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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26390: Banco do Afeto contra a Solidão (31): O Valdemar Queiroz regressa amanhã à rua de Colaride, depois de uma "nomadização hospitalar", tranquiliza-nos o Eduardo Estrela...


Valdemar Queiroz


1. Estranhei, há dias, o "silêncio bloguístico" do Valdemar Queiroz... Temi logo o pior: "foi de charola para o hospital, querem lá ver ?!"... (Ele sofre de doença crónica, uma DPOC, e vive sozinho em casa, em Agualva-Cacém; a família mais próxima está nos Países Baixos.)

Telefono-lhe, uma, duas, três vezes...Nada. Na sexta passada, às 10:07, mandou.me uma mensagem telegráfica:

"Obrig Luís stop Outra vez hospital stop Bateria fraca stop".

Só me dei conta no sábado. às 15:51, escrevi-lhe um msn: 

"Imaginei logo, camarada. Estamos no pico da gripe... Náo apanhes nenhuma bactéria hospitalar, irmãozinho. Nada de beijos às bajudas. Boa recuperação. Luis".

Alertei alguns amigos, que lhe devem ter telefonado, e  com mais sorte do que eu. Agradeceu, no domingo, às 12:29:

"Muito obrigado, meus grandes amigos. Elas(as bactérias)  bem querem, mas nós cá vamos aguentando as emboscadas. Abraço. Valdemar".

O Eduardo Estrela mandou-me um mail, hoje, às 13:39 com boas notícias:

"O nosso amigo Valdemar Queiroz acaba amanhã a nomadizacão hospitalar e regressa ao conforto do seu aquartelamento. Notícia recolhida há minutos junto dele.

Abraço para todos, saúde da boa.
Eduardo".


2. Comentário nosso editor:

Estamos bem quando os amigos também o estão . Temos de saber uns dos outros. Pelo menos, preocuparmo-nos uns com os outros. Bom regresso a penates, Valdemar.  Saúde da boa, que da má (vade retro, Satanás!)...já temos que chegue!

Não abuses das nomadizações. Já não temos "caixa de ar" nem "pernas" para essas andanças...E os hospitais, em especial no inverno, não são sítios recomendáveis.  Só se ouvem histórias de amigos e conhecidos: "apanhou uma bactéria, e lerpou"... 

Vens recuperado, é isso que importa. Bom regresso à rua de Colaride. Aproveita os bons dias de sol de inverno... mas de quico na cabeça ou à sombra do n0sso poilão, que é mágico e protetor.  Um abraço da malta toda. Luís
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26318: A Nossa Poemateca (1): "Ladainha dos Póstumos Natais" (1971), de David Mourão Ferreira (1927-1996) (escolha de Valdemar Queiroz, minhoto de criação, alfacinha por adoção)


1. A escolha é do Valdemar Queiroz, que nos enviou no passado dia 19, às 14:25, este pungente poema de Natal, do David Mourão Ferreira (1927-1996), e que, ele, Valdemar, dedica a todos "os que estão sós, velhos e doentes (que às vezes me lembro ser o meu caso)". 

Com este poste inauguramos uma nova série, "A Nossa Poemateca".  

O nosso leitor manda-nos um poema de que gosta, da sua autoria ou de algum poeta lusófono (português, brasileiro,  cabo-verdiano, guineense, são tomense, angolano, moçambicano, goês, macaense, timorense, e por aí fora).  A gente em princípio publica (depois de uma primeira apreciação crítica). 

Temos de ter em atenção os direitos de autor: se o poema não for original, convém indicar a fonte: o autor,o título do livro, a editora, o local, a data, a página...

De qualquer modo, este  é um exercício de "blogoterapia" (ler poesia faz bem à saúde de cada um de nós  e ao moral das nossas tropas...),  mas também de divulgação dos nossos poetas lusófonos ("Do Minho a Timor", sem complexos de superioridade ou inferioridade, e muito menos sem  ressentimentos: afinal, a nossa Pátria é a nossa língua, é um território mais vasto que o delimitado pelas nossas fronteiras...).

O Valdemar Queiroz tem 195 referências no nosso blogue. Integra a nossa Tabanca Grande desde 16/2/2014. Foi fur mil art, CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70). 

Minhoto de nascimento (Afife, Viana do Castelo), veio para Lisboa trabalhar, ainda menino e moço. A inspeção do trabalho nunca deu conta de nada... Afinal, era preciso ganhar para a bucha...Depois foi Valdemar Queiroz "Embaló" lá na zona leste da Guiné, em 1969 e 1970.

É doente crónico, portador de uma DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica). Pai e avô, com filho e netos nos Países Baixos. É um lutador nato e um exemplo para todos nós. "Parte mantenhas" em crioulo com a vizinhança que passa sob a a sua janela: vive na Rua (multiétnica) de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra. E é um leitor (e comentador) quotidiano do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Já lhe ofereceram um "pelouro": diz que não quer ser "corrompido"...


A Nossa Poemateca (1)

LADAINHA DOS PÓSTUMOS NATAIS

Por David Mourão Ferreira (1927-1996)


Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito


David Mourão-Ferreira,
in "Cancioneiro de Natal" (Prémio Nacional de Poesia, 1971)
(Lisboa, Editorial Verbo, 1971)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26284: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (6): Mensagem natalícia de Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil da CART 2479/CART 11


1. Mensagem natalícia do nosso camarada Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil da CART 2479/CART 11, (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70): 

Caros amigos e camaradas da guerra na Guiné.
É com grande entusiasmo que vos desejo BOAS FESTAS, embora não esteja de boa saúde, ainda cá estou e sem me esquecer da rapaziada que esteve na guerra da Guiné há mais de meio século.
Desejo a todos um Feliz Natal e um Ano Novo 2025 com saúde, assim como para todos os seus familiares.
Anexo a imagem de um presépio que bem podia ter sido feito no nosso tempo, em terras africanas.
Também anexo páginas da História da Unidade, ainda como CART 2479 (só no início do ano 1980 passamos a CART 11) reportando o NATAL de 1969, com a Companhia sediada no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, mas em intervenção com pelotões por várias tabancas do Leste.
Eu com o meu 4.º Pelotão passámos o Natal em Canquelifá, mas por incrível que seja não me lembro como se passou esse dia, com a exceção da actuação de um conjunto musical que chegou de Bissau, que o baterista pôs os africanos do público em delírio.
No dia de Natal recebemos a presença do Comandante do Agrupamento da região, assim como na noite de Natal também estiveram na sede da Companhia em Nova Lamego
Abraço e saúde da boa para todos
Valdemar Queiroz

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Nota do editor

Último post da série de 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26283: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (5): Mensagem natalícia de Joaquim Costa, ex-Fur Mil API da CCAV 8351

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26255: Fotos à procura de... uma legenda (191): a 4ª e última foto por identificar não pode ser o reordenamento e a pista da "minha" Gadamael, em finais de 1971 (Morais da Silva, cor art ref)

 

Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971  > Foto nº 20 (reordenamento por identificar)


Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971  > 
Foto nº 20A (detalhe)  (reordenamento por identificar)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1971 > Vista aérea do reordenamento de Gadamel e da pista de aviação   > Foto s/n (1)


 Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1971 > Vista aérea do reordenamento de Gadamel e da pista de aviação  (detalhe)  > Foto s/n (2)


Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971 > 
Foto nº 20B (detalhe) (reordenamento por identificar)


Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971  > 
Foto nº 20C (detalhe) (reordenamento por identificar)


Fotos (e legendas): © Morais da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1956) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Bedanda, rio Cumbijã e, a sudoeste, Cufar, Mato Farroba, Ilhéu de Infandre e Príame (Catió).


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


Cor art ref
Morais da Silva

(i) cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar (e depois, mais tarde, professor de investigação operacional na AM, durante cerca de 2 décadas); 

(ii) no CTIG, foi comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre jan 1971 e fev 1972; instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga;  adjunto do COP 6, em Mansabá; 

 (iii) fez parte do Grupo L34, na Op Viragem Histórica, no 25 de Abril de 1974; 

(iv) é membro da nossa Tabanca Grande, com cerca de 150 referências no blogue.


1. A foto nº 20 é mesmo a última das 4 fotos aéreas do álbum do cor art ref Morais Silva (*) de que falta identificar a localização (**).
 
O fotógrafo diz que a foto nº 20 pode ter sido tirada a um reordenamento dos arredores de Catió.  

Recorde-se, mais uma vez,  que o cor art ref Morais Silva andava a "rearrumar" fotos do seu álbum da Guiné. Mas tinha umas tantas, sem legendas... E pediu-nos "ajuda"...

São vistas aéreas, tiradas de avioneta quando um dia, em finais de 1971, foi fazer uma visita de cortesia, camaradagem e amizade ao Augusto José Monteiro Valente (1944-2012), cmdt da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72) (precocemente falecido, com o posto de maj gen ref).

Na altura, ele comandava, desde janeiro de 1971, a CCAÇ 2796, os "Gaviões", em Gafamael. A caminho de Catió tirou umas tantas fotos ("slides"), incluindo umas quatro ou cinco do quartel e reordenamento de Gadamael.

Reconstituindo o seu percurso de avioneta (DO 27 da FAP ou Cessna dos TAGP), já vimos que:

  • ele seguiu para sul, ao longo do rio Cacine;
  • sobrevoou Cacine (foto nº 30);
  • atravessou a península de Cubucaré (que é delimitada pelos rios Cacine e Cumbijã);
  •  tirou uma foto ao destacamento de Cabedu (nº 29);
  • e chegou finalmente a Catió (fotos nºs 23 e 25). (*)

Recorde-se que, na altura, em finais de 1971, o PAIGC ainda estava fortemente implantado no Cantanhez. A reocupação da península de Cubucaré começa só em 12 de deembro de 1972 (Op Grande Empresa), não havendo aqui, até então, reordenamentos feitos pela NT.

Onde terá sido, pois, tirada esta última foto (nº 20) ? Catió, Príame, ilhéu de Infandre, Mato Farroba, Cufar, na margem direita do rio Cumbijã ?

2. O Valdemar Queiroz, o Manuel Reis e o Virgílio Teixeria dizem que é Gadamael. O Luís Mourato Oliveira e o António Graça de Abreu dizem que não é Mato Farro (contrariando o palpite de Luís Graça) (*).

Comentário do cor art ref Morais Silva ao poste P26189 :


Comparem-se as fotos aéreas de Gadamael e a que não sei identificar (nº 20). Conclua-se que esta não é de Gadamael, porque:

Reordenamento de Gadamael (pista na direcção Norte-Sul)
  •  parte Norte do Reordenamento PARALELA à pista e APENAS a Oeste dest
  • quadriculado da construção na totalidade do reordenamento

  • inexistência de vegetação expressiva no interior da área construída

  •  inexistência de profusão de traçados de “pé posto” no interior

Foto ainda não Identificada

  • não há PARALELISMO COM A PISTA
  • há construção nas duas áreas laterais da pista
  • vegetação expressiva no interior
  •  profusão de traçados de pé posto

2024 M11 26, Tue 22:00:01 GMT (***)


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Notas do editor:



(***) Último poste da série > 4 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26229: Foto à procura de... uma legenda (190): O Portugal do Minho a Timor... O passatempo teve pouca participação, afinal não dava... "patacão".

domingo, 1 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26222: O Spínola que eu conheci (38): Nunca o vi com um fotógrafo atrás, no mato (António Martins de Matos / Luís Graça / Valdemar Queiroz / Virgílio Teixeira)... Havia um fotógrafo fardado, que tirava fotos de forma muito dsicreta (Domingos Robalo)



~
Guiné > Algures > Maio de 1973 > Costa Gomes, Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, dá início, a 25 de maio de 1973, a uma visita ao Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), para se inteirar do agravamento da situação militar e analisar medidas a tomar com vista a garantir o espaço de manobra do poder politico em Lisboa. 

Na foto, vê-se o Gen Costa Gomes à direita de Spínola, falando com milícias guineenses. Foto do francês Pierre Fargeas (técnico que fazia a manutenção dos helis AL III, na BA 12, Bissalanca), gentilmente enviada pelo nosso camara Jorge Félix (ex-Alf Mil Pil Heli, BA12, Bissalanca, 1968/70).

Foto (e legenda): © Pierre Fargeas / Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados. [Edução e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentários ao poste P26179(*): 


(i) Virgílio Teixeira:

Infelizmente não conheço, não conheci, e não sabia de um fotografo oficial do nosso General Spínola.

Encontrei-o algumas vezes em Bissau, quer no Grande Hotel, quer no Solar dos Dez, em Bissau.

Mas nunca falei com ele.

Vi nele sempre uma pessoa acima de tudo e todos. Gostei dele, e o fotografo não vi!
 
22 de novembro de 2024 às 15:05


(ii) Valdemar Queiroz:

Estive por duas vezes a um palmo do Spínola.

A primeira vez foi quando assistiu a tiros de morteiro 60mm de recrutas, na bolanha de Contuboel, e calhou ser o Umaru Baldé do meu Pelotão a disparar uma granada que nunca mais caía e acertar no bidon-alvo. Alguns dos presentes deram uns passos nervosos, mas eu fiquei ao lado de Spínola que não se mexeu e fez um sinal quase imperceptível de "calma".

A segunda vez foi no Hospital Militar em Bissau, quando estive internado devido a uma intervenção cirúrgica. Ele todos os dias ia de manhã ao Hospital visitar, principalmente, quem tinha chegado ferido, tendo visitado um oficial que estava no meu quarto mais outros dois doentes. Esse oficial doente tinha a cara cheia de feridas devido a uma explosão de uma mina A/P, o Spínola olhou pra mim como me conhecendo e disse ao oficial ferido, que era um magricelas, "dos fracos não reza a historia".

Tenho a ideia que o oficial disse qualquer coisa, quando o Spínola saiu, que os outros riram-se.

22 de novembro de 2024 às 17:03

(iii) Luís Graça:

Náo estou a ver um militar a ficar 5 anos ao lado do Spínola para lhe bater as "chapas"... Ajudantes de campo, teve 3, se não me engano...E fotógrafos oficiais deve ter tido mais do que um...O Geraldo terá sido um deles...

A questão é de saber se era civil ou militar ("fotocine", por exemplo, a menos que fosse também da arma de cavalaria, como os ajudantes de campo...).

22 de novembro de 2024 às 23:14


(iv) António Martins Matos:

Via assiduamente o general Spínola, na Base Aérea nº 12, em Biossalanca, a partir para as suas visitas a aquartelamentos, de DO-27 ou AL-III. 

Nunca vi que levasse algum fotógrafo a reboque.

23 de novembro de 2024 às 08:51
 
(v) Luís Graça:

Catarina, o gen Spínola cuidadava da sua imagem, era de cavalaria, foi vedeta no hipismo, mas não ao ponto de andar com um "fotógrafo pessoal, oficial" atrás de si, e muito menos no mato, na Guiné...

Levava o ajudante de campo, que era também seu guarda-costas... Nunca ninguém o viu armado, e correu riscos...

Em Bissau, nas cerimónias militares, oficiais, é possível que o palácio do governador recorresse a algum fotógrafo civil, com estúdio montado na cidade... Ainda não sabemos se esse Geraldo era civil ou militar.

Era importante, por outro lado, saber se o jornal "A Voz da Guiné" tinha algum fotógrafo ou fotojornalista no seu quadro de pessoal. Ou se as fotos que publicava tinham autor.

Os únicos "paparazzi" que o fotografavam, no mato, eram os militares das unidades e subunidades que ele visitava, muitas vezes de surpresa. Não se batia à fotografia, mas também não se importava que o fotografassem..

23 de novembro de 2024 às 11:44 

(vi) Domingos Robalo:

Tive três contactos com o general Spínola. 

O primeiro numa visita que este fez a Fulacunda, onde estava sediada a CCAV 2482, “Os Bpoinas Negras”. Era eu comandante do 22° Pel Art, em apoio a esta Companhia comandada pelo capitão H. Morais. 

A segunda vez, estando eu de Sargento da Guarda no QG, em Bissau,o general passando o portão a pé recebeu as honras da “Guarda”. Assim que passou mandei destroçar a secção. O general voltou atrás e de forma pedagógica falou; “A guarda não destroça, recolhe”. Nunca mais me esqueci. 

A terceira vez, foi na parada da minha Unidade, a BAC1, que ia passar a Grupo, por aumento significativo de forças e material de artilharia. Nesse mesmo dia e nessa cerimónia, foi homenageado o Sargento de Artilharia, morto em combate, sendo dado o seu nome à parada da unidade; “Parada Issa Jao”. 

domingo, 24 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26188: Cem pesos, manga de patacão, pessoal ! (9): uma viagem na TAP, de Bissau a Lisboa, em finais de 1970, custaria hoje c. 1450 euros (Valdemar Queiroz); uma viagem de férias (ida e volta), c. 1900 euros, em fevereiro de 1971 (Carlos Vinhal)



Bilhete de avião de regresso a Lisboa, em 18 de dezembro de 1970


Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Terminada a comissão,  o Valdemar Queiroz, que era de rendição individual (como todos os outros graduados e praças esepcialistas da CART 11), foi para Bissau onde gastou os últimos "pesos" (o patacão da guerra) e tomou o avião da TAP de regresso a casa, em 18/12/1970, como se pode comprovar no documento acima reproduzido.  

O bilhete,como era só de ida, custou-lhe a módica quantia de 4740 escudos, incluindo 80$00 (que deve ser o imposto de selo e  a taxa... "aeroportuária"). Lá se ia, quase todo, o "patacão" de um mês...




Recibo (?) nº 453, emitido pela agência de viagens Fernando S. Costa, Bissau, 13 de fevereiro de 1971

Foto (e legenda): © Carlos Vinhal (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Já o nosso coeditor Carlos Vinhal (fur mil art MA, CART 2732, Mansabá,1970/72, SPM 1388) veio de férias, em 15 de fevereiro de 1971, e pagou à agência de viagens Fernando S. Correia a importância de 6430$80 (vd. documento acima). 

Não sabemos se nesse valor estava incluído o preço da ligação aérea Lisboa-Porto (nem a comissão da agência).  De qualquer modo, para ir de férias, um furriel miliciano tinha que desembolsar mais do que o que ganhava num só mês.
 

3. Quanto valeria hoje esse patacão ?

(i) 4340$00 (em 1970) seriam hoje 1455 euros (!) (uma roubalheira ?);

(ii) 6430$80 (em 1971) equivaleriam  hoje a 1944 euros...

Fonte: Pordata > Simuladores > Simulador de Inflação > Quanto vale hoje o dinheiro do passado ?

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26187: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (8): uma viagem, de avioneta, nos TAGP, de São Domingos a Bissau, em 22/2/69, custava 224 escudos (ou "pesos"), o equivalente hoje a 70 euros (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26157: Casos: A verdade sobre... (49): Os "djubis" da CART 11 e da CCAÇ 12, que foram soldados... (Luís Graça)



Umaru Baldé (c. 1953- c.2004, Bambadinca, meados de 1970
Foto: Benjamim Durães (2010)



Umaru Baldé (c. 1953-c. 2004), recruta do CIM Contuboel,
 c. março de 1969 

Foto: Valdemar Queiroz (2014)


1. Resposta do editor LG ao Valdemar Queiroz (*): 

Valdemar, obrigado pela tua preciosa "lembrança"... Reconheço estes putos ou pelo menos três, os que pertenceram à CCAÇ 12, e que fizeram a guerra comigo (*)...

Quanto ao Umaru Baldé (c. 1953- c. 2004), o "menino de sua mãe", tens aqui  duas fotos dele (uma é do teu álbum, o recruta Baldé, no CIM de Contuboel, com cara e corpo de "djubi"; a outra, um ano mais tarde,  de meados de 1970, tirada em Bambadinca, já com o BART 2917).

Vamos pô-lo a nascer por volta de 1953 para salvar a "honra do convento", isto é, para que a NT não sejam acusadas de recrutar crianças para a guerra, como acontecia com o PAIGC...

Soldado do recrutamento local, nº 82115869, o Umaru tirou a recruta   (com a CART 11) e a especialidade (com a CCAÇ 12), no CIM de Contuboel (um um um "oásis de paz", como eu lhe chamei, em junho de 1969). 

Foi exímio apontador de morteiro 60, soldado arvorado e depois 1º cabo at inf  da CCAÇ 2590 /  CCAÇ 12 (1969-1972), no 4º Gr Comb,  3ª secção [comandada inicialmente pelo fur mil 11941567 António Fernando R. Marques: DFA, vive hoje em Cascais, empresário reformado, membro da nossa Tabanca Grande].

O Umaru Baldé, que era de Dembataco (ou Demba Taco),  cresceu com a guerra: Demba Taco pertencia ao subsetor do Xime, um dos primeiros a conhecer a crueldade da guerra.  Foi recrutado em 12/3/1969,  como ele conta em carta pungente que te escreveu, trinta anos depois, já a viver na Amadora. 

Tirou a recruta no CIM Contuboel e fez o juramento de bandeira em Bissau, em cerimónia a que assistiu o gen Spínola.  Em junho e julho de 1969 fez a especialidade, já com os graduados da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 como instrutores... Juntos formamos companhia e fizemos a IAO.  Em 18 de julho de 1969 ficámos à ordem do comando do sector L1, e fomos colocados em Bambadinca.  Seis dias depois tivemos o batismo de fogo em Madina Xaquili, que será abandonada, dois meses e tal depois, em outubro.

O Umaru Baldé fez a guerra  entre meados de 1969 e 1972,  foi depois colocado, nesse ano,  em Santa Luzia, Bissau, no quartel do Serviço de Transmissões, onde ficou até ao fim da guerra.  (Julgo que depois de ter sido ferido em combate, ainda na CCAÇ 12, que entretanto passará a unidade de quadrícula, colocada no Xime em março de 1973.)

Conheceu, em mais de metade da sua vida, a amargura e a solidão do exílio. Não sei se chegou a ter mulher e filhos.  Percorreu meia África, em busca de liberdade e seguranças. Veio a morrer, aos 50 anos,  em Portugal, no "terminal da morte", que era então o, hoje  já extinto,  Hospital do Barro, Torres Vedras (onde também, por ironia do destino,  viria a morrer Luís Cabral, uns anos depois, em 2009).

O "puto" Umaru,  como sempre o tratámos, contou apenas com o apoio e a ajuda de alguns dos seus antigos camaradas de armas, "tugas",  da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, mas também da CART 11 (como tu, Valdemar Queiroz,  e outros). 

Não posso confirmar, com rigor, o ano em que nasceu e o ano em que morreu. Nunca mais o vi desde que regressei a casa em 17 de março de 1971. Tenho uma foto com e com o Zé Carlos.

 

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Fevereiro de 1970 >  Região do Xime >   1º  Grupo de Combate, comandado pelo Alf Mil Inf Op Esp Francisco Moreira, no decurso da Op Boga Destemida, uma operação sangrenta...  A CCAÇ 12, que integrava a "nova força africana" (que era a menina dos olhos de Spínola) foi uma subunidade de intervenção, duramente usada e abusada pelo comando dos BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72) 


Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados 
[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Aproveito para retomar aqui, com algumas alterações,  um comentário meu que já tem 18 anos sobre  "a lista dos Baldés" da CCAÇ 2590 / 12, e que publicitei, em 2006 (**), depois de ponderar os prós e os contras: eram 100 os "Baldés", que foram integrados na CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), em Contuboel... Muito poucos deles estariam ainda vivos nessa altura. E hoje já não estará nenhum.

Na altura, podia parecer fastidiosa, inútil, irrelevante... a minha lista de Baldés...    Mais: até imprudente, podendo pôr em risco a liberdade e a segurança dos nossos antigos camaradas guineenses,  os sobreviventes, os que ainda estariam vivos (como, por exemplo, o José Carlos Ussumane Baldé, o único 1º cabo que existia no meu tempo).

Não pensava o mesmo , em 2006: podia ter (ou vir a ter) algum interesse documental, historiográfico, eu sei lá... Podia facilitar a pesquisa de informação, de testemunhos, de depoimentos...E quanto a ajustes de contas, infelizmente já tinham sido feitos sob o regime de Luís Cabral...

Entendia que era um pequeno, modestíssimo, gesto de elementar justiça para com aqueles guineenses que lutaram ao nosso lado, que fizeram parte da CCAÇ 12 e, portanto, da 'nova força africana'  com que sonhou Spínola e que tanto atemorizou o PAIGC (eles e não apenas a "tropa especial", com destaque para os Comandos Africanos).

Infelizmente, uma grande parte deles (quantos, exactamente?) já não estariam vivos em 2006. Uns tinham sido fuzilados, como o Abibo Jau, logo em 1975, outros andaram fugidos, a maior parte terá morrido de morte natural, que a sua esperança de vida era muito menor que a nossa, em 1969...

Eu estava à vontade para publicar essa lista: sempre critiquei a africanização da guerra da Guiné, embora longe de imaginar que, no dia seguinte à nossa retirada, começasse a caça aos "traidores", aos "contra-revolucionários", aos "mercenários", aos "colaboracionistas", aos "cães dos colonialistas", aos "cachorros dos tugas"...

Eu já não estava lá, em agosto de 1974, quando foi extinta a CCAÇ 12 e as demais subunidades da "nova força africana" (incluindo a CCAÇ 11, herdeira da CART 11). E, confesso que, desde que cheguei, em março de 1971, e até ao final da década de 70, pus uma tranca à porta da "memória da guerra". E só no princípio de 1980, comecei a tentar "exorcizar os fantasmas da guerra colonial" (sic) (uma expressão minha, que paga direitos de autor...).

Em 1969, ainda estava vivo o Amílcar Cabral e eu, na metrópole,  admirava-o, em abstrato,  intelectualmente, pelo pouco tinha lido dele (náo tenho pejo em admito-lo hoje). 

Achava que na Guiné, depois da independência, "abadá a guerra e feita a paz", tudo seria diferente, e não aconteceriam os ajustes de contas que se verificaram noutras revoluções ou guerras civis, na Rússia, na China, na Espanha franquista, na França depois da libertação, na Argélia, em Cuba, etc. Pobre de mim, ingénuo...

Mas, por outro lado, também fui cúmplice da integração destes "putos" no nosso exército: mesmo sendo  da especialidade de armas pesadas, e não fazendo  parte formal, organicamente,  de nenhum dos quatro grupos de combate da CCAÇ 12, acabei como vulgar atirador de infantaria, já que a companhia não tinha instalações a defender e  era de intervenção ("uma companhia de nharros, carne de canhão", rosnávamos nós, entre os dentes, sempre que saíamos para o mato...).

Participei, por isso, em muitas das operações em que estes participaram, fui testemunha da sua coragem e do seu medo, dormi com eles nas mais diversas situações, incluindo nas suas tabancas, transportámos às costas os nossos feridos e os nossos mortos... 

Foram meus camaradas, em suma.

Alguns (ou até bastantes) vieram das milícias, a maior parte já tinha alguma experiência de combate. E quanto à sua origem geográfica, os nossos camaradas guineenses da CCAÇ 12 (originalmente, CCAÇ 2590), eram oriundos do chão fula e em especial dos regulados do Xime, Corubal, Badora e Cossé, com exceção de um mancanhe, escolarizado,  oriundo de Bissau (que se fartou de levar "porradas", por ser "reguila" e "indisciplinado").

“Todos falam português mas poucos sabem ler e escrever", lê-se na história da CCAÇ 12. (O que só era verdade 21 meses depois de os termos conhecido e instruído em Contuboel, em junho e julho de 1969: nunca tiveram tempo sequer de ter aulas regimentais, o português que aprenderam, a falar e a escrever foi connosco.)

Foram incorporados no Exército como "voluntários" (sic), acrescentou o escriba (fui que escrevi a "história da unidade"), para branquear a insustentável (historicamente falando) situação dos jovens fulas, condenados a aliarem-se aos tugas e a pagarem a fatura do "colaboracionismo" no dia a seguir à nossa partida... 

Mas devo acrescentar: mal ou bem, a tropa e a guerra acabaram por ser um "modo de vida" para muitos deles... Teria o Umaru Baldé alguma alternativa ? Seguramente que não. O Salazar, o Tomás, o Caetano queriam-nos,  a todos,  heróis ou... mortos!
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Notas do editor:

(*) Ultimo poste da série : 14 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26153: Casos: A verdade sobre... (48): Os "djubis" da CART 11 e da CCAÇ 12, que foram soldados... (Valdemar Queiroz)

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26153: Casos: A verdade sobre... (48): Os "djubis" da CART 11 e da CCAÇ 12, que foram soldados... (Valdemar Queiroz)


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > Março de 1969 > Recruta dos futuros soldados das futuras CART 11 e da CCAÇ 12 > Samba Baldé (Cimba), nº mec 82110969... Futuro Ap Metr Lig HK 21, 3º Gr Com 3º Gr Comb [Comandante: alf mil inf 01006868 Abel Maria Rodrigues [bancário reformado, Miranda do Douro], 1ª secção [fur mil at inf Luciano Severo de Almeida, já falecido]...  De origem fula.


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > Março de 1969 > Recruta dos futuros soldados das futuras  CART 11 e da CCAÇ 12 > Salu Camara, nº mec 82103469. Provavelmente de origem futa.fula. Integrou a CART 11.


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > Março de 1969 > Recruta dos futuros soldados das futuras  CART 11 e da CCAÇ 12 >  Sori Baldé, nº mec 82111069,  De origem futa. Integrou a CCAÇ 12, como sold at inf. Pertenceu O 4 º Gr Comb [ comandante: alf mil  at cav  10548668 José António G. Rodrigues, já falecido, vivia em Lisboa], 3º secção [1º Cabo 00520869 Virgilio S. A. Encarnação, vive em Barcarena]... [O Valdemar Queiroz identifica-o, erradamente, como sendo o Tijana Jaló, esse sim, devia pertencer à CART 11, mas com outro nº mecanográfico... Estou bem recordado do Sori Baldé, um dos meus soldados, quando estive no 4º Gr Comb.]


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > Março de 1969 > Recruta dos futuros soldados das futuras CART 11 e da CCAÇ 12 > Mamadu Jaló, nº mec 821179669, De origem futa. Integrou a CCAÇ 12, como sold arvorado. . Pertenceu ao 1 º Gr Comb 3ª secção [fur mil at inf 19904168 António Manuel Martins Branquinho, reformado da Segurança Social, Évora, já falecido]


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > 1º trimestre de 1969 > Recruta dos futuros soldados das futuras CART 11 e da CCAÇ 12 > Alceine Jaló, nº mec 82114669, De origem futa ou futa-fula. Pertenceu à CART 11.



Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar > Narço de 1969 > Silhueta do recruta Umaru Baldé, natural de Dembataco, regulado de Badora, setor L1 (Bambadinca), nº mec 82115869.

Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > CIM - Centro de Instrução Militar  > c. março / abril de 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > O Valdemar Queiroz, com os recrutas Cherno Baldé, Sori Baldé e Umarau Baldé (que irão depois para a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12).

Estes mancebos aparentavam ter 16 ou menos anos de idade. Eram do recrutamento local. Os da CCAÇ 12 eram fulas, oriundos do chão fula e em especial dos regulados do Xime, Corubal, Badora e Cossé.

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > Umaru Baldé (c. 1953-2004), soldado do recrutamento local,  nº 82115869, tirou a recruta e a especialidade no CIM de Contuboel. Foi apontador de morteiro 60, soldado arvorado e depois 1º cabo infantaria da CCAÇ 12 (1969-1972). Foi depois colocado, em Santa Luzia, Bissau, no quartel do Serviço de Transmissões, até ao fim da guerra. Conheceu, em mais de metade da vida, a amargura  e a solidão do exílio. Veio morrer a Portugal onde teve grandes camaradas e amigos, solidários, que o ajudaram.

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados . [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Reedição de mensagem do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70], só publicada quase cinco meses depois, por lapso dos editores (*):

Data: terça, 5/11/2019, 23:22

Assunto: O que será feito dos 'Putos-Soldados' do CIM de Contuboel

O que será feito dos 'Putos-Soldados'?

Passaram 50 anos que muitos 'putos' foram chamados prá tropa e receberam instrução militar em Contuboel.

Alguns apresentaram-se descalços, com as suas roupas usadas habituais e notava-se que eram muito jovens, mas diziam que tinham 18 anos.

Soube-se mais tarde que houve situações de recrutamento forçado, mas na maioria apareceram com vontade ser soldados. 'Manga de ronco' e 'manga de patacão' que lhes iria acontecer.

Não sabemos, eu não sei nem me lembro de contarem, como foram contactados e por quem (régulo/chefe de tabanca), e se lhes foi dito que iriam ser soldados para entrarem directamente na guerra, que eles já tão bem conheciam.

Não sei se vieram assentar praça, como um serviço militar obrigatório se tratasse, com a diferença de serem ainda menores, ou como uma espécie de voluntariado forçado (ideias de Spínola a fazer lembrar o recrutamento de crianças pelos nazis no final da guerra?).

E assim se formaram a CART 11 e a CCAÇ.12.

Também não soubemos se queriam ser soldados para fazerem guerra contra os 'bandidos' ou para ajudar (como já acontecera em séculos anteriores) os portugueses na guerra contra, neste caso, o PAIGC que queria a independência da Guiné.

Mas, a guerra acabou. Felizmente a guerra acabou.

Os 'putos-soldados' deixaram de ser soldados do Exército Português e passaram, automaticamente, à peluda da sua desgraça. 

Muitos houve que fugiram para não serem sumariamente executados, muitos outros não tiveram essa sorte e foram assassinados, os restantes resignaram-se voltando, já homens, às suas tabancas para serem o que já tinham sido. Foi sempre assim quando acabam as guerras.

E passados 50 anos o que será feito daqueles que conseguiram sobreviver?

Os que eram mais jovens devem ter, agora, 66/67 anos de idade. O que será feito deles?

Julgo que eram todos Fulas e maioritariamente eram das regiões de Gabu/Piche, os da CART 11, ou de Bambadinca/Xime, os da CCAÇ.12.

O Alceine Jaló era do meu Pelotão, casou-se muito novo com uma bajuda (Saco ou Taco?) e levou-a com ele para Guiro Iero Bocari. As mulheres e os filhos dos nossos soldados também dormiam connosco nas valas e aí aguentavam quando havia ataques à tabanca.

O que será feito deles?

Gostava muito de saber deles e peço um favor muito especial ao nosso grande amigo Cherno Baldé de tentar saber se eles ainda são vivos.

Como curiosidade com os 'putos', havia quatro soldados arvorados, e frequentavam a escola de cabos, em cada Pelotão sendo a escolha feita entre eles e um da nossa escolha. Dos quatro do meu Pelotão o da nossa escolha recaiu no Saliu Jau por ser impecável, mas deu algum recusa por parte dos restantes por o considerarem 'ser djubi mesmo pra cabo'.

Valdemar Queiroz

PS - Anexo fotos de alguns 'putos-soldados' , falta a do Umaru Baldé, talvez o 'puto mais puto', e que me foi oferecida quando estive com ele na Amadora.

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)


2. Comentário do editor Luís Graça:


Vá temos falado sobre este tema, que nos é caro, tanto ao Valdemar quanto a mim e outros camaradas do blogue, o caso dos "meninos-soldados", que estiveram de um lado e do outro, do PAIGC e nas NT  (**). 

No nosso caso, podemos (e devemos) perguntar se houve "ética" (e respeito pela legalidade) no seu recrutamento...

Eu, o Valdemar e outros gradudados da CART 2479 / CART 11,  e da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 fomos instrutores destes putos, no CIM de Contuboel e eles estiveram sob as nossas ordens na guerra, uns na regiáo de Gabu, setor de Nova Lamego, outros região de Bafatá, setor L1 (Bambadicna). 

Foram extraordinários soldados e grandes camaradas, estes "meninos-soldados" que, no fina,l da guerra, tiveram um destino cruel. O mesmo que tiveram os comandos africanos cujo drama volta agora à ordem do dia,  retratado em reportagem de investigaçáo jornalística (do jornal digital "DivergenTE"), depois publicada em livro e POR FIM em documentário (de longa metragem), que está nas salas de cinema (***).

Em próximo poste serão publicados  comentártios dos nossos leitores sobre este(s) caso(s) (****).
 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  10 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20720: (De)Caras (147): O que é feito destes 'putos-soldados' da CART 11 e da CCAÇ 12 ? (Valdemar Queiroz)

(***)  13 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26149: Agenda cultural (868): Por ti, Portugal, eu juro!: documentário, de Sofia Palma Rodrigues e Diogo Cardoso (Portugfal, 2024, 98 minuto), sobre o drama dos Comandos Africanos da Guiné... Estreia mundial no doclisboa 2024, e agora nos Cinema

(****) Último poste da série > 26 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25777: Casos: a verdade sobre... (47) "Fogo amigo", Xime, 1/12/1973: o obus 14 cm m/43 usava a granada HE (45 kg) com alcance máximo de 14,8 km... (Morais Silva, cor e prof art AM, ref; ex-cap art, instrutor 1ª CCmds Africanos, Fá Mandinga, adjunto COP 6, Mansabá, cmdt CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26145: Fauna e flora (24): O "catchu-caldeirão", uma espécie de tecelão muito abundante na Guiné, faz os ninhos em colónas barulhentas, em geral em árvores de grande porte e em arbustos junbtio aos cursos de água






Fonte: Guia das aves comuns da Guiné Bissau / Miguel Lecoq... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, ACE ; Guiné-Bissau : Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, 2017, p. 61. 

Ilustração de © PF - Pedro Fernandes, ) (Com a devida vénia...)

Acrescente-se que este é um notável trabalho, financiada pela União Europeia e pelo Camões, Instituto da Cooperação e da Língua através do projecto Gestão Sustentável dos Recursos Florestais no Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu.




Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel >Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > "Música, e cantares dos donos do lugar, os 'catchus'. Que também já foram em outro tempos servidos à mesa"...



Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Já identificámos quem é a ave,  a espécie,  que o Patrício Ribeiro chama "catchu" (em crioulo) (*), e que faz estes ninhos, uma obra-prima de arquitetura, e tecelagem, ninhos esses que enfeitavan e continuam felizmente a enfeitar muitas árvores pela Guiné fora, em geral de grande porte. Viam-se às centenas no nosso tempo, ao fimd a tarde, em bandos ruidosos.

Catchu-caldeirão (crioulo)

Nome científico: Ploceus cucullatus

Outras designações: 

  • Cacho-caldeirão (português),
  • Unke (balanta),
  • Djatchiquidau (fula)

Descrição:

(i) comprimento: 17 cm (O da imagem acima é um macho reprodutor):

(ii) muito comum na maior parte dos habitats terrestres, incluindo tabancas e cidades;

(iii) esta espécie de tecelão é uma das aves mais abundantes do país, observando-se em bandos com dezenas ou centenas de indivíduos;

(iv) nidifica em colónias barulhentas que podem ter centenas de ninhos, geralmente em grandes árvores;

(v) as fêmeas (e os machos em plumagem não reprodutora) são castanho-esverdeadas e amareladas na barriga e no peito;

(vi) limenta-se de sementes (incluindo do arroz de pampam e de bolanha) e de insetos.

Fonte: Guia das Aves Comuns da Guiné (s/l, Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, ACE e Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, 2017), pág. 61.

Para saber mais: vd. Ebird > Cacho-caldeirão (collaris) / Ploceus cucullatus collaris (em português)

2, Diz o Valdemar Queiroz, em comentário ao poste P26140 (*)

Em crioulo da Guiné não há palavras começadas com a letra "C" e todas as vogais são ditas como vogais abertas.

Em crioulo katchu quer dizer passarinho e pasaru quer dizer pássaro.

Não sei se katchu quererá também dizer, primitivamente, um cacho de.... passarinhos.

Mas como exemplo não parece: katchu riba di ñ kasa = passarinho no telhado da minha casa.

Valdemar Queiroz


quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26120: S(C)em Comentários (51): Que pena tenho eu não estar em Nova Lamego, em 1972/74, para ver as libanesas, porque em 1969/70 tínhamos que ir a Bafatá ver os seus olhos verdes (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 1969/70)



Valdemar Queiroz

1. Excerto do poste P13607 (*):


Que pena tenho eu de não estar em Nova Lamego, em 1972/74, para ver as libanesas, porque em 1969/70 tinhamos que ir a Bafatá ver os seus olhos verdes.

Ó Marcelino Martins, tens toda a razão e eu, em 1969/70, também não me lembro de estabelecimentos de libaneses, no Gabu. Havia a casa do sr. Caeiro. Vendia tudo, pomada prós calos, ventoinhas, frigoríficos a petróleo, e até material militar (facas de mato) pra algum 'piriquito' despassarado.

Também havia, no Gabu, outro português, que fazia uns frangos de churrasco, de caír pró lado. Era na saída, para Bafatá e lembro-me que o empregado, um africano, tinha hora de saída. E o patrão dizia: “Vocês é que são os culpados, destes gajos terem horário de saída”…. O que nós fomos 'arranjar'.

Mas, José Marcelino Martins,  nunca vi nenhuma libanesa em Nova Lamego e eu não era cego. Lembro-me da filha do Sr. Caeiro, aparecia poucas vezes, era de cair pró lado, boa como o milho, rapariga prós vinte e poucos anos, sempre à espera dum capitão. Mas, ver as libanesas, de olhos verdes, raparigas bonitas, tinhamos que ir a Bafatá.

Quem me dera, estar em Bafatá naquele tempo, tinha vinte e poucos anos. (**)


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