quarta-feira, 1 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14823: Memória dos lugares (299): O Rio Geba e o "barco turra", a caminho de Bissau, no dia em que o homem chegou à lua (20 de julho de 1969) (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > 20 de julho de 1969 > Efeméride: no dia que o homem chegou à Lua, eu descia o rio Geba (Bambadinca-Bissau, com passagem no célebre Mato Cão e depois na não menos temível Ponta Varela, a seguir ao Xime)...

Era um barco fretado para levar material usado da tropa. Estivemos parados várias horas: primeiro por causa da maré, depois devido a avaria no motor do barco só resolvido (desenrascado) com uma peça sacada dum carro que seguia no barco para sucata. 

Viagem inesquecível, até ao fim da minha vida!



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel &gt > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > 20 de julho de 1969, dia em que o homem chegou à lua... O Valdemar vai a caminho de Bissau, num barco civil, daqueles a que chamávamos, depreciativamente, "barco turra"...


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Para o Valdemar Queiroz o rio da sua tabanca só podia ser... o Geba (*).  Talvez mais o "estreito" que banhava a lindíssima e pacífica Contuboel do que o "largo", do Xime a Bissau... Mas quem vinha de Bambadinca, também ia lá muito descontraída: as curvas e contracurvas do rio e a passagem por Mato metiam respeitinho... e obrigavam a montagem de segurança por nossa parte.

A propósito da nossa sondagem, reenviou-nos estas fotos que já tínhamos publicado há um ano e tal (**).

O Valdemar Queiroz também viajou de LDG,  Geba abaixo, Geba acima... Quando foi para Contuboel (via Xime - Bambadinca - Bafatá), onde funcionava um Centro  de Recrutamento Militar... E mais tarde, quando levaram os seus "recrutas" (, pessoal do recrutamento local  a quem estavam a dar instrução militar), até Bissau para fazer o juramento de bandeira...Ele não pode precisar a data... Diz que foi "uns meses antes" da tal viagem no "barco turra", que as fotos documentam...

Desta vez a LDG partiu de Bambadinca, o que não era invulgar... "Na LDG encontrei um marinheiro conhecido de Arroios (Lisboa) e saboreei uma boa posta de peixe cozido. Quase todos os nossos soldados nunca tinham saído da zona do Gabu ou de Bambadinca. Estranharam muito. Ficamos em Brá e eles juraram bandeira no Estádio Sarmento Rodrigues com grande entusiasmo e com um empolgante discurso do Spínola."

Ora sabemos, meu caro Valdemar,  que o  juramento de bandeira dos nossos soldados do recrutamento local, que foram incorporados nas nossas duas companhias (CART 2479/CART 11 e CCAÇ 2590/CCAÇ 12), se realizou-se em Bissau em 26/4/1969, na presença do Com-chefe.  As nossas duas futuras companhias faziam parte da chamada "nova força africana" que estava então em formação e era muito acarinhada por Spínola...

Portanto, a viagem de LDG deve ter sido na véspera do juramento de bandeira ou por esses dias... 

Na história da CCAÇ 12, lê-se que os quadros da CART 2479 [futura CART 11 e depois CCAÇ 11] já tinham dado a instrução básica às  nossas praças africanas, "de 12 de Março a 24 de Maio, em Contuboel"... Pelo meio meteu-se a cerimónia do juramento de bandeira.

E continua o Valdemar: "Por lá ficámos, uns dias, a fazer seguranças na região, sem se saber a razão. Com eles a estranharem muito a zona, por não a conhecerem, ao ponto de estarem sempre, quando ficávamos de noite, de olhos bem abertos e sentados sobre os calcanhares a dizer ‘nunca se sabe’ (...)".  (**)


Solo lunar > 20 de julho de 1969 > Peugada de Buzz Aldrin, fotografada pelo próprio, cerca de uma hora depois da saída do módulo lunar. Esta foto, tirada para estudar a mecânica do solo lunar, tornou-se um ícone da conquista espacial. A alunagem foi às 22h 17m 40s, UTC, no mar da Tranquilidade.

Na América,  é no dia 20 de julho que se comemora  a chegada do Homem à Lua. Armstrong pisou pela primeira vez o solo lunar às 22h56 (hora de Nova Iorque) do dia 20 de Julho de 1969.  Mas em Portugal eram 3h56 da manhã do dia 21 de julho... Eu estava na Guiné, teinha acabado de chegar  a Bambadinca, vindo do "oásis" de Contuboel, há dois ou três dias,...   Tinha 1 mês e 3 semanas de Guiné...  E confesso que  não dei por nada,,, O nosso camarada Rui Felício, esse,  estava em Samba Cumbera, e diz que era domingo... Ah!, e lá não havia televisão (***)... (LG)

Imagem: Fonte: NASA (original upload; ALSJ (AS11-40-5877))
Autor:  NASA / Buzz Aldrin, Imagem do domínio público. Cortesia de Wikipedia > Apollo II

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14821: Memória dos lugares (296): Ganjola e o Rio Cumbijã (ex-alf mil, João Sacôto, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)

(**) Vd. poste de 3 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12790: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte IV): Passaram os quatro primeiros meses... Em Contuboel, ainda longe da guerra...

(***) 1 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10313 Efemérides (108): No dia em que o primeiro homem pisou a lua... Neil Armstrong (1930-2012), um herói do nosso tempo, visto de Samba Cumbera, tabanca fula a sudoeste de Galomaro, longe do Vietname, a 400 mil km de distância do nosso satélite (Rui Felício / Luís Graça)

4 comentários:

Abílio Duarte disse...

Olá Queiroz,
Continuas a ter muito boa memória, apesar dos anos e dos kms. que nos separam, daquelas
paragens.
Recordo perfeitamente das passagens que relatas.
Mas a mim o que mais me custou, foi como referes, as várias seguranças, que fizemos, nas traseiras dos Adidos e do Hospital Militar, zona desconhecida de nós e dos soldados (FULAS). Era bastante desconfortável, estar numa zona de conflito,emboscados, e apareceram
várias,pessoas que vinham para Bissau de madrugada, para trabalhar ou fazer comércio, e nós na dúvida. Naquela semana, que estivemos em Bissau, tive algumas noites de arrepiar.

Luís Graça disse...

Meu caro Abílio, o que custou,naquele território e naquela guerra, foram os seus primeiros meses... Andávamos de arma aperrada e com todos os cinco sentidos devidamente apuradaos... Depois deixamos de ser "piras" e ganhamos o estatuto de "velhinhos", isto é, imortais... Isso acontece com todas as profissões de risco e em todas as situações-limite... O homem é o animal com maior capacidade de adaptação, resistência e resiliência... Infelizmente, também é capaz de cair nos graus mais ínfimos da abjeção e da alienação...

Por outro lado, e como me dizia há dias um paraquedista calejado pela luta na guerra de África, e hoje oficial general, ninguém morre pela pátria, que é uma coisa abstrata, mas sim pelo camarada do lado...

Um alfabravo. Luis

José Nascimento disse...

Lembro-me perfeitamente de ouvir na rádio a notícia da chegada do homem à lua e também, talvez de dezenas de seguranças que montei na zona da Ponta Varela aos famosos barcos "turras" como lhe chamavam e que por lá passavam. Nunca houve qualquer percalço enquanto executamos este tipo de actividade. Felizmente nunca andei nestes barcos.

José Botelho Colaço disse...

Vivendo e aprendendo:Barco turra desconhecia, devido à minha especialidade ser transmissões era constante ser requisitado para integrar escoltas de protecção a esses barcos pelos rios da Guiné, esses rios em certas zonas eram autênticos canais o que me vinha à mente era se um turra lança do tarrafo para dentro do Batelão uma granada de mão o que é que nós podemos fazer: Morte certa, felizmente esse mau presságio nunca aconteceu.

Um abraço
Colaço.