Guiné > Gandembel > Ponte Balana > Novembro de 1968 > Passagem de uma coluna logística de Aldeia Formosa para Gandembel. A CCAÇ 2317, a que pertencia o Alf Mil Idálio Reis, e que estava aquartelada em Gandembel, tinha um grupo de combate a defender a Ponte Balana (de Abril de 1968 a Março de 1969). Estas duas posições foram abandonadas pelas NT. A "Gambendel das morteiradas" era uma canção de caserna muito em voga quando cheguei à Guiné (LG).
Foto: © José manuel Samouco (2006). Direitos reservados.
Texto do Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1):
Meus caros Luís e restantes Tertulianos
Nestes últimos tempos, não tenho dado notícias. E agora, neste período de graça, solidariedade e de paz, convém explicar este meu mutismo: prometi escrever uma estória, quanto a essa odisseia que foi Gandembel/Ponte Balana.
Não se tem tornado fácil para quem se confrontou com 4 folhas escritas, que estão no Arquivo Militar, e mesmo essas com alguns lapsos. Todavia, no início do próximo ano, começarei a narrar a minha visão, como resulltado de uma permanência pessoal sem hiatos, com a fidegnidade que a minha Companhia merece. E também há-de aparecer algo sobre o dia de Natal.
Desejando a todos, às minhas almas contemporâneas e generosas, que vêm trazendo os seus posts em engrandecimento do teu blogue, um Natal Feliz e um novo Ano com muita saúde e felicidades, a compartilhar irmãmente com os seus mais íntimos
E hoje, relembro esse Natal de 1968, através de um poema de José Valle de Figueiredo, que em Dezembro de 2003, então escreveu o que só os grandes poetas sabem tão bem fazer.
E para ele, que não sei como tomou conhecimento do dia de Natal em Gandembel, os meus agradecimentos.
Eis então:
GANDEMBEL, NATAL 68
Esta linguagem amara
do silêncio mordendo
o coração; o voo leve
da noite, e a navalha
da saudade cortando
a memória - como se
o parco murmúrio
do capim viesse comer
a atenção das armas;
ou como se o tempo
parado no abrigo,
por todos os lados
repartisse a lembrança
de nós próprios.
Mordemos o coração,
e vem o mover leve do silêncio
que nos vai colhendo;
murmuramos o SEU nome.
José Valle de Figueiredo (2)
Fonte: O Corpo da Pátria - Antologia Poética da Guerra do Ultramar
E que o menino do Natal, me ajude neste meu propósito.
Um cordial abraço a dividir por todos.
Idálio Reis.
____________
(1) Vd. posts do Idálio Reis:
19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXIV: Um sobrevivente de Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317)
18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXX: Um pesadelo chamado Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317, 1968/69)
12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P866: De Cansissé e a Fonte dos Fulas ao Baixo Mondego ou como o mundo é pequeno (Idálio Reis)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P953: Cansissé, terra de encantos mil (Parte I) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P954: Cansissé, terra de mil encantos (Parte II) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1016: Cansissé, terra de mil encantos (Parte III) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
(2) José Valle de Figueiredo nasceu em Tondela, em 1942. É um dos intelectuais de referência da direita nacionalista portuguesa. Poeta e crítico literário, foi director do jornal Combate e da revista Commedia. Foi um dos fundadores, em 1980, do movimento Ordem Nova. Em jovem escreveu o célebre Requiem por Jan Pallach, poema que evoca a memória do jovem estudante de filosofia que se imolou pelo fogo na cidade de Praga, em protesto pela invasão soviética.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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