sua espera no aeroporto.
A minha espera no aeroporto tinha o meu contacto em Bissau, Carlos Lico, que me ajudou com as bagagens, me entregou o jipe que tinha alugado (...).
Hotel: mais de 100 euros; 1 refeição: mais de 20 euros
Fiquei instalado no excelente Palace Hotel, o preço dos quartos standard é de 70.000 CFA, e de um quarto para executivo 90.000 CFA, são semelhantes, mas o quarto de executivo tem mais espaço. Uma refeição aqui ronda os 15.000 CFA, e a cozinha é igualmente excelente (...). (2)
Guiné-Bissau > Bissau > O Hotel Palace.
Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.
Visita à AD - Acção para o Desenvolvimento, fundada e dirigida pelo Pepito
No dia seguinte (sábado, dia 18), conforme planeado fui de manhã ter com o Pepito [, director executiva da AD, ] visitámos as instalações da AD no Quelélé, nomeadamente a Escola de Artes e Oficios, e a rádio Quelélé. As ONG [, Organizações Não-Governamentais,] como a AD têm hoje um papel importante no desenvolvimento do país.
Actualmente a Escola de Artes e Ofícios possui cursos na área de informática, electrónica e auxiliares de infância, mas a sua biblioteca e o seu centro de multimédia, são também espaços importantes para a população do Quelélé (...).
Alguma insegurança em Bissau, mas o mesmo calor humano e simpatia do povo guineense
Em Bissau nota-se muito mais gente, muito mais trânsito e mais comércio, destacam-se algumas melhorias como por exemplo a existência de vários bancos, o novo edifício da Assembleia Nacional Popular, o novo Palace Hotel, as casas com telhados de zinco, e até algumas vivendas de fina construção. Outras coisas pioraram como o estado das estradas em Bissau, em que nalgumas ruas os buracos são tantos, que não se consegue fugir deles. Existe igualmente mais insegurança devido aos assaltos. Outras ainda estão na mesma, como aquele calor humano e simpatia do guineense que nos cativa de imediato (...).
A caminho de Bissorã, passando por Bula e Binar
À tarde [, sábado, dia 18, ] segui para Bissorã, confiando no meu sentido de orientação (pois não existem placas indicativas), e de vez em quando parava e confirmava junto das alguém, que estava mesmo a ir pela estrada certa.
Á saída de Bissau, existe um inexplicável controlo. A estrada alcatroada de Bissau para Bissorã, estava óptima, e com a nova ponte sobre o rio Mansoa em Jolandim, foi sempre a andar.
A passagem por Bula foi um pouco confusa, pois a estrada estava ocupada pelo comércio, o que obrigou a fazer um pequeno desvio. Não parei em Bula, mas deu para perceber que algumas instalações do antigo quartel ainda estão de pé, mas agora ocupadas como residências.
Parei em Binar, fiz uma breve visita ao antigo quartel, e dei uma bola aos miúdos que por ali andavam, sem saber o que fazer, foi a alegria geral, e minutos depois já decorria um jogo de futebol.
A alegria da chegada a Bissorã
(...) Levei cerca de duas horas a chegar a Bissorã, ali tinha alguns antigos soldados da CCAÇ 13 à minha espera, o Domingos Manfande (soldado do 4º pelotão, e meu aluno), Manuel Cuna (soldado do 1º pelotão, e meu aluno), e o Braima Camará (2º pelotão), pois previamente tinha escrito uma carta ao Domingos Manfande a avisar da minha chegada, e a pedir-lhe para me arranjar alojamento em Bissorã.
Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã > O Domingos Infante, antigo soldado da CCAÇ 13.
Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.
O Manuel Cuna, sempre brincalhão, perguntou-se 'Quem sou eu?', mas reconheci-o logo, e dei-lhe um abraço sentido a ele, e aos outros.
Importa aqui dizer que todos nós tínhamos um especial carinho pelo Manuel Cuna, porque quando em Bolama estávamos a registar os recrutas que com que íamos formar a CCAÇ, 13, não quisemos registar o Manuel, pois calculávamos que este devia ter apenas 14 anos, mas perante a sua insistência de que tinha 20 anos (o que nos fez rir), e cativados pelo sua maneira de ser e bom humor, acabámos por aceitá-lo.
A notícia da minha chegada deve ter corrido Bissorã, pois foram muitos os que me foram visitar, para 'dar mantenha' (cumprimentar)(...).
Uma troca de impressões deu para perceber que os tempos da minha guerra já estavam esquecidos, e que não existia qualquer animosidade entre os combatentes guineenses que estiveram de lados opostos no período de 63 a 74, normalmente denominada pelos guineenses, como a guerra da independência.
Ecos de outra guerra, a de 1998, contra os senegaleses
Muitas vezes a conversa começava na guerra de independência [, a de 1963/74,], mas acaba na guerra de 98 contra as forças senegalesas.Penso que essa guerra teve o condão de unir todos os antigos combatentes, pois colocou-os a lutar lado a lado.
O meu amigo Domingos Manfande teve um papel destacado nos combates contra os senegaleses, tendo a seu cargo a defesa do flanco esquerdo, zona onde os senegaleses eram mais fortes. Segundo a suas palavras estes não sabiam combater, 'não marcavam distância, não sabiam se pôr-se em posição de disparar, matámos também 2 franceses que estavam lá a combater'.
O facto de Domingos durante o tempo em que esteve na CCAÇ 13, acompanhar os especialistas de armas pesadas, como eu, o Petronilho, etc., tornou-o especialista de armas pesadas nessa guerra, dando instrução sobre as mesmas e combatendo ao mesmo tempo.
As pequenas ofertas que fazem a diferença, como o giz para escrever no quadro preto
Distribui algumas das coisas que levava, roupas, ferramentas de poda, etc., mas o que mais suscitou interesse foi uma lanterna que funcionava sem pilhas, pois bastava agitá-la para a recarregar. Às vezes uma pequena oferta pode ter uma importância muito grande, como o caso do giz que levei para distribuir pelas escolas, pois como calculava existiam quadros para escrever, mas faltava o material.
A hospitalidade balanta e os problemas de segurança
As instalações onde fiquei em Bissorã (casa do Administrador da Região) eram muito precárias, um colchão de espuma no chão a servir de cama, e uma casa de banho comum, onde uma lata num balde com água, servia para tomar banho. Tinha contudo algumas grandes vantagens, podia guardar o jipe dentro do pátio interior, e um guarda fazia segurança todas as noites.
Os ladrões armados são um problema na Guiné, a emigração ilegal tem agravado o problema, e com tantas guerras, o acesso às armas não é difícil. Bastou uma noite o guarda não aparecer, o Administrador ter saído, e eu e o Domingos Manfande também termos saído, para os ladrões saltarem o muro, e tentarem roubar os pneus do jipe. Valeu-nos a chegada do filho do Administrador: apesar de ser um miúdo, a sua presença colocou em fuga os ladrões. As faltas do guarda acabaram por me obrigar a mim e ao Domingos, a alguns turnos de 'sentinela' durante a noite.
A Bissorã de hoje e de ontem
No dia seguinte (domingo, dia 19) de manhã dei um passeio por Bissorã. São poucas as mudanças. Improvisadas bancas de comerciantes proliferam agora no lugar do mercado e no largo principal, a igreja católica é nova (a antiga ruiu) (...)
Muitas das instalações dos antigos aquartelamentos ainda estão de pé, e os símbolos das companhias que ali estiveram, ainda lá estão, embora um pouco danificados pelo tempo e pelo PAIGC.
Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã > 19 de Novembro de 2206 > "Ponte sobre o Rio Armada, agora em betão armado. Continua a pescar-se no rio, e neste local é frequente verem-se agora hipopótamos" (CF).
Fotos: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.
O aquartelamento da CCAÇ 13 estava agora a ser usado como escola e armazém. Os monumentos da CCAÇ 13 foram destruídos pelo PAIGC, após a independência, deles apenas resta parte de um monumentos em honra aos que tombaram (...).
Os monumentos das restantes unidades que passaram por Bissorã, não foram danificados pelo PAIGC, mas o tempo acabou por fazer desaparecer as suas inscrições, as suas casernas são agora armazéns.
A ponte para a outra banda que atravessa o rio Armada, foi melhorada, agora está construída em betão e tem uma protecção lateral em ferro. Continua a ser um local muito bonito, era o local onde todos tirávamos uma fotografia. Continua-se a pescar ali. Dizem-me que agora é frequente aparecerem hipopótamos naquele local.
A ponte do Rio Blassar
À tarde segui pela estrada de Barro, para um terreno que o Domingos Manfande possuí, para lá do rio Blassar, e que fica a 12 kms de Bissorã. O velho Domingos fazia a pé este caminho para poder ir trabalhar. Acabei por lhe oferecer uma bicicleta no dia da minha partida. A estrada, apesar de ser de terra batida, estava em bom estado.
A chegada à ponte do rio Blassar, destruída pelo PAIGC durante a guerra, e que ainda não foi reconstruída, lembrou-me outros tempos, os sustos que apanhei com as minas que ali coloquei, as loucuras do padre a agitar um pau no ar, colocando a patrulha em risco, mas são outras histórias que já contei nas crónicas da CCAÇ 13.
Guiné-Bissau > Região do Oio > Bissorã > Paulo Nugame (ex-soldado do exército regular do PAIGC, as FARP - Forças Armadas Revolucionárias Populares).
Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.
A caminho do Morés, acompanhado de ex-combatentes dos dois lados
Segunda feira [, dia 20,]seguimos até ao Morés. Eu, Dominfos Manfande, Agostinho Manfande (seu sobrinho, e filho de Armando Manfande, um ex-soldado do meu pelotão, e também meu aluno, mas infelizmente já falecido), Clodé Duque (ex- soldado das FAL - Forças Armadas Locais, normalmente designadas por milícias do PAIGC)e Paulo Nugame (ex-soldado do exército regular do PAIGC, as FARP - Forças Armadas Revolucionárias Populares).
Clodé ingressou nas FAL em 20/12/1967, pertencia à tabanca de Iracunda, e estava integrado num Bigrupo de 60 homens, comandados por Bicafrat Nabrama.
Iracunda ficava perto de Morés. Clodé realizou nesta zona muitos combates contra as nossas tropas, e lembra-se claramente do combate que houve em 1971, nos cajueiros do Morés (Operação Safira solitária), embora não tivesse participado nesse combate. Clodé seria o nosso 'guia' principal.
Paulo Nugame pertenceu FARP, mas actuava na zona norte, pertencia à tabanca Ingoré, integrado no grupo de Quecu Tumané, que acompanhava os cubanos que usavam os foguetões de 122mm.
Tendo-me Clodé e Paulo assegurado que a estrada para o Morés era boa, apesar de ser de terra batida, e que os compradores de castanha de cajú a usavam com camionetas, fiquei descansado.
No Caminho de Bissorã para Mansoa, passamos por Nova Vizela, onde acabamos por encontrar uma criança que precisava de ir ao médico em Mansoa, pelo que lá esticámos o espaço no jipe para levar a criança e o pai até Mansoa.
Morés, sem quaisquer vestígios da guerra
A estrada Bissorã, Mansoa, Mansabá, estava alcatroada mas em mau estado, contudo a suposta boa estrada de terra batida para o Morés estava em péssimo estado.
No Morés já não existiam vestígios nenhuns, do que tinha sido o Quartel General do PAIGC na zona norte, abrigos, ou construções, fomos até aos cajueiros, onde em 1971 houve um violento combate entre o PAIGC e os Comandos Africanos, e registamos a descrição de um antigo comandante do PAIGC sobre o que se passou na altura (...).
No Morés indicaram-nos que podíamos seguir por outra estrada para regressar, era uma estrada de terra batida que ia dar directamente a Bissorã, e era boa garantiram-nos, assim fizemos (...).
A estrada que nos indicaram no Morés era péssima como a anterior, mas a partir de determinado momento começou a estreitar e desapareceu .... Com o jipe entalado entre capim, espinhos e árvores, tive que regressar em marcha atrás, até um desvio que dava para uma aldeia.
'Estrada já acabou'
Na aldeia quando perguntávamos pelas estradas que deviam existir ali, a resposta foi 'Estrada já acabou'. Na verdade, o mato e as culturas da população tinham ocupado esse espaço, e já não existiam essas estradas... Os meus 'guias' estavam tão perdidos como eu, e nem um antigo mapa que eu tinha, descrevendo detalhadamente as estradas e caminhos, servia para nada.
Guiné-Bissau > Região do Oio > Morés > 20 de Novembro de 2006 > Estrada para o Morés, a partir da estrada Mansoa-Mansabá.
Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.
Foi-nos indicado uma nova estrada que seguia para o Olossato, estava boa, garantiam. Era um grande desvio mas foi por ela que fomos, realmente não estava muito má, até depararmos com pontes improvisadas, com troncos cobertos de lama, construídas pela população para poderem atravessar os canais que ligavam as várias bolanhas. Eram boas pontes para passarem pessoas e animais, mas será que conseguiam aguentar com o peso do jipe ? ... Lá as fui avaliando e passando com o máximo cuidado, concluindo que, para ali, só de burro, bicicleta ou motorizada.
Acção de formação: A poda das árvores de fruto
O Olossato ainda mantinha algumas instalações dos antigos quartéis, mas não parámos e seguimos para Maqué, onde tirámos uma foto junto ao seu belíssimo poilão.
Guiné-Bissau > Região do Óio > Maqué > 20 de Novembro de 2006 > O secular poilão, local de paragem obrigatória para tirar uma foto.
Fotos: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.
A estrada do Olossato para Bissorã, apesar de ser de terra batida, está em bom estava, pelo que pensamos que todos os problemas tinham acabado, mas foi depois do Maqué, que ficamos atolados na lama, e só com muita insistência, e com onze pessoas a empurrar lá conseguimos tirar o jipe.
Na terça feira [, dia 21,], foi o dia da palestra e aula prática na ADPP, sobre 'A poda das árvores de fruto'. Sala cheia com 20 participantes, que às 9h00 já estavam todos à minha espera, apesar do início estar marcado para as 9h30, o que demonstra bem o seu empenho, e a sua vontade de aprender.
A ADPP desenvolve a sua acção na área da agricultara, possui uma escola perto de Bissorã, onde forma os novos agricultores, e alia a teoria à prática, explorando algumas áreas agrícolas, é visível a sua dedicação e empenho, mas são muitas as suas dificuldades e carências (...).
Neste evento conheci uma jovem voluntária da Estónia, Maie Petri, de Parnu, que estava destacada no projecto da ADPP.
Maie tinha dificuldade em comunicar com os agricultores, pois apesar do seu esforço de auto-formação para aprender o português, ainda só comunicava em inglês. Como eu ia visitar algumas explorações agrícolas, para tentar melhorá-las, convidei-a a vir comigo, pois poderia ajudar-me, e eu traduziria as suas recomendações na língua local (...).
Em Bissorã encontravam-se igualmente dois médicos cubanos, que também tinham chegado há pouco tempo, mas também não consegui ter tempo de falar com eles. O preço de cada consulta era 300 CFA, cerca de 0,5 € (...).
O meu amigo e ex-soldado do 3º pelotão da CCAÇ 13, Branquinho, veio fazer-me uma visita, pois tinha vindo trazer à policia de Bissorã dois ladrões de gado que tinha capturado. Aproveitei a oportunidade para ir conhecer a sua tabanca no Encherte, visitar o antigo aquartelamento ai construído pela CCAÇ 13, e ao mesmo tempo dar-lhe uma boleia, pois sem outro meio de transporte ia regressar a pé (...).
Em Encherte oferecemos uma bola para as crianças brincarem, e improvisamos uma pequena festa, onde um grupo de dançarinos nos presenteou com uma espectacular exibição (Clicar aqui para ver o vídeo).
Branquinho é agora o chefe de 17 tabancas, continua a ter aquele carácter, e aquela energia e determinação que eu conheci ha 36 anos atrás, não é por acaso que começou por ser chefe de uma tabanca, e depois muitas outras lhe vieram pedir que fosse também o chefe delas (...).
Braia, um lugar mágico
Na quarta feira, [dia 22,], fomos buscar o pai de Alance, mulher de Domingos, que estava doente, e de caminho aproveitámos para ir ver o modo como tratavam as explorações agrícolas, e a deslumbrante paisagem de Bráia, junto à ponte junto ao rio Mansoa (lugar situado na estrada entre Bissorã e Mansoa, sensivelmente a meio caminho).
Bráia é um lugar mágico, em que o branco dos nenúfares cobre as calmas águas do rio, e numerosas garças esvoaçam sobre as águas, mas também é um lugar perigoso para quem estiver dentro de água, pois os crocodilos que ali vivem são muitos e grandes, bem como os hipopótamos, os lagartos, etc.
Despedida e regresso a Lisboa, com mais uma acção de formação
5ª feira, [dia 23,] foi o dia da visita à tabanca do Manuel Cuna, junto à velha estrada de Bissorã para Biambi (agora desactivada, face à nova estrada alcatroada), a cerca de 5 Kms de distância de Bissorã, foi também o dia das despedidas e do regresso a Bissau.
Finalmente chegou o dia da partida para Lisboa, 6ª feira, 24 de Novembro. A manhã foi dedicada à palestra 'A criação de Web Sites', na Escola de Artes e Ofícios da AD. Foi uma secção muito concorrida (28 pessoas), onde se procurou lançar as bases um novo curso sobre a criação de sites na web.
Ofereci algum software e documentação à EAO, para lhe permitir lançar um curso sobre a criação de web sites, mas ficou em falta o software da Microsoft, o Front Page 2003, dado estarmos na expectativa de que esta fizesse uma doação à escola, mas tal não se concretizou, estando em curso outras alternativas.
Entrevista à televisão da Guiné-Bissau
A televisão da Guiné Bissau esteve presente para me fazer uma breve entrevista, a qual foi transmitida no dia 25 de Novembro, às 21 horas, no Telejornal. Na entrevista tentei realçar a importância da formação de técnicos guineenses, e lembrar a amizade que une os muitos portugueses aquela terra, e aquela gente.
No final da minha palestra o meu amigo Pepito, disse algumas palavras de agradecimento, foi-me oferecido um lenço da AD e houve uma breve confraternização. Foram momentos que me emocionaram, principalmente pelas palavras de Pepito, pessoa pela qual tenho grande estima e consideração, sendo este meu sentimento partilhado por todas as pessoas a quem falei dele, das quais me limito a referir o anterior 1º ministro, e actual presidente do PAIGC, Carlos Gomes Júnior.
Balanço final: Expectativas ultrapassadas
Em balanço final, posso dizer que foi uma viagem que ultrapassou todas as minhas expectativas, e que na qual não consegui retribuir devidamente todo o calor humano, e amizade com que me receberam em todo o lado.
Esta viagem confirmou as informações que já tinha sobre a importância das ONG, embora como referi apenas visitei a AD, e a ADPP, e confesso que fiquei impressionado com a dedicação dos seus dirigentes, e o empenho dos seus alunos.
Sem dúvida entidades a apoiar e a acarinhar, por quem queira ajudar a Guiné a conseguir dar mais alguns passos no caminho do seu desenvolvimento, para toda a equipa destas organizações os meus parabéns.
Carlos Fortunato
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 5 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1250: Os amigos são mesmo para as ocasiões, Leopoldo Amado!
(2) A cotação oficial do CFA > 1 euro = 655,957. Donde:
(i) 70 mil CFA é equivalente a 106,7 €
(ii) 15 mil CFA são 22,87 €.
Guiné 63/74 - P1532: O furriel Belmiro dos Santos João, a primeira vítima mortal do inferno de Gandembel (Idálio Reis)
Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > O grande ataque de 15 de Julho de 1968. O Idálio Reis envolto em 236 envólucros de RPG-7.
Foto: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.
Mensagem do Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1):
Caros Luís e companheiros da Tertúlia:
O furriel Belmiro dos Santos João (2) pertenceu à CART 1689, a tal Companhia que esteve em Gandembel, desde o seu início (8 de Abril) até 15 de Maio [de 1968]. Desconheço donde esta Companhia era oriunda e para onde foi após a sua retirada.
O nosso companheiro Vítor Condeço enviou-me a história desta Companhia, no tempo em que esteve sediada em Gandembel. E o relato referente ao dia 17 de Abril, afirma o seguinte:
«Quando pelas 07H50 dois Gr Comb, depois de executarem uma batida, se deslocavam para o sítio previsto da emboscada e quando se estavam a instalar, ouviu-se um rebentamento a uns 50 metros da instalação; constatou-se que uma mina implantada pelas NT tinha rebentado, encontrando-se a uns dois metros do rebentamento, o Furriel Mil BELMIRO DOS SANTOS JOÃO (que conhecia o local exacto da mina) deitado no chão com ferimentos graves na cabeça, vindo a falecer no H. M. 241 no dia 18 Abril. O Senhor Capitão de Artilharia MANUEL DE AZEVEDO MOREIRA MAIA, Comandante da Companhia, que seguia um pouco atrás, também foi ferido na coxa esquerda.
"Tudo leva a crer que a mina não foi accionada directamente pelo Furriel Miliciano BELMIRO DOS SANTOS JOÃO, uma vez que conhecia o local exacto da mina e porque o corpo se encontrava caído a cerca de 2 metros da armadilha accionada.»
Recorro ao meu baú, para tecer alguns considerandos. Esta Companhia, nestes primeiros tempos, teve uma acção continuada de patrulhamentos, ocupou-se na abertura de uma picada que proporcionasse a ida à água ao rio Balana, e fez a montagem de muitas armadilhas e minas anti-pessoais na zona periférica ao local de inserção do futuro aquartelamento, muito em especial na faixa junto à estrada de Guileje - Aldeia Formosa.
Reconheço que a forma como está redigido o texto desse dia, propende para uma leitura pouco elucidativa, quanto à forma como se desenrolou o acidente, que vitimaria o Belmiro João. Apontarei a minha versão, muito subjectiva obviamente, mas que de algum modo elucida o que desde logo começou a ser o pesadelo de Gandembel. O Belmiro João foi o 1.º militar a morrer nos interiores de Gandembel.
1. - Tornava-se indispensável criar campos de minas bastante densos. Estes eram constituídos por armadilhas de tropeção com granadas defensivas (montadas por um graduado) e por minas anti-pessoais, as quais eram de fácil colocação e estas até podiam ser colocadas por soldados que denotassem suficiente capacidade. Estes campos eram objecto da elaboração de um croquis, mas a maioria das vezes eram de difícil interpretação. Ficávamos só com o conhecimento dos sítios dos campos de minas.
2. - Dois grupos de combate iam montar uma emboscada. Seguem em fila, no que chamávamos de bicha de pirilau, mas que era impossível ser unilinear, havendo sempre alguém que se deslocava lateralmente.
Porque já haviam elementos a posicionarem-se para a emboscada, esta fila mais se alarga. E, pese embora todos os cuidados que possa haver, creio que é neste flanqueamento da fila que o Belmiro João acciona a mina.
3. - Contudo, o accionamento deste tipo de artefactos, tinha em geral como consequências de maiores danos, graves ferimentos nos membros inferiores. Mas o Belmiro João morre devido a ferimentos graves na cabeça. E nada se refere quanto a outros tipo de ferimentos, mas que o Comandante de Companhia também é ferido ligeiramente.
4. - Custa-me a crer que o accionamento de uma mina anti-pessoal tivesse tais repercussões, com um relativo raio de acção. Até porque se refere que o corpo é encontrado a cerca de 2 metros da mina.
5. - Esta guerra era muito dependente das disparidades entre o tudo (a sorte) e o nada (a fatalidade). Assim, julgo que o ferimento na cabeça do Belmiro João e na coxa do Comandante da Companhia, devem ser resultado da deflagração de uma granada de uma armadilha, que é accionada com o sopro que a mina anti-pessoal causa.
Termino, mas recordo perfeitamente da vinda do helicóptero, e o que me foi dito na altura é que o Belmiro João sangrava abundantemente e ia bastante ferido.
É tudo. Aqui fica a reposição que o Belmiro João encontrou a morte, como tantos outros, em Gandembel.
Cordiais saudações do Idálio Reis
___________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá
(2) Vd. post de 15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1529: Belmiro dos Santos João, de Miranda do Douro, vítima de mina antipessoal em Catió (Fernando Chapouto / A. Marques Lopes)
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
Guiné 63/74 - P1531: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (33): O Sintex: A Marinha Mercante chega até Missirá
Cópia de nota de punição (dois dias de prisão simples) fixada, em 18 de Fevereiro de 1969, pelo tenente-coronel Hélio Felgas, comandante do Agrupamento de Bafatá, ao Alf Mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, por durante a visita do Comandante-Chefe "ter apresentado o seu aquartelamento em fracas condições de defesa e em deplorável estado de limpeza, arrumação e asseio".
Cópia da nota de punição do comandante do BCAÇ 2852, tenente-coronel Pamplona Corte-Real, com data de 4 de Agosto de 1969, em que se diz: "Sua Excia. o Comandante Militar (...) considerou em parte procedente o recurso apresentado pelo Sr. Alferes Miliciano Mário António Gonçalves Beja dos Santos, do Pel Caç Nat 52, mantendo o castigo e reformando a redacção do mesmo que passa a ser seguinte: (...) por tendo-lhe sido chamada a atenção para as deficientes condições de defesa e limpeza existentes no seu aquartelamento, não ter dedicado o máximo do seu interesse à resolução de tais problemas"...
Fotos dos documentos originais: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
Texto enviado em 23 de Janeiro de 2007. Continuação das memórias do Mário Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Subtítulos da responsabilidade do editor do blogue.
Quando a marinha de comércio chegou a Missirá
por Beja Santos
Desta vez, o Comandante de Bafatá [, tenente-coronel Hélio Felgas,]não me estendeu a mão, manteve a postura rígida como se estivesse a avisar-me que os sinais de tempestade estavam na sala, o tornado iminente.
- Você é uma grande decepção. Acredito nas informações que me chegaram sobre a sua mentalidade, mas comanda sem pensar na ordem que um aquartelamento deve ter, nas regras de segurança, a começar pela solidez dos abrigos. O Comandante-Chefe e eu iremos a Missirá brevemente. Ou há mudanças ou puno-o. Cabe a si dar um sinal do que pretende.
Entendi não replicar, houvera já conversa sobre as fragilidades de Missirá e Finete, era inaceitável que a conversa descambasse de novo para as cascas de batata ou as cabaças da população civil deixadas temporariamente ao abandono. Ouvi-o sem pestanejar, sempre perfilado, perguntei-lhe se pretendia dizer mais alguma coisa, fiz a continência e retirei-me. Como diz a letra do fado, "Tinha o destino traçado" e poucas ilusões sobre a justiça plena dos homens do mando.
Operação a Madina/Belel: 'Em caso algum aceito que venhas de mãos vazias'
Regressei a Bambadinca, onde me esperava um amargo de boca e me estava reservada uma uma grata surpresa. O Major das operações convocara-me para falarmos da Operação Anda Cá.
- Desculpa, ó Beja, vou descrever tudo sem pormenores, para já. Teremos dois destacamentos que partirão de Missirá. Qualquer coisa como sete grupos de combate. Estão definidos dois objectivos, um pressupõe que se chegue a outro. Tu segues à frente de um e ordenas a formação de uma coluna que vai à frente do outro destacamento. Acho melhor tu ires a Quebá Jilã e descer para Madina; o outro destacamento segue por Sinchã Corubal até Madina. Apostamos na destruição das bases de Madina e dos suportes da população civil. Em nenhuma circunstância aceitamos que venham de mãos vazias. O inimigo está lá, destruam-no.
Observei que esta explicação prévia me era útil mas seguramente haveria uma exposição aos respectivos Comandantes de Companhia, antes de partirem para Missirá. Garantiu-me que sim, o que não veio a acontecer, com as consequências lamentáveis que aqui se descreverão. Começara a aprender que há um fosso monumental entre o trabalho preparatório feito num gabinete com uma ventoinha e o pisar a lama, o capim e os obstáculos naturais do mato, onde não há coincidência entre o que diz a carta e a posição real ocupada pelas forças rebeldes. Senti uma premonição, uma quase corrente fria de um desastre anunciado, mas nada exteriorizei, ficando sempre com a esperança de que seria convocado para uma reunião preparatória.
E deste encontro na sala de operações fui até ao gabinete do Capitão Eugénio Baptista Neves, o Comandante da CCS, que já nos visitara em Missirá e Finete e aprovara um plano de renovação dos abrigos. Mal cheguei, ele pegou na boina, entrámos no jipe e descemos para o cais de Bambadinca. Parou junto de uma arrecadação, abriu a porta e disse-me:
- Acabaram as suas aflições com as lamas do Geba, os Unimog atascados na bolanha de Finete, os transportes de comida e munições à cabeça. Receba saudações da Armada!
E findo este discurso, fez saltar uma enorme lona que escondia a surpresa que me reservava: um Sintex reluzente, com um motor lá dentro. A comoção foi grande mas as perplexidades eram também grandes e comecei a disparar perguntas: o Sintex fica à guarda de quem? O condutor é de Bambadinca ou Missirá? Sou responsável pela segurança ida e volta? Quem escolhe o cais de desembarque, perto de Missirá? O Capitão Baptista Neves encolheu os ombros e despachou-me com a seguinte sentença:
- A partir de agora, para o melhor e para o pior, o Sintex está à sua carga, organize os itinerários, monte as seguranças que quiser, transporte no Sintex o que quiser, mas não me peça mais nada.
Agradeci, pedi para deixar o Sintex na arrecadação até consultar os meus colaboradores. Após a ida ao depósito de materiais de construção civil, feitas as compras de géneros, cambámos o Geba e tive a primeira reunião em Finete com Bacari Soncó e Fodé Dahaba. Para quem lê este relato, é conveniente recordar que a partir de Bambadinca o rio Geba estava formalmente interdito. O Geba parece um intestino delgado, uma tripa que vai meandrar em direcção a Bafatá; entre o Cuor, Joladu e Ganado, o rio atravessa bolanhas extensas mas há pontos onde os rebeldes podem atacar qualquer embarcação.
Foi por falta de condições de segurança que os barcos civis e as lanchas militares deixaram de ali navegar. Ora a proposta que nos faziam era sair do cais de Bambadinca avançando pela extensa bolanha entre Finete e Ponta Nova/Santa Helena, subindo em frente a Mero, passando por Boa Esperança e Gã Gémeos pelo menos até Gã Joaquim. No mínimo, 8 Km de viagem. A pergunta que lhes pus é se tínhamos condições da milícia de Finete, mediante combinação prévia do dia e da hora, patrulhar e emboscar junto das margens do Geba pelo menos até ao palmeiral de Boa Esperança. O factor surpresa era decisivo para não haver passagem de informações das populações de Santa Helena e Mero às gentes de Madina/Belel. Garantiram-me que sim, com duas secções, uma bazuca e vários apontadores de dilagrama, a segurança seria assegurada.
Segui para Missirá, onde decorreu uma conversa do mesmo tipo com o Casanova e o Pires. As vantagens eram inegáveis: sobretudo na época das chuvas, tínhamos o abastecimento sempre comprometido; chegáramos mesmo a ser abastecidos por um helicóptero; no caso de uma flagelação prolongada, abastecermos de munições com as viaturas avariadas era uma hipótese de tortura; o principal óbice era montar segurança conjugadamente com Finete. O melhor seria ouvir a opinião de Malã e Quebá Soncó, mas também do caçador Cibo Indjai e de Sadibi Camará, um soldado que conhecia a região da aldeia do Cuor a palmo. Foi uma longa mas proveitosa conversa.
Todos se inclinavam para aproveitarmos as condições naturais de Gã Joaquim, onde o ponteiro que ali vivera deixara um embarcadoro para o transporte da mancarra e o óleo de palma. Além disso, Gã Joaquim era terra firme a partir de Caranquecunda, quase não havendo necessidade de montar segurança, dado tratar-se de terreno aberto. E até nova apreciação do caso, convidou-se o recém-chegado condutor Mário Perdigão (o Xabregas) para assumir o volante do Sintex. Para desfazer equívocos sobre a segurança, tornei público que seguiria no barco na viagem inaugural. Tínhamos, aliás, uma carga valiosa para transportar: um novo equipamento de seis chuveiros, oferta do batalhão de engenharia. Como na manhã seguinte, ao raiar da aurora, tínhamos de montar segurança em Mato de Cão, acordámos nas regras de segurança da viagem. Na ausência de rádios para comunicarmos entre as patrulhas de segurança de Missirá e Finete, foi aceite que três tiros seria o sinal da presença de rebeldes e o regresso do Sintex a um ponte de abrigo, um tiro daria a saber às patrulhas que se tinha chegado a Gã Joaquim e que assim findava a vigilância do Geba, com regresso a quartéis.
Era um dia maravilhoso, sem nuvens, águas barrentas e gente a lavrar as bolanhas. Os curiosos seguiam a operação do Sintex ser lançado à água, com uma orientação imprevista. Quem viera de Mato de Cão até Bambadinca seguia agora para Finete e daqui para Missirá onde tropa refrescada partia para gã Joaquim e para o patrulhamento de segurança até Gã Gémeos. E quando o Sintex se lançou triunfal em direcção a Gã Vicente já os milícias de Finete percorriam a bolanha como anjos da guarda.
É a primeira vez que atravesso o Geba, a uma hora tal que parece que vou passear para Bafatá. O Sintex leva Comandante e vigilante mais uma armação esplendorosa de bidões que vão alterar a nossa qualidade de vida. Durante anos sonhei voltar a fazer este percurso que não deixa de ser arrepiante quando o tarrafe liga directamente com a floresta densa, neste ou naquele ponto onde é possível uma roquetada de RPG2 não deixar pedra sobre pedra. Os nossos abastecimentos irão mudar, o Sintex acabou com muita desdita, obrigou-nos a patrulhar intensamente a região, as próprias colunas rebeldes foram confrontadas com novo obstáculo. O que era imprevísivel aconteceu: o ermo de Missirá, um esporão lançado das matas do Cuor para o Oio passara a ser abastecido pela "marinha de comércio" num impensável Geba navegável.
Em conversa com Queta Baldé em torno destas viagens até Gã Joaquim, ele que tem tudo arquivado na memória recordou-me um facto doloroso: "Foi em Gã Joaquim que o Cibo Indjai morreu num acidente. Em 1971, o Cibo que queria continuar a caçar no Cuor pediu a transferência para o Pelotão de Caçadores Nativos 54, que nos ficou a substituir em Missirá. Exactamente quando chegou o Sintex, um soldado escorregou e a arma disparou-se. Cibo teve morte imediata".
A vida em Missirá prossegue, com aulas, pequenas obras, patrulhamentos nocturnos e de novo as duas viaturas avariadas o que obrigava ao feito épico de rolar bidões cheios de água da fonte de Cancumba até ao aquartelamento. Nas vésperas da Anda Cá, Finete teve boas notícias: chegaram um morteiro e uma bazuca, o que introduziu alguma capacidade de resposta já que até então quando a gente de Madina vinha de noite roubar o arroz cultivado nas bolanhas de Finete não era possível dissuadir os ladrões.
Quando Spínola e Felgas regressarem a Missirá prontos a desancar-me as três fieiras de arame farpado estão renovadas, concluido o depósito de combustíveis, substituidos os cibes dos pontões de Caraquecunda e Cansonco. Conversei com David Payne, depois com o Reis e por último com o Pimbas. Logo a seguir à operação Fado Hilário partirei para Bissau para ser operado. O Reis garantiu-me que não irá armadilhar arbitrariamente todos os acessos, aceita ficar 15 dias em Missirá. Ele não sabe o que o espera...
A exaustão física começa a ser uma realidade que eu não sei controlar, com a época das chuvas chegamos a ir duas vezes no mesmo dia a Mato de Cão. Com gente doente e com o plano de férias a funcionar, chego a ir a Mato de Cão com 20 homens. A 20 de Fevereiro sou chamado a Bambadinca onde me dão a conhecer o teor da minha punição. A reunião prévia da Anda Cá é completamente atamancada. Pela primeira vez, e dolorosamente, interrogo-me se estes oficiais que nos comandam não estão contaminados por um vírus autodestruidor.
Os Sete Septetos, do Ruy Cinatti
Caminhando cada vez mais, tenho o meu joelho arrasado e sinto a cabeça incapaz de altos voos. Mas preciso de encontros afectuosos, saborear a comunicação de gente muito amiga. Leio (isto é, releio pela milésima vez) os Sete Septetos, talvez o mais importante livro de poesia do Ruy Cinatti. Conheci a obra em manuscrito, quando ele me recebeu na Travessa da Palmeira nº12, 3º dto, entre a Praça das Flores e o Princípe Real, com uma vista frondosa sobre Santa Catarina e o Tejo. O pretexto tinha sido ir pedir-lhe um poema para o jornal O Encontro, da Juventude Universitária Católica, à semelhança do que tinha feito com o Ruy Belo e a Sophia de Mello Breyner. Recordo aquela sala de estar pejada de obras de arte timorenses, com o poeta em transe a ler a sua poesia decorrente de uma aventura espiritual que o marcava e que eu agora, ali em Missirá, rememorava a declamação:
Paz comigo próprio. Paz
que não me contente. Paz
armada ou pacífica, mas paz
que não me iluda. Paz
mítica ou revelada. Paz
que me contagie ou paz
entre mim e os outros. Paz
que me não compare. Paz
activa, humilde. Paz
que me encha as mãos
e não conspurque. Paz
vocativa: semente, fruto. Paz
na alma. Paz
de Deus que me enamora
só de Deus enamorado.
Capa do livro de poesia de Ruy Cinatti, editado em 1967, por Guimarães Editores.
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
Toda esta elegia me apazigua, me transporta até Lisboa, aos amigos. O Cinatti irá apoiar-me muito. Todo o seu correio desapareceu até Março. Mas belos poemas, o seu estímulo e conforto ficarão guardados nalgumas folhas que aqui serão desveladas. Procuro também leituras breves e menos comprometedoras, que me distraiam ou façam esquecer que a partir de agora não voltarei a ter férias até ao fim da comissão, numa altura em que recebo correspondência de entes queridos treçando armas e cuspindo fogo. Sim, estou exausto, abrem-se frentes de combate de dimensão incalculável, sinto-me a adornar, moral e psicologicamente. Porventura não tivesse eu os desafios inóspitos de Missirá e Finete e teria caído em melancolia profunda.
Capa do romance de Frank Gruber.
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
Aí, as leituras menos comprometedoras foram refrigério. Por exemplo, livros como O Relógio Falante, de Frank Gruber, da prodigiosa Colecção Vampiro. Gruber cirou uma parelha espantosa para os tempos da Depressão, Jonnhy Fletcher e Sam Cragg, o primeiro um cerebral espaventoso e cheio de lábia na venda de livros, o segundo um gigantão que demonstra em público que ter um físico de Sansão pode ser obra da persistência. O livro fala de um coleccionador de relógios que à hora da morte prega uma partida a credores e descendentes, introduzindo um disco num relógio que dá as horas e que poderá revelar o segredo onde está guardada a fortuna que ele iludiu de todos. Peripécia após peripécia, Fletcher vai juntando as peças do puzzle, denuncia o homicida e desvenda o segredo da fortuna escondida. Que bem me soube a companhia de Frank Gruber antes de partir para Mato de Cão!
Vem aí a roda da fortuna com a Anda Cá e, mais amenamente, o Fado Hilário. Depois vou vestir a farda nº 2, o que não acontece há seis meses. E Cherno Suane pega numa mala onde levo os meus haveres mais prementes e acompanha-me até à urgência do Hospital Militar Bissau, o HM 241. Vale a pena contar.
___________
Nota de L.G.:
(1) Vd. último post > 8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1504: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (32): Aruma Sambu, o prisioneiro de Quebá Jilã
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
Aí, as leituras menos comprometedoras foram refrigério. Por exemplo, livros como O Relógio Falante, de Frank Gruber, da prodigiosa Colecção Vampiro. Gruber cirou uma parelha espantosa para os tempos da Depressão, Jonnhy Fletcher e Sam Cragg, o primeiro um cerebral espaventoso e cheio de lábia na venda de livros, o segundo um gigantão que demonstra em público que ter um físico de Sansão pode ser obra da persistência. O livro fala de um coleccionador de relógios que à hora da morte prega uma partida a credores e descendentes, introduzindo um disco num relógio que dá as horas e que poderá revelar o segredo onde está guardada a fortuna que ele iludiu de todos. Peripécia após peripécia, Fletcher vai juntando as peças do puzzle, denuncia o homicida e desvenda o segredo da fortuna escondida. Que bem me soube a companhia de Frank Gruber antes de partir para Mato de Cão!
Vem aí a roda da fortuna com a Anda Cá e, mais amenamente, o Fado Hilário. Depois vou vestir a farda nº 2, o que não acontece há seis meses. E Cherno Suane pega numa mala onde levo os meus haveres mais prementes e acompanha-me até à urgência do Hospital Militar Bissau, o HM 241. Vale a pena contar.
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Nota de L.G.:
(1) Vd. último post > 8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1504: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (32): Aruma Sambu, o prisioneiro de Quebá Jilã
Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá
T/T Quanza > Navio misto, de 2 hélices, construído em 1929 na Alemanha e abatido em 1968. Tinha 133 metros de comprimento e cerca de 6500 toneladas de arqueação bruta. Com 149 tripulantes, possuía alojamentos para 108 em primeira classe, 120 em segunda, 90 em terceira e 214 em terceira suplementar, no total de 532 passageiros. Armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa. O Isdálio Reis e os seus camaradas da CCAÇ 2317 devem ter sido dos últimos passageiros a viajar no velho Quanza.
Foto: © Navios Mercantes Portugueses , página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...) . O autor foi oficial da marinha mercante.
Início da publicação da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1):
Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.
BCAÇ 2835 > CCAÇ 2317 (1968/70) > Emblema da Companhia
O Idálio Reis, de ontem (1967)
O Idálio Reis de hoje (2006)
"A 17 de Janeiro de 1968, o velho Quanza partia para nos levar a terras de África. Só uma singela recordação dessa data, onde se destaca este trio composto pelo alferes Francisco Trindade e os furriéis Carlos Valério e António Nabais" (IR).
"A Companhia era maioritariamente constituída por gente da periferia do grande Porto, como o caso destes 3 vizinhos: os soldados Sá Pereira, Manuel Carvalho e Ângelo Marques" (IR)
"A 24 de Janeirode 1968, a CCAÇ 2317 recebia as boas vindas, na parada do aquartelamento de Brá". (IR)
Assunto: Uma aclimatação de 2 meses, o quanto bastou para enveredar por um sinuoso rumo, a uma fatídica zona do Sul da Província. Aí, num local estranho da região do Forreá e apenas no efémero prazo de 11 meses, houve lugar às facetas mais pérfidas da guerra, em que do mito e do mistério sobrou só o nome: Gandembel/Ponte Balana.
Caros Luís e demais companheiros tertulianos:
O alvor do dia 24 de Janeiro de 1968, já com o velho Quanza fundeado, começava suavemente a despontar. O Sol, no longínquo do horizonte, parecia emergir brandamente das águas mansas do Golfo, a dardejar os seus primeiros raios de luz avermelhando a aurora, fogosamente. Parecia prenunciar que o dia que então se aclarava, iria manter-se estranhamente acalorado.
Era um clima substancialmente diferente do que há uma semana havíamos deixado na longínqua Lisboa, que ainda vivia estarrecida de um pluvioso Inverno que a fustigava com inundações incontroladas, e que puseram a descoberto todas as misérias dos bairros de lata, onde causaram tanto desespero e dor, pelas perdas inteiras de escassos espólios e de muitos dos seus moradores.
Bissau à vista
E a madrugada desse dia, desde logo fez concitar nos seus tripulantes, a tomarem comportamentos estranhos, tornando-os inquietos, nervosos, a provocar-lhes um sôfrego alvoroço. É que a amurada do navio, proporcionava a um fácil alcance da visão, distinguir com bastante nitidez, um casario denso: era Bissau. E, enquanto o Sol descoberto, descrevia a sua trajectória zenital, mais ele resplandecia na sua rutilância.
Pairava uma atmosfera quente e abafada, que logo começaram a inquietar os nossos corpos, a ressudarem uma humidade adensada e pegajosa, que repassava os novos camuflados dos recém-combatentes. É que, aos mobilizados da guerra colonial, foi-lhes infundido para fazerem gala na sua verdadeira farda de apresentação. E todo o BCAÇ 2835, com o seu crachá ao peito, pontificado por uma divisa a preceito −«Nas armas, singulares»−, aí estava na Província da Guiné, em missão de soberania, na salvaguarda de uma Pátria una e indivisível. E a organização política e administrativa da Nação que então preponderava, fazia acrescentar que também era inalienável e imprescritível.
Sufocados por uma esquisita temperatura e uma pesada vestimenta, era pisada terra firme, e mais uma imensidade de soldados periquitos arribavam a uma terra estranha, para ficarem à mercê de um impreciso e incerto destino. E o Quanza, serenamente parado nas imediações do célebre cais de Pidjiguiti, ia sendo esventrado dos haveres encomendados, com a saída dos individualizados parcos espólios, metidos a esmo nuns sacos esverdeados que a roupa os avolumava.
O bulício envolvente era essencialmente de cariz militar, em que uma distendida caravana de camiões pesados se perfilava, a fim de nos transportar para algures, nos arrabaldes da cidade. E logo que nos arrumámos nas viaturas, seguimos por uma larga estrada que já percorria a sua periferia, onde se divisavam inúmeras casas térreas de bairros degradados, com bastante população negra e em que prevaleciam muitas crianças quase desnudadas, até se entrar num espaçoso aquartelamento com diversos pavilhões prefabricados: era o denominado quartel de Brá.
E na sua parada imensa, nos perfilámos já sob uma inclemente temperatura, para receber as boas vindas de um grupo de oficiais superiores do estado-maior de Arnaldo Schultz, bem protegidos sob um espaçoso guarda-sol. Findo tal cerimonial de unida ordem, qual testemunho de coesão e disciplina, foram então alojados os 168 militares da Companhia.
E a partir daqui, com os homens postos em sossego, teve início a sua efectiva integração no contingente bélico-militar da Província. Começava a traçar-se o seu destino colectivo, que alguns mandantes lhe haviam de reservar e impor nesta arredia e inclemente terra africana. O aparato militar que nos envolvia, parecia ser urdido segundo uma orientação preconcebida de há muito, de tal modo a que não nos se deparassem tempo suficiente para que tomássemos alguma consciência do que este novo embate da vida nos poderia provocar.
De uma regulamentar descrição sumária da situação a viver nos próximos tempos, fomos instruídos para tomar uma conduta ordeira e domesticada, a manter no absoluto durante alguns dias, sem contactos externos, procurando que a tropa conseguisse absorver de maneira célere e no isolamento, a primeira das grandes provações, resultante da ampla diferenciação climática encontrada. Aqui se estampava, muito certamente, o início de um julgamento de inocentes sem justa causa. Que não se aspirasse a grandes ilusões!
Três semanas em Brá e os primeiros ecos da guerra
Durante um período de cerca de 3 semanas, fomo-nos quedando por Brá, onde mesmo assim, era possível manter fúteis contactos com muitos militares em situação de transição. Alguns, com a comissão já avançada, faziam chegar aos nossos ouvidos, relatos da sua guerra e que se travavam pelos cantos da Província, que nos fechava em silente mutismo, absortos pela crueza das suas narrativas, que não deixavam de causar uma indefinida perplexidade quanto à sua perceptibilidade. Os factos descritos pareciam ser complexos enigmas, de difícil decifração, mas o rescaldo do eco das palavras era de todo assimilado, para uma cismada busca do seu real significado.
Durante este lapso de tempo, houve uma visita do Presidente da República Américo Tomás . Tal serviu para a Companhia receber o seu armamento ligeiro, e ficar incumbida de montar segurança a essa dignitária personalidade, a exercer ao longo da estrada de Bissalanca. Contudo, o que a tropa denominava de treino operacional, desenrolou-se nos aquartelamentos de Mansabá e de Olossato, desenvolvido aproximadamente durante um mês.
Treino operacional em Mansabá e Olossato
A situação militar naquela região não era muito conflituosa, apesar dos Oio e Morés já terem fama naqueles tempos, e cujos nomes eram temidos naqueles locais. Contudo, nas saídas ocasionais de acompanhamento, não houve nada a justificar qualquer nota de maior destaque, a não ser um ligeiro ataque ao denso povoamento de Mansabá.
Recordo que no Olossato, a Companhia aí sedeada era comandada pelo então Capitão Azeredo [hoje, o general reformado Azeredo e Leme, com uma folha de serviços exemplar, que o alcandora no galarim dos grandes oficiais do Exército], e que mais tarde após a evacuação de Gandembel, vim encontrar em Aldeia Formosa, já com a patente de major, como comandante de um Comando Operacional − os célebres COPs que Spínola tinha feito criar para as zonas mais nevrálgicas.
Nesse aquartelamento do Olossato, dada a sua localização em território de configuração apaulada, com algumas bolanhas na sua proximidade, viemos encontrar a seguir às inclemências do intenso calor e humidade, o confronto com o segundo dos mais acirrados inimigos −os mosquitos−, afrontando as delicadas ‘peles de pêssego’ dos periquitos e que nos causticavam sem dó nem piedade. Reconheço contudo, que este flagelo serviu para depressa se criar uma maior imunidade contra os malefícios desta outra praga, embora o paludismo acabasse por nos colher a todos, e quanto era doloroso, por vezes, debelar esta maleita de febres intermitentes.
Quanto a Mansabá, era um local amplo e frondoso, muito maior do que viríamos a encontrar em Nova Lamego, e as condições de habitabilidade do seu aquartelamento, foram as que melhor fruí durante toda a comissão. Mas foram apenas alguns dias!
Mas sobre toda esta zona, tive há relativo pouco tempo, a grata oportunidade de ler um livro de uma narrativa que se plasma nas díspares vivências que se deparam a cada militar no seu quotidiano, guiadas por ditames que só o labirinto da guerra consegue impor e não quer escamotear, escrito por um antigo camarada que viveu por estas bandas, e que recomendo vivamente; trata-se de Os Heróis e o Medo, de Magalhães Pinto, publicado pela Âncora Editora. Quanto seria importante ter connosco este companheiro para nos contar também as suas estórias!
Porém, ao fim destes 2 meses, o treino operacional findava. A tropa da Companhia parecia estar, em definitivo, inteiramente apta para enfrentar qualquer situação de guerra, fosse onde fosse. Tantos enganos! Para o atestar, não houve qualquer rebuço em nos meterem numa LDG, rio Geba abaixo, rumo ao Sul da Província.
Quem tramou a companhia ?
Em Cacine apeámos, e a 20 de Março [de 1968] chegávamos a Guileje, e ninguém pressagiava a sinistra e fatídica odisseia que doravante estava reservada à CCaç 2317. Ao mandar construir um destacamento fixo, em zona onde o PAIGC detinha um quase inteiro domínio territorial, o estado-maior do comando militar da Província cismou numa táctica militar imprudente, reveladora de uma grosseira insânia, destituída de qualquer preconceito, tanto mais que assentava no propósito de minimizar o poderio militar do adversário.
Quem ousou pensar nesta decisão? Parece que, para os toldados mentores desta ultrajante aventura, o valor da conveniência estava exactamente a par do valor da vida humana, tentando de qualquer modo, atingir-se um putativo fim, sem minimamente se olharem aos meios. Não o haviam conseguido até então, e compelia-se uma Companhia sem qualquer experiência, a desempenhar um papel de protagonismo em permanente risco de vida, o de desamparados peões de briga, quais meros joguetes de uma estratégia insolente, e que vai precisar de uma ajuda constante, para não vir a ser dizimada.
Eu que vivi esses tempos tão sofridos, sem hiatos, ao tentar procurar entender esta resolução, não a descortino. E julgo que se cometeu uma ignóbil e hedionda manobra estratégica, que se viria a revelar desastrosa para todas as tropas que estiveram envolvidas nessa infinda operação. Ainda que esta eventual operação de acantonamento obrigasse o PAIGC a alterar a sua conduta militar de forma acentuada, este nunca deu mostras de soçobrar. Ao contrário, quase sempre demonstrou apresentar uma organização à altura das circunstâncias que as NT lhe tentavam mover. Apesar de reconhecer que tiveram que reforçar o seu poderio militar, bem atestado na forma como veio a agir, o abandono de Gandembel só pode apresentar uma leitura consequente: mais uma vez, as NT soçobraram naquela zona.
E se o desaire não é de todo gorado, tal deve-se ao preponderante papel desenvolvido pelas tropas paraquedistas, que se cruzaram connosco nesta aventura, pela forma extremamente meritória como o souberam assumir. Foram as verdadeiras tropas de elite, que num momento particularmente conturbado para nós, apearam em Gandembel, e coube-lhes a ousadia de conseguirem suster quase radicalmente as acções do PAIGC. Mas, no deve e haver, ficaram a perdurar para sempre, os resultados de uma sentença muito pesada. E estes, sem margem para quaisquer dúvidas, vieram a redundar num rotundo e plangente fracasso, pela quantidade de mortos e estropiados, dos feridos graves, e dos evacuados com maleitas várias, estas doenças que nos vêm chagando no nosso quotidiano.
Já alguém apontou no nosso blogue, o número de 52 mortos e muitos feridos graves. Torna-se-nos muito difícil atestar este valor, caro Zé Neto, mas do que me foi dado a observar e conhecer, considero que as tropas que estiveram mais ou menos envolvidas com a odisseia de Gandembel, entre mortos e evacuados para Lisboa (feridos e doentes), atingem seguramente a centena de homens, como terei oportunidade de ir focando.
Os custos materiais não contam para mim, mas mesmo aqui, quantas razões de queixa a lamentar, onde à falta de tantos meios, até a fome chegou a pairar, não por falta de comida, mas porque houve um longo tempo que se tornou difícil de tragar por manifesta má qualidade.
Oxalá que não seja por este conjunto de razões, que os factos bélicos que atravessaram as vivências de Gandembel/Ponte Balana, estejam praticamente omissos nos arquivos histórico-militares, e que acabarão fatalmente por se apagarem, pelo inexorável determinismo da lei da vida. E por isso, sinto-me profundamente chocado com este procedimento, que em nada enobrece a Instituição Militar. Assim, trair-me-ia, se deixasse perder o passado, de uma parte fundamental das vidas destes deserdados filhos de um deus menor.
Em seu nome, dos que tiveram a desdita de me acompanharem neste longo pesadelo, que se prolongou principalmente entre os meados de Março de 1968 a Maio de 1969, e mormente dos que vimos afastaram-se precoce e compulsivamente do nosso seio, procurarei dar sinal dos amargos momentos vividos, que o denegrido baú das minhas memórias, ainda não arrumou de todo, apesar das poeiras de 4 décadas.Será pois um conjunto de narrativas imperfeitas, mas que poderá vir a ser colmatada por outrens, e os foras-nada ficarão então mais consolados.
Mas, até breve!
Um abraço do Idálio Reis.
___________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 20 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1449: Para breve, a história da CCAÇ 2317, que esteve em Gandembel e Ponte Balana (Idálio Reis)
(2) Vd. posts anteriores do Idálio Reis:
19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXIV: Um sobrevivente de Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317)
18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXX: Um pesadelo chamado Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317, 1968/69)
12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P866: De Cansissé e a Fonte dos Fulas ao Baixo Mondego ou como o mundo é pequeno (Idálio Reis)
12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P867: Que madrasta Pátria é esta ! (ou o meu comentário à carta do Padre Mário de Oliveira (Idálio Reis)
13 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P874: O que é feito dos nossos relatórios de operações ? (Idálio Reis / Nuno Rubim)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P953: Cansissé, terra de encantos mil (Parte I) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P954: Cansissé, terra de mil encantos (Parte II) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P988: O soldado paraquedista Lourenço, natural de Cantanhede, morto e enterrado em Guidaje (Maio de 1973) (Idálio Reis)
2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1016: Cansissé, terra de mil encantos (Parte III) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1382: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (7): No longínquo ano de 1968 em Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis)
Foto: © Navios Mercantes Portugueses , página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...) . O autor foi oficial da marinha mercante.
Início da publicação da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1):
Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.
Parte I - A CCAÇ 2317 chega a Bissau, a 24 de Janeiro de 1968 (2). IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional em Olossato e Mansabá.
O Idálio Reis, de ontem (1967)
O Idálio Reis de hoje (2006)
"A 17 de Janeiro de 1968, o velho Quanza partia para nos levar a terras de África. Só uma singela recordação dessa data, onde se destaca este trio composto pelo alferes Francisco Trindade e os furriéis Carlos Valério e António Nabais" (IR).
"A Companhia era maioritariamente constituída por gente da periferia do grande Porto, como o caso destes 3 vizinhos: os soldados Sá Pereira, Manuel Carvalho e Ângelo Marques" (IR)
"A 24 de Janeirode 1968, a CCAÇ 2317 recebia as boas vindas, na parada do aquartelamento de Brá". (IR)
Assunto: Uma aclimatação de 2 meses, o quanto bastou para enveredar por um sinuoso rumo, a uma fatídica zona do Sul da Província. Aí, num local estranho da região do Forreá e apenas no efémero prazo de 11 meses, houve lugar às facetas mais pérfidas da guerra, em que do mito e do mistério sobrou só o nome: Gandembel/Ponte Balana.
Caros Luís e demais companheiros tertulianos:
O alvor do dia 24 de Janeiro de 1968, já com o velho Quanza fundeado, começava suavemente a despontar. O Sol, no longínquo do horizonte, parecia emergir brandamente das águas mansas do Golfo, a dardejar os seus primeiros raios de luz avermelhando a aurora, fogosamente. Parecia prenunciar que o dia que então se aclarava, iria manter-se estranhamente acalorado.
Era um clima substancialmente diferente do que há uma semana havíamos deixado na longínqua Lisboa, que ainda vivia estarrecida de um pluvioso Inverno que a fustigava com inundações incontroladas, e que puseram a descoberto todas as misérias dos bairros de lata, onde causaram tanto desespero e dor, pelas perdas inteiras de escassos espólios e de muitos dos seus moradores.
Bissau à vista
E a madrugada desse dia, desde logo fez concitar nos seus tripulantes, a tomarem comportamentos estranhos, tornando-os inquietos, nervosos, a provocar-lhes um sôfrego alvoroço. É que a amurada do navio, proporcionava a um fácil alcance da visão, distinguir com bastante nitidez, um casario denso: era Bissau. E, enquanto o Sol descoberto, descrevia a sua trajectória zenital, mais ele resplandecia na sua rutilância.
Pairava uma atmosfera quente e abafada, que logo começaram a inquietar os nossos corpos, a ressudarem uma humidade adensada e pegajosa, que repassava os novos camuflados dos recém-combatentes. É que, aos mobilizados da guerra colonial, foi-lhes infundido para fazerem gala na sua verdadeira farda de apresentação. E todo o BCAÇ 2835, com o seu crachá ao peito, pontificado por uma divisa a preceito −«Nas armas, singulares»−, aí estava na Província da Guiné, em missão de soberania, na salvaguarda de uma Pátria una e indivisível. E a organização política e administrativa da Nação que então preponderava, fazia acrescentar que também era inalienável e imprescritível.
Sufocados por uma esquisita temperatura e uma pesada vestimenta, era pisada terra firme, e mais uma imensidade de soldados periquitos arribavam a uma terra estranha, para ficarem à mercê de um impreciso e incerto destino. E o Quanza, serenamente parado nas imediações do célebre cais de Pidjiguiti, ia sendo esventrado dos haveres encomendados, com a saída dos individualizados parcos espólios, metidos a esmo nuns sacos esverdeados que a roupa os avolumava.
O bulício envolvente era essencialmente de cariz militar, em que uma distendida caravana de camiões pesados se perfilava, a fim de nos transportar para algures, nos arrabaldes da cidade. E logo que nos arrumámos nas viaturas, seguimos por uma larga estrada que já percorria a sua periferia, onde se divisavam inúmeras casas térreas de bairros degradados, com bastante população negra e em que prevaleciam muitas crianças quase desnudadas, até se entrar num espaçoso aquartelamento com diversos pavilhões prefabricados: era o denominado quartel de Brá.
E na sua parada imensa, nos perfilámos já sob uma inclemente temperatura, para receber as boas vindas de um grupo de oficiais superiores do estado-maior de Arnaldo Schultz, bem protegidos sob um espaçoso guarda-sol. Findo tal cerimonial de unida ordem, qual testemunho de coesão e disciplina, foram então alojados os 168 militares da Companhia.
E a partir daqui, com os homens postos em sossego, teve início a sua efectiva integração no contingente bélico-militar da Província. Começava a traçar-se o seu destino colectivo, que alguns mandantes lhe haviam de reservar e impor nesta arredia e inclemente terra africana. O aparato militar que nos envolvia, parecia ser urdido segundo uma orientação preconcebida de há muito, de tal modo a que não nos se deparassem tempo suficiente para que tomássemos alguma consciência do que este novo embate da vida nos poderia provocar.
De uma regulamentar descrição sumária da situação a viver nos próximos tempos, fomos instruídos para tomar uma conduta ordeira e domesticada, a manter no absoluto durante alguns dias, sem contactos externos, procurando que a tropa conseguisse absorver de maneira célere e no isolamento, a primeira das grandes provações, resultante da ampla diferenciação climática encontrada. Aqui se estampava, muito certamente, o início de um julgamento de inocentes sem justa causa. Que não se aspirasse a grandes ilusões!
Três semanas em Brá e os primeiros ecos da guerra
Durante um período de cerca de 3 semanas, fomo-nos quedando por Brá, onde mesmo assim, era possível manter fúteis contactos com muitos militares em situação de transição. Alguns, com a comissão já avançada, faziam chegar aos nossos ouvidos, relatos da sua guerra e que se travavam pelos cantos da Província, que nos fechava em silente mutismo, absortos pela crueza das suas narrativas, que não deixavam de causar uma indefinida perplexidade quanto à sua perceptibilidade. Os factos descritos pareciam ser complexos enigmas, de difícil decifração, mas o rescaldo do eco das palavras era de todo assimilado, para uma cismada busca do seu real significado.
Durante este lapso de tempo, houve uma visita do Presidente da República Américo Tomás . Tal serviu para a Companhia receber o seu armamento ligeiro, e ficar incumbida de montar segurança a essa dignitária personalidade, a exercer ao longo da estrada de Bissalanca. Contudo, o que a tropa denominava de treino operacional, desenrolou-se nos aquartelamentos de Mansabá e de Olossato, desenvolvido aproximadamente durante um mês.
Treino operacional em Mansabá e Olossato
A situação militar naquela região não era muito conflituosa, apesar dos Oio e Morés já terem fama naqueles tempos, e cujos nomes eram temidos naqueles locais. Contudo, nas saídas ocasionais de acompanhamento, não houve nada a justificar qualquer nota de maior destaque, a não ser um ligeiro ataque ao denso povoamento de Mansabá.
Recordo que no Olossato, a Companhia aí sedeada era comandada pelo então Capitão Azeredo [hoje, o general reformado Azeredo e Leme, com uma folha de serviços exemplar, que o alcandora no galarim dos grandes oficiais do Exército], e que mais tarde após a evacuação de Gandembel, vim encontrar em Aldeia Formosa, já com a patente de major, como comandante de um Comando Operacional − os célebres COPs que Spínola tinha feito criar para as zonas mais nevrálgicas.
Nesse aquartelamento do Olossato, dada a sua localização em território de configuração apaulada, com algumas bolanhas na sua proximidade, viemos encontrar a seguir às inclemências do intenso calor e humidade, o confronto com o segundo dos mais acirrados inimigos −os mosquitos−, afrontando as delicadas ‘peles de pêssego’ dos periquitos e que nos causticavam sem dó nem piedade. Reconheço contudo, que este flagelo serviu para depressa se criar uma maior imunidade contra os malefícios desta outra praga, embora o paludismo acabasse por nos colher a todos, e quanto era doloroso, por vezes, debelar esta maleita de febres intermitentes.
Quanto a Mansabá, era um local amplo e frondoso, muito maior do que viríamos a encontrar em Nova Lamego, e as condições de habitabilidade do seu aquartelamento, foram as que melhor fruí durante toda a comissão. Mas foram apenas alguns dias!
Mas sobre toda esta zona, tive há relativo pouco tempo, a grata oportunidade de ler um livro de uma narrativa que se plasma nas díspares vivências que se deparam a cada militar no seu quotidiano, guiadas por ditames que só o labirinto da guerra consegue impor e não quer escamotear, escrito por um antigo camarada que viveu por estas bandas, e que recomendo vivamente; trata-se de Os Heróis e o Medo, de Magalhães Pinto, publicado pela Âncora Editora. Quanto seria importante ter connosco este companheiro para nos contar também as suas estórias!
Porém, ao fim destes 2 meses, o treino operacional findava. A tropa da Companhia parecia estar, em definitivo, inteiramente apta para enfrentar qualquer situação de guerra, fosse onde fosse. Tantos enganos! Para o atestar, não houve qualquer rebuço em nos meterem numa LDG, rio Geba abaixo, rumo ao Sul da Província.
Quem tramou a companhia ?
Em Cacine apeámos, e a 20 de Março [de 1968] chegávamos a Guileje, e ninguém pressagiava a sinistra e fatídica odisseia que doravante estava reservada à CCaç 2317. Ao mandar construir um destacamento fixo, em zona onde o PAIGC detinha um quase inteiro domínio territorial, o estado-maior do comando militar da Província cismou numa táctica militar imprudente, reveladora de uma grosseira insânia, destituída de qualquer preconceito, tanto mais que assentava no propósito de minimizar o poderio militar do adversário.
Quem ousou pensar nesta decisão? Parece que, para os toldados mentores desta ultrajante aventura, o valor da conveniência estava exactamente a par do valor da vida humana, tentando de qualquer modo, atingir-se um putativo fim, sem minimamente se olharem aos meios. Não o haviam conseguido até então, e compelia-se uma Companhia sem qualquer experiência, a desempenhar um papel de protagonismo em permanente risco de vida, o de desamparados peões de briga, quais meros joguetes de uma estratégia insolente, e que vai precisar de uma ajuda constante, para não vir a ser dizimada.
Eu que vivi esses tempos tão sofridos, sem hiatos, ao tentar procurar entender esta resolução, não a descortino. E julgo que se cometeu uma ignóbil e hedionda manobra estratégica, que se viria a revelar desastrosa para todas as tropas que estiveram envolvidas nessa infinda operação. Ainda que esta eventual operação de acantonamento obrigasse o PAIGC a alterar a sua conduta militar de forma acentuada, este nunca deu mostras de soçobrar. Ao contrário, quase sempre demonstrou apresentar uma organização à altura das circunstâncias que as NT lhe tentavam mover. Apesar de reconhecer que tiveram que reforçar o seu poderio militar, bem atestado na forma como veio a agir, o abandono de Gandembel só pode apresentar uma leitura consequente: mais uma vez, as NT soçobraram naquela zona.
E se o desaire não é de todo gorado, tal deve-se ao preponderante papel desenvolvido pelas tropas paraquedistas, que se cruzaram connosco nesta aventura, pela forma extremamente meritória como o souberam assumir. Foram as verdadeiras tropas de elite, que num momento particularmente conturbado para nós, apearam em Gandembel, e coube-lhes a ousadia de conseguirem suster quase radicalmente as acções do PAIGC. Mas, no deve e haver, ficaram a perdurar para sempre, os resultados de uma sentença muito pesada. E estes, sem margem para quaisquer dúvidas, vieram a redundar num rotundo e plangente fracasso, pela quantidade de mortos e estropiados, dos feridos graves, e dos evacuados com maleitas várias, estas doenças que nos vêm chagando no nosso quotidiano.
Já alguém apontou no nosso blogue, o número de 52 mortos e muitos feridos graves. Torna-se-nos muito difícil atestar este valor, caro Zé Neto, mas do que me foi dado a observar e conhecer, considero que as tropas que estiveram mais ou menos envolvidas com a odisseia de Gandembel, entre mortos e evacuados para Lisboa (feridos e doentes), atingem seguramente a centena de homens, como terei oportunidade de ir focando.
Os custos materiais não contam para mim, mas mesmo aqui, quantas razões de queixa a lamentar, onde à falta de tantos meios, até a fome chegou a pairar, não por falta de comida, mas porque houve um longo tempo que se tornou difícil de tragar por manifesta má qualidade.
Oxalá que não seja por este conjunto de razões, que os factos bélicos que atravessaram as vivências de Gandembel/Ponte Balana, estejam praticamente omissos nos arquivos histórico-militares, e que acabarão fatalmente por se apagarem, pelo inexorável determinismo da lei da vida. E por isso, sinto-me profundamente chocado com este procedimento, que em nada enobrece a Instituição Militar. Assim, trair-me-ia, se deixasse perder o passado, de uma parte fundamental das vidas destes deserdados filhos de um deus menor.
Em seu nome, dos que tiveram a desdita de me acompanharem neste longo pesadelo, que se prolongou principalmente entre os meados de Março de 1968 a Maio de 1969, e mormente dos que vimos afastaram-se precoce e compulsivamente do nosso seio, procurarei dar sinal dos amargos momentos vividos, que o denegrido baú das minhas memórias, ainda não arrumou de todo, apesar das poeiras de 4 décadas.Será pois um conjunto de narrativas imperfeitas, mas que poderá vir a ser colmatada por outrens, e os foras-nada ficarão então mais consolados.
Mas, até breve!
Um abraço do Idálio Reis.
___________
Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 20 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1449: Para breve, a história da CCAÇ 2317, que esteve em Gandembel e Ponte Balana (Idálio Reis)
(2) Vd. posts anteriores do Idálio Reis:
19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXIV: Um sobrevivente de Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317)
18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXX: Um pesadelo chamado Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317, 1968/69)
12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P866: De Cansissé e a Fonte dos Fulas ao Baixo Mondego ou como o mundo é pequeno (Idálio Reis)
12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P867: Que madrasta Pátria é esta ! (ou o meu comentário à carta do Padre Mário de Oliveira (Idálio Reis)
13 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P874: O que é feito dos nossos relatórios de operações ? (Idálio Reis / Nuno Rubim)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P953: Cansissé, terra de encantos mil (Parte I) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P954: Cansissé, terra de mil encantos (Parte II) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P988: O soldado paraquedista Lourenço, natural de Cantanhede, morto e enterrado em Guidaje (Maio de 1973) (Idálio Reis)
2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1016: Cansissé, terra de mil encantos (Parte III) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1382: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (7): No longínquo ano de 1968 em Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis)
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
Guiné 63/74 - P1529: Belmiro dos Santos João, de Miranda do Douro, vítima de mina antipessoal em Catió (Fernando Chapouto / A. Marques Lopes)
Cópia da certidão de óbito do Fur Mil Belmiro João, vítima de rebentamento de mina antipessoal, em Catió. Evacuado para Bissau, veio a falecer no Hospital Militar, em 18 de Abril de 1968. A sua unidade, a CART 1689, do BART 1913, passou em 1967 por Bambadinca.
Foto: A. Marques Lopes (2007).
1. Mensagem do Fernando Chapouto , com data de 7 de Fevereiro último:
Familiares do ex-Furriel Miliciano Belmiro dos Santos João, que esteve na zona de Bambadinca em 1967/68, querem saber mais pormenores sobre a sua morte. Na altura disseram-lhes que foi numa armadilha, outros que foi numa mina.
Este miliciano era natural de Miranda do Douro, da mesma terra do ex-Fur Mil Vaqueiro, nosso tertuliano (1).
O Vaqueiro, no dia 2 de Maio de 1967, antes de entrarmos para a BOR, em Bambadinca , de regresso a Bissau onde nos esperava o Uíge para partirmos para a Metrópole, esteve a falar com ele. Por isso, deve ter sido aí, na zona de Bambadinca, que ele morreu. O corpo veio para a Metrópole. O Vaqueiro foi ao funeral. A morte dele devia ter ocorrido em Fevereiro ou Março de 1968.
Se alguém dos tertulianos pertenceu à companhia dele, ou se o conhecia, ou se ouvi falar deste caso, digam-me. A família agradece todas as informações que forem recolhidas.
2. Resposta do A. Marques Lopes
Em cima publica-se cópia do que consta na página 345 do livro da CECA (Comissão para o Estudo das Campanhas de África), editado em 2001 pelo Estado-Maior do Exército (8º Volume, Mortos em Campanha, Tomo II, Guiné-Livro I).
A CART 1689, a que pertencia o Fur Mil Belmiro dos Santos João, tem História da Unidade na Caixa n.º 82 - 2.ª DIV/4.ª Sec do Arquivo Histórico Militar. Talvez aí haja pormenores da situação do ferimento em combate que o levou à morte. Qualquer um pode consultar.
A. Marques Lopes
_________
Nota de L.G.:
(1) O Fernando Chapouto e o Belmiro Vaqueiro - que vive hoje em Bragança - pertenceram à CCAÇ 1426 (Geba, Geba, Banjara, Camamudo, Cantacunda, 1965/67). Pelos mesmos sítios, mas mais tarde, andou o A. Marques Lopes (CART 1690, 1967/68).
Guiné 63/74 - P1528: Lembranças da Vila de Catió (2): Albano Costa / Vitor Condeço
Continuação da série Lembranças da Vila de Catió (1).
Fotos: © Albano Costa / Hugo Costa (2007). Direitos reservados. O Albano esteve em Guidaje, durante a sua comissão na Guiné (CCAÇ 4150, 1973/74). Voltou à Guiné, com o filho, em Novembro de 2000. As fotos de Catió são dessa viagem. Vive em Guifões, Matosinhos.
Legendas: Vítor Condeço (ex- Fur Mil Mecânico de Armamento Victor Condeço, CCS do BART 1913, Catió 1967/69). Vive actualmente no Entroncamento.
Guiné- Bissau > Região de Tombali > Catió > Novembro de 2000 >
Foto 9 > "Em 1967/69 não havia nenhuma construção que se assemelhasse às da foto e por isso é difícil identificar o local. Arriscaria no entanto dizer que me faz lembrar dois locais: o largo do Mercado por causa da estrada ao fundo e que daqui levava ao porto interior, e o largo da Rotunda também por causa da estrada mas esta levava à Pista" (VC).
Foto 10 > "Uma perpendicular à rua do quartel, em primeiro plano à esquerda, a casa onde funcionou a partir do início de 1968 uma cantina bar com gerência do sr. Mota, um cabo verdeano que era sócio do Hotel Turismo de Bolama" (VC).
Foto 13 > "Esta é a rua da entrada principal do quartel, os edifícios á esquerda eram: a padaria de que só se vê uma pequena faixa branca e parte da cobertura, o depósito de géneros, e o edifício dos quartos dos oficiais, ambos datam de 1968, nota-se que foram remodelados, acrescentaram-lhe varandas e alpendres, vêm-se ainda os pilares dos portões do quartel. Ao fundo do lado direito em frente dos pilares era o armazém da Casa Gouveia" (VC).
Foto 14 > "Uma vista do outro extremo da rua do quartel, à direita os quartos dos oficiais, os pilares dos portões e o depósito de géneros, no topo deste uma construção mais recente. Sobressai da cobertura enferrujada, parte da larga chaminé da cozinha do refeitório das praças" (VC).
Foto 15 > "Foto tirada de costas para o quartel, à direita o armazém da Casa Gouveia, a casa seguinte era a loja da mesma e habitação do gerente, do lado esquerdo está o edifício do bar Catió, a habitação do seu dono, Sr. José P. Saad, e a seguir as lojas dele; antes do bar existia uma construção tipo alpendre que era do mesmo senhor e que era o local onde se jogava pingue-pongue e matraquilhos. Mais ou menos no sítio que se vê carrinha estacionada, existia uma bomba de Gasolina que ainda funcionou algum tempo em 1967. Esta rua desembocava no largo do Mercado" (VC).
Foto 16 > "Edifícios do antigo quartel onde se notam intervenções ao nível de varandas portas e janelas. As necessárias adaptações a outros fins que não os militares. Estes edifícios ficavam todos do lado direito quando se entrava no quartel pelo lado da vila, e eram: o da direita o dos aposentos dos oficiais, o seguinte a antiga messe e bar de sargentos, à esquerda o edifício do comando, (a parte visível eram as transmissões, casa das baterias e centro cripto), o seguinte uma das camaratas de sargentos, (por sinal a minha), ao fundo a nova messe de oficiais construída em 1968" (VC).
Foto 17 > "Este edifício era a cozinha, o refeitório e o bar das praças, ficava à esquerda da entrada do quartel, onde se vêm os restos das viaturas e as ervas era a parada" (VC).
Foto 18 > "É o mesmo que se vê na foto 16 mas com outra perspectiva. Pormenor curioso é a base de um dos mastros das transmissões ainda lá estar junto da empena do edifício do comando Nesta foto nota-se o desaparecimento do bar de sargentos que ficava contíguo ao lado esquerdo do velho edifício da primitiva messe de sargentos" (VC).
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1505: Lembranças da Vila de Catió (1): Albano Costa / Mendes Gomes / Vitor Condeço
Fotos: © Albano Costa / Hugo Costa (2007). Direitos reservados. O Albano esteve em Guidaje, durante a sua comissão na Guiné (CCAÇ 4150, 1973/74). Voltou à Guiné, com o filho, em Novembro de 2000. As fotos de Catió são dessa viagem. Vive em Guifões, Matosinhos.
Legendas: Vítor Condeço (ex- Fur Mil Mecânico de Armamento Victor Condeço, CCS do BART 1913, Catió 1967/69). Vive actualmente no Entroncamento.
Guiné- Bissau > Região de Tombali > Catió > Novembro de 2000 >
Foto 9 > "Em 1967/69 não havia nenhuma construção que se assemelhasse às da foto e por isso é difícil identificar o local. Arriscaria no entanto dizer que me faz lembrar dois locais: o largo do Mercado por causa da estrada ao fundo e que daqui levava ao porto interior, e o largo da Rotunda também por causa da estrada mas esta levava à Pista" (VC).
Foto 10 > "Uma perpendicular à rua do quartel, em primeiro plano à esquerda, a casa onde funcionou a partir do início de 1968 uma cantina bar com gerência do sr. Mota, um cabo verdeano que era sócio do Hotel Turismo de Bolama" (VC).
Foto 13 > "Esta é a rua da entrada principal do quartel, os edifícios á esquerda eram: a padaria de que só se vê uma pequena faixa branca e parte da cobertura, o depósito de géneros, e o edifício dos quartos dos oficiais, ambos datam de 1968, nota-se que foram remodelados, acrescentaram-lhe varandas e alpendres, vêm-se ainda os pilares dos portões do quartel. Ao fundo do lado direito em frente dos pilares era o armazém da Casa Gouveia" (VC).
Foto 14 > "Uma vista do outro extremo da rua do quartel, à direita os quartos dos oficiais, os pilares dos portões e o depósito de géneros, no topo deste uma construção mais recente. Sobressai da cobertura enferrujada, parte da larga chaminé da cozinha do refeitório das praças" (VC).
Foto 15 > "Foto tirada de costas para o quartel, à direita o armazém da Casa Gouveia, a casa seguinte era a loja da mesma e habitação do gerente, do lado esquerdo está o edifício do bar Catió, a habitação do seu dono, Sr. José P. Saad, e a seguir as lojas dele; antes do bar existia uma construção tipo alpendre que era do mesmo senhor e que era o local onde se jogava pingue-pongue e matraquilhos. Mais ou menos no sítio que se vê carrinha estacionada, existia uma bomba de Gasolina que ainda funcionou algum tempo em 1967. Esta rua desembocava no largo do Mercado" (VC).
Foto 16 > "Edifícios do antigo quartel onde se notam intervenções ao nível de varandas portas e janelas. As necessárias adaptações a outros fins que não os militares. Estes edifícios ficavam todos do lado direito quando se entrava no quartel pelo lado da vila, e eram: o da direita o dos aposentos dos oficiais, o seguinte a antiga messe e bar de sargentos, à esquerda o edifício do comando, (a parte visível eram as transmissões, casa das baterias e centro cripto), o seguinte uma das camaratas de sargentos, (por sinal a minha), ao fundo a nova messe de oficiais construída em 1968" (VC).
Foto 17 > "Este edifício era a cozinha, o refeitório e o bar das praças, ficava à esquerda da entrada do quartel, onde se vêm os restos das viaturas e as ervas era a parada" (VC).
Foto 18 > "É o mesmo que se vê na foto 16 mas com outra perspectiva. Pormenor curioso é a base de um dos mastros das transmissões ainda lá estar junto da empena do edifício do comando Nesta foto nota-se o desaparecimento do bar de sargentos que ficava contíguo ao lado esquerdo do velho edifício da primitiva messe de sargentos" (VC).
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1505: Lembranças da Vila de Catió (1): Albano Costa / Mendes Gomes / Vitor Condeço
Guiné 63/74 - P1527: Lista de ex-militares da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas (Benjamim Durães)
Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados
1. Listagem elaborada pelo Benjamim Durães, ex-furriel miliciano do Pelotão de Reconhecimento (PEL REC) da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), actualmente residente em Palmela.
Eis a mensagem que ele nos enviou e que já circulou pela tertúlia:
(...) "Abaixo junto relação do pessoal da CCS do BART 2917, elementos por mim já contactados, e a quem já enderecei o convite para um alomço de convívio, a realizar na priemria quinzena de Junho de 2007 (dis 2, 9 ou 16).
"Agradeço que confirnen os dados, que os rectifiquem ou actualizem,s e for caso disso. Se tiverem conhecimenmtp de mais miliatres da CCS (ou das unidades adidas)que não constem desta lista, queiram pro favor entrar em contacto comigo (telemóvel: 93 93 93 315; morada: Rua Florbela Espanca, Nº 10, 2900 – 296 PALMELA") .
Por telefone, o Durães disse-me que os camaradas contactados deram-lhe autorização para divulgar os seus elementos de identificação e de contacto. Daqui vai um abraço para todo esse pessoal que conviveu , comigo e outros membros da nossa tertúlia, durante cerca de 9 noves, nº segundo semestre de 1970 e 1º trimestre de 1971.
Para o Guerreiro (ex-alf mil, do Pel Rec), que está doente, uma especial saudação e votos de melhoras. Oxalá nos possamos encontrar todos em Junho. A publicação desta lista não implica a entrada automática destes camaradas para a nossa tertúlia. É claro que todos, sem excepção, serão bem vindos. A existência de endereço de e-mail é fundamental para podermos comunicar regulamente uns com os outros. Cada um, respeitando as nossas regras de admissão, fará o seu pedido. Os camaradas que já fazem parte da tertúlia, vêm assinalados com um asterisco (*). (LG).
EX-MILITARES DA CCS DO BART 2917 - BAMBADINCA (1970/72)
1 ___________________________________________
JOSÉ ANTÓNIO ANJOS CARVALHO
Coronel (na altura, major)
Telefone - 21 851 45 02 / Telemóvel - 91 764 41 11
E-Mail j_a_carvalho@netcabo.pt
Morada:
Rua General Silva Freire, nº 12 7º Esqº
1800-210 - LISBOA
2 ___________________________________________
JORGE VIEIRA BARROS E BASTOS
Coronel (na altura, major)
Telefone - 21 390 56 64 / Telemóvel - 91 401 25 98
E-Mail - Não tem
Morada:
Rua Ricardo Espírito Santo, nº 4 - 4º Drtº
1200-791 - LISBOA
3 ___________________________________________
GUALBERTO MAGNO PASSOS MARQUES
Capitão
Telefone 289 86 25 83 / Telemóvel 96 630 33 52
E-Mail gualbertomarques@yahoo.com.br
Morada:
Avenida Olivença, Bloco C, 11º andar Drtº Edifício Olivença
8000 – 565 FARO
4 ___________________________________________
ABILIO FERREIRA MACHADO
Alferes
Telefone / Telemóvel - 91 782 21 71
E-Mail abiliomachado@oniduo.pt
Morada:
Rua Ana da Fonte, Nº 74 Gueifães
4470 – 495 MAIA
5 ___________________________________________
ANTERO MAGALHÃES PACHECO SILVA
Alferes
Telefone / Telemóvel - 91 752 27 77
E-Mail psilva@portugalisolnorte.pt
Morada:
Rua do Salgueiral, 86 -3º drtº
4200-476 PORTO
6 __________________________________________
ANTÓNIO REIS BEATO CARVALHO
Alferes
Telefone 272 331 396 / Telemóvel 96 406 40 04
E-Mail: Não tem
Morada:
Praça Rainha D. Leonor
CASTELO BRANCO
7 __________________________________________
ANTÓNIO RODRIGUES MARQUES VILAR
Alferes Médico
Telefone 234 427 326 / Telemóvel
Rua Bernardino Machado, nº 6
3800 – 155 AVEIRO
8 ____________________________________________
ARSÉNIO CHAVES PUIM
Alferes Capelão
Telefone - 296 582 393 / Telemóvel
E-Mail: arseniopuim@hotmail.com
Morada:
Figueira da Casquete – Qtª de Santa Marta
9680 – VILA FRANCA DO CAMPO
AÇORES
9 ____________________________________________
ARTUR MANUEL FERREIRA VILELA DIONÍSIO
Alferes Médico
Telefone 21 849 86 88 / Telemóvel 96 682 26 39
E-Mail: Não tem
Avenida Afonso Costa Nº 12 – 2º Drtº
LISBOA
10 ____________________________________________
FERNANDO MANUEL CABRITA GUERREIRO
Alferes do Pelotão de Reconhecimento e Informação (PEL REC)
Está muito doente e acamado.
Morada: Rua Professor Vicente França
BARREIRO
11 ____________________________________________
JORGE PEDRO FERREIRA NUNES MATOS
Alferes Médico
Telefone 22 617 28 61 / Telemóvel 91 937 69 76
E-Mail: jorgenunesdematos@lojav.pt
Morada
Rua Alfredo Keill, nº 257-A 5º Drtº
4100 – 049 PORTO
12 _________________________________________
LUÍS RODRIGUES CARDOSO MOREIRA (*)
Alferes
Telefone 21 918 06 76 / Telemóvel 91 904 99 07
E-Mail: luismoreira01@gmail.com
luismoreira27@portugalmail.pt
Morada:
Rua do Miradouro, Nº
CACÉM
13 ________________________________________
FERNANDO BRITO
Major (na altura, 1º Sargento)
Telefone - 239 087 243 / Telemóvel - Não tem
E-Mail: Não tem
Morada:
Rua Mouzinho de Albuquerque, Bloco B12 – 1º Frt.
3030-063 COIMBRA
14 _________________________________________
BENJAMIM SILVA DURÃES
Furriel
Telemóvel - 93 93 93 315
E-Mail: benjamimduraes@hotmail.com
Morada:
Rua Florbela Espanca, Nº 10
2900 – 296 PALMELA
15 _________________________________________
FAUSTO RODRIGUES LOPES NOGUEIRA
Furriel
Telefone - 291 934 474 / 291 223 050 / 291 280 953
Telemóvel - 96 281 28
Email: fnogueira@netmadeira.com
Morada:
Rua São Francisco
FUNCHAL
16 _________________________________________
ISAÍAS ALVES ROCHA
Furriel
Telefone: 253 248 108 / Telemóvel: 96 193 49 89
E-Mail: isaias.rocha@pt.boch.com
Morada:
Rua Afonso Palmeira
BRAGA
17 __________________________________________
JOÃO ANTÓNIO MENDES BORGES
Furriel
Telefone 275 082 548 / Telemóvel 96 271 40 70
E-Mail: jamborges@iol.pt
Morada
Avenida da Anil, nº 1 7º/B
COVILHÃ
18 __________________________________________
JOAQUIM LOURENÇO GIÃO VINAGRE
Furriel Mecânico
Telefone 266 088 083 / Telemóvel 91 927 45 07
E-Mail: jlvinagre@sapo.pt
Morada:
MONTEMOR-O-NOVO
19 __________________________________________
JOSÉ ALBERTO COELHO
Furriel Enfermeiro
Telefone: 284 106 120 / Telemóvel: 96 845 43 44
E-Mail: zecoelho69@sapo.pt
Morada:
Praceta Prof. Montalvão Marques, Nº 3-A / 1º Esqº
BEJA
20 __________________________________________
JOSÉ ARMANDO FERREIRA ALMEIDA
Furriel
Telefone: 234 525 140 / Telemóvel: 96 987 22 11
E-Mail:
Morada:
Largo General Torres
ALBERGARIA-A-VELHA
21 ____________________________________________
JOSÉ CARLOS FERREIRA BERNARDO
Furriel
Telefone: 21 253 81 18 / Telemóvel: 96 703 60 99
E-Mail: joscarbernardo@portugalmail.pt
Morada:
Rua Cidade de Benguela, nº 5 – 3º Esqº
2855 – 064 CORROIOS
22 _________________________________________
JOSÉ DIAS RODRIGUES ANTUNES
Furriel
Telefone: 21 395 04 41 / Telemóvel: 91 755 29 29
E-Mail: josedr.antunes@netcabo.pt
Josedr.antunes@barraqueiro.com
Morada:
Travessa do Possolo, Nº 15 – 1º Drtº
LISBOA
23 ___________________________________________
JOSÉ MANUEL GONÇALVES GANCHO
Furriel
Telefone: 266 499 245 / Telemóvel: 96 404 16 09
Morada:
Rua 5 de Outubro, Nº
ARRAIOLOS
24 __________________________________________
RENATO ROMÃO VIEGAS MENDONÇA
Furriel
Telefone: 289 542 538 /Telemóvel: 96 620 02 17
Morada:
Rua Miraflores, Nº 1 – Porta Nova
8800 – 338 TAVIRA
25 _________________________________________
ROGÉRIO GODINHO PASSINHAS
Furriel
Telefone: 261 743 915 / Telemóvel: 91 905 75 51
E-Mail: novafaceta@oniduo.pt
Morada:
Estrada da Serra de São Julião
SERRA DE SÃO JULIÃO
26 __________________________________________
DAVID J. GUIMARÃES (*)
Furriel da CART 2716 - XITOLE
Telefone / Telemóvel: 93 415 35 65
E-Mail: davidguimaraes@gmail.com
Morada:
PORTO
27 __________________________________________
ANTÓNIO AUGUSTO RODRIGUES
Furriel
Telefone / Telemóvel
Morada:
Rua Bernardo Sequeria, nº 171 2º esqº - São Vitor
4715 – 010 Braga
28 ___________________________________________
ÁLVARO GOMES SANTOS
1º Cabo
Telefone: 232 641 470 / Telemóvel
Morada:
Casal Diz
MAGUALDE
29 ___________________________________________
ANTÓNIO JOSÉ RODRIGUES SOARES BASTOS
1º Cabo (Mecânico de Armamento)
Telefone: 258 824 230 / Telemóvel: 96 502 06 54
E-Mail:
Morada:
Bairro Escola Técnica, 1º bloco – 2º Drtº
4900 – 348 VIANA DO CASTELO
30 ___________________________________________
ANTÓNIO PAIS SILVA
1º Cabo (Escriturário e fotógrafo)
Telefone: 234 884 702 / Telemóvel: 96 863 56 65
E-Mail: (Aguarda-se)
Morada
Rua do Seixo, Nº 51 AVANCA
3860 – 113 ESTARREJA
31 ___________________________________________
ANTÓNIO TAVARES PINHEIRO
1º Cabo (Electricista Auto)
Telefone: 22 763 23 80 / 22 763 35 89 / Telemóvel: 96 580 33 81
E-Mail: (Aguarda-se)
Morada:
Rua Senhor do Horto, Nº 170
4415-851 SANDIM
32 _________________________________________
CARLOS PEREIRA LOPES
1º Cabo (Mecânico Auto)
Telefone 252 373 725 / Telemóvel Não tem
E-Mail Não tem
Morada:
Avenida General Humberto Delgado, Nº 248 Edifício Lameiras
4760 FAMALICÃO
33 __________________________________________
CESAR SANTOS COSTA CAMPOS
1º Cabo (Sapador)
Telefone - 255 213 880 / Telemóvel - Não tem
E-Mail - Não tem
Morada:
Rua Santa Luzia, Nº 70
4560 – 530 PENAFIEL
34 __________________________________________
JOÃO MENDES CABAÇO
1º Cabo (Escriturário)
Telefone 21 920 00 12 / Telemóvel 91 728 44 34
E-Mail: cabelex.geral@mail.telepac.pt
Morada:
MEM MARTINS
35 __________________________________________
JOAQUIM JOSÉ GONÇALVES
1º Cabo (Escriturário)
Telefone / Telemóvel 96 209 15 27
Morada:
Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, Nº
8600 – 581 LAGOS
36 __________________________________________
JOSÉ ANTUNES GONÇALVES SILVA
1º Cabo (Transmissões)
Telefone 239 951 718 / Telemóvel 91 725 33 60
E-Mail iobon@clix.pt
Morada:
São Martinho de Árvore
3020 - COIMBRA
37 __________________________________________
JOSÉ CASTRO FONSECA
1º Cabo (Pel Rec / Barbeiro)
Telefone - 22 537 88 87 / Telemóvel - 91 813 39 04
Morada:
Avenida Fernão de Magalhães, nº 821
4300 PORTO
38 __________________________________________
MÁRIO AUGUSTO ALVES TEIXEIRA
1º Cabo – (Sacristão)
Telefone / Telemóvel: 96 761 50 92
E-Mail: mario.augusto@petrotec.pt
Morada:
Rua do Peixoto, nº 8 - Nascotelos
4800 – GUIMARÃES
39 ___________________________________________
ROGÉRIO RAMIRO SILVA RIBEIRO
1º Cabo – (Enfermeiro)
Telefone 227 121 658 / Telemóvel 96 801 25 87
E-Mail: zeosor@net.novis.pt
Morada:
Rua da Amizade, nº 82 – 1º Drtº
4430 – 130 VILA NOVA DE GAIA
40 __________________________________________
ANTÓNIO LOPES MOURA
Soldado (Mecânico Passarinho)
Telefone 255 963 082 / Telemóvel 91 980 62 35
E-Mail Não tem
Morada:
Rua da Largateira, Nº 117
4595 – 149 PAÇOS DE FERREIRA
41 ___________________________________________
ANTÓNIO SANTOS MESQUITA
Soldado (Pel Rec – Cantina)
Telefone 278 617 469 / 278 616 145 / Telemóvel 91 360 61 89
E-Mail Não tem
Morada:
Rua Luís de Camões, Nº 684
5140 - CARREZEDA DE ANSIÃES
42 _________________________________________
CARLOS DE JESUS
Soldado (Condutor Lerpa)
Telefone 231 416 326 / Telemóvel 91 260 69 40
E-Mail Não tem
Morada:
Bairro de Santo André, Nº 53
3060-239 CODINHÃ (Cantanhede)
43 __________________________________________
FERNANDO ALVES CUNHA
Soldado (Condutor do 2º Cmdt)
Telefone / Telemóvel 96 441 47 98
E-Mail fernando-biker@netvisao.pt
Morada:
POIARES / SANTA MARIA DA FEIRA
44 __________________________________________
FRANCISCO TEIXEIRA MAGALHÃES
Soldado – (Enfermeiro Franco)
Telefone
Telemóvel 96 581 78 88
Morada:
Rua General Torres, Nº 562 – 1º Drtº
4030 – 107 VILA NOVA DE GAIA
45 __________________________________________
JOAQUIM SILVA VALENTE
Soldado (Condutor)
Telefone / Telemóvel 96 319 48 78
E-Mail Não tem
Morada:
Rua das Romãs, Nº 14
4505 - ARGONCIL
46 ___________________________________________
JOSÉ MANUEL SILVA RIBEIRO
Soldado (Pechincha)
Telefone 253 522 087 / Telemóvel 96 549 58 14
E-Mail Não tem
Morada:
Vila Aurora, Nº 194 – POLVOREIRA
4810-295 GUIMARÃES
47 ___________________________________________
JOSÉ DANIEL BRETÃO CHAVES
1º Cabo (Cripto)
Telefone Não tem / Telemóvel 91 959 42 42
E-Mail daniel.chaves@netvisão.pt
Morada:
Rua do Outeiro, Nº 9 1º Esqº
2700 - AMADORA
48 __________________________________________
JOSÉ MARIA SILVA BRÁS
1º Cabo (Condutor do 1º Cmdt.)
Telefone 238 086 248 / Telemóvel 96 636 78 08
E-Mail aguardo
Morada:
Bairro do Fisel, Lote 7 – Casa 72
6271 – 401 SEIA
49 _________________________________________
VIRGILIO MANUEL TEIXEIRA
1º Cabo (Transmissões)
Telefone 22 973 67 47 / Telemóvel 93 297 11 20
E-Mail virgilio.montelectri@sapo.pt
Morada:
Praceta Cidade da Praia, Nº 250
4100 – 162 PORTO
50 __________________________________________
ROGÉRIO JESUS MONTEIRO
Soldado (Condutor)
Telefone 22 971 78 29 / Telemóvel 93 726 54 81
E-Mail Não tem
Morada:
Rua do Apeadeiro, nº 290
4425 - 019 ÁGUAS SANTAS
51 __________________________________________
MANUEL JOAQUIM AMADOR AGOSTINHO
1º Cabo (Corneteiro)
Telefone / Telemóvel 96 315 82 85
E-Mail Não tem
Morada:
Rua Henrique Augusto Pereira, nº 11 3º Drtº
2910 – 532 SETÚBAL
52 _________________________________________
SEBASTIÃO ROCHA SOUSA MAGALHÃES
1º Cabo (Transmissões)
Telefone 255 829 875 / Telemóvel 91 997 26 49
E-Mail Não tem
Morada:
Foz Meinedo
4620 - LOUSADA
53 __________________________________________
JOSÉ TRIGUEIRO PEREIRA LEONES
Furriel da CART 2716 - XITOLE
Telefone 21 812 01 09 / Telemóvel 96 286 88 19
Morada:
Rua Baldaques, nº 5 1º esqº
1900 – 082 LISBOA
FALTAM OS CONTACTOS DE:
- Alferes MÁRIO GONÇALVES FERREIRA;
- Alferes BRAGA GONÇALVES;
- 1º Sargente SAÚL ERNESTO JESUS SILVA, e,
- Furriel CARLOS AUGUSTO REBELO.
MILITARES DE OUTRAS UNIDADES DE BAMBADINCA
A1 ________________________________________
LUÍS MANUEL GRAÇA HENRIQUES (*)
Furriel - CCAÇ 12
Telefone - 21 471 07 36 – Residência / Telefone - 21 751 21 38 - Emprego
Telemóvel - 93 281 08 72 e 93 845 54 75
E-Mail lgraca@clix.pt
luis.graca@ensp.unl.pt
Morada:
LISBOA
A2 __________________________________________
HUMBERTO REIS (*)
Furriel - CCAÇ 12
Telefone / Telemóvel
E-Mail hreis.lda@mail.telepac.pt
Morada:
ALFRAGIDE
A3 ___________________________________________
ANTÓNIO LEVEZINHO (*)
Furriel - CCAÇ 12
Telefone / Telemóvel
E-Mail antoniolevezinho@hotmail.com
Morada:
A4 _________________________________________
JOAQUIM FERNANDES (*)
Furriel - CCAÇ 12
Telefone / Telemóvel
E-Mail:j.fernandes@quimiparque.pt
Morada:
BARREIRO
A5 __________________________________________
MÁRIO BEJA SANTOS (*)
Tenente – PEL CAÇ NAT 54
Telefone / Telemóvel
E-Mail: beja.santos@ic.pt
Morada:
LISBOA
A6 __________________________________________
JOSÉ LUÍS VASCAS CARVALHO (*)
Alferes – PEL DAIMLER 2206
Telefone / Telemóvel
E-Mail: jvacascarvalho@netcabo.pt
Morada:
MONTEMOR-O-NOVO
Última actualização: 10 de Fevereiro de 2007
BENJAMIM DURÃES
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