Abraço,
Virgilio
2. Ainda há tempo aqui falámos do Jorge Teixeira e do seu pai, que serviram ambos na India... E eu sugeri ao Virgílio Teixeira que partilhasse connosco o "álbum da família", respeitante à Índia. Veja-se o comentário dele, num poste do Cláudio Brito, neto do Fermando Brito (**):
(...) O meu pai também embarcou para a India, não no Afonso de Albuquerque, mas no Quanza em finais de 1955, tinha então 38 anos. Era militar de carreira.
A primeira carta que recebemos com uma foto, no topo lá dizia: 'A bordo do Quanza a caminho da India' lembro-me como se fosse hoje. Depois mandou outra foto e carta também de Port Said no Egipto, um mês depois.
Ele foi em 1955 e regressou já no 3º trimestre de 1958. Tinha cá 5 filhos, um dos quais tinha acabado de nascer, a 11 de dezembro desse ano.
O meu irmão mais velho, tem agora 79 anos, contra os meus 78 anos, também ele fez o mesmo percurso do pai, só que já no fatídico ano de 1961, tendo ficado prisioneiro durante mais de 5 meses, debaixo das botas daqueles indianos. Tinha então, apenas 20 anos, era militar de carreira e tinha ido antes do tempo para a tropa como voluntário, no intuito de arranjar uma profissão, que depois acaba por cumprir durante 10 anos. Ainda fez uma comissão em Angola de 63 a 66, ele a chegar de Angola e eu a partir para a Guiné.
A vida na India era dura, mas não sei se podemos comparar como um todo, com a nossa Guiné. O meu pai ainda fez uma comissão em Moçambique, entre 66/68, e voltou a fazer outra também na Guiné, entre 72/74, sendo um dos últimos militares Portugueses a abandonar a Guiné.
Tenho poucas fotos do meu pai na Ìndia, mas sei que ele se relacionava bem com as entidades locais, que lhe valeram, saber através deles de amigos, se o meu irmão estaria vivo ou não, essa noticia chegou antes da informação oficial, que era sempre filtrada.
(...) Só queria saudar-te e gostava que mais jovens, da geração dos meus filhos, com 47, 48 e 50 anos, se virassem um pouco para a nossa história, que foi muito dura para tantas gerações.
Não tenho de me queixar muito, mas estão saturados de eu lhes falar sempre da Guiné, e das minhas mais de 1000 fotos que as coloco diariamente no meu computador, cada dia, tem uma como pano de fundo.
(...) Obrigado também por honrares Portugal, uma grande Nação, que tinha um grande Império.
Um abraço, do filho de um companheiro do teu avô, que passou pelos mesmos locais. (...)
3. E depois em comentários dirido ao editor do blogue, acrescentou o seguinte, relativamente à proposta ara partikha das fotos da Índia:
(...) Luis, isto é um caso de família, que não é ainda altura de partilhar. Tudo isto está escrito naquilo que eu nomeei como a história da minha vida, há 10 anos que está lá. Existem pormenores que tenho de conversar com o meu irmão, já que o meu pai já não está, mas eu conheço toda a história que motivou a antecipação da tropa do meu irmão, e que levou a ter de ficar prisioneiro, que não foi fácil.
Sabes, todos conhecem o episódio no campo de prisioneiros de Pondá, no qual foram perfilados uma quantidade de militares, entre os quais o meu irmão, com 20 anos, de frente a uma bateria de metralhadoras. Felizmente o fuzilamento não aconteceu. Ele agora está acamado há anos, totalmente dependente para todas as funcionalidades mais banais. Todos sofremos com isso. Vai fazer os 80 anos no nosso dia 29, não de janeiro mas em agosto.
(...) Falar da India e o inicio da nossa queda do Império, tem de ser feita com cautelas, pois como todos sabemos há diferentes sensibilidades, e pela minha parte, estou cético a um consenso sobre estas matérias, é o que deduzo destes anos que compartilhamos pensamentos. (...)
4. Comentário de LG:
Virgílio: é muito duro perder, depois dos nossos pais, os nossos manos. Percebo o teu sofrimento. E vai daqui, em meu nome e em nome da Tabanca Grande, a minha/nossa soliariedade na dor. Afinal, somos já uma grande família. E quando alguém de nós, ou desta nossa grande família, morre, estamos todos a morrer um pouco.
É uma notícia dolorosa, e inesperada, a que nos dás. Ainda há dias estávamos a falar do teu mano que ficara prisioneiro na Índia em 1961/62. Embora acamado, e dependente, estava vivo e falavas com ele. Nestas circunstâncias, com o fim da pandemia de Covid-19 (, assim o esperamos), a notícia da sua morte é, compreensivelmente, mais dolorosa ainda.
Quando quiseres e puderes, diz-nos algo mais sobre o teu mano (, que foi também nosso camarada), e manda-nos mais fotos dele.
Um abraço fraterno para ti e para a família. LG
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