Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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domingo, 13 de julho de 2025
Guiné 61/74 - P27010: Parabéns a você (2395): António Tavares, ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)
Nota do editor
Último post da série de 12 de Julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27005: Parabéns a você (2394): Sargento Mor Paraquedista Ref, António Dâmaso da CCP 121 e CCP 123/BCP 12 (Guiné, 1969/70 e 1972/74)
terça-feira, 1 de abril de 2025
Guiné 61/74 - P26634: Facebook...ando (73): O aerograma-circular que o Movimento Nacional Feminino distribuia no embarque dos militares mobilizados para o Ultramar, explicando o que era e para que servia o "bate-estrada" (António Tavares, ex-fur mil SAM, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72)
Aerograma-circular, sem data, distribuído pelo Movimento Nacional Feminino aos militares que embarcavam para o Ultramar.
Fonte: Esta cópia foi reproduzida na página do Facebook da Tabanca Grande, com data de hoje, 31 de março de 2025, 00:42 pelo António Tavares (ex-fur mil SAM, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72). (O António vive na Foz do Douro, Porto, tem 75 referências no nosso blogue; é membro da Tabanca Grande desde 24 de junho de 2009.) (*)
A data do documento supra deve ser de 1972: sabemos que o aerograma azul era vendido a familiares e madrinhas de guerra, ao preço unitário de 20 centavos (até 1971), e de 30 centavos (a partir de 1971) (a preços de hoje, e na moeda em vigor, seriam 6 e 8 cêntimos, respetivamente).
1. Sabemos que até essa altura (1971/72) o MNF mandara imprimir e distribuir 300 milhões de aerogramas... Até ao final da guerra, calculamos que esse número tenha chegado aos 376 milhões. (**)
O conteúdo deste aerograma-circular (chamemos-lhe assim) é interessante:
(i) era dirigido ao "militar amigo";
(ii) o tratamento era por você (o destinatário tanto podia ser um soldado, como um sargento ou um oficial);
(iii) era o 1º aerograma que o militar recebia;
(iv) pedia-se a atenção para a leitura do impresso, de interesse para o próprio;
(v) havia um parágrafo sobre a criação deste "impresso 'poupa-selos' " (sic) (o Zé Soldado irá chamar-lhe "bate-estradas" mas também, na Guiné, "corta-capim");
(vi) explicava-se a diferença de cor do impresso: o azul tinha um preço de venda; o amarelo era gratuito;
(vii) o encargo com a impressão dos aerogramas era ent6áo de 3 mil contos por ano: "grosso modo", 3 milhóes de escudos a dividir por 30 milhões de aerogramas por ano, dava 10 centavos (0,1 escudo) por unidade;
(viii) 3 mil contos em 1971 seriam, a preços de hoje, 928,6 mil euros;
(ix) deconhecemos o orçamento do MNF, que reecebia um subsídio de 10 mil contos do Ministério da Defesa;
(x) o MNF estimava, em mais de um milhão de contos (!), a poupança que o aerograma representava para os militares e seus familiares (papel, porte correio): a preços de hoje, seria qualquer coisa como 310 milhões de euros;
(xi) ficamos a saber que o produto da venda dos aerogramas azuis "suporta(va) todas as despesas incluindo a produção dos amarelos" (de distribuição gratuita aos militares);
(xii) o "bate-estrada" era, pois, um bom negócio para o MNF (que não tinha as despesas do transporte aéreo, oferecido pela TAP, bem a sua distribuição pelos destinários no terreno, a cargo do Serviço Postal Militar);
(xiii) parece-nos que ser inútil lembrar que dentro do aerograma não se podia incluir "qualquer objeto ou simples papéis": com 10 toneladas de correio diário, o Serviço Postal Militar (SPM) não tinha meios técnicos nem humanos para detetar as fraudes;
(xiv) pormenor que às vezes descuramos: o aerograma (amarelo ou azul) não podia ser, para evitar a sua utilização "fraudulenta", depositado no marco do correio, tinha que ser entregue por mão própria na estação de correios (ou no serviço postal da unidade);
(xv) outro pormenor interessante: a dotação individual (de impressos amarelos) era de 12 aerogramas / mês... (Só em 1973, quando o número de homens nos 3 teatros de operações ascendeu aos 163 mil, a dotação de impressos amarelos terá sido de 23,5 milhões: 163 mil x 12 meses x 12 aerogramas por mês.)
2. Admitamos que em 22 / 24 meses de comissão, um militar tivesse escrito em média 300 aerogramas (o que é muito, havia quem náo escrevesse nenhum, e havia quem escrevesse 3 vezes mais), teríamos no final da guerra 240/250 milhões de aerogramas... (fora as cartas, postais, encomendas).
As contas sáo simples de fazer: 800 mil mobilizados (um terço dos quais do recrutamento local, Angola, Guiné, Moçambique, etc., mas que também escreviam às famílias, a multiplicar por 300 dá os tais 240/250 milhões...
Bate certo com a minha estimativa: 376 milhões de impressos, um terço dos quais não se terão usado (nalguns casos, eram rascunhos, noutros casos seguia um aerograma em duplicado ou até triplicado, quando o militar não parava de escrever; na maior parte dos caso, iam para o lixo, os rascunhos, já que eram à borla..)
Não final terão circulado 250 milhões de aerogramas do Minho a Timor e de Timor ao Minho... É uma estimativa realista... e que nos ajuda a ter uma ideia de grandeza da logística que esta guerra, a milhares de quilómetros de casa, implicou para as nossas Forças Armadas.
________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 31 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26633: Facebook...ando (72): Timor-Leste: 1º ministro Kay Rala Xanana Gusmão faz visita surpresa à ESFA - Escola São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá, em 22 de março - III (e última) Parte(**) Vd. poste de 28 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23119: Bibliografia (50): Movimento Nacional Feminino: Área de apoio material: secção de aerogramas (Sílvia Espírito-Santo, excerto de artigo em preparação, cortesia da autora)
terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Guiné 61/74 - P26307: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (36): uma guerra que também era... ototóxica!
Segundo o nosso camarada Rui Vieira Coelho (ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74, hoje médico, reformado, natural do Porto ou a residir no Porto), "nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate" (...) (*)
Foto: © António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
Um dia sonhaste que tinhas uns 'ouvidos novos' . Ou melhor, sonhaste que tinhas encontrado no lixo uns 'ouvidos usados'... e que os mandaste recuperar. De outra vez, o sonho era que tinhas recebido em "herança", de um amigo querido que acabara de morrer, um par de próteses auditivas novinhas em folha, além de uns "mocassins" (que ele nunca chegara a usar)...
Surdo que nem uma porta, o teu amigo nunca se habituara aos malditos aparelhos. Deixou de conviver, de aparecer na tertúlia dele, isolou-se e morreu sem um ai nem um ui, vítima do Covid-19...
Afinal, tens má consciência por toda uma vida em que foste predador do planeta. Agora, tarde e a mais horas, 'andas numa de reciclagem', gozam contigo os teus filhos e os teus amigos. Reciclas tudo o que podes, até querias pôr "ouvidos em segunda mão", reciclados, imagina!... (Pois é, não sabes que raio de planeta vais deixar para os teus netos e bisnetos, se os tiveres.)
− Rins, fígados, corações, e outros órgãos, dá para transplantar... Mas ouvidos, ó caro professor ?!... Implantes cocleares, queria o senhor dizer − gozou contigo o otorrino.
− Có... quê ?! ... Estou a ouvir mal, desculpa.
Foste fazer um audiograma, mas primeiro passaste pelo otorrino, teu velho amigo e conhecido, para limpar a "merda" dos ouvidos. Um deles tinha "favos e favos de mel e cera".
− Um "pedregulho"! − disse-te ele, para teu espanto, apresentando-o na cabeça do dedo mindinho.
Ficaste assustado. Costumavas usar cotonetes...
− Qual quê ?!... Os ouvidos limpam-se com os cotovelos... E também podes usar um óleo, até o creme Nívea, para lubrificar o ouvido... Todos os dias, um bocadinho.
Há já uns anos que ouvias mal, já não ouvias os alunos da terceira fila na sala de aulas. Muito menos o safado e emproado locutor de serviço ao telejornal. Deixaste de ouvir e ver televisão, que, além disso, só te trazia más notícias. A única boa que tinhas ouvido em vida fora a do 25 de Abril de 1974...
Nem podias ir ao teatro, que os atores só falavam para eles e entre eles e o ponto. E a primeira fila era só para os convidados, os críticos e os amigos bons de ouvido. E mesmo para ouvir a tua querida 9.ª sinfonia tinhas que levar um "funil" (punhas a mão atrás da orelha, a fazer de funil), o que irritava o espetador da fila de trás. E logo tu que eras um melómano... Então, música de câmara, só sentado na primeira fila, o pescoço esticado e a mão em funil.
− É mau sinal um gajo começar a desistir. De fila em fila acabas na última. E depois é o corredor do hospital, o terminal da morte.
Mas não eras tão melómano como aquele professor do conservatório nacional de música que te garantiu que de vez em quanto tinha que ir a Berlim "limpar o ouvido"...
− "Limpar o ouvido" ?...
− Sim, ouvir a orquestra filarmónica de Berlim.
O sacana do otorrino, teu amigo, há uns anos atrás, lá no consultório dele, encolheu os ombros, e interpelou-te, com ironia:
− Mas o que é o senhor professor quer que eu lhe diga ?!... A idade não perdoa, meu caro, a perda auditiva é irreversível"...
− Merda para a idade, senhor doutor!... E então os milagres das novas ciências médicas para cujo peditório também dei durante anos e anos ? Eu quero uns ouvidos novos, quero uma anca nova, quero uma recauchutagem do esqueleto, como deve ser, da cabeça aos pés... Tudo a que tenho direito...
O otorrino riu-se à gargalhada.
− A saúde custa cada vez mais cara. É já um bem de luxo. Nunca será para todos. E o SNS, desculpa que te diga, será para os pobrezinhos.
Nunca foste egoísta, agora estás a sê-lo... Andaste cinquenta anos a descontar para a ADSE (e continuas a descontar), nunca tomaste um medicamento, nunca foste à faca, nunca gastaste um chavo ao SNS, nem ao provedor da santa casa da misericórdia lá dá tua terra de que eras irmão...
Não jogaste, não ganhaste, não arrombaste os cofres da santa casa da misericórdia quando foste mesário. Agora andas a fazer as contas à vida: tanto para os ouvidos, tanto para a anca, tanto para os joelhos, tanto para as cataratas, tanto para a farmácia...
− E que Deus nos livre do raio do Alzhemeir! − pediste tu, à tua médica de família como "prenda de Natal"....
E no outro dia foste à audiologista:
− Otites líquidas, teve em pequeno? −perguntou-te ela, autoritária, inquisitorial.
− Minha querida, quem as não teve, em pequenino, ou no Portugal pequenino em que nasci, vivi e cresci ?
E depois acrescentaste:
− E o meu médico era a ti'Gertrudes, minha vizinha, da minha rua, guardadora de segredos terapêuticos milenares... Do sarampo à varíola, da pleurisia aos furúnculos, do quebranto à espinhela caída, tinha soluções milagrosas para tudo... Até para a epilepsia, que era a doença do diabo. Também tirava o diabo do corpo da gente mas nunca vi, era sessão interdita às crianças... E alguns desses preparos eram "repugnantes", como a merda de galinha em compressas no peito...
− Médicos ?... Só havia um lá na terra, e a gente só o chamava no estertor da morte ou nalgum parto de má hora −
E por descargo de consciência, ainda a esclareceste sobre o teu passado:
− Depois disso, estive no século passado na Guiné, na guerra, ouviu falar ?!... A menina é jovem, já nasceu depois do 25... Terá o quê, trinta anos ?!... E mesmo que fosse antes, nunca iria para a tropa. Só se fosse enfermeira paraquedista, conheci algumas na Guiné... Mas contavam-se pelos dedos as mulheres que foram à guerra... E foram porque quiseram e o Salazar deixou porque lhe dava jeito...
− Já nasci nos anos 90, mas ouvi falar! − ripostou ela.
E enumeraste um rol de situações que só se viam nos filmes:
− Tiros, explosões, emboscadas, minas anticarro, acidentes com viaturas, quedas mais ou menos aparatosas, picadas, solavancos, cabeçadas, cones de fogo nas trombas, trambolhões, bezanas, esquentamentos, febres palúdicas... sabe como são estúpidas as brincadeiras da guerra, quando se tem vinte anos, sangue na guelra e as hormonas a rebentar a pele...
− Ah!, já sei!... Quinino, ototoxicidade!
− O quê... ?
− Há certos medicamentos que são otóxicos... Já passaram por aqui alguns antigos combatentes da guerra do Ultramar que se queixavam do mesmo mal... Surdos de como o senhor, surdos que nem uma porta!
− Ah!, o quinino, a pastilha LM, do Laboratório Militar, que a gente tomava regularmente, às refeições... Por causa das sezões, malária ou paludismo... Lembro-me !
E, retomando o fôlego:
− Eureka!... Se me lembro !... Um pacotinho de sal e outro de quinino, ao almoço!... O quinino, pelo menos duas vezes por semana.
−Parece haver evidência científica de que o quinino pode provocar danos ao sistemas coclear e/ou vestibular"...
− Desculpe, não percebo nada da anatomia e da fisiologia do ouvido... Mas com essa do quinino, é que a menina me estar a lixar!... Não sabia, mas devia saber, porra, afinal andei anos e anos a falar de saúde e segurança do trabalho, de surdez profissional, de efeitos extra-auditivos do ruído como o stress..
− Não sou farmacêutica, mas há para aí mais do que uma centena de medicamentos ototóxicos. Acrescente-lhe o antibiótico, a penicilina, medicamentos oncológicos...
− Porra, tomávamos aos milhões, a penicilina...
− Agora, não há remédio, e não precisa de dizer palavrões... Sou sensível de ouvidos... Ou melhor: felizmente há remédio. Deixe isso comigo.
− Remédio ?!...
− Vamos lá ver o audiograma e, depois, pôr estes "brinquinhos" no ouvido, devidamente regulados...
− Com essa é que me tira o sono, que a guerra era tóxica, eu já o sabia, mas que também podia ser ototóxica, não me passava pela cabeça (nem pelo ouvido)!... Devia pedir uma indemnização ao Estado!...
− É mau para o Estado... mas é bom, para nós, multinacionais que vendemos aparelhos auditivos, um negócio de milhões (aqui para nós que ninguém nos ouve)... − e olhou para a porta do gabinete para confirmar que estava fechada.
Não podias estar mais grato à tua jovem audiologista:
− Já percebi, é bom que os antigos combatentes não saibam certas coisas que faziam mal à saúde... Afinal, só os juízes é que são cegos, surdos e mudos como o macaco...
− E têm que ser bem pagos por isso... − arrematou a audiologista. − Administrar a justiça sem olhar a quem.
− Minha querida, estou encantado por ouvi-lo... Sabe, estou até a simpatizar consigo!.
... Saíste da loja com uns 'ouvidos novos'. Feliz como o gaiato, que acaba de receber um brinquedo novo. Podias agora ouvir todas as conversas, mesmo baixinhas... Até as bisbilhotices e as conversas dos espiões!... Mais importante: podias ouvir o mar no mês de agosto, e o vento a dar nos búzios dos moinhos da tua infância...
Algumas conversas bem tu as dispensavas, é certo... Mas não há mundos perfeitos... Não se pode ter tudo. Mais vale, afinal, andar neste mudo de muletas do que no outro em carretas...
Em boa verdade, compraste uns aparelhos novos. Os do teu amigo, esses, é que foram para a "pubela", para a reciclagem... Que desperdício!.,. Também não quiseste os sapatos do defunto, uns belíssimos e confortáveis "mocassins" que ele comprara em Paris... Por superstição, por preconceito, por respeito .... Ias lá usar sapatos e próteses auditivas de um morto!
Mas queixaste-te, à menina audiologista, que era era indecente pedirem-te 8 mil euros por um aparelho auditivo XPTO... Mesmo com desconto de 50% por seres conhecido da casa... e a tua patroa já ser cliente da marca.
Preferias uns, em segunda mão, reciclados. Do teu amigo defunto, que nunca os usou, se vencesses a repugnância da morte e dos mortos. Sentiste -te ofendido com o preço altamente inflacionado do raio dos aparelhos, tu que lutaste na guerra pela tua Pátria e que, se calhar, foras vítima da ototoxicidade provocada pelas drogas antimaláricas do Laboratório Militar...
_________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 16 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...
(**) Último poste da série > 6 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26119: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (35): Nunca digas "coragem!", ao ouvido de quem está a morrer e sabe que vai morrer
quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Guiné 61/74 - P26204: Cem pesos, manga de patacão, pessoal ! (10): paguei o mesmo que o Carlos Vinhal, na viagem de férias, ao Porto, em meados de 1971 (Esc. 6430$00, o equivalente, a preços de hoje, a 1944 euros), mas... em três prestações (António Tavares, ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72)
(ii) essa importància, vá lá, foi paga em três prestações ("suaves"):
- 4.430$80, em 3 de agosto de 1971;
- 500$00, em 22 de setembro de 1971;
- 1.500$00, em 21 de outubro de 1971,
(iv) o escudo, na época, era trocado, em Bissau, "com uma agiotagem de 10%.";
(vi) viajou a 4 de agosto de 1971 e regressou no dia 7 de setembro de 1971;
(ix) ... "os camaradas mais atentos verificarão que acabei de pagar a totalidade das prestações depois da minha chegada de regresso ao CTIGuiné; porque o 'patacão' não transbordava das algibeiras, tinha de aproveitar todas as facilidades de pagamento autorizadas"
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 7 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15216: O nosso querido mês de férias (18): Viagem Bissau-Lisboa-Porto-Lisboa-Bissau paga a prestações porque o patacão não transbordava das algibeiras (António Tavares)
sábado, 13 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25739: Parabéns a você (2290): António Tavares, ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)
Nota do editor
Último post da série de 12 de Julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25736: Parabéns a você (2289): SMor Paraquedista António Dâmaso das CCP 121 e CCP 123 do BCP 12 (Guiné, 1969/70 e 1972/74)
terça-feira, 27 de fevereiro de 2024
Guiné 61/74 - P25219: As nossos geografias emocionais (23): O Hospital Militar Principal (HMP), à Estrela, e o Anexo, a Campolide, que eu conheci (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / Antóno Tavares / Armando Pires)
Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > O saudoso Carlos Filipe (Porto, 1950-Lisboa, 2017), radiomontador, CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74): esteve internado 32 dias em Bissau, no HM 241, antes de ser evacuado, com hepatite, para o Hospital Militar da Estrela em Lisboa, onde iria permanecer 173 dias...
Foto (e legenda); © Juvenal Amado (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]Figura 1 – Esquema do HMP, evidenciando as três áreas geograficamente separadas: a área 1 (o "núcleo histórico"), na Calçada da Estrela, contíguo ao Jardim da Estrela; a área 2 (nas traseiras da Basília da Estrela); e a área 3, delimitada pelo início da Av Infante Santo (no sentido descendente) e a Rua de Santo António à Estrela (que inclui o edifício de 12 pisos, a Casa de Saúde da Família Militar, construído já 8 em 1973). O Anexo, a Campolide, não consta aqui desta figura.
Carlos Rios, ex-furriel mil, CCAÇ 1420 (Fulacunda, 1965/67)
(…) Fui dos que passou pelas instalações e sofri as piores atribulações [n]aquelas miseráveis e desumanas instalações, principalmente o anexo (Texas), do Hospital Militar Principal (HMP).
Ali passei seis anos com imensas operações, vindo a ficar estropiado, de 1966 a 72.
O director era um déspota bem como a maioria do pessoal ligado àquilo que deveria ser o lenitivo para as misérias que nos atingiam mas que afinal se vinha a transformar como que um castigo por termos sido feridos. De tal maneira que já no Depósito de Indisponíveis, onde se encontrava o pessoal em tratamentos ambulatórios, termos sido metidos nas escalas de serviço, como se os doentes em tratamento estivessem numa Unidade.
Imagina um Oficial de dia, quase maneta, e eu próprio, já coxo, a fazer o içar da bandeira na porta de armas, vindo ao exterior a comandar a guarda e dar ordens militares para o caso. Fui um espectáculo macabro, eu só consigo andar com uma bengala. Calcula o ridículo.
No decrépito anexo não havia um espaço onde pudessemos ter um bocadinho de lazer, havendo apenas uma horrorosa cantina pequena para largas centenas de todo o tipo de doentes, cegos, amputados, loucos, etc...tudo á mistura.
Não podiamos estar nas camas depois das nove horas nem sair para o exterior antes das catorze, exceptuando os acamados. Era-nos sugerido, quase obrigado, que não andássemos fardados.
Enfim atribulações e peripécias dos pobres que eram arrancados às familias para servir alguém. (...) (**)
Rogério Cardoso, ex-fur mil, Cart 643, Águias Negras (Bissorã, 1964/66)
(…) Também eu passei as passas do Algarve no chamado Texas [na Rua da Artilharia 1]. Estive lá de fevereiro de 1966 a meados de 1967.
De facto o Director era uma pessoa intragável, assim como muito do pessoal lá destacado. Voltando ao director, assisti uma vez, ele dar uma bofetada num 2º sarg enf por ele não ter chamado á atenção de um fur mil que estava deitado em cima da cama, pelo meio da manhã. O homem até chorou, pela humilhação sofrida. (…)
(…) Estou lembrado de mais uma cena humilhante. Nós, sargentos, instalados no anexo Texas, frequentemente tínhamos consultas no HMP, à Estrela, estou a falar no ano 1966. A deslocação era feita numa carrinha Mercedes, salvo erro de 18 lugares.
Até aqui tudo bem, mas a nossa vestimenta era pior do que a de um recluso. Calças de cotim com dezenas de carimbos com uma estrela, com os dizeres HMP, camisa branca sem colarinho tipo moço de estrebaria, também com carimbos, casaco cinzento de golas largas (capote cortado a 3/4) e barrete branco de algodão, igual aos que os velhotes usavam para dormir no século XIX, além de sapatilhas brancas.
A nossa vestimenta era mais do que ridícula, os reclusos eram uns "pipis" comparando. Era o tratamento a que os combatentes que tiveram azar, eram sujeitos. (…) (**)
Jorge Picado, ex-cap mil, CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72
(...) No Hospital, Anexo (ou "Texas"), existente na Rua de Artilharia 1, tive as primeiras visões horríveis, do que me poderia esperar, qualquer que fosse o TO que me saísse na rifa.
Para chegar à zona das consultas tinha de percorrer vários corredores (ou seria só um muito comprido, mas dividido por várias portas?), atulhados com macas ocupadas por estropiados brancos e negros, meio ao "Deus dará".

António Tavares, ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)
(...) Em Janeiro de 1969 estive internado no anexo do Hospital Militar Principal, Rua Artilharia 1, onde vi e assisti a episódios sem classificação...
(...) Conheci o Hospital Militar Principal, à Estrela, e o Anexo, na Rua de Artilharia Um, a Campolide, em dois momentos diferentes da minha carreira militar: primeiro como internado (Março a Maio de 67) e a seguir como enfermeiro (Junho/67 a Outubro/68).
Sim, de acordo, o Director era uma besta!
(*) Último poste da série > 26 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25215: As nossas geografias emocionais (22): O antigo Hospital Militar Principal (HMP), Lisboa, Estrela
(**) 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8455: Memória dos lugares (156): Texas, o anexo do Hospital Militar Principal, na Rua da Artilharia Um, em Lisboa (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / António Tavares)
(***) Vd. poste de 22 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8459: (Ex)citações (142): Em defesa do Hospital Militar Principal (Armando Pires, ex-Fur Mil Enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70)
quinta-feira, 13 de julho de 2023
Guiné 61/74 - P24473: Parabéns a você (2186): António Tavares, ex-Fur Mil SAM da CCS / BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 12 de Julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24470: Parabéns a você (2186): SMor Paraquedista Ref António Dâmaso da CCP 121 e 123/BCP 12 (Guiné, 1969/70 e 1972/74)
quinta-feira, 11 de maio de 2023
Guiné 61/74 - P24307: Facebook...ando (27): Op Neve Gelada, na zona de Campã / Cantiré, 5 km a norte de Canquelifá, onde estavam as bases de fogos (morteiro 120 mm e foguetões 122) usados contra Canquelifá
Foto (e legenda): © José Marques (2023). Todos os direitos reservados.
1. Seleção de comentários, gerados no Facebook da Tabanca Grande (*), na sequência da publicação do poste P24305 (**):
(i) Tabanca Grande:
Depois do ataque e destruição da tabanca de Canquelifá, 18 de março de 1974, por fogo IN de morteiro 120 mm e foguetões 122 mm), foi desencadeada a Op Neve Geada, de 21 a 23 de março de 1974, tendo sido batida a zona de Campã / Cantiré, sector L4 (Piche), a cerca de 5 km, a noroeste Canquelifá, numa ação levada a cabo pelo BCmds da Guiné, a três agrupamentos.
Na zona estava referenciada uma base de fogos IN. No dia 21, pelas 14h45, a base de fogos foi assaltada, tendo sido apreendidos:
- 3 morteiros 120 mm;
- 367 granadas de morteiro 120 mm;
- 1 LGFog RPG-2; (iv) 2 espingardas automáticas Kalashnikov;
- e material diverso.
(ii) O cor 'comando' ref Raul Folques acrescentou o seguinte:
Na Op.Neve Gelada, zona de Canquelifá, o Batalhão de Comandos da Guiné capturou ao IN_:
- 3 mort. 120mm completos;
- 1 tubo de mort. 120mm , 2 tripés, 1 prato/base;
- e 367 granadas de mort.120mm.
(iii) O Cherno Baldé levantou a questão da localização das bases de fogos:
Tabanca Grande Luís Graça, não fosse essa operação dos Comandos Africanos, efectuada na localidade de Campã para aliviar a pressão sobre Canquelifá, ainda hoje continuariam a pensar que as bases de fogo se localizavam sempre a partir dos territórios vizinhos e assim justificar a impotência do exército português de fazer parar estes ataques.
Cherno, o PAIGC tinha camiões russos, em março de 1974 (e já antes, desde pelo menos 1968)... Podia perfeitamente penetrar com os morteiros 120 no território da então colónia portuguesa da Guiné... A partir de março de 1973, devia sentir-se mais "à vontade" com a proteção do Strela...
O cor 'comando' Raul Folques, "Torre e Espada", que comandava o Batalhão de Comandos da Guiné na Op Neve Gelado (mas também o cor 'comando' Carlos Matos Gomes, que comandava um dos três Agrupamentos) é que nos pode confirmar hoje (já não é segredo de Estado) se entrou ou não na República da Guiné e se as bases de fogos dos morteiros 120 mm (e dos foguetões 122 mm) estavam ou não em território da Guiné-Bissau, como parece sugerir o Cherno Baldé...
Em relação à localização das bases de fogo, verificamos pela carta de Canquelifá (1957) (Escala 1/50 mil), que Campã (e não Campiã), uma antiga tabanca, ficava a 5 km, a norte de Canquelifá... Deve ser sido aqui que o PAIGC posicionou os morteiros 120 mm, cujo alcance máximo era de 5700 metros... Cantiré ficava um pouco mais mais longe (cerca de 7 km em linha reta)...
(v) Esclarecimento de António Tavares:
Gosto
Em Copá, nos meses de Janeiro e Fevereiro de 74, caíram algumas centenas de granadas deste morteiro.
Contávamos todas as saídas e, poucos segundos depois estávamos a contar as explosões junto de nós e só ficávamos descansados quando explodia a última de cada série, felizmente sem consequências físicas para nenhum de nós.
quarta-feira, 13 de julho de 2022
Guiné 61/74 - P23425: Parabéns a você (2082): António Tavares, ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 12 de Julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23423: Parabéns a você (2081): Sargento-Mor Ref António Dâmaso (CCP 121 e 123/BCP 12, Guiné, 1969/70 e 1972/74)
segunda-feira, 14 de março de 2022
Guiné 61/74 - P23076: (De)Caras (185): Isabel Amora (1946-2020), a cantora "ié-ié" que atuou em Jabadá, para os militares da CCAV 2484 (1969/70) (Manuel Antunes / Fernando Feio)... mas também em Galomaro, em 1971, ao tempo do BCAÇ 2912 (António Tavares)
Isabel Baptista, de seu nome, de muito cedo "começou a mostrar os seus dotes artísticos e musicais cantando o “IÉ IÉ” (estilo de música pop surgido na França, Itália, Espanha e Portugal no início da década de 1960). Há quem diga que o seu estilo preferido era o seguido por Rita Pavone, cantora com sucesso na música Italiana. Infelizmente não temos nenhum registo de som da Isabel a Solo." (...)
(...) "Entre 1965 e 1966, no Teatro Monumental, em Lisboa, teve lugar o famoso Concurso Ié-Ié, e Isabel Amora cantou no evento (embora fora de competição) acompanhada pelos Jovens do Ritmo, da Amora - localidade onde nasceu e que guardou como apelido artístico. (...)
Mas em Jabadá Isabel deve ter atuado a solo... Segundo a fonte que estamos a citar (**), "antes do lançamento do Duo Elas, Isabel pela mão da Senhora D. Helena Félix, parte para o Ultramar para cantar para os militares. O seu empresário era o Sr. Munhoz, pai da Sra. D. Eunice Munhoz, com escritório na Praça da Alegria em Lisboa. (...).
(...) "Alguns anos depois vão para o Porto, onde passam a viver durante um tempo e actuam em vários Casinos portugueses. Acabado esse contrato, a Paula decide casar-se e o Duo dissolve-se. A Isabel retorna a Moçambique, onde encontra família e onde faz a sua vida a cantar com um novo contrato, regressando a Portugal no final deste e dando por finalizada a sua carreira artisitica. A sua vida deixa de ser artística e passa a viver uma vida fora dos palcos. Mais tarde casa-se, mas divorcia-se uns anos a seguir" (...)
3. Diz o António Tavares, também em comentário (*):
(...) "No dia 31 de Março de 1971 houve festa no Quartel de Galomaro. O BCaç 2912 recebeu a Isabel, Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia. Os quatro actuaram a solo e em conjunto, num palco construído para tal fim, na parada do quartel.
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Notas do editor:
(*) 11 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23069: Foto à procura de... uma legenda (163): Uma imagem relativamente rara, esta, de uma cançonetista, de minissaia, a atuar em Jabadá, por volta de 1969/70
(**) Blogue As raízes da Amora > 8 de novembro de 2020 > Isabel Amora e o Duo ELAS
(***) Último poste da série > 16 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22812: (De)Caras (184): Sene Sané, régulo de Pachisse, com capital em Canquelifá, tenente de 2ª linha, vogal do Conselho Legislativo, falecido em 1969
terça-feira, 13 de julho de 2021
Guiné 61/74 - P22367: Parabéns a você (1978): António Tavares, ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)

Nota do editor
Último poste da série de 12 de Julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22364: Parabéns a você (1977): Sargento-Mor Paraquedista Ref António Dâmaso, CCP 121 e CCP 123/BCP 12 (Guiné, 1969/70 e 1972/74)
segunda-feira, 13 de julho de 2020
Guiné 61/74 - P21163: Parabéns a você (1838): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de Julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21160: Parabéns a você (1837): António Dâmaso, SMor Paraquedista Ref das CCP 122 e CCP 123 (BCP 12 / Guiné)
sábado, 13 de julho de 2019
Guiné 61/74 - P19974: Parabéns a você (1653): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de Julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19970: Parabéns a você (1652): António Dâmaso, SargMor Paraquedista Ref das CCP 122 e 123/BCP 12 (Guiné)
sexta-feira, 26 de outubro de 2018
Guiné 61/74 - P19139: Efemérides (294): Há 49 anos, neste dia 24 de Outubro, no RAP 2, soube que estava mobilizado para a Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

Camarigos,
Há 49 anos neste dia 24 de Outubro soube que estava mobilizado para a Guiné. Era o meu dia de “Casamento” com o Teatro de Operações do Comando Territorial Independente da Guiné.
A proclamação foi publicada na Ordem de Serviço n.º 250 de 24.10.1969 do RAP 2, que transcrevo:
Nomeação de pessoal para o Ultramar
- Que segundo nota n.º 52400, Pº. 6/4 - HC de 13.10.1969 da RSP/DSP/ME, o pessoal abaixo indicado foi nomeado para servir no Ultramar nos termos da alínea c) do Art.º 3.º do Dec. 42937 de 22/4/60
BCaç.2912/C.Caç.2699, 2700 e 2701/RI 2
B. Caç.2912
ALIMENTAÇÃO – RI 2/RAP 2 ANTÓNIO CARLOS S. TAVARES – 2989/69 – NM 03175469.
Ao longo dos anos outros nomes e números foram escritos em Ordens de Serviço. Com certeza só a alínea c) do Art.º 3.º do Dec. 42937 de 22/4/60 era comum e aterradora para um jovem em idade militar.
O Quartel de Vila Nova de Gaia – RAP 2 – viu partir milhares de jovens para a Guerra Colonial.
Recebia os Soldados de toda a região Norte mortos no Ultramar.
Nos três meses que estive no RAP 2 vi partir e regressar muitos militares.
Não sei qual o momento mais emotivo a que assisti. A partida era uma incógnita para o desconhecido… Para a Guerra!
Os familiares acompanhavam os militares até aos cais de embarque: Estação das Devesas ou um Cais Marítimo de Lisboa.
A chegada talvez fosse mais emotiva ao receber os Heróis do Ultramar.
As ruas de Rodrigues de Freitas e dos Polacos enchiam-se de pessoas. Estas, quando avistavam os camiões da coluna auto, que transportavam os regressados militares, gritavam e choravam de emoção a chamar os familiares que estiveram na guerra durante dois e até mais anos.
As barreiras colocadas no perímetro da Porta de Armas facilmente eram derrubadas pelo mar de gente.
Os Comandos do quartel davam ordens para os militares, que faziam a segurança, recolherem ao quartel. Assim aconteceu com o meu pelotão.
Para todos uma infinidade de tempo decorria entre os períodos em que o militar entrava no RAP 2 e o que abraçava a família.
Militar que regressava diferente do Homem que tinha partido.
A chamada Peluda ficava para uns meses mais tarde.
O Quartel da Serra do Pilar ao longo dos anos teve vários nomes, a saber:
- Maio 1889 a 1897 – Brigada de Artilharia de Montanha;
- 1897 a 1911 – Baterias Destacadas do RA6, RA4 e RA5;
- 1911 a 1926 – Regimento de Artilharia n.º 6;
- 1926 a 1927 – Regimento de Artilharia n.º 5;
- 1927 a 1939 – Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5;
- 1939 a 1975 – Regimento de Artilharia Pesada n.º 2;
- 1975 a 1993 – Regimento de Artilharia da Serra do Pilar;
- 1993 a Julho 2014 – Regimento de Artilharia n.º 5 e
- a partir de Agosto de 2014 - Quartel da Serra do Pilar.
Um Quartel onde assentaram Praça gerações familiares talvez predestinadas para a arma de Artilharia.
Abraço do
António Tavares
Foz do Douro, Quarta-feira 24 de Outubro de 2018
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19135: Efemérides (293): Homenagem aos paraquedistas que completaram 50 anos de brevet (1968-2018): Tancos, 27 de setembro de 2018 (Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil pára, 1ª CCP/BCP 21, Angola, 1970/72)